- 30/05/2025
Moçambique... Angola... Guiné... As feridas de um país... As verdades escondidas da Guerra Colonial.
Categoria
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ConhecimentosTranscrição
00:00Dia 15, depois do dia 15, separamos o colono de um lado, o angolano de um lado.
00:08A partir do dia 15, já não havia entendimento.
00:12Isso que aconteceu.
00:13Tanto se o colono ver um angolano, é matado.
00:17E se o angolano ver um colono, também é matado, porque já estávamos separados.
00:23Nós nos mata e o colono nas cidades.
00:27Agora nós, agora é se enfrentar.
00:30Nasce a desconfiança, que é aquilo que a Opa se propôs inteligentemente, foi criar um clima de incerteza e de insegurança, de desconfiança mútua.
00:39Viesse um negro, terrorista.
00:42O negro vê um branco, um branco.
00:43É um branco.
00:57Tchau, tchau.
01:27Tchau, tchau.
01:57Tchau, tchau.
02:27Tchau, tchau.
02:57Tchau.
03:57Tchau.
03:59Tchau.
04:01Tchau.
04:03Tchau.
04:33Tchau.
04:35Tchau.
04:37Tchau.
04:39Tchau.
05:09Tchau.
05:39Tchau.
05:41Tchau.
05:43Tchau.
05:45Tchau.
05:47Tchau.
05:49Tchau.
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05:53Tchau.
05:55Tchau.
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05:59Tchau.
06:01Tchau.
06:03Tchau.
06:05Tchau.
06:07Tchau.
06:09Tchau.
06:11Tchau.
06:13Tchau.
06:15Tchau.
06:17Tchau.
06:19Tchau.
06:21Tchau.
06:23Tchau.
06:25Tchau.
06:27Tchau.
06:29Tchau.
06:31Tchau.
06:57Tchau.
06:59Tchau.
07:01Tchau.
07:03Tchau.
07:05Tchau.
07:07Tchau.
07:09Tchau.
07:11Tchau.
07:13Tchau.
07:15Tchau.
07:17Tchau.
07:19Tchau.
07:21sobre essa questão da transferência dos prisioneiros para Cabo Verde, do Esteiro.
07:27Então, nós quando ouvimos isto, ah, este deve ser um agente da PIDE.
07:31Então, tentámos alertar o Cônico para dizer que parasse o movimento.
07:36O D. Roberto teve o cuidado de não dizer o Cônico para não avançar.
07:43Emitiu um parceiro, não é?
07:45Ele tinha informações que, primeiro, que os portugueses já estavam a corrente
07:50da operação, não é?
07:52E que a resposta seria uma resposta sangrenta, não é?
07:58Que não se devia levar a ação avante aquela ação.
08:04Mas, como disse, o Cônico de André estava no terreno com os homens,
08:08tinha outras informações e ele avançou com a ação do Cônico de Ferreira.
08:12Seria essa a notícia em todo o mundo, já que o navio seguiria para o Brasil.
08:16Os muitos jornalistas que o esperavam em Luanda
08:18puderam, assim, anunciar uma ação histórica,
08:20ainda hoje disputada pelo MPLA, que então a reivindicou,
08:24e pela UPA, que se reclama de ligações ao Cônico Manuel das Neves,
08:27mentor da operação.
08:29O Cônico das Neves é um indivíduo que esteve intimamente ligado à UPA
08:33através de uma pessoa que vai entrevistar,
08:37que é o João César Correia,
08:39que era o grande estafeta.
08:41E até, por esta razão, ele foi alcunhado de Mequiza Mequenda,
08:46quer dizer, o João que vai e vem.
08:49Ele fazia Luanda,
08:50meu Paulo de Vila, com muita frequência,
08:53trazia a correspondência,
08:56e o que levava a correspondência do Cônico de André para o exterior.
08:59A gente se encontrava,
09:00olha, está aqui a correspondência,
09:02e estou agasalhado no ponto tal,
09:05e, bom,
09:07então ele pegava naquele sessão,
09:09e ia lá depois,
09:10preparava outra coisa depois,
09:12eu vinha buscar.
09:14O encontro era precisamente dentro da igreja.
09:17Durante o tempo que estive na cadeia,
09:20nem só saber que havia contato,
09:22estava a preparar katanas,
09:24e eu perguntava,
09:24as katanas como?
09:27Tinham determinados elementos que vinham do que enchaça,
09:30contato,
09:32para trocar impressões,
09:34e como é que eles faziam,
09:36é isso, mais nada,
09:37o resto não contava que aquele movimento fosse,
09:42quer, da UPA,
09:43a gente sabia que a UPA existia,
09:46para eu saber que o MPLA existia,
09:49foi na cadeia.
09:52Isto é a realidade.
09:54Trabalhou naquela cidade.
09:55Não quer dizer com isso que o MPLA não existisse.
09:57Disse-me ele, o Cônico,
09:59os funcionários políticos que estão aqui na cadeia,
10:01estão ameaçados.
10:02É preciso que, enfim,
10:04nós vamos tentar fazer qualquer coisa aqui.
10:08Estavam ameaçados de serem atirados pelo mar.
10:11Pelo mar.
10:11Isto é o que foi.
10:12Ameaçados pelo mar.
10:14Então, nesse momento,
10:15ele escreveu e enviou a carta.
10:19E eu levei.
10:20Informação fundamentalmente
10:21concebida,
10:24estruturada,
10:26organizada e levada a cabo
10:27por elementos afeitos à UPA,
10:30sob a orientação do Cônico Nele das Neves.
10:33E, como disse e reafirmo,
10:36participaram nela indivíduos que não pertenciam à UPA,
10:39não é?
10:40Que hoje,
10:41se hoje tiver o cuidado,
10:42por correr,
10:43aqui há muita literatura já,
10:44onde indivíduos históricos do MPLA
10:47reconhecem que o Cônico Nele das Neves foi o cérebro do 4 de fevereiro.
10:52Eu tenho muita dúvida
10:55que ele era um nacionalista
10:56e que era contra essas injustiças todas.
11:00Isso era, já antigamente,
11:02ele já era um elemento para esse efeito.
11:04Mas que fosse a parte central,
11:08não sabia,
11:10nem eu tinha conhecimento disso.
11:13Sei que era muito contactado,
11:16era uma figura para nós de grande prestígio
11:18e que estava no meio do povo
11:20sobre a situação social
11:22era um grande combatente para esses efeitos.
11:25Mas que ele era o cabeça de cônico,
11:27não tinha conhecimento.
11:29E longe de mim pensar nisso mesmo.
11:32Cónigo, da séca federal de Luanda,
11:34Manuel das Neves, mestiço,
11:36aparece como motor da ideia revolucionária
11:38nos bairros da capital.
11:40Teria partido dele,
11:41que era também o vigário-geral da arquidiocese,
11:44a ordem do 4 de fevereiro,
11:46executada pelos vários chefes da obração,
11:48após contactos entre sensibilidades políticas
11:50em mocecos como o Sambizanga,
11:52e o Rangel.
11:54Chegou o dia 4 de fevereiro à tarde,
11:56nós todos unimos no Rangel.
11:59Do Rangel, onde fomos já divididos em grupos.
12:03Ali já não havia,
12:03porque sou da UPA, vou no meu grupo, não.
12:05Misturados nós todos.
12:07Já ninguém sabia
12:08como nós estamos organizados.
12:09Era gente do Ebelá e da UPA?
12:11E da UPA, sim, senhor.
12:12Tivemos todos lá misturados.
12:14Naquela noite é difícil conhecer quem,
12:17porque era noite.
12:18O grupo era demais.
12:20Naquela noite eu falo a minha verdade,
12:21não sabia mais que o senhor Cónigo está aqui.
12:23Mas nós tínhamos o senhor Augusto Simão,
12:25que era dirigente naquele lugar.
12:28É que nos fez a última oração
12:30da entrada para a ação.
12:32O Cónigo Manuel das Neves
12:34também fazia alguma oração convosco?
12:37Sim, nos primeiros orações
12:38estava a fazer orações connosco.
12:39Até eu orava também connosco.
12:42Valores religiosos,
12:43embora não exatamente
12:44os do católico Manuel das Neves.
12:46Enquadrada pelo cristianismo,
12:48a fé incluía tradições,
12:49feitiços e orações
12:50de que se esperava até o poder sobrenatural
12:52de salvar das balas.
12:54Senhor, eu ajudo a Deus,
12:56a que entreguei
12:57os seus filhos
12:58sofridores
13:00motivo da sua terra
13:02que foi recuperada.
