Moçambique... Angola... Guiné... As feridas de um país... As verdades escondidas da Guerra Colonial.
Categoria
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ConhecimentosTranscrição
00:00Havimos marcas de sangue e arrastamento, mas não sabia que tinham morrido.
00:05Eu tinha morrido.
00:06Nós estivemos na altura para dois felizes, para entender-se com alguma gratidão.
00:14Se vocês ainda tiveram, não tiveram?
00:16Só duas pessoas.
00:17Duas pessoas?
00:20Morreram?
00:21Sim.
00:21Morreram?
00:22Não nos tínhamos apercebido que a emboscada era tão extensa ao longo da picada,
00:28porque fomos, de facto, flagelados fundamentalmente lá em cima,
00:32onde tínhamos uma proteção de um pelotão de milícias.
00:35E o PEGC instalou a sua frente de contenção da coluna,
00:40exatamente mesmo ao lado das milícias.
00:45São 54 nomes.
00:48Quer dizer, apresentou-se a homen, porque era som do maqueiro,
00:50ou som do rocket, do bazooka, do bazooka de 17.
00:54Bazooka, do bazooka, daqueles metros até lá, acima de Bolanha.
01:00Até acima da Bolanha?
01:01Sim.
01:03Porque ainda que a coluna não podia durar num tiro tenso,
01:06porque temos o corteiro de unânimo,
01:09para sair lá atrás, para fazer defesa.
01:11Isso, isso, isso.
01:12É, do cão que ele vai, também do cão que ele vai,
01:14para sair do Estrela para fazer o defesa.
01:16Exato, exato.
01:17Nós tivemos feridos também, que eles também tiveram.
01:19Agora, aqui o nosso comandante estava-me a dizer
01:22que morreram dois militares do PEGC nessa emboscada,
01:26que foi a última da Guiné-Bissau,
01:29no dia, acho, duas e um quarto da tarde,
01:32do dia 27 de abril de 1974.
01:35Os militares portugueses e os combatentes do PEGC
01:38ainda não sabiam que tinha havido um golpe de Estado em Portugal.
01:41Esta emboscada perto de Canclifá, no norte da Guiné,
01:45pode assim simbolizar o último ato
01:46de uma longa guerra entre as frentes,
01:49que tinha começado em Angola, 13 anos antes, 1961.
01:53O que é um momento de ir para ficar?
02:06O que é um momento de ir para ficar?
02:07O que é o momento de ir para ficar?
02:08Abertura
02:38Abertura
02:40Abertura
02:42Abertura
02:44Abertura
02:46Abertura
02:4815 de março foi organizada uma horde vindo de Lepo de Ville.
02:53Aquele tempo era Lepo de Ville.
02:55Então, enviaram as pessoas, os delegados que trouxeram jornais
03:00do comunicado do início da revolta de Angola,
03:04para a libertação do povo angolano.
03:06E depois, quando chegaram, convocaram uma reunião.
03:10Essa reunião do dia 10.
03:12Teve lá muita gente.
03:14Então, como era ao lado dos brancos, só sabiam que
03:19estão a realizar uma reunião da igreja.
03:23Não podiam saber que os angolanos estavam a fazer a reunião,
03:27para não criar a desconfiança.
03:29Quando chegou no dia 12, houve outra reunião, nas zonas.
03:33Cada povo faz com o seu grupo reunião.
03:37Depois de fazer a reunião, são obrigados agora a cumprir aquela missão.
03:41E enfiar as katanas com a lima.
03:46E depois, chegou no dia 15 de março, às 6 horas, iniciou o seu trabalho.
03:50Nós gritávamos, upa, upa, upa.
03:53Quando chegávamos numa fazenda, gritávamos, upa, upa, upa, upa, upa, upa.
03:57Pois essa, upa, upa, upa...
03:58Toda gente que quando ouve essa upa upa, já se conhece mesmo que é a upa que entrou.
04:01Portanto, é a upa, upa, upa, upa, upa, upa, upa...
04:08quando a América avisou
04:14o Ministro da Defesa
04:15de que se iam dar um 15 de Março
04:18esse telegrama chegou
04:25foi mandar para Angola
04:27diz o Venda de Leves
04:28que era o chefe de gabinete do Botelho Menins
04:30em termos de alarme
04:33para que eles percebessem
04:34simplesmente ficou muito admirado
04:36o que disse de Março e ninguém falou do telegrama
04:39o Cordial Valença diz
04:41qualquer coisa como
04:43que o Dr. Salazar tinha dito
04:47que não tinha importância
04:48porque isso era uma obra
04:51dos americanos
04:52que queriam que a gente saísse
04:54foi uma coisa bem organizada
04:57vocês
05:00devem se rebelar nas fazendas
05:04para mostrar que realmente é trabalho forçado
05:07e vamos nessas condições
05:11enviar equipas
05:13televisão e tudo para mostrar
05:17essa é a nossa intenção inicial
05:20eu parto para os Estados Unidos
05:25para estar presente
05:27então
05:29fico à espera
05:33aquilo aconteceu dia 15 de Março
05:36mas a notícia no Estado
05:37não sei se chegou no dia 17
05:39eu vi
05:41imagens
05:43que não me agradaram
05:45fomos ultrapassados
06:02como ultrapassados
06:03mas quer dizer
06:04os acontecimentos
06:05quando aqueles assassinatos
06:06em grande escala
06:07ficamos surpreendidos
06:08mas eu cheguei a considerar
06:10que não é uma ação
06:11mas foi a reação
06:12o povo reagiu
06:16e a reação do povo
06:18foi incontrolável
06:19os incêndios
06:22as destruições
06:24as vítimas
06:28tudo isso é um
06:31verdadeiro crime contra a humanidade
06:34que nenhuma reação explica
06:36o capital de queixas
06:38não explica
06:39a dimensão
06:41dessa violência
06:43espantosa
06:44em que
06:45as pessoas
06:46podiam ser passadas
06:48por uma serra
06:48de cortar madeira
06:49ou
06:50podiam ser decepadas
06:52em que uma criança
06:54podia ser negligentemente
06:55atirada
06:56contra uma parede
06:58porque morria mais rápido
07:00ou destruir tudo
07:04quanto é branco
07:05galinhas brancas
07:08flores brancas
07:09tudo o que for branco
07:11na história
07:12o que de Marte
07:15não é o único
07:16não é o único
07:17o único evento
07:18não isso aconteceu
07:20mas da maneira
07:21que o povo reagiu
07:22que para mim
07:24costuma
07:25mas
07:25bom
07:26talvez foi isso
07:27o início da luta
07:29de libertação
07:29e por isso que eu
07:30não
07:32reivindiquei logo
07:33porque eu vi isto
07:36bom
07:36o que isso quer dizer
07:38e o fano
07:40telefona
07:40mas se não
07:41não reivindica
07:42o MP
07:43vai dizer que é ele
07:44ele que fez isto
07:45então o dia seguinte
07:47reivindiquei
07:47os brancos europeus
07:52eram a maioria
07:53dos fazendeiros
07:54e os que possuíam
07:55as principais
07:56roças de café
07:56cultura que era então
07:58o mais importante
07:59pilar económico
07:59do território
08:00Andola
08:02era nesse tempo
08:03um dos maiores
08:03produtores mundiais
08:04e o café
08:05tinha cotações
08:06garantidas
08:06no mercado
08:07internacional
08:07desde os anos 50
08:09a produção
08:11era assegurada
08:11por bailungos
08:12trabalhadores
08:13contratados
08:13no sul
08:14do surto
08:16do café
08:16o mais importante
08:17que a economia
08:17angolana
08:18conhecera
08:18depois do período
08:19da escravatura
08:20nasceram
08:20uma cidade
08:21o Ije
08:22chamava-se então
08:23Carmona
08:24e desenvolveu-se
08:25no norte
08:25em pleno
08:26território
08:26para Congo
08:27com cerca
08:29de 30 mil
08:29habitantes
08:30escoava a produção
08:31de duas centenas
08:32e meia
08:32de fazendas
08:32a cidade
08:35de Carmona
08:35estava no centro
08:36da área
08:36do café
08:37que entre a
08:38população
08:38de
08:38Medalatando
08:39que se chamava
08:40Salazar
08:40e Maquela
08:41do Zombo
08:42junto à fronteira
08:42se estendia
08:43por vastos
08:44campos úmidos
08:45beneficiados
08:46pelos nevoeiros
08:46frequentes
08:47na região
08:47mais do que
08:49nevoeiros
08:50nuvens
08:50no horizonte
08:51claro
08:51do norte
08:52angolano
08:52pareciam indicar
08:53que o dia 15
08:54de março
08:54de 1961
08:55amanhecia
08:56conforme os votos
08:57dos agricultores
08:58e das empresas
08:59produtoras
09:00a colheita
09:01anunciava-se
09:02próspera
09:03mas afinal
09:03as chuvas
09:04que prometiam
09:04um ano histórico
09:05para a produção
09:06do café
09:06apenas acentuaria
09:08um drama
09:08empurrado pelos ventos
09:09mas da história
09:10era o seis e meia
09:12da manhã
09:13o meu falecido
09:14quando se sentiu
09:15olhou para trás
09:16e vi um barulho
09:17tão grande
09:17que eram
09:20os bailundos
09:21somos bailundos
09:22isso diziam eles
09:23mas eram bailundos?
