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  • 13/05/2025
Dos Andes ao México, uma viagem ao coração dos mistérios das antigas civilizações Maia, Inca e Asteca.
Transcrição
00:00Os Povos do Sol
00:13No século XV, os europeus descobriram a América.
00:23Chamaram ao continente o Novo Mundo.
00:25Mas embora estas terras fossem desconhecidas dos europeus, não tinham nada de novo e tinham sem dúvida uma longa história cheia de prestígio.
00:34Sem contacto nenhum com o mundo exterior, os povos indígenas que habitavam estas terras tinham aprendido a viver de modo sedentário.
00:42A construir aldeias e depois cidades.
00:47Organizaram-se em sociedades cada vez mais complexas.
00:49Inventaram formas de governo, desenvolveram conceitos de universo e de vida e criaram religiões.
00:58Se alguns povos não deixaram praticamente nenhum vestígio da sua existência, outros deixaram legados magníficos que disponham a grandeza destes mundos perdidos.
01:08Os Maias, os Astecas e os Incas iluminaram a história de todo um continente.
01:14Os Maias, os Astecas e os Incas iluminaram a história de todo um continente.
01:44Após a descoberta, o século XVI viu o mito das cidades cheias de ouro atrair a cupidez de numerosos conquistadores espanhóis que viram a América como o seu Eldorado.
02:00Uma oportunidade para fazer fortuna.
02:04A conquista foi violenta.
02:07Em apenas alguns anos, os impérios Zinca e Azteca caíram provocando o fim de um mundo.
02:12O extraordinário desenvolvimento destas civilizações foi brutalmente interrompido.
02:20No século XIX e princípio do século XX, a redescoberta destes mundos motivou novos feitos e aventuras exploratórias.
02:27Arriscando a vida, os exploradores aventuraram-se por terras desconhecidas e trouxeram de volta histórias extraordinárias.
02:33No meio da selva, por trás de montanhas intransponíveis, jaziam imensas cidades abandonadas.
02:40Civilizações incríveis tinham precedido a chegada do homem branco ao continente americano.
02:45Os nativos não tinham sido os selvagens que a princípio se pensara.
02:48Vestígios majestosos testemunhavam um nível de desenvolvimento altamente avançado e um grau de sofisticação surpreendente.
02:54Emergiram dois grupos claramente distintos.
03:02Desde o ano 3500 a.C., os Andes tinham visto florescer várias civilizações importantes.
03:08Os Nazcas, os Tiawanaku e, finalmente, os Incas, que fundaram um imenso império no século XV.
03:14Os Maias e os Astecas pertencem às civilizações da América Central,
03:30que partilharam uma cultura comum desde cerca do ano 2500 a.C.
03:34A civilização maia desenvolveu-se primeiro nas florestas da Guatemala e em Chiapas,
03:43cerca de 250 a 300 anos a.C., atingindo o seu auge no século VIII.
03:49Culto e refinado, o povo maia construiu cidades imponentes dominadas por templos e palácios.
03:57Esta é Tikal, a maior e mais poderosa cidade maia na região da selva de Petén da Guatemala.
04:04Tikal dispunha dos templos mais elevados construídos durante a era maia,
04:18chegando mais alto a atingir 70 metros.
04:21As ruínas acinzentadas que hoje podemos admirar mal conseguem refletir o esplendor da antiga cidade.
04:27A reconstituição da praça principal de Tikal permite-nos descobrir uma cidade em que prevalece a cor vermelha.
04:34O que foi isso?
04:42O que foi isso?
04:55No início da sua pesquisa, os cientistas tentaram perceber a finalidade destes templos em forma de pirâmide.
05:01e não eram necessariamente dedicados a deuses.
05:05Muitos foram construídos para glória e adoração de reis.
05:11Nos anos 50 do século XX, nas profundezas deste túnel,
05:14os arqueólogos descobriram uma câmara fúnebre.
05:20Lá dentro estava o esqueleto de um homem, coberto por joias de jade,
05:24o símbolo maia da vida e da imortalidade.
05:26Trata-se do rei Yaso-Chan-Kawil,
05:33que governou Tikal até ao ano 734 a.C.
05:38Tal como os faroós egípcios, os reis maias eram sepultados dentro de pirâmides
05:42e organizavam o seu próprio culto de veneração.
05:45O rei é uma figura que domina a cidade em termos temporais
06:01e que, portanto, age política e militarmente.
06:04Mas ao mesmo tempo e durante o período clássico, isto era incontestável.
06:08Era o líder espiritual da comunidade e do seu território.
06:11A vida urbana era considerada um reflexo do mundo cósmico,
06:21onde o equilíbrio e a harmonia eram garantidos por um rei com o estatuto divino.
06:26A arquitetura monumental tinha por objetivo impressionar e inspirar medo.
06:31O rei era sagrado e a sua história inscrevia-se na mitologia.
06:34No dia da sua ascensão ao trono, ele era o sol da manhã,
06:39emergindo das entranhas da terra e ascendendo no ar.
06:45No momento da sua morte, sob a forma de um jaguar,
06:48transformava-se no sol poente, mergulhando de novo na terra.
06:53Estas lendas estão ligadas aos ciclos do tempo.
06:56Os maias eram grandes observadores do céu e dos movimentos celestes.
06:59Em Chichen Itza, uma cidade do Yucatán, existe um monumento particularmente interessante.
07:15Um observatório astronómico com uma vista do céu de 360 graus.
07:19O arqueólogo Ed Barnhart, um especialista na civilização maia da Universidade de Austin, no Texas,
07:31estudou este monumento excepcional que revela a extraordinária compreensão dos ciclos do tempo
07:36por parte dos sacerdotes maias.
07:38Este canto aqui alinha-se com o canto exterior da janela.
07:52Alinhando aqui com a nossa linha de visão, vê-se apenas o sol.
07:56É exatamente este ou este no equinócio moderno.
