- 30/05/2025
Moçambique... Angola... Guiné... As feridas de um país... As verdades escondidas da Guerra Colonial.
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ConhecimentosTranscrição
00:00:00O povo da Baixa Educaçãs revoltaram-se porque não tinham comida,
00:00:06já não faziam as lavras de mandioca, já não cultivavam o seu próprio sustento, revoltaram-se.
00:00:12Uma rebelião aberta e que foi reprimida pela aviação, pelas tropas que foram as do Raboche Vaz.
00:00:30Vamos lá, vamos lá, vamos lá, vamos lá.
00:01:00Vamos lá, vamos lá.
00:01:30O povo da Baixa Educaçãs, o povo da Baixa Educaçãs, o povo da Baixa Educaçãs,
00:01:59vão impulsionar o nacionalismo moçambicano.
00:02:03Em Portugal, visitantes entre a Doutrina NATO e a Defesa de África,
00:02:06os militares começam a aprender a luta anti-guerrilha e mandam os primeiros caçadores especiais para Angola.
00:02:12Depois de Pijigiti na Guiné e de Moeda em Moçambique,
00:02:15em Angola, na Baixa Educaçãs, os camponeses revoltam-se contra a cultura obrigatória do algodão.
00:02:21Na minha terra, as pessoas eram obrigadas a plantar algodão e era absolutamente indiferente que houvesse colheita de milho ou colheita de maçambala.
00:02:40Maçambala e milho fino, batata doce ou mandioca, aquilo que as pessoas comiam, ou feijão, não interessava.
00:02:47A colheita do algodão tinha de estar garantida.
00:02:49E o algodão só podia ser vendido a uma determinada empresa que tinha um monopólio, concedido para o Estado Novo.
00:02:57A cultura obrigatória traduzia-se em que a um concessionário era conferida uma vastíssima área
00:03:04onde as populações só podiam cultivar aquela matéria-prima,
00:03:09o que naturalmente, em primeiro lugar, violentava todo o estilo de vida das populações,
00:03:14que tinham que abandonar os seus hábitos tradicionais de cultura,
00:03:19em segundo lugar, se traduzia, efetivamente, numa exploração económica das populações.
00:03:24Quem comprava algodão era apenas esse empório.
00:03:27As balanças eram falseadas e o preço era baixíssimo.
00:03:31O resultado disso é que ele não tinha muito dinheiro.
00:03:33Se não produzisse o algodão, devido, ainda levava pancada.
00:03:39Era espancado.
00:03:40Isso são coisas que eu vi nos meus olhos.
00:03:42Tinha que se deslocar, normalmente, das suas povoações, dos seus quimbos,
00:03:47para as lágrimas, os locais que eles lhes indicavam e que lhes marcavam.
00:03:54Tu tens de cultivar isto aqui, tens de cultivar aquilo.
00:03:57E uma área mínima sempre, que era relativamente grande.
00:04:01E eles tinham que se deslocar por causa disso e viviam em condições tremendas.
00:04:06Se o ano corria mal, a companhia não tinha prejuízo nenhum.
00:04:11Deixava-nos nunca de ganhar mais.
00:04:13O prejuízo era todo um desgraciado que esteve a cultivar.
00:04:17Chegados em 1961, os camponeses revoltam-se contra a Cotonang,
00:04:21a companhia algodoeira luso-belga.
00:04:23Influenciados pelo Congo Independente, onde havia etnias comuns e por crenças religiosas diversas,
00:04:29os povos da Baixa Educação se rejeitavam à autoridade portuguesa
00:04:32e diziam obedecer a poderes tão diferentes como os líderes congoleses Lumumba e Casa Vobu,
00:04:37ou os símbolos da fé.
00:04:39O culto de Maria e a Senhora de Fátima,
00:04:41cujo terceiro segredo acreditavam que fosse a independência de Angola.
00:04:45Não era por melhorar a situação que eles iam aceitar.
00:04:52Eles estavam trabalhados por uma questão religiosa, digamos, de fé, de acreditar,
00:05:00que o poder vinha agora para os pretos, que iam construir um mundo de felicidade.
00:05:06E contra isso é inulutável.
00:05:09Na luta contra os europeus aparecem messianismos e variantes cristãs como o tocoísmo,
00:05:13seguido em algumas zonas de Angola.
00:05:16O movimento místico-religioso de raiz protestante criado por Simão Toco nos anos 40
00:05:20proclamava que os brancos se tornariam negros e os tocoístas ficariam brancos
00:05:24e anunciava o fim da presença europeia.
00:05:27Ideias que Simão Toco não podia expressar mais tarde, sob a prisão.
00:05:31O tocoísmo adora o Deus Criador e não seria o Jesus Cristo
00:05:38e não adora qualquer coisa deste mundo.
00:05:40Simão Toco era então uma entre outras vozes messiânicas,
00:05:45como o congolês Simão Kibango, que influenciou António Mariano,
00:05:48ativista do Partido como líder da sublevação,
00:05:51com uma mensagem mística e nacionalista trazida do Congo.
00:05:55Donde vinham também as ideias de um partido comunista,
00:05:57Parti de la Solidarité Africaine, PSA,
00:06:00daí que Pessas, Peças, fosse o nome dado aos seguidores em Angola.
00:06:04O governador envia telegramas alarmados para Lisboa.
00:06:08Motivados politicamente e movidos pela fé em Maria,
00:06:11os povos da Baixa Educaçãs destroem lojas,
00:06:13instalações da Cotonang, postos e fazendas,
00:06:16mas não atacam os europeus, querem apenas expulsá-los.
00:06:21A Cotonang exige repressão exemplar contra esta Guerra de Maria,
00:06:24a greve dos camponeses que se revoltam em Janeiro,
00:06:27o mês das sementeiras do algodão.
00:06:28O capitão Telesgrilo é o comandante da 3ª Companhia de Caçadores Especiais,
00:06:45a primeira força enviada para a zona sublevada,
00:06:48uma área quase do tamanho de Portugal,
00:06:50com cerca de 150 mil habitantes.
00:06:54Sediada em Malange, a companhia segue para Milano,
00:06:57do Donde, no dia 11, chegam notícias
00:06:58de que duas centenas de nativos se recusam a trabalhar
00:07:01por ordem de Maria e Casa Vubu.
00:07:04Ameaçam os cipaios,
00:07:05mas serenam com a chegada da tropa no dia seguinte.
00:07:08Porém, a situação agrava-se durante o mês.
00:07:10Sansalas abandonadas,
00:07:12centenas de revoltosos em diversas populações,
00:07:14a morte de um capataz da Cotonang.
00:07:17Fevereiro começa com mais de mil grevistas
00:07:19concentrados em Cunda-Riabasa,
00:07:21onde os europeus são obrigados a fugir.
00:07:24A Força Aérea é chamada
00:07:25em apoio da 3ª Companhia de Caçadores Especiais.
00:07:28Nós pouco podíamos fazer.
00:07:30E, de facto, o nosso papel,
00:07:32praticamente, era ir ver onde é que estavam as tropas.
00:07:36Os rádios que as colunas militares levavam,
00:07:39a coluna militar levava,
00:07:40não conseguia comunicar com Malange.
00:07:44Já estava bastante distante,
00:07:45os postos seriam fracos,
00:07:47haveria elevações,
00:07:51enfim, eles...
00:07:53E o comando que estava em Malange
00:07:56não sabia onde estavam as tropas.
00:07:59E eu...
00:07:59Nos primeiros dias,
00:08:02a nossa missão
00:08:02era ir ao encontro deles,
00:08:05dar ali umas voltas
00:08:06e torrar para Malange
00:08:08e dizer,
00:08:08eles estão aqui.
00:08:10A 3ª Companhia,
00:08:11comandada por Teles Grilo,
00:08:12não chega para conter a revolta
00:08:14e alastra a toda a Baixa do Caçange.
00:08:17O comandante-chefe das Forças Armadas
00:08:19em Angola,
00:08:19General Monterlibório,
00:08:21ordena então a Operação Caçange.
00:08:24É entrega ao Major Rebouche Vaz
00:08:25o comando de um batalhão eventual de caçadores,
00:08:28formado pela 3ª,
00:08:29pela 5ª e pela 4ª Companhia de Caçadores,
00:08:32esta do Capitão Teixeira de Moraes.
00:08:35A 4ª Companhia parte de Luanda,
00:08:37a 4 de Fevereiro,
00:08:38exatamente quando dezenas de revoltosos
00:08:40estão a atacar as prisões da capital.
00:08:42Destinada a Temboa-Luma,
00:08:44a Companhia sai de Malanches no dia 5,
00:08:46com o objetivo de surpreender os rebeldes
00:08:48em Cunda-Riabasa.
00:08:50Antes disso, porém,
00:08:51perde dois cabos,
00:08:52havendo seis mortos do lado africano,
00:08:54naquele que é considerada
00:08:55a 1ª Embuscada da Guerra.
00:08:58A Companhia de Teixeira de Moraes
00:08:59era formada por quatro boletões
00:09:01e por secções de morteiros,
00:09:02de metralhadoras de Madsen
00:09:04e lança-granadas-foguete.
00:09:05Com espingardas Bowser,
00:09:07os soldados progrediam debaixo de chuva.
00:09:10O Capitão levava ordens
00:09:12para desarmar e prender os nativos.
00:09:14Humilhar os seus chefes
00:09:15e matar em último caso.
00:09:17Mas os mortos seriam muitos,
00:09:19desde o início da operação.
00:09:20Falando a este programa,
00:09:21embora não para as câmaras,
00:09:23Teixeira de Moraes destaca o episódio
00:09:25em que os nativos impediam
00:09:26a entrada da tropa
00:09:27numa zona que afirmava o Independente
00:09:29e rasgavam cadernetas portuguesas
00:09:31e imagens de santos.
00:09:34Cantavam, diziam que as balas dos brancos
00:09:36eram água e o governo caca de galinha
00:09:38e envolviam a tropa
00:09:39com grandes grupos ruidosos.
00:09:41O relatório refere 70 nativos mortos
00:09:44e 30 feridos.
00:09:46Teixeira de Moraes pediu logo no início
00:09:48a intervenção da Força Aérea
00:09:49que cumpriu missões de transporte
00:09:50e reconhecimento,
00:09:52lançamento de víveres, munições e panfletos
00:09:54e sobretudo operações de fogo
00:09:56por aviões T6 e PV2
00:09:57que atacaram concentrações de grevistas
00:10:00provocando um número nunca apurado de vítimas.
00:10:05O piloto José Redosa
00:10:07que depois desertou afirma
00:10:08que 17 aldeias ficaram destruídas
00:10:10e 5 mil homens, mulheres e crianças queimados
00:10:12e que a aviação usou bombas na palma.
00:10:16Eu não o vi,
00:10:16rosei-me duas vezes com os PV2
00:10:18mas eu quase que ia dizer que não
00:10:23mas se ele diz que sim
00:10:23ele estava lá na origem.
00:10:26Aquilo que ele me disse
00:10:27é que ele participava nas operações
00:10:30como qualquer piloto aviador
00:10:32sem grande consciência do que estava a fazer
00:10:36até que um dia
00:10:38ocorreu-lhe ir verificar
00:10:41voando a baixa altitude
00:10:44e verificar o resultado dos bombardeamentos.
