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  • 30/05/2025
Moçambique... Angola... Guiné... As feridas de um país... As verdades escondidas da Guerra Colonial.
Transcrição
00:00Quando chegamos lá dentro da mata, nos primeiros meses quando entramos, era a Carmo.
00:06Só aparecia avião bombardeiros, bombardeando as matas.
00:10Mais tarde entrou a ação de tropa em grande escala.
00:14É notável como num período de seis meses, em Angola,
00:21se montou o apoio administrativo a um gisto apto a receber os batalhões e as companhias
00:26que a seguir foram em Catadupa.
00:27Por exemplo, eu fui em 28 de maio, em 15 de julho,
00:32estávamos a ter a primeira ação com o inimigo, com baixas, com mortos, de um lado e do outro.
00:38E passado três ou quatro meses, havia uma corrente de frio que já permitia levar alimentos.
00:44Havia uma organização dos meios de comunicações, havia um apoio aéreo,
00:50havia uns bondosos que já haviam umas pistas, etc. Foi notável.
00:55Na Ambangon, aquelas áreas já recuperaram.
00:59Então, quando recuperaram esse lugar, pronto, surgiu o recóptero.
01:04E a avioneta da pesquisação, nós já não tínhamos Carmo.
01:08Chega a madrugada, a cozinha, a comida apaga o fogo.
01:12Quando surge o avião, notando ali que está saindo fogueira, pronto.
01:17Contem que aquele amato é bombardeado.
01:18Tchau, tchau.
01:28Música
01:30Tchau, tchau.
02:00Tchau, tchau.
02:30Tchau, tchau.
03:00Tchau, tchau.
03:30Tchau, tchau.
04:00Tchau, tchau.
04:32Tchau.
04:34Tchau.
05:06Tchau.
05:38Tchau, tchau.
05:40Tchau, tchau.
05:42Tchau, tchau.
05:44Tchau, tchau.
05:46Tchau, tchau.
05:48Tchau, tchau.
05:50Tchau, tchau.
05:52Tchau, tchau.
05:54Tchau, tchau.
05:56Tchau, tchau.
05:58Tchau, tchau, tchau.
06:00É uma atitude, digamos, teatral, do Conselho de Segurança,
06:08e que ele não tem a menor esperança de ver atendida.
06:12Tão gravemente ofende os deveres de um Estado soberano.
06:22E a soberania portuguesa em Angola mudava de rosto.
06:26O governo procurava uma eficácia militar cada vez maior.
06:30Afastando Silva Tavares e Libório Monteiro, Salazar concentrou numa só pessoa,
06:35o general Deslandes, os cargos de governador-geral e comandante-chefe.
06:52As hordas terroristas que invadiram a nossa própria casa terão de esperar de nós uma guerra sem quartel.
06:58A única alternativa que lhes oferecemos é a sua rendição incondicional ou o seu aniquilamento.
07:05Fizeram-nos a guerra.
07:06Venâncio Deslandes, um general saído das fileiras do regime e então com funções diplomáticas em Espanha,
07:13é o homem escolhido para conduzir a defesa de Angola.
07:16O seu discurso é imediatamente festejado pela esperança dos portugueses,
07:19tanto como o de Adriano Moreira, o ministro que o tutelava.
07:22Os colonos confiam nas decisões do governo de Lisboa.
07:28Acreditam que com o novo governador a situação será rapidamente controlada.
07:33Isto numa altura em que a guerra está numa fase aguda, com a UPA ativa em grande parte do norte.
07:39No final deste mês de junho, o primeiro comunicado oficial das Forças Armadas
07:42informava que tinham morrido 50 militares desde fevereiro.
07:46Havia também muitos civis mortos em combates, já que a guerra começou por ser suportada por eles,
07:51organizados em milícias de autodefesa nas suas populações.
07:55Estes civis viriam depois a ser enquadrados numa força de voluntários
07:58que atuou quer na recuperação de postos e fazendas,
08:01quer no apoio à retoma da atividade económica, nomeadamente no setor agrícola.
08:06Criado por decreto governamental ainda no mês de março,
08:08o corpo de voluntários de Angola instruía militarmente elementos da população,
08:13integrando-os na estrutura do exército
08:15e sob as suas ordens.
08:19Os voluntários recebem também formação de natureza disciplinar e psicológica,
08:23além do treino físico e de combate,
08:25em campos de instrução como este, em Luanda.
08:30O corpo de voluntários, também criado na Guinéia e Moçambique,
08:34era formado por cerca de 2 mil homens,
08:36uma verdadeira força auxiliar da tropa,
08:38numa altura em que era ainda notória a carência de efetivos no território.
08:42Estes homens são recrutados dentro daqueles portugueses
08:47que já se estrearam em combate contra os terroristas.
08:51A nossa preocupação é discipliná-los um bocadinho,
08:54dar-lhe um bocadinho o espírito de equipe, não é?
08:56Para se deixarem comandar por nós,
08:58aplicando toda a sua longa prática de caçadores, digo,
09:04e de homens do mato.
09:05Composto por vários escalões, o corpo de voluntários
09:09apoiava a defesa das cidades e das empresas.
09:12Na retoma da atividade económica nas regiões em guerra,
09:15a prioridade era então a segurança das fazendas.
09:19Há quanto tempo estão vocês aqui nesta fazenda de São Brás?
09:21De São Brás estamos há 4 ou 5 dias de trabalho.
09:25Quantos homens têm sobre o seu comando?
09:27555 indígenas, 78 brancos e 19 capatazes.
09:31Devo frisar que tenho a companhia fragmentada,
09:35isto é, com dois pelotões a trabalhar isolados,
09:38com dois grupos distintos.
09:39Trabalho uma que está na fazenda Lufís
09:41após ter feito a colheita da fazenda Heitor.
09:45A chamada batalha ou campanha do café
09:47tentava impedir que Angola comprometesse a sua quota
09:50no mercado internacional.
09:52Para isso, o corpo de voluntários montava a segurança nas roças
09:54onde se fazia a colheita,
09:56protegendo os trabalhadores bailundos de eventuais ataques.
09:59Têm encolhido muito café?
10:02Apanhamos, sim, senhor.
10:03Muito café e continuam a apanhar.
10:05Sem medo do bandido, não?
10:06Não têm medo do bandido?
10:08A gente a temos.
10:10Apesar da atividade rebelde,
10:12na região de Carmona terá sido possível apanhar
10:14cerca de 70 a 80% do café.
10:17Em relação ao ano anterior, 1960,
10:19a produção sofreram uma quebra da ordem dos 10%.
10:22Estes resultados e algum apoio concedido pelo governo
10:26animavam as expectativas dos agricultores.
10:28A minha conta ao futuro é que eu saí dos últimos a sair do songo.
10:32Será dos últimos a sair?
10:33Dos últimos a sair do songo.
10:34Como já dei provas, eu e cerca de duas centenas
10:36que estávamos ali assim,
10:37que estivemos cerca de 70 dias
10:38sem nos despirmos de noite,
10:40enquanto, enfim, novei tropa.
10:42Quer dizer, agora a situação melhorou um bocadinho.
10:43Bastante.
10:44Bastante.
10:45E espera-se que continue a melhorar?
10:46Melhorar, pois.
10:47Nós não estamos cá para outra coisa,
10:48porque isto é nosso.
10:49O Soba nasceu aqui,
10:51os meus filhos também são daqui.
10:52Também aqui nasceram.
10:53Este era o discurso em que os colonos acreditavam.
10:56E agora tinham até mais razões para acreditar.
10:59Com a intervenção da tropa,
11:01a economia resistia ao colapso
11:02e começava a ser possível a circulação nas principais vias.
11:07O dispositivo operacional existente cinco meses antes,
11:10aquando da revolta de 4 de fevereiro,
11:12sofrera grandes alterações,
11:13sobretudo na zona afetada pela sublevação.
11:16A presença militar é agora bastante maior,
11:19assente principalmente em unidades de caçadores especiais.
11:22O dispositivo que interdita a fronteira já está montado.
11:26O Estado-Maior considera reunidas
11:27as condições para a primeira grande ação militar da guerra.
11:33A Operação Viriato.
11:36Mais de 1.200 homens avançam para Namblangongo,
11:39centro operacional da UPA,
11:40a 180 quilómetros de Luanda.