07:59Deste lado, afastamos-nos 27 graus diretamente para o local onde Vênus aparece
08:03no seu ponto norte mais longínquo do horizonte.
08:06Os sacerdotes maias pesquisavam os céus incansavelmente,
08:18procurando decifrar nas estrelas o destino do homem
08:20e prever as datas das batalhas e das coroações.
08:31Este não é um mero sistema de observação.
08:34O que está em jogo é observar acontecimentos atuais e do passado
08:37de modo a imaginar aquilo que o amanhã poderá trazer
08:40e a integração de todos estes acontecimentos em ciclos.
08:45Porque a visão do tempo para eles, tal como para outros povos da América Central,
08:50é inteiramente cíclica.
08:53Alguns ciclos têm tendência a repetir-se
08:55e é provável que o tempo um dia seja interrompido.
08:58Por isso, é preciso ter uma visão clara, em especial à noite,
09:02de todos estes acontecimentos que nos podem remeter para o nosso futuro possível.
09:07O universo está sujeito a uma inversão cíclica de acontecimentos
09:32condicionada por forças do bem e do mal, em datas favoráveis ou desfavoráveis.
09:38Mas este grande conhecimento dos ciclos do tempo
09:40tem também uma aplicação prática para os agricultores.
09:43Os astrónomos podem dizer-lhes quando plantar, quando colher
09:46e que trabalho deve ser realizado.
09:49Tudo na sua sociedade depende dos ciclos do tempo.
09:51Hoje, os descendentes dos maias usam técnicas agrícolas de queimada.
09:58Durante a estação seca fazem queimadas para abrir zonas aráveis na selva,
10:02sem ferramentas, e usando as cinzas para fertilizar o sol.
10:05Durante muitos milhares de anos, o milho foi o alimento básico destas regiões da América Central.
10:24Foi cultivado aqui pela primeira vez há cerca de 5 mil anos.
10:27Originalmente, a planta tinha apenas algumas espigas pequenas
10:37que mal davam uma dúzia de grãos.
10:40Ao selecionar e cultivar os grãos mais bem formados,
10:43os povos locais conseguiram criar milho tal como o conhecemos hoje.
10:48O povo maia descrevia-se a si próprio como filhos do milho.
10:51As suas lendas contam como os deuses criaram o primeiro homem a partir da pasta de milho.
10:57A presença destas famílias hoje, exatamente no mesmo local
11:05onde cerca de 70 mil dos seus antepassados viveram em tempos,
11:09levanta uma série de questões.
11:10Como é que a antiga população maia conseguia viver em vastas comunidades
11:14quando este meio ambiente natural hoje permite apenas a sobrevivência
11:17de alguns pequenos grupos de pessoas?
11:23A agricultura de queimadas também levanta um problema difícil.
11:26O sol rapidamente se esgota quando não o deixam ficar impulsivo.
11:30Os maias dominavam várias técnicas agrícolas
11:32que lhes davam produções maiores do que hoje,
11:34mas estas eram ainda limitadas.
11:38No século VIII, as cidades maias cresciam consideravelmente.
11:42O aumento da população fez-lhes exceder as suas capacidades de produção,
11:46levando assim a períodos de fome.
11:47Ao mesmo tempo, as cidades maias tinham de enfrentar outro problema,
12:04desta vez relacionado com a organização.
12:06O seu mundo pode ter sido unificado ao nível cultural,
12:09mas não ao nível político.
12:11Cerca de 70 cidades, cada uma com o seu próprio rei,
12:14estavam numa situação de constante rivalidade.
12:15Tical e Calhac Mugl envolveram-se numa batalha feroz pela supremacia.
12:21O sistema era certamente muito ativo, inteligente e eficiente,
12:30mas em alguns casos era também potencialmente muito frágil.
12:35Uma fragilidade ligada à insegurança e às condições de conflito e de competição.
12:39Em certas zonas, sem dúvida, desapareciam as povoações,
12:47porque eles exterminavam-se uns aos outros.
12:50Outros locais eram invadidos por forasteiros hostis,
12:53e mesmo nesses casos, as populações não tinham tempo para bater em retirada
12:57ou para levar consigo os seus pertences valiosos.
13:00No início da sua pesquisa, os cientistas pensaram um pouco ingenuamente
13:13que estavam a lidar com o povo pacífico.
13:15Hoje sabem que não se tratava disso.
13:17Pelo contrário, os povos maias andavam frequentemente em guerra.
13:22Descoberta em 1946, a povoação de Bonampak,
13:25no estado de Chiapas, possui as riquezas de todos os frescos maias.
13:30Representam o rei de Chuamuan,
13:31que governou Bonampak no final do século VIII.
13:37Estas pinturas ilustram a hostilidade endémica
13:39que dividiu o território maia num grande número de reinos rivais,
13:43cada um procurando alargar a sua zona de influência,
13:45fortalecer o poder político e aumentar a sua riqueza.
13:50Num contexto de escassez de recursos,
13:52estas lutas fratricidas aceleravam o falecimento coletivo.
14:00Após o século IX, não seriam entalhadas e inscritas mais estelas,
14:04nem se construiriam mais monumentos.
14:06Muitos locais ostentam vestígios do conflito e da destruição.
14:10Em apenas alguns anos, este mundo ruiu e desapareceu.
14:14Os aztecas, nómadas do norte, chegaram mais tarde
14:21e instalaram-se na Bacia do México, no século XIII.
14:28Impressionados pelas pirâmides monumentais de Teotihuacan,
14:32abandonadas durante séculos,
14:34imaginaram que a cidade tinha sido obra dos deuses.
14:37Ainda hoje, não sabemos que o povo construiu esta cidade.
14:40Desprezados e considerados selvagens,
14:52os aztecas admiravam os toltecas,
14:55que dominaram a zona até ao século XII
14:57e com quem partilhavam as origens norteanas.