09:24não eram bailundos
09:25eram os bandidos
09:26que vinham para matar
09:27somos bailundos
09:29opa
09:30opa
09:32viva
09:33Lumumba
09:34Lumumba
09:35viva
09:36diziam todos
09:37viva
09:37com as katanas no ar
09:39só apenas
09:40traziam umas seis armas
09:41de resto
09:42era tudo katanas
09:43sim
09:44o meu marido
09:44vinha à frente
09:45deles a correr
09:46onde eles o mataram
09:48no terraço
09:49primeiro onde passou a ação
09:51tinha cozinheiros
09:53tinha criados
09:55que trabalhavam
09:55nas mesmas lojas
09:56como já estava mobilizado
09:58vamos fazer isso
09:59amanhã de manhã
10:00antes de acordar
10:02então você já deve
10:03no momento que vai limpar
10:05a casa do patrão
10:06e então
10:08esconde aquela arma
10:10porque depois da ação
10:12eles vão atrapalhar
10:13vão querer entrar no quarto
10:14para ir buscar a arma
10:15vão encontrar
10:15a arma não está
10:16não há mais para defender
10:18se é que o patrão
10:19quer dois quilos de açúcar
10:21então quando vai vir
10:23medir o quilo de açúcar
10:25pronto
10:26katana na cabeça
10:27a primeira pessoa
10:28era o patrão
10:29a primeira pessoa
10:31era o patrão
10:32depois o gerente
10:33o patrão
10:34foi morto com um tiro
10:35quando ouviram o tiro
10:36já começaram a acordar
10:38aquelas
10:39não esperavam mais
10:41ouviram o tiro
10:43já começaram também
10:44com as katanas
10:45katana
10:47se não dá para ir
10:47que não morreu
10:48podem repetir
10:50duas ou três vezes
10:51as katanas
10:52porque
10:54aqueles já
10:56se irritaram
10:57com muito tempo
10:58da operação
11:00da expiração
11:01é claro
11:02já não tinham
11:03aquela ideia
11:04porque
11:04pena ou isto
11:07aquilo não
11:07porque
11:08não é pequeno
11:09ser uma pessoa
11:10governada
11:11durante 500 anos
11:12a UPA
11:16conjuga a sua ação
11:17em 15 de março
11:17com o trabalho
11:18nas fazendas
11:19os seus horários
11:20e rotinas
11:20alguns dos rebeldes
11:22trabalham
11:23nas próprias roças
11:23que atacam
11:24onde a maioria
11:25são bailundos
11:25que em geral
11:26não aderem à revolta
11:27eles e os patrões
11:29são as principais vítimas
11:30além de comerciantes
11:31autoridades
11:32e administrativos
11:33os ataques
11:35são simultâneos
11:36nos distritos
11:37de Luanda
11:37Kwanza Norte
11:38e Congo
11:38sobretudo nos DEMBOS
11:40cerca de 40 mil
11:41quilómetros
11:42quadrados
11:42onde os rebeldes
11:43exploram o isolamento
11:44em que vivem os colonos
11:45o que dificulta
11:46os socorros
11:47atacam a zona
11:49de fronteira
11:49com o Congo
11:50onde a UPA
11:50tem uma reta
11:51guarda segura
11:52obstruindo as estradas
11:54com árvores
11:55e destruindo pontes
11:56a UPA
11:57procura impedir
11:57a circulação
11:58de veículos
11:58a chegada
11:59de apoios
12:00e a fuga
12:00das vítimas
12:01e para ajudar
12:02ao bloqueio
12:03conta com a chuva
12:04própria da época
12:05que faz parte
12:06dos planos
12:07da revolta
12:07com catanas
12:11as pedras
12:12mocas
12:12e canhangulos
12:13europeus e africanos
12:14homens
12:14mulheres e crianças
12:15tinham sido
12:16descortejados
12:17ao romeiro do dia
12:17chegamos às 8 horas
12:19de manhã
12:20do dia 15
12:21pronto
12:22iniciou a ação
12:24pá pá pá pá pá pá pá
12:25os que conseguiram
12:26o fuzil
12:27fugiram
12:27diretamente
12:27até aqui em Luana
12:28os que não
12:29conseguiram
12:29o fuzil
12:30foram matados
12:31sim
12:31para a UPA
12:34no julgamento
12:35daquele dia
12:36não há inocentes
12:37sejam pais
12:37ou filhos
12:38a culpa
12:39é de todos
12:39perseguidos
12:40e massacrados
12:41entre violações
12:42e torturas
12:42que se calham
12:44que ele caiu
12:45a ser matado
12:46na catana
12:47ou no moca
12:48uma pessoa morre
12:49porque nós
12:51não tínhamos
12:51outro material
12:52tínhamos só catanas
12:54e mocas
12:54e as pedras
12:55aos moriam
12:56nas pedras
12:57aos moriam
12:57nas mocas
12:58aos moriam
12:59nos catanas
13:00na praça
13:01lá
13:02estava
13:03o padeiro
13:04a mulher
13:05e uma filha
13:07a filha
13:07tinha aí
13:08seis anitos
13:09ou sete anitos
13:10na casa
13:13da administração
13:14estava
13:16a mulher
13:16do faísco
13:17jardineiro
13:19da câmara
13:19municipal
13:20lá do
13:21de Itesco
13:21com uma catanada
13:23separaram
13:24a cabeça
13:25do corpo
13:26as duas miúdas
13:28delas
13:28é que estavam
13:28numa coisa
13:30ainda
13:31corrupita
13:33de dormir
13:33e um filho
13:35dela
13:35também
13:36morto
13:37o branco
13:38não podia deixar
13:39destruir a fazenda
13:40dele
13:40sem defender
13:42matamos
13:44os fazendeiros
13:46matamos
13:47para dizer a verdade
13:48é isso que eu estou falando
13:49matamos
13:50já matamos
13:50é chocante
13:53e é preciso ver
13:55às vezes
13:56é preciso olhar
13:57mesmo
13:58e ver uma mulher
13:59desventrada
14:00é algo que marca
14:01interiormente
14:02a pessoa nunca mais
14:03se esquece
14:03os massacres
14:06não foram só nos dias
14:0815 e 16 de março
14:09a UPA
14:11procurava
14:11encroçar as suas fileiras
14:12recrutando novos
14:13ativistas
14:14nomeadamente
14:15nas fazendas
14:16onde trabalhavam
14:16os bailundos
14:17aqueles que não
14:18aderissem à revolta