11:46Tivemos logo na Pedra Verde o primeiro batismo de fogo
11:50com um morto e dois feridos.
11:53A partir da UPA,
11:55onde estávamos acortelados,
11:57foi-nos dada a ordem para irmos para a Ponto do Danjo.
12:03Essa ponte foi ocupada por um pelotão da minha companhia.
12:08E aí fizeram-se preparativos para a tomada de Nambangongo.
12:12Portanto, logo a seguir à Ponto do Danjo,
12:14tivemos também que fazer a reconstrução da Ponto do Luíca,
12:20reconstrução esta que nos custou mais uma vida.
12:24A nossa chegada ao UPA,
12:25nós vimos desde cá debaixo,
12:27onde estava propriamente a povoação,
12:29até à fazenda do Cunha Irmão,
12:32ao longo da estrada estavam postes com cabeças.
12:36Isso logo à nossa chegada foi um primeiro choque bastante violento.
12:39E essas cabeças eram cabeças de quem?
12:42Eram cabeças de terroristas abatidos.
12:46Eu próprio discordei disso,
12:49achei que era um bocado selvagem.
12:51Então, eles convencidos,
12:53pelos feiticeiros,
12:55que se morressem com a mala de branco,
12:57não mata.
12:57Portanto, se caírem com a bala de branco aos soldados,
13:01não morrem,
13:02a não ser que sejam mutilados.
13:04E, portanto, havia necessidade de cortar a cabeça a um e ao outro
13:08para dizer aos que sobreviveram
13:11que estavam em perigo também de não ressuscitar.
13:15São assim os primeiros contactos com a guerra dos homens
13:17do Batalhão de Caçadores 96.
13:19Entre esses militares que viveram a primeira grande operação do conflito
13:23estavam os quatro convidados
13:25que aceitaram regressar à Angola,
13:2740 anos depois,
13:28para acompanhar esta reportagem.
13:30E entre os seus inimigos na marcha para Nambuangongo,
13:33dois homens,
13:33com quem só se encontram após entrevistas separadas.
13:36Dois comandantes da UPA,
13:38cujas forças estavam divididas por áreas.
13:40A área do Kikunzu Nambuangongo,
13:43o delegado era o Fernando Manemaiago.
13:45A missão de reocupar Nambuangongo,
13:47situada na região montanhosa dos Dembos,
13:49foi dada aos Batalhões de Caçadores 96 e 114
13:52e ao Esquadrão de Cavalaria 149.
13:55Avançam por vias diferentes,
13:57apoiados por artilharia, engenharia e aviação.
14:02Da zona de aqui baixo,
14:03parte o Batalhão 96,
14:04do Tenente Coronel Armando Massarita.
14:07Dirige-se para a Ponto Rio d'Ange,
14:08em flete para norte
14:09e progrede por Mucondo, Kikundo e Mochaluando.
14:14Do Ambris para leste,
14:15pela estrada de Quimbumbe e Zala,
14:18avançará o Esquadrão de Cavalaria 149,
14:20sob as ordens do Capitão Rui Abrantes.
14:24De Luanda, pelo Eixo Central,
14:26Caxito Nambuangongo,
14:27o mais direto,
14:29marchará o Batalhão de Caçadores 114.
14:32É comandado pelo Coronel Oliveira Rodrigues,
14:34mas não conseguirá chegar ao destino.
14:36O meu batalhão foi surpreendido
14:40por cerca de 500 terroristas,
14:44quase todos de calças ou calções azuis
14:47e umas camisas mais ou menos brancas
14:48e uma faixa branca na cabeça,
14:52com catanas, canhanguns
14:53e uma ou outra arma automática,
14:55mas caíram sobre três viaturas
14:57de uma cabeça de uma comuna
14:59e que nos causaram seis mortos,
15:03nessa altura, cinco mortos,
15:04cinco mortos e treze feridos
15:06e nós causamos mais de uma centena
15:09e até depois apanhamos uma carta
15:10de um fone que se escrevia
15:11que teria morrido mais de 150.
15:14Fortemente flageladas,
15:16as tropas do Coronel Oliveira Rodrigues
15:17acabam por abandonar a missão
15:19ao fim de algum tempo.
15:21Para a UPA era uma vitória.
15:23Bloqueando as estradas
15:24e montando emboscadas,
15:26os rebeldes travavam a marcha
15:27das forças militarmente incomparáveis
15:29do Batalhão 114
15:31e da mesma forma
15:32tentam opor-se ao avanço
15:33do Batalhão 96.
15:35Para impedir o inimigo
15:37para não avançar,
15:38esses embandeiros,
15:39esses chegamos a cortar,
15:41fechar a estrada,
15:42fugir buracos na estrada,
15:44por exemplo,
15:44faça uma vara grande
15:45que o carro não pode atravessar.
15:47Eles tinham com certeza vigias
15:49que transmitiam essa informação
15:53da deslocação de uma coluna
15:56e tinham pontos estratégicos
15:59protegidos pela densa mata
16:03que burdejava as picadas
16:06e era aí que eles se instalavam.
16:09A maca do morro,
16:10nós trouxemos a estrada,
16:12essa é a estrada,
16:14aqui tem a vareta das estradas.
16:16Vocês aqui no buraco das varetas,
16:18onde vocês ficam?
16:20Ficam assim,
16:21deitados no chão.
16:22Cobrir mesmo o capinho,
16:24cortam o capinho mesmo,
16:25põem a descobrir mesmo a areia e tudo.
16:26para ninguém não dar a conta
16:28ao inimigo,
16:28que aí tem pessoas aí escondidas.
16:32Na berma da estrada,
16:33à direita da coluna,
16:34uma série de trincheiras individuais
16:36meticulosamente construídas,
16:38todas elas com itinerário
16:39de fuga para a floresta.
16:41O inimigo preparara com excepcional
16:42cuidar uma emboscada à coluna
16:44em terreno estratégico.
16:45e depois os brancos começaram a entrar.
16:49Viam na linha do Danes.
16:51Nós fomos comunicados
16:52que as tropas estavam a vir.
16:54Toda a gente,
16:55quando chegavam ali na ponta,
16:56os carros estavam a avançar,
16:57quando toda a gente estava a sair no chão,
17:00as tropas já não tinham medo
17:01de fazer tiro.
17:02Estavam cheias de medo.
17:04Estavam a oferecer as armas,
17:05podem me matar?
17:06Então,
17:08as armas foram poderosas.
17:09Ali onde possuímos as primeiras armas,
17:11enquanto trabalhamos com katana
17:13e canhangulos.
17:15Os canhangulos,
17:16certos canhangulos,
17:17foram utilizados
17:18jindungos,
17:20lá dentro,
17:21com jindungos.
17:23Você faz um tiro,
17:24aquela fumaça provoca tosse.
17:27Os primeiros verdadeiros embates
17:28do Batalhão 96
17:29ocorrem após a passagem
17:30da Ponte do Tanje
17:31e depois de atingido o Rio Luica,
17:34sobre o qual foi construída
17:35uma passagem,
17:36quando a coluna partia para Mocondo.
17:38Primeiros feridos da tropa
17:40e primeiros mortos da UPA,
17:41entre os quais
17:42o comandante da área,
17:43Maneca Paca.
17:44O Maneca Paca
17:45estava lá a comandar
17:47as tropas deles no Mocondo.
17:49Os novos soldados apanharam,
17:53cortaram-lhe a cabeça
17:54e penduraram.
17:57E disseram que isso estava,
17:58tinha acontecido.
18:00Eu só vi de longe.
18:01Se eu soubesse,
18:01eu não consentia.
18:04As investidas da UPA
18:05são insuficientes
18:06para travar cerca de 600 homens,
18:08distribuídos por duas companhias,
18:10um pelotão de engenharia,
18:11outro de canhões
18:12e um outro de morteiros.
18:14Mas é debaixo da flagelação frequente
18:16que o Batalhão 96
18:17atinge Mocondo,
18:19nesse dia 25 de julho.
18:2125 de julho
18:25é exatamente a data
18:26em que parte do Ambris,
18:27também para Nambuangongo,
18:29o Esquadrão de Cavalaria 149.
18:33Comandada pelo Capidão Rui Abrantes,
18:35esta é a última força
18:36a avançar por o objetivo.
18:40É constituída por cerca
18:41de 250 homens,
18:43um contingente que,
18:43embora superior
18:44a um esquadrão convencional,
18:46revelava como eram limitados
18:47os recursos militares disponíveis.