15:01Os aztecas procuravam uma identidade
15:02e, juntamente com o desejo de se instalarem,
15:05encontraram uma civilização extraordinária
15:07que refletia a anterior a eles
15:08e aos seus costumes nómadas e valores guerreiros.
15:21Em última instância, os aztecas são um povo
15:24com dupla filosofia e dupla atitude.
15:28Nós somos os herdeiros e os sucessores
15:31dos nossos predecessores,
15:32em especial dos mais famosos de todos eles,
15:35os toltecas.
15:38Adotámos todos os valores das civilizações
15:40que nos precederam e seremos cultivadores.
15:43Um povo com comportamento civilizado,
15:45mas ao mesmo tempo...
15:48Nós temos origens do norte,
15:49somos descendentes dos xiximecas.
15:52Vimos do norte,
15:53somos descendentes de caçadores e recoletores,
15:56povo corajoso que adorava o sol.
15:57E também temos orgulho nestas origens.
16:09A cidade do México foi construída
16:11sobre as ruínas de Tenochtitlan,
16:13a capital azteca,
16:14depois de a ter sido destruída pelos espanhóis.
16:17Não é fácil hoje em dia,
16:18por entre uma selva urbana de 20 milhões de almas,
16:21encontrar aqui vestígios da presença dos aztecas.
16:23A surpresa chegou em 1978.
16:27Na altura, a Câmara Municipal
16:28estava a planear construir uma rede metropolitano.
16:31Quando começaram as escavações,
16:33os trabalhadores encontraram alguns objetos estranhos.
16:40O arqueólogo José Álvaro Barrera Ribeira
16:43recorda esta descoberta incrível.
16:44Estamos neste momento exatamente por baixo
17:09do Santuário do Templo do Sol.
17:11Esta é a parede norte do templo.
17:13O templo foi dedicado ao deus do sol,
17:16Tonátio.
17:16Tonátio, o deus solar.
17:23Foram encontrados vestígios dos aztecas.
17:26Os espanhóis construíram a nova catedral da cidade
17:29sobre as ruínas do coração sagrado
17:30da antiga capital azteca.
17:33Tinham sido construídos aqui uma dúzia de templos.
17:38Os arqueólogos conseguiram reconstruir
17:40a história do mais importante delas,
17:42o grande templo.
17:44Tal como as pirâmides maias,
17:46foi construído em várias fases sucessivas.
17:50As ruínas permitiram revelar o seu passado
17:52e a história da cidade.
17:53No local onde hoje se ergue a cidade do México,
18:11a uma altitude de 2.200 metros,
18:13há 500 anos estendia-se um lago,
18:15o Texcoco.
18:16Numa zona pantanosa,
18:18os aztecas construíram uma cidade lacustre,
18:21criando ilhas artificiais.
18:23Uma veneza das Américas.
18:25É incrível.
18:26Tenó de Estitlán.
18:30Quando os europeus chegaram mal,
18:31acreditaram nos seus próprios olhos.
18:34Esta capital acolhia uns 300 mil habitantes.
18:37Tenó de Estitlán era uma das mais importantes
18:39metrópoles mundiais na época.
18:41No centro da cidade ficava o seu coração sagrado,
18:43o grande templo, cujas ruínas encontramos agora.
18:51Calculamos que toda a área tivesse cerca de 13 quilómetros quadrados,
18:55que se desenvolveu a partir de zonas delimitadas de terra
18:58à superfície da água
18:59e que precisou de muito trabalho de escavação e drenagem,
19:03proporcionando então zonas habitáveis.
19:08É verdade que, em termos de obras públicas,
19:11foi um empreendimento colossal
19:13e tanto mais espetacular
19:14quanto foi concluído em apenas algumas décadas.
19:29Os aztecas, que se instalaram nesta região pantanosa,
19:32tinham muito pouca terra arável,
19:34mas conseguiram tirar vantagem máxima do ambiente
19:36para alimentar as centenas de milhares
19:38que viviam na capital.
19:39Nos subúrbios da cidade de México,
19:44podemos encontrar algumas áreas agrícolas invulgares
19:47conhecidas por chinampas.
19:50Estes terrenos são tão extraordinários
19:52que hoje fazem parte da lista do património mundial da Unesco.
19:55A sua preservação permite-nos viajar no tempo
19:58e descobrir o segredo dos aztecas.
20:02Uma chinampa é uma zona arável
20:04composta por canais e ilhas artificiais.
20:06Os camponeses mexicanos conservam ainda hoje
20:09a sua preciosa herança azteca
20:11e continuam a trabalhar a terra à maneira ancestral
20:13criando estas jangadas de terra.
20:23Fazemos assim,
20:24quando a lama seca,
20:25fica muito dura.
20:28Aplicamos muita lama
20:29de modo que os galhos desaparecem.
20:32E depois outra camada,
20:33e depois outra ainda.
20:34Quando tudo está seco,
20:36temos uma chinampa.
20:51Estes jardins flutuantes,
20:53construídos à volta da cidade,
20:54podiam alimentar uma população
20:55de várias centenas de milhares.
20:57A técnica proporcionava produções muito elevadas.
21:02A riqueza do sol
21:03e a presença abundante da água e do sol
21:05garantiam quatro colheitas por ano,
21:08variando o cultivo e as quantidades de água e de lama.
21:11Em geral, a agricultura nas chinampas
21:13duplicava as colheitas de um determinado terreno.
21:16O milho,
21:22enquanto o principal suporte da agricultura azteca,
21:24era considerado divino.
21:27O seu deus era Txenteotl
21:28e Txillónen, a sua deusa.
21:31Jovens mulheres
21:32eram-lhes oferecidas em sacrifício.
21:35Para garantia da qualidade,
21:36as colheitas eram decapitadas,
21:37tal como se fazia às espigas
21:39que eram colhidas.
21:40Durante muito tempo,
21:47realizaram-se sacrifícios humanos
21:49por toda a América Central.