00:10:48E o que ele viu sobre uma população dizimada
00:10:52impressionou de tal modo
00:10:53que ele nunca mais conseguiu
00:10:55aceitar a sua continuação.
00:10:58Teixeira Moraes pediu várias vezes
00:11:00a intervenção da Força Aérea
00:11:01mas afirma que não foi usado na palma
00:11:04e que os PV2 lançavam bombas explosivas
00:11:07e utilizavam metralhadoras.
00:11:09Por sua vez, embora desarmadas
00:11:11as avionetas Auster
00:11:13eram usadas para lançamento de granadas.
00:11:16Havia um elemento do exército
00:11:18que ia ao lado do piloto
00:11:21com granadas
00:11:22a veria-se a porta
00:11:23com o joelho segurava-se a porta
00:11:24e depois de cima
00:11:26atiravam
00:11:27umas granadas
00:11:29cá para baixo
00:11:29porque isso víamos nós
00:11:31as populações a cada passo
00:11:32estavam naqueles terreiros
00:11:34e os terreiros estavam cheios de gente
00:11:36e eles faziam muitas punhadas
00:11:38para o avião
00:11:40e chegavam a disparar
00:11:42os canhangulos
00:11:43e nunca atingiram avião nenhum.
00:11:45E houve casos
00:11:46em que os nativos
00:11:47foram mortos pelos aviões
00:11:48a que davam as boas-vindas
00:11:50julgando os enviados de Maria.
00:11:55Tudo se encontra pacificado
00:11:56e o terror de Maria
00:11:57desapareceu para dar lugar
00:11:59ao terror do exército.
00:12:00O mito desfez-se
00:12:01e a principal cutilada
00:12:02foi dada ontem
00:12:03pela avioneta
00:12:04que eles estavam convencidos
00:12:05que vinha do Congo
00:12:06e que cumprimentaram.
00:12:08Evidentemente que
00:12:08a resposta que lhes deram
00:12:09matou 10
00:12:10e convenceu-os
00:12:11de que Maria
00:12:11estava zangada com eles.
00:12:18As difíceis condições de vida
00:12:19dos nativos em revolta
00:12:20constam dos relatórios
00:12:22da 4ª Companhia
00:12:22que chegara finalmente
00:12:24a Temboa-Luma
00:12:25após 14 dias
00:12:26e números mortos
00:12:27feridos
00:12:28prisioneiros
00:12:29populações em fuga
00:12:30para o Congo
00:12:30e outras que se entregaram.
00:12:34Os sobas
00:12:34eram amarrados
00:12:35e exibidos
00:12:35para exemplo
00:12:36de submissão
00:12:37aos portugueses.
00:12:39Bumba,
00:12:39o grande soba
00:12:40de Temboa-Luma,
00:12:41chefe dos Maolos,
00:12:42era o troféu
00:12:43mais cobiçado,
00:12:44mas fugiu à perseguição.
00:12:46Apenas deixou
00:12:46para trás
00:12:47a caderneta
00:12:47que a tropa recolheu.
00:12:50Na povoação,
00:12:50os nativos
00:12:51tinham fugido
00:12:51dos militares,
00:12:52os brancos
00:12:53tinham fugido
00:12:54dos africanos.
00:12:55Em poucos dias,
00:12:56deixaram de haver
00:12:56colonos
00:12:57na Baixa do Cassange.
00:12:58Cumprida a missão
00:13:01da quarta companhia,
00:13:01ficava no terreno
00:13:02à terceira,
00:13:03que iniciara a operação
00:13:04mais tarde
00:13:04por inoperacionalidade
00:13:06das viaturas.
00:13:08Estava previsto
00:13:08que as colunas
00:13:09de Telesgrilo
00:13:09e Deixeira de Moraes
00:13:10avançassem para norte
00:13:11por vias diferentes,
00:13:13se encontrassem
00:13:13em Marimba
00:13:14e seguissem juntas
00:13:15para Temboa-Luma.
00:13:17No entanto,
00:13:17a terceira companhia
00:13:18nunca chegou a alcançar
00:13:19Milando,
00:13:20embora tenha executado
00:13:20diversas operações
00:13:21que se saldaram
00:13:23por muitos mortos.
00:13:25Sobre a atuação
00:13:26da companhia
00:13:26de Telesgrilo,
00:13:27o próprio comandante
00:13:28do batalhão eventual
00:13:29sublinharia em livro
00:13:30os excessos
00:13:31de violência
00:13:32a que ficou ligada.
00:13:33Rabocho Vaz
00:13:34aprecia negativamente
00:13:35o perfil militar
00:13:36do capitão,
00:13:37comentando que,
00:13:38sob o seu comando,
00:13:39deixou de haver
00:13:39feridos e prisioneiros.
00:13:41Os relatórios
00:13:42passaram a falar
00:13:43só em mortos.
00:13:44Causando um número
00:13:45de vítimas
00:13:46nunca apurado,
00:13:47a atuação militar
00:13:48portuguesa,
00:13:48terrestre e aérea
00:13:49na Baixa do Cassange
00:13:50acabou por passar
00:13:52à história
00:13:52como um massacre.
00:13:53Até hoje,
00:13:55posso dizer,
00:13:55ainda há
00:13:56as valas comuns
00:13:59no Bolongongo.
00:14:01Há lá,
00:14:01valas comuns.
00:14:02Eu estive lá.
00:14:06Feitas pelos portugueses
00:14:07naquela altura.
00:14:09Para poder
00:14:10abafar
00:14:11a revolução.
00:14:15Uma revolta
00:14:16cuja organização
00:14:17os portugueses
00:14:17não percebiam totalmente.
00:14:19Segundo o Teixeira de Moraes,
00:14:20os prisioneiros
00:14:21e os documentos
00:14:22apreendidos
00:14:23apenas referiam
00:14:24o partido congolês
00:14:25PSA,
00:14:26nunca o MPLA,
00:14:27nem a UPA,
00:14:28o movimento
00:14:28que pouco depois
00:14:29emerge violentamente
00:14:30no norte de Angola.
00:14:32Em meados de março,
00:14:33exatamente quando
00:14:33o Estado-Maior
00:14:34dava por dominada
00:14:35a revolta
00:14:36da Baixa do Cassange.
00:14:38A própria Baixa do Cassange,
00:14:40a guerra
00:14:40que lá se passou,
00:14:42favoreceu-nos.
00:14:43De que maneira
00:14:44que ela nos favoreceu?
00:14:47Bombardearam aquilo,
00:14:48mas o resto que ficou
00:14:48fugiu para o Congo,
00:14:50onde nos encontraram.
00:14:52Aquele povo
00:14:53que fugiu para o Congo
00:14:54é Somas,
00:14:54e Soma Marim,
00:14:55Soma Chiquita,
00:14:57vários Somas
00:14:58que lá fugiram
00:14:59com o seu povo.
00:15:00Então,
00:15:01conseguimos
00:15:02ajuntar aquilo tudo
00:15:03para inflamar
00:15:04precisamente
00:15:05uma luta
00:15:06capaz
00:15:06para poder invadir
00:15:07Angola.
00:15:08Essa ocasião
00:15:09ocorre em 15 de março.
00:15:11A guerra começa
00:15:12e, de certa forma,
00:15:13não apenas em Angola.
00:15:15Os massacres da UPA
00:15:16estimulam os movimentos
00:15:17independentistas
00:15:17nascentes na Guiné
00:15:18e em Moçambique.
00:15:20A rebelião angolana
00:15:21ocorre num contexto
00:15:22de luta dos povos africanos,
00:15:24que só no ano de 1960
00:15:25tinha levado à independência
00:15:27dezena e meia de países,
00:15:28numa sequência
00:15:29iniciada anos antes.
00:15:32Entre eles,
00:15:32o Congo belga,
00:15:33cuja vizinhança com Angola
00:15:34foi decisiva
00:15:35para a atuação da UPA.
00:15:37Emburrados pelos ventos
00:15:38que varriam o continente
00:15:39e incentivados pelo caso angolano,
00:15:41africanos das outras colónias
00:15:42reforçam a luta clandestina
00:15:44em países vizinhos,
00:15:45para onde começam a fugir
00:15:46cada vez mais ativistas.
00:15:49Muitos vão de Portugal,
00:15:50estudantes que iludem
00:15:51a vigilância
00:15:52e partem ao encontro
00:15:53dos movimentos rebeldes.
00:15:55Em 1961,
00:15:57vários de nós fugimos,
00:15:58incluindo eu próprio,
00:16:00e já havia algum contacto
00:16:03com o presidente Eduardo Mondiano.
00:16:06A Udinamo já tinha sido criada
00:16:08em abril de 1961,
00:16:09mas não era conhecida
00:16:10e eu não sabia,
00:16:12eu só soube depois,
00:16:13só em Londres já,
00:16:15quando eu saí,
00:16:16porque primeiro eu fui para Saltampa,
00:16:18até em Londres,
00:16:19é que eu sou informado
00:16:20que entretanto tinha sido criada
00:16:22a Udinamo
00:16:23em Moçambique.
00:16:25A pideira era tão forte
00:16:26e de tal maneira
00:16:27que não podíamos,
00:16:29quer dizer,
00:16:30suspeitávamos uns aos outros.
00:16:32Por exemplo,
00:16:33eu era motorista,
00:16:34não podíamos meter
00:16:35num grupo
00:16:36que não faça a parte,
00:16:37que não tenha amigos.
00:16:39Nós desconfiávamos
00:16:40de tudo e de todos
00:16:42e não sabíamos
00:16:44até que ponto
00:16:45é que podíamos ser traídos.
00:16:47e de maneiras
00:16:49que limitavam-nos
00:16:51a conversas
00:16:56com uma ou outra amiga.
00:16:58Aumentou o número
00:17:00de agentes da PIDE
00:17:01naqueles cafezinhos
00:17:02que nós frequentávamos.
00:17:04Foram presas várias pessoas,
00:17:07comunistas portugueses,
00:17:10e até alguns africanos.
00:17:13E nós começamos
00:17:13a ficar muito assustados.
00:17:15Entretanto,
00:17:16começaram alguns a fugir.
00:17:17A minha saída
00:17:18de Portugal,
00:17:19para além de querer sair,
00:17:20para evitar
00:17:21de ser chamado
00:17:21para a tropa,
00:17:24para integrar
00:17:26os contingentes portugueses
00:17:28para as colónias,
00:17:30foi também
00:17:30nessa altura
00:17:33o desejo
00:17:34de sair
00:17:35para ver se também
00:17:36eu participava
00:17:37desse movimento,
00:17:38desse movimento
00:17:38de contestação.
00:17:39Fiz o primeiro ano
00:17:40na Politécnica
00:17:41e depois fomos mobilizados
00:17:44para fugirmos
00:17:46e sairmos
00:17:50o maior número
00:17:50de quadros
00:17:51de Portugal
00:17:52para o exterior.
00:17:55Aqueles que passavam
00:17:57na República da Guiné,
00:17:58que já é independente
00:17:59na altura,
00:17:59o Gala,
00:18:00que era independente
00:18:01na altura,
00:18:03pronto,
00:18:03traziam aquelas ideias
00:18:04de liberdade
00:18:05da República da Guiné,
00:18:06mas o Gala,
00:18:07que já é livre,
00:18:09são um país livre,
00:18:10o Senegal ainda antes,
00:18:12não,
00:18:12não era,
00:18:12só foi nos anos 60,
00:18:14não é?