14:19eram inimigos
14:20como os colonos
14:21nessa roça
14:23Maria José
14:24só
14:24não me lembro
14:25de ter enterrado
14:26de um europeu
14:27só enterrei
14:28pretos
14:30mulheres
14:31homens
14:32crianças
14:32muito maltratados
14:34aliás
14:34à documentação
14:35não vale a pena
14:36estar aqui
14:36a dizer-lhe
14:37o que eu vi
14:38a imagem dos mortos
14:44é isso
14:44tem
14:45perfeitamente
14:45principalmente as crianças
14:47o que é mais chocante
14:48é ver miúdos
14:50esfacelados
14:51essas crianças
14:52e nós não podemos dizer
14:55que não
14:55não podemos dizer
14:58não
14:58porque a guerra
14:59como não escolha
15:00povoações e fazendas
15:03ficaram juncadas
15:05de corpos
15:05cerca de um milhar
15:07de brancos
15:07e cinco a seis mil
15:08pretos
15:09seus aliados
15:10trabalhadores rurais
15:11e criados das roças
15:12embora houvesse também
15:13bailundos
15:14nas fileiras rebeldes
15:15a UPA
15:15era um movimento
15:16bacongo
15:17a tribo comum
15:18ao norte de Angola
15:19e ao congo
15:19ex-belga
15:20eu estou a dizer
15:21que nós ficamos
15:22ultrapassados
15:23mas alguém
15:27me disse uma coisa
15:28um pastor
15:29mulato
15:31o velho gurgel
15:33ele disse que
15:35aqueles que foram
15:36daqueles pretos
15:36eram pior
15:37que os portugueses
15:38eram conhecidos
15:39pelo povo
15:40o seu comportamento
15:42era indigno
15:44e então
15:45o povo reagiu
15:46sobre eles
15:47eu compreendi
15:48gente
15:49ia nas fazendas
15:50contactar com os
15:52contratados
15:53que havia lá
15:54nas fazendas
15:54então
15:56recolhemos
15:57os contratados
15:58então
15:58passaram para
15:59nosso atrás
16:01agora que estiveram
16:02são contra
16:03e isso
16:03nem conosco
16:05mas
16:05o colono
16:07não é só somente
16:08o branco não
16:09aliás
16:10estávamos
16:11na via colonos
16:12muitos tinham fazenda
16:14castigaram os outros
16:16também
16:17certamente
16:18entanto que
16:20toda aquela
16:21que estava
16:21atrás do colono
16:23a gente
16:23considerava
16:23como inimigo
16:24mas não é
16:27proposto
16:27de matar
16:28as pessoas
16:28a gente
16:28aceitou
16:29só aqueles
16:30que são colonos
16:31que estavam
16:32colaborados
16:32junto com os colonos
16:33é ser considerado
16:35como colono
16:36os campos
16:38estão demarcados
16:39após o 15 de março
16:40as ações da UPA
16:41estendem-se
16:42por uma vasta área
16:42onde não há
16:43praticamente
16:44meios militares
16:45nem policiais
16:46apenas a força aérea
16:47está em condições
16:48de atuar com rapidez
16:49embora com os recursos
16:50limitados
16:51e inadequados
16:52de que dispõem
16:53estão no território
16:55apenas 6 aviões
16:56de transporte
16:57no Aratlas
16:57além de algumas
16:58aeronaves
16:59de reconhecimento
16:59e 6 outros aparelhos
17:01os PV2 Harpoon
17:02fornecidos pela NATO
17:04para a luta
17:04anti-submarina
17:05mas que serão
17:06transformados
17:06em bombardeiros
17:07a aviação tática
17:09é a principal
17:10carência do esquema aéreo
17:11constituído pelas bases
17:12de Luanda
17:13Henrique de Carvalho
17:14e Negaje
17:14Negaje é a mais próxima
17:17da zona afetada
17:18embora seja apenas
17:19uma pista de terra batida
17:20onde só no mês anterior
17:21tinham aterrado
17:22os primeiros aviões
17:23da força aérea
17:244 avionetas
17:26Auster
17:27desarmadas
17:274 pilotos
17:28e 4 mecânicos
17:29eram então as forças
17:31à disposição
17:31do comandante da base
17:32que no dia 15 de março
17:34foi sobrevoar
17:35a zona atacada
17:35era muito bem
17:37no Quitex
17:37olhava para baixo
17:39havia lá um posto
17:41de gasolina
17:41e estava uma fila
17:44de carrinhas
17:44todos a querer meter
17:45combustível
17:46e eu via que os homens
17:49estavam todos armados
17:51claro, brancos
17:53nesta altura
17:54brancos
17:55mas tudo
17:55coisa que eu nunca
17:57claro, nunca tinha visto
17:58mas aquilo
17:59estava tudo armado
18:00enfim
18:00demos a volta
18:01vi muita cubata
18:03tudo a arder
18:04muita coisa
18:04e eles a olhar muito
18:05para cima
18:06a fazer assim
18:07uns gestos
18:08e depois aterrei
18:09e eu ainda
18:10disse
18:11mas porquê que ele está
18:12que é que ele
18:13todo a arder
18:13e o administrador
18:15claro
18:15percebia muito mais
18:16da África
18:17dizer
18:18isso é sinal
18:19de que os povos
18:20fizeram alguma patifaria
18:21e não pensam
18:23voltar ao local
18:24depressa
18:28começam a chegar
18:28as notícias
18:29trazidas por pessoas
18:31em pânico
18:31salvas por uma ponta aérea
18:33que então se inicia
18:34todos os aviões
18:36são requisitados
18:37pelas autoridades
18:37e são suspensas
18:38as carreiras
18:39para o sul do território
18:40o terror
18:43atinge também
18:44as populações nativas
18:45que procuram refúgio
18:46divididas entre o apoio
18:47aos rebeldes
18:48e a fidelidade
18:49aos colonos
18:50as famílias europeias
18:54fogem
18:54resistem como podem
18:56ou separam-se
18:57homens que ficam
18:59mulheres e crianças
19:00que iniciam o êxodo
19:01uns seguem para Lisboa
19:05outros viajam para Luanda
19:06onde desembarcam
19:07muitas vezes
19:08em estado de choque
19:09o que a trouxe para Luanda?
