- 30/05/2025
Moçambique... Angola... Guiné... As feridas de um país... As verdades escondidas da Guerra Colonial.
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ConhecimentosTranscrição
00:00:00Quando vou, meu Deus, ajude-me para que lá onde vou não fique, para não caírem no combate, Deus deve me ajudar, fazer a atividade e regressar vivo.
00:00:13Sim, eu fazia isso.
00:00:15Se Deus quiser, a gente há de sobreviver.
00:00:19Este já morreu, mas às vezes a gente escapa e Deus defende a gente.
00:00:23E isto, aquilo e aquilo, era só a nossa coisa que a gente dizia, nossos afogos.
00:00:30Quem está pedindo a Deus para Deus ajudar, que nada me oferece hoje, nem bala que não toca na mim, que não aperta a mim.
00:00:37Para Deus ajudar.
00:00:40Está fechou hoje, não está pedindo oração, passa adiante.
00:00:53Está fechou hoje, não está fechou hoje, não está fechou hoje.
00:01:23Dois anos depois de Angola, abre-se na Guiné uma nova frente de guerra.
00:01:39Com o apoio da Guiné-Conacri e Reservas do Senegal, o PAIGC obtém rápidos resultados, atacando com emboscadas e minas.
00:01:47Salazar aceita falar sobre autonomia com um grupo político guineense, mas regua.
00:01:51Em Angola, a guerra volta a agravar-se no norte, onde a UPA se tinha transformado em FNLA e combatia o MPLA, que entretanto formara também o seu exército.
00:02:02Enquanto as forças armadas procuram controlar as fronteiras com o Congo, impedindo as infiltrações da guerrilha,
00:02:08os colonos armam-se e treinam-se em autodefesa.
00:02:10O governo promove a imigração segundo a ideia de cada soldado um colono, cada colono um soldado.
00:02:17As forças militares e militarizadas parecem vassalagem a Salazar e a sua política, entretanto aclamada no terreiro do Passo em Lisboa.
00:02:25Entra a multidão uma americana, casada com Eduardo Mondelan, que um ano depois lançaria à guerra em Moçambique.
00:02:30Eduardo Mondelan começar a emergir no universo nacionalista moçambicano,
00:02:50então motivado pelos acontecimentos de Moeda em 1960,
00:02:53e já fortemente influenciado pelo ambiente antigolonial no vizinho Tanganyika, depois Tanzânia independente.
00:03:01Logo a partir dessa situação de Moeda, recordo que a única coisa que era, digamos, mais sensível
00:03:11eram as transmissões de rádio, da rádio Tanganyika,
00:03:14que tinham já uma tendência para as populações, e aliás, não o faziam em português só,
00:03:20faziam em português, faziam em Maconde, faziam em Macoa, incitando e chamando a atenção.
00:03:29Portanto, é natural que já se fosse criando um determinado ambiente, embora factos de guerra não.
00:03:34Esta onda que começa a ter ideias políticas, quer ouvindo o noticiário da Voz da América,
00:03:48quer mesmo da BBC, quer da Voz Africana, quer dizer, todos esses meios de informação iam preparando-nos,
00:04:01iam dando-nos conhecimento daquilo que se passava nos outros países.
00:04:05Então, era mais ou menos uma mobilização que se fazia.
00:04:10E a PIDA foi introduzida, nessa altura, nessa altura, na altura do UPA, naqueles anos.
00:04:18Foi introduzida e começou a organizar-se.
00:04:23As pessoas não podiam ouvir as rádios, era proibido.
00:04:28Quem fosse apanhado a ouvir essas emissoras lá, era muito perigoso.
00:04:36As pessoas viviam num clima de medo um do outro.
00:04:43Mesmo a pequena mobilização que se fazia, fazia-se entre pessoas de confiança.
00:04:53Eu, por exemplo, teria que comunicar com a Samora,
00:04:56a Samora arranjava outro indivíduo com quem se comunicava,
00:04:59e eu arranjava outro indivíduo com quem se comunicava.
00:05:01Mas nunca em grupo.
00:05:04Porque a PIDA bastava ver-nos em grupo, isso constituiu um grupo.
00:05:08Uma vaga de prisões em Lourenço Marques assinala o ano de 1961,
00:05:14na sequência de um facto que marcou a história do período pré-insurrecional.
00:05:19Eduardo Mondelano visita Moçambique como enviado das Nações Unidas,
00:05:23de que é funcionário.
00:05:24Tem então a oportunidade de viajar por várias partes do território,
00:05:28aproveitando para estabelecer contactos e promover encontros
00:05:30com algumas figuras do meio cultural e artístico.
00:05:33Desta viagem resultam conversas clandestinas e manifestações públicas,
00:05:41através das quais o Mondelano deixa mensagens mais ou menos explícitas.
00:05:44Eu lembro-me de uma provocação grande que ele fez
00:05:48numa igreja, a Igreja do Xamanculo,
00:05:52onde havia muita gente.
00:05:55Foi contar a história de uma águia,
00:05:57de um criador que tinha criado a águia,
00:06:03muito pequena, a águia cresceu.
00:06:05Mas a águia é a águia.
00:06:07E quando chegou a ver,
00:06:09eu via sempre as outras águias a cantar lá fora.
00:06:15E não deixava de responder,
00:06:17demonstrando que ele é a águia.
00:06:20E quando chegou a ver,
00:06:21as águias do Dr. Gray voaram.
00:06:25Ele deu a entender de que eu estou longe de vocês,
00:06:28mas eu hei de voltar.
00:06:29Naquela altura começou a preparar-se
00:06:32para voltar para Moçambique,
00:06:34ou pelo menos dirigir um movimento
00:06:37que pode encorajar os portugueses
00:06:41a pensar em independência para o povo moçambicano.
00:06:48Estavam radicados ou exilados em países vizinhos
00:06:50muitos dos moçambicanos que contestavam a presença portuguesa.
00:06:54Dividiam-se por três pequenos movimentos,
00:06:56a Odenamo, a Manu e a Unami,
00:06:58onde militavam alguns dos futuros dirigentes moçambicanos.
00:07:02Eram organizações sem verdadeiros programas de luta pela independência.
00:07:06Em parte criados ou apoiados na Tanzânia,
00:07:08a sua fusão numa só força
00:07:09viria a ser promovida por Nyerere,
00:07:12o presidente deste país.
00:07:13O governo tanzaniano dizia sempre
00:07:17mas a conversa ia lá e morria lá, etc.
00:07:25Até que o Coman Krumah, quando organizou em 1962,
00:07:29em junho de 1962,
00:07:31essa conferência,
00:07:32All African Freedom Faits Conference,
00:07:35ele exigiu,
00:07:36exigiu que os moçambicanos
00:07:39viessem lá como um só partido.
00:07:42Através do Nyerere,
00:07:44anunciou daqui a pouco,
00:07:46possivelmente há de vir um moçambicano
00:07:48que está nas Nações Unidas,
00:07:51trabalha nas Nações Unidas.
00:07:53Este também vai participar.
00:07:54É um homem, é um moçambicano,
00:07:56é um doutorado que há de vir também.
00:07:58E o Nyerere escreveu cartas a Mondelano,
00:08:01o Nukrumah também,
00:08:02porque o Nukrumah também percebia
00:08:03que aquela gente que ele apoiava da Odename
00:08:06não era aquela gente que teria a capacidade
00:08:09intelectual de dirigir o país.
00:08:13Então,
00:08:14e Mondelano põe como condição única
00:08:17que houvesse unidade?
00:08:19Havia um imperativo de unidade.
00:08:24E a pessoa de Mondelano
00:08:26era a pessoa que mais respondia
00:08:27pela sua idade.
00:08:29Todos nós tínhamos na altura
00:08:3119, 20 anos.
00:08:33Mondelano já tinha na época os seus 40.
00:08:36E tinha uma grande autoridade moral
00:08:38sobre todos nós.
00:08:41E sentimos que Mondelano era de facto
00:08:42o grande catalisador
00:08:45para todos nós.
00:08:48E eu fundamentalmente,
00:08:50naquele momento,
00:08:52a ideia inicial era unirmos.
00:08:55E tinha que se formar uma coisa qualquer
00:08:57para dizer aos ganhados
00:08:58que já somos unidos.
00:09:01Então, criou-se a Frelimo.
00:09:02Quer dizer, pronto, criamos a Frelimo.
00:09:04Eu também sou um deles nesse aspecto,
00:09:07na primeira fase.
00:09:08Só para ver o nome qual é.
00:09:09o Gambo trouxe lá uma lista
00:09:13de nomes.
00:09:16E nós escolhemos aquele que soava bem.
00:09:18A Frelimo da Libertação de Moçambique.
00:09:19E ficou.
00:09:21Deram uma conferência de imprensa
00:09:22assim,
00:09:23à pressa,
00:09:24a dizer,
00:09:25já foi criada
00:09:26a Frelimo da Libertação de Moçambique,
00:09:30só para...
00:09:30Aquilo apareceu na rádio
00:09:32e um cruma lá ouvir,
00:09:34a dizer,
00:09:34de fato, existe.
00:09:35Não existia.
00:09:36Existia só para querer
00:09:37feito daquela conferência.
00:09:39O acordo de unidade
00:09:40obtido no Gana
00:09:41será depois formalizado
00:09:42na Tanzânia,
00:09:43onde Eduardo Mondelano
00:09:44é escolhido
00:09:45para a presidência da Frelimo.
00:09:48Devido a compromissos
00:09:48que tem, então,
00:09:49com uma universidade
00:09:50norte-americana,
00:09:51só assumirá as funções
00:09:52alguns meses depois.
00:09:54Em setembro,
00:09:55no Congresso Constituinte
00:09:56da Frelimo,
00:09:57Mondelano é consagrado
00:09:58como o primeiro presidente
00:09:59do movimento
00:10:00e, segundo a história oficial,
00:10:02seu fundador.
00:10:03Não é fundador,
00:10:04não deu nome,
00:10:05não negociou com aquela gente
00:10:08para fazer o grupo este,
00:10:11ia haver lá reuniões,
00:10:14não fez isso.
00:10:14As coisas fizeram,
00:10:16depois ele foi chamado.
00:10:18E ele aceitou.
00:10:19Porque, de fato,
00:10:20depois das coisas
00:10:21terem sido feitas,
00:10:22faltava saber
00:10:23mas quem é o chefe?
00:10:25Quem é que vai aguentar
00:10:26que seja imparcial?
00:10:29Ele era o membro fundador.
00:10:31Eu também sou membro fundador.
00:10:33Ele era da UNAMI,
00:10:34a UNAMI juntou-se
00:10:35aos outros dois movimentos
00:10:37e formou-se a Frelimo.
00:10:39Portanto, sou fundador.
00:10:40São fundador
00:10:40todos aqueles militares
00:10:42que pertenciam
00:10:42aos três movimentos.
00:10:44Oficialmente,
00:10:45na história de Portugal,
00:10:46de Moçambique,
00:10:47escrevem ali a fundação
00:10:48não é.
00:10:48Porque isso não é verdade.
00:10:51Ele foi chamado
00:10:52pelos fundadores
00:10:52que não aparecem
00:10:54como chefes,
00:10:55está bem,
00:10:55mas foi chamado.
00:10:57O Mondelano
00:10:58não foi criador
00:10:58da Ferreira do Mondelano,
00:11:00foi chamado
00:11:00por um grupo
00:11:02de moçambicanos
00:11:03que tinham
00:11:05os seus partidos
00:11:06como o próprio
00:11:07Uriacimango
00:11:08que dirigia
00:11:08o seu partido
00:11:09o Dinamo
00:11:10e tínhamos
00:11:12o caso
00:11:13de Muguambe.
00:11:15Pois lá,
00:11:16os nossos irmãos
00:11:17de cabo delegados
00:11:17também tinham lá
00:11:18o partido deles,
00:11:19o Mano,
00:11:20essa coisa toda.
00:11:22Portanto,
00:11:22foi com a ideia
00:11:24do Júlio Junheirei
00:11:25que convenceu
00:11:27essa gente toda
00:11:28para se unir
00:11:28e criar uma
00:11:29só frente
00:11:30e conhecia
00:11:31um homem
00:11:31chamado Mondelano
00:11:33que era o funcionário
00:11:34das Nações Unidas
00:11:34e este
00:11:35podia
00:11:36dirigir
00:11:38a Ferreira do Limão.
00:11:39Alguns moçambicanos,
00:11:41nós não estávamos
00:11:41a entender
00:11:42o que eles queriam.
00:11:43Não queriam do Mondelano,
00:11:44diz que é um estrangeiro.