13:04Hoje estamos em ação
13:05para nós tragarmos os portugueses,
13:08os estrangeiros
13:08que vieram receber a nossa terra
13:10sofrendo escravatura,
13:12contratado.
13:13Senhor, fica à frente
13:14deste grupo que vai sair
13:17e mostra a maravilha
13:18no meio deles.
13:20Que eles não podem sofrer
13:21nenhuma bala que pode ser atingida.
13:23Senhor Jeová,
13:24esteja comigo
13:25e esteja com este
13:26grupo que vai sair.
13:28Entregue nas suas mãos.
13:29Sem senhor nada podemos fazer.
13:32Mais de 200 homens
13:33atacam em grupos
13:34lançando gritos e foguetes.
13:36Acendeu o foguete,
13:37quando ele acendeu o foguete
13:38rebentou um tiro muito grande.
13:40Nós gritamos ali
13:41Viva Angola!
13:42Então nos íamos a correr.
13:44Porta na
13:44na porta da prisão
13:46estava lá espalho
13:48havia lá
13:49brancos
13:50a tomar conta da prisão
13:51e havia lá polícias
13:52a tomar conta da prisão.
13:54Então
13:54nós ali íamos atacar
13:56porque temos a ordem
13:57não pode atacar preto.
13:59Negro não pode atacar.
14:00Porque é que estão a pedir a paz.
14:02Então nós íamos
14:03a Vila.
14:04Quando eles vinham
14:04já não tinha tempo de fugir.
14:06Essa maravilha de Deus.
14:07Nós íamos com a Catana
14:08a cortejar.
14:09O 4 de fevereiro
14:12falhou o objetivo imediato.
14:14Muitos revoltosos foram presos
14:15nomeadamente os chefes
14:16e entre eles
14:17Manuel das Neves
14:18depois deportado
14:19para Portugal.
14:21As baixas foram
14:21também elevadas.
14:23Os grupos atacantes
14:23terão sofrido
14:24bastantes feridos
14:25e cerca de 4 ou 5
14:26dezenas de mortos.
14:29Do lado das forças
14:30de segurança envolvidas
14:31vários foram
14:31os hospitalizados
14:32e morreram
14:33sete agentes da BSP
14:34e um soldado.
14:36Em Lisboa
14:41os funerais
14:41dos agentes
14:42da polícia
14:42mortos em Luanda
14:43no dia 4 de fevereiro
14:45constituíram
14:46uma cerimónia de Estado
14:47com representação
14:48ao mais alto nível.
14:51A informação
14:52e os meios oficiais
14:53atribuíam
14:54a autoria da revolta
14:55a indivíduos armados
14:57estrangeiros
14:58que a designavam
14:59por malfeitores
15:00ou bandoleiros.
15:03A homenagem
15:04aos mortos
15:04serve de mobilização
15:05contra acontecimentos
15:06cujos contornos
15:07políticos
15:08e verdadeiro significado
15:10não são explicados
15:11aos portugueses.
15:12A primeira manifestação
15:14de um grupo
15:14de fascínoras
15:15que a soldo
15:16do estrangeiro
15:16movido por criminosos
15:18intuitos
15:18lançava à desordem
15:20o luto
15:21e a desolação
15:22no seio da pacífica
15:23e unida comunidade portuguesa.
15:26A este premeditado
15:27ato de banditismo
15:28respondeu a população
15:29de Luanda
15:30com a maior
15:30a mais significativa
15:32manifestação
15:33de solidariedade.
15:35em Luanda
15:37o desfile a caminho
15:38do cemitério
15:38de Santa Ana
15:39marca não só
15:40o pesar pelos mortos
15:41da véspera
15:42mas também
15:43o sinal dos tempos
15:44que vão seguir-se.
15:45Eu fui a esse funeral
15:47e eu ia
15:49pelo caminho
15:49e vi
15:51estava ali
15:52numa acerração
15:53e estavam lá
15:54uns pretos
15:55a rir
15:55e eu disse
15:56vocês
15:57pensei para mim mesmo
15:59vocês estão a rir
16:00mas
16:00algum destes brancos
16:01vêem vocês a rir
16:03vocês arriscam-se
16:05e quando ia entrar
16:06no cemitério
16:07comecei a ouvir
16:08tiros
16:08morreram pretos
16:11várias explicações
16:12possíveis
16:13foram os pretos
16:15que começaram
16:16disparar sobre os brancos
16:17foram os brancos
16:17que decidiram
16:18vingar-se dos pretos
16:19não sei.
16:20Nesse trajeto
16:21do funeral
16:22os ânimos
16:23estão
16:23estão excitados
16:25estão
16:26um bocado
16:28quentos
16:28há uns pretos
16:32lá de umas
16:33relações
16:33que naturalmente
16:35vieram
16:35também espreitar
16:36então claro
16:37houve ali um
16:38excitamento
16:38dos brancos
16:39houve uns exageros
16:40que cada preto
16:41que viu
16:42era um terrorista
16:43era um inimigo
16:44ainda houve um tiroteio
16:46no próprio cemitério
16:47certos núcleos
16:48nacionalistas
16:49que estavam ali
16:49assim
16:50preocupados
16:51depois houve
16:52uma ação
16:53brutal
16:53já não se viveu
16:56em paz
16:57em Luanda
16:58a partir do dia
16:595, 6, 7
17:01ou por aí adiante
17:02o angolano
17:04era caçado
17:05como um rato
17:06depois do 4 de fevereiro
17:08havia
17:08muita gente
17:10pensava
17:10que Luanda
17:11estava
17:11ao alcance
17:13de um ataque
17:14de Bosseca
17:15não é?
17:15porque
17:15estava aí
17:16de Bosseca
17:16veio o 4 de fevereiro
17:18e depois
17:19passaram a ser
17:20os presos
17:20que estavam com medo
17:21dos brancos
17:22que estavam todos armados
17:23e que eram capazes
17:24de disparar e matar
17:25o 4 de fevereiro
17:27foi sangue
17:28sobre o tapete
17:33era mortandado
17:38por todo lado
17:38o povo realmente
17:41não podia dizer
17:43uma só palavra
17:45a palavra
17:46UPA
17:47que antigamente
17:48se pronunciava
17:49UPA NENÉ
17:50UPA NENÉ
17:51desapareceu
17:51porque
17:52todo aquele
17:53que falasse
17:54era morto
17:55uma das coisas
17:57típicas
17:57era dizer
17:58que
17:58determinado
17:59negro
18:00quando foi
18:02pura e simplesmente
18:03incitado
18:04a identificar-se
18:06ou
18:07quando
18:07bateram
18:08à porta
18:08de casa
18:08gritava
18:09UPA UPA LUMUMBA
18:10isto era tudo
18:11inverosímil
18:12mas diziam sempre
18:12UPA UPA LUMUMBA
18:13que era uma expressão
18:15corrente
18:15que aparecia
18:16nos relatórios
18:16da polícia
18:17para justificar
18:18que o indivíduo
18:20tivesse levado
18:20com balásio
18:21ou que a palhota
18:22lhe fosse incendiada
18:23ou coisa assim
18:24os indivíduos
18:25quer dizer
18:25o vida ia assim
18:26a passar
18:26em plena rua
18:27era preso
18:28mandavam
18:30desfiz
18:31não é
18:31ver se tinha
18:32um calção preto
18:33os homens
18:35que atuaram
18:36no dia 4 de fevereiro
18:37tinham
18:37calções pretos
18:39era logo preso
18:43e se não
18:43abotido
18:44mesmo ali
18:44começaram
18:45a atirar
18:47sobretos
18:47na rua
18:48quando encontra
18:49duas pessoas
18:50em pé
18:50a conversar
18:51são esses
18:52são presos
18:53e levados
18:54na prisão
18:54morto
18:57ainda é o xistismo
18:58enquanto três pessoas
18:59a conversar
18:59o carro militar
19:01das polícias
19:02a vir
19:02param logo
19:03pronto
19:04são cercados
19:06presos
19:07então vocês
19:09estão conversando
19:10de ação
19:10que correu
19:11querem preparar
19:12a ação
19:12para atacar
19:12os brancos
19:13outra vez
19:13disse-me
19:15o comandante
19:16da polícia
19:16que na cadeia
19:17aqueles
19:19que não eram
19:20favoráveis
19:21à revolta
19:24tinham sido
19:25objeto
19:25e aparecia
19:27cadáveres
19:27por outro lado
19:28as pretas
19:29as mulheres pretas
19:30de Luanda
19:30as mães
19:31vinham ter comigo
19:32pessoalmente
19:33para dizer
19:34você prenda
19:35os meus filhos
19:37porque se estiver