18:49Com grande desassombro,
18:51se tivermos em conta
18:52a época e o contexto,
18:54o Capitão considera
18:55a força que dirige
18:55inadequada
18:56à missão que lhe é exigida.
18:59Apesar de difícil,
19:01apesar de pretenderem
19:03que um esquadrão só
19:04resolva os problemas
19:07de uma área tão extensa,
19:09sem dúvida,
19:10à custa de elementos
19:11que nos foram concedidos
19:13quer de artilharia,
19:15quer de engenharia,
19:16infantaria,
19:17morteiros, etc.
19:19foi constituída uma coluna
19:21que tenho o prazer
19:23de comandar,
19:25de gente
19:26que vai dirigida
19:27diretamente a Nambuangongo,
19:30que sabemos bem
19:31é vermos de aí
19:32acessar
19:33uma bandeira portuguesa.
19:35reforçado para esta missão,
19:37o esquadrão está equipado
19:38de forma idêntica
19:39à dos batalhões.
19:41Canhões sem recuo
19:42de 75 milímetros,
19:44morteiros,
19:45aviaturas americanas
19:46das unidades NATO
19:47como os jips
19:47e jipões Willis
19:48e veículos de transporte
19:50de GMC,
19:50alguns armados
19:51com metralhadoras alemãs
19:52Breda e Draize
19:53e, no caso do esquadrão,
19:55as Madsen,
19:56dinamarquesas,
19:57bazucas,
19:58espingardas
19:59e metralhadoras.
19:59Era o mesmo
20:01era espingardas
20:02e Mauser,
20:03era metralhador a Draize
20:05e a pesada Breda.
20:10Eles também apanharam mata.
20:12Eles também apanharam mata.
20:14Exatamente o mesmo.
20:15Os mesmos abatidos,
20:18as mesmas coisas,
20:20obstáculos,
20:22os mesmos troncos
20:22atravessados na estrada,
20:24é tudo igual.
20:25É absolutamente igual.
20:29A coluna parou de novo
20:33porque no meio da estrada
20:35foram encontrados
20:36os troncos de árvore.
20:45As verbas da estrada,
20:46entretanto,
20:47continuam a ser batidas pelo fogo.
20:53Isso é um dispositivo
20:55com os metralhadores
20:56alteradamente apontados
20:57para a direita e para a esquerda.
20:58Se houvesse qualquer incidente,
21:02qualquer coisa,
21:02qualquer paragem,
21:04não é?
21:04Eu fazia sempre
21:05uma só palpações de fogo.
21:09Criar medo.
21:11Fiz assim,
21:11me ter sentido
21:12de guerra psicológica também.
21:14A UPA
21:15não ataca apenas
21:16as colunas em movimento.
21:17Algumas centenas de homens
21:18tentam um assalto
21:19no Mucondo
21:20quando o batalhão
21:20se reorganiza
21:21para prosseguir a marcha.
21:23Eu fiz já à volta
21:24da igreja
21:25que foi no Mucondo.
21:26À volta do Mucondo
21:27eu fiz
21:28uma coisa,
21:29fiz um dispositivo
21:30na Eurata
21:31já a pensar
21:32iria a tal
21:33duas filhas
21:36de arame farpado
21:37e estes abrigos
21:38dos metralhadores
21:39a contar
21:39com uma reação deles.
21:41E vieram
21:42uma ordem enorme,
21:43uma coisa enorme,
21:44atacando por todos os lados.
21:46E,
21:47para ficar
21:47a 132 mortos,
21:49a partir do Mucondo
21:52nós tivemos
21:53o apoio
21:53quase permanente
21:55ao diário
21:56dos PV-2.
21:57Os PV-2
21:58eram apetrechados
21:59com metralhadoras
22:01Browning
22:01que bombardeavam
22:03o inimigo
22:03quando os detetavam
22:05e,
22:05além disso,
22:07traziam em cada asa
22:08uma bomba de napalm
22:09que,
22:10em situações
22:11que eles verificavam
22:13ser de concentração
22:13inimiga,
22:14lançavam.
22:14Levei o avião
22:25à chamada
22:26posição inicial
22:27e,
22:28numa linha
22:28de descida suave,
22:29com a sanzala
22:30bem na frente
22:30do nariz,
22:32premi o botão
22:32para a largada
22:33de uma das duas bombas
22:34de napalm
22:34de 200 libras
22:35que levava
22:36suspensas das asas.
22:38O Alcínio
22:39olhou para mim
22:39e,
22:40fazendo o gesto
22:40de quem limpa
22:41qualquer coisa do papel
22:42com uma borracha,
22:43disse
22:43esta podes apagar
22:45do mapa.
22:57Além de bombardear
22:59e metralhar
22:59abrindo caminho
23:00à infantaria,
23:01a Força Aérea
23:02apoiou as forças
23:02em marcha
23:03para Nambuongongo,
23:04também com aviões
23:05ligeiros
23:05Auster
23:06e DO-27
23:07da Unie,
23:08para operações
23:09de reconhecimento
23:09e reabastecimento,
23:11usando pistas
23:11construídas
23:12pelos sapadores
23:13de engenharia,
23:13que integravam
23:14as colunas.
23:15A aviação
23:16assegurava também
23:17a evacuação
23:17de feridos
23:18e, usando aviões
23:18de transporte
23:19Noratlas,
23:20procedia ao reabastecimento
23:21de víveres
23:22quando era necessário.
23:24Nem sempre
23:24havia colunas
23:26civis,
23:27porque eram
23:27as colunas civis
23:28que nos traziam
23:30as rações,
23:30não só as rações
23:31de reserva,
23:32como também
23:33as próprias munições.
23:35Portanto,
23:35chegámos a uma altura
23:36tal que...
23:37chegámos a uma altura
23:38tal que, na verdade,
23:39tivemos falha
23:41de munições
23:42e tivemos falha
23:43de alimentação.
23:46No Moconde,
23:47precisamente,
23:48estivemos à volta
23:49de oito ou dez dias
23:50acampados
23:51em que, de facto,
23:52só comíamos
23:52a bolacha
23:53chamatola
23:53para ir adquirirmos água.
23:55Houve algumas tentativas
23:56de reabastecimento aéreo
23:58que realmente
23:58deram muito...
23:59Muito pouco resultado,
24:00porque, por exemplo,
24:02lançavam sacos de pão
24:03e os sacos de pão...
24:05Reventavam?
24:06Reventavam,
24:07então,
24:07ficavam lá
24:08no meio do capim
24:09e nós não conseguíamos
24:11localizá-los.
24:12Ainda não havia
24:12o lançamento
24:12dos abastecimentos
24:13em paraquedas.
24:16As dificultades
24:17eram muitas
24:18e de todo o tipo.
24:20Apesar disso,
24:21no final
24:21da primeira semana
24:22de agosto,
24:23as duas colunas
24:23já estão relativamente
24:24próximas de Nambuangongo.
24:27O esquadrão de cavalaria
24:29há muito que deixar
24:30para trás
24:30o itinerário
24:31da zona litoral
24:32e avançava agora
24:33pela mata densa.
24:35A coluna
24:36tinha combatido
24:37nas zonas
24:37de Cavunga
24:38e Guimbumbo,
24:38sofreram morto
24:39e voltava a ser atacada
24:40às portas de Zala.
24:42Hoje,
24:42domingo,
24:43dia 6 de agosto,
24:44estamos na região de Zala
24:46a dois quilómetros
24:47do posto administrativo.
24:48Estamos prontos
24:49a continuar a marcha
24:50e a ocupar
24:51essa povoação.
24:52Há momentos,
24:53um poltão de cavaleria
24:54foi em reconhecimento
24:55e foi de novo atacada.
24:58Foi atacada
24:59à coluna
24:59e teve dois feridos,
25:01felizmente,
25:01ligeiros.
25:02Eu ia na viatura
25:03e a soltei
25:05para baixo
25:05da viatura,
25:07para a beira
25:07da estrada.
25:09E quando foi,
25:10então,
25:10atingido
25:11por um tiro
25:11de canhangulo.
25:12Foi canhangulo,
25:12com certeza?
25:13Foi, sim, senhora.
25:14Até foram uns telhaços.
25:15Feriu aí no nariz
25:17e nas costas
25:17ainda.