00:11:47Ele veio da América,
00:11:48é um americano,
00:11:49é um agente da CIA,
00:11:50é um agente da PIDE,
00:11:51acusava-te.
00:11:52Porquê?
00:11:53Veja o problema
00:11:54que havia no Congresso.
00:11:56Mas nós dissemos
00:11:57que não,
00:11:58ali era a questão
00:11:59da unidade,
00:11:59unir-me.
00:12:01Mondelano precisava
00:12:02criar uma consciência
00:12:03nacional
00:12:03que mobilizasse o povo
00:12:04e mantivesse
00:12:05contra fatores
00:12:06pessoais e étnicos
00:12:07a frágil unidade
00:12:08do movimento.
00:12:09A unidade
00:12:10era para
00:12:11libertar Moçambique.
00:12:13Como?
00:12:14Pacificamente,
00:12:14será que não?
00:12:15Luta armada.
00:12:17O Congresso
00:12:18é que decidiu,
00:12:19não foi Mondelano,
00:12:20não foi quem não.
00:12:21O Congresso,
00:12:21o órgão máximo
00:12:22é que decide
00:12:23luta armada.
00:12:24Havia aqueles
00:12:25que pensavam
00:12:26que,
00:12:27bom,
00:12:27a gente escreve
00:12:28umas cartas
00:12:28das Nações Unidas,
00:12:29nós fazemos isto
00:12:30e depois alguém
00:12:31nos vai trazer
00:12:32a independência.
00:12:33Nós dizíamos
00:12:33que não dá
00:12:34e Moedas já nos mostrou
00:12:36que não dá.
00:12:37Os que foram
00:12:37no Congresso,
00:12:38foram para lá
00:12:39e lá discutiram
00:12:40que tipo de luta,
00:12:41outro disseram,
00:12:42não,
00:12:42nós queremos luta armada,
00:12:43outro,
00:12:44não,
00:12:44vamos invadir
00:12:45Moçambique,
00:12:47não,
00:12:47vamos chamar russos,
00:12:48disse,
00:12:48não,
00:12:49vamos chamar americanos,
00:12:50vamos chamar chineses.
00:12:51Não,
00:12:52vamos chamar
00:12:53o Mkwamkrum.
00:12:54Havia algumas tendências
00:12:55que pensavam
00:12:56que a luta
00:13:01era militar
00:13:03era algo para,
00:13:05enfim,
00:13:05digamos assim,
00:13:06para intimidar
00:13:07os portugueses,
00:13:07pois,
00:13:08que não era
00:13:09a forma principal.
00:13:11Outros disseram,
00:13:12não,
00:13:12para quê?
00:13:13Portugal,
00:13:13português é pacífico.
00:13:15Vamos ficar juntos,
00:13:16discutir com eles,
00:13:17na mesa,
00:13:17comer,
00:13:18puno.
00:13:19Houve também outras tendências
00:13:21que viam a luta armada
00:13:24por fases,
00:13:30que bastaria termos uma supremacia
00:13:33numa província
00:13:34para espetarmos uma bandeira
00:13:36e proclamarmos uma independência.
00:13:40Há outros que pensavam
00:13:41que cada província
00:13:42tinha que se libertar
00:13:43por si
00:13:44e que não viam a luta
00:13:48de uma forma global
00:13:49como uma luta nacional
00:13:51de Rovuma
00:13:54até o Maputo.
00:13:55A luta armada
00:13:56decidiu-se em 64,
00:13:59no princípio de 64
00:14:00e começou
00:14:01no fim de 64.
00:14:03Não havia,
00:14:04aquilo foi uma coisa
00:14:05que,
00:14:06pronto,
00:14:06foi crescendo,
00:14:07foi,
00:14:08assim,
00:14:10o próprio Mandiná
00:14:10não era a favor disso,
00:14:13mas chegou-se
00:14:14a altura
00:14:15em que
00:14:15não havia outra coisa
00:14:16porque Portugal
00:14:17não abria as mãos
00:14:18para falar,
00:14:19negociar,
00:14:21ou permitir
00:14:22partidos
00:14:23a funcionar
00:14:25em Moçambique.
00:14:26Especulava-se um bocado
00:14:28na altura
00:14:28na altura
00:14:31que ele liderava
00:14:31a Féria Lima
00:14:32era o Mundo Reino
00:14:33e, portanto,
00:14:34talvez ele
00:14:35tivesse alguma remutância
00:14:37para ir por esse caminho
00:14:40como solução.
00:14:42E tinha,
00:14:42efetivamente tinha
00:14:43e andou por lá
00:14:45e tentou
00:14:45chegar à conclusão
00:14:47de estar a falar
00:14:48para as paredes
00:14:48ou estar a falar
00:14:49com os representantes
00:14:51do regime colonial
00:14:52naquela altura
00:14:53ou coisa.
00:14:54Mas é a mesma coisa,
00:14:55não é?
00:14:56Não havia maneira
00:14:57de eles se abrirem
00:14:59um diálogo
00:14:59deste jeito.
00:15:00No princípio
00:15:01não era a luta armada.
00:15:03Era sempre
00:15:04conversa,
00:15:04conversa,
00:15:05conversa.
00:15:06Mas só mais tarde
00:15:07viu que
00:15:08conversa
00:15:11não chegava.
00:15:14Era preciso
00:15:14fazer outra coisa.
00:15:16Quando ele chegou
00:15:17ao primeiro congresso
00:15:18e antes do primeiro congresso
00:15:20e pouco depois
00:15:20do primeiro congresso
00:15:21estivemos juntos,
00:15:22ele já tinha
00:15:23uma ideia
00:15:24bastante clara
00:15:25que a solução
00:15:26teria que passar
00:15:27pela luta armada
00:15:27de libertação nacional.
00:15:30Já tinha a ideia
00:15:31bastante clara.
00:15:32E tanto assim
00:15:33que logo
00:15:34em finais
00:15:36de 63,
00:15:38perdão,
00:15:39em princípios
00:15:39de 63,
00:15:40começa a mandar
00:15:41as pessoas
00:15:43para o treino
00:15:43militar.
00:15:45É na Argélia
00:15:46que são preparados
00:15:46os primeiros
00:15:47combatentes moçambicanos,
00:15:48aqueles que irão
00:15:49iniciar a luta armada.
00:15:51Embora a guerrilha
00:15:52da Frelimo
00:15:52venha depois
00:15:53a aproximar-se
00:15:54do modelo chinês.
00:15:56Recém-independente,
00:15:57a Argélia
00:15:57tinha uma experiência
00:15:58de 7 anos
00:15:59de luta
00:15:59contra a presença
00:16:00francesa
00:16:00e estava já
00:16:01a instruir
00:16:02angolanos
00:16:02e guineenses
00:16:03nas técnicas
00:16:04da guerrilha.
00:16:05E fora também
00:16:06na Argélia,
00:16:07ainda sob o domínio
00:16:07francês,
00:16:08que os militares
00:16:09portugueses
00:16:09tinham recebido
00:16:10os primeiros
00:16:11ensinamentos
00:16:11da luta
00:16:12anti-guerrilha
00:16:12depois de estados
00:16:13em Angola
00:16:14e na Guiné.
00:16:15Essa experiência
00:16:17irá agora
00:16:17servir aos portugueses
00:16:18numa outra
00:16:19realidade geográfica
00:16:20e étnica,
00:16:21em Moçambique,
00:16:22onde a soberania
00:16:23portuguesa
00:16:23assentava nessa altura
00:16:24na força
00:16:25de 7 batalhões
00:16:26do exército,
00:16:27uma região aérea
00:16:28e um comando naval
00:16:29com o quartel-general
00:16:30em Lourenço Marques.
00:16:32Pela rádio,
00:16:51pelos jornais,
00:16:51pelos meios de informação
00:16:52em geral,
00:16:53a vida em Moçambique
00:16:54parece inalterada.
00:16:56Apesar da intensificação
00:16:57da guerra em Angola
00:16:58e do seu início
00:16:59na Guiné,
00:17:00não há notícias
00:17:00preocupantes nas antenas,
00:17:02nem motivos de alarme
00:17:03para os brancos,
00:17:05europeus
00:17:05ou moçambicanos.
00:17:07E à noite,
00:17:08quando a cidade descansa,
00:17:09o Rádio Clube de Moçambique
00:17:10transmite,
00:17:11no seu estúdio privativo,
00:17:13programas vivos.
00:17:15Chora,
00:17:16Mariquinha,
00:17:17chora,
00:17:18chora,
00:17:20porque não tens
00:17:21o limão
00:17:22manda-me a roda,
00:17:25chora,
00:17:25ou limão,
00:17:26Mariquinha,
00:17:27seu legal,
00:17:28não está
00:17:29para que me
00:17:30não se achou,
00:17:31está no meio.
00:17:32Seguindo bastante
00:17:33alguns modelos
00:17:34culturais da metrópole,
00:17:35os colonos
00:17:35criam um mundo próprio,
00:17:37separado da população
00:17:38africana.
00:17:38O Rádio Clube de Moçambique
00:17:40emprega nos seus estúdios
00:17:42e nos seus escritórios
00:17:43uma boa centena
00:17:44de indivíduos.
00:17:48Esta festa
00:17:49foi oferecida
00:17:50pela administração
00:17:50do rádio
00:17:51ao seu pessoal.
00:17:51Moçambique recebe
00:18:06por outro lado
00:18:07a influência
00:18:07dinamizadora
00:18:08das duas potências
00:18:09regionais,
00:18:09a África do Sul
00:18:10e a Robésia
00:18:11e dos seus valores
00:18:12culturais
00:18:12de origens europeias.
00:18:14Um certo
00:18:14cosmopolitismo
00:18:15não impede
00:18:16que só agora
00:18:16estejam a ser criados
00:18:17os estudos gerais,
00:18:19a futura universidade
00:18:20com sementes lançadas
00:18:21por Adriano Moreira
00:18:22já depois de iniciada
00:18:23a guerra em Angola.
00:18:25As metrópoles
00:18:26de muitos dos países
00:18:28que nos criticam
00:18:30ou condenam
00:18:31estão recheadas
00:18:32de monumentos
00:18:34e riquezas
00:18:35que de todo faltam
00:18:37nos territórios
00:18:38por cuja administração
00:18:39foram responsáveis.
00:18:41Nós,
00:18:43pelo contrário,
00:18:44sempre pobres,
00:18:46podemos exibir
00:18:47o mais importante
00:18:49fenómeno urbanístico
00:18:50do Intertrop.
00:18:53No início dos anos 60
00:18:55a linha férrea
00:18:56que atravessava Moçambique
00:18:57estendia-se
00:18:57por cerca de 2.800 km.
00:19:00A Colónia
00:19:00tinha uma dezena
00:19:01de aeródromos
00:19:02sendo dois
00:19:02de nível internacional
00:19:03e uma rede de estradas
00:19:05com cerca de 26.000 km
00:19:07dos quais apenas
00:19:083.500 asfaltados.
00:19:11Faltam as estradas,
00:19:14as barragens,
00:19:16os caminhos de ferro,
00:19:17os portos.
00:19:20Faltam as fábricas
00:19:21e as obras
00:19:22de povoamento.
00:19:24E acima de tudo,
00:19:26acima de tudo isto,
00:19:28a defesa militar
00:19:29que se não pode
00:19:31descurar.
00:19:33Governador-geral
00:19:34e comandante-chefe,
00:19:35Sarmente Rodrigues
00:19:36concentra os poderes
00:19:37militar e civil,
00:19:38tal como
00:19:39Venâncio dos Landes
00:19:39em Angola,
00:19:40ambos nomeados
00:19:41por Adriano Moreira.
00:19:44No entanto,
00:19:44o Almirante
00:19:45sobreviverá aos dois
00:19:46de pressa
00:19:47afastados por Salazar.
00:19:50Sarmente Rodrigues,
00:19:51que já tinha sido
00:19:52ministro do Ultramar,
00:19:53defendia uma revisão
00:19:54do sistema de governo
00:19:55das colónias,
00:19:56com a concessão
00:19:57de uma maior autonomia.
00:19:59A esse propósito,
00:19:59consultou Marcelo Caetano,
00:20:01que num famoso parecer
00:20:02foi mais longe,
00:20:03sugerindo uma federação
00:20:04para Portugal.
00:20:07No entanto,
00:20:08entre colaboradores seus,
00:20:09o Almirante
00:20:10deixou a imagem
00:20:10de um defensor
00:20:11da independência
00:20:12de Moçambique,
00:20:13quando,
00:20:13em maio de 1964,
00:20:15abandonou o território.