21:51Mas com os aztecas,
21:52tornaram-se uma obsessão.
21:56Quando os conquistadores
21:57entraram pela primeira vez
21:59na grande praça de Tenochtitlan,
22:01ficaram horrorizados ao ver os degraus
22:02do grande templo banhados de sangue.
22:10Quando a cidade foi conquistada,
22:12o templo foi destruído.
22:14Mas as escavações arqueológicas
22:16revelaram uma construção ainda mais antiga,
22:19uma réplica do grande templo em miniatura.
22:23Na plataforma,
22:24ergue-se uma pedra negra
22:25destinada aos sacrifícios.
22:36O tipo mais comum de sacrifício
22:38consistia na extração do coração.
22:41A vítima era deitada
22:42sobre a pedra dos sacrifícios
22:44agarrada por quatro homens.
22:46O sacerdote então
22:47abriu o tórax com uma faca
22:48e extraiu o coração ainda a pulsar,
22:51oferecendo-a um sol sedento de sangue.
22:54O corpo da vítima
22:55era então lançado
22:55pelos degraus da pirâmide,
22:57voltando assim ao sol.
22:59O coração era colocado
23:00sobre esta estátua,
23:01o Chacmol.
23:08A explicação para estes rios de sangue
23:11está inscrita na pedra do sol.
23:14Esta escultura de 3 metros e 60 centímetros
23:17de altura que pesa 20 toneladas
23:19é um calendário que marca
23:20o desaparecimento de quatro sóis
23:22devido a cataclismos.
23:24O nosso sol, o quinto,
23:25também está em pri.
23:27Apareceu pela primeira vez
23:28através do autossacrifício de um deus.
23:30Deitou fogo a si próprio
23:32e reapareceu transformado numa estrela.
23:35Mas este novo sol não se mexia,
23:36portanto os outros deus
23:37ofereceram o seu próprio sangue
23:39para lhe dar vida.
23:41Deste modo,
23:42iniciou-se o drama cósmico
23:43no qual a humanidade
23:44tinha agora um papel a desempenhar.
23:46Para o sol continuar o seu percurso,
23:48tinha de ser alimentado todos os dias
23:49com água preciosa.
23:51Por outras palavras,
23:53com sangue humano.
24:00Em primeiro lugar,
24:07é verdade que a ideologia azteca
24:09relativamente aos sacrifícios humanos
24:10é muito forte.
24:13É um aspecto marcante
24:14na construção da sua identidade
24:15e no papel que atribuíram a si próprios.
24:21Têm o mundo vivo
24:23fazendo o que tem de ser feito.
24:25Isto é,
24:26oferecendo sangue
24:27às divindades
24:27que um belo dia
24:28poderiam deixar de funcionar
24:30e deixar de garantir
24:31a sobrevivência do homem.
24:33Isso faz parte
24:34da ideologia dominante.
24:38E finalmente,
24:40penso também
24:40que é um sucesso
24:41de um sistema político
24:42e a expansão
24:43de um império
24:44que conduz
24:44a este tipo
24:45de sacrifícios excessivos
24:46a que assistimos
24:47em certas épocas.
24:50Tratava-se
24:51da necessidade
24:52de melhorar
24:53o que se tinha feito antes
24:54para garantir
24:55que o sistema
24:55continuasse a desenvolver-se.
25:00Isto tem de continuar
25:00que quatro.
25:02Em 1487,
25:04o imperador
25:05Auitzotl
25:06comemorou a renovação
25:07do grande templo.
25:09A cerimónia foi
25:10aterrorizadora.
25:13No altar
25:13de sacrifícios,
25:14os sacerdotes
25:15abriram o peito
25:15de uma sucessão
25:16infindável
25:17de cativos.
25:18A inauguração
25:19tirou a vida
25:19a 10 mil pessoas,
25:20talvez mais.
25:21O império
25:22estava no anjo
25:24do seu poder.
25:26Em 1440,
25:28os aztecas
25:29tinham lançado
25:29largas campanhas
25:30de expansão,
25:31conquistando pela força
25:32as tribos
25:32que viviam
25:33no planalto mexicano.
25:35Em 1520,
25:36dominava um império
25:36que se estendia
25:37por 200 mil km².
25:39Nas vésperas,
25:40a invasão espanhola
25:41incluía 38 províncias
25:42diferentes,
25:43cada uma obrigada
25:43a pagar elevados tributos.
25:45Os aztecas
25:46impunham o seu domínio
25:47através do terror.
25:48O que interessa
25:51aos aztecas
25:52e o que está
25:52na base
25:53da sua grandiosa
25:54arquitetura
25:54que representa
25:55o império
25:56é o controlo
25:57de vários territórios
25:58para cobrar tributos,
25:59para obter riquezas
26:01e reconhecimento
26:02como autoridade superior.
26:05Não se trata
26:05de se apoderarem
26:06fisicamente
26:07desses bens materiais,
26:09subsequentes deslocações
26:10e colonizações
26:12das populações,
26:13abrangendo uma área
26:14absolutamente colossal.
26:18colonizações,
26:19etc.,
26:20de toda uma
26:21superfície
26:22absolutamente colossal.
26:25Trata-se antes
26:26de empreendimentos
26:27guerreiros
26:27em que promovem
26:29mesmo a guerra
26:29ou, em muitos casos,
26:31se contentam
26:32em ameaçar
26:32de modo a obter
26:33a submissão
26:34de um certo número
26:35de territórios
26:36que depois
26:37aderem ao sistema
26:37imperial.
26:38ao fazê-lo,
26:46reconhecem
26:46a autoridade suprema
26:47de Tenochtitlã,
26:49reconhecem
26:49a autoridade suprema
26:50de Tlatoani,
26:52do imperador,
26:53reconhecem
26:53a importância
26:54fundamental
26:55de uma divindade,
26:56o guardião divino
26:57dos aztecas,
26:59o Itzilopochtli,
27:01o deus do sol.