00:18:14da maneira que,
00:18:16pronto,
00:18:17aquilo entusiasmou
00:18:18os jovens,
00:18:19não é?
00:18:20Eu ia falar
00:18:20da independência
00:18:21da Guiné-Conacre,
00:18:22eu e mais
00:18:23alguns colegas,
00:18:24aventuramos e saímos
00:18:25para o Senegal
00:18:27e depois seguimos
00:18:27para a Guiné-Conacre.
00:18:29Chegamos a Guiné-Conacre
00:18:30e havia já lá
00:18:31um grupo de nacionalistas
00:18:33que também tinham fugido,
00:18:35alguns enfermeiros
00:18:36e outras personalidades
00:18:39que já tinham ido
00:18:39para a Guiné-Conacre.
00:18:40A maior parte
00:18:42dos militantes
00:18:43que participaram
00:18:44na luta armada
00:18:45eram estudantes
00:18:46em Coimbra
00:18:48ou no Porto
00:18:49ou em Lisboa
00:18:50ou então imigrantes
00:18:52na Bélgica,
00:18:53na Orlanda,
00:18:54em Luxemburgo,
00:18:56alguns na Itália
00:18:57e também na França.
00:18:58Portanto,
00:18:58pessoas que já tinham
00:18:59saído de Cabo Verde
00:19:00porque aqui em Cabo Verde
00:19:01pessoas,
00:19:02todas as pessoas
00:19:03que tomavam
00:19:04uma certa posição
00:19:04eram perseguidas
00:19:05e presas,
00:19:07naturalmente.
00:19:08Antes da minha
00:19:09estado em Portugal,
00:19:12nunca tinha posto
00:19:13verdadeiramente
00:19:14essa questão
00:19:15em termos de
00:19:16independência
00:19:18ou não.
00:19:19E a partir daí
00:19:20comecei a questionar
00:19:21e comecei então
00:19:23à procura
00:19:24do PAIGC
00:19:25quando tomei
00:19:26conhecimento
00:19:26da sua existência.
00:19:28Eu e os meus
00:19:29camaradas
00:19:31da altura
00:19:31chegámos
00:19:33à seguinte conclusão.
00:19:33Eu disse-lhe,
00:19:34olha,
00:19:34nós estamos atrasados,
00:19:36temos de sair.
00:19:37Isso não dá, sim.
00:19:39porque os outros
00:19:40avançam
00:19:42e não sabemos
00:19:43o que é que vai passar
00:19:44e nós temos de sair.
00:19:46Pedro Pires,
00:19:47Cabo Verdeano,
00:19:48então alférez miliciano
00:19:49da Força Aérea Portuguesa,
00:19:50estava entre as dezenas
00:19:51de africanos
00:19:52que fugiram de Portugal
00:19:53em abril
00:19:53e junho de 1961.
00:19:56Eram sobretudo
00:19:56angolanos
00:19:57afetos ao MPLA,
00:19:58embora o apoio americano
00:19:59à fuga
00:20:00pretendesse reforçar
00:20:01a UPA.
00:20:02Algo que parece,
00:20:03algo que parece,
00:20:03o primeiro contacto
00:20:05para a fuga
00:20:05foi estabelecido
00:20:07por elementos
00:20:07da UPA,
00:20:09por elementos
00:20:09da UPA
00:20:10ligados
00:20:11à igreja evangélica.
00:20:13Isso foi,
00:20:14parece que,
00:20:16na Suíça.
00:20:17O primeiro contacto
00:20:18de subsídio
00:20:18foi na Suíça.
00:20:20Em Portugal,
00:20:21como eu já
00:20:22disse anteriormente,
00:20:24não havia
00:20:24essa clivagem
00:20:26muito nítida
00:20:27entre UPA
00:20:28em Belá,
00:20:29de forma,
00:20:30funcionavam mais
00:20:31as relações pessoais,
00:20:32as amizades,
00:20:33e isso tudo
00:20:33funcionava.
00:20:36A condução
00:20:37da fuga
00:20:38acabou por
00:20:39passar para as mãos
00:20:41de militantes
00:20:42da MPLA.
00:20:42Penhei a boleia
00:20:43tendo em conta
00:20:45as minhas amizades
00:20:47com os angolanos.
00:20:49Agora,
00:20:50a fuga
00:20:52foi organizada,
00:20:54do meu ponto de vista,
00:20:55pelos americanos.
00:20:56pelos americanos,
00:21:01através
00:21:01de pastores,
00:21:03eu creio,
00:21:03de igrejas protestantes.
00:21:05A pessoa
00:21:05que estava,
00:21:08tinha recebido
00:21:09dinheiro
00:21:10para facilitar
00:21:11a nossa saída,
00:21:13por qualquer razão,
00:21:16não apareceu
00:21:17ao rendezvous,
00:21:18mas fomos
00:21:19todos presos,
00:21:23detentores
00:21:24de documentação
00:21:25falsa,
00:21:25e íamos ser
00:21:27recambiados
00:21:27a Portugal.
00:21:29É nessa altura
00:21:30que intervém
00:21:30a embaixada
00:21:31dos Estados Unidos,
00:21:36dos Estados Unidos
00:21:36em Madrid.
00:21:38Fomos soltos,
00:21:39atravessámos
00:21:40a fronteira
00:21:40e chegámos
00:21:41normalmente
00:21:42a Paris
00:21:43e diretamente
00:21:44a um centro
00:21:44de acolhimento
00:21:45de refugiados
00:21:46em Cefro.
00:21:47Segundo se diz,
00:21:49até já havia
00:21:50um avião
00:21:50português
00:21:52para nos levar
00:21:54a Lisboa,
00:21:54mas intervém
00:21:56a embaixada
00:21:58dos Estados Unidos
00:21:59e somos
00:22:00colocados
00:22:01na fronteira.
00:22:02Quando chegámos
00:22:03em França,
00:22:05já havia
00:22:05garantia
00:22:05de asilo político,
00:22:06tudo tratado
00:22:07pela via diplomática.
00:22:09Em França,
00:22:10está já
00:22:10Eduardo Mondelan
00:22:11que propõe
00:22:11a alguns dos estudantes
00:22:12bolsas de estudo
00:22:13nos Estados Unidos,
00:22:14o país onde ele
00:22:15trabalha e vive
00:22:16há uma década.
00:22:17Enquanto pressionam
00:22:18Salazar a descolorizar,
00:22:20os americanos
00:22:20tentam manter
00:22:21boas relações
00:22:22com Portugal.
00:22:23Nessa altura,
00:22:23por exemplo,
00:22:24celebram na sua
00:22:24embaixada
00:22:25em Lourenço Marques
00:22:26o aniversário
00:22:27da sua própria
00:22:27independência,
00:22:29em cerimónia
00:22:29tutelada pelas bandeiras
00:22:30dos dois países
00:22:31lado a lado
00:22:32e com a presença
00:22:33de Sarmento Rodrigues,
00:22:34o então
00:22:35governador-geral
00:22:35de Mozambique.
00:22:38E é através
00:22:38de um moçambicano
00:22:39Eduardo Mondelan
00:22:40que os Estados Unidos
00:22:41tentam chegar
00:22:42aos nacionalistas
00:22:43cuja fuga
00:22:44de Portugal
00:22:44patrocinam.
00:22:45O futuro líder
00:22:46da Frelimo
00:22:47confiava então
00:22:47na orientação
00:22:48descolonizadora
00:22:49da administração
00:22:50Kennedy.
00:22:50Eduardo tinha
00:22:52bons amigos
00:22:54ligados com
00:22:55o State Department
00:22:56que é
00:22:58departamento
00:22:59de Estado
00:23:01e há.
00:23:04E
00:23:04alguns
00:23:05destas pessoas
00:23:06organizaram
00:23:07encontros
00:23:08entre Eduardo
00:23:10e Robert Kennedy
00:23:11e outras pessoas
00:23:13que fez
00:23:14o parte
00:23:15inner circle
00:23:16do presidente
00:23:18Kennedy.
00:23:19Através
00:23:20destes encontros
00:23:21Eduardo
00:23:22pensou
00:23:24que é
00:23:26de ter
00:23:26uma influência
00:23:27sobre
00:23:29atitudes
00:23:30do governo
00:23:31americano
00:23:33sobre
00:23:34a posição
00:23:34de Portugal
00:23:35nos Estados Unidos
00:23:36e no mundo.
00:23:39Em certo momento
00:23:40a mim
00:23:41pareceu-me
00:23:42que seria útil
00:23:43trazê-lo
00:23:43para Portugal
00:23:44para a carreira
00:23:45docente
00:23:45que era
00:23:46aquilo que me
00:23:47parecia
00:23:47indicado
00:23:48para ele
00:23:48e que ele
00:23:49podia ser
00:23:49um grande
00:23:49colaborador
00:23:50para a mudança.
00:23:51Eduardo
00:23:52teve boas
00:23:53relações
00:23:53com a
00:23:55Embaixada
00:23:55de Portugal
00:23:56nos Estados Unidos
00:23:57e também
00:23:58a delegação
00:24:00de Portugal
00:24:01nas próprias
00:24:02Nações Unidos
00:24:03dos quais
00:24:04o Adriano
00:24:05Moreira
00:24:05fez parte
00:24:06e aí
00:24:07começou
00:24:07uma amizade
00:24:08com Adriano
00:24:09Moreira.
00:24:10Essa
00:24:11deu
00:24:11Eduardo
00:24:12uma esperança.
00:24:13deu esperança
00:24:16até
00:24:171961.
00:24:20Ela disse-me
00:24:20com tranquilidade
00:24:21que o Eduardo
00:24:22não viria
00:24:23para Portugal
00:24:24porque
00:24:25disse-me
00:24:25ela
00:24:26o que você
00:24:28diz
00:24:28é
00:24:31exato
00:24:32aquilo que lá
00:24:34fazem
00:24:34não corresponde.
00:24:36Fez-me esta
00:24:36sentença
00:24:37e eu
00:24:38nunca mais
00:24:39vi o Eduardo
00:24:40Montlante.
00:24:40Quando o Eduardo
00:24:41chegou
00:24:42em Moçambique
00:24:44em fevereiro
00:24:45de 61
00:24:46e viajou
00:24:48para a parte
00:24:49do sul
00:24:49família
00:24:51todos
00:24:51aqueles
00:24:52encontros
00:24:53ele viu
00:24:54que nunca
00:24:55nada
00:24:56mudou
00:24:57nada
00:24:58apesar
00:24:59de tudo
00:24:59e lembra
00:25:00que se estava
00:25:02trabalhando
00:25:02na Nações Unidas
00:25:03trabalhando
00:25:04com
00:25:04Nyerere
00:25:05de Caunda
00:25:05essas pessoas
00:25:07que estavam
00:25:07agora
00:25:08a aproximar
00:25:09a questão
00:25:09de independência
00:25:10em Portugal
00:25:11Moçambique
00:25:13era província.
00:25:15Esta realmente
00:25:16feriu
00:25:17muito
00:25:18Eduardo
00:25:19e quando
00:25:20voltou
00:25:21para Nova York
00:25:22disse
00:25:22goodbye
00:25:23Nações Unidas
00:25:25saiu
00:25:26de Nações Unidas.