25:18E nas costas
25:19e no braço.
25:21Estes dois feridos
25:22são mais dois homens
25:24a juntar
25:25aos bastantes
25:26que já temos.
25:28Andam à volta
25:28de 16
25:29ou 18.
25:31Felizmente,
25:32feridos
25:32sem gravidade,
25:34aos quais
25:36têm postado
25:37dentro do possível
25:38os primeiros
25:39escorros,
25:40desinfetando,
25:42retirando
25:43os estilhaços.
25:46No outro lado
25:47da guerra,
25:48no interior
25:48mais profundo
25:49das matas
25:49para onde
25:50tinham recuado
25:51os guerrilheiros,
25:52são festejadas
25:52com júbilo
25:53as baixas
25:54e inflingidas
25:54às colunas
25:55militares portuguesas.
25:58Recebidos
25:58em ambiente
25:59de grande alegria,
26:00os combatentes
26:00relatam as ações
26:01com entusiasmo,
26:02partilhado
26:03pelas famílias
26:03e pelas populações.
26:08Além das chanzalas
26:31que construíam
26:32no interior
26:32das matas,
26:33os responsáveis
26:33da UPA
26:34criaram também
26:35incipientes
26:35campos de treino,
26:36onde promoviam
26:37uma instrução militar
26:38básica,
26:39ao mesmo tempo
26:39que procediam
26:40a novos recrutamentos.
26:44Nessa altura,
26:44os rebeldes
26:45recebiam algum
26:45apoio militar
26:46da Tunísia
26:46e completavam
26:47os seus recursos
26:48com material
26:48de armamento
26:49que capturavam
26:50à tropa portuguesa.
26:54Ao mesmo tempo
26:55que atacavam
26:55as colunas militares
26:56tentando impedir
26:57a sua progressão,
26:58os guerrilheiros
26:58empenhavam sem destruir
26:59tudo o que podiam
27:00antes de abandonar
27:02as populações
27:02quando pressentiam
27:03a chegada da tropa.
27:06As destruições
27:07atingiam bens
27:07e produtos,
27:08nomeadamente
27:09o café armazenado,
27:10bem como
27:11infraestruturas
27:12e casas,
27:13cujas canalizações
27:14arrancam
27:14para fabricar
27:15canhangulos.
27:17Se a destruição
27:18fazia parte
27:19da atuação
27:19da UPA
27:20para enfraquecer
27:20a economia
27:21e afastar os colonos,
27:22era também
27:23largamente praticada
27:24pelos militares portugueses,
27:25em operações
27:26de limpeza
27:27com que abriam caminho.
27:28Assaltavam localidades,
27:30sansalas
27:30e acampamentos,
27:31perseguindo guerrilheiros
27:32ou elementos
27:32da população
27:33tidos como suspeitos
27:34de colaboração
27:35com a UPA.
27:38No seu avanço,
27:39os soldados portugueses
27:40apreendiam
27:41ou destruíam
27:41objetos
27:42ou vestígios
27:43da presença
27:44de rebeldes
27:44e incendiavam.
27:50O quadro era este.
27:52E era esta a atuação
27:53das forças
27:54em luta
27:54pelo norte de Angola.
27:57E é neste ambiente
27:58que a coluna
27:59de Rui Abrantes
28:00chegava agora à Zala,
28:02povoação que ilustrava
28:03bem a imagem da guerra.
28:05No dia 7 de agosto,
28:07manhã cedo,
28:07o Esquadrão de Cavalaria
28:08149,
28:09refeito de tantos dias
28:10de luta extenuante,
28:12lançou o ataque
28:13à Zala.
28:13Com emoção,
28:15a coluna ultrapassou
28:16o local
28:16onde o sargento
28:17Manuel de Sousa
28:18foi morto.
28:19Aí,
28:20o inimigo
28:20flagelou as viaturas
28:21mas sem convicção.
28:25Depois dos momentos
28:25da vigilância,
28:26continuou o avanço.
28:34Cinco meses
28:35depois do início
28:36da guerra
28:36e ao fim
28:37de 12 dias de marcha
28:38entre ataques
28:39e emboscadas,
28:40os portugueses
28:41reocupavam Zala,
28:42lugar importante
28:43para a UPA,
28:44ficava a 40 quilómetros
28:45de Nambuangongo
28:46para onde o Esquadrão
28:47abria agora caminho,
28:48bombardeando o itinerário.
28:56Em 7 de agosto,
28:57o Esquadrão de Cavalaria
28:58do Capitão
28:59Rui Abrantes
29:00atingia Zala,
29:02exatamente o dia
29:03em que as forças
29:04do Batalhão 96
29:05alcançavam
29:06Muxa Luando,
29:07povoação destruída
29:08pela UPA.
29:08No Onzo,
29:10onde a Engenharia
29:11reconstrói uma ponte,
29:12as forças
29:13do Trente Correl
29:13Maçanita
29:14estão agora
29:15muito perto
29:15do objetivo,
29:16no meio
29:17de mata impenetrável.
29:19Selva,
29:19selva serrada.
29:21Entre o Onzo
29:22e Nambuangongo,
29:23não,
29:24antes não,
29:25mas entre o Onzo
29:25e Nambuangongo,
29:26eram 5 ou 6 quilómetros,
29:28era selva serrada
29:29de um lado
29:29e do outro.
29:29E eu só tinha
29:32uma coisa a fazer,
29:35era disparar
29:36para a frente,
29:37para a retaguarda,
29:38para a direita
29:38e para a esquerda,
29:39vindo-me treinadores
29:40a fazer tiro
29:40ao mesmo tempo.
29:41Sabe o que é isto?
29:43É de ficar louco,
29:45ficar surto,
29:47louco,
29:47com os nervos
29:48completamente desfeitos.
29:50Mas cheguei
29:51a Nambuangongo
29:52nesses 5 ou 6 quilómetros,
29:55sem o único ferido.
29:57Não é fácil
29:59apurar o número exato
30:01das baixas
30:01verificadas
30:02na Operação Viriato,
30:03que demorou
30:04cerca de um mês.
30:05Nas fileiras
30:06dos combatentes angolanos,
30:07os mortos e feridos
30:08contar-se-ão
30:09por centenas.
30:10Quanto aos portugueses,
30:11um balanço
30:12segundo os relatórios
30:13das principais unidades
30:14indica que mais
30:15de 80 militares
30:16foram postos
30:16fora de combate.
30:1823 mortos
30:19e 65 feridos
30:20foram registados
30:20no campo de batalha,
30:22mas alguns dos feridos
30:23poderão ter morrido
30:24depois,
30:24o que elevaria
30:25os custos humanos
30:26da reocupação
30:27de Nambuangongo.
30:32Chegámos lá
30:33às 5 e 45 da tarde,
30:36às 6 horas,
30:36que foi a noite.
30:37Fiz uns tiros
30:39da palpação.
30:40Eu não tive
30:41reação nenhuma.
30:43As casas
30:44todas
30:45destilhadas,
30:46a igreja destilhada,
30:48os altares
30:49todos destruídos.
30:50E vi apenas
30:51uma imagem
30:52da Nossa Senhora
30:53perto da escada.
30:56Ficámos lá
30:57e na manhã
30:58do dia 10
30:59começa a receber tiros
31:01no Nambuangongo.
31:02E eu penso
31:03que eram
31:04terroristas.
31:06E afinal de contas,
31:10mas vejo que os tiros
31:11vêm deste lado.
31:12E eu tinha na véspera
31:13visto-lhes
31:13fugir naquele lado.
31:15Tinha que ser o Abrão.
31:16Eram nove horas
31:18no dia 10 de agosto.
31:20Os homens
31:21do batalhão
31:21de Infantaria 96
31:22que ali chegaram
31:23horas antes
31:24receberam o esquadrão
31:25de maneira delirante.
31:46Naquela altura,
31:54quer o Abrão,
31:55quer eu
31:55e todos os homens
31:56já tinham os nervos desfeitos.
32:00Eu vi
32:00nas lágrimas
32:02dos meus saudados,
32:05no sorriso de satisfação,
32:07nas expressões do rosto,
32:09onde havia lágrimas
32:11e o sentimento,
32:14o prazer extraordinário
32:15do objetivo conquistado.