00:20:18Sarmente Rodrigues
00:20:19tinha granjeado
00:20:20popularidade
00:20:21entre a comunidade branca
00:20:22e saía
00:20:22acusando o governo
00:20:23de indiferença.
00:20:24e me lembro
00:20:27de uma ocasião
00:20:29em que ele aqui
00:20:29se deslocou
00:20:30à metrópole,
00:20:31quando a regressou
00:20:32a Lourenço Marques
00:20:34e o Antelio
00:20:35até um senhor Almirante,
00:20:36satisfeito,
00:20:37a viagem e tal.
00:20:38E vem mais animado,
00:20:40quando disse isso,
00:20:41sabe,
00:20:42nem dinheiro,
00:20:43nem poder.
00:20:44Aquilo que pensava
00:20:45que tinha de ficar
00:20:46para o desenvolvimento,
00:20:48que era o que ele pretendia,
00:20:50para exatamente,
00:20:52no fim ao cabo,
00:20:52era o que todos,
00:20:53porque toda a gente pretendia.
00:20:54para que a independência
00:20:57se processasse naturalmente,
00:20:59mas para isso
00:20:59era um sábio preparar
00:21:01e dar.
00:21:02Os projetos do Almirante
00:21:03Sarmente Rodrigues,
00:21:03segundo ele,
00:21:04uma vez me disse,
00:21:05era fazer do Eduardo Mundo Lâne,
00:21:07governador do distrito
00:21:08de Gaza primeiro,
00:21:09deixá-lo acostumar-se
00:21:11às questões do humano
00:21:12e da moderna população
00:21:13e depois fazer dele
00:21:14secretário-geral de Moçambique.
00:21:18Ele nem tinha nem poder
00:21:19e depois teve
00:21:21a pouca sorte
00:21:22de ser
00:21:23estando-lhe lá
00:21:25que a fralemos
00:21:26levanta em armas.
00:21:29Os acontecimentos
00:21:30de Angola e da Guiné
00:21:31indiciavam
00:21:32o que poderia vir
00:21:33a verificar-se
00:21:34em Moçambique.
00:21:35Os comandos militares
00:21:36começam a estudar
00:21:36medidas de defesa
00:21:37das fronteiras
00:21:38e a considerar
00:21:39algumas alterações
00:21:40na instrução militar.
00:21:41Eu tive seis meses
00:21:43de recruta,
00:21:44muito dura,
00:21:45e já nos davam a entender
00:21:46que algo estava
00:21:47para acontecer
00:21:48também em Moçambique.
00:21:49Durante a noite
00:21:50íamos para as arrecadações
00:21:52ouvir cassetes
00:21:54do que se estava
00:21:55a passar em Angola,
00:21:57inclusivamente,
00:21:58foram nos fornecidos,
00:21:59quando eu andava
00:22:00na tropa,
00:22:01foram nos fornecidos
00:22:02livros,
00:22:03com fotografias,
00:22:04das imagens
00:22:05de pessoas
00:22:07com alguns
00:22:09com o pescoço
00:22:09cordado,
00:22:10pernas,
00:22:11queimado.
00:22:13O terreno militar
00:22:14começava a ser
00:22:15influenciado
00:22:16pelos ensinamentos
00:22:17da experiência
00:22:17vivida nas matas
00:22:18de Angola
00:22:19e da Guiné.
00:22:21Muito daquilo
00:22:22que iria mudar
00:22:22no futuro,
00:22:23com uma estratificação
00:22:24social e a discriminação
00:22:25racial,
00:22:26mantinham-se
00:22:27dentro dos guardéis.
00:22:31É dia,
00:22:32minha separação.
00:22:33Davam recrutas
00:22:34para pretos
00:22:35e para branco.
00:22:36Eles comiam
00:22:36numa sala
00:22:38de jantar
00:22:38diferente da nossa.
00:22:40Só mais tarde,
00:22:41quando começou
00:22:43isto a querer mudar,
00:22:45é que começou
00:22:46então a ficar
00:22:46tudo junto.
00:22:48Seria a guerra
00:22:49prestes a começar
00:22:50que viria a alterar
00:22:51o próprio funcionamento
00:22:52interno
00:22:53da instituição militar.
00:22:56Acreditando
00:22:56na probabilidade,
00:22:57mas não na iminência
00:22:58do conflito,
00:22:59o comando português
00:23:00foi surpreendido
00:23:01quando não tinha ainda
00:23:02implantado a quadrícula
00:23:03que planeara.
00:23:04Isto porque as prioridades
00:23:06no fornecimento
00:23:06de meios operacionais
00:23:07tinham sido dadas
00:23:08à Angola
00:23:09e à Guiné.
00:23:12Deste modo,
00:23:13em 1964,
00:23:14quando a guerra
00:23:14começa em Moçambique,
00:23:16os meios militares
00:23:17portugueses disponíveis
00:23:18são reduzidos.
00:23:19Há apenas
00:23:20quatro batalhões
00:23:21em Cabo Delgado
00:23:21e Nuneassa,
00:23:22onde a Frélimo
00:23:23primeiro se manifesta.
00:23:25Os militares
00:23:25calculavam que os ataques
00:23:26viriam da fronteira norte.
00:23:27Não há dúvida
00:23:29que a rebelião
00:23:32ou o movimento
00:23:34de libertação,
00:23:34bom,
00:23:35terroristas
00:23:35haviam de vir
00:23:36de Tanganyika
00:23:38atravessando o revuma
00:23:40muito provavelmente.
00:23:41Portanto,
00:23:43o plano
00:23:43era,
00:23:44o plano do Estado
00:23:44de maior português
00:23:45era
00:23:46preparar
00:23:49as bases
00:23:50e aeródromos
00:23:51bases
00:23:52e etc.
00:23:52para combater
00:23:54as infiltrações
00:23:57do inimigo.
00:24:00E é nessa altura,
00:24:01em 1963,
00:24:02que o piloto Jacinto Veloso,
00:24:04nascido em Moçambique,
00:24:05oficial de operações
00:24:06da Força Aérea Portuguesa,
00:24:08deserta para a Tanzânia
00:24:09ao encontro da Frélimo.
00:24:11Achei que a maneira
00:24:12mais fácil
00:24:13seria sair
00:24:14com um avião,
00:24:15um avião armado,
00:24:16um T-6,
00:24:17a Árvore,
00:24:18e fazer uma demonstração
00:24:20pública.
00:24:21Pensei nos meus
00:24:22colegas
00:24:23em Portugal,
00:24:24etc.,
00:24:25militares em particular,
00:24:27depois dizer
00:24:27que, olha,
00:24:27isto que vai acontecer
00:24:29deve ser evitado.
00:24:32Não é justo.
00:24:35Havia uma missão
00:24:37chamada
00:24:37Nangololo,
00:24:38onde
00:24:39exercia as suas funções
00:24:41um padre
00:24:41chamado Daniel,
00:24:43que foi
00:24:43aquele que deu origem
00:24:45a começar,
00:24:47de facto,
00:24:47a guerra
00:24:48no Chai.
00:24:50Ele foi morto
00:24:51no Chai
00:24:51quando se dirigia
00:24:52para Nangololo.
00:24:54Segundo os indígenas
00:24:55que eu não vi,
00:24:57me contaram,
00:24:59foi por engano,
00:25:01porque ele usava
00:25:01um jipe
00:25:02igual ao do
00:25:03chefe de posto,
00:25:04e aquilo era feito
00:25:05para o chefe de posto.
00:25:07Recordo-me
00:25:07que fui
00:25:08a assistir
00:25:09à sua missa
00:25:11de Corpo Presente,
00:25:12em Moidumpe,
00:25:13perto de Moeda,
00:25:14e foi realmente
00:25:18uma missa
00:25:19impressionante.
00:25:20a missa Luba
00:25:40era um acompanhamento
00:25:41com tambores
00:25:42e coros.
00:25:43No meio do mato,
00:25:44uma igreja,
00:25:45e perante o corpo
00:25:46do padre Daniel
00:25:47havia sido
00:25:48decapitado
00:25:49praticamente,
00:25:49era arrepiante,
00:25:50não é?
00:25:52Mas, note,
00:25:55a seguir
00:25:55não notámos
00:25:56nada de violência
00:25:57na população,
00:25:58circulava-se
00:26:00livremente,
00:26:01não havia
00:26:01qualquer tipo
00:26:02de coação.
00:26:03Pouco depois,
00:26:05a situação
00:26:05mudava,
00:26:06não só
00:26:07para as autoridades
00:26:07de Cabo Delgado.
00:26:09A morte
00:26:10do missionário
00:26:11católico holandês,
00:26:12atribuída a uma
00:26:12fação do partido
00:26:13Manu,
00:26:14terá acelerado
00:26:15os planos
00:26:15da Frélimo.
00:26:17Apenas um mês
00:26:17depois,
00:26:18guerrilheiros vindos
00:26:19da Tanzânia
00:26:19desencadeiam a guerra
00:26:21contra a soberania
00:26:21portuguesa,
00:26:23atacando a casa
00:26:23do chefe de posto
00:26:24do Chai,
00:26:25em Cabo Delgado.
00:26:33Eu fui um
00:26:35dos camaradas
00:26:38que o nosso partido
00:26:40incumbiu para ir
00:26:42desencadear a luta
00:26:43em Moçambique.
00:26:44O nosso grupo,
00:26:45constituído por
00:26:4624 pessoas,
00:26:48éramos,
00:26:50destino à província
00:26:51de Cabo Delgado.
00:26:54Saímos no campo
00:26:56no mês de junho
00:26:59e chegamos ao sul
00:27:02de Tanganyika.
00:27:05No mês de agosto,
00:27:08entrávamos em Moçambique
00:27:09para vir começar a guerra.
00:27:11Nós ficávamos na fronteira
00:27:13durante dois meses.
00:27:14Estávamos perto de armas.
00:27:16Tínhamos um grupo
00:27:16que ia atacar moeda,
00:27:20tínhamos um grupo
00:27:21que ia atacar muito poes,
00:27:24um grupo que ia para
00:27:25Moçambu da Praia
00:27:27e o grupo de Porto Abelha,
00:27:31era o meu grupo.
00:27:33Chegamos em uma zona
00:27:34em que
00:27:36alguns das sobradistas,
00:27:39também por uma intuição
00:27:40qualquer,
00:27:41decidiram matar um padre.
00:27:43Dali então,
00:27:44todo o plano mudou.
00:27:47Complicou.
00:27:48Grandemente é o nosso avanço.
00:27:50A tropa portuguesa
00:27:51ficou alerta em toda parte.
00:27:53interrompemos.
00:27:55Tivemos que mandar mensagem
00:27:56para Darcelá.
00:27:57Dizer que, ouve,
00:27:58não há possibilidade
00:27:59de avançarmos mais.
00:28:01Assim, pacificamente.
00:28:03Diga-nos
00:28:04para começarmos a luta
00:28:05em qualquer parte.
00:28:07E assim,
00:28:08avançarmos lutando.
00:28:09Não assim,
00:28:10através de
00:28:11infiltração.
00:28:13No dia 15 de setembro,
00:28:17recebemos instruções
00:28:18de começar a guerra
00:28:19no dia 25.
00:28:20Então, fizemos o plano.
00:28:24Como é que devemos fazer?
00:28:26Olha,
00:28:26se nós fizermos
00:28:28perto do Rio Ruma,
00:28:30vamos ter muita dificuldade.
00:28:32É melhor ir muito dentro.
00:28:33Chego na zona
00:28:34de Macominha,
00:28:35a situação estava difícil.
00:28:38E eu escolhi
00:28:38como algo
00:28:39Chai.
00:28:40Teve que mandar
00:28:41um dos guerreiros,
00:28:44foi para lá,
00:28:45foi ver o quartel
00:28:46e viu o quartel.
00:28:47Então, disse que
00:28:48aqui nós podemos
00:28:48fazer a operação.
00:28:49então, ele traz
00:28:50o relatório,
00:28:51traz o mapa,
00:28:52vai entregar o Cipari.
00:28:53E no dia 25,
00:28:56pelas 19 horas,
00:28:57fui atacar Chai
00:28:58com o meu grupo.
00:29:01Realizámos o primeiro combate
00:29:02e todos
00:29:04saímos salvos
00:29:05na onde morreu
00:29:07o chão de posto
00:29:08e alguns soldados
00:29:09que estavam lá.
00:29:10Não morreu
00:29:11no chão de posto nenhum.
00:29:12Ele nem estava lá.
00:29:12Ele nem estava lá.
00:29:14Olha, estava a mulher dele,
00:29:16que curiosamente
00:29:16descrevia depois,
00:29:17quando começou o ataque,
00:29:18coitadinha,
00:29:18não sabia,
00:29:19meteu-se de baixo
00:29:19da cama.