00:25:27Do que eu lhe ouvi
00:25:28sempre
00:25:28era
00:25:29recomendar
00:25:30que Portugal
00:25:31aceitasse
00:25:32o processo
00:25:33de descolonização
00:25:34que vem
00:25:34na Carta
00:25:35das Nações Unidas
00:25:36nunca lhe ouvi
00:25:36falar em violência
00:25:37nunca lhe ouvi
00:25:39falar em passar
00:25:40a ação.
00:25:41Antes de pegarem
00:25:42armas
00:25:42os movimentos
00:25:43organizam-se
00:25:44politicamente
00:25:44e participam
00:25:45em iniciativas
00:25:46internacionais
00:25:47com o apoio
00:25:47de países africanos
00:25:48mantendo contactos
00:25:49que haviam criado
00:25:50enquanto estudantes
00:25:51em Portugal
00:25:51formam o MAC
00:25:52Movimento Anticolonial
00:25:53que na Conferência
00:25:54de Túnis
00:25:55de 1960
00:25:56dará lugar
00:25:56a Afraín
00:25:57organismo
00:25:58um ano depois
00:25:59substituído em Marrocos
00:26:00pela CONCP
00:26:01Para conquistarem
00:26:02apoios políticos
00:26:03precisavam
00:26:04demonstrar
00:26:04que tinham
00:26:05explorado
00:26:05a Via Pacífica
00:26:06em conjunto
00:26:07e separadamente
00:26:08os movimentos
00:26:09sugerem
00:26:09negociações
00:26:10a Portugal
00:26:11O recém-criado
00:26:12MPL
00:26:12ha dirigido
00:26:13por Viriado
00:26:13da Cruz
00:26:14Luciular
00:26:14e Mário
00:26:15de Andrade
00:26:15o presidente
00:26:16propõe a Salazar
00:26:17uma mesa redonda
00:26:18Esse memorando
00:26:19não recebeu
00:26:22resposta direta
00:26:23do nosso destinatário
00:26:26mas recebeu
00:26:27um comentário
00:26:28publicado
00:26:29no jornal
00:26:30Novidades
00:26:30que pertencia
00:26:32à família política
00:26:33salazarista
00:26:35mais direta
00:26:36e até católica
00:26:37se bem me lembro
00:26:38e num jornal
00:26:40o Novidades
00:26:40dizia
00:26:41que falava
00:26:42desse memorando
00:26:42e rejeitava
00:26:44dizendo
00:26:44nem mesa redonda
00:26:45nem quadrada
00:26:46para discutir
00:26:48discutir aqui
00:26:49o indiscutível
00:26:50Foi em 60
00:26:52que
00:26:52o PGC
00:26:55eneroçou
00:26:57um memorando
00:26:58ao governo português
00:27:00fazendo propostas
00:27:03propostas
00:27:04para negociações
00:27:05que evidentemente
00:27:06essa proposta
00:27:08não teve resposta
00:27:08nenhuma espécie
00:27:10O ponto de partida
00:27:12de Cabral
00:27:13foi esse
00:27:13quer dizer
00:27:14o primeiro gesto
00:27:15dele
00:27:15foi
00:27:17oferecer
00:27:19oferecer-se
00:27:20para negociar
00:27:22com as autoridades
00:27:23portuguesas
00:27:24Nessa altura
00:27:25bastava que o governo
00:27:26português
00:27:27falasse
00:27:28de autonomia
00:27:29não era preciso
00:27:30para nada
00:27:30mas
00:27:31deixasse
00:27:33autonomia
00:27:34pronto
00:27:34não haveria guerra
00:27:35tenho certeza disso
00:27:37bastava
00:27:39que o governo
00:27:40houvesse
00:27:40uma aberta
00:27:42uma fresta
00:27:43para
00:27:44autonomia
00:27:45depois
00:27:46com aquela coisa
00:27:47de uma autonomia
00:27:49não estática
00:27:50mas dinâmica
00:27:51etc
00:27:52que depois
00:27:52pudesse
00:27:53desembocar
00:27:55na independência
00:27:55só isto
00:27:56chegava
00:27:57foi uma repressão
00:27:58madonha
00:27:58que se abateu
00:27:59sobre a Guiné
00:27:59como resposta
00:28:00a essa proposta
00:28:01de Cabral
00:28:01de negociação
00:28:02então foi a partir
00:28:04daí que se foi
00:28:04para a luta armada
00:28:05Amílcar Cabral
00:28:07não deixa de preparar
00:28:08a guerra
00:28:09ao mesmo tempo
00:28:09que se dirige
00:28:10ao governo português
00:28:11propondo negociações
00:28:13conseguindo o apoio
00:28:14da China
00:28:14para formar
00:28:15os primeiros guerrilheiros
00:28:16e a retaguarda
00:28:17de Conakry
00:28:17para se organizar
00:28:18inicia a mobilização
00:28:20no interior da Guiné
00:28:21Pijaguiti
00:28:22determinou
00:28:24que nós
00:28:26virássemos
00:28:27a nossa atenção
00:28:28para o campo
00:28:30onde nós seríamos
00:28:31sempre
00:28:32mais fortes
00:28:33que o
00:28:34poder colonial
00:28:35onde podíamos
00:28:37mobilizar
00:28:37preparar
00:28:38formar
00:28:39os homens
00:28:40para a luta
00:28:41Amílcar fez
00:28:42uma seleção
00:28:42de 10 pessoas
00:28:43em que eu estava
00:28:44incluído
00:28:44e fomos
00:28:46para a China
00:28:47em janeiro
00:28:4861
00:28:49esse grupo
00:28:49de 10
00:28:50que foi formado
00:28:51na China
00:28:51é que dirigiu
00:28:52realmente
00:28:53a luta
00:28:53da libertação
00:28:54na Guiné
00:28:54cada
00:28:55grupo
00:28:57de jovem
00:28:58portanto
00:28:59que pertence
00:28:59a uma etnia
00:29:00ia para uma região
00:29:01portanto
00:29:01da sua etnia
00:29:02mesmo
00:29:02esses foram
00:29:04divididos
00:29:04esse grupo
00:29:05e lá fomos
00:29:07chegamos
00:29:08a ir organizar
00:29:10ou
00:29:10transmitir
00:29:12o povo
00:29:12portanto
00:29:13a mensagem
00:29:14da luta
00:29:15a mensagem
00:29:16da existência
00:29:17do partido
00:29:18PSGC
00:29:19liderado
00:29:20por Amílcar
00:29:20e Rafael Barbosa
00:29:22o Rafael
00:29:22portanto
00:29:23está cá
00:29:23no interior
00:29:24e o Amílcar
00:29:25está portanto
00:29:25no exterior
00:29:26eles
00:29:27vinham
00:29:28ter
00:29:28comigo
00:29:28eu
00:29:30claro
00:29:30conversava
00:29:30com os homens
00:29:31apresentava
00:29:32o estatuto
00:29:33do partido
00:29:34eu conversava
00:29:35com eles
00:29:35com promessa
00:29:36de sair
00:29:37e por ele
00:29:37lutar
00:29:38eu até dizia
00:29:39olha
00:29:40não há oferta
00:29:41bolsa
00:29:41de estudo
00:29:42essa coisa
00:29:42todo
00:29:42não
00:29:43é defesa
00:29:44da pátria
00:29:44então o Amílcar
00:29:46Cabral
00:29:46é um conhecimento
00:29:46que resolve
00:29:47o resto
00:29:47se há necessidade
00:29:48de preparar
00:29:49quadros
00:29:50é com o Amílcar
00:29:51Cabral
00:29:51com a experiência
00:29:53chinesa
00:29:53com aquilo
00:29:54que o Amílcar
00:29:54nos ensinou
00:29:55que depois
00:29:56quando voltamos
00:29:56para a Guiné
00:29:58Conacri
00:29:58e fomos
00:29:59mandados
00:30:00para o interior
00:30:00do país
00:30:01os primeiros
00:30:09tiros
00:30:09disparados
00:30:10na Guiné
00:30:10não são
00:30:11do PNGC
00:30:12apesar dos
00:30:13guerrilheiros
00:30:13que já
00:30:14tinha formado
00:30:14na China
00:30:15e das populações
00:30:16que já
00:30:16tinha mobilizado
00:30:17no interior
00:30:17o território
00:30:19será no entanto
00:30:20quatro meses
00:30:21depois do levantamento
00:30:22em Angola
00:30:22a segunda colónia
00:30:23a pegarem armas
00:30:24contra Portugal
00:30:25o governo
00:30:27da província
00:30:28da Guiné
00:30:28distribuiu
00:30:29o seguinte
00:30:30comunicado
00:30:30um grupo
00:30:31de cerca
00:30:32de 50
00:30:32indivíduos armados
00:30:33vindos do Senegal
00:30:34atacou
00:30:35o acordo
00:30:35do elemento
00:30:36militar
00:30:36de São Domingos
00:30:37de povoação
00:30:38fronteiriça
00:30:38com Caça-Mansa
00:30:39do recontro
00:30:41que durou
00:30:41duas horas
00:30:42e foi
00:30:42as ações
00:30:42são conduzidas
00:30:43pelo movimento
00:30:44de libertação
00:30:44da Guiné
00:30:45MLG
00:30:46homens mal armados
00:30:47e mal preparados
00:30:48atacam na praia
00:30:49de Varela
00:30:49no extremo noroeste
00:30:50do território
00:30:51na fronteira
00:30:52com o Senegal
00:30:52e também
00:30:53em Suzana
00:30:54e em São Domingos
00:30:55cá nos
00:30:56atacamos
00:30:57em São Domingos
00:30:58nós tivemos
00:30:59confusos
00:31:30e com eles
00:32:01que o François
00:32:02Armendi
00:32:03atacou
00:32:03é o primeiro
00:32:04a atacar
00:32:05Varela
00:32:06e São Domingos
00:32:07fez aquilo
00:32:08que é para
00:32:09conseguir
00:32:10o terreno
00:32:11antes do desenvolvimento
00:32:13do PAI
00:32:14e aquilo
00:32:15foi um fracasso
00:32:16eu vi
00:32:17que aconteceu
00:32:18em Algérie
00:32:19eu
00:32:20e quando
00:32:21eu veni
00:32:21eu
00:32:22exercice
00:32:23as pessoas
00:32:23em função
00:32:24de isso
00:32:24em São Domingos
00:32:25não
00:32:25eu
00:32:26eu
00:32:27eu
00:32:27eu
00:32:29eu
00:32:30de
00:32:31Virgen
00:32:31dentro
00:32:32de
00:32:32MLG
00:32:32nós
00:32:33Sénégal
00:32:33De facto, a ação de Kankoela Mandi à frente dos homens do MLG
00:32:58mereceu um comunicado do governo senegalês
00:33:00anunciando que forças nacionalistas guineenses
00:33:03tinham passado a ação
00:33:04Como primeira força a pegar em armas
00:33:07o MLG conseguia impor ao PAIGC
00:33:09um comunicado conjunto sobre a necessidade da luta
00:33:12assinado em Conacri por Kankoela Mandi
00:33:14e Amilcar Cabral
00:33:16A unidade era aparente
00:33:38além das diferenças políticas
00:33:40o MLG excluía Cabo Verde do seu projeto
00:33:42e o PAIGC acusava de ver nos cabo-verdianos
00:33:45cúmplices dos portugueses
00:33:47Amilcar Cabral concluíra pela necessidade da luta armada
00:33:50e o MLG parecia acreditar numa independência rápida
00:33:53a exemplo do Senegal e da Guiné Francesa
00:33:56Por seu lado, enquanto estes e outros movimentos divergiam
00:33:59quanto à forma de se opor em Portugal
00:34:01Peixoto Correia, o governador do território
00:34:03afirmava a sua autoridade
00:34:05visitando as zonas atingidas
00:34:06os ataques do MLG
00:34:08Procura ao mesmo tempo
00:34:10negativar as populações
00:34:11promovendo melhoramentos
00:34:12e distinguindo os seus chefes
00:34:14As manifestações destinam-se a exaltar os valores da presença portuguesa
00:34:22e a repudiar as ações daqueles que a contestam
00:34:24agora pegando-o em armas
00:34:26Ao mesmo tempo, as autoridades procuram afirmar o seu poder
00:34:31promovendo demonstrações de força militar na capital
00:34:34De certa forma, o comandante Peixoto Correia
00:34:44acabava por confirmar aquilo que o governo desmentia
00:34:46sinais de instabilidade na Guiné
00:34:48Igualmente nas províncias de São Tomé e da Guiné