27:03Mas, ao mesmo tempo,
27:03em certa medida,
27:04têm o direito
27:05de continuar
27:05a tratar
27:06dos seus negócios
27:07desde que continuem
27:08a garantir
27:09esse reconhecimento
27:10e o pagamento
27:10dos seus tributos.
27:19Os aztecas
27:20prosseguiam
27:20as suas campanhas
27:21implacavelmente.
27:23Nas linhas da frente
27:23estavam os guerreiros
27:24mais valorosos
27:25que pertenciam
27:26a cavalarias de prestígio
27:27como a elite da águia,
27:29cujos capacetes
27:29tinham a forma
27:30da cabeça
27:30de uma águia.
27:37Os tributos
27:37eram transportados
27:38até à capital
27:39por longas linhas
27:40de transportadores
27:41e eram devidamente
27:41anotados e registados.
27:44Em vários manuscritos
27:45foram encontrados
27:46vestígios dessas contas.
27:49Toneladas de alimentos,
27:50algodão,
27:51têxteis,
27:51penas ornamentais
27:52e uma quantidade
27:53impressionante
27:54de objetos preciosos
27:55constituíam o resgate
27:56que os súbditos
27:57do Império
27:58pagavam todos os anos.
27:59As pessoas
28:03não tinham direitos
28:04nenhums
28:04a não ser
28:05trabalhar
28:06para os novos senhores,
28:07ver-se reduzidas
28:08à escravatura
28:09ou tornar-se
28:10vítimas de sacrifícios.
28:15A rápida expansão
28:16do Império
28:17ao longo de dois séculos
28:18mal podia esconder
28:19as tensões internas
28:20sobre os assentos.
28:24Tenochtitlan
28:24era um mostruário
28:25dos aztecas
28:26e o seu poderoso domínio
28:28exigia um preço elevado.
28:29Durante o mesmo período,
28:50os Incas estavam à frente
28:51de um Império
28:52cinco vezes maior.
28:54Estendia-se por cerca
28:55de 4 mil quilómetros,
28:56desde o Equador
28:57até ao Cílio de hoje,
28:58abrangendo
28:59950 mil quilómetros quadrados.
29:02O povo Inca
29:03concebeu
29:03um sistema organizativo
29:04capaz de governar
29:05este vasto território,
29:07constituído por
29:07todo um aglomerado
29:08de diferentes tribos.
29:09em 1615,
29:21em 1615,
29:22numa obra excepcional
29:23Filipe Humano Poma de Ayala,
29:25desenhou um perfil histórico
29:27e etnográfico
29:27da região dos Andes
29:28pré-colombianos
29:29e pré-coloniais.
29:32Essa obra,
29:33a obra da sua vida,
29:35continha também
29:36uma acusação
29:36violenta
29:37dos excessos
29:38das autoridades espanholas,
29:39em relação às populações indígenas.
29:49Estas crónicas
29:50fazem parte
29:50de um raro testemunho
29:51relativo à originalidade
29:53e à organização dos Incas.
29:54Uma palavra que significa
29:56ao mesmo tempo
29:56o rei
29:57e o seu povo.
29:57A lenda defende
30:05que havia
30:0613 Incas,
30:07mas os primeiros
30:08oito eram
30:09provavelmente
30:09míticos.
30:11Podem ter sido
30:11chefes militares.
30:13Nessa altura,
30:13o povo Inca
30:13não se distinguia
30:14de outras tribos
30:15do Peru.
30:16Com o nono Inca
30:17começa verdadeiramente
30:18a sua história.
30:20O poderio Inca
30:21cresceu
30:21e em breve
30:22ultrapassou o poder
30:23de um pequeno Estado.
30:24Homem de grandes
30:27capacidades militares,
30:29Pachucuti
30:29iniciou a impressionante
30:31expansão
30:31do Império Inca.
30:33A norte
30:33conquistou o reino
30:34de Chino.
30:35A sul avançou
30:35até ao vale
30:36Nascar.
30:37Abrindo uma nova
30:38era de conquista,
30:39juntou umas 500
30:40tribos dos Andes
30:41num único Estado.
30:42Houve uma verdadeira
30:46tentativa de,
30:47a partir de uma
30:48autoridade central,
30:49harmonizar no seio
30:50de um Império
30:51uma ampla variedade
30:52de entidades
30:53claramente muito diferentes.
30:56Essas diferenças
30:57acentuaram-se ainda mais
30:58quando o Império
30:59se alargou para sul,
31:00desde a Colômbia
31:01até a Argentina
31:02e ao Chile,
31:04abrangendo um número
31:05de regiões
31:05que eram geográfica
31:06e ecologicamente
31:08extremamente diversas.
31:09Pachacuti
31:16revelou-se
31:16um administrador
31:17notável.
31:18As famílias
31:19tinham uma vida
31:19comunitária.
31:21A posse das terras
31:22não era privada.
31:23As famílias
31:24trabalhavam as terras
31:25que pertenciam
31:25à comunidade.
31:26Cada região
31:27tinha de produzir
31:28para o Império
31:28de acordo com as suas
31:29características especiais.
31:32Os Incas
31:32dotaram o seu Império
31:33de uma estrutura
31:34sólida e eficiente
31:35dirigida por uma
31:36casta de funcionários
31:37públicos.
31:39Para assegurar
31:41as trocas
31:41económicas
31:42entre as diversas
31:43chefias do Império,
31:44a Autoridade Central
31:45precisava de uma
31:46rede de estradas
31:47para as ligar
31:47umas às outras.
31:49Mas isto aqui
31:49eram os Andes,
31:50a cordilheira montanhosa
31:51mais elevada do mundo
31:52a seguir aos Himalaias.
31:54Para atravessar os rios,
31:55os Incas
31:56tornaram-se mestres
31:56na construção
31:57de pontos suspensas.