00:29:20Nem o chefe de posto
00:29:21lá estava.
00:29:22Eles diziam que
00:29:22tinham morto.
00:29:23Que é mentira, não.
00:29:25Mas foi realmente
00:29:26um ataque.
00:29:26Foi feito
00:29:27e pronto.
00:29:29Só projéteis
00:29:29nas paredes,
00:29:30mais nada.
00:29:32Não houve.
00:29:33Nem ferimentos houve.
00:29:35As únicas coisas
00:29:36que ficaram feridas
00:29:37foram as paredes.
00:29:39Porque,
00:29:39de resto,
00:29:39não houve
00:29:41nada nas pessoas.
00:29:42Rigoroso.
00:29:43É claro,
00:29:43houve o trauma,
00:29:44logicamente.
00:29:45Minutos antes do ataque,
00:29:47Manuel Barbas
00:29:48tinha estado no chai.
00:29:50Fora lá para falar
00:29:51com Felgueiras,
00:29:52o chefe do posto,
00:29:53mas não o encontrou.
00:29:55Dois dias depois,
00:29:56voltou à população,
00:29:57onde o ataque
00:29:57causara receios
00:29:58entre a população branca,
00:30:00não mais de 15 pessoas.
00:30:01Eles deviam ter entrado
00:30:03na aula,
00:30:05olhando de frente
00:30:06para a casa
00:30:06do administrador
00:30:07de posto,
00:30:07residência,
00:30:09eles deviam ter entrado
00:30:09na aula direita,
00:30:11entraram por aí,
00:30:12deram as rajadas,
00:30:13sensivelmente
00:30:14na frente da casa.
00:30:15Nas traseiras
00:30:15estava um polícia
00:30:16que dá também
00:30:17umas rajadas
00:30:18para o ar
00:30:19e consegue
00:30:19pô-los em de bandada.
00:30:21A operação do chai
00:30:22é simultânea
00:30:23com um ataque
00:30:23ao posto de Cobo
00:30:24em Uniaça.
00:30:26A Frelimo
00:30:26abria duas frentes
00:30:28de guerra,
00:30:28mas falhava
00:30:29a abertura
00:30:30de outras três
00:30:30que tinha planeado,
00:30:32na região
00:30:33de Lourenço Marques,
00:30:34em Tete
00:30:34e na província
00:30:35da Zambésia,
00:30:36junto ao Malawi.
00:30:39Nós subestimamos
00:30:41a capacidade
00:30:43de reposta
00:30:45portuguesa
00:30:46dentro do Malawi,
00:30:47portuguesa
00:30:48rhodesiana
00:30:49e sul-africana,
00:30:50de modo que
00:30:51uma atitude
00:30:52relativamente favorável
00:30:53que banda
00:30:55e os seus elementos
00:30:56tinham,
00:30:58transformou-se
00:30:58numa atitude
00:30:59de profunda hostilidade,
00:31:00depois de ele
00:31:02tomar o poder
00:31:03como um país
00:31:04independente,
00:31:05mudou
00:31:05de política
00:31:07e então
00:31:07começou a proibir
00:31:09a passagem
00:31:11de guerrilheiros
00:31:11e, sobretudo,
00:31:12guerrilheiros armados
00:31:13pelo território
00:31:16malauiano.
00:31:17Inclusive,
00:31:17houve companheiros
00:31:18nossos
00:31:18que ele quis
00:31:19prender
00:31:20e entregar
00:31:20aos portugueses
00:31:21para serem mortos,
00:31:22incluído,
00:31:23como lembrar,
00:31:23de Bonifácio
00:31:24e outros.
00:31:25Havia prisões
00:31:26em massa
00:31:26no Malawi.
00:31:27Todo o reforço
00:31:28que vinha
00:31:28de Tanzania
00:31:30eram presos
00:31:31no Malawi.
00:31:33E qualquer um
00:31:34que saísse
00:31:36do interior
00:31:36para ir para a fronteira,
00:31:38fazer compras
00:31:39de pequenas coisas,
00:31:40pequenas coisas
00:31:41para o primeiro socorro,
00:31:43por exemplo,
00:31:44material de saúde
00:31:45para o primeiro socorro,
00:31:46eram presos.
00:31:47Depois dos ataques
00:31:49de Mongue,
00:31:50Tacuane,
00:31:52Tacuane outra vez,
00:31:54em busca de Mongue,
00:31:56ataque de Milãs,
00:31:57não sei o que lá,
00:31:57tudo.
00:31:59Já não tínhamos munições.
00:32:00Não conseguimos
00:32:01manter o abastecimento
00:32:03das nossas forças
00:32:05na província
00:32:06da Zambésia
00:32:07depois de 1965.
00:32:11Por isso tivemos
00:32:11que travar,
00:32:12parar com esta frente
00:32:14para nos reorganizarmos.
00:32:17Dificuldades
00:32:18com o abastecimento
00:32:19da guerrilha,
00:32:19mas também problemas
00:32:20com a adesão de régulos
00:32:21e população
00:32:22à luta da Frelimo
00:32:23e ainda
00:32:24o importante papel
00:32:25então desempenhado
00:32:26pelas redes da PIDE
00:32:27dentro de Moçambique
00:32:28e fora das suas fronteiras.
00:32:30São estes
00:32:31os principais fatores
00:32:32que se conjugaram,
00:32:33ditando o fracasso
00:32:34das frentes
00:32:34da Zambésia
00:32:35e de Tete.
00:32:37Seguindo os movimentos
00:32:38da Frelimo
00:32:38através de informadores
00:32:39nos países vizinhos,
00:32:41a PIDE foi então
00:32:41muito eficaz
00:32:42no combate
00:32:43à subversão no sul
00:32:44que se apoiava
00:32:45na Suazilândia.
00:32:45Organizada em células,
00:32:48a rede dessa zona
00:32:48chamada Quarta Região
00:32:50foi totalmente desmantelada
00:32:51e os seus membros presos,
00:32:53incluindo os principais,
00:32:55Joel Monteiro
00:32:55Madunashinana
00:32:56que fora da Tanzânia
00:32:57e Matias Meboa
00:32:58da Suazilândia.
00:33:00Eu recebi a ordem
00:33:01para a coisa
00:33:03para começar com a luta
00:33:05já depois de 25 de setembro.
00:33:08Eu lembro-me da carta
00:33:09que recebi de Darcelã
00:33:11que dizia
00:33:12nós já começamos a luta
00:33:16no norte.
00:33:19Prepare-se
00:33:19para começar a luta também.
00:33:21E nós tínhamos preparado
00:33:23a luta para dezembro.
00:33:24Eu vou à Suazilândia,
00:33:26tenho reuniões com ele,
00:33:28acho que fui duas vezes.
00:33:30Dei umas instruções
00:33:31do que devia fazer cá dentro
00:33:33e comecei a trabalhar
00:33:36com outros grupos cá dentro.
00:33:40Eu vi que era o Zé Caravarinha,
00:33:42o Marangatana Valente,
00:33:44o Luiz Bernardo Onuana.
00:33:45Quando o Joel Maduna Chinana,
00:33:49o Matias Meboa,
00:33:54o Marceiai,
00:33:58chegaram aqui como
00:33:59guerrilheiros
00:34:02para nós os recebermos,
00:34:04a ideia primeiro era
00:34:05de preparar condições
00:34:07para caso
00:34:09fosse necessário.
00:34:10fazer que um levantamento
00:34:14armado
00:34:16houvesse uma facilidade.
00:34:19O plano
00:34:19não posso dizer
00:34:22que estivesse decidido.
00:34:24Caberia
00:34:25a mim
00:34:26e ao corpo diretivo
00:34:27da Quarta Região Militar
00:34:28vermos
00:34:29quais são
00:34:30os alvos estratégicos
00:34:31para a coisa.
00:34:33Alvos que
00:34:34atacando
00:34:35imediatamente
00:34:36teriam o seu impacto
00:34:37junto das populações
00:34:39e junto do inimigo.
00:34:41Esse é que era
00:34:42o nosso objetivo.
00:34:43Dirigida por
00:34:44António Vaz,
00:34:45a PIDE
00:34:46impediu o levantamento
00:34:47da Frelim
00:34:47na região sul,
00:34:48a que chamava
00:34:49Quarta Região.
00:34:51Em livro não publicado,
00:34:52o antigo
00:34:52inspetor da Polícia Política
00:34:54em Moçambique
00:34:54escreve que
00:34:55Joel Monteiro
00:34:56estava referenciado
00:34:57e acrescenta
00:34:58que uma brigada
00:34:59especializada da PIDE
00:35:00controlou
00:35:01todos os seus movimentos,
00:35:03desde que saiu
00:35:04da Tanzânia
00:35:04até que entrou
00:35:05em Moçambique,
00:35:06graças a uma denúncia.
00:35:07e logo,
00:35:09pelo menos
00:35:09a partir da entrada
00:35:10é denunciado
00:35:11por um parente
00:35:12que tinha vindo
00:35:13da Frelim
00:35:14e tal
00:35:14e a PIDE
00:35:16começa a perseguir.
00:35:19Mas perde-o
00:35:20ali para a altura
00:35:22da passagem
00:35:22do Seixas
00:35:23e da Lourenço Marques
00:35:23mas no fim
00:35:24apanham
00:35:24e provavelmente
00:35:25é ele que diz
00:35:26uma nova coisa.
00:35:28Ele é sujeito
00:35:29a torturas,
00:35:30apanhou pancada
00:35:30e ele acabou
00:35:31por morrer.
00:35:32Mas é um fulano
00:35:33que depois
00:35:34vai para o julgamento
00:35:35vai para o julgamento
00:35:38e toma esta posição.
00:35:39Eu de facto
00:35:40contei que tem muita gente
00:35:41mas todos me disseram
00:35:42que não,
00:35:42ninguém quer se ter ido,
00:35:43não é?
00:35:44De maneira que foram todos,
00:35:45os outros foram todos
00:35:46absolvidos
00:35:46e não havia mais prova
00:35:47nenhuma contra eles.
00:35:48Joel Monteiro
00:35:49só é preso em dezembro
00:35:50após ter desenvolvido
00:35:51grande atividade
00:35:52na organização da rede
00:35:53como seu responsável
00:35:55político-militar.
00:35:56É enviado para a cadeia
00:35:57da Machava
00:35:58onde já estava
00:35:59Matias Boa,
00:36:00o responsável operacional
00:36:01fora preso pouco
00:36:02depois da sua entrada
00:36:03em Moçambique
00:36:04e do da Suazilândia.
00:36:07Muita gente
00:36:08ficou presa,
00:36:09ficou presa,
00:36:10confesso,
00:36:12não estou a
00:36:14a sujar
00:36:16o Joel,
00:36:17mas há o problema
00:36:18do coisa.
00:36:20Não tinha,
00:36:21quer dizer,
00:36:21quando viu-me
00:36:22inchado como estava,
00:36:24começou a coisa,
00:36:25quer dizer,
00:36:26toda a pergunta
00:36:26que a PIDE
00:36:28lhe fazia,
00:36:29ele relatava
00:36:30e ele estava
00:36:31ao par do coisa,
00:36:32de todos os relatórios.
00:36:34Então,
00:36:35toda a força
00:36:39da clandestinidade
00:36:40ficou detida.
00:36:42Só o que é,
00:36:43não podia ser toda,
00:36:45porque nós tínhamos
00:36:46quase a população
00:36:47nas mãos.
00:36:49Nós estávamos presos
00:36:50e sabíamos que
00:36:52de volta dos caminhos de ferro,
00:36:54de volta dos quartéis,
00:36:56de volta,
00:36:57é muito sítio
00:36:58nas estradas,
00:36:59nas administrações,
00:37:00andava a malta
00:37:01a distribuir
00:37:02panfletos.
00:37:04Eu recebia relatórios
00:37:06de quase todos
00:37:08os distritos,
00:37:09de quase todas
00:37:10as localidades,
00:37:12que as células
00:37:15iam transmitindo.
00:37:17Então,
00:37:17quando fiquei preso,
00:37:19a PIDE queria
00:37:20que eu decifrasse
00:37:21aqueles relatórios,
00:37:23carta por carta.
00:37:25eu também,
00:37:27sem código,
00:37:27não podia decifrar
00:37:28aquilo.
00:37:29Então,
00:37:30essa foi uma das razões
00:37:31que fez com que
00:37:34fosse,
00:37:35talvez,
00:37:36o mais torturado
00:37:37de todos os
00:37:38presos.
00:37:38Aqui,
00:37:39nessa altura,
00:37:40éramos cerca
00:37:41de 3 mil.