00:34:52se respiram uma atmosfera de tranquilidade e confiança
00:34:55sendo de repudiar todo e qualquer boato tendencioso
00:34:59que não corresponde à verdade
00:35:00As guarnições militares estão a postos
00:35:03e todas as tentativas de infiltração de discos
00:35:06terão a resposta adequada
00:35:07Apesar das palavras confiantes do ministro
00:35:12a verdade é que, por esta altura, em agosto de 1961
00:35:15o comando territorial independente da Guiné
00:35:18dispunha de poucos efetivos militares
00:35:20sendo a maioria de recrutamento local
00:35:23Em todo o território havia apenas 3 companhias de caçadores
00:35:28uma bateria de artilharia
00:35:29um esquadrão de reconhecimento
00:35:31e um boletão de polícia militar
00:35:33Perante os sinais que tolodava o horizonte da Guiné
00:35:38e a guerra em curso em Angola
00:35:40inicia-se um reforço militar do edifício colonial
00:35:42que está ameaçado da África à Ásia
00:35:45Após ter ocupado em 1954
00:35:48Dadrai na Garavili
00:35:49A União Indiana reclamava Goa, Damão e Dio
00:35:52territórios que constituíam o Estado Português da Índia
00:35:55Perante a recusa de Portugal e indiferente às legências diplomáticas de Salazar
00:36:00A bandeira portuguesa é defendida por uma pequena força de 3 a 4 mil soldados
00:36:14modestamente armados
00:36:15A União Indiana coloca navios ao largo de Goa
00:36:18e ataca com 40 a 50 mil homens
00:36:20apoiados por tanques e aviação
00:36:22A Índia toma facilmente o território
00:36:25perdendo cerca de duas dezenas de soldados
00:36:27Do lado português, 45 mortos e milhares de prisioneiros
00:36:32O general Vassal Luís Silva aceita a rendição contra a vontade de Salazar
00:36:38que apenas admitia soldados e marieiros vitoriosos ou então mortos
00:36:43A minha resposta foi dada com o coração a sangrar
00:36:47Ao pedido que ele fazia de aguentar-nos 8 dias
00:36:53que não pensasse nisso porque não tínhamos elementos
00:36:57O governador era inteiramente tranquilizante
00:37:00A respeito da situação
00:37:03O que permite assim ser mais eloquente nas instruções
00:37:08Eu imagino que nunca passou pela cabeça do doutor Salazar
00:37:12que se a Índia em força quisesse invadir Goa
00:37:16que a gente conseguia resistir
00:37:17Salazar confiava na mobilização internacional
00:37:21e numa diligência do governo junto de Pequim
00:37:24explorando um conflito fronteiriço
00:37:26então existente entre a China e a Índia
00:37:28Eu sugeri que se mandasse perguntar ao governo chinês
00:37:33por intermédio do governo de Macau
00:37:36se a China estaria disposta a apoiar Portugal na resistência à União Indiana
00:37:40mobilização da comunidade internacional etc
00:37:42pondo nós à disposição da China portos e aeroportos de Goa
00:37:51que eram os melhores da costa de Malabar
00:37:53não havia nada equivalente
00:37:56e houve uma resposta de Lu Xuen Lai
00:37:59que a proposta lhe interessava
00:38:02que havia tempo para pensar
00:38:04porque ele não julgava que o Neru se atrevesse
00:38:07a manchar a sua imagem de pacifista
00:38:11o que convenceu o doutor Salazar
00:38:13de que tinha razão em tomar atitudes
00:38:15de firmeza porque o Neru não se atreveria
00:38:19A invasão de Goa constitui um trauma
00:38:23para a geração militar portuguesa
00:38:24que vai enfrentar a guerra em África
00:38:26a tropa como fusível para uma intransigência política
00:38:29que Salazar manterá no futuro
00:38:31O caso de Goa encerra um ano crucial para Portugal
00:38:35iniciou o ciclo final do Estado Novo
00:38:37Dias tristes, dias de luto e de tragédia
00:38:41Um grupo da oposição tenta um golpe de Estado em Beja
00:38:43Logo no primeiro dia do ano
00:38:45o subsecretário do Estado do Exército
00:38:47o tendente-coronel Jaime Felipe da Fonseca
00:38:49foi morto por mão criminosa
00:38:50quando se deslocou a Beja em missão de serviço
00:38:52para se inteirar dos distúrbios
00:38:54ali cometidos por um grupo de elementos subversivos
00:38:56Além desta ação
00:38:58a oposição desvia um avião
00:38:59depois de ter desviado um navio
00:39:01e o regime é contestado pelos estudantes
00:39:03ameaçados pelos pedros de uma guerra
00:39:04que já está a refletir-se no dia-a-dia da metrópole
00:39:07A iniciativa da Rádio Televisão Portuguesa
00:39:11ao abrir uma subscrição a favor dos refugiados
00:39:15O movimento de solidariedade estende-se a todo o país
00:39:18nums casos mobilizando instituições de cariz humanitário
00:39:21como a Cruz Vermelha
00:39:22noutros envolvendo organizações religiosas
00:39:25como a Conferência de São Vicente Paula
00:39:27As iniciativas são conduzidas por mulheres
00:39:32que se dedicam a reunir tudo o que podem
00:39:34medicamentos, roupas, brinquedos, dinheiro
00:39:38e até mesmo joias e ouros
00:39:40À onda de sensibilização
00:39:43associam-se figuras então em voga no mundo do espetáculo
00:39:46que também aceitam colaborar em campanhas de recolha de fundos
00:39:49neste caso, através da venda de flores
00:39:51por intérpretes da canção
00:39:53Alguns dos nomes mais populares dos palcos da metrópole
00:39:59organizam meses depois
00:40:00iniciativas a que chamam Caravana da Saudade
00:40:03e começam a viajar por Angola
00:40:05São aplaudidos com entusiasmo por civis
00:40:11ainda mal refeitos dos dramas que viveram
00:40:13e por militares em trânsito para as matas
00:40:15ou que tiveram a sorte de ficar por Luanda
00:40:23A desdramatização pelo humor conformista
00:40:27assenta talvez na crença espalhada
00:40:29de que a atuação da tropa
00:40:31da pressa acabará com a guerra
00:40:32E à medida que a situação melhora
00:40:35vai-se desenvolvendo o culto
00:40:37e a exaltação dos soldados
00:40:38que se tornam presença cada vez mais frequente
00:40:41na vida das populações
00:40:43sejam reais ou representados
00:40:45nas ruas ou nos balcos angolanos
00:40:48Em Portugal, na metrópole
00:40:52a criação de uma reta guarda
00:40:54de apoio aos soldados mobilizados
00:40:56começa a substituir a onda inicial
00:40:58de solidariedade com as vítimas civis
00:41:01Direta ou indiretamente
00:41:03a guerra entra então nos mais diversos cenários
00:41:05incluindo os da mais seleta sociedade
00:41:08Esta passagem de modelos, concretamente
00:41:17é organizada a propósito do Natal do Soldado
00:41:20a primeira realização do Movimento Nacional Feminino
00:41:23uma entidade que tinha sido criada
00:41:25em 28 de Abril
00:41:26a data do aniversário de Salazar
00:41:28e que era animada por senhoras em geral
00:41:31afetas aos meios do poder
00:41:32No primeiro Natal
00:41:34uma das senhoras dizia assim
00:41:36Ai, mas isto nós não aguentamos
00:41:38porque eu já cá deixei o dinheiro todo
00:41:40que o meu marido me deu
00:41:41para o Natal de família
00:41:42O dinheiro era nosso
00:41:44e eram alguns donativos que nos davam
00:41:47inicialmente o dinheiro era nosso
00:41:48e daí os géneros
00:41:50sim, mas nos primeiros tempos
00:41:51e depois pedimos o subsídio
00:41:53o tal subvenção de família
00:41:55Era o Natal para o soldado
00:41:57era para todos os militares de cá
00:41:59para todos os militares de lá
00:42:00e para as forças de segurança
00:42:02nós mandávamos para mil homens
00:42:05as encomendas de Natal eram para mil
00:42:06Tendo na Presidente Cecília
00:42:09Supico Pinto a sua figura
00:42:11mais ativa e carismática
00:42:12o Movimento Nacional Feminino
00:42:14surgira com o propósito
00:42:15de criar uma rede de madrinhas de guerra
00:42:17para apoio dos soldados
00:42:19No entanto, o movimento foi alargando o seu âmbito
00:42:24chegou a abranger mais de 80 mil mulheres
00:42:26e acabou por tornar-se eficaz
00:42:28em diversos aspectos
00:42:29desde o serviço postal e de encomendas
00:42:32até ao acompanhamento moral, social e jurídico
00:42:35dos soldados e familiares
00:42:37e, nomeadamente, na atribuição de subvenções
00:42:40Isso não impedindo que os detratores
00:42:42do Movimento Nacional Feminino
00:42:44vissem nele um fator de legitimação da guerra
00:42:46servido por senhoras, diletantes do regime
00:42:49Nós teríamos fama de fúteis
00:42:51mas mesmo não se faz ideia
00:42:54o que se trabalhava naquela casa
00:42:56porque quando aparecia algum marido
00:42:59de alguma senhora
00:43:00aparentemente muito fútil
00:43:02dizia-nos com a energia
00:43:05com que vocês estão
00:43:06e com a responsabilidade que estão
00:43:09vocês montavam uma grande empresa
00:43:11éramos invejados por todos os empresários de Lisboa
00:43:15A despedida dos soldados
00:43:18que aos milhares continuam a embargar em Lisboa
00:43:21comparecem as senhoras do Movimento Nacional Feminino
00:43:23oferecem cigarros e isqueiros
00:43:26lembranças que os mais críticos
00:43:28acham irrisório o conforto
00:43:30para quem parte para a guerra
00:43:31Neste final de 1961
00:43:35são já mais de 33 mil os soldados em Angola
00:43:38e o número de mortos durante o ano
00:43:40passava das duas centenas
00:43:41Em 1962
00:43:43a situação que os militares vão encontrar
00:43:45é já diferente daquela
00:43:47que os primeiros mobilizados enfrentaram
00:43:48no início da campanha
00:43:50Enquanto a tropa retomava o domínio da colónia
00:43:53Adriano Moreira
00:43:54iniciava uma vaga de reformas legislativas
00:43:57que rompiam com uma situação de décadas
00:43:59As novas leis e decretos do ministro do Ultramar
00:44:02eram para os meios internacionais adversos
00:44:05apenas demagogia
00:44:06para aplacar as críticas a Portugal
00:44:08Para os colonos
00:44:10assustados com os novos tempos
00:44:12as medidas e as promessas de Adriano Moreira
00:44:14eram uma luz
00:44:16no meio do seu desespero
00:44:17Naquela altura
00:44:21o que era sobretudo preciso em Angola
00:44:23era a esperança
00:44:24era que não morresse a esperança
00:44:25não é?