31:58Inventavam técnicas
31:59cada vez mais sofisticadas,
32:01muitas delas
32:01ainda hoje usadas.
32:03A construção
32:04desta ponta
32:05dá uma ideia
32:05da mão de obra necessária.
32:07É uma imagem
32:08impressionante,
32:08muito atualizada
32:09da organização
32:10que é necessária
32:10nos anos
32:11onde cada projeto
32:12exige a participação
32:13de todos.
32:14Este trabalho coletivo
32:15era um dos princípios
32:16fundamentais do Império Inca.
32:17A vasta rede de estradas
32:33chamava-se
32:34Capac Nan.
32:36Era o elemento chave
32:37da política económica
32:38e da organização política
32:39do Império Inca.
32:40Uma coluna vertebral gigantesca
32:42comparada com a rede de estradas
32:43dos romanos.
32:44permitia ao Inca
32:46controlar o seu império
32:48e o movimento
32:48das suas tropas
32:49a partir da capital,
32:50Cusco.
32:54Após a conquista hispânica,
32:56a maioria destas estradas
32:57deixaram de ser mantidas.
32:58Os Incas não tinham
32:59transportes com rodas
33:00nem cavalos.
33:01Todas as viagens
33:02eram feitas a pé.
33:05Este meio de locomoção
33:05não era para os espanhóis.
33:07Por isso,
33:08eles abandonaram as estradas.
33:09A altitudes
33:14entre os 1.000
33:14e os 4.500 metros
33:16com 40.000 quilómetros
33:17de comprimento,
33:18estas estradas
33:19tinham às vezes
33:2015 metros de largura.
33:22Ligavam zonas habitadas,
33:23centros administrativos,
33:24áreas agrícolas
33:25e mineiras,
33:26bem como locais de culto.
33:27A rede de estradas
33:41dos Incas
33:42proporcionou
33:43a unificação
33:43deste imenso império,
33:45decididamente
33:45um dos mais bem organizados.
33:47Estafetas de corredores
34:02faziam passar em formação
34:03a uma velocidade incrível.
34:05Partindo do Palácio do Inca,
34:07eles conseguiam alcançar
34:08os limites do império
34:09em dois dias.
34:10Os Incas não tinham escrita.
34:13Para compensar esta falha,
34:14desenvolveram o sistema original
34:15usando este objeto,
34:17o quipu.
34:17feito de vários fios coloridos
34:19e com nós.
34:21Cada cor e cada comprimento
34:22tinham um significado
34:23codificado,
34:24simbolizando um número,
34:25uma data
34:25ou um tipo de produto.
34:27Os quipus
34:28permitiam gerir
34:29as finanças públicas
34:30com bastante eficácia.
34:32A economia era controlada
34:33através de vários intermediários.
34:36As povoações locais,
34:37através dos seus chefes,
34:39eram obrigadas
34:40a recolher os impostos
34:41e a organizar a MITA,
34:43o trabalho obrigatório
34:44dos Anturuna,
34:45aqueles que tinham
34:46de pagar os tributos.
34:47Isto representava
34:49o primeiro elo
34:50da cadeia.
34:53Mas o Inca
34:55impunha
34:56todo um sistema
34:57administrativo
34:58aos povoados.
35:00Por exemplo,
35:01com pessoas
35:02encarregas
35:02de monitorizar
35:03a atividade mineira
35:04e com funcionários
35:06públicos
35:07para cada região
35:08do império,
35:09por chamados
35:10Apucuna.
35:11Estas pessoas
35:15eram mais do que
35:16meros delegados
35:17da autoridade central.
35:20Funcionavam também
35:21como elos
35:22de ligação
35:23no fluxo
35:24da informação
35:25entre os chefes locais
35:26e o próprio Inca.
35:27em algumas aldeias
35:31dos Andes
35:31ainda hoje
35:32se encontram
35:32vestígios
35:33deste extraordinário
35:34sistema.
35:35Na aldeia de Mara,
35:47entre Cusco
35:48e Machu Picchu,
35:49um ancião
35:49de 77 anos
35:50possui a chave
35:51do enigma.
35:51Palino Cinti Roca
35:54é descendente
35:55de uma família
35:56nobre
35:56a quem foram
35:57concedidos
35:57certos privilégios
35:58que lhe permitem
35:59trabalhar numa mina
36:00de sal.
36:01Um documento
36:02do século XVII
36:02confirma este privilégio
36:04que vem
36:04desde a administração
36:05colonial.
36:10Cinti Roca
36:11é o nome
36:14da minha família
36:15e também
36:15do segundo Inca.
36:17Significa
36:17o senhor
36:18das pedras.
36:19O Inca
36:20ensinou os homens
36:21a encontrar sal
36:22e a usá-lo.
36:36Depois disso
36:37construiu estradas
36:39por todo o lado
36:39para serem usadas
36:41por todos,
36:42por todo o império.
36:49Mara
36:50é um local
36:51extraordinário.
36:52Os Incas
36:53produziam aqui
36:53sal
36:54para parte
36:54do império.
36:56Encontraram
36:57um fenómeno
36:57geográfico
36:58invulgar,
36:58uma nascente
36:59de água salgada.
37:01Através
37:02de uma sucessão
37:02de sucálculos,
37:03a água evapora-se
37:04deixando sal,
37:05que é particularmente
37:06escasso
37:06nas montanhas.
37:10De Mara
37:11estendiam-se
37:11estradas
37:12em todas as direções
37:13fornecendo várias
37:14regiões vizinhas.
37:15Em tempos,
37:16o local
37:16desfrutou
37:17de uma importância
37:17especial
37:18que agora
37:18se perdeu.
37:22As minas
37:22de sal de Mara
37:23também
37:24engrandeceram
37:24a imagem
37:25de todo o poderoso
37:26dos imperadores.
37:28Era por causa
37:29do sol.
37:31Graças ao sol.
37:33Os Incas
37:34adoravam o sol.