00:37:433 mil.
00:37:44Na cadeia da Machado.
00:37:47Domingos Aroca,
00:37:48o primeiro negro
00:37:48moçambicano
00:37:49formado em direito,
00:37:50recebeu
00:37:51solidariedade internacional,
00:37:52quando condenado
00:37:53a 8 anos de cadeia.
00:37:57Aroca era
00:37:57um dos intelectuais
00:37:59que tinham aderido
00:37:59à organização
00:38:00da Frelibo
00:38:00na região sul.
00:38:02Foram também presos
00:38:03os escritores
00:38:04Rui Nogar
00:38:05e José Craveirinha.
00:38:07Também Luís Bernardo
00:38:08Oruana
00:38:08e o pintor
00:38:09Malangatana,
00:38:10alguns dos nomes
00:38:11mais conhecidos
00:38:12do meio cultural
00:38:13moçambicano.
00:38:14É Luís Bernardo,
00:38:15por um lado,
00:38:15e é o Craveirinha.
00:38:17Então,
00:38:17eles escrevem-se
00:38:18entre si.
00:38:18Como é que se escrevem?
00:38:19Quando iam à casa
00:38:20de banho,
00:38:20utilizavam papel higiênico
00:38:22porque não lhes davam outro.
00:38:24Deixavam no sifão
00:38:25do autocrinismo
00:38:27da casa de banho.
00:38:27O Craveirinha
00:38:28destruía os
00:38:29que o Luís Bernardo
00:38:30me mandou.
00:38:31O Luís Bernardo
00:38:32conservava
00:38:33e quando eu o ia visitar
00:38:34dava-me
00:38:34e eu passava aquilo
00:38:35e me acionei-os
00:38:37e estão aí.
00:38:37O início da guerra,
00:38:53apenas dois meses
00:38:54após a visita
00:38:55de Américo Tobás,
00:38:56desmentiu o discurso
00:38:57do Presidente da República.
00:38:59Uma visita
00:38:59já acompanhada
00:39:00por um novo governador,
00:39:02escolhido para travar
00:39:03a tendência reformista
00:39:04de Sarmente Rodrigues.
00:39:06Enquanto os nossos soldados
00:39:07na terra,
00:39:08no mar e no ar
00:39:09tão abenegadamente
00:39:10velam pela defesa
00:39:11da nossa soberania,
00:39:13continuaremos a construir
00:39:14o edifício
00:39:15da pátria
00:39:16pluricontinental
00:39:17que Deus nos deu
00:39:18e que adquiremos...
00:39:19Os discursos
00:39:20denunciam a certeza
00:39:21do futuro
00:39:21que estaria à porta
00:39:22e o ambiente
00:39:23criado à volta
00:39:24da visita presidencial
00:39:25evidencia
00:39:26os sentimentos
00:39:27e também
00:39:28as inquietações
00:39:29de muitos europeus
00:39:30do lado dos portugueses.
00:39:34Moçambique
00:39:35é agora
00:39:35a terceira frente
00:39:36de uma guerra
00:39:37a milhares de quilómetros
00:39:38do centro do poder.
00:39:41Nos territórios
00:39:42do ultramar,
00:39:42tal como na metrópole,
00:39:43as manifestações
00:39:44de apoio
00:39:45à política colonial
00:39:46do governo,
00:39:47espontâneas ou não,
00:39:48vão continuar.
00:39:49Mas a unanimidade
00:39:50começa a ceder
00:39:51à medida que os portugueses
00:39:53tomam consciência
00:39:53dos efeitos da guerra,
00:39:55do seu peso
00:39:56e da sua crueza.
00:39:59Avançando rápida
00:40:01e mortífera,
00:40:02a guerra na Guiné
00:40:03vai tornar-se
00:40:04no maior pesadelo
00:40:05dos jovens mobilizados
00:40:06ou em idade
00:40:07de recrutamento.
00:40:09Um ano depois
00:40:10do início do conflito,
00:40:11o comandante militar
00:40:12Brigadeiro Lourdes Sousa
00:40:13informa os altos comandos
00:40:15com alarme
00:40:15da gravidade da situação
00:40:17e da falta de meios
00:40:18para se opor à guerrilha.
00:40:20Com reforços
00:40:21materiais e humanos,
00:40:22o comando militar
00:40:23da Guiné
00:40:24lança então
00:40:24a primeira grande
00:40:26operação conjunta
00:40:26de toda a guerra.
00:40:291.200 homens
00:40:31partem para o sul
00:40:32do território
00:40:32para uma ação
00:40:33de tipo convencional
00:40:34envolvendo forças terrestres,
00:40:37aéreas e navais.
00:40:44A Operação Tridente
00:40:45destina-se a ocupar
00:40:46as três ilhas
00:40:47que constituem
00:40:48o arquipélago do Como.
00:40:50Vai durar 71 dias
00:40:52e a importância
00:40:53que lhe é dada
00:40:53pelo comando militar
00:40:54justificada é a presença
00:40:56do governo.
00:40:57Ah, isto é a visita
00:40:58do então
00:40:58Ministro da Defesa Nacional,
00:41:01General Gomes Araújo.
00:41:02Ele acompanhei
00:41:03o helicóptero
00:41:04sobre as nossas posições
00:41:05e a certa altura
00:41:06o helicóptero
00:41:07começou a ser alvejado,
00:41:08de maneira que ele
00:41:08sentiu ao vivo
00:41:09realmente
00:41:10o que se passava lá.
00:41:13Aqui
00:41:14sou eu realmente.
00:41:17A impreparação
00:41:18era tal
00:41:18que o batalhão
00:41:19em que eu fui
00:41:20ia
00:41:21com o armamento
00:41:23e com a organização
00:41:25como se fosse
00:41:26para uma guerra convencional.
00:41:27É claro que depois
00:41:28foi tudo ligeiramente alterado
00:41:30conforme as possibilidades.
00:41:32Realmente nós não estávamos
00:41:33preparados
00:41:33para a guerra de guerrilha, não é?
00:41:36Ao Tenente Coronel Cavaleiro
00:41:37o Estado-Maior
00:41:38atribui o comando
00:41:39desta operação
00:41:39que é precisamente
00:41:40de tipo convencional.
00:41:42Com as três companhias
00:41:43de cavalaria
00:41:43que formavam
00:41:44o seu batalhão 490
00:41:46competia-lhe expulsar
00:41:47os cerca de 400 elementos
00:41:49do PEGC
00:41:49que ocupavam as ilhas
00:41:51e controlavam a população
00:41:52quase desde o início da guerra
00:41:54em 1963.
00:41:56A ilha do Como
00:41:57praticamente
00:41:58tem uma órgula marítima
00:41:59o resto é tudo
00:42:00são tudo
00:42:00rios, não é verdade?
00:42:03quando passavam
00:42:05as barcaças
00:42:06de reabertecimento
00:42:06etc.
00:42:07eram flageladas.
00:42:08Portanto,
00:42:09uma das principais preocupações
00:42:10das principais finalidades
00:42:13a obter com a operação
00:42:14era libertar
00:42:15a navegação
00:42:15da flagelação
00:42:16infligida.
00:42:18Outra,
00:42:19não menos importante
00:42:20finalidade
00:42:22era acabar
00:42:24com a ideia
00:42:25de que
00:42:26os guerrilheiros
00:42:27estavam instalados
00:42:28naquilo que eles chamavam
00:42:30pomposamente
00:42:31a República
00:42:31Independente do Como.
00:42:33Pouco afastado
00:42:34da terra firme
00:42:35o arquipélago do Como
00:42:36apoiava o abastecimento
00:42:37e as ações da guerrilha
00:42:38e ameaçava a navegação
00:42:40de Bissau para o sul
00:42:41afetando, nomeadamente
00:42:43as passagens fluviais
00:42:45para Catió.
00:42:46Ocupando uma área
00:42:47aproximada de 200 km²
00:42:49no sul do território
00:42:50o arquipélago
00:42:51era constituído
00:42:52pelas ilhas de Como
00:42:53Caiar
00:42:53e Catunco.
00:42:54A Operação Tridente
00:42:57foi executada
00:42:59por influência
00:43:00da Marinha
00:43:00porque a missão
00:43:02do Comando
00:43:02da Defesa Marítima
00:43:03era manter livre
00:43:04as vias aquáticas.
00:43:06E tinha havido
00:43:06já uns ataques
00:43:07a embarcações
00:43:08a passarem
00:43:09para fazer uma operação
00:43:10de limpeza
00:43:12para ver
00:43:13principalmente
00:43:14de informação
00:43:15porque não se sabia
00:43:16o que é que se lá passava.
00:43:17Como consideramos
00:43:18como sendo
00:43:19a primeira área
00:43:22totalmente libertada
00:43:23daí, não é?
00:43:25E não vejo
00:43:27grande interesse
00:43:27estratégico
00:43:28para as forças
00:43:28coloniais
00:43:29ocuparem Como
00:43:31mas acho que
00:43:32isso foi um problema
00:43:32de prestígio
00:43:33ali.
00:43:35Os guerrilheiros
00:43:36chamavam a República
00:43:38independente do Como
00:43:39por consequência
00:43:41pretendia-se
00:43:43retomar esse controle
00:43:44na medida que
00:43:45essas ilhas
00:43:47eram
00:43:48uma boa fonte
00:43:51de abastecimentos
00:43:52para esses guerrilheiros
00:43:53pois era farta
00:43:55em gado
00:43:56e em arroz.
00:43:57O português
00:43:58era portanto
00:43:59interpretado
00:44:00como
00:44:01um ponto estratégico
00:44:03porque na verdade
00:44:05quem entra
00:44:07portanto
00:44:07quem vai
00:44:07para Cateó
00:44:08para Cateó
00:44:10portanto
00:44:11o ponto estratégico
00:44:12portanto
00:44:12a ilha
00:44:13era o Como.
00:44:14Português do Amazonas
00:44:15Inacessível
00:44:17era uma zona
00:44:17que
00:44:18não tinha
00:44:19um treinamento
00:44:19e por conseguinte
00:44:21era preciso
00:44:22ir lá
00:44:24e destruir aquilo
00:44:25não é?
00:44:26A ideia
00:44:26foi essa
00:44:27que nos foi transmitida.
00:44:28Não sei qual
00:44:29a informação
00:44:29que o governo
00:44:31português tinha
00:44:32na altura
00:44:32de como
00:44:33havia um bunker
00:44:34esconderijo de armas
00:44:36havia não sei quantos
00:44:37e tudo
00:44:37e foram para o Como.
00:44:39Como não tinha nada.
00:44:40Não se sabia bem
00:44:41o serviço de informações
00:44:42sabia-se que eles
00:44:43tinham lá muita gente
00:44:44bem armada
00:44:45bem instalada
00:44:45mas não se sabia
00:44:46o certo
00:44:47o que é que se ia encontrar
00:44:48daí também se montou
00:44:49aquele dispositivo
00:44:50todo.
00:44:51Dos três comandantes
00:44:52do PAIGC
00:44:53Agostinho de Sá
00:44:53foi o único
00:44:54que não morreu
00:44:55na operação.
00:44:55Eu peguei guerra
00:44:56peguei guerra
00:44:57até depois
00:44:58antes de ir embora
00:44:59ainda
00:45:00e largando
00:45:01e bem no avião
00:45:03e largando
00:45:03que carta na chão
00:45:04e põe na carta
00:45:07como é que não
00:45:07tem nem três dias
00:45:08ainda bem para
00:45:11ir embora
00:45:11mas se entrar lá
00:45:13nem gato
00:45:14nem cachorro
00:45:15nem animal
00:45:16e cá nós
00:45:18ainda nem para
00:45:19falar do pecador
00:45:20ainda liquidando tudo
00:45:22ainda matando tudo.
00:45:23A operação
00:45:24começa assim
00:45:25com guerra psicológica
00:45:26convidando-a à rendição
00:45:28um inimigo
00:45:29sobre o qual
00:45:29os serviços de informação
00:45:30pouco sabiam
00:45:31e continua
00:45:32com uma manobra
00:45:33de diversão.
00:45:35Na véspera da invasão
00:45:36uma base de fogos
00:45:37de artilharia
00:45:38instalada em Cateó
00:45:38flagela intensamente
00:45:40a parte norte
00:45:41do arquipélago.
00:45:44Procura desviar
00:45:44as atenções do sul
00:45:45onde seria o desembarque
00:45:47iludindo as defesas
00:45:48do país G.C.
00:45:50Foi conseguida a surpresa
00:45:51porque o desembarque
00:45:53da grande maioria
00:45:54do pessoal e material
00:45:56não foi feito
00:45:57nos portos tradicionais
00:45:58foi feito
00:45:59na orla marítima.