00:44:27E ele
00:44:27em tudo quanto dizia
00:44:29em tudo o que fazia
00:44:31ele
00:44:31alimentava
00:44:33ele potencializava
00:44:35a esperança
00:44:35de que Angola
00:44:37ia ser
00:44:38um
00:44:39digamos
00:44:41a filha predileta
00:44:43de Portugal
00:44:44O Adriano Moreira
00:44:46é recebido
00:44:46digamos
00:44:47como
00:44:47um homem providencial
00:44:49houve até
00:44:50muita gente de esquerda
00:44:52ficando assim
00:44:52que considerou
00:44:54que o Adriano Moreira
00:44:55podia dar uma volta
00:44:56a futuro
00:44:57precisamente por ele
00:44:58ter tomado
00:44:59algumas medidas
00:44:59que sendo absolutamente
00:45:01indispensáveis
00:45:02e essa do Estatuto Indígena
00:45:04foi uma delas
00:45:05é para mim
00:45:06um dado histórico
00:45:07de Angola
00:45:07É afastada
00:45:08qualquer distinção
00:45:10entre grupos étnicos
00:45:12ou culturais
00:45:13passando todos os trabalhadores
00:45:15qualquer que seja
00:45:16a sua filiação cultural
00:45:18a regular-se
00:45:19pela mesma lei
00:45:19Não é admitida
00:45:22nenhuma forma
00:45:24de trabalho
00:45:24compelido
00:45:25As reformas
00:45:27seriam celebradas
00:45:28nas colónias
00:45:29e festejadas
00:45:30pelas populações africanas
00:45:31embora desvalorizadas
00:45:33pelos independentistas
00:45:34Na Praça do Império
00:45:35em Bissau
00:45:36a igualdade política
00:45:37anunciada pelo ministro
00:45:38do Ultramar
00:45:39foi assinalada
00:45:40pelas autoridades
00:45:41com esta manifestação
00:45:43de portuguesismo
00:45:44patrocinada
00:45:45pelo governador
00:45:46Peixoto Correia
00:45:47e comentada
00:45:48por discursos
00:45:49de guineenses
00:45:49A presença
00:45:53de portugueses
00:45:54é talvez mais evidente
00:45:55demonstrando
00:45:56a concretização
00:45:57prática
00:45:57da abolição
00:45:58do indigenato
00:45:58o que conforme
00:45:59a nova lei
00:46:00Adriano Moreira
00:46:01dava a todos
00:46:02a mesma condição
00:46:02de cidadãos
00:46:03Eu na altura
00:46:04escrevi
00:46:05o livro
00:46:06o análise social
00:46:08do regime
00:46:08do indigenato
00:46:09ofereci-lhe um exemplar
00:46:11leu
00:46:12e
00:46:13concordou
00:46:14com a minha análise
00:46:16e promoveu logo
00:46:18a extinção
00:46:19do regime
00:46:19do indigenato
00:46:20e teve a amabilidade
00:46:21de me dizer
00:46:22que nem todos
00:46:23o fariam
00:46:23que tinha lido
00:46:24o meu livro
00:46:25e que tinha sido
00:46:26o meu livro
00:46:27que o tinha
00:46:27encorajado
00:46:28O professor
00:46:30Adriano Moreira
00:46:30disse que
00:46:32aos indígenas
00:46:33vocês já não são indígenas
00:46:34vocês a partir de hoje
00:46:36são portugueses
00:46:37com todos os direitos
00:46:38e no dia seguinte
00:46:39isto é verdade
00:46:40na beira
00:46:41não havia indígenas
00:46:42não havia pretos
00:46:43para trabalhar
00:46:44digamos assim
00:46:45porque eles não
00:46:45apareceram ao trabalho
00:46:46o que eles consideraram
00:46:47é que já não é
00:46:48obrigados a trabalhar
00:46:49já não somos indígenas
00:46:50nós
00:46:51os clones
00:46:52que lá estávamos
00:46:53na altura
00:46:53somos assim
00:46:54mas tu não vês
00:46:55que és preto
00:46:56na mesma
00:46:56tu não deixaste
00:46:57de ser preto
00:46:58e é um bocado
00:47:01caricato
00:47:01mas eles admitiam
00:47:02isto tudo
00:47:03eles barriam
00:47:03não, não
00:47:04o Sr. Ministro
00:47:05disse que
00:47:06nós agora
00:47:07somos portugueses
00:47:08também
00:47:09ainda te falta
00:47:09lavar a cara
00:47:10agora que se empunha
00:47:11o mercado de trabalho
00:47:12quer dizer
00:47:12natural
00:47:13você contrata
00:47:14as pessoas que quer
00:47:15faz o preço
00:47:16etc
00:47:17agora não vai ser
00:47:18é concedido
00:47:19dizer ao chefe de posto
00:47:20de um determinado sítio
00:47:21dizer assim
00:47:22olha
00:47:22arranjo-mei 50 homens
00:47:23que eu preciso de 50 homens
00:47:24o regime do indigenato
00:47:25teve algumas consequências
00:47:27relativamente imediatas
00:47:31nas grandes cidades
00:47:34nos grandes centros urbanos
00:47:36e nos serviços públicos
00:47:38quase só
00:47:39porque
00:47:40nas empresas privadas
00:47:42e no mato
00:47:45fora desses centros
00:47:47as mudanças
00:47:49foram praticamente nulas
00:47:51a lei
00:47:51foi boicotada
00:47:53em grande parte
00:47:54a pedido
00:47:56de forças económicas
00:48:00porque
00:48:01está a ver
00:48:01se todos eles
00:48:03sem obrigatoriedade
00:48:04de fazer algodão
00:48:05fossem fazer
00:48:06a agricultura
00:48:07que lhes apetecia fazer
00:48:08e fossem fazer
00:48:10as pequenas inglesas
00:48:11que lhe competia fazer
00:48:12a mão de obra
00:48:14esqueciava um bocado
00:48:15e as forças económicas
00:48:16não gostavam disso
00:48:17foi por isso
00:48:18a lei
00:48:18em si
00:48:19é esplêndida
00:48:20e de uma grande visão
00:48:21os resultados
00:48:23não se fizeram
00:48:24sentir por aí a lei
00:48:26na prática
00:48:27manteve-se praticamente
00:48:28na mesma
00:48:29havia um pouquinho
00:48:30mais fiscalização
00:48:31quando eles tinham
00:48:31que achar a administração
00:48:32a lei
00:48:33se quer saber a verdade
00:48:34ficou em estudo
00:48:35até 1974
00:48:36a aplicação da lei
00:48:39ficou em observação
00:48:41e em estudo
00:48:41até 1974
00:48:42não quer dizer
00:48:42que não tivesse
00:48:43vingado
00:48:44num ou outro caso
00:48:45mas por princípio
00:48:46a aplicação generalizada
00:48:47nunca se fez
00:48:48claro
00:48:49o acabar do indigenato
00:48:51sim
00:48:51se fez
00:48:52acabaram os castigos corporais
00:48:54em princípio
00:48:56o indivíduo teve direito
00:48:58a ser tratado
00:48:59em igualdade de circunstâncias
00:49:00porque já não era indígena
00:49:01agora
00:49:03vamos lá
00:49:04antes que as populações
00:49:08negras
00:49:09e as populações
00:49:11brancas
00:49:12se intrometessem
00:49:13devidamente
00:49:14dentro do espírito
00:49:15desta lei
00:49:16correu muito o tempo
00:49:18porque
00:49:19nem os brancos
00:49:21aceitavam
00:49:22de boa fé
00:49:23nem os pretos
00:49:25acreditavam
00:49:26que ela fosse
00:49:26para cumprir
00:49:27isto
00:49:28é real
00:49:29essas reformas
00:49:30que algumas eram
00:49:31absolutamente
00:49:32evidentemente
00:49:34necessárias
00:49:35como é o fim
00:49:36do indigenato
00:49:37etc
00:49:37mesmo essas reformas
00:49:39que eu considero
00:49:41algumas
00:49:41ou as outras
00:49:42cosméticas
00:49:43foram de tal forma
00:49:44que abalaram
00:49:45a confiança política
00:49:46do doutor Salazar
00:49:47no Adriano Moreira
00:49:48a grande revolução
00:49:49dentro do período
00:49:50colonial
00:49:50que são efetivamente
00:49:52e há que dizer
00:49:53a legislação
00:49:54do Adriano Moreira
00:49:55de 61
00:49:56o Adriano Moreira
00:49:57abre
00:50:01escolas de ministério
00:50:03dá equiparação
00:50:05a essas professoras
00:50:06feitas
00:50:07em Angola
00:50:08a
00:50:09as de Portugal
00:50:09abre liceus
00:50:11escariam liceus
00:50:12e
00:50:14altera
00:50:16portanto
00:50:17o estatuto
00:50:17de indígena
00:50:18mudou
00:50:18nessa altura
00:50:19é um homem
00:50:20que em fundo
00:50:20vamos
00:50:21Portugal
00:50:22não vamos
00:50:22amparar
00:50:23não vamos fazer
00:50:24e ele próprio
00:50:24dá exemplo
00:50:25de que
00:50:27vai evoluir
00:50:28lembro-me
00:50:28que
00:50:29disse uma vez
00:50:30que Portugal
00:50:30faria a independência
00:50:32dos territórios
00:50:33africanos
00:50:34portugueses
00:50:35mas seria
00:50:37a última potência
00:50:38europeia
00:50:39a fazê-lo
00:50:39a dúvida
00:50:41está exatamente
00:50:42na evolução
00:50:43que se pretende
00:50:44em Moçambique
00:50:45imediatamente
00:50:46antes das medidas
00:50:47de Adriano Moreira
00:50:47que entretanto
00:50:48nomeara-se Armento
00:50:49Rodrigues
00:50:50para governar
00:50:50o território
00:50:51circulou
00:50:52um abaixo-assinado
00:50:53pedia não só
00:50:55a abolição
00:50:55do estatuto
00:50:56do indigenato
00:50:56mas que
00:50:57em consequência
00:50:57os cidadãos
00:50:58pudessem vir
00:50:59a pronunciar-se
00:51:00sobre o futuro
00:51:01do território
00:51:01falava de autonomia
00:51:03falava até
00:51:03que
00:51:04não falava
00:51:06de independência
00:51:07mas falava
00:51:07da autodeterminação
00:51:09e como consequência
00:51:10que depois
00:51:12a população
00:51:12escolhesse
00:51:13um regime
00:51:14mesmo que ele fosse
00:51:15de natureza
00:51:16autónomo
00:51:17em relação
00:51:17a coisa
00:51:17é assim
00:51:18conversa
00:51:19um bocado
00:51:19de advogado
00:51:20em Angola
00:51:22o violento choque
00:51:23provocado
00:51:23pelo início
00:51:24da guerra
00:51:24tinha aberto
00:51:25um debate surdo