32:19E ainda foi
32:19com emoção
32:21que nós,
32:23aqui à chegada,
32:24quando o pelotão
32:25da vanguarda
32:26se punha a linha,
32:27eu vinha com eles
32:28e chegámos
32:30no Mongongo,
32:31vimos a imagem,
32:33coisa milagrosa,
32:34do coração de Maria,
32:36aqui,
32:37absolutamente intacto.
32:39Isso parece-me
32:40que é um bom augurio
32:42para o batalhão.
32:43Os soldados apenas
32:44viram a imagem
32:45do nosso senhor
32:45abraçaram-se a ela
32:46e o comandante
32:47correu também para ela
32:49e disse,
32:49se não é um milagre,
32:50é um bom preságio.
32:52E a partir deste momento
32:53a imagem é a nossa.
32:55Um episódio
32:56com especial significado
32:57para Francisco Jorge,
32:58sendo ele padre.
33:00Quando se ofereceu
33:00para a guerra
33:01como capelão,
33:02o bispo de Leiria
33:02fez-lhe uma oferta
33:03que deveria
33:04acompanhá-lo em Angola.
33:06Exatamente aquela
33:07que voltou agora
33:07a acompanhá-lo,
33:0840 anos depois
33:09da barja do batalhão 96.
33:10Partimos
33:11da Rosa de Santarém
33:13para a Operação Viriato
33:15acompanhado
33:16da imagem
33:17de Nossa Senhora
33:17de Fátima
33:17que é histórica
33:18porque é a primeira
33:19imagem
33:19que aparece
33:20na guerra de Angola.
33:22É a primeira imagem
33:22que é esta
33:23que está aqui.
33:24E dormia
33:25com ela
33:25abraçado
33:26a mim,
33:27convencido.
33:28Vou chegar ao fim.
33:29Portanto,
33:29guardou-me.
33:30E tanto esta imagem
33:31que nos acompanha
33:32em toda a viagem
33:32até Nabongongo.
33:35E quando chegamos
33:35a Nabongongo
33:36encontramos
33:37o Sagrado Coração
33:38de Maria.
33:39O momento
33:40estimulava manifestações
33:41de fé individual
33:42e coletiva.
33:43Na fuga
33:44era difícil
33:44aos elementos
33:45da UPA
33:45transportarem
33:46a imagem
33:46para a mata.
33:47Por isso
33:48a deixaram.
33:49No entanto,
33:50para muitos militares
33:51que atingiam
33:51ilesos
33:52o fim da jornada.
33:54Um encontro
33:54assim só podia
33:55ser milagre.
33:57Talvez tão grande
33:58como o facto
33:58de poderem
33:59içar a bandeira
34:00na Torre da Igreja
34:01onde se mantiveram
34:02em colmo
34:02como eles próprios.
34:04Essa imagem
34:05da Virgem.
34:08Alô, Comandante Falcão.
34:17Aqui reportagem
34:19da Emissora Nacional
34:20que está neste momento
34:22a sobrevoar
34:24Nabongongo.
34:26E já que estamos
34:27em contacto
34:28com o Comandante
34:29das Forças
34:30que reocuparam
34:32essa povoação
34:33onde estamos
34:34a ver
34:35com muita satisfação.
34:37com muito orgulho
34:38com muita emoção
34:40a flutuar
34:41a bandeira nacional
34:43queríamos
34:44antes de mais nada
34:46Senhor Comandante
34:47testemunhar-lhe
34:48o agradecimento
34:50de todos
34:51os portugueses
34:52pelo esforço
34:54despendido
34:55pelos homens
34:56sob o seu comando.
34:58Nabongongo
34:59como todas as batalhas
35:01é mais do que
35:02uma única história.
35:03É o passado
35:04dos competentes
35:04angolanos da UPA
35:05e o dos militares
35:06do exército português.
35:09Esta reportagem
35:09foi buscar esses homens
35:10ao longínquo
35:11o ano de 1961
35:12e juntou-os
35:13juntando memórias
35:15muito afastadas.
35:16muito bom.
35:16O que foi isso de mão?
35:18Na mão é o tiro.
35:19Foi o tiro mesmo
35:21que foi lá.
35:22Um tiro que foi lá
35:25na mão.
35:25A mão é um tiro
35:26que foi lá.
35:27Mas diga-me cá
35:27uma coisa.
35:28Era de onde?
35:28Eu?
35:29Era do Kikunjo.
35:31Nós chegámos lá
35:32no dia 5 de agosto
35:33de 1961.
35:34O senhor lembra-se?
35:35Lembro.
35:36O senhor viu?
35:37Sim, senhor.
35:37O senhor também
35:37era lá do Kikunjo.
35:38Também é do Kikunjo.
35:39E vocês não nos atacaram
35:42nessa altura porquê?
35:43Antes de chegar
35:44para o Mokondo
35:45no Kikunjo e Cabo Suca
35:47onde houve
35:47uma grande ataque.
35:49E foi onde morreu
35:50o Moneca Paca?
35:51E onde morreu
35:52o gigante comandante
35:53Maneca Paca.
35:55Tanto assim
35:56as forças
35:57tiveram desorganizado.
35:58Ah, no Mokondo.
35:59Atacou-se no Mokondo,
36:00senhor.
36:01Primeiro no Kikunjo e Cabo Suca.
36:03Sim.
36:04Prejuízo.
36:04Depois espantamos.
36:05Quando se organizou
36:07de novo
36:07na capela
36:08lá na igreja
36:09metodista.
36:09Na missão.
36:10Lá na missão protestante.
36:11Toda a feita em Tijolo.
36:13Pois.
36:13Onde houve um assalto
36:14também brutamente.
36:16Houve um prejuízo
36:17do nosso lado.
36:18Portanto,
36:18também houve disperso
36:19da maioria da força.
36:20Houve um prejuízo
36:21bastante grande
36:22porque nós contámos
36:22de facto
36:23bastantes mortes.
36:24Sim, senhor.
36:24Porquê que vocês
36:25quando atacavam
36:26soltavam aqueles gritos
36:27de upa, upa, upa?
36:31Aquilo ali
36:32quer dizer
36:33é para encorajar
36:34as pessoas
36:34porque nós
36:35naquele momento
36:36armamento
36:37estávamos fracos.
36:38Estamos abaixo.
36:39Sim.
36:39Então,
36:40com coragem
36:41de muita gente
36:42a gritar.
36:43Então,
36:43as pessoas
36:44devem ter medo
36:46receio de avançar
36:47com a coragem
36:48dos outros
36:49estão a gritar.
36:49Se os outros
36:50estão a avançar
36:50eu vou reguar.
36:51Logo,
36:52é uma vergonha
36:52em casa.
36:53Deixa eu avançar.
36:55Olha,
36:55e vocês
36:55com esse grito
36:56também
36:56não pensavam
36:58meter-nos medo?
37:00Não.
37:00Era só para
37:01se encorajarem
37:02a vós próprios?
37:02Não era para
37:03nos meterem medo?
37:04Mas nós é que
37:05tínhamos medo
37:05ao fim e ao cabo.
37:06Hoje também
37:07tínhamos medo.
37:08Pois tínhamos
37:08uma série de pós
37:11ao mesmo tempo
37:11vindos da mata
37:13que era uma coisa
37:13que a gente temia.
37:14Sabiam que a
37:15tropa portuguesa
37:15tinha padres?
37:17Sim,
37:17sabíamos
37:18porque
37:19o exército
37:20português
37:21sempre trabalhou
37:21com a missão
37:22católica.
37:23Portanto,
37:24é como nós
37:24também trabalhamos
37:25com a missão
37:26protestante.
37:27Nós somos
37:27metodistas.
37:28Os dois?
37:29somos irmãos
37:30e Deus é o mesmo
37:30e o Pai nosso
37:31é igual.
37:31Para nós
37:32estávamos igual.
37:33Está bem
37:33onde a tribo
37:34atribar.
37:37Olha,
37:37por exemplo,
37:37faço uma pergunta.
37:38Eu também
37:39sou católico,
37:40mas combati
37:41no protestante.
37:42Não podia ter voz
37:43na altura.
37:44Olha,
37:45vocês eram chefes.
37:47Não podia ter voz
37:48porque era
37:49a limitação
37:50que não podia
37:50traduzir
37:51a situação
37:52de católica
37:53para evitar
37:54a confusão
37:55que ele pode
37:56fazer o endereço
37:57aos companheiros
37:57portugueses.