00:46:01Não está se vi logo
00:46:02tudo está se vi
00:46:03porque tudo
00:46:04ele é custo nele
00:46:06ou tem se vi
00:46:07local
00:46:07onde o barco
00:46:08pode vir em tela
00:46:09e para
00:46:09tudo marinheiro
00:46:11não se se via
00:46:12local
00:46:12onde não há para
00:46:13não tem se vi
00:46:14O comando
00:46:16da operação
00:46:17estava instalado
00:46:17na fragata
00:46:18Nuno Tristão
00:46:19ancorada ao largo
00:46:20do arquipélago
00:46:20onde fora montada
00:46:22uma plataforma
00:46:22que permitia
00:46:23pela primeira vez
00:46:24nas forças armadas
00:46:25portuguesas
00:46:25a atuação
00:46:26de aeronaves
00:46:27a partir de meios navais
00:46:29o que potenciava
00:46:30as ações
00:46:30da força aérea.
00:46:33Além de base logística
00:46:34a própria fragata
00:46:35fazia também
00:46:36apoio de fogo
00:46:37com peças
00:46:38de 120 milímetros.
00:46:44O dispositivo naval
00:46:48conta ainda com
00:46:49uma frota
00:46:50de uma dezena
00:46:51de lanchas
00:46:51de fiscalização
00:46:52e desembarque
00:46:52nas quais são
00:46:53transportadas
00:46:54as tropas terrestres.
00:46:58Além das três
00:46:58companhias de cavalaria
00:46:59os efetivos
00:47:00incluem
00:47:01uma de caçadores
00:47:02três destacamentos
00:47:03de fuzileis especiais
00:47:04mais tarde
00:47:05reduzidos a dois
00:47:06um grupo de comandos
00:47:07um pelotão de obusas.
00:47:09Um pelotão
00:47:12de paraquedistas
00:47:13atuou também
00:47:14durante algum tempo
00:47:15na Tridente
00:47:15o que aconteceu
00:47:17pela primeira vez
00:47:17numa grande operação
00:47:18na Guiné.
00:47:23Cumprindo o plano
00:47:24de operações
00:47:24os desembarques
00:47:25das companhias
00:47:26do Coronel
00:47:26Fernando Cafaleiro
00:47:27recebem
00:47:28além do apoio aéreo
00:47:29a proteção
00:47:30dos destacamentos
00:47:31de fuzileiros
00:47:32que são
00:47:32os primeiros militares
00:47:34a pisar o arquipélago.
00:47:39Desembarcámos
00:47:45sem qualquer ação
00:47:48do outro lado
00:47:49acho que foi
00:47:51relativamente fácil
00:47:52a instalação
00:47:53daquilo que nos competia
00:47:54que era
00:47:55fazer uma cabeça
00:47:56de praia
00:47:57que permitisse
00:47:5745 minutos depois
00:47:59uma companhia
00:48:02de cavalaria
00:48:03desembarcada.
00:48:06A invasão
00:48:06começou às 8h30
00:48:07da manhã
00:48:07do dia 15 de janeiro
00:48:09com o desembarque
00:48:09simultâneo
00:48:10em pontos diferentes
00:48:11de dois agrupamentos
00:48:13formados por
00:48:13cavalaria
00:48:14fuzileiros
00:48:15e sapadores
00:48:16um deles penetrou
00:48:17entre as ilhas
00:48:17Caiar e Como
00:48:18atingindo Batabanca
00:48:19de Caiar
00:48:20após uma penosa
00:48:21progressão
00:48:21de 30 horas.
00:48:23Enquanto isso
00:48:23o outro agrupamento
00:48:24entrou pela zona
00:48:25de Catabão II
00:48:26na ilha do Como
00:48:27e alcançou
00:48:28Cauane
00:48:28ao princípio da tarde.
00:48:32Na manhã
00:48:32do dia seguinte
00:48:33um terceiro agrupamento
00:48:34de cavalaria
00:48:35paraquedistas
00:48:35e sapadores
00:48:36desembarcou
00:48:37entre as ilhas
00:48:38do Como
00:48:38e de Catunco
00:48:39e avançou
00:48:39para as tabancas
00:48:40Catunco Papel
00:48:41e Catunco Balanta.
00:48:44Ao mesmo tempo
00:48:44um quarto agrupamento
00:48:46com fuzileiros
00:48:46e sapadores
00:48:47entrou na ilha
00:48:48de Catunco
00:48:49a partir do rio
00:48:50Cumbijã
00:48:50dirigindo-se
00:48:51para Cametonco.
00:48:54Todos os desembarques
00:48:55tiveram cobertura aérea
00:48:57tendo sido atingido
00:48:58um avião T-6.
00:49:03Lá de cima
00:49:03só se via
00:49:04a praia
00:49:05na maré vazio
00:49:07tinha aviões
00:49:07na maré cheia
00:49:08não tinha
00:49:08com o quartel
00:49:09general
00:49:10e as forças
00:49:10e depois
00:49:11uma grande mata
00:49:11lá no meio.
00:49:12Portanto a nossa
00:49:13percepção cá de cima
00:49:14era a mata
00:49:15e as forças
00:49:15ao longo da praia
00:49:16pouco mais.
00:49:17E cercaram aquilo tudo
00:49:35barcos de guerra
00:49:37bombardeavam
00:49:38de um lado
00:49:38do outro
00:49:39com aviação
00:49:40e tudo.
00:49:47para entretenir
00:49:48no carro
00:49:48que não ia comer
00:49:49por cedo.
00:49:52Sempre está mandando
00:49:53informando
00:49:54às vezes está dando sinal
00:49:57como é que não ia
00:49:57para a face
00:49:58não pega a guerra.
00:50:02Eu não tomei parte
00:50:03diretamente
00:50:04porque eu tinha acabado
00:50:05de ser operado
00:50:06mas os homens
00:50:07que eu mandava
00:50:07lá no coisa
00:50:08era a minha região.
00:50:09Está dando sinal
00:50:10e que chega
00:50:10com a batalha
00:50:11mas sempre
00:50:13está para lá
00:50:14em outra banda
00:50:14está dando sinal.
00:50:15tanto esse homem
00:50:18para forçar um homem
00:50:20e também
00:50:21ele não.
00:50:22A hora de ser feita
00:50:23no aspecto
00:50:26militar
00:50:27foi a tropa
00:50:29mais agarrida
00:50:30que nós encontramos
00:50:31até então na Guiné.
00:50:33Eram
00:50:34enfim
00:50:35eram manubradores
00:50:38eram agressivos
00:50:38tinham realmente
00:50:40bom poder de fogo
00:50:41etc.
00:50:43Homem chão
00:50:43que tem
00:50:44gente chão
00:50:45ao mesmo tempo
00:50:46naquele momento
00:50:47da guerra
00:50:48todos se abenotem
00:50:49seis comandantes
00:50:50portugueses
00:50:51que estão na ilha
00:50:51não pediam
00:50:55reforma
00:50:56era a força
00:50:57de outro grupo
00:50:59e bem
00:51:00toca chegar
00:51:01e ajudando
00:51:02400 mil
00:51:03nos primeiros dias
00:51:06após o desembarque
00:51:07os militares
00:51:08portugueses
00:51:08marcharam
00:51:09para as suas
00:51:09posições
00:51:10conforme o plano
00:51:11de operações
00:51:12e sem grandes
00:51:12sobressaltos
00:51:13sofrendo pouca
00:51:14resistência
00:51:15da parte da guerrilha
00:51:16exceto na região
00:51:17de Gauane
00:51:18na ilha do Como
00:51:19onde a bandeira
00:51:20portuguesa
00:51:20só foi hasteada
00:51:21após alguns combates
00:51:22e a perda
00:51:23de um avião
00:51:24T6
00:51:24cujo piloto
00:51:25morreu
00:51:26os soldados
00:51:28tiveram no entanto
00:51:29que enfrentar
00:51:30outros adversários
00:51:31que o planeamento
00:51:32da operação
00:51:33não acalculou
00:51:34para conseguir água
00:51:35salobra
00:51:36e de má qualidade
00:51:37foi preciso
00:51:38escavar poços
00:51:39e a este primeiro
00:51:40tormento
00:51:41associaram-se
00:51:42outras contrariedades
00:51:43como os efeitos
00:51:44do calor
00:51:44agravados pelo peso
00:51:46excessivo do equipamento
00:51:47e pelas características
00:51:48do terreno
00:51:49conforme as marés
00:51:51dois terços
00:51:52do arquipélago
00:51:53são cobertos
00:51:54de água
00:51:54ou lodo
00:51:55o que para os guerrilheiros
00:51:57era um refúgio
00:51:58para a tropa
00:51:59podia ser
00:51:59um obstáculo
00:52:00intransponível
00:52:01as colunas
00:52:05progrediam
00:52:05por vezes penosamente
00:52:06reabastecidas
00:52:08em mantimentos
00:52:08e munições
00:52:09a dorso
00:52:10por carregadores indígenas
00:52:11por vezes
00:52:12por helicópteros
00:52:13enquanto isso
00:52:15os guerrilheiros
00:52:15retiravam-se
00:52:16com as populações
00:52:17deixando aos militares
00:52:18portugueses
00:52:18tabancas vazias
00:52:19ou armazéns
00:52:20de arroz
00:52:21que eles incendiavam
00:52:23e gado
00:52:23que matavam
00:52:24nas suas operações
00:52:25de reconhecimento
00:52:25e batida
00:52:26e atacavam
00:52:28a tropa
00:52:28opondo-se tenazmente
00:52:29à sua entrada
00:52:30na mata
00:52:31portanto em Caiar
00:52:32como em Catum
00:52:33que tinha poucas matas
00:52:34praticamente não havia
00:52:36ninguém
00:52:37a única resistência
00:52:38que se encontrou
00:52:39a sério
00:52:40foi na ilha do meio
00:52:41na ilha do Combo
00:52:42os guerrilheiros
00:52:43refugiaram-se
00:52:43na parte central
00:52:44da ilha
00:52:44que é uma mata
00:52:45muito serrada
00:52:45chamada
00:52:46mata caçaca
00:52:47que é rodeada
00:52:48por bolanha
00:52:49que é terrenos de arroz
00:52:50para se penetrar
00:52:52na mata
00:52:52não se podia
00:52:53ir pelos terrenos
00:52:53de arroz
00:52:54porque enfim
00:52:55atolavam-se os homens
00:52:58e tinha que ir
00:52:59pelos auricos
00:52:59eles punham
00:53:00duas metralhadoras
00:53:01a bater os auricos
00:53:02e não era fácil
00:53:03nessa situação
00:53:05avançar para dentro
00:53:07da mata
00:53:07a dificuldade maior
00:53:08naquela
00:53:08que nós tínhamos
00:53:09era a entrada
00:53:11na mata
00:53:11porque a entrada
00:53:12na mata
00:53:12era uma coisa
00:53:13era um bocado
00:53:14assustador no princípio
00:53:15porque era uma mata
00:53:16serrada
00:53:17completamente serrada
00:53:17que tinha
00:53:18largas centenas de metros
00:53:21sem nada
00:53:21muitas vezes
00:53:22tinha assim uns arbustos
00:53:22aqui
00:53:23uns arbustos acolá
00:53:23onde nós íamos
00:53:25assim de arbusto
00:53:25em arbusto de noite
00:53:26e lá conseguimos
00:53:28entrar na mata
00:53:28e te sentar
00:53:29na porta
00:53:30me sentar
00:53:32para ali
00:53:32na mata
00:53:33e ralo
00:53:34para entrar na mata
00:53:35e que até entra
00:53:36que até o tempo
00:53:39entra
00:53:39às vezes
00:53:42a hora que vem
00:53:43para mim
00:53:44se entra
00:53:44às vezes
00:53:45também tem
00:53:46a boca armada
00:53:47para entrar
00:53:47às vezes
00:53:48não está
00:53:48a talha
00:53:48do caminho
00:53:49do que está
00:53:49arriba
00:53:49mas parte
00:53:52de nós
00:53:52que está
00:53:52nega
00:53:53que não está
00:53:54que não está
00:53:56querida
00:53:56não está
00:53:57para ali
00:53:57na boca armada
00:53:58não na guerra
00:53:58estavam instalados
00:54:00nos pôr
00:54:01da mata
00:54:01devidamente
00:54:02entrecheirados
00:54:04para
00:54:05não permitir
00:54:07que se avançasse
00:54:08pela mata
00:54:09procurava-se
00:54:10montar uma operação
00:54:15com volume
00:54:16com barulho
00:54:16num determinado
00:54:18sítio
00:54:18e entrava-se
00:54:20por outro
00:54:20à socapa
00:54:20só assim
00:54:23um destacamento
00:54:24por exemplo