00:51:26sobre o futuro
00:51:26entravam na discussão
00:51:28por um lado
00:51:28as reformas
00:51:29de Adriano Moreira
00:51:30por outro
00:51:30os desejos
00:51:31emancipalistas
00:51:32de alguns colanos
00:51:33um grupo
00:51:35de brancos
00:51:35empresários
00:51:36intelectuais
00:51:37oposicionistas
00:51:38do Lubito
00:51:38e Benguela
00:51:39criam logo
00:51:40em abril
00:51:40de 1961
00:51:41a FUA
00:51:42frente de Unidade
00:51:43Angolana
00:51:44vista com o apoio
00:51:45do MPLA
00:51:45que apresenta
00:51:46as suas ideias
00:51:47Adriano Moreira
00:51:48disse que estávamos
00:51:50preocupadíssimos
00:51:51com a situação
00:51:51Angola não se podia
00:51:53transformar
00:51:53numa luta
00:51:54de negros e brancos
00:51:55Angola era Angola
00:51:56tinha que ser multirracial
00:51:57ele dizia tudo que sim
00:51:59tudo muito bem
00:52:00e portanto
00:52:01nós pensávamos
00:52:02que o governo
00:52:04devia tomar
00:52:05atitudes
00:52:06conducentes
00:52:07a uma autonomia
00:52:10de Angola
00:52:10que fatalmente
00:52:13senhor ministro
00:52:14não pode deixar de ser
00:52:15daqui não sei quantos anos
00:52:16mas caminha
00:52:17para a independência
00:52:18não podemos ter
00:52:19ilusões quanto a isso
00:52:20ele também concordou
00:52:21com isto
00:52:21ele concordou
00:52:23com tudo
00:52:23ia colocar
00:52:24ao senhor presidente
00:52:25do conselho
00:52:25todos estes problemas
00:52:26e que iam ser tomadas
00:52:27por evidências
00:52:28e tal
00:52:28como lhe digo
00:52:29isto passava-se em maio
00:52:30e a partir do dia 1 de junho
00:52:32começámos todos
00:52:33a entrar na cadeia
00:52:33a PIDE começou
00:52:34a aprender
00:52:37Entre Benguela
00:52:39Lubito e Sada Bandeira
00:52:40a FUA
00:52:41nunca passou
00:52:41de um âmbito restrito
00:52:42e viria a ser
00:52:44do próprio círculo
00:52:44do poder
00:52:45que nasceria
00:52:46a maior esperança
00:52:46para muitos colonos
00:52:47em meios militares
00:52:49e civis
00:52:49havia em relação
00:52:50a Deslandes
00:52:51a expectativa
00:52:51de um gesto
00:52:52de rebeldia
00:52:53face a Lisboa
00:52:54e acordo com a ideia
00:52:56de que em Angola
00:52:57mandava-os de Angola
00:52:58e de que uma mudança
00:52:59estava ao seu alcance
00:53:00a Deslandes
00:53:01tinha uma visão
00:53:02de como é que se devia resolver
00:53:03o assunto angolano
00:53:05e começou por dizer
00:53:08que aquilo se resolvia
00:53:10com a instrução
00:53:11se depois
00:53:12se no fim
00:53:14ainda pensaria
00:53:16certamente já não
00:53:17para a geração dele
00:53:18mas enfim
00:53:19se pensava
00:53:20que
00:53:20que era
00:53:22para se tornar
00:53:23a Angola independente
00:53:24ou não
00:53:25não sei bem
00:53:26mas presumo
00:53:27havia o terreno propício
00:53:29para que o general
00:53:30Bonanza Deslandes
00:53:31tivesse feito ali
00:53:33uma chamada Budésia
00:53:34quer dizer
00:53:34a independência branca
00:53:36nós tínhamos programado
00:53:37nós europeus
00:53:38por qual eu me bati
00:53:40fortemente
00:53:41e outros mais
00:53:41de criarmos
00:53:42uma Angola
00:53:43para nós
00:53:44brancos
00:53:44pretos e mulatos
00:53:45não era para brancos
00:53:46repá
00:53:46não era tipo
00:53:47Piensemito
00:53:47Apartheid
00:53:48nada disso
00:53:49era uma miscelânea
00:53:50de raças
00:53:51em que houvesse lugar
00:53:52para toda a gente
00:53:53não sei se o Deslandes
00:53:54estaria metido no assunto
00:53:55eu suponho que sim
00:53:56as esperanças
00:53:59independentistas
00:53:59estavam no próprio governo
00:54:01entre os secretários
00:54:02provinciais
00:54:03e eram potenciadas
00:54:04pelo descontentamento
00:54:05relativo a Lisboa
00:54:06embora não falando
00:54:07para a Câmara
00:54:07Diodato Coutinho
00:54:09então secretário-geral
00:54:10confirmou-nos
00:54:10o sonho
00:54:11de uma solução
00:54:11articular com os
00:54:12movimentos nacionalistas
00:54:13a que ele e outros
00:54:14chamavam
00:54:15o grande triângulo
00:54:16atlântico
00:54:17Portugal, Brasil
00:54:18e Angola
00:54:18independente
00:54:19após eleições
00:54:20algumas pessoas
00:54:22como eu
00:54:23tínhamos
00:54:24esta ilusão
00:54:25realmente
00:54:28tornarmos
00:54:29o Atlântico do Sul
00:54:31o Mar é Nostrum
00:54:32e formarmos
00:54:33uma espécie
00:54:34de triângulo
00:54:35da administração
00:54:37Luanda
00:54:38de Lisboa
00:54:40Luanda
00:54:40Rio de Janeiro
00:54:41nunca ouvi
00:54:43falar
00:54:44de qualquer
00:54:45triangulação
00:54:46ou
00:54:46se quiser
00:54:47uma quadrangulação
00:54:48Angola
00:54:49Moçambique
00:54:49Brasil
00:54:50e
00:54:50metrópole
00:54:53como se dizia
00:54:53nessa altura
00:54:54havia lá várias
00:54:54conspirações
00:54:55eu estive ligado
00:54:55a uma delas
00:54:56por exemplo
00:54:56era uma conspiração
00:55:00que visava
00:55:00o tipo Brasil
00:55:01não é
00:55:02o de Joandes
00:55:03nessa altura
00:55:04um bocado antes
00:55:06cometeu
00:55:06aquilo que foi
00:55:07a grande traição
00:55:08a toda esta gente
00:55:09que falava nisto
00:55:10que foi
00:55:10quando criou as universidades
00:55:12e depois descriou-as
00:55:13por ordem do ministro
00:55:14nós víamos
00:55:15nele
00:55:16o chefe natural
00:55:18o homem
00:55:18que iria governar
00:55:19a tal nação
00:55:20que a gente ia criar
00:55:20a partir dali
00:55:21Lisboa
00:55:23não tinha força
00:55:24sequer
00:55:24para levantar um dedo
00:55:27se o exército
00:55:28em Angola
00:55:28se revolta
00:55:29pode imaginar
00:55:29o que é
00:55:29estava toda a malta lá
00:55:31não havia cá ninguém
00:55:32só havia uns quantos
00:55:33nocentes
00:55:33foram mobilizados
00:55:34para tomar conta
00:55:34dos corteiros
00:55:35se aquilo cá embaixo
00:55:37se dá o grito de Ipiranga
00:55:38o que é que faziam?
00:55:40Parecia haver militares
00:55:41prontos a encarar
00:55:42uma evolução separatista
00:55:43e uma delegação
00:55:44do Brasil
00:55:44chegou a visitar Luanda
00:55:45Diodato Coutinho
00:55:47acredita que Deslantes
00:55:48tivesse alguma simpatia
00:55:49pelo projeto
00:55:50embora nunca
00:55:51a tivesse manifestado
00:55:52nem mesmo quando
00:55:53se agravou o confronto
00:55:54que o opôs ao ministro
00:55:55do Ultramar
00:55:56querendo assumir
00:55:58o primeiro plano
00:55:58na condução política
00:55:59do território
00:56:00e afirmar a sua autoridade
00:56:01face ao governo central
00:56:03Deslandes
00:56:04estava em colisão
00:56:05com Adriano Moreira
00:56:06numa disputa
00:56:07de competências
00:56:07e entraria em ruptura
00:56:10definitiva
00:56:11ao criar os estudos
00:56:12universitários
00:56:13em Angola
00:56:14numa decisão
00:56:15que o ministro
00:56:15não aceitaria
00:56:16hesitante
00:56:18sobre o que fazer
00:56:19na sessão
00:56:20do conselho legislativo
00:56:21o general aceita
00:56:22convocar na véspera
00:56:23uma reunião
00:56:23com o governo
00:56:24e as fias militares
00:56:25onde os autonomistas
00:56:27esperam dramatizar
00:56:28a situação
00:56:28provocando
00:56:29uma decisão radical
00:56:30do governador
00:56:31E o dado Coutinho
00:56:33revela que na reunião
00:56:34nunca se falou
00:56:35em independência
00:56:36mas que pela atitude
00:56:37dos militares
00:56:38sentiu que houve
00:56:39um momento
00:56:39em que Deslandes
00:56:40poderia ter avançado
00:56:41porém o general
00:56:43apenas falou
00:56:43em autonomia da ação
00:56:45e mostrou-se
00:56:46disposto a admitir-se
00:56:47Todos tiveram a oportunidade
00:56:49de lhe pedir
00:56:51que não
00:56:52fizesse isso
00:56:54Quem insistiu
00:56:56de uma maneira
00:56:57mais forte
00:56:58para que ele
00:56:59não apresentasse
00:57:01a sua demissão
00:57:02todos estavam
00:57:04de acordo com isso
00:57:04mas quem insistiu
00:57:05de uma maneira
00:57:06mais forte
00:57:06foram os três
00:57:07comandantes militares
00:57:09Deslandes
00:57:11não se demite
00:57:11mas vai ao encontro
00:57:13da demissão
00:57:13voando para Lisboa
00:57:15chamado por Salazar
00:57:16Partiu-se
00:57:18em despedidas formais
00:57:19certamente sabendo
00:57:19que a viagem
00:57:20era sem regresso
00:57:21Submetia-se
00:57:22apesar de se ter
00:57:23proclamado como
00:57:24o chefe
00:57:24do maior exército
00:57:25português de sempre
00:57:26Quem quisesse
00:57:27tirar a partir
00:57:28dessa frase
00:57:28pois podia ter tirado
00:57:31não é?
00:57:31Agora
00:57:32quer dizer
00:57:34bastava que alguém
00:57:36conhecesse
00:57:37o general
00:57:38de Islandes
00:57:39para nunca
00:57:41na vida pensar
00:57:42que o general
00:57:42de Islandes
00:57:42era um aventureiro
00:57:43um aventureiro
00:57:45uma espécie
00:57:45de soldado
00:57:46de fortuna
00:57:46testes livres
00:57:48não é?