37:58Antes de partir
37:59para o combate
38:00tem que rezar.
38:01A chegada
38:02tem que agradecer
38:03a Deus.
38:04Quero por bem
38:05como por mal.
38:06É assim que fizemos
38:07até na última instante.
38:09Somos iguais.
38:10O Deus é o mesmo,
38:11o seu e o meu
38:12é o mesmo.
38:13Sim.
38:13A palavra
38:14é tão diferente.
38:15No quartel
38:15ou no batalhão
38:16no control português
38:18fazia as orações
38:19para nos atacar
38:20e nós também
38:20fazíamos orações
38:21para contra-ataque.
38:22O Maneca Paca
38:23comia pessoas humanas
38:25ou carne humana.
38:26O Maneca Paca
38:28não foi o homem
38:29que comia
38:29a vida humana,
38:30não, senhor homem.
38:31É um homem justo,
38:33guerrilheiro
38:33e tomou muito selo.
38:35Quando diz
38:36o Maneca Paca
38:37o Maneca Paca
38:38nasce.
38:38Não, é mentira.
38:39Vocês não fizeram resistência
38:40em Namangongo
38:41porquê?
38:42Nós não fizemos
38:43a resistência.
38:44Quando vimos a força
38:45foi demais.
38:47Nós tivemos que
38:47recuar a retaguarda
38:48para isso,
38:49organizar.
38:50Tiveram medo.
38:51Nessa altura
38:52tiveram medo.
38:53E o que é que vocês pensaram
38:54quando a gente
38:55tomou Namangongo?
38:56não ficamos perdidos
39:00a guerra,
39:02mas tínhamos perdido
39:02a batalha.
39:04Portanto,
39:04nessa circunstância,
39:06é assim que houve
39:07um silêncio,
39:08do vidro,
39:09de todos os quartéis,
39:10onde fazíamos a movimentação,
39:11tudo quanto estiveram
39:12recuperado.
39:13Portanto,
39:14todo o homem
39:14estava disperso.
39:15Porque a mesma
39:16força do Namangongo
39:17é que fortificou
39:19as forças
39:20do Quipedro,
39:21aqueles paraquedistas
39:21que chegavam.
39:25Pela primeira vez
39:26na guerra,
39:26são lançados
39:27paraquedistas.
39:28De um avião
39:29C-54 Skymaster
39:30saltam sobre
39:31Quipedro,
39:32uma povoação
39:32para onde ou
39:33para retirar
39:33as forças
39:34que tinha em Namangongo
39:35a cerca de 90 km.
39:37A operação
39:38terá surpreendido
39:38os rebeldes,
39:39que só reagiram
39:40dias depois.
39:41Nós saltámos
39:42em Quipedro
39:43em agosto,
39:43com bastante medo,
39:47era o primeiro salto
39:47operacional.
39:49Tinham-nos descrito
39:50que o inimigo
39:50era muito agarrido,
39:51que havia lá
39:51muitos,
39:52muito inimigos.
39:56E era uma coisa
39:57que envolvia
39:58um certo risco.
40:00Pelo menos
40:01era o que nos diziam.
40:03Graças a Deus
40:03corrompou tudo bem.
40:05Saltámos-nos,
40:06tivemos os indivíduos
40:07com os pés partidos
40:08e tal,
40:09umas entorces.
40:10Houve uns tiros
40:11e uns tiraques,
40:11mas nada de importante.
40:13Pouco tempo
40:15depois do seu
40:16primeiro lançamento,
40:17os paraquedistas
40:17são de novo
40:18chamados a intervir,
40:19desta vez,
40:20na Serra da Kanda,
40:21uma região próxima
40:22da fronteira
40:23que constitui
40:24uma linha de infiltração
40:25e uma zona
40:26de refúgio
40:26de guerrilheiros.
40:28A força de paraquedistas
40:29é lançada
40:30numa operação conjunta
40:31de quase duas semanas,
40:32depois de reocupadas
40:33algumas populações
40:34e reabertos itinerários
40:36por tropa terrestre,
40:37apoiada pela aviação.
40:40O ataque à Serra da Kanda
40:41marca, aliás,
40:42o aparecimento
40:42do helicóptero
40:43na guerra,
40:44numa altura em que
40:45a atividade insurrecional
40:46continuava bastante intensa,
40:48não só na região
40:48dos Demos,
40:49mas, nomeadamente,
40:50na área Carmona,
40:51Negarje,
40:52Camabatela.
40:54A situação é acompanhada
40:55de perto
40:55pelo ministro do Exército,
40:57Brigadeiro Mário Silva,
40:58que durante 15 dias
40:59viaja por diversas localidades,
41:02incluindo Carmona,
41:03sendo visível
41:03o aparato de segurança,
41:05eloquente
41:06sobre os receios
41:07das autoridades
41:07e da população.
41:11Em finais de agosto,
41:12mês em que tinham sido
41:12reocupadas 16 povoações,
41:15os números oficiais
41:15assinalam que,
41:16desde fevereiro,
41:17tinha havido perto
41:18de uma centena de mortos,
41:20quase todos do Exército.
41:22O final do mês
41:23revela, entretanto,
41:24algum abrandamento
41:25da guerrilha
41:25na sequência
41:26das operações
41:26de Nampo,
41:27Angongo e Quipedro,
41:28que levaram a uma dispersão
41:29dos elementos da UPA.
41:31Deslocando-se para o sul,
41:32os guerrilheiros
41:33entrincheram-se
41:34na zona da Pedra Verde,
41:35onde podiam controlar
41:36as vias de acesso
41:37para o norte.
41:38A esse lugar montanhoso,
41:39situado à entrada
41:40dos Dempos,
41:41os portugueses
41:42passaram por isso
41:42a chamar
41:43o último refúgio.
41:47O principal objetivo
41:48militar português
41:49é agora uma lenda,
41:50num golpe de guerra
41:51psicológica da UPA.
41:55Uma montanha
41:56rodeada de matas
41:57impenetráveis,
41:58atravessada por galerias,
41:59onde poderes
42:00indestrutíveis
42:01esperavam a tropa.
42:04A Operação Esmeralda
42:12é atribuída
42:12a uma força baseada
42:13no Batalhão
42:14de Caçadores Especiais
42:15261
42:16e composta
42:17por unidades
42:17de artilharia
42:18e de engenharia.
42:20Na primeira semana,
42:21a progressão
42:22é muito cautelosa
42:23e lenta.
42:24A coluna chegou
42:24a demorar um dia
42:25para percorrer
42:26pouco mais de 200 metros
42:27por difíceis picadas.
42:29Dezenas de abatizes
42:33cuja remoção
42:34exigia por vezes
42:35o recurso
42:35a botar-vos
42:36continuavam a ser
42:37uma importante arma
42:38da UPA
42:38para travar
42:39a marcha das colunas
42:40através de emboscadas.
42:41Após uma semana
43:03de avanços
43:04por entre duros combates,
43:06a força do Coronel
43:07João Prego
43:07atinge
43:08e ocupa
43:09a senzala
43:09Kissa Cala,
43:11entretanto atacada
43:11pela artilharia
43:12e pela força aérea.
43:14Depois da aviação
43:14ter investigado
43:15durante cerca
43:16de duas horas e meia
43:16o objetivo
43:17do Lombardia
43:18de não só
43:18a base da Pedra Verde
43:19quando ainda
43:19é a senzala
43:20que ficam próximas
43:22em toda hora
43:22a artilharia
43:23abrir caminho
43:24para a companhia
43:25de caçadores.
43:32Em 20 de setembro,
43:33a coluna alcança
43:34a senzala
43:35do Lemba
43:35que fica na base
43:36da Pedra Verde
43:37após uma manobra
43:38em que convergiu
43:39de três pontos diferentes,
43:40talvez surpreendendo
43:41as defesas contrárias.
43:43Sofrera muitas baixas,
43:45mas a dureza
43:45da resistência
43:46dos competentes
43:47da UPA
43:47não confirmava a lenda.
43:50O ponto mais alto
43:51do maciço
43:51da Pedra Verde,
43:52o morro
43:53Camo Congolo,
43:54estava agora
43:55à mercê
43:55dos militares portugueses.
43:56Os homens
43:57estão a alcançar
43:57agora o cimo
43:58da Pedra Verde.
43:59Faltam-nos
43:59uns escassos metros.