19:38na cadeia
19:38está seguro
19:39e se está
19:42em casa
19:42vêm
19:43esses terroristas
19:45e levam-nos
19:47com eles
19:47para combaterem
19:49os acontecimentos
19:51confundem
19:51toda a estrutura
19:52social
19:53de Luanda
19:53afetam
19:54o relacionamento
19:55entre os vários grupos
19:56e não deixam
19:57ninguém imune
19:58colhidos
19:59de surpresa
20:00os europeus
20:00civis e militares
20:01receiam novos
20:02ataques na cidade
20:03que chegam a verificar-se
20:04mas também
20:05sem êxito
20:05uma semana depois
20:07do 4 de fevereiro
20:08é enviada
20:09de Lisboa
20:09a 6ª Companhia
20:11de Caçadores Especiais
20:12não havia
20:13no quartel
20:14de Luanda
20:14instalações
20:15para todos
20:16sargentos
20:16e oficiais
20:17da companhia
20:17são por isso
20:18autorizados
20:18a hospedar-se
20:19em casas
20:20particulares
20:20os militares
20:22são então
20:23verdadeiramente
20:23disputados
20:24pelos portugueses
20:25que viviam
20:26dias de pânico
20:27andavam armados
20:28mas quando chegava
20:30à noite
20:30reuniam-se
20:32em casa
20:32de familiares
20:33faziam
20:34reuniões
20:37de pessoas
20:37para passarem
20:38a noite
20:39todos
20:39e faziam
20:41guardas
20:42faziam sentinelas
20:43às suas casas
20:44ora
20:45se essas pessoas
20:46pudessem ter
20:47um soldado
20:48mais preparado
20:49com arma de guerra
20:50lá em casa
20:52melhor ainda
20:53vinham ter
20:54connosco
20:55e pediam-nos
20:56por favor
20:56para irmos
20:57para casa deles
20:58é mútua
20:59a desconfiança
21:00entre europeus
21:01e africanos
21:01enquanto defendem
21:03as suas casas
21:03milícias de brancos
21:04atacam os mousseques
21:05e as forças
21:06de segurança
21:07não parecem
21:08à altura
21:08das circunstâncias
21:09uns dias depois
21:11eu vi o mousseque
21:12arder
21:13e telefonei
21:16pelo comandante
21:17da polícia
21:18e disse-lhe
21:19o mousseque
21:20está a arder
21:21é preciso
21:22o que é que se passa
21:23ele respondeu-me
21:27o que é que eu queria
21:31se queria
21:32que eles polícias
21:34que foram atacados
21:35pelos pretos
21:36agora fossem
21:38atacar os brancos
21:39e ficassem
21:39de dois fogos
21:40aqui esteve
21:41o general Libório
21:41que quis mandar
21:43incendiar
21:44os mousseques
21:45como são chamados
21:46outros se lhe opuseram
21:49e Portugal
21:49não concordou
21:50o general
21:51não ter Libório
21:52de facto
21:53queria
21:54pura e simplesmente
21:55fazer uma ação
21:56de represálias
21:57sobre os mousseques
21:57quer dizer
21:58para mostrar
21:59poder
22:01e o Alvaro Cid Tabas
22:02opôs
22:03determinantemente
22:04e com algum éxito
22:05essa
22:06essa vontade
22:08carnificina
22:09que
22:10que o general
22:11pretendia
22:12pretendia originar
22:15como represália
22:16o governador
22:17chega a ameaçar
22:18com medidas repressivas
22:19alguns setores
22:20da população civil branca
22:22empenhados em fazer justiça
22:24pelos seus meios
22:24portugueses
22:26entraram já nos bairros
22:27entraram nos bairros
22:30porque os bairros
22:32havia escrito
22:32em Pelá
22:33havia bairro escrito
22:34UPA
22:35iam nos bairros
22:36com alguns dirigentes
22:37com algumas pessoas
22:38que chamavam o nome de bufo
22:39a mostrar as casas
22:41das pessoas
22:41uma reação brutal
22:43pois houve uma chacina
22:45generalizada
22:45em todos os mousseques
22:46e aí
22:48vou-lhe falar
22:48depois
22:49da animosidade
22:50das populações
22:50que se agudizou
22:53contra a população branca
22:55é que a maior parte
22:56dos comerciantes
22:58dos portugueses
22:59faziam parte
23:00de grupos
23:01quer dizer
23:01que acabavam
23:04já era
23:05já era o princípio
23:06das milícias
23:07não é?
23:08que levaram
23:09a cabo ações
23:09de represália
23:10em todos os mousseques
23:11os comerciantes
23:14de determinados bairros
23:16como por exemplo
23:16comerciantes de Rangel
23:17organizaram-se
23:20à noite
23:21organizavam-se
23:22à noite
23:22e iam
23:23ao bairro
23:24de
23:24como por exemplo
23:26Sambizanga
23:27a partir
23:28das duas da manhã
23:30faziam ruge
23:31de tirar as pessoas
23:32que estavam a dormir
23:33e eram mortos
23:34outros eram presos
23:36e vice-versa
23:38os de Sambizanga
23:39iam para o Rangel
23:40ou iam para outro bairro
23:41é assim
23:42nos mousseques
23:43de Luanda
23:44também as autoridades
23:45se empenhavam
23:45na perseguição
23:46aos suspeitos
23:47de ligações
23:47ao Congo
23:48e anunciavam
23:49frequentes descobertas
23:50de planos
23:51de revolta
23:51após grandes operações
23:53de rusga
23:53e recenseamento
23:54eram batidas
23:55para capturar
23:56ativistas estranhos
23:57à capital
23:58a que chamavam
23:59infiltrados
23:59prevendo-se
24:01distúrbios
24:02na cidade
24:03e
24:04sendo estes
24:06comandados
24:07de fora da cidade
24:08portanto
24:09tinha que ser
24:10pessoas
24:12que não viviam
24:13nela
24:13que vinham
24:14pelo menos
24:15dar instruções
24:16se não viessem
24:17mesmo
24:17executar
24:19as operações
24:20deles
24:21e então
24:22nós
24:22fazíamos
24:23batidas
24:24às
24:24chanzalas
24:26aos
24:26moceques
24:28em que
24:30procuravam
24:31especialmente
24:31armamento
24:32e pessoas
24:34indocumentadas
24:35os moceques
24:36eram todos cercados
24:38portanto
24:38havia homens
24:39de 3 em 3 metros
24:40a cercar os moceques
24:42portanto
24:42não entrava
24:43nem saía
24:44ninguém
24:44dali
24:45cercavam um bairro
24:47e iam
24:49de casa a casa
24:51só sacavam
24:52bolsão
24:54lá nos prédios
24:55fundamentalmente
24:56e muitas vezes
24:58até nem poupavam
24:58os velhos
24:59éramos concentrados
25:00enfim
25:01em campos de futebol
25:02andavam a procurar
25:05já naquela altura
25:05se falava
25:06dos terroristas
25:07as rusgas
25:11começavam
25:11de madrugada
25:12e mobilizavam
25:13400 a 500 homens
25:15envolviam
25:16duas companhias
25:16de caçadores
25:17polícias
25:18elementos da PIDE
25:19e também
25:20CIPAIOS
25:21os polícias
25:21da administração
25:22portuguesa
25:23depois do cerco
25:24feito pelos militares
25:25as forças policiais
25:27procediam à batida
25:28todos os que não tinham
25:29documentos
25:30ou eram apontados
25:31como suspeitos
25:31ficavam
25:32sob prisão
25:33aguardavam então
25:35em grandes espaços públicos
25:36e perante
25:37a curiosidade
25:37popular
25:38as decisões
25:39sobre o destino
25:40de cada um
25:40a identificação
25:42ou denúncia
25:42podiam ser feitas
25:43por informadores
25:44muitas vezes pagos
25:46a quem era garantido
25:47o anonimato
25:48eu tenho ideia
25:57sobretudo
25:57da concentração
25:58de massas
26:00de pessoas
26:00na verdade
26:01para serem controlados
26:02mas de um género
26:03incrível
26:04aquilo
26:04parecia
26:05sei lá
26:05o negócio
26:06dos escravos
26:06na verdade
26:07escolhia-se as pessoas
26:08mandava-se-lhes
26:09abrir a boca
26:10tiravam as calças
26:11puniam os indivíduos nus
26:12não é verdade
26:12eu vi esse tipo
26:13de coisas a passar
26:14nós éramos