00:57:49Aliás
00:57:49o próprio presidente
00:57:50do conselho
00:57:50de ministros
00:57:51o doutor Salazar
00:57:53reconheceu isso
00:57:53porque a verdade
00:57:55é que lhe atribuiu
00:57:55a torre espada
00:57:56recuou
00:57:57não quis dar
00:58:00esse passo
00:58:00não quis dar
00:58:03esse passo
00:58:03e como não quis
00:58:05dar esse passo
00:58:06teve a doutor espada
00:58:07pronto
00:58:10sei que essa hipótese
00:58:11apareceu
00:58:12e foi
00:58:12circulada
00:58:14não lhe dou
00:58:15nenhuma espécie
00:58:16de credibilidade
00:58:17não a ignoro
00:58:18mas não lhe dou
00:58:19nenhuma espécie
00:58:20de credibilidade
00:58:20no entanto
00:58:22esse será um dos temas
00:58:23do questionário
00:58:24que Adriano Moreira
00:58:25apresenta ao general
00:58:26primeiro pessoalmente
00:58:27sem êxito
00:58:27e depois por escrito
00:58:29o ministro
00:58:30quer saber até que ponto
00:58:31a ideia emancipalista
00:58:32existia no seio
00:58:33do governo em Angola
00:58:34Adriano Moreira
00:58:36não obtém resposta
00:58:37o general
00:58:38quer ser julgado
00:58:39em conselho de guerra
00:58:40mas Salazar
00:58:41prefere
00:58:42condecorá-lo
00:58:42depois de o demitir
00:58:43em conselho de ministros
00:58:44o presidente do conselho
00:58:45não votou
00:58:46ele propôs
00:58:47é preciso decidir
00:58:49o destino
00:58:51do governador
00:58:53geral de Angola
00:58:53o que é que se vai fazer
00:58:56se é preciso
00:58:57substituí-lo ou não
00:58:58todas as declarações
00:59:00dos ministros
00:59:01que intervieram
00:59:02foram altamente
00:59:03desfavoráveis
00:59:04ao governador
00:59:04geral de Angola
00:59:05com exceção
00:59:06repito
00:59:07do engenheiro
00:59:08Arantes Oliveira
00:59:09e eu disse o seguinte
00:59:10de acordo com a constituição
00:59:11eu sou
00:59:13o responsável
00:59:14pela iniciativa
00:59:16de manter
00:59:18ou substituir
00:59:19o governador
00:59:19proponho que seja
00:59:21demitido
00:59:21foi demitido
00:59:23por unanimidade
00:59:24dois meses depois
00:59:26seria o próprio
00:59:27Adriano Moreira
00:59:28demitido
00:59:29no âmbito
00:59:29de uma remodelação
00:59:30governamental
00:59:31Salazar
00:59:32deixava a pasta
00:59:33da defesa
00:59:34e nomeava
00:59:34Gomes de Araújo
00:59:35para o exército
00:59:37escolhia Luz Cunha
00:59:38o ministro do ultramar
00:59:40passava a ser
00:59:40Peixoto Correia
00:59:41Salazar
00:59:43parecia recear
00:59:44uma dinâmica
00:59:44reformista
00:59:45que tinha inimigos
00:59:46no governo
00:59:46e no poder económico
00:59:47os empresários
00:59:49grandes empresários
00:59:50portugueses
00:59:51foram ter
00:59:52com Salazar
00:59:53e disseram
00:59:53que aquilo
00:59:54não podia ser
00:59:55que as medidas
00:59:57que o Adriano Moreira
00:59:58estava a tomar
00:59:59eram contrárias
01:00:00aos interesses
01:00:04das suas empresas
01:00:05o que eu acho
01:00:06é que dessas medidas
01:00:07resultou
01:00:08uma certa
01:00:09uma aceleração
01:00:10da consciência
01:00:11que os habitantes
01:00:12de Angola
01:00:13e Moçambique
01:00:13tinham
01:00:14da necessidade
01:00:14de se libertarem
01:00:15do jogo
01:00:16colonial
01:00:17mais depressa
01:00:18e daí
01:00:18talvez os grupos
01:00:19económicos
01:00:20sentirem isso
01:00:20admito que sim
01:00:22e terem feito
01:00:23alguma
01:00:23mas não
01:00:24eu não atribuo
01:00:25à pressão
01:00:26desses grupos
01:00:27económicos
01:00:27a saída
01:00:28do Dr. Adriano Moreira
01:00:30constou que Salazar
01:00:31chamou o Adriano Moreira
01:00:32e que lhe disse
01:00:33Ora, estiveram aqui
01:00:35empresários
01:00:36a apresentar
01:00:37queixas
01:00:38contra as suas reformas
01:00:39veja-se
01:00:40muda isso
01:00:41Eu naquilo que disse
01:00:42foi
01:00:43o que a experiência
01:00:45me está a dizer
01:00:46e sobretudo
01:00:47esta última
01:00:47é que se eu continuar
01:00:49com essa política
01:00:50da descentralização
01:00:52progressiva
01:00:53e irreversível
01:00:54que o senhor sustenta
01:00:55e que ele tinha adotado
01:00:57eu perco o controle
01:01:00da administração
01:01:01e não sei
01:01:02se posso sequer
01:01:03conservar
01:01:04o lugar
01:01:04do presidente
01:01:05do conselho
01:01:05porque este abalo
01:01:07é um abalo
01:01:09que me obriga
01:01:10a pensar
01:01:11que tenho
01:01:12que mudar
01:01:12de política
01:01:13e eu disse
01:01:14acaba de mudar
01:01:16de ministro
01:01:16porque eu não posso
01:01:18sustentar
01:01:20exatamente
01:01:21o contrário
01:01:21daquilo
01:01:22que eu tenho
01:01:23sustentado
01:01:23até agora
01:01:24Se me perguntam
01:01:26se a guerra
01:01:28acabou
01:01:28de facto
01:01:29em Angola
01:01:30responderei
01:01:32que
01:01:33nos precisos
01:01:34termos
01:01:35em que foi lançada
01:01:36isto é
01:01:37para domínio
01:01:39exclusivo
01:01:40de uma parte
01:01:41restrita
01:01:41do território
01:01:42aonde não pudesse
01:01:44chegar
01:01:45a afirmação
01:01:46e atuação
01:01:47do poder português
01:01:48sim
01:01:49a guerra
01:01:51pode dizer-se
01:01:52que acabou
01:01:53houve um determinado
01:01:54momento
01:01:55em que se criou
01:01:56o mito
01:01:57da guerra
01:01:57ganha
01:01:57e o mito
01:02:00da guerra
01:02:00ganha
01:02:00a meu ver
01:02:01foi
01:02:02muito mal
01:02:03porque
01:02:05fez
01:02:06implantar
01:02:07e rapidamente
01:02:09circular
01:02:09entre
01:02:10os meios
01:02:11que tinham
01:02:11capacidade
01:02:12de intervir
01:02:14a ideia
01:02:15de que
01:02:15quem ganha
01:02:16guerras
01:02:16não faz reformas
01:02:17porque isso é um sinal
01:02:18de friqueza
01:02:19o sentimento
01:02:23de vitória
01:02:23que os portugueses
01:02:24viviam em Angola
01:02:25já foi assinalado
01:02:26pelo general
01:02:27de Eslandes
01:02:27com as correspondentes
01:02:29distinções
01:02:29perfeitas em combate
01:02:3040 anos depois
01:02:33a cruz de guerra
01:02:34voltava a brilhar
01:02:35no peito
01:02:36de militares portugueses
01:02:37para a história
01:02:39ficariam como
01:02:40os primeiros heróis
01:02:41da guerra
01:02:41um alfers
01:02:42um ferriel
01:02:43e quatro soldados
01:02:44estavam formados
01:02:46e ele
01:02:46fez aquela coisa
01:02:48de parada
01:02:49depois
01:02:50chegou ao pé de mim
01:02:51pôs-me
01:02:52a medalha do peito
01:02:53pôs-me
01:02:53aos meus colegas
01:02:54que éramos
01:02:55os soldados
01:02:56populares
01:02:56que defenderam
01:02:58a nossa pátria
01:02:58e isto e aquilo
01:02:59e aquilo
01:02:59e pronto
01:03:00ficou tudo
01:03:00em algas de bacalhau
01:03:01nunca fomos
01:03:03moluciados
01:03:03de mostrar
01:03:04bons serviços
01:03:05nunca deram
01:03:06nada
01:03:06a nós
01:03:07graças aos soldados
01:03:11enviados de Lisboa
01:03:12o clima de paz
01:03:12que se vivia
01:03:13em Angola
01:03:13era real
01:03:14mas era apenas
01:03:16uma parte
01:03:16da realidade
01:03:17de Eslandes
01:03:18fosse por falta
01:03:19de visão
01:03:19ou pela lucidez
01:03:20de avisar
01:03:20que a questão
01:03:21era já política
01:03:22anunciará muito
01:03:23que a situação
01:03:24apenas exigia
01:03:25ações de policiamento
01:03:26o que sugeria
01:03:27a ideia
01:03:27de que a guerra
01:03:28tinha acabado
01:03:29membros do seu governo
01:03:32encarregavam-se
01:03:32de ilustrar
01:03:33o clima de confiança
01:03:34por exemplo
01:03:35comparecendo a iniciativas
01:03:36como o regresso
01:03:37do fado
01:03:37a Luanda
01:03:38um verdadeiro
01:03:40acontecimento mundano
01:03:41na capital angolana
01:03:42foi como o telejornal
01:03:43noticiou então
01:03:44a abertura
01:03:44do Retiro da Saudade
01:03:45assinalando a presença
01:03:47de dois secretários
01:03:47provinciais
01:03:48e até da própria
01:03:49filha do governador
01:03:50apesar de descontentes
01:03:54pelo afastamento
01:03:54do general
01:03:55os colonos
01:03:56queriam acreditar
01:03:57que com Salazar
01:03:58novamente
01:03:59a comandar a situação
01:03:59o pesadelo
01:04:01tinha terminado
01:04:02e embora marcada
01:04:04para sempre
01:04:05a Luanda colonial
01:04:06recuperava a rotina
01:04:07no conforto
01:04:08da presença
01:04:09das suas figuras
01:04:10populares mais queridas
01:04:11e é mergulhado
01:04:25numa luta
01:04:25pelo reconhecimento
01:04:26do seu modelo
01:04:27multirracial em África
01:04:28que Portugal
01:04:29se expõe ao mundo
01:04:30como potência colonial
01:04:32o Benfica
01:04:35sai da mediaria nacional
01:04:36e impõe-se
01:04:36como bicampeão europeu
01:04:38com uma equipa
01:04:39de futebol
01:04:39onde pontificam
01:04:40vários jogadores
01:04:41africanos
01:04:41e brilha
01:04:42um moçambicano
01:04:43de nível mundial
01:04:44Benfica e Eusébio
01:04:47são agora cartazes
01:04:48do país
01:04:49Angola
01:04:50rima com a bola
01:04:51no entusiasmo
01:04:52da população
01:04:53que aplaudem
01:04:53os campeões da Europa
01:04:54no aeroporto
01:04:56de Luanda
01:04:56além de símbolo
01:04:58de Portugal
01:04:58pretende-se que
01:04:59o clube de Lisboa
01:04:59seja também
01:05:00uma marca
01:05:01de portuguesismo
01:05:02que leva ao delírio
01:05:03os colonos
01:05:04e desta vez
01:05:04espontaneamente
01:05:05milhares de africanos
01:05:07mas apesar
01:05:09da festa
01:05:09e das aparências
01:05:10em Angola
01:05:11no final de 1962
01:05:12Portugal está em vésperas
01:05:14de uma nova frente de guerra
01:05:16Angola
01:05:32Obrigado por assistir.
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