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Conheça a história de milhares de filhos que os militares portugueses tiveram de mulheres africanas durante a Guerra Colonial em Angola, Guiné-Bissau e Moçambique.
Transcrição
00:00Estava já perto da terra, ia lembrar-me da minha terra, fui um dia a passear.
00:08Estava já perto da guerra, ia lembrar-me da minha terra, fui um dia a passear.
00:14Numa palhota sozinha estava uma preta girinha que ao ver-me pôs-se a chorar.
00:20Numa palhota sozinha estava uma preta girinha que ao ver-me pôs-se a chorar.
00:26E fiquei com tanta pena dessa mocinha morena que fugimos para o mato
00:33E fiquei com tanta pena dessa mocinha morena que fugimos para o mato
00:39Somos um casal feliz e já temos um petisco e por sinal é mulato
00:46Somos um casal feliz e já temos um petisco e por sinal é mulato
00:56A CIDADE NO BRASIL
01:26E o MENOS DE BRASIL
01:36E a CIDADE NO BRASIL
01:40Sempre soube do meu pai porque a minha mãe sempre falou-me quando eu perguntasse
01:52Dizia que o meu pai andava na LDM 408.
02:00Era militar, marinheiro.
02:22Esta praia chama-se Praia de Sely.
02:30As primeiras vezes os carros a chegaram aqui em colunas militares nesta zona.
02:37Não sabia quem era meu pai, quem seria meu pai ou o quê,
02:42mas ela viu aquela gente a chegar em colunas militares.
02:48Então, na altura estava a passar nesta rua para esta zona do Porto de Sely.
02:57Mas quando ele viu a minha mãe sentada na varanda da palhota dela,
03:02ele recuou, foi ter com minha mãe naquela varanda, conversou com a minha mãe.
03:10E ela se lembra que naquele dia foi o primeiro dia que o meu pai falou com a minha mãe.
03:18É aqui onde viam as meninas, aqui na praia.
03:23Outras a tomar banho, algumas a lavar roupa, outras a lavar pratos.
03:29Então, eles iam sempre atrás das meninas.
03:33Os portugueses apreciavam muito as meninas negras que eles encontravam aqui.
03:40Gostavam daquelas meninas.
03:42Então, sempre que viessem aqui, faziam aquelas brincadeiras com as meninas daqui.
03:49E muitas delas foram conquistadas, algumas fizeram filhos com os portugueses.
03:57Uma delas foi a minha mãe que fez a mim com o meu pai.
04:00Como veem, vou sair agora para uma viagem para o Lipoche, cá no lago do Niassa.
04:20Como passamos por um gol, deixamos estas pessoas que nos acompanham, estas caras lindas.
04:28Bem, vou terminar a minha mensagem enviando mais um abraço para a minha mulher e filhos.
04:36E umas festas felizes, porque eu estou cheio de saudades, mas cá vou andando na vida, cá no lago do Niassa.
04:45Adeus!
04:46Ela tinha nudez, não tinha roupa.
05:15Muitas vezes, ela só vestia a capulana até aqui.
05:21Blusas, de qualquer maneira.
05:23Então, quando começou a namorar com o meu pai, foi quando começou a ter roupa boa.
05:29Punha capulana em outras ocasiões, mas muitas vezes vestia-se assim, quando estivesse com o meu pai.
05:37Para não envergonhar a ele.
05:42Dizia, para não envergonhar, vestir-se bem assim.
05:45Para não envergonhar, não até nem sephando.
06:00Dizia que você andaturas88888888888888888888888888888888888888888888888888888888888888888888888875.
06:05A representação da casa e da casa, a casa do Estado do иногда.
06:10Nós somos irmãos.
06:13Nós somos irmãos.
06:16Muita casa do mundo depois.
06:18Isso não é muito bom.
06:19Nós somos irmãos lá em uma casa.
06:24Portanto, nós somos irmãos.
06:26O nosso homem é feliz que isso.
06:30Mas a vida é interessante.
06:34Eu não sou.
06:36Eu não sou.
06:41Ele não conseguiu ter que fazer isso.
06:47Ele não conseguiu ter que fazer isso.
06:51A minha mãe.
06:54Ele não conseguiu ter que fazer isso.
06:58Maria. Maria é mais uma mãe.
07:02Ela é a Maria.
07:04. . .
07:34. .
08:04. . .
08:34. . .
09:04. . .
09:06. . .
09:12. . .
09:14Eu não me lembro, mas eu não me lembro.
09:44Eu não ia pedir nada ao ver.
09:47Agora eu acredito,
09:50eu vou olhar o randuário tente para o médico.
09:55Aqui consigo ver.
10:00Até amanhã eu não seria Whatever that isso.
10:09Padre, quase que eu Brilliant!
10:14Sim.
10:16Sim.
10:20Sim.
10:22O meu pai estava ouvindo as pessoas que estavam com a minha vida,
10:27mas eles estavam vivendo.
10:29Eu estava vendo o meu pai na minha vida.
10:33Eu estava vendo o meu pai na minha vida,
10:36mas eu estava vendo o pai na minha vida.
10:39Eu estava vendo o meu pai.
10:41Eu não sei como o quê mas não é que eu vou fazer isso.
10:50Por que eu quero dizer é que eu vou fazer isso.
10:55Não posso sentir muito mais aqui porque eu não sei que eu vou fazer isso.
11:02Eu não sei se está bem, mas eu não sei.
11:09Vamos lá.
11:39Vamos lá.
12:09Então, Karina falou o assunto de como conhecer o meu pai e como é meu pai, eu sinto muito.
12:23Minha preocupação é o meu pai, eu não conheço ele.
12:27Ele está vivo, eu não conheço ele.
12:30Ele é muito bom para uma criança.
12:33Pai, cresceu simpai.
12:37Eu não conheço a família do pai.
12:40Eu não conheço.
13:10Eu não conheço.
13:40Eu não conheço.
14:10...
14:22...
14:27...
14:29...
14:33...
14:37Eu tinha mais ou menos...
15:06Nesta altura, assim, porque era mais ou menos sete anos, oito anos, que eu estava aqui a ter aula, nessa altura.
15:19Nessa altura, éramos muitos filhos de marinheiros portugueses.
15:27Eram rapazes e meninas.
15:30Entre nós, nos conhecíamos na altura, mas éramos muitos.
15:36Depois do meu pai sair, também apareceu alguém para render o lugar do meu pai.
15:45Assim era sucessivamente.
15:47Os militares se rendiam.
15:50Vinham e cumpriam dois anos do serviço.
15:55E depois iam embora.
15:57Vinha outro grupo.
15:58Assim sucessivamente.
15:59Então, eu sempre gostava de sentar na primeira ou na segunda sala, onde eu me sentia melhor.
16:07Mas alguns meninos, por vezes, estariam lá de trás.
16:12Vinham puxar meu cabelo, porque eu tinha cabelo de longos.
16:16E vinham mexendo a minha cabeça.
16:19Às vezes, puxavam o cabelo e diziam, filha de branca, filha de branca.
16:24E por vezes, alguns embrulhavam o papel do caderno e atiravam para mim.
16:32Era uma forma de provocação.
16:35Mas para mim, isso considero como era brincadeiras na altura.
16:54Crescemos sem pais.
17:17Ficamos sozinhos, com mais.
17:22Isso sim, aconteceu.
17:23Mas éramos três, sempre fomos à escola, para ir à escola.
17:28Sempre andávamos juntinhas.
17:30Mas não faltou nos chamar filhas de portugueses, nos colonos.
17:35Isso não faltou.
17:37Não faltou isto.
17:39Eu sei pouco do meu pai.
17:42Mas por perguntas, por eu querer mais saber do meu pai,
17:48tenho um pouco de historial, como conhecer o meu pai.
17:50Mas pelas palavras das minhas tias, minha mãe e o meu tio.
17:55Meu pai foi-se embora porque já tinha chegado, acho que o tempo para ele ir embora.
18:05Sim.
18:06Se o meu pai tomasse conhecimento que minha mãe esperava um bebê, se ele ainda vive,
18:10vive, eu acredito que ele voltaria para me procurar.
18:15Eu acredito.
18:16Não sei como é que se conheceram, mas sei dizer que eles namoraram por muito tempo.
18:31Ele era frio, um senhor chamado Antônio Enes, numa estatura pré-mediana, mais ou menos o jovem aqui.
18:42Em 1972.
18:44De 71 para 72.
18:46Quando eu soube que a Arminda estava grávida, que é a mãe dela,
18:49eu informei a ele.
18:53Eu disse, olha, a moça está grávida.
18:56Tá bom.
18:57Mas depois, eu viajei, né?
19:00Mas depois, quando volto,
19:02apanho ela, encontro ela quando já tinha nascido.
19:06Ela veio mostrar a miúda.
19:08Tá bom.
19:09Eu dou Antônio Enes, eu dou Antônio Enes.
19:11Ok.
19:12Pronto.
19:12Vamos fazer o quê?
19:13E, na verdade, ali fiquei um pouco chocada,
19:19quando a tia falou de que, quando minha mãe ficou minha grávida,
19:25foi ter com a tia Rosa Maria,
19:28para explicar que a minha mãe estava esperando um filho, ou estava grávida.
19:35A minha mãe disse que não conseguiu informar isto ao meu pai.
19:41E o meu pai não tomou conhecimento que estava a minha grávida.
19:45Fiquei um pouco surpresa,
19:47quando a tia disse que conseguiu fazer chegar a informação ao meu pai.
19:52É pela primeira vez que estou a ouvir isto pela tia.
19:55Eu nunca soube.
19:57Mas, na verdade, se for o meu pai sabia,
20:00eu ia sentir chocada.
20:03Bocadinho, porque o meu pai já tinha tomado conhecimento
20:06que esperava um filho dele.
20:11Não se pode responder pelo outro.
20:13É mentira.
20:15O sentimento de um não é o meu sentimento.
20:20Eu não posso abandonar um filho,
20:22por mais que seja um filho apanhado, sei lá.
20:27Não abandono.
20:27Porque é sangue de mão sangue e não abandono.
20:32Agora, se existe uma pessoa que abandona o filho,
20:35essa pessoa não tem coração.
20:38Sim.
20:39Porque quando saiu daqui,
20:42sabendo que eu deixei uma mulher grávida,
20:44eu devia fazer tudo por tudo, ir à embaixada.
20:48Em Portugal temos muitas embaixadas.
20:50Moçambicana,
20:51angolana,
20:52cabo-verdiana,
20:54russa.
20:54Temos muitas embaixadas.
20:56Podia ir a uma das embaixadas, talvez moçambicana.
20:58e procurar saber, perguntar.
21:04Olha, acontece isto e isto, mas aquilo.
21:07Como é que eu posso apanhar um filho que eu não deixei?
21:09Se aparecesse hoje o meu pai,
21:14mesmo o meu pai biológico,
21:17do meu sangue,
21:19eu agradeceria muito.
21:22Eu ia abraçar.
21:24Eu ia perdoar.
21:27Que tudo que aconteceu é, pai.
21:30Eu ia agradecer muito.
21:33Muito.
21:39Eu nasci em 67.
21:58O que eu sei do meu pai é que ele
22:01estava no quartelho de Cantina Dias,
22:06Batalhão 1542,
22:08Companhia 1885.
22:15E em relação à saída dele a Portugal,
22:20minha mãe me disse que eu tinha 4 meses
22:22e ele foi em serviço
22:25numa parte que minha mãe não soube onde que era
22:29e daí não voltou mais.
22:32Só sei apenas disso.
22:34Desde que meu pai era chamado por Manuel
22:39e minha mãe não soube outro nome,
22:42porque ele desapareceu da minha mãe
22:45quando eu era muito pequenina,
22:47com 4 meses.
22:49Minha mãe nunca pensou que um dia
22:51esse homem podia estar fora dela
22:53e deixando-lhe beber,
22:55que sou eu.
23:01Eu já tentei entrar nos grupos
23:03do Facebook.
23:06Já estou num grupo de picadas do Niassa.
23:10Estou num grupo de antigos combatentes portugueses.
23:13já pus lá a minha fotografia,
23:17já pedi para tentar localizar meu pai,
23:21aos colegas que comigo conversam,
23:24e até hoje não consigo localizar.
23:26Nem eles não conseguiam me dizer nada.
23:28Os antigos combatentes,
23:34alguns têm sentimento das nossas mães,
23:36mas alguns até falam mal.
23:38Começam a...
23:39as vossas mães
23:41se metiam com tropas,
23:44os brancos portugueses.
23:47Então, eles se voltaram
23:49porque não eram maridos,
23:51porque eles eram militares,
23:53viviam nos quartéis.
23:55Alguns antigos combatentes
23:57nos ofendem,
23:58mas alguns combatentes
23:59nos acalmam,
24:02sentem por nós.
24:04Eu sei
24:05que o meu pai
24:07foi o primeiro homem
24:08para minha mãe.
24:10E minha mãe só nasceu a mim,
24:12não teve mais filhos.
24:15Mas eu sou a única filha da minha mãe
24:17e talvez meu pai
24:19teve outros filhos lá em Portugal.
24:21Mas aqui em Moçambique
24:22sou a única.
24:23E eu, por exemplo,
24:25vasculhava muito neste baú
24:26que está aqui,
24:28que eu sabia que
24:29este baú
24:30quem deixou foi meu pai
24:32e eu queria encontrar
24:33alguma coisa
24:34que o meu pai deixou
24:35dentro desta mala.
24:37Eu abria muitas vezes
24:39nesta mala,
24:40encontrava fotografias,
24:42fotografias de branco,
24:45mas eu não sabia
24:46que era meu pai.
24:47Às vezes eu perguntava
24:49à minha mãe
24:50quem era
24:51e dizia que era meu pai
24:53e fui crescendo
24:55eu sempre
24:56a pegar
24:56naquelas fotografias
24:58e eu dizia
24:59este é meu pai,
25:01este é meu pai.
25:02Mas também
25:03tentava procurar
25:04alguma escrita
25:06para ver se podia
25:07encontrar
25:07o nome completo
25:08do meu pai,
25:10a naturalidade
25:11ou os nomes
25:12dos familiares dele.
25:13e eu queria tanto
25:14encontrar aquela informação,
25:17mas nunca a encontrei.
25:19Então,
25:20foi difícil
25:21começar a escrever
25:22e procurar
25:24pelos nossos pais.
25:26Foi difícil
25:26por não ter
25:27como encontrar.
25:32Encontrei
25:33o endereço
25:33da marinha.
25:34então eu fiz
25:37a minha primeira carta
25:39à procura
25:39do meu pai,
25:41fiz o historial,
25:43aquilo que eu sabia
25:44e mandei.
25:48Responderam
25:48a dizer
25:49que tinha que aguardar
25:50a resposta
25:51porque isso
25:52era um processo
25:53e fiquei à espera,
25:55à espera,
25:55à espera,
25:57nunca mais
25:57tive a resposta.
26:00Achei melhor
26:00me deslocar
26:01para Portugal.
26:04A primeira carta
26:33eu deixei
26:34na marinha
26:35porque sabia
26:37que o meu pai
26:37é marinheiro
26:39ou foi marinheiro
26:42a ver se eles
26:45podiam ajudar
26:46a localizar
26:47o paradeiro
26:48do meu pai.
26:50Exigiam que eu
26:51tivesse posto
26:52a freguesia
26:53do meu pai,
26:55a data de nascimento
26:56ou nomes
26:58dos seus familiares.
27:00Então,
27:01era informação
27:02que eu não tinha.
27:05Quando vi
27:06que estavam
27:06a aproximar
27:07os dias
27:09do meu regresso,
27:11eu fiquei
27:11muito triste
27:13porque ainda
27:14não tinha
27:15resposta.
27:17Então,
27:17fiquei à espera,
27:19chegou o dia
27:19de regresso,
27:20regressei.
27:21e foi embora
27:25sem encontrar
27:27o pai
27:27e houve
27:29alguém
27:29que
27:30indicou
27:31o meu nome
27:32e indicou
27:33o meu nome
27:34para
27:34talvez eu
27:35apetesse
27:36ajudar.
27:38E isto porquê?
27:38Porque eu tenho
27:39