00:54:24que não ia entrar
00:54:25nesse dia
00:54:25para a mata
00:54:26mas era
00:54:26uma força
00:54:28ia fingir
00:54:29e fazer barulho
00:54:30e entrar
00:54:30noutro sítio
00:54:31e loja
00:54:31e nós íamos
00:54:32em silêncio
00:54:33sem estar
00:54:33numa outra zona
00:54:34foi numa destas
00:54:36incursões
00:54:37ao interior
00:54:37das matas
00:54:38do Como
00:54:38que um grupo
00:54:39do destacamento
00:54:40de fuzileiros
00:54:40número 7
00:54:41causou
00:54:42uma importante
00:54:42baixa
00:54:43na guerrilha
00:54:43o comandante
00:54:44Tansal Naísna
00:54:45um nome
00:54:46que figurou
00:54:47hoje na galeria
00:54:47dos heróis
00:54:48do país
00:54:48esse
00:54:48da batalha
00:54:49do Como
00:54:50eles deviam ser
00:54:52sete ou oito
00:54:53porque o grupo
00:54:53não são grandes
00:54:54eles vinham
00:54:55na nossa direção
00:54:56e nós
00:54:57estávamos mostrando
00:54:58que não víamos nada
00:54:59e a ideia
00:54:59com que ficávamos
00:55:00é que
00:55:00o encontro
00:55:01era mesmo
00:55:02corpo a corpo
00:55:03e foi aí
00:55:04que nós
00:55:04fomos empurrados
00:55:05a ir naquele sítio
00:55:06onde eu estava
00:55:07empurrado
00:55:07eu com os meus
00:55:08dez homens
00:55:09houve um
00:55:09que morreu lá
00:55:10ficou lá
00:55:10uma arma
00:55:12uma PPSH
00:55:14ele dizia-se
00:55:14que era um
00:55:15pançal
00:55:15foi o que se falou
00:55:16na altura
00:55:16que seria ele
00:55:17trouxemos a arma
00:55:18o corpo ficou
00:55:19no mesmo sítio
00:55:20nós não tocámos
00:55:21o corpo
00:55:22ali é um nome
00:55:23que se destacou
00:55:24bastante
00:55:25que é o nome
00:55:26do pançal
00:55:27Naísna
00:55:27que foi o último
00:55:28comandante
00:55:29como um camponês
00:55:32daí é
00:55:32como cultivador
00:55:34de arroz
00:55:34ao fim
00:55:35de salvo
00:55:3630 dias
00:55:37ou mais
00:55:38de combate
00:55:40os gregos
00:55:41já não tinham
00:55:42munições
00:55:43sozinho
00:55:53foi essa que foi a safa
00:56:08dos gregelheiros
00:56:09em termos de abastamento
00:56:11de munições
00:56:11senão
00:56:13a ilha
00:56:13teria sido
00:56:14ocupada
00:56:14para o exército
00:56:15português
00:56:16A situação
00:56:18chegou a ser
00:56:19dramática
00:56:19para a guerrilha
00:56:2048 dias
00:56:21depois do início
00:56:22da batalha
00:56:23o comandante
00:56:23da frente sul
00:56:24escreve uma mensagem
00:56:25desesperada
00:56:26pedindo um reforço
00:56:27de 150
00:56:28a 200
00:56:29guerrilheiros
00:56:30a mensagem
00:56:31refere 23 baixas
00:56:32fala de bárbaros
00:56:33massacres da tropa
00:56:34e informa que
00:56:35apesar de Amilcar Cabral
00:56:36ter ordenado
00:56:37a retirada da ilha
00:56:38os guerrilheiros
00:56:39e a população
00:56:39se mantiveram lá
00:56:40e assina
00:56:42Marganino
00:56:43Marga era o meu nome
00:56:45de guerra
00:56:45todas as cartas
00:56:46correspondentes
00:56:46que para o Amilcar
00:56:47se assinava Marga
00:56:48quando Amilcar
00:56:49deu-me ordens
00:56:50para retirar as forças
00:56:51quando deu-me ordens
00:56:53para retirar as forças
00:56:53não coisa
00:56:54que recusaram
00:56:55de retirar
00:56:55e três dias depois
00:56:57coincidiu com a retirada
00:56:58do exército
00:56:59colinial
00:57:00da ilha do Como
00:57:01Amilcar Cabral
00:57:03é o mandador
00:57:03para retirar
00:57:04homem grande
00:57:05para retirar
00:57:05meninos
00:57:06mulheres
00:57:07bojudas
00:57:09rapaz
00:57:09pequenino
00:57:10para sair fora
00:57:13do Ilha Arcom
00:57:14também fazia
00:57:15uma reunião grande
00:57:16diante do público
00:57:19a única mulher
00:57:21que pede palavra
00:57:22e firma
00:57:23é Nalo
00:57:24para não fazer conta
00:57:26se tudo é bem
00:57:27para não ficar só um homem
00:57:28armado
00:57:30para estar guiaria
00:57:31para cozinhar
00:57:32para buscar lenha
00:57:33para cozinhar
00:57:34para comer
00:57:34tudo é na polígona
00:57:35que me enferma
00:57:37até não fala
00:57:38a verdade
00:57:38que me diz
00:57:40eles
00:57:40não falam
00:57:41que ninguém sabe
00:57:42que fica a janela
00:57:43a droga portuguesa
00:57:46nunca chegou
00:57:46a contactar
00:57:47as populações
00:57:48excetuando
00:57:48os nove prisioneiros
00:57:50capturados
00:57:51ao longo da operação
00:57:52os contactos
00:57:54foram sempre
00:57:54de natureza militar
00:57:55o mais duro
00:57:56de todos os combates
00:57:57ocorreu na região
00:57:57de Uncomené
00:57:58na ilha do Como
00:57:59e envolveu
00:58:00forças dos três ramos
00:58:01após cerca de oito horas
00:58:04de luta
00:58:04em que sofreram
00:58:05dois mortes
00:58:06e dois feridos
00:58:06as forças portuguesas
00:58:08acabariam por ser
00:58:09recolhidas
00:58:09por meios navais
00:58:10as tropas de cavalaria
00:58:14fusileiros
00:58:15e comandos
00:58:15envolvidos na operação
00:58:16foram obrigados
00:58:17a retirar
00:58:18das suas posições
00:58:19apesar de um apoio aéreo
00:58:20de seis aviões
00:58:21e um helicóptero
00:58:23a força aérea
00:58:38desenvolveu
00:58:39mais de
00:58:39oitocentas e cinquenta
00:58:40missões
00:58:41os helicópteros
00:58:42Alouette
00:58:42via apenas dois
00:58:43na Guiné
00:58:44foram os aparelhos
00:58:45mais utilizados
00:58:46mas apenas
00:58:46em apoio logístico
00:58:47evacuações
00:58:48outros aviões
00:58:51cumpriam as ações
00:58:51de fogo
00:58:52incluindo os
00:58:53E-86
00:58:53de utilização
00:58:54interdita
00:58:55tal como
00:58:55os P2V5
00:58:56P2V5
00:58:58que era o sucessor
00:58:59do PV2V5
00:59:01são aviões
00:59:01antissomarina
00:59:02que estavam cá
00:59:03ao abrigo
00:59:04danado
00:59:04e não podiam ser
00:59:06oficialmente
00:59:07utilizados
00:59:08então os aviões
00:59:08estavam estacionados
00:59:09em Cabo Verde
00:59:10iam fazer
00:59:11dois, três dias
00:59:12a missal
00:59:12e iam de noite
00:59:14lançar
00:59:14bombas
00:59:15os aviões
00:59:17T-6
00:59:17foram os principais
00:59:18bombardeiros
00:59:19na Operação Tridente
00:59:20um deles foi abatido
00:59:21e seis atingidos
00:59:22foram lançadas
00:59:23mais de mil
00:59:23bombas e foguetes
00:59:24sobre as matas
00:59:25a mata era muito fechada
00:59:27e como as nossas
00:59:27espletas eram de contacto
00:59:28e eram muito sensíveis
00:59:29estou convencido
00:59:31que sei lá
00:59:3190% delas
00:59:32rebentavam
00:59:32nas copas das árvores
00:59:33logo
00:59:34o cone
00:59:36do explosivo
00:59:37e dos estilhaços
00:59:37iam para cima
00:59:38o avião
00:59:39não tem
00:59:40copa
00:59:41que não podia fazer
00:59:42ou enxergando
00:59:43um carro
00:59:44e tem
00:59:45baga-baga
00:59:45não sei lá
00:59:47as pessoas em baixo
00:59:53pouco sofreriam
00:59:53a nascer
00:59:53os ouvidos
00:59:54por causa do arrebentamento
00:59:56armamento inadequado
00:59:58os foguetes
00:59:59nós usávamos
01:00:00esses eram bons
01:00:01mas não se podia usar
01:00:01porque eram muito caros
01:00:02houve sempre restrição
01:00:03de foguetes
01:00:05durante os 14 anos de guerra
01:00:06os foguetes
01:00:07de 37mm
01:00:07antipessoal
01:00:08tem outro carro
01:00:09que lança a bomba
01:00:10às vezes
01:00:11e porém
01:00:12cai arriba
01:00:13de um polão
01:00:14assim
01:00:14e terrementei
01:00:16catástica
01:00:17se é um mal
01:00:18mas é que é muito cheio
01:00:19se uma palha
01:00:20nessa área
01:00:20só mais parte
01:00:22de chebem
01:00:23é cozer para meras
01:00:24psicologicamente
01:00:24é muito importante
01:00:25porque não deve ser agradável
01:00:27estar debaixo de uma árvore
01:00:29para viver
01:00:29vamos arrebentar lá em cima
01:00:30um canhão
01:00:34cai lá atrás
01:00:36e ralo para o muro
01:00:37e está segurando
01:00:38e está cobrindo
01:00:39e ralo para
01:00:41um tiro
01:00:43caiu
01:00:44o pé de baga baga
01:00:45para o muro
01:00:45havia umas bombas
01:00:47de 15 kg
01:00:47que eram umas
01:00:48granadas de artilharia
01:00:49transformadas
01:00:50essas já tinham
01:00:51mais alguma eficácia
01:00:52antipessoal
01:00:53mas era sempre
01:00:53muito reduzida
01:00:54a espingarda automática
01:01:14Kalashnikov soviética
01:01:15correspondia
01:01:16no exército português
01:01:17com o mesmo calibre
01:01:18a G3 alemã
01:01:19num duelo
01:01:20que durou toda a guerra
01:01:21na operação tridente
01:01:22a G3
01:01:23que a tropa
01:01:23só conhecera
01:01:24seis meses antes
01:01:25durante a viagem
01:01:26para a Guiné
01:01:26revelou-se muito sensível
01:01:28a poeiras e lamas
01:01:29embora menos
01:01:30que a arma light
01:01:30dos paraquedistas
01:01:31havia metralhadores
01:01:33de Madsen
01:01:34mas as bredas
01:01:34eram demasiado pesadas
01:01:36a eficácia
01:01:36das transmissões
01:01:37não era total
01:01:38segundo refere
01:01:39o próprio relatório
01:01:40da operação
01:01:40mas se a batalha
01:01:44do Combo
01:01:44demonstrou
01:01:45impreparação
01:01:45e foi um laboratório
01:01:46para a tropa
01:01:47e para o material
01:01:48foi também um teste
01:01:49para a logística
01:01:50sobretudo
01:01:51no que respeita
01:01:52aos mantimentos
01:01:52a meio da operação
01:01:54os militares
01:01:54estavam em péssimas
01:01:55condições físicas
01:01:56e psicológicas
01:01:57e muitos deles doentes
01:01:59à doeza do meio
01:02:00e das missões
01:02:01juntavam-se
01:02:02a insalubridade
01:02:02da água
01:02:03e insuficiências
01:02:04da manutenção
01:02:05que não garantia
01:02:06nem qualidade
01:02:07nem variedade
01:02:08na alimentação
01:02:09os homens
01:02:10os homens ficaram
01:02:11aí uns 15 dias
01:02:12com uma única
01:02:14ração de combate
01:02:15que era
01:02:16carne de vaca
01:02:16à jardineira
01:02:17nunca mais me esqueço
01:02:18do nome
01:02:18os homens coitados
01:02:19ao fim de 20 dias
01:02:20já não podiam
01:02:22comer aquilo
01:02:23o estômago
01:02:24não suportava
01:02:25a água
01:02:26era tirada
01:02:27de um buraco
01:02:28à frente
01:02:29do abrigo
01:02:30onde estavam
01:02:31é claro que havia
01:02:31os filtros
01:02:32e essas coisas todas
01:02:33mas tudo isso
01:02:34era relativo
01:02:36do lado português
01:02:37muitos doentes