44:02Cá debaixo
44:03dão-se informações
44:03sobre a orientação
44:05que devem seguir
44:06visto que estão
44:06sempre a beirar
44:07um precipício
44:08de uma altura
44:09na ordem
44:10dos 600 metros,
44:11cortada a pique
44:12e que se afunda
44:12na espessura
44:13da floresta.
44:15O oficial
44:16que comanda
44:16esta coluna
44:17ordenou já
44:18a formatura
44:19e vai ser disparada
44:21uma salva
44:22de três tiros.
44:29Não há dúvida
44:30que o inimigo
44:31não esperava
44:32este resultado
44:34tão rápido
44:34e que para nós
44:36se cifrou
44:37em menor
44:38percas de vida
44:40e em obtermos
44:44na verdade
44:45bastante material
44:47e resultados
44:50de certo modo
44:51imprevistos
44:52e favoráveis.
44:54Em breve
44:55as forças armadas
44:56recuperam todo o território
44:57sob o controle
44:58da UPA
44:58o que tem efeitos
44:59internos
45:00e externos.
45:01A visita à Luanda
45:02de Manem Williams
45:03o subsecretário
45:04de Estado americano
45:04para os assuntos
45:05da África
45:05coincide com a tomada
45:07de Nam Boangongo
45:07ponto importante
45:09da atuação portuguesa
45:10que os Estados Unidos
45:11seguem atentamente.
45:13O relacionamento
45:14entre Portugal
45:15e a administração Kennedy
45:16estava então dominado
45:17por divergências de fundo
45:18constantemente expressas
45:19na ONU.
45:21Portugal
45:22acusava Washington
45:23de apoiar e receber
45:24Oldham Roberto
45:25embora o líder da UPA
45:26se queixasse da falta
45:27de apoio militar americano
45:28e enquanto acusava
45:30os Estados Unidos
45:31de não defenderem Angola
45:33do comunismo
45:33aproveitava
45:34para responder a Portugal.
45:35Se os portugues
45:37acusavam-se de ser
45:38comunistas
45:39porque o único argumento
45:40que eles têm agora
45:41e a coisa
45:43que acusavam a UPA
45:45de ser comunistas
45:45muitos dos países
45:47os Estados Unidos
45:48irão voltar
45:48então.
45:50Eu posso te dizer
45:51que nós não somos comunistas
45:54mas lutamos
45:54pela liberdade
45:55e nós não pensamos
45:57que o único comunismo
45:57é uma liberdade
45:58para as pessoas.
46:01Ajuda militar
46:03a América não deu ajuda militar.
46:05Ofereceram as bolsas
46:06depois
46:07as organizações
46:08filantrópicas
46:09americanas
46:11começaram a oferecer
46:12medicamentos.
46:13Não havia um apoio
46:14oficial americano
46:16em termos
46:16logísticos
46:18em termos de dinheiro.
46:19Não, não havia.
46:20Também relativamente
46:21a Portugal
46:21o apoio militar americano
46:23ajuda a perturbar
46:24as relações
46:24entre os dois países
46:25que sendo aliados
46:26estão agora
46:27em oposição.
46:29John Kennedy
46:30adverte Salazar
46:30as tropas portuguesas
46:32não podem usar
46:33em Angola
46:33aquilo que Portugal
46:34tenha recebido
46:35enquanto país membro
46:36da NATO
46:36veículos
46:37munições
46:38armas
46:39material que
46:40na verdade
46:41estava a ser usado.
46:44Essas
46:45que nos foram entregues
46:46foram
46:47eram armas
46:49da marca
46:50FN
46:51era armamento
46:52NATO
46:53não deveriam
46:55ser utilizadas
46:56fora
46:57do espaço
46:58NATO.
46:59Havia
46:59instruções
47:01muito fortes
47:02porque
47:03uma arma
47:03daquelas
47:04nunca
47:05por nada
47:06poderia
47:06se cair
47:07nas mãos
47:08do inimigo.
47:10Bombas de Napalm
47:11americanas
47:11lançadas em Angola
47:12embaraçam também
47:13Washington.
47:14Estilhaços
47:14recolhidos por uma
47:15equipa de televisão
47:16dos Estados Unidos
47:16confirmam a denúncia
47:18de um jornal inglês.
47:19uma cidade
47:20que nós
47:20entramos
47:20foi
47:21como se
47:21fosse
47:21completamente
47:22escorched
47:23por um
47:23fogo.
47:24fogo.
47:26In a
47:26wreckage
47:27there
47:27were
47:27fragments
47:28of
47:28bombs.
47:32Some
47:32of
47:33the
47:33people
47:33who
47:34had
47:34lived
47:34here
47:34came
47:35out
47:35of
47:35hiding
47:35to
47:36tell
47:36us
47:36what
47:36had
47:36happened.
47:37On
47:38a
47:38day
47:38A reportagem
48:02foi exibida
48:02pela NBC
48:03e os seus
48:03autores
48:04viriam
48:04testemunhar
48:05perante as
48:05Nações Unidas
48:06sobre o que
48:07viram.
48:08Robert Young
48:09e Charles
48:10Durkens
48:10terão sido
48:11os únicos
48:11repórteres
48:12a acompanhar
48:12os competentes
48:13da UPA
48:13nas matas
48:14angolanas
48:14na sequência
48:15do levantamento
48:16de 15 de
48:17março.
48:27A reportagem
48:31mostra que era
48:32conhecido na mata
48:33o apoio
48:33norte-americano
48:34e revela também
48:35aspectos de assistência
48:36a refugiados
48:37num hospital
48:37do Congo.
48:38milhares de refugiados
49:04tinham passado
49:05a fronteira.
49:06Uns
49:06por não
49:07aderirem
49:07à revolta
49:08fugiam
49:08dos rebeldes
49:09outros
49:09fugiam
49:10da repressão
49:10portuguesa
49:11outros
49:11ainda
49:11refugiavam-se
49:12mas
49:13continuavam
49:13a apoiar
49:14a UPA.
49:15Nos princípios
49:16antes do dia 15
49:17os dias
49:18que a gente
49:18vendia o café
49:19a gente
49:20contribuía
49:21a UPA.
49:22Depois da guerra
49:23que estavam
49:23nas matas
49:24aquele que
49:25refugiava
49:28pelo Congo
49:28em tanto
49:30havia
49:31comerciante
49:32vendendo
49:32aquilo
49:32que
49:33vende
49:33isto
49:33aqui
49:33tanto
49:34contribuía
49:35para
49:35a
49:36revolução.
49:37Na mata
49:37já não
49:37saia dinheiro
49:38mas
49:39aqueles
49:39todos
49:40que
49:40refugiavam
49:41para o Congo
49:42são
49:42esses
49:43que estavam
49:43a suscitar
49:44a revolução.
49:45Face à dimensão
49:48do problema
49:48dos refugiados
49:49as autoridades
49:50congolesas
49:50pediram auxílio
49:51à Cruz Vermelha
49:52e às Nações Unidas.
49:54Alegavam falta
49:54de condições
49:55para enfrentar
49:56a situação
49:56tendo sido calculado
49:57em mais de 120 mil
49:59o número
50:00de angolanos
50:00deslocados.
50:02Com a estabilização
50:03gradual
50:03da situação
50:04no norte de Angola
50:05muitos refugiados
50:06começavam a retornar
50:07às suas terras.
50:09A reabertura
50:09de estradas
50:10ajudava
50:11a reativação
50:11da economia
50:12com os colonos
50:13a retomarem
50:13a laboração
50:14nas fazendas
50:14e nas empresas.
50:16Deste modo
50:17e embora
50:17ainda sob dois fogos
50:18as populações
50:19em geral
50:20enseiavam um regresso
50:21mas nem sempre
50:22por vontade própria.
50:24Muitas vezes
50:24eram obrigadas
50:25pela pressão
50:26das autoridades
50:26cívias e militares.
50:28As populações
50:29precisam de comer
50:30e de maneira
50:32que uma das medidas
50:33era bloquear
50:34o acesso
50:35das populações
50:35que estavam na mata
50:36às labras
50:37para dificultar-lhes
50:40o acesso
50:40ou tirando
50:41aquilo
50:42a comida
50:42que está
50:42a manchilagem
50:44a mandioca
50:44que estava a crescer
50:45que estava a crescer
50:46tirando-a
50:46não é?