37:35Além de Cusco
37:51e de alguns
37:51centros administrativos
37:52regionais,
37:53o Império
37:53tinha poucas cidades.
37:56A maioria
37:56das pessoas
37:57vivia em aldeias
37:58pequenas
37:58e trabalhava
37:59nos campos.
38:00A agricultura
38:01era o centro
38:01da economia
38:02inca.
38:02Entre a capital
38:05e Machu Picchu,
38:06ao longo
38:07da velha
38:07estrada,
38:08os sucalcos
38:08estendem-se
38:09pelas encostas
38:10ao longo
38:10de várias
38:10centenas
38:11de metros.
38:13Enfrentando
38:13um terreno
38:14montanhoso
38:14particularmente
38:15irregular,
38:16com poucas
38:16áreas planas,
38:17os camponeses
38:18incas conseguiram
38:19aumentar a zona
38:19de terra
38:20arável,
38:20escavando sucalcos
38:21nas colinas.
38:24Empregando esforços
38:25monumentais,
38:25construíram muros
38:26de pedra
38:26para assegurar
38:27o solo
38:27em camadas,
38:28o que dá
38:28às montanhas
38:29a aparência
38:30de um lance
38:30de escadas
38:30gigantesco.
38:32Dos anos
38:33ainda vivem
38:34ao ritmo
38:34da sua
38:34faina
38:35agrícola.
38:36Algumas plantas
38:36como o milho
38:37requerem
38:37um clima
38:38quente
38:38e húmido,
38:38mas outras,
38:39como as batatas,
38:40dão-se bem
38:40nas terras altas.
38:42Os camponeses
38:43sabem como explorar
38:43as diferenças
38:44climáticas
38:45entre os vales
38:45e os picos
38:46para cultivar
38:47espécies
38:47que normalmente
38:48não se encontrariam
38:49na mesma região.
38:54Estes sucalcos,
38:55hoje em dia
38:56mais ou menos
38:56abandonados,
38:57dão uma imagem
38:58tene da verdadeira
38:58opulência do passado.
39:00Parece que o perú
39:01de hoje mal
39:01consegue igualar
39:02aquilo que o Império
39:03Inca
39:03produziu
39:04há tantos séculos.
39:05hoje nos arredores
39:26de Cusco
39:27as famílias
39:28juntam-se
39:28em mercados locais
39:29para trocar
39:30os seus alimentos
39:30em excesso
39:31e alguns produtos
39:32artesanais
39:32promotando
39:33e trocando géneros.
39:35Nos dias do Império,
39:36o grosso da vida
39:37económica
39:37acontecia fora
39:38dos mercados,
39:39no contexto
39:40de uma economia
39:40estritamente controlada.
39:56Estas construções
39:57conhecidas por
39:57Colcas
39:58eram armazéns
39:59dirigidos pelo Estado.
40:00quando os espanhóis
40:01chegaram
40:01estavam cheios
40:02de alimentos
40:02e objetos
40:03do dia-a-dia.
40:05Materiais
40:05e ferramentas
40:06tudo o que uma sociedade
40:07precisava
40:08para viver
40:09e para enfrentar
40:10tempos mais difíceis.
40:13O sistema
40:14permitia à população
40:15viver em condições
40:16aceitáveis.
40:20No topo da pirâmide
40:21estava o Inca
40:22considerado um descendente
40:24direto de
40:24Inti
40:25o Deus Sol.
40:27Ele assumia
40:27todos os poderes
40:28políticos e económicos
40:29mas a sua legitimidade
40:30era basicamente
40:31religiosa.
40:33O Inca
40:33era um ser
40:35sagrado
40:35que encenava
40:37a sua própria
40:38origem divina.
40:45A cidade
40:46de Machu Picchu
40:47miraculosamente
40:48preservada
40:49construída por
40:50Pachacuti
40:50a 70 quilómetros
40:51da capital
40:52é o símbolo
40:53majestoso
40:54do grande poderio
40:54do Inca.
40:55Os Incas
41:06sonhavam
41:07com a grandeza
41:07acreditavam
41:08que estavam
41:09à cabeça
41:09de um império
41:10que duraria
41:10para sempre.
41:1180 anos
41:24após o reinado
41:24de Pachacuti
41:25os conquistadores
41:26descobriram os ângulos.
41:28O líder
41:28era Francisco Pizarro
41:30homem de modesta
41:32fortuna
41:32e letrado
41:33com 56 anos
41:34de idade
41:34partiu à conquista
41:35do Império
41:36Inca.
41:37O seu único
41:38património
41:39era a inteligência
41:39à coragem
41:40e um desejo
41:41esmagador
41:41de fazer fortuna.
41:43Ao saber
41:43da presença
41:44do Inca
41:44Atahualpa
41:45em Cajamarca
41:46partiu
41:46ao seu encontro.
41:49Eu diria
41:50que o encontro
41:51foi um fracasso.
41:52Foi um encontro
41:53desastroso
41:54porque houve
41:54uma total
41:55falta de compreensão.
41:57Quando os espanhóis
41:58veem Atahualpa
41:59em Cajamarca
42:00veem-no
42:02numa liteira
42:03coberta
42:03de penas
42:04e ele próprio
42:06tem uma coroa
42:07de penas.
42:09Valverde
42:11o arcebispo
42:12e guardião
42:13dos livros
42:14sagrados
42:14espanhóis
42:15oferece-lhe
42:16as escrituras.
42:22Como o Inca
42:23nunca tinha visto
42:24um livro
42:24pega nele
42:26olha para ele
42:27e atira-o
42:28para o lado.
42:30Isso foi
42:31obviamente
42:31ofensivo
42:32para os espanhóis
42:33que do seu ponto
42:34de vista
42:35tinham vindo
42:35também
42:36para evangelizar.
42:37Este mal
42:42a entender
42:42foi desculpa
42:43suficiente
42:44para os espanhóis
42:45massacrarem
42:45uma boa parte
42:46da aristocracia
42:46inca
42:47que estava presente.