26:14enfim
26:15miúdos
26:15como quem diz
26:16e assistíamos
26:18a tudo isso
26:18nós ficávamos
26:19nós ficávamos
26:20nós ficávamos
26:20atrás
26:21no caso
26:22de haver
26:24qualquer problema
26:25nós tínhamos armamento
26:26se houvesse realmente
26:27qualquer ataque
26:29se houvesse
26:30indivíduos organizados
26:31nunca houve
26:33mas havia
26:34muitos detidos
26:35havia camionetes
26:36e camionetes detidos
26:37naquela altura
26:38muitos que foram presos
26:41tirados
26:42das cadeias
26:44ou levados
26:44às suas casas
26:45à noite
26:45e enterrados
26:47aí assim
26:47fora de Luanda
26:48uns 20 e tal
26:49quilómetros
26:49jogavam buracos
26:50eram
26:51tirados aí assim
26:53e depois passava
26:53o trator por cima deles
26:54enterrar
26:55havia essas valas
26:58comuns
26:59nos anos 61
27:00o meu pai
27:03foi preso
27:04dia 3
27:05de março
27:06de 61
27:07e foi tirado
27:09uma noite
27:09viva
27:10dizem que foi
27:11tirado no mar
27:11ele mas os outros
27:13Luanda
27:14a terceira cidade
27:16portuguesa
27:16São Paulo
27:18da Assunção
27:18de Luanda
27:19ressalta como
27:21primeira e significativa
27:22nota de afeição
27:23o cunho
27:24retintamente europeu
27:25da cidade
27:26de uma cidade
27:27que cresce
27:27se embeleza
27:28e se renova
27:29de uma maneira
27:30prodigiosa
27:30a caminho
27:32dos 300 mil habitantes
27:34cerca de um terço
27:35dos quais europeus
27:36trânsito intenso
27:37grandes edifícios
27:38de cidade desenvolvida
27:39bastante mais
27:40do que muitas
27:41capitais africanas
27:42Luanda era afinal
27:43uma realidade social
27:44bem mais complexa
27:45do que aquela
27:46que o retrato oficial
27:47mostrava
27:48toda esta juventude
27:50bem cedo
27:51tem a consciência
27:51de que os portugueses
27:52que vivem aqui
27:53iguais em direitos
27:54e consideração
27:55sem exceção de cores
27:57são simplesmente
27:58portugueses
27:59e esse é bem
28:00um título de orgulho
28:01não só para os angolanos
28:03como para os transmontanos
28:04algarvios
28:05timorenses
28:06ou boesas
28:07o quadro de fevereiro
28:14altera as rotinas
28:15há muito instaladas
28:16e traz à luz do dia
28:18uma outra Luanda
28:18e uma outra Angola
28:20até então ignoradas
28:21estavam afetados
28:23os equilíbrios
28:23da ordem social
28:24e da coexistência racial
28:26onde antes havia
28:28confiança e incerteza
28:29agora dúvida
28:30e insegurança
28:31e também desespero
28:34e também violência
28:35muita violência
28:37que semanas depois
28:38após os massacres
28:39de 15 de março
28:40se transformará
28:41em ódio
28:41uma onda
28:43que se espalhará
28:44por Angola inteira
28:44todo o norte
28:50está a ferro e fogo
28:51da zona do café
28:52de onde vier a riqueza
28:53com que se construir
28:54a Luanda moderna
28:55chegam agora
28:56notícias de mortos
28:57e feridos
28:58presos
28:59desaparecidos
29:00factos e boatos
29:03prolongam o terror
29:04das chacinas
29:04praticadas pela UPA
29:05embora localizados
29:07a norte de Luanda
29:08os acontecimentos
29:09provocaram um apalo
29:10que se estendeu
29:10para o sul
29:11com perseguições
29:12que atingiram em especial
29:13os mais instruídos
29:14e que afetaram
29:15a vida e o convívio
29:16entre brancos
29:17pretos e mestiços
29:18naqueles primeiros meses
29:20houve um nítido
29:22as pessoas começaram
29:23a afastar-se
29:24afastar-se dos negros
29:25porque
29:26poderíamos ser envolvidos
29:28poderíamos ser
29:29eram as próprias famílias
29:30que diziam
29:30não saias
29:31estou a falar
29:32de tipos como eu
29:32de tipos como eu
29:34em Santa Bandeira
29:35nunca houve nada
29:36nunca aconteceu nada
29:37por isso
29:38fizeram-se rondas
29:39faziam-se rondas
29:40à noite
29:41os brancos
29:42controlavam
29:43para ver se não havia
29:43e de um preto
29:44aparecer à noite
29:45no meio da rua
29:46um desgraçado
29:47qualquer criado
29:48que se atrasasse
29:48para ir lá
29:49para a Sanzala
29:49era apanhado
29:50e o homem
29:50tinha mesmo
29:51que se explicar
29:52muito bem
29:53e podia até
29:53ser maltratado
29:54havia rusgas
29:56todas as noites
29:57indivíduos
29:58que se incorporaram
29:59nas milícias
29:59e o facto mais doloroso
30:01para mim
30:01é haver indivíduos
30:03que jogaram
30:03uma bola connosco
30:04indivíduos que eram
30:05alguns da minha idade
30:0617, 18 anos
30:07que incorporaram-se
30:08voluntariamente
30:09e assistirem
30:11pavos e serenos
30:12à morte
30:12de colegas nossos
30:13no IGE
30:14as pessoas que lá estiveram
30:16conhecem bem
30:17estes pormenores
30:19até alguns
30:20que custou muito
30:21a contar
30:21que é
30:23haver dias
30:24específicos
30:25de perseguição
30:26a determinado tipo
30:26de profissões
30:27por exemplo
30:28havia alguém
30:31que tinha ouvido
30:31dizer
30:32que o criado
30:33da dona
30:34não sei o que
30:34dizia
30:35que esta noite
30:35é que vamos fazer
30:36aos patrões
30:36não sei o que
30:37e então
30:37nesse dia
30:38os criados
30:39eram pura e simplesmente
30:40linchados
30:41então era o dia
30:42do criado
30:42depois era o dia
30:44do contínuo
30:44porque se tinha
30:45parecido
30:45também tinha ouvido
30:46alguém dizer
30:47que o contínuo
30:48de não sei de onde
30:48da câmara
30:49tinha estado
30:49com o contínuo
30:50da fazenda
30:51estabeleceu-se
30:52a psicose
30:53eles vêm
30:54e cuidado
30:54diz que eles
30:55que estão em tal
30:55sítio
30:56nunca estiveram
30:56em tal sítio
30:57fizeram-se
30:58barbaridades
30:59nas cidades
31:00e no mato
31:01quando meu pai
31:03também cai
31:03nas malhas
31:04da PDDGS
31:05abri-se 61
31:07acusado
31:08de ser colaborador
31:09do Mumba
31:09do Ambo
31:10onde o pai
31:11encontrou-se detido
31:12fui até lá
31:14e encontrou
31:14meu pai
31:15desfigurado
31:16por causa
31:17das estruturas
31:17de que foi vítima
31:18era um grupo
31:21composto por
31:21cento e tal
31:22funcionários
31:23assimilados
31:24sobas
31:24professores
31:26catequistas
31:27diágonos
31:28eu falo concretamente
31:29na missão
31:30do SEND
31:31que fica a cento e tal
31:32quilómetros
31:32da bandeira
31:33que havia lá
31:33uns padres holandeses
31:34a população
31:35da cidade
31:36da vila
31:36agarrou
31:38nos padres
31:38e levou-os
31:39à piedra
31:40da cidade
31:40da bandeira
31:40esses padres
31:41acabaram por ser
31:42expulsos
31:43para a Europa
31:44porque encontraram
31:45que tinham armas
31:46portanto armas
31:47para os terroristas
31:47eram os armas
31:48coitados
31:48irem à caça
31:50para se alimentarem
31:52houve espetáculos
31:54incríveis
31:55de matanças
31:56num sítio
31:58onde as pessoas
31:59transformaram aquilo
32:02em autênticos
32:02circos romanos
32:03pessoas penduradas
32:05de cabeça para baixo
32:06casaria
32:07amocada
32:07acabarem com eles
32:09houve indivíduos
32:10que foram
32:10enforcados
32:12enforcados
32:13só pelo simples
32:14facto
32:15de um eletricista
32:16queria ter a certeza
32:17que de facto
32:18o indivíduo
32:19que está a ser enforcado
32:20num ato final
32:21que ejacula
32:22no que diz respeito
32:23ao Congo
32:23a situação
32:24era de tal maneira
32:25dramática
32:26e a violência
32:27desenfreada
32:28e sem lei
32:29chegou a extremos
32:30tais
32:31que a polícia
32:32política chegou lá
32:33e pôs um pouco
32:34de termos de tudo
32:35eu nunca dei ordem
32:36e por acaso
32:37impedi
32:37absolutamente
32:40qualquer violência
32:41sobre pretos
32:42e é por isso
32:43que de facto
32:44aquilo não se
32:44generalizou
32:45mas que havia
32:48um ambiente
32:49terrível
32:49havia
32:50mergulhada em violência
32:52Angola desesperava
32:53por forças militares
32:55que Lisboa
32:55tardava a enviar
32:56apesar dos insistentes
32:57pedidos
32:58a verdade é que
33:00os altos comandos
33:01das forças armadas
33:01estavam divididos
33:02quanto à forma
33:03de encarar a presença
33:04portuguesa em Angola
33:05problema que se agravou
33:06com o início do conflito
33:08a maioria dos chefes
33:10militares
33:11parecia apoiar
33:12o ministro da defesa
33:12Botelho Muniz
33:13que discordava
33:14da política ultramarina
33:15e do envio maciço
33:17de tropas
33:17primeiro tentou
33:18influenciar Salazar
33:19e depois pensou
33:21do rebalo
33:22eu estava numa unidade
33:23fui contactado
33:24uma maior parte
33:25dos oficiais
33:26e o contacto
33:28que era feito
33:28era uma rede
33:29que vinha exatamente
33:30era uma rede
33:31de apoio
33:31em relação ao
33:32geral Botelho Muniz
33:33e a mensagem é
33:35isto tem que mudar
33:36não é possível
33:38continuar
33:38com uma guerra
33:39de um tramar
33:40deste género
33:41portanto
33:41há que abrir
33:42politicamente
33:42há que dar
33:44apoio aos chefes
33:45para ver se os chefes
33:46conseguem convencer
33:47os políticos
33:48a mudar
33:49Portugal
33:51no conturbado
33:52momento político
33:53internacional
33:54que a todos
33:55enche de apreensões
33:56está no entanto
33:58em condições
33:59de vencer
33:59muitas das suas
34:00dificuldades
34:01se não todas
34:02com a ajuda
34:03da sua fé cristã
34:04e de uma
34:05inquebantável
34:06determinação
34:07de unidade nacional
34:08que sem ressentimentos
34:10ou agravos
34:11passados ou presentes
34:12deve reunir
34:13todos os portugueses
34:14por amor da pátria
34:16e da civilização
34:17ocidental
34:18ameaçada
34:19meses antes da crise
34:21o discurso
34:21de Botelho Muniz
34:22oficial com formação
34:23nato
34:24não mostrava
34:24o homem sensível
34:25a orientação
34:26descolonizadora
34:27dos Estados Unidos
34:28e que tinha até
34:29contactos com
34:30Charles Elbridge
34:30o embaixador
34:31americano
34:32que entretanto
34:33informava Salazar
34:34de que Kennedy
34:35reprovava a sua
34:36política ultramarina
34:37o embaixador
34:38Elbridge
34:38chega ao Salazar
34:40aos cumprimentos
34:41iniciais
34:41para eu dizer
34:42eu trago uma mensagem
34:43do presidente
34:44dos Estados da América
34:44do presidente Kennedy
34:45me levou a mensagem
34:46o sentado
34:49que traduziu
34:49dizia muita coisa
34:51e tal
34:52mas no fim
34:52acabava assim
34:53portanto Portugal
34:54terá que
34:54já
34:55conceder
34:57a autoterminação
34:58à Angola
34:59se não mesmo
34:59a independência
35:00era o fim
35:01da mensagem
35:02bom
35:03o pessoal
35:04me contou
35:05o Teodoro
35:05Chantag
35:05A Abrilada
35:08começaria com um relatório
35:09apresentado no Conselho
35:10Superior Militar
35:11por Albuquerque de Freitas
35:13chefe do Estado
35:13Maior da Força Aérea
35:15Apoiado pelos militares presentes
35:17o relatório fazia críticas
35:19ao governo
35:19e não apenas
35:20à política colonial
35:21Os americanos
35:22tiveram conhecimento
35:23desse relatório
35:24e então
35:25foi que
35:26o
35:27o
35:28embaixador
35:29da América
35:31por ordem
35:32por ordem
35:33do
35:34então
35:35presidente
35:37americano
35:37nos veio propor
35:38para nós realmente
35:39modificarmos
35:40as nossas ideias
35:41relativamente
35:42à questão
35:43ultramarina
35:44que eles
35:45nos apoiariam
35:46não só
35:47materialmente
35:48como sobretudo
35:49nas Nações Unidas
35:52permitindo
35:53que a descolonização
35:54se pudesse fazer
35:56pacatamente
35:58dando-nos um prazo
36:07mínimo
36:08de 12 anos
36:09Salazar conclui
36:11que está em marcha
36:11uma conspiração
36:12envolvendo os Estados Unidos
36:13seu aliado
36:14e Botelho Muniz
36:15seu ministro
36:15e general
36:16com o poder das armas
36:17O que eu digo
36:19é que o
36:19general português
36:21tomou em conta
36:23a situação mundial
36:24na qual se inscreve
36:25os Estados Unidos
36:26para tomar uma atitude
36:28que lhe pareceu
36:29que era a mais indicada
36:30para o Estado português
36:32havia na Embaixada da América
36:34um Adido Naval
36:35que eu conheci muito bem
36:36e vinha a conhecer
36:36mais tarde
36:37nos Petróleos
36:38que se chamava
36:39Fitzpatrick
36:40que era o Adido Naval
36:41à Embaixada da América
36:42e que era o agente
36:43da CIA
36:44em Lisboa
36:44nessa altura
36:45o chefe da CIA
36:46o chefe
36:47enfim
36:47era uma importante CIA
36:48e esse homem
36:49é que se entendia
36:50com o Botelho Muniz
36:51disse
36:51me lembra a mim
36:52o Botelho Muniz
36:53eu estou em contato
36:55com a CIA
36:55através do comando
36:56de Fitzpatrick
36:57e então
36:59o comando de Fitzpatrick
37:00estava a impulsionar
37:01o Botelho Muniz
37:02para o golpe
37:02não só
37:04houve uma diligência diplomática
37:05diretamente
37:06no presidente
37:07de Sardá
37:07como agora havia
37:07uma coisa
37:08já militar
37:09portanto
37:10os americanos
37:11realmente
37:11estiveram
37:12no começo
37:12interessados
37:13não conheço
37:14nenhuma posição
37:15que ele tenha
37:16tomado
37:17a respeito
37:18da estruturação
37:19de um caminho
37:20para o futuro
37:21desses territórios
37:22portugueses
37:23e isso é
37:24a meu ver
37:25um vazio
37:26de projeto
37:27de intervenção
37:27de golpe de Estado
37:29que é muito difícil
37:31de aceitar
37:32para Adriano Moreira
37:34o caminho
37:34do projeto
37:35de Botelho Muniz
37:36estava mal definido
37:37não indo além
37:38do programa
37:38de descolonização
37:39das Nações Unidas
37:40e como por outro lado
37:41acreditava
37:42que Salazar optaria
37:43por um processo
37:43de reformas
37:44em Angola
37:45apoiou o contra-golpe
37:46liderado por
37:47Caúlza da Riaga
37:48então subsecretário
37:52de Estado
37:52da Aeronáutica
37:53Caúlza conseguiu
37:54desarticular
37:55a principal reunião
37:56conspirativa
37:57contra Salazar
37:57denunciando a conjura
37:59ao Presidente
38:00da República
38:00Américo Tomás
38:02chamei o general
38:04Araújo
38:05Gomes de Araújo
38:06e disse-lhe
38:07o senhor vai ser nomeado
38:09chefe de Estado-Maior
38:10de General das Forças Armadas
38:11daqui a bocadinho
38:12pois propus logo a seguir
38:13isso e foi aceito
38:14vai ser nomeado
38:15daqui a bocadinho
38:15e logo que seja nomeado
38:17o que é daqui a...
38:18horas
38:19o senhor convoca
38:20todos os generais
38:21do exército
38:21enfim
38:22quase todos
38:23e convence-os
38:24a não ir à reunião
38:25porque era preciso
38:26que a reunião
38:27fosse sabotada
38:27era exatamente
38:28uma reunião
38:29para se assentar
38:30já que o Presidente
38:32da República
38:33não tinha aceito
38:34sugestões
38:35que o Betilo Muniz
38:36tinha preconizado
38:39para nós
38:40como estávamos
38:42convencidos
38:43que tínhamos
38:44todas as forças
38:45a nosso favor
38:46exceto
38:47nessa altura
38:48já a aviação
38:49e a marinha
38:49mas às vezes não faziam
38:50falta nenhuma
38:51para fazermos
38:53um golpe
38:55militar
38:55e destituindo
38:56destituindo
38:57o
38:58o Presidente do Conselho
39:00e não se sabia bem
39:03se iríamos também
39:05substituir
39:06o Presidente da República
39:08mas o Presidente do Conselho
39:10estava um avião
39:11até preparado
39:13para levar para a Suíça
39:14e eu fui direto
39:15e eu fui direto
39:15para Belém
39:16falar com o Presidente da República
39:17e contei
39:17da cena toda
39:18enquanto eu estava
39:20lá
39:20o Presidente da República
39:21veio um pedido
39:21da Defesa Nacional
39:22do Ministro da Defesa
39:23para ser recebido
39:25imediatamente
39:25imediatamente
39:27ele queria propor
39:28a minha admissão
39:28ao Senador
39:29o Presidente da República
39:31disse que não recebia
39:31que não podia receber
39:32e eu
39:34parti para o Nato
39:36que estabeleci
39:37um posto de comando
39:38aqui no
39:38aeroporto de Lisboa
39:40Nessa altura
39:41já o Causa da Riaga
39:43tinha minado
39:44as coisas
39:45se tinha voltado
39:46contra o Botelho Muniz
39:48porque ele e o Botelho Muniz
39:50nunca tiveram
39:51muito boas relações
39:52e
39:54denuncia
39:56portanto
39:57o que se estava a passar
39:58ao Presidente da República
40:00e ao chefe de governo
40:01e
40:02peço que o aconselha
40:05a que a melhor solução
40:06é realmente
40:07de repente
40:08destituir
40:09os ministros
40:11militares
40:12e
40:14substitui-se por outros
40:15que fossem
40:15da sua entera confiança
40:17entretanto
40:18aí por volta
40:19da hora
40:19eu convoquei também
40:21para o meu comando
40:22o Solari-Leg
40:23sabe quem é o Solari-Leg
40:23era o
40:24uma espécie de chefe
40:25de gabinete
40:26do Salazar
40:27o
40:28o Solambradas
40:29que era íntimo
40:30do Salazar
40:31e
40:32quem foi mais
40:33ah e o General
40:34comandou hoje
40:35já há pouco disse
40:36e disse-lhes assim
40:38meus senhores
40:39torna-se indispensável
40:41que o Ministro da Defesa
40:42o Ministro do Exército
40:43o Secretário do Exército
40:44os chefes também
40:44de Nova Defesa
40:45sejam demitidos
40:46antes das três horas da tarde
40:47porque logo há uma reunião
40:48às cinco
40:49e se realmente
40:50eles conseguem uma reunião
40:51grande
40:51estamos em guerra civil
40:52a seguir
40:53durante a reunião
40:54do Solari-Leg
40:55porque logo se soube
40:56que o General
40:58Botelho Muniz
40:59ia ser destituído
41:02se
41:03realmente
41:05o General Botelho Muniz
41:07tem querido
41:09forçar
41:10e isso
41:12talvez fôssemos
41:13para um simulacro
41:16ou mesmo
41:16para uma guerra civil
41:17sem querer forçar
41:18a ação
41:19das forças
41:20da região militar
41:22de tomar
41:23que eram as mais fortes
41:24que existiam em Portugal
41:25naturalmente
41:27a Abril lá
41:28tinha
41:28conseguido
41:30impor-se
41:32e realmente
41:33às três da tarde
41:33mais ou menos
41:35a emissora nacional
41:36anunciava a admissão
41:38daquela gente
41:38o senhor presidente
41:40do conselho
41:41assumiu as funções
41:43de ministro
41:43da defesa nacional
41:44e foram substituídos
41:46os ministros
41:47do exército
41:47o ministro estava
41:48efetivamente incapacitado
41:49é a única explicação
41:50que eu tenho
41:51porque o Botelho Muniz
41:53quis fazer uma coisa
41:53de natureza legal
41:54e a partir do momento
41:55em que o Salazar
41:56lhe escreve uma carta
41:57a dizer
41:57e o Tomás
41:59a dizer que ele tinha
41:59deixado de ser
42:00ministro da defesa
42:00ele nessa reunião
42:02da cova da Moura
42:03diz
42:03meus senhores
42:03estão alterados
42:05os pressupostos
42:06do movimento
42:06eu já não sou ministro
42:08vou ouvido
42:10entretanto
42:10as pessoas
42:11mas eu por mim
42:12não avanço
42:12e ninguém quis avançar
42:14a não ser o Carveiro Lopes
42:15quando é ouvido
42:15diz
42:16eu não tenho meios
42:16à minha disposição
42:17se os tivesse
42:18sempre também
42:18por um dia
42:19De facto
42:20além de Costa Gomes
42:22que Causa
42:22considerava
42:23o verdadeiro cérebro
42:24do golpe
42:24estavam na reunião
42:26quase todos
42:27os principais chefes militares
42:28e além deles
42:30um marchal
42:31que fora
42:31presidente da república
42:32entusiasta
42:33de Salazar
42:34que o escolhera
42:34mas que entretanto
42:35caíra em desgraça
42:36junto do presidente
42:37do concelho
42:38e estava agora pronto
42:39a derrubá-lo
42:40na esperança
42:40de voltar a Belém
42:41primeiro
42:42o Carveiro Lopes
42:43estava posto à margem
42:44não estava reservando
42:44o apelo nenhum
42:45quando ele entra
42:46na conjura
42:47já na parte final
42:48estabelece
42:52uma dúvida
42:54não sei
42:55fica sem saber
42:56eu próprio
42:57não sabia
42:57não sou
42:58porque o Carveiro Lopes
43:00disse-me
43:00mas com alguma
43:01hesitação
43:02que ele seria
43:03o presidente
43:03da república
43:04e eu botei-lhe o ministro
43:05numa primeira fase
43:06o chefe de governo
43:07para depois chamarem
43:08o Marcelo Caetano
43:09porque o Marcelo Caetano
43:09não quis aderir
43:10aos momentos iniciais
43:13do golpe
43:14Salazar derrotava
43:16uma tendência reformista
43:17do regime
43:17que vira na guerra
43:18uma oportunidade
43:19para agir
43:20incluía
43:21Carveiro Lopes
43:22e membros do governo
43:23como o ministro
43:24do exército
43:24do Almeida Fernandes
43:25e Costa Gomes
43:26seu subsecretário
43:27também apoiava
43:28um betelho-muniz
43:29os chefe do Estado-Maior
43:30das Forças Armadas
43:31e do Exército
43:31que estavam aliás
43:32de visita a Angola
43:33a quando
43:34do 15 de Março
43:34mas ao contrário
43:36do ministro
43:36do Ultramar
43:37e de Silva Tavares
43:38acharam que a revolta
43:39não passava
43:40de uma guerra
43:40de catanas
43:41o ministro
43:43eles
43:43telegrafou
43:46o doutor Salazar
43:47a dizer que tiveram
43:48aqui os
43:49os oficiais
43:51que disseram
43:52que a santa
43:53só estava dominada
43:54o que não é a minha opinião
43:55nem do governador
43:56e tal
43:56então eles chegaram
43:57a Lisboa
43:58e veio escrito
43:58nos jornais
43:59que aquilo
43:59era uma guerra
44:00de catanas
44:00eles tinham
44:02essa opinião
44:02tiveram essa opinião
44:03porquê?
44:04porque o botelho-muniz
44:05tinha uma opinião
44:06correspondente
44:07e ele pensava
44:08que resolviu o problema
44:09alinhando com a América
44:10acharam que íamos
44:11entrar naquilo
44:13que veio a acontecer
44:14uma guerra
44:14infindável
44:15em África
44:16e nesse aspecto
44:17o Costa Gomes
44:17teve uma visão
44:18extraordinária
44:20eles estavam
44:21absolutamente
44:21aliás
44:22ele escreve
44:23passado dois ou três dias
44:24escreve uma carta
44:25de explicação
44:25que foi publicada
44:26nos jornais
44:26em que dizia
44:27exatamente isso
44:28não é o que se pensa
44:29a ideia não era
44:31entregar o ultramar
44:32a ideia era
44:32negociá-lo
44:33e era
44:33fazê-lo evoluir
44:34pela nossa mão
44:36e não pela mão
44:37não contra nós
44:38eu estava à espera
44:39naquela noite
44:40porque foi
44:42um dos amigos
44:43do presidente
44:46que nem diz
44:46que
44:46o general
44:49de Diniz Botelho
44:51ia derrubar o regime
44:53de Salazar
44:54eu estava à espera
44:54mas infelizmente
44:56não aconteceu
44:57estava informado
44:59dos contatos
45:00as dirigências
45:02que o governo americano
45:03fazia para
45:04pressionar Portugal
45:05até ofereceram
45:07quase um bilhão
45:07de dólares
45:08para Portugal
45:10poder abandonar
45:11Angola
45:11Os próprios americanos
45:13tinham avisado
45:14Portugal
45:14com mais de uma semana
45:15de antecedência
45:16de que a UPA
45:17iria atacar em Angola
45:18uma informação
45:19que a Alemanha
45:20terá confirmado
45:21mas que o governo
45:22português desvalorizou
45:23além de discordar
45:24de Kennedy
45:25Salazar achava
45:26que as intenções
45:26americanas
45:27não eram desinteressadas
45:28mas era outra
45:30a opinião
45:30dos militares
45:30liderados por
45:31Botelho Muniz
45:32e de um apoio
45:33sem reservas
45:33a Salazar
45:34passam para sua surpresa
45:36a conspirar contra ele
45:37Recordo-me
45:38de ele
45:40se ter levantado
45:42com ar
45:43inérgico
45:44meteu as mãos
45:45nos bolsos
45:46e disse isto
45:47nunca me senti
45:49tão perplexo
45:50na minha vida
45:51e eu julgo
45:53que era
45:53a descoberta
45:55de que as forças armadas
45:56já não eram
45:57o pilar
45:58acrítico
45:59do poder
46:00Se é precisa
46:01uma explicação
46:02para o facto
46:04de assumir
46:05a pasta
46:05da defesa nacional
46:07mesmo antes
46:08da remodelação
46:09do governo
46:09que se verificará
46:10a seguir
46:11a explicação
46:12pode concretizar-se
46:14numa palavra
46:15e essa é
46:16Angola
46:17andar
46:18rapidamente
46:19e em força
46:20é o objetivo
46:22que vai pôr à prova
46:23a nossa capacidade
46:25de decisão
46:26falhado
46:28falhado o golpe de estado
46:29há agora uma política
46:30definida
46:30para um governo
46:31remodelado
46:32com Adriano Moreira
46:33na pasta do Ultramar
46:34um novo titular
46:35para o exército
46:36Brigadeiro Mário Silva
46:37e o próprio
46:38Oliveira Salazar
46:39com a pasta
46:40do Botelho Muniz
46:41Salazar
46:45podia finalmente
46:45mobilizar
46:46para Angola
46:47a máquina militar
46:48agora que estava
46:49liberto
46:50dos embaraços
46:50internos
46:51a expressão
46:55andar rápido
46:56e em força
46:56era também
46:57o reconhecimento
46:58do tempo perdido
46:59tinham passado
47:00mais de dois meses
47:01sobre os assaltos
47:02às cadeias de Luanda
47:03e mais de um mês
47:04sobre os massacres
47:05que incendiavam
47:06todo o norte
47:07antes dos primeiros
47:09batalhões
47:09seguirá por via aérea
47:10mais uma força
47:11de paraquedistas
47:12um contingente
47:13de 60 homens
47:14a tropa
47:15que a Causa
47:15da Riaga
47:16tinha posto
47:16de prevenção
47:17contra o golpe de estado
47:18conhecia quase
47:20o pessoal todo
47:20que estava ali
47:21os testes
47:22agentes e praças
47:23e foi-se despedido
47:25nós ao avião
47:26ao aeroporto
47:27à placa
47:27e também porque
47:29nós levávamos
47:29as novas armas
47:30levávamos as AR-10
47:32os armelites
47:34não é?
47:34que iriam fazer
47:37uma grande volta
47:37no nosso armamento
47:38a arma lá
47:39era digamos
47:40o Roll Royce
47:40das espingardas
47:41foi uma arma
47:42que nos ajudou bastante
47:43a arma atribuída
47:45aos paraquedistas
47:46merecia a especial
47:47atenção dos novos ministros
47:48cuja presença
47:49no aeroporto
47:50conferia a despedida
47:51do contingente
47:52um significado simbólico
47:54esta era
47:56a primeira expedição militar
47:57patrocinada
47:58pelo governo
47:59remodelado
48:00uma força
48:02constituída
48:03por elementos
48:04que tinham recebido
48:04instrução em Espanha
48:05mas que partem
48:07para a guerra
48:07sem nenhuma informação
48:08sobre o que vão encontrar
48:09em Angola
48:10nada
48:11pensei que quando
48:13a faculdade cheguei
48:14pensava que ia encontrar
48:15um elefante
48:16assim
48:16um caminho
48:17ou
48:17um lagarto
48:19um dos grandes
48:20nada
48:21tínhamos conhecimento
48:21absolutamente nenhum
48:22não nos fizeram
48:23uma palestra
48:23não nos disseram nada
48:24só dizeram
48:25vocês têm que ir
48:25pronto
48:26um bitaco cumpre
48:27e fizeram com 24 horas
48:29de antecedência
48:31portanto
48:31vocês amanhã embarcam
48:32tudo é surpresa
48:34para os paraclistas
48:35que aterram em Luanda
48:36perante a ansiedade
48:38da população branca
48:39a nova vida
48:40começa pela farda
48:41copiada dos
48:42fuzileiros americanos
48:43e a que tem que adaptar-se
48:44por exemplo
48:45substituindo os capacetes
48:46de aço
48:46do equipamento
48:47de campanha
48:48que tornam
48:48o calor insuportável
48:50os bolsos do camuflado
48:52também não se ajustam
48:53ao tamanho
48:54das granadas
48:55que transportam
48:55o que chega a ser
48:56tão fatal
48:57como o próprio inimigo
48:58num novo mundo
48:59repleto de perigos
49:00e armadilhas
49:01que desconhecem
49:02a gente trocava
49:04sem viaturas
49:04não é?
49:05um limóvel
49:05era o que houvesse
49:07aquelas estradas
49:08maravilhosas
49:09aquelas picadas
49:10absurdas
49:11em que para fazer
49:1110 quilómetros
49:12se demorava
49:13quase um dia
49:13não é?
49:15e de facto
49:16era uma geografia
49:17completamente diferente
49:17daquela
49:18que estávamos habituados
49:19era assustador
49:22pela altura do capim
49:24a gente não sabia
49:24claro
49:25é que poderia estar
49:25algum indivíduo
49:27o capim
49:27laleava
49:28por completo
49:29a picada
49:30não é?
49:31a guerra estava
49:32nas matas
49:32e nas povoações
49:33das quais
49:34Mocaba
49:35já se tornara
49:36o símbolo
49:36da resistência
49:37dos colonos
49:37os paraquedistas
49:39do grupo
49:39de Joaquim Santiago
49:40vão para a Damba
49:41e são depois chamados
49:42a defender o Bungo
49:43a vila
49:45que teria cerca
49:45de uma centena
49:46de habitantes
49:46ficou naquela altura
49:48reduzida
49:48a pouco mais
49:49de 30 pessoas
49:50praticamente
49:51só os homens
49:52conduzidos
49:53pelo fialho rico
49:54caçador
49:54que se tornara
49:55chefe das milícias
49:56recolhem-se na igreja
49:57até à escada
49:58dos paraquedistas
49:59o ambiente
50:01e a lei
50:01que imperavam
50:02são ilustrados
50:02pela morte
50:03do comandante
50:04daquela força
50:04junto a uma ponte
50:05destruída pela UPA
50:06numa batrulha
50:08dois dias depois
50:09do fuzilamento
50:10de dezenas de negros
50:11de cuja fidelidade
50:12os brancos suspeitavam
50:13são mortos
50:14o alferes
50:15e um civil
50:16das milícias
50:17para se levarem
50:17os corpos
50:18para cima
50:18custou 3 horas
50:19para andar 500 metros
50:20pelo que se pegavam
50:22nos corpos
50:22para andar
50:23a fuzilaria
50:23babababum
50:24tinha que parar
50:25para o carro
50:26para defender
50:26pelo que labrandava
50:27um bocadinho
50:28andava mais 100 metros
50:29mais 50 metros
50:30mais 20 metros
50:31e foi assim
50:32pronto
50:32é nessa altura
50:34que toma conta
50:36do comando
50:36o sargento Santiago
50:37eles foram
50:39dando uns tiros
50:40e nós fomos
50:40caminhando
50:41para a ponta
50:42conseguimos passar
50:42a ponta aval
50:43com os corpos
50:44temos umas viaturas
50:45e fomos
50:46para o rumo
50:48e já eram 3 da tarde
50:49portanto
50:50desde as 8
50:50e meia da manhã
50:52até às 3 da tarde
50:52foi aquele
50:53bater de coração
50:54como se quis dizer
50:55em que
50:58que Deus nos proteja
51:00não é?
51:01o Deus
51:02em que os dois lados
51:03acreditavam
51:04era afinal o mesmo
51:05os portugueses
51:06atuavam com fé religiosa
51:08e coragem física
51:09mas também com medo
51:10que se podia tornar cruel
51:11e que temperavam
51:13com humor terapêutico
51:14enquanto se adaptavam
51:16a UPA também evoluía
51:18usando cada vez mais
51:19armas automáticas
51:19em parte
51:20capturadas à tropa
51:22ensaiava novas ações
51:23atacando com grupos
51:24maiores ou menores
51:25lugares
51:26roças
51:27ou colunas militares
51:28já entramos
51:29os águas
51:29em grilha
51:30entramos em grilha
51:33agora
51:34grilha mesmo
51:35certamente
51:36nós que dirigimos
51:38porque a grilha
51:39nem é coisa a brincar
51:42nessa altura
51:43dando as nossas
51:45forças a matéria
51:46que a gente
51:46recuperava
51:47nos colunas
51:48já nos ajudava
51:49a fazer serviço
51:50passaram a atuar
51:52ao menos
51:53com menos gente
51:54e os tiros
51:55à distância
51:56ou perto
51:57mas já
51:58já demonstrarem
51:59como é dizer assim
52:00um princípio
52:01de organização
52:02de guerrilha
52:03a pouco e pouco
52:05isso foi
52:05evoluindo
52:07não é
52:07depois já não eram
52:09tirinhos
52:10já eram
52:10muitos tiros
52:12e já eram grupos
52:13já formados
52:15por 20
52:1530 indivíduos
52:16já com
52:17um grau
52:18de instituição
52:18que se via
52:19que havia
52:19a limão
52:20de um instrutor
52:21bom
52:21ao lado deles
52:23para os formar
52:23aí veio
52:24com 50
52:25ou 150
52:26eu vou com ele
52:27no combate
52:28então
52:29quando regressar
52:30então amanhã também
52:31mais outro grupo
52:32é sempre assim
52:33como os portugueses
52:34de maneira que estava
52:35os aviões
52:36mas aqui
52:36foi os aviões
52:37eu entrei na cartilice
52:39da bala
52:40que eu peço aqui
52:41de avião
52:43bombardeiros PV2
52:57que havia na altura
52:59a lançarem
53:00bombas
53:01em que a própria aviação
53:02nos aconselhava
53:03a não nos levantarmos
53:05devido
53:05à deslocação
53:07da ar
53:08própria que eles faziam
53:09que eram lançadas
53:10na mata
53:11e
53:12se
53:14se visse
53:16o barulho
53:18que vinha da mata
53:18os gritos
53:19que vinham da mata
53:20além
53:21na altura
53:22dos bombardeamentos
53:23também
53:24povrou
53:25muitas vezes
53:4524 horas
53:46sobre 24
53:48bombardeamentos
53:49das matas
53:50demônios
53:52acabasse
53:52perguntado
53:53essas bombas
53:54certamente
53:56que não matavam
53:56só o homem
53:57mulher e as crianças
53:58houve um
54:00que nos
54:01que nos contou
54:02que
54:04um avião
54:05da força aérea portuguesa
54:07portanto
54:07tinha
54:09deixado
54:12cair uma roda
54:13realmente
54:15lá estava o buraco
54:16no centro
54:17da Sanzala
54:17e segundo parece
54:19portanto
54:20havia mais buracos
54:21a seguir
54:21mas aquele
54:22é que foi
54:23o principal
54:23e que teve
54:24que os telhaços
54:26mataram
54:26portanto
54:27houve bombardeio
54:29da nossa aviação
54:30naquele local
54:31na repressão
54:33dos revoltosos
54:34e na defesa
54:34dos colanos
54:35as forças
54:36de Causa
54:36da Riaga
54:37continuavam a ser
54:38a arma principal
54:39Alguma coisa
54:40fizeram já
54:41a aviação
54:42e as tropas
54:43paracadistas
54:44mas porque é preciso
54:46mais farão
54:46o seu emprego
54:48será aperfeiçoado
54:49e novos meios
54:50serão utilizados
54:52As promessas
54:53de Causa
54:54da Riaga
54:54agradam
54:55aos portugueses
54:55mas é nas políticas
54:57de Adriano Moreira
54:58trunfo
54:59da remodelação
54:59de Salazar
55:00que os colanos
55:01depositam agora
55:02todas as esperanças
55:03O senhor presidente
55:05do conselho
55:06tudo sintetizou
55:07numa só palavra
55:08Angola
55:09na metrópole
55:11mobilizam-se
55:12todos os recursos
55:13disponíveis
55:14em obediência
55:15a essa palavra
55:16de ordem
55:17A emissora nacional
55:25registra
55:26a partida
55:27de um contingente
55:29militar
55:29com destino
55:31ao ultramar
55:32português
55:33Com o aplauso
55:34incondicional
55:35dos portugueses
55:36de Angola
55:36e também
55:37com o apoio
55:38do país em geral
55:39os cais
55:40de Alcântara
55:41e de Rocha
55:41de Condobides
55:42em Lisboa
55:43passam a ser
55:44os cenários
55:44de frequentes
55:45partidas de navios
55:46carregados
55:47de soldados
55:47numa primeira fase
55:50com a presença
55:50e os discursos
55:51de altas patentes
55:52do próprio ministro
55:54do exército
55:54recém nomeado
55:55Brigadeiro Mário Silva
55:56que vai a bordo
55:57falar às tropas
55:58não há
55:59processo de
56:02que nas alfúrgias
56:03internacionais
56:04consigam
56:06demolir
56:08o nosso amor
56:10à nossa terra
56:11o nosso amor
56:13à terra portuguesa
56:14não é de agora
56:15e é essa certeza
56:18que nos dá
56:19o mantermos-nos
56:21no ultramar
56:21perpetuamente
56:23a coisa
56:24que mais
56:25me impressionou
56:26foi
56:27uma locução
56:30de despedida
56:32já não tenho a certeza
56:33mas que foi
56:34de facto
56:34uma oportunidade
56:35muito importante
56:36e que foi ali
56:37dizer que
56:38nós devíamos
56:39combater
56:40como os outros
56:41combatiam
56:42quer dizer
56:42se nos cortavam
56:44as orelhas
56:44devíamos cortar
56:44as orelhas
56:45enfim
56:47se nos fizessem
56:48coisas
56:48desse tipo
56:50que devíamos
56:51retribuir
56:51do mesmo modo
56:52quer dizer
56:52essa era
56:53linguagem
56:54oficial
56:54Mário de Pado
56:56a segue
56:56como alfés
56:57policiano médico
56:57no primeiro contingente
56:58que parte para Angola
56:59no dia 21 de Abril
57:01uma semana depois
57:04do afastamento
57:04do Botelho Muniz
57:05está pronto
57:06para levantar
57:06ferro de Lisboa
57:07o navio Miaça
57:08leva a bordo
57:101.800 homens
57:11dos batalhões
57:11de caçadores
57:1288 e 92
57:13e 4 companhias
57:15de artilharia
57:15partem finalmente
57:18Lisboa
57:19as forças
57:19com que
57:20o comando
57:20da região militar
57:21de Angola
57:21vai iniciar
57:23a recuperação
57:23de um vasto
57:24território
57:24onde a UPA
57:25tinha substituído
57:26pelos seus símbolos
57:27as bandeiras
57:28nacionais portuguesas
57:29e aí
57:33Tchau, tchau.
58:03Tchau, tchau.
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