50:47Ou eu ia buscando
50:48ali na zona
50:48e eles passavam
50:49a ter medo
50:50lá e a buscar.
50:51De maneira
50:51que eles
50:51a pouco
50:52e pouco
50:52começaram
50:52a entregar-se.
50:55Eram bem recebidos
50:56era a chamada
50:56ação psicosocial
50:58não é?
50:58O que era a psicosocial?
50:59Como eu conheci os negros?
51:02Um chefe
51:03responsável
51:03punha numa garrafa
51:05uma mensagem
51:06e eu ia falar
51:08para falar contigo
51:08para este aspecto
51:09e tal e tal
51:10punha a rola
51:13na garrafa
51:13e pendurava
51:14numa árvore
51:15num sítio
51:16daquelas picadas
51:16que eles chamavam
51:17picada a pé
51:18quer dizer
51:19aqueles carralhinhos
51:20sabia que não era
51:21hoje e amanhã
51:22passa
51:22e depois tendia
51:25naquelas zonas
51:25todas
51:26essas garrafas
51:26com essas mensagens
51:27e depois de ter
51:29a zona toda
51:30percorrida
51:30voltava
51:31atrás à primeira
51:32para saber
51:32respostas
51:33Sim, havia um trabalho
51:36de ação psicológica
51:37feita por indivíduos
51:39de ordem vária
51:40anárquica
51:41isto é
51:42sem nenhuma linha
51:43de
51:44de conduta
51:46a seguir
51:47No mínimo
51:47era ridículo
51:48são pessoas
51:49completamente
51:50fora das realidades
51:51que querem fazer
51:53a psicosocial
51:54com os mesmos
51:54que andaram
51:55na guerra
51:57a massacrar
51:58a incendiar
51:59etc
51:59Escreviam no mato
52:02a gente normalmente
52:03fazia uma operação
52:04ou duas
52:04em força
52:05no sítio
52:05onde eles estavam
52:06achavam que
52:07mudar de vida
52:08era o melhor
52:09e então apresentavam-se
52:10no quartel
52:10pagavam o imposto
52:12e tinham alguns
52:14terrenos
52:14para eles plantarem
52:15Procurávamos
52:16contratar a população
52:18e explicar-lhe
52:18que estava o melhor
52:19do nosso lado
52:20que estavam mais
52:21tranquilos ali
52:21que podiam trabalhar
52:23melhor as suas lágrimas
52:23que tinham mais segurança
52:25que tinham mais apoio
52:26de saúde
52:27e alimentar
52:28e tudo
52:28e que portanto
52:29ali nós os
52:30podíamos auxiliar
52:31e estavam bem connosco
52:32e que tinham segurança
52:33não tinham que rezear nada
52:34Portugueses de Angola
52:36aqui estamos
52:38mais uma vez
52:39para vos falar
52:40voltai para os vossos povos
52:43o médico virá
52:44para curar os doentes
52:45virá um professor
52:51para ensinar os miúdos
52:53voltai
52:53lançando apelos
52:55a partir da população
52:56de Malel
52:56junto à fronteira
52:57o oficial de informações
52:58espera ser ouvido
52:59pelos angolanos
53:00refugiados no Congo
53:01em aldeamentos
53:02a menos de 2 km
53:03para convencer as populações
53:06a tropa junta
53:07às promessas
53:08produtos como
53:09sal e peixe seco
53:10que escasseiam
53:11entre os refugiados
53:12e quando voltam
53:13carregadas de mandioca
53:14que vieram buscar
53:15às lavras
53:16as mulheres completam
53:17do outro lado
53:17da fronteira
53:18a ação psicossocial
53:19do exército
53:20o inimigo enganou-te
53:22e tu bem o sabes
53:23volta para Angola
53:25para Portugal
53:26volta para Portugal
53:29muitos refugiados
53:31estão agora a regressar
53:32atravessando a fronteira
53:34uma linha no meio da guerra
53:36que liga e separa populações
53:37tal como
53:38entre a mata
53:39e as povoações
53:40se fez uma outra fronteira
53:42enquanto promove o retorno
53:44o comando militar
53:45desencadeia operações
53:45como esta
53:46procurando impedir
53:47a infiltração dos rebeldes
53:49que têm as bases
53:50instaladas em território
53:51congolês
53:51as ações da UPA
53:53continuavam a manifestar-se
53:55em diversas zonas
53:55mas depois de uma situação
53:57que parecia fora do controlo
53:58a tropa tinha recuperado
54:00e durante a estação
54:01do Cacimbo
54:02com Planiara
54:03meio ano depois
54:06da inclusão do conflito
54:07o quadro afigurava-se
54:08muito mais favorável
54:09às forças portuguesas
54:10o que era visível
54:11também nas cidades
54:12ao regresso
54:14das populações
54:14aos campos
54:15correspondiam
54:16nas zonas urbanas
54:17manifestações
54:18de exaltação
54:18das autoridades portuguesas
54:20os cartazes
54:21revelam o teor
54:22da esperança dos colanos
54:23assente na figura
54:24de Adriano Moreira
54:25o otimismo
54:27domina nos círculos
54:28do poder
54:29a situação exige
54:30apenas a ação
54:31de policiamento
54:32afirma no início
54:33de outubro
54:34deslandes
54:34quisesse ele dizer
54:36mostrando grande visão
54:37que o problema
54:38agora era político
54:39ou quisesse sugerir
54:40revelando ingenuidade
54:41que a guerra
54:42tinha mesmo acabado
54:43o ministro demarca-se
54:45os tempos
54:45não correm propícios
54:47a excessos
54:48de confiança
54:48e não é oportuno
54:50esquecer
54:51quanto aproveitou
54:52aos nossos inimigos
54:53a descuidada maneira
54:55como confiámos
54:56na simples força
54:57e validade
54:58dos princípios
54:59que supusemos
55:00património
55:01comum das nações
55:02o regresso
55:04à autoridade portuguesa
55:05de comunidades
55:06que desde março
55:06estavam dispersas
55:07dentro e fora de Angola
55:08mostra que a guerra
55:09vai entrar
55:10numa outra fase
55:11a partir de agora
55:13as populações
55:13colocam-se no centro
55:14da disputa
55:15de uma sociedade
55:15fraturada
55:16dividida entre forças
55:18como a UPA
55:19que vai reorganizar-se
55:21o MPLA
55:21que se prepara
55:22para a luta armada
55:23e os militares portugueses
55:25que vão tentar
55:25separar populações
55:26e guerrilheiros
55:27conforme os manuais
55:28da luta antissubversiva
55:30que na verdade
55:31mal conhecem
55:32estamos contentes
55:35por ter acabado a guerra
55:37e a guerra
55:38é uma coisa
55:39que faz mal
55:39a gente que não tem culpa
55:41morrem crianças
55:43que não têm culpa
55:44morrem mulheres
55:45que não têm culpa
55:46e morrem também
55:47homens
55:48que têm culpa
55:49quando morre
55:50homem que tem culpa
55:51está o castigo
55:52não faz mal
55:53e se souber
55:54que há outros povos
55:55que vêm para aí
55:56outra gente
55:57começa outra vez
55:58a querer fazer
55:59na vossa cabeça
56:01coisas que não está certo
56:03vocês têm obrigação
56:04de trabalhar connosco
56:05vocês vão
56:06para as vossas terras
56:07outra vez
56:08para as vossas
56:08sanzalas
56:09mas vão
56:11agora
56:12sem
56:14ideias más
56:16na cabeça
56:16começar
56:17para o estrito
56:18todo
56:18uma época nova
56:20que dure
56:2110, 100, 500 anos
56:23de paz
56:24brancos
56:25e pretos
56:26é isso que vocês
56:27agora vão dizer
56:28àquele povo
56:28aldeias inteiras
56:37voltavam
56:38à região de Carmona
56:39e muitos homens
56:39entregavam as armas
56:40mas ao contrário
56:42do que podia parecer
56:43e do que dizia
56:44Rebochevaz
56:45a guerra não terminava
56:46na verdade
56:48tinha apenas começado
56:4910, 100, 500
56:54para o estrito
56:56e da guerra
56:56de 1, 200, 500
56:57para o estrito
56:57do que a guerra
56:58a guerra não tem
56:58que ser
57:00a guerra não tem
57:01que ser
57:02e do que a guerra não tem
57:03Obrigado por assistir.

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