42:49Atahualpa
42:49foi feito
42:50prisioneiro.
42:51Pizarro
42:51exigiu
42:52um enorme
42:52resgate
42:53em ouro
42:53que foi
42:53pago
42:53imediatamente.
42:55Mas a transação
42:56era duvidosa.
42:58Pizarro
42:58conseguiu
42:58que o Inca
42:59fosse julgado
43:00e executado.
43:01enfrentando um império
43:16dividido
43:16e sem comando
43:17Pizarro
43:18dominou
43:18a resistência
43:19dos Incas.
43:20Acabou.
43:22Os espanhóis
43:22eram os novos
43:23senhores dos anos.
43:25Os anos
43:26que se seguiram
43:26à conquista espanhola
43:27foram trágicos
43:28para os Incas.
43:29devastados
43:31por armamento
43:31moderno
43:32e escravizados
43:33assistiram
43:33ao colapso
43:34do seu mundo.
43:37Massacrados
43:37pilhados
43:38e torturados
43:39os índios
43:39foram tratados
43:40como seres
43:40inferiores
43:41destituídos
43:42das suas terras
43:43e condenados
43:43a uma vida
43:44de miséria
43:45e humilhação.
43:59Alguns anos
44:19antes,
44:20em 1519,
44:21a conquista
44:22do México
44:22por Hernán Cortés
44:24proporcionou
44:24um dos mais
44:25extraordinários
44:26encontros
44:26entre a história
44:27e a lenda.
44:27Para os aztecas,
44:30o ano de 1519
44:31coincidiu
44:32exatamente
44:32com o ano
44:33em que o seu
44:34lendário calendário
44:35previa o regresso
44:36de Coetzalcoatl,
44:37a divina serpente
44:38emplumada.
44:40No Palácio Presidencial
44:42da cidade do México,
44:42os frescos
44:43de Diego de Rivera
44:44relatam este episódio
44:45da história do país
44:46em que se pôs fim
44:47a um mundo
44:47em apenas alguns meses.
44:50Durante muito tempo,
44:52os aztecas
44:52não compreenderam
44:53o que se estava
44:54a passar,
44:54o que estava em jogo,
44:56o que poderia acontecer.
44:59Não admitiram
44:59que todos
45:00estes estranhos
45:01tão extravagantes,
45:02a quem a certa altura
45:03tinham tomado
45:04por deuses,
45:05podiam representar
45:06uma sentença
45:07de morte
45:07do mundo
45:08que eles conheciam.
45:09poderiam significar
45:12a rede de morte
45:14do seu sistema
45:15e a presença
45:16de controle
45:16do seu sistema
45:17Quando finalmente
45:20se aperceberam,
45:21já era um pouco
45:22tarde demais.
45:24Muito se disse
45:24sobre as disparidades
45:25de recursos técnicos
45:27das armas espanholas,
45:28do facto de terem
45:29cavalos e cães,
45:30etc.,
45:31que tiveram importância,
45:33mas talvez
45:33só à margem.
45:34Qualquer modo,
45:39mais cedo
45:40ou mais tarde,
45:42aquela parte
45:42do mundo
45:42tinha sido
45:43descoberta
45:44e a coroa espanhola
45:46e todos
45:46os que a representavam
45:48estavam determinados
45:49a instalar-se ali
45:50e a conquistar
45:51estes novos horizontes.
45:53O que certamente
45:55desempenhou
45:56um papel principal
45:57e que explica
45:57o modo
45:58como as coisas
45:59aconteceram
45:59no México
46:00foi a enorme
46:01inteligência
46:01do líder,
46:02Cortés.
46:03ele compreendeu
46:08rapidamente
46:09que o Império
46:09era frágil
46:10e havia adversários
46:11internos
46:12e populações
46:13inteiras
46:13contra o Império
46:14e então
46:15reforçou
46:16a sua meia dúzia
46:17de homens
46:17com tropas auxiliares
46:19às dezenas
46:20de milhares
46:20que constituíram
46:21os seus batalhões
46:22nos momentos decisivos.
46:33A conquista
46:37do Novo Mundo
46:38levou a uma
46:39das grandes
46:39tragédias
46:40da história.
46:42Várias dezenas
46:43de milhões
46:43de ameríndios
46:44foram dizimadas.
46:45A população
46:46do México
46:46em 1519
46:47atingiu
46:48os 25 milhões.
46:50No início
46:51do século XVII
46:52mal chegava
46:52a um milhão.
47:02Quase 500 anos
47:03após estes
47:04acontecimentos
47:04devastadores
47:05no México
47:06e na Guatemala,
47:07numerosas comunidades
47:08ameríndias
47:08preservaram as tradições
47:10e as crenças
47:10dos seus antepassados.
47:33Os Andes
47:34foram finalmente
47:35libertados
47:35da operação espanhola
47:36no início
47:37do século XIX,
47:38dando origem
47:39a vários
47:39estados
47:39independentes,
47:40incluindo a Bolívia
47:41e o Peru,
47:42que herdaram
47:42uma parte
47:43substancial
47:43do velho
47:44Império Inca.
47:47Apesar
47:47da colonização
47:48e das campanhas
47:49de evangelização,
47:50as crenças
47:50antigas
47:51e as tradições
47:51não desapareceram.
47:53A princípio
47:53foram mantidas
47:54em segredo,
47:55finalmente,
47:56às claras.
47:56estes povos da América
48:09estes povos da América
48:23recordam com orgulho
48:24recordam com orgulho
48:24o seu passado glorioso
48:25e prosseguem
48:26uma longa história
48:27que é apenas sua.
48:36Tradução e locução
48:38Dialectos
48:39Dialectos
48:39do século XIX,
48:42do século XIX,
48:44do século XIX,
48:44do século XIX.
48:45Legenda Adriana Zanotto
49:15Legenda Adriana Zanotto