01:02:389 mortos
01:02:39e 47 feridos
01:02:41nos 70 dias
01:02:42da batalha
01:02:43do país
01:02:43a ser rodatório português
01:02:44refere 76 mortos
01:02:46mas acha provável
01:02:47uma centena
01:02:48a operação
01:02:49tem que terminar
01:02:50o quartel-general
01:02:51precisa das forças
01:02:52eu fui ao quartel-general
01:02:53a primeira vez
01:02:54que lá fui
01:02:54para dizer
01:02:56que a operação
01:02:57estava terminada
01:02:58não é claro
01:02:58que eu não podia
01:02:59dar a palavra
01:03:00de honra
01:03:00que não tivesse lá
01:03:01um núcleo qualquer dentro
01:03:02o treino-coronel
01:03:04Cavaleiro
01:03:04concluiu a operação
01:03:05atravessando a ilha
01:03:06com 40 homens
01:03:07para demonstrar
01:03:08que domina o território
01:03:09e no dia 24 de março
01:03:11os cerca de 1.200 militares
01:03:13cavalaria, fuzileiros
01:03:15sapadores, caçadores
01:03:16comandos e paraquedistas
01:03:17embarcam de regresso a Bissau
01:03:19a operação
01:03:22fora provavelmente
01:03:23a mais cara
01:03:24de sempre
01:03:25de toda a guerra
01:03:26e certamente
01:03:27a mais longa
01:03:28a sua duração
01:03:30tinha ido muito
01:03:30para além
01:03:31das previsões iniciais
01:03:32os resultados
01:03:33ver se a depois
01:03:34tinham ficado
01:03:35a quem
01:03:35não tenho dúvidas
01:03:37nenhum
01:03:37mas em firmar
01:03:38a operação
01:03:39foi um sucesso
01:03:39absoluto
01:03:40era uma zona
01:03:41que tinha uma força
01:03:42inimiga
01:03:42e nós não íamos lá
01:03:44há um ano
01:03:45ou mais
01:03:45desde o começo da guerra
01:03:46portanto
01:03:46essa força foi escorraçada
01:03:48instalou-se uma força nossa
01:03:50portanto
01:03:50eu acho que foi uma vitória
01:03:51ali localmente
01:03:52pelo menos
01:03:52é claro que não ficou
01:03:53totalmente resolvido
01:03:54porque na realidade
01:03:56não conseguimos
01:03:56captar as populações
01:03:58porque a população
01:03:59fugiu
01:03:59tem a impressão
01:04:00que a operação
01:04:02em si
01:04:03foi um êxito
01:04:03foi um êxito
01:04:05do ponto de vista
01:04:05extremamente militar
01:04:06não retirámos
01:04:08por estar pressionados
01:04:10a retirar
01:04:12nós retirámos
01:04:13porque tinham sido
01:04:15alcançados
01:04:16alguns dos objetivos
01:04:17ou todos os objetivos
01:04:19que se pretendiam
01:04:20se estivéssemos abandonados
01:04:21teria que saber
01:04:22se seria uma derrota
01:04:23para o nosso lado
01:04:24sentíamos
01:04:25sentíamos
01:04:26ficaríamos em fraqueza
01:04:28mas
01:04:28resistimos
01:04:29e continuámos lá
01:04:30foi uma vitória
01:04:31o Pai G.C. aproveita
01:04:33essa
01:04:34digamos
01:04:35essa leitura comum
01:04:37que as pessoas fazem
01:04:37que o pessoal comum faz
01:04:39cara
01:04:39a ocupação é a conta
01:04:41mas o Pai G.C.
01:04:42se não vê lá a população
01:04:43que era
01:04:44tal guerra das almas
01:04:45pois aproveitou
01:04:47essa
01:04:47como objeto o ocupou
01:04:48viemos embora
01:04:49a Porto Ader
01:04:50foi uma vitória
01:04:51a população toda
01:04:52faz um baio grande
01:04:53contente militar
01:04:54tudo
01:04:55tudo
01:04:57mulheres
01:04:58homens
01:04:59rapazes
01:05:01homens armados
01:05:02tudo
01:05:02contente
01:05:03do lado português
01:05:06a essa alegria
01:05:06correspondia por certo
01:05:07o alívio
01:05:08dos soldados
01:05:09deixava o arquipélago
01:05:10depois de terem
01:05:11sobrevivido
01:05:12a condições
01:05:12muito difíceis
01:05:13mas para eles
01:05:14a experiência
01:05:15chegar ao fim
01:05:15para a companhia
01:05:16de caçadores
01:05:17557
01:05:18as dificuldades
01:05:19só agora
01:05:20iriam começar
01:05:21esta companhia
01:05:22iria ficar
01:05:23estacionada
01:05:24na mata do Cachilo
01:05:25a norte da ilha do Como
01:05:26por decisão
01:05:27do Estado Maior
01:05:28tinha chegado
01:05:29ainda durante a operação
01:05:30a tempo de ouvir
01:05:31do Tenente Coronel Cavaleiro
01:05:33palavras que se revelariam
01:05:34otimistas
01:05:35estejam sossegados
01:05:37que está tudo resolvido
01:05:38nós fizemos
01:05:39uma grande operação
01:05:40podem estar descansados
01:05:41que já não há terroristas
01:05:43foram todos eliminados
01:05:46ou fugiram
01:05:47e tal
01:05:48na altura
01:05:48poderia ser que fosse
01:05:49agora no dia seguinte
01:05:51já não
01:05:51porque no dia seguinte
01:05:52nós víamos
01:05:53já em frente
01:05:55aos nossos abrigos
01:05:56assaltar lá
01:05:57nas palmeiras
01:05:58e enfim
01:05:58inclusivamente
01:05:59indivíduos brancos
01:06:00cubanos
01:06:01que também
01:06:02estavam enquadrados
01:06:03nas forças deles
01:06:04e que por lá andavam
01:06:06e passado algum tempo
01:06:08então começaram
01:06:09a fazer ataques
01:06:10o comando militar
01:06:11resolveu instalar
01:06:12uma companhia
01:06:13numa matazinha
01:06:15que havia a norte
01:06:16que era a mata do Cachilo
01:06:18um erro
01:06:22porque ali não havia
01:06:22populações nenhumas
01:06:24mas pronto
01:06:25mas instalaram
01:06:26e claro
01:06:27essa companhia
01:06:28passada umas semanas
01:06:30começa a ser flagelada
01:06:31e atacada
01:06:32a flagelação
01:06:33iniciava-se ao fim do dia
01:06:34portanto já no escuro
01:06:35portanto eles aproveitavam
01:06:37a escuridão
01:06:38para avançar
01:06:39e iniciavam o tiroteio
01:06:42num desses ataques
01:06:43fiz uma gravação
01:06:45porque achava
01:06:46que era uma reportagem
01:06:47interessante
01:07:01a companhia 557
01:07:03sofria permanentes
01:07:03flagelações do PAIGC
01:07:05que estava apenas
01:07:06a duas ou três centenas
01:07:07de metros
01:07:07o acuartelamento
01:07:09estava completamente
01:07:10isolado na ilha
01:07:11tinha sido construído
01:07:13pela própria companhia
01:07:14numa zona chamada
01:07:15mata das cobras
01:07:16e era protegido
01:07:17por paliçadas
01:07:18com troncos de palmeira
01:07:19instalações que
01:07:22aparentemente
01:07:22o PAIGC
01:07:23poderia destruir
01:07:24com as armas que tinha
01:07:25e era esse
01:07:27o receio permanente
01:07:28da tropa
01:07:29nunca chegaram
01:07:30a fazer isso
01:07:31ou por incapacidade
01:07:33ou porque na realidade
01:07:34também
01:07:35enfim
01:07:36não quereriam flagelar
01:07:37tanto
01:07:38mas com certeza
01:07:38também não eram capazes
01:07:39a companhia
01:07:41estava reforçada
01:07:42por um peletão
01:07:42de milícias
01:07:43sem água potável
01:07:45que tinham que ir buscar
01:07:45a Cateó
01:07:46numa embarcação
01:07:47os militares portugueses
01:07:48cumpriram
01:07:49uma missão difícil
01:07:50iniciada com um desembarque
01:07:51dramático
01:07:52em que muitos homens
01:07:53tiveram que ser resgatados
01:07:54do lodo
01:07:55onde se atularam
01:07:56após oito meses
01:07:58durante os quais
01:07:59sofreu um morto
01:08:00a companhia foi substituída
01:08:01por uma outra
01:08:02que continuou como
01:08:03a única representação
01:08:04da soberania portuguesa
01:08:05no arquipélago
01:08:06chegou-se à conclusão
01:08:08como não havia população
01:08:09não valia a pena
01:08:10estabelecer lá
01:08:10a autoridade administrativa
01:08:12e na minha opinião
01:08:14erradamente
01:08:15na minha opinião
01:08:16erradamente
01:08:16eu gostaria imenso
01:08:17de deixar-se lá
01:08:18uma autoridade administrativa
01:08:19esse primeiro
01:08:20é um objetivo
01:08:20muito mais atingido
01:08:22mas o que isso
01:08:22não esteve nunca
01:08:23nos planos
01:08:25acho que isso é que era
01:08:27ao fim e ao cabo
01:08:28sentíamos que estávamos
01:08:30a fazer qualquer coisa
01:08:31do que tinha lá
01:08:32a colocação de uma companhia
01:08:35na ilha do Como
01:08:36culminava
01:08:36a operação tridente
01:08:37que o brigadeiro
01:08:38Lourdes Sousa
01:08:39o comandante-cheve
01:08:40lançou e acompanhou
01:08:41visitando as tropas
01:08:42em vários momentos
01:08:43no final
01:08:45no final
01:08:45congratulou-se
01:08:46com o resultado
01:08:46e elogiou
01:08:47as unidades envolvidas
01:08:49mas depressa
01:08:50se veria
01:08:50como o arquipélago
01:08:51pouco representava
01:08:52face ao avanço
01:08:53da guerrilha
01:08:54para novas posições
01:08:55e como se mostrava
01:08:56inadequada
01:08:57a orientação
01:08:58dos poderes da Guiné
01:08:58que divergiam entre si
01:09:00enquanto o país
01:09:01de C
01:09:01endurecia os ataques
01:09:02à tropa portuguesa
01:09:04divididos por
01:09:06desinteligências
01:09:07e em aberto
01:09:08conflito de competências
01:09:09o governador-geral
01:09:10Vasco Rodrigues
01:09:11e o comandante-cheve
01:09:12foram substituídos
01:09:14semanas depois
01:09:14da operação
01:09:15à frente da Guiné
01:09:22estava já portanto
01:09:22o brigadeiro
01:09:23Arnold Schultz
01:09:24em quem o governo
01:09:25de Lisboa
01:09:26decidir a concentrar
01:09:27os poderes militar
01:09:27e civil
01:09:28quando voltaram
01:09:29à lembrança
01:09:30os ecos da batalha
01:09:31de Como
01:09:31e de várias outras
01:09:32batalhas
01:09:33nos palcos da África
01:09:34agora
01:09:36em exaltação
01:09:37nacional e pública
01:09:38como feitos militares
01:09:39notáveis
01:09:40na Praça do Comércio
01:09:43em Lisboa
01:09:44a tradição anual
01:09:45do 10 de Junho
01:09:46era desde 1963
01:09:48uma homenagem
01:09:49às Forças Armadas
01:09:50então chamado
01:09:58Dia de Portugal
01:09:59e da Raça
01:09:59o 10 de Junho
01:10:00era consagrado
01:10:01às glórias da guerra
01:10:02louvores e medalhas
01:10:04entre vivos e mortos
01:10:08no final de 1964
01:10:22o balanço dos mortos
01:10:24ultrapassa
01:10:25as quatro centenas
01:10:26estão mobilizados
01:10:28para o combate
01:10:29mais de 85 mil homens
01:10:31em Angola
01:10:32na Guiné
01:10:33e em Moçambique
01:10:34Portugal encontra-se
01:10:36a partir de agora
01:10:37perante uma guerra
01:10:38em três frentes
01:10:39e assim será
01:10:41por mais 10 anos
01:10:43no alcanço dos mortos
01:10:45mas e dança
01:10:45em dois
01:10:48não
01:10:48que 듣am
01:10:49desluxo
01:10:50opa
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