19:15foi fugida da morte
19:17a senhora é casada
19:22também com o Cabo Verdean
19:23natural da cidade da praia
19:24ele ficou a defender a terra
19:27perdeu entes queridos
19:31em Nova Caipemba
19:31dois
19:32filho e marido
19:34havia mulheres
19:37que chegavam lá
19:38esta que eu me estou lembrada
19:41não falava
19:42não chorava
19:44não comeu
19:46não bebeu
19:46não aceitou
19:47não abriu
19:48não abriu
19:49a boca
19:50e tal
19:50e depois
19:51ela tinha estado
19:53toda a noite
19:54com os pretos
19:55que tinham entrado em casa
19:56e só de madrugada
19:59que foi libertado
19:59tinha passado a noite
20:00com 30, 40, 50
20:02sei lá
20:02vagas de refugiados
20:04carregados de traumas
20:06disputam o lugar
20:07num avião superlotado
20:08que lhes dê passagem
20:09para Luanda
20:10apoiados por um improvisado
20:12plano de emergência
20:13são cerca de 10 mil
20:14os que chegam à capital
20:16nem sempre conseguindo
20:17dominar o desespero
20:18uma vez que
20:20se laixa o Noratlas
20:22o piloto
20:23disse-me
20:24ao comandante
20:25eu não consigo descolar
20:26com tanta gente cá dentro
20:27eles chegaram a descolar
20:29com 170 pessoas a bordo
20:31quando o normal
20:32são 40, 50
20:33eu comecei a puxar
20:36as pessoas
20:36que estavam ao pé da porta
20:38mas elas empurravam-se para a frente
20:40e nós conseguimos tirar
20:41meia dúzia
20:42de miúdos
20:44e eles disseram
20:44minhas senhoras
20:45ou saem
20:47ou estes miúdos
20:48ficam aqui toda a noite
20:49e houve uma
20:51pelo menos uma
20:52que disse assim
20:52nós esperámos por eles amanhã
20:54mas daqui não saio
20:55e eles ficaram lá
20:57em geral
20:59as mulheres partiam
21:00mas também houve as que ficaram
21:02nas roças e em populações
21:03apoiando os homens
21:04que resistiam
21:05onde havia algumas condições
21:06para a defesa
21:07os primeiros feridos
21:10são fazendeiros
21:11ou trabalhadores
21:12sobreviventes
21:13de ataques
21:14que muitas vezes
21:14tinham sido fatais
21:15para familiares e amigos
21:16são também soldados
21:18e polícias
21:19elementos da guarnição local
21:20tal como os refugiados
21:22são levados para Luanda
21:23mas feridos
21:25a caminho dos hospitais
21:26recebendo o apoio
21:27da Cruz Vermelha
21:28entretanto mobilizada
21:29é só a partir de então
21:32pelos relatos dramáticos
21:33dos que chegam do interior
21:34que se começa a saber
21:36em Portugal
21:36o que de facto
21:37estava a acontecer
21:38em Angola
21:38controlados pela censura
21:41os meios de informação
21:41apenas noticiavam
21:42versões parciais
21:43e mistificadoras
21:45o ministro disse-me
21:47que o doutor Sanzar
21:48dizia
21:48que nós tínhamos que
21:50eles ficarem
21:52por mentirosos
21:53na ONU
21:54quer dizer
21:54eles começaram a dizer
21:56antes dos acontecimentos
21:57passarem
21:58agora nós não íamos
21:59confirmá-los
22:00os acontecimentos
22:01para que eles
22:02adquirissem
22:05credibilidade
22:06na própria ONU
22:07e durante 24 horas
22:09eu não pude
22:11deixar
22:12que as coisas
22:13se soubessem
22:15apenas no dia 17
22:17é publicado
22:18um comunicado oficial
22:18na imprensa angolana
22:19onde o governo geral
22:21se refere à rebelião
22:22como
22:22alguns incidentes
22:23junto à fronteira
22:24e afirma que as autoridades
22:26controlam a situação
22:27não era verdade
22:28mas as autoridades
22:29de Luanda
22:30também não tinham percebido
22:31que não existiam
22:32em Angola
22:32meios militares
22:33suficientes
22:34para enfrentar
22:35os acontecimentos
22:36além da força aérea
22:38e uma escassa presença
22:39da marinha
22:40restavam as forças terrestres
22:41Angola
22:45era a terceira
22:46das cinco regiões
22:46que formava o aparelho
22:47do exército português
22:48definido meses antes
22:50em novembro de 1960
22:51mas que
22:52embora aprovado
22:53não passara ainda
22:54de projeto
22:54tudo o que existia
22:56era um contingente
22:57de 1500 soldados
22:58brancos metropolitanos
22:59e 5000 africanos
23:01treinados para um
23:02eventual conflito
23:03na Europa
23:03contra a União Soviética
23:04conforme o conceito
23:06estratégico de então
23:07daí que estes efetivos
23:11organizados em forças
23:12de artilharia
23:13cavalaria
23:14e infantaria
23:15estivessem sediados
23:16nos principais
23:17centros urbanos
23:18do território
23:18Sada Bandeira
23:20Nova Lisboa
23:21Silva Porto
23:22e Luanda
23:23além de escassas
23:25as forças existentes
23:26em Angola
23:27não só não tinham
23:28qualquer treino
23:28para a luta
23:29antiguirrilha
23:29como se encontravam
23:31mal preparadas
23:31e deficientemente equipadas
23:33no entanto
23:35eram estes os recursos
23:36que constituíam
23:37a guarnição normal
23:38do território
23:39e que só alguns meses
23:40antes tinham sido
23:41reforçados
23:41por uma companhia
23:42de polícia militar
23:43e sobretudo
23:44por quatro companhias
23:45de caçadores especiais
23:46não havia uma única
23:50força militar
23:51em toda a região
23:52dos Dembos
23:53os colonos
23:54estavam quase
23:55entregues a si próprios
23:56eu fui
23:57ao gabinete
23:58do coronel
23:59de Bochoais
23:59na altura já
24:00com o governador
24:00distrito
24:01havia
24:01então eu digo-lhe
24:03senhor major
24:04nós não queremos
24:04militares
24:05nem a nos armas
24:06estante do palácio
24:07e dentro do gabinete
24:08de Bochoais
24:09e sabe qual foi
24:11a resposta dele
24:11pôs uma mão
24:13aqui no homem
24:13e diz
24:13olha que é rico
24:14que Deus o proteja
24:15até amanhã
24:16que não tinham
24:19não tinham
24:19não vieram no mesmo
24:20não havia nada
24:21os fazendeiros
24:22entretanto
24:22que escaparam
24:24tinham vindo para o Anda
24:25não é
24:26alguns
24:27por meios próprios
24:29de carro
24:30outros por via aérea
24:31e claro
24:33indirigiam
24:33se fizeram uma manifestação
24:34diante do palácio
24:36do governo
24:36pediram
24:36pedir armas
24:38andei
24:38pedi a licença
24:41para comprar
24:42armas
24:43no estrangeiro
24:44para eu
24:45armar
24:46e de Lisboa
24:48não sei quem
24:48mandou-me dizer
24:50que não sei
24:51havia qualquer coisa
24:52que eu não podia comprar
24:53e eu entendi
24:55então
24:55que
24:55disse aos comerciantes
24:57que compravam armas
24:59disse
24:59vocês podem comprar armas
25:00que eu
25:01se não vender a mais ninguém
25:03eu compro
25:04não é
25:05pois vieram
25:07armas
25:07de Inglaterra
25:09pistolas
25:09metralhadoras
25:10as próprias munições
25:12e tudo
25:13vieram de Inglaterra
25:14eles de Lisboa
25:16mandaram-me perguntar
25:17se eu achava
25:18que não havia risco
25:19em distribuir as armas
25:20por civis
25:21os colonos
25:37são os primeiros
25:37a reagir
25:38aos ataques
25:38iniciais
25:39da luta
25:39procuram
25:40depois armar-se
25:41e até receber
25:42instrução
25:42da autodefesa
25:43o espírito
25:45com que o fazem
25:46ficará consagrado
25:47num hino
25:48que empolgará
25:48o lado português
25:49e marcará para sempre
25:51o tempo
25:51do início da guerra
25:52é este o grito
25:59de Portugal
25:59que se ouve
26:00nas cidades
26:00e povoações
26:01de Angola
26:02enquanto
26:02no interior
26:03das matas
26:04os rebeldes
26:04da Upa Segal
26:05vanizam
26:05com canções
26:06e marchas
26:07de sentido oposto
26:19do lado português
26:22os colonos
26:22organizam-se em milícias
26:23um pouco
26:24por todo o território
26:25mesmo onde não se conhece
26:27a atividade da Upa
26:27com os meios
26:29que conseguem reunir
26:30montam sistemas de segurança
26:31e revezam-se
26:32em guardas
26:33e sentinelas
26:33em vigílias
26:3524 horas por dia
26:36as milícias
26:39patrulham ruas e batas
26:40fiscalizam estradas
26:41e picadas
26:42combatem e perseguem
26:44todos os que consideram
26:45suspeitos
26:45dispersos por tensas áreas
26:48muitas vezes isolados
26:49em zonas de difícil acesso
26:50os colonos
26:51não podiam contar
26:52com o apoio
26:53de que precisavam
26:53a aviação militar
26:55e civil
26:55desempenharam então
26:56um papel importante
26:57algum tempo depois
27:00a força aérea
27:01já conseguia responder
27:02a solicitações
27:03de natureza militar
27:04tornando-se
27:05o recurso
27:05mais eficaz
27:06perante as características
27:07do território
27:08e da guerra
27:09no 15 de março
27:11e durante ainda
27:12bastante tempo
27:12nós não tínhamos
27:14o que se chama
27:14capacidade ofensiva
27:15nenhuma
27:16só em abril
27:17é que depois então
27:18chegaram lá
27:19uns aviões T6
27:21ou árvores
27:22uns T6
27:23que tinham
27:24enfim
27:25que tinham algum
27:26poder ofensivo
27:27tinham umas metralhadoras
27:28podiam lançar bombas
27:29e podiam lançar
27:31o rockets
27:32diariamente
27:33os pilotos
27:34desde as 6 da manhã
27:36até às 6 da tarde
27:38executam
27:39uma série de missões
27:40de reconhecimento
27:42de patrulhamento
27:43das estradas
27:43e de ataque
27:45contra atividades
27:47rebeldes
27:48se forem detetadas
27:49a força aérea
27:52atuava sobretudo
27:53a partir das bases
27:54do Negás
27:54e de Luanda
27:55esta com bastante
27:56mais meios
27:57após os ataques
27:58da UPA
27:58foi dela a primeira
27:59resposta militar
28:00metralhava e bombardeava
28:02ações rebeldes
28:03ou suspeitas
28:03avisava as populações
28:05das movimentações
28:06hostis
28:06e do estado
28:07das vias de circulação
28:08ao mesmo tempo
28:10que procuravam
28:11socorrer fazendas
28:12e povoações
28:12isoladas
28:13ou cercadas
28:14os aviões
28:14ajudavam
28:15no fornecimento
28:16de alimentação
28:17e meios de resistência
28:18como armas
28:19e munições
28:20é o caso
28:23da população
28:24do Ambris
28:24aqui a receber
28:25ajuda
28:26de tropas
28:26de Luanda
28:27em imagens
28:28recolhidas
28:28pela reportagem
28:29da RTP
28:29poucos dias
28:30depois dos massacres
28:31iniciais
28:32as operações
28:36de apoio
28:36às populações
28:37foram se intensificando
28:38à medida que
28:39aumentavam
28:39os meios de socorro
28:40disponíveis
28:41por parte
28:42das forças militares
28:43mesmo assim
28:45nunca a capacidade
28:46podia responder
28:46à totalidade
28:47dos pedidos
28:48que chegavam
28:49de todas as partes
28:50eu lembro
28:52de um piloto
28:54que me chegou lá
28:55a dizer que tinha
28:55sobrevoado uma região
28:56ali um pouco abaixo
28:57e que estava
28:58um homem
28:59uma criança
29:00e uma mulher
29:01em cima de um telhado
29:03e a mulher
29:03que lhe ergueu
29:04as mãos
29:05em direção
29:06ao avião
29:06sem dúvida
29:09a pedir socorro
29:10a pedir que a salvassem
29:12e eu disse
29:12e agora
29:13você quer lá ir a pé
29:14ou como é
29:15já estavam lá
29:16lá ficaram
29:17é claro
29:18que esse homem
29:18estava com
29:19dizia-lhe
29:19que estava com
29:20espingarda
29:20mas os pretos
29:21estavam à volta
29:21da casa dele
29:23não sei dizer
29:24o que é que aconteceu
29:25isto
29:25como digo
29:26são tantos os casos
29:27escapou algum branco
29:28no norte de Angola
29:29graças
29:30graças
29:30graças
29:31a FAPA
29:32a aviação portuguesa
29:33que lá
29:34já estava a atuar
29:35mal e mal
29:36mas foi acudindo
29:37e à chegada
29:38de urgência
29:39de emergência
29:40de umas dúzias
29:41de paraquedistas
29:42foi graças a essa gente
29:44que o todo
29:45do norte de Angola
29:46não foi chancenado
29:46senão teria sido chancenado
29:48porque a tropa
29:50só chega muitíssimo
29:51depois
29:51antes dos grandes
29:53contingentes militares
29:54que só começam a chegar
29:55um mês e meio
29:56depois do 15 de março
29:57apenas desembarcam
29:58em Luanda
29:58alguns grupos
29:59de paraquedistas
30:00além deles
30:02o comando militar
30:02só disponha
30:03de seis
30:03companhias
30:04de cançadores
30:05especiais
30:05com algum treino
30:06de contraguerrilha
30:07os primeiros
30:08que partem
30:08para o norte
30:09levam
30:09os pingardos
30:10mauser
30:10além de
30:11metralhadoras
30:12mais modernas
30:13mas que mal conhecem
30:14isto porque
30:16as drais
30:16que tinham
30:17faziam falta
30:17em Luanda
30:18para dar instrução
30:19foi-nos dada
30:21à partida
30:22para lá
30:24para o cito
30:24onde íamos combater
30:25uma metralhadora
30:27que era a metralhadora
30:28Madsen
30:29que nunca tínhamos visto
30:30que não sabíamos
30:32manejar
30:33que não
30:35não conhecíamos
30:37as peças
30:37a companhia
30:39de José Vilhena
30:40à sexta
30:40de caçadores
30:41especiais
30:41tinha desembarcado
30:42em Luanda
30:42um mês antes
30:43duas secções
30:44são enviadas
30:45para o norte
30:46logo que chega
30:46a notícia
30:47dos massacres
30:47vão integradas
30:49no batalhão
30:49do Kwanza Norte
30:50sediado em Salazar
30:51com a missão
30:52de impedir
30:53o avanço
30:53da UPA
30:54partem para o Quites
30:55por Vista Alegre
30:56e Aldeia Viçosa
30:58percurso
30:58em que resgatam
30:59populações ameaçadas
31:01a RTP
31:02acompanha esta coluna
31:03dos caçadores
31:04especiais
31:04que avança
31:05pelas zonas
31:05dos massacres
31:06e que no início
31:07da marcha
31:08encontra ainda
31:09corpos insepultos
31:10e abandonados
31:11a missão
31:12é de cinco dias
31:13mas prolonga-se
31:14por mais de cinco meses
31:15revelando o desconhecimento
31:16do Estado Maior
31:17sobre a situação
31:18os militares
31:20progrediam
31:21sem informação
31:22e sem mapas
31:22e desconheciam
31:23o inimigo
31:24militarmente
31:25muito inferior
31:25mas com total
31:27domínio do terreno
31:28do terreiro
31:29para Aldeia Viçosa
31:31nós fizemos
31:33eram 28 quilómetros
31:37como dizia
31:37nós fizemos
31:39no primeiro dia
31:40mais de metade
31:42tivemos
31:43a maior dificuldade
31:44na passagem
31:46de uma coleira
31:47e os outros quilómetros
31:49o restante
31:50portanto
31:50uns 13 quilómetros
31:52foram cinco dias
31:53a UPA
31:54tinha aberto
31:55buracos na estrada
31:55e atirado
31:56a batizes
31:57atirado
31:57árvores
31:58para o caminho
31:59e de noite
32:00ouvíamos
32:01eles
32:02a atirarem
32:05mais árvores
32:06ao chão
32:06a racharem
32:09e as árvores
32:09a caírem
32:10tanto para a frente
32:11de nós
32:11como para trás
32:12portanto
32:13nem para trás
32:14nós podíamos
32:15sair
32:16chegava num lugar
32:17faz cair os pavos
32:19na estrada
32:20depois de fazer cair
32:21os pavos
32:22na estrada
32:23cavava um buraco
32:24grande
32:25para o carro
32:26lá cair
32:26então
32:27quando os brancos
32:28chegavam naquele lugar
32:29paravam
32:29para ir ver
32:30ação
32:31onde se arrebentava
32:33o fogo
32:34ali onde se arrebentava
32:36o mesmo fogo
32:37onde eles sofreravam muito
32:38logo nos primeiros
32:41ataques
32:41que tivemos
32:42o inimigo
32:43apanhou muitas armas
32:45do nosso exército
32:46e ficou
32:46inclusivamente
32:47com metralhadoras nossas
32:48com metralhadora
32:50com espingardas
32:52com pistolas metralhadoras
32:54com granadas
32:54e com muitas munições
32:55o ataque à coluna
33:00da sexta companhia
33:01marca uma segunda fase
33:02nas ações da UPA
33:03das quais
33:05desde os massacres
33:05que tinham ocorrido
33:06três semanas antes
33:07se sabia muito pouco
33:09em Luanda
33:09a UPA
33:11estava nas matas
33:12a partir do dia 15
33:14todos abandonámos
33:15as transadas
33:16agora nas matas
33:17porque ninguém
33:19podia estar
33:20nos fogos
33:20o coluna
33:21de Gostec
33:22era matado
33:23a região toda
33:24recuava
33:25nas matas
33:26nas matas
33:27onde havia
33:27as quarteiras
33:28toda a organização
33:30passava
33:31das matas
33:31os elementos da UPA
33:35levam para a mata
33:35as famílias
33:36e reorganizam
33:37as suas vidas
33:38longe do alcance
33:39dos portugueses
33:40recuperam
33:41das investidas
33:41que desencadeiam
33:42enquanto recrutam
33:43e preparam
33:44novos elementos
33:44para a guerrilha
33:45jovens
33:46e até mesmo crianças
33:48o que aprenderam
33:50nos manuais
33:50militares portugueses
33:51ajuda-nos
33:52novas ações
33:53agora
33:53contra as colunas
33:54do exército
33:55que vão para o norte
33:56o treino
33:59é incipiente
34:00e as emboscadas
34:00primárias
34:01mas conseguem
34:02surpreender a tropa
34:03que embora
34:03com preparação militar
34:04e armas incomparáveis
34:05quase nada sabe
34:07acerca do inimigo
34:09emboscadas
34:15rabadilhas
34:15abatizes
34:16picadas
34:17intransitáveis
34:18distâncias
34:19incalculáveis
34:20tornam penosa
34:21a missão
34:21dos homens
34:22da 6ª Companhia
34:23sem rações de combate
34:26tinham instruções
34:27para usarem
34:28os recursos naturais
34:29bebiam da água
34:31da chuva
34:31e ficavam
34:32nas casas
34:32dos colonos
34:33mantidas intactas
34:34pelos rebeldes
34:35aqueles bens
34:36iam ser utilizados
34:39por eles próprios
34:41e então
34:43já havia
34:45listagens
34:46que foram encontradas
34:48de bens
34:50de pessoas
34:51de colonos
34:52quem os herdaria
34:54quem iria ficar
34:55com aqueles bens
34:56a loja do senhor Silva
34:58ia para o
34:59Jaquim Piteira
35:01o quintal
35:04e as árvores
35:05do não sei quanto
35:06ia para ali
35:06a fazenda
35:07do não sei quantos
35:08ia para não sei quem
35:09estava
35:09já tudo
35:10estava previsto
35:12e penso até
35:13que era
35:14um meio
35:15de mobilização
35:16para eles
35:20saberem
35:22que iam ficar
35:24com aqueles bens
35:25dos brancos
35:25a UPA
35:27talvez acreditasse
35:28que perante os massacres
35:29os portugueses
35:29abandonassem Angola
35:30para sempre
35:31mas a chegada
35:32da tropa
35:33mostrava que não
35:34seria assim
35:34nós chegámos
35:35e a aldeia
35:36Viçosa
35:36estava intacta
35:38as casas tinham
35:39tudo o que tem
35:41uma casa de habitação
35:42nos momentos de descanso
35:43eu lia livros
35:45da biblioteca
35:46das pessoas
35:47que lá estavam
35:47eu tocava piano
35:49desafinava
35:50um bocadinho
35:51no piano
35:51num piano vertical
35:53que estava
35:53numa das casas
35:55estava tudo intacto
35:59toda a gente
35:59tinha fugido
36:00não havia
36:00nas proximidades
36:02brancos fugidos
36:04para nós
36:04recolhermos
36:05mas recolhemos sim
36:07bailões
36:08dos trabalhadores
36:09numa das vezes
36:11que vamos
36:12ao UIS
36:13buscar
36:13abastecimentos
36:15chegamos ali
36:16e
36:17tinham destruído
36:19completamente
36:20a terra
36:22portanto
36:23incendiadas as casas
36:24não havia nada
36:25nada restou
36:26aquele piano
36:27onde tocava
36:28aqueles livros
36:30que eu lia
36:31nada disso
36:32existia
36:33nada
36:34os mais lindos
36:34foram
36:35assassinados
36:36os primeiros mortos
37:05militares
37:07com amigos
37:11com quem nós
37:11convivíamos
37:13morrem
37:15numa emboscada
37:16que se passa
37:20a 20 ou 30 metros
37:22de nós
37:23e quando nós
37:25chegamos ao pé deles
37:26estão completamente
37:29descartejados
37:30estão com
37:31o sexo arrancado
37:34depois
37:46resolvemos
37:47seguir
37:48com a missão
37:49que tínhamos
37:49para ir ao colo
37:50já
37:51com os corpos
37:52deles
37:53e é
37:54uns metros
37:55à frente
37:56que somos
37:57emboscados
37:57de novo
37:58e onde
37:59fica mais
38:00uma secção
38:01da companhia
38:02ficam
38:09bastantes
38:11os camaradas
38:13de armas
38:14se apareceram ali
38:16e onde
38:17foram apanhados
38:19muito mais
38:19muito mais
38:21munições
38:22e muito mais
38:23e algumas armas
38:24mais
38:24portanto
38:25as armas
38:25que competiam
38:26a 10 pessoas
38:27entre as baixas
38:31de Góloa
38:31dois oficiais
38:32um capitão
38:33e um tenente
38:33depois dos civis
38:35começavam a morrer
38:36soldados em Angola
38:37e o início de abril
38:39indicava que a guerra
38:40era para continuar
38:41esta emboscada
38:42coincide com o ataque
38:43a uma patrulha
38:44em Nova Caipemba
38:45depois a UPA
38:46massacra os europeus
38:47de Ucoa
38:48volta a assaltar
38:49o Quités
38:50e chacina quase
38:51todos os brancos
38:52de Lucunga
38:52povoação mais próxima
38:53do Congo
38:54Santuário da Guerrilha
38:55a situação mostrava
38:57que deste lado
38:58da fronteira
38:58as coisas podiam
38:59afinal
39:00não ser tão diferentes
39:01a realidade
39:03não coincidia
39:04com a imagem
39:04otimista
39:05que os portugueses
39:06tinham construído
39:06com muita propaganda
39:08e pouca informação
39:09os furnais
39:10era isso que trabalhavam
39:11portava um caso à parte
39:13nós não somos
39:13como os belgas
39:14os belgas tiveram
39:15o Congo belga
39:16mas nunca se identificaram
39:18as senhoras
39:19engravidavam
39:20no Congo belga
39:21mas iam ter os filhos
39:22em Bruxelas
39:23portanto
39:25os belgas
39:27convivem com os pretos
39:28mas passam
39:29não dão muita confiança
39:30e nunca ficam
39:31não é o nosso caso
39:32nós casámos com pretos
39:34fazemos bolados
39:34fazemos aquelas coisas
39:35portanto
39:35é um bocado diferente
39:36admitiu-se que
39:38seria diferente
39:39foi o que nós
39:40pensámos sempre
39:42eles lá
39:43os belgas
39:44a política deles
39:48era muito diferente
39:49da nossa
39:49muito diferente
39:50mas no outro dia
39:51mas no outro dia
39:53um preto lá
39:56não era ninguém
39:57um preto lá
40:00eles lá
40:03dividiam nas raças
40:05tinham aquilo tudo
40:06bem preparadinho
40:07muitos angolanos
40:09de toda a Angola
40:10não era só
40:11do Congo português
40:12muitos angolanos
40:13tinham emigrado
40:14para Leopoldville
40:17e então
40:18escreviam
40:18depois para a Angola
40:20e o meu cozinheiro
40:21vinha mostrar
40:22mostrou pelo menos
40:23duas cartas
40:23onde
40:24lá o parente dele
40:26ou amigo
40:27ou o que era
40:27mandava dizer
40:30este ano
40:31é aqui
40:31e para o ano
40:32é aí
40:33e eu escrevi
40:34isto
40:35escrevi isto
40:36num ofício
40:38para o governo
40:39geral
40:39e disse-o
40:40aos membros
40:41todos da comitiva
40:42do membro
40:43do governo
40:43que lá foi
40:44a resposta dele
40:46foi
40:46não seja pessimista
40:48porque o preto
40:50de Angola
40:50o indígena de Angola
40:52não tem nada
40:53com o indígena
40:54do Congo belga
40:54uma ilusão
40:56que ajuda a explicar
40:57como o 15 de março
40:58preparado para fugir
40:59à vigilância
41:00dos portugueses
41:00viria de facto
41:01a surpreendê-los
41:02totalmente
41:03apesar de todos
41:04os sinais
41:05que eram muitos
41:06o próprio Silva Tavares
41:07nomeado governador-geral
41:08nesse ano de 1960
41:10se mostrava desconfiado
41:11o futuro
41:12à partida de Lisboa
41:13todos sabem
41:14que os problemas
41:16ultramarinos
41:16se revestirão
41:18de especial
41:19acuidade
41:19nos próximos anos
41:21o caminho
41:22será longo
41:24e áspero
41:25mas a vontade
41:27forte
41:27dos portugueses
41:28de Angola
41:29de todos
41:30sem distinção
41:31forjada
41:33ao calor
41:33dos trópicos
41:34e afeita
41:36a todas
41:37as dificuldades
41:38saberá
41:39vencer
41:40todas
41:40as vicissitudes
41:42passado pouco tempo
41:43fui ao
41:45OIS
41:45que é a Carmona
41:47e
41:49fui reunido
41:51com aquela gente
41:52do café
41:53os grandes
41:54os grandes
41:56produtores
41:57de café
41:57um dos homens
41:58importantes
41:59era o Ricardo Gaspar
42:00e ele respondeu-me assim
42:02o senhor governador
42:03não se preocupe
42:04um bocado até
42:05como quem diz
42:07você não percebe
42:08nada disto
42:10não se preocupe
42:10nós estamos cá
42:12armados
42:13e nós
42:14garantimos
42:15e nós garantimos
42:17a ordem
42:17por esta altura
42:20auguros entre
42:21Leopoldville
42:21no Congo
42:22e o norte
42:22de Angola
42:23a UPA está a iniciar
42:24a preparação da revolta
42:25que viria a lançar
42:26poucos meses depois
42:27a conferência dos povos africanos
42:30realizada em Tunis
42:31em janeiro de 1960
42:32sob os hospícios
42:33do presidente do país
42:34Borgiba
42:35viria a revelar-se fundamental
42:36para os desígnios
42:38de Odan Roberto
42:38chegamos
42:40o Borgiba
42:41nos cumprimenta
42:43aperta a mão
42:44e disse
42:46mas vocês vieram
42:47de onde
42:48nós somos de Angola
42:49Angola
42:50português
42:52eu disse
42:53oh
42:54é preciso uma guerra
42:55uma luta armada
42:56assim taxativamente
42:57é preciso uma guerra
42:58com os portugueses
42:59vocês não podem
43:00não vão me dar a independência
43:01é preciso força
43:02Borgiba
43:04e a conferência
43:05ficarão ligados
43:06ao início da luta armada
43:07pela independência
43:08de Angola
43:08a UPA
43:09receberá efetivo
43:10o apoio
43:10do presidente da Tunísia
43:11desde a preparação
43:12da revolta
43:13eu pedi de armas
43:14ah você é muito jovem
43:16eu disse não
43:16não estou só
43:17tenho velho
43:18alguns velhos comigo
43:19então ele procurou saber
43:22como é que as armas
43:23podiam ser transportadas
43:24até Leopoldville
43:25até Kinshasa
43:26as armas chegaram
43:27em Kinshasa
43:28através
43:28do
43:30do corpo
43:32expidicionar
43:33tunisino
43:33ali nós recebemos
43:35as armas
43:36chegaram em novembro
43:40de 60
43:41com as armas
43:43levadas pelos
43:44capocetes
43:45os capacetes azuis
43:46tunisinos
43:46da ONU
43:47no Congo
43:47a preparação
43:48começara a ser
43:49feita em junho
43:50por nove desertores
43:51do exército português
43:52instruídos militarmente
43:53na embaixada
43:54da Tunísia
43:54em Leopoldville
43:55em 15 de março
43:57lançam numerosos
43:58ataques
43:58numa vasta área
43:59conforme o plano
44:00traçado por
44:01Franz Fanon
44:01ele quis ver a fronteira
44:03a configuração
44:04da fronteira
44:05fomos lá
44:06fizemos uma viagem
44:08passamos uma noite lá
44:10e ele disse
44:12bom
44:13agora
44:14mas que nunca
44:17agora estou mesmo
44:18convencido
44:18que a configuração
44:20na Angola
44:20é bom
44:20para uma luta armada
44:21vamos fazer um plano
44:24e lá fizemos um plano
44:26como que devia começar
44:29como que os destacamentos
44:31os grupos
44:31pequenos grupos
44:33espalhados
44:34o mais longe
44:36do possível
44:36começamos a mobilização
44:38tanto a mobilização
44:41da fronteira
44:43do Congo
44:45diretamente
44:46até
44:48ao Zala
44:49Zala
44:51para
44:51Kikabo
44:54na Mangongo
44:55até o Ukwa
44:57de Ukwa
44:59ao Danj
44:59Danj
45:00para Kitex
45:01Kitex
45:02para Andigás
45:03até tratando
45:05para mobilizar
45:06essa gente
45:07e essa mobilização
45:08propaganda
45:09demorou louco louco
45:10nove meses
45:11antes do dia 15
45:12começou com
45:13fugida das fazendas
45:15fugiam das fazendas
45:16ou iam para o sul
45:17da Angola
45:18ou então iam para o Congo
45:19não passiam mais
45:20fizemos três viagens
45:22de 60
45:24para 61
45:25o próprio português
45:28que nos levava
45:28do Otocaro
45:30de Mbanzekongo
45:33para Caipemba
45:34mas não descobríamos
45:36com o nosso dinheiro
45:37com o nosso panfleto
45:38nós sentíamos mesmo
45:39que a coisa não estava bem
45:40nos povos
45:41a gente às vezes chegava
45:42não estava a outra idade
45:44depois chegava
45:45a bandeira nacional
45:46como era apto
45:47nos feriados
45:48e sair
45:49e arriar à tarde
45:50às vezes começavam a faltar
45:52e tal
45:52maneira que a gente
45:53percebia claramente
45:54que as coisas
45:55estavam a modificar-se
45:57para pior
45:57o dinheiro
45:59o primeiro dinheiro
45:59contribuído
46:00era contribuído
46:01dentro das igrejas
46:02porque aqueles membros
46:04que tinham conhecimento
46:06não podiam dar dinheiro
46:08no sobro
46:08por aí fora
46:09é dar dinheiro
46:10na igreja
46:11para ninguém
46:12dar conta
46:13e todos vão conhecer
46:15que esse dinheiro
46:16é da igreja
46:18afinal
46:19é a contribuição
46:20da revolução
46:21da UPA
46:22eu tinha um rapazito preto
46:25que queria quase
46:26desde miúdo
46:27dizia patrão
46:28olhando aí as folhas
46:30as folhas
46:32e depois
46:34na altura
46:35também tinha uma
46:38vamos lá
46:39uma raparita negra
46:40que andava comigo
46:41e ele disse
46:42tem cuidado
46:43senhor rico
46:44senhor fiolho
46:44que até as galinhas
46:45no povo sabem tudo
46:46as galinhas sabem
46:48de onde posso disso tudo
46:49e vocês para que não sabem
46:50as folhas
46:51eram os panfletos
46:53que iriam mobilizar
46:53cerca de 3 mil homens
46:55para o 15 de março
46:56em código
46:57anunciavam um casamento
46:58e indicavam
46:59os preparativos
47:00cortar árvores
47:01pintar pontes
47:02limpar aldeias
47:03mas o que de facto
47:05significava esta informação
47:06cifrada
47:06só os rebeldes sabiam
47:08o casamento
47:09da filha
47:09de Nogueira
47:11o evento
47:12para iniciar
47:13a revolução
47:14a árvore
47:16que dá sombra
47:17na cidade
47:18deve ser cortado
47:20significa
47:23cortar
47:24as cabeças
47:27dos colonialistas
47:29limpar bem
47:33as aldeias
47:34significa
47:36destruir
47:37falavam
47:38uma situação
47:39positiva
47:40mas pareceu
47:41negativa
47:41claro
47:42e a malta
47:43não
47:43eu ainda apanhei
47:45essas coisas
47:46e dei um oficial
47:46não sei quem foi
47:47não sei se foi
47:48o Figueiral
47:48se quem é que foi
47:49portanto havia
47:51uma mentalização
47:52e nós
47:53europeus
47:54não acreditávamos
47:57essas coisas
47:58nesse ano
47:59de 1960
48:00os portugueses
48:01duvidavam
48:02que houvesse angolanos
48:03prontos a pegarem
48:04armas contra eles
48:05e o governo
48:06apenas queria ver
48:07nos sinais
48:07uma ofensiva
48:09estrangeira
48:09contra a presença
48:10de Portugal
48:10em África
48:11o colonialismo
48:13o colonialismo
48:13tinha sido condenado
48:14na Assembleia Geral
48:15da ONU
48:15em setembro
48:16porém Portugal
48:17responde que não tem
48:17colónias
48:18mas províncias
48:19ultramarinas
48:20não é uma política
48:22do governo
48:23português
48:23o fato
48:25que os territórios
48:27nos territórios
48:28de Outra-mer
48:29são de província
48:30e não de colônia
48:32Portugal
48:52argumenta que
48:53nos territórios
48:54concretamente em Angola
48:55e como de resto
48:56pretende demonstrar
48:57com manifestações
48:58não há senão
48:59sentimento nacional
49:00português
49:01e paz
49:02e tranquilidade
49:03como garante
49:04Silva Tavares
49:05de visita a Lisboa
49:05na altura em que
49:07a questão é discutida
49:08nas Nações Unidas
49:09deixo Angola
49:11em perfeita paz
49:12e plena de confiança
49:14decidida a enfrentar
49:16quaisquer ações
49:17que do exterior
49:18lhe possam dirigir
49:19tínhamos um programa
49:21onde a gente
49:22dirigia-se aos angolanos
49:24do outro lado
49:25da fronteira
49:25não é?
49:27e um dia deste
49:28fugiram quase
49:29cem militares
49:30da tropa colonial
49:34portuguesa
49:35angola
49:35naquela altura
49:36atravessaram a fronteira
49:39e vieram ter connosco
49:41então eles
49:42introduziam-se em Angola
49:43com as armas
49:43chegando muito longe
49:45até
49:45em Kibala do Sul
49:48mesmo os arredores
49:49de Uambo
49:50os elementos da UPA
49:52dispersam-se pelo norte
49:53onde mais tarde
49:54definem áreas operacionais
49:55dirigidas por comandantes
49:57alguns teriam no futuro
49:59nomes referenciados
50:00pelos portugueses
50:01Pedro Afamado
50:02Mata Alfers
50:03Panso da Glória
50:04ou Margoso
50:04no comando-geral
50:06o alfer João Batista Pereira
50:07desertor do exército português
50:09como vários outros
50:10e marcamos a data
50:11de 15 de março
50:12porque é a época
50:14das chuvas
50:15nos tomamos
50:18em consideração
50:19o fato de que
50:20no tempo das chuvas
50:22o exército
50:23não podia
50:23facilmente
50:24mover
50:26usarmos
50:28armas pesadas
50:30mas nós
50:31com pequenos grupos
50:32podíamos facilmente
50:34fazer o trabalho
50:37foi o início da guerra
50:40em 15 de março
50:42exatamente o dia
50:43em que as Nações Unidas
50:44aprovam um documento
50:45da Libéria
50:45condenando o governo
50:46português
50:47pela situação em Angola
50:49apoiando a Libéria
50:58os Estados Unidos
50:59abrem com Portugal
51:00seu aliado
51:01um desentendimento
51:02profundo
51:02nas chancelarias
51:04diplomáticas
51:05e faradelas
51:06nas ruas de Luanda
51:11a população branca
51:12manifesta-se
51:13condenando
51:13a posição norte-americana
51:15favorável
51:16à descolonização
51:16diante do consulado
51:19dos Estados Unidos
51:19na cidade
51:20ao aplaudirem
51:21a bandeira portuguesa
51:22os colonos
51:23repudiam
51:23as insígnias
51:24norte-americanas
51:25agora sinónimo
51:26de traição
51:27e chegam a lançar
51:29o carro do consul
51:30às águas da Bahia
51:31prejuízo
51:32que será reclamado
51:33junto do governo
51:34com as mesmas bandeiras
51:39em Lisboa
51:40dias depois
51:41a mesma exaltação
51:42contra os Estados Unidos
51:43cartazes de
51:45ironia e revolta
51:46atravessam a cidade
51:47em direção
51:48à embaixada americana
51:49Kennedy
51:51defende
51:51a descolonização
51:52uma parte
51:53das forças
51:54armadas portuguesas
51:55partilhava
51:55o seu ponto de vista
51:56parecendo
51:57conspirar com ele
51:58contra Salazar
51:59a liderança
52:00política americana
52:01parecia assim
52:02unida à cúpula
52:03militar portuguesa
52:04numa conjura
52:04a que se chamou
52:05Abrilada
52:06para Salazar
52:07eram duas
52:08fraturas simultâneas
52:09a guerra
52:13estava nas tribunas
52:14internacionais
52:15a vigilância
52:16sobre inimigos
52:17e aliados
52:18não era apenas
52:19nas matas
52:19e nas povoações
52:21de Angola
52:21indianos
52:22de Angola
52:23estes
52:23no
52:24e
52:27ou
52:28ou
52:28ou
52:30ou
52:32ou
52:34ou
52:35ou
52:36ou
52:37ou
52:38ou
52:38ou
52:38ou
52:39Tchau, tchau.
53:09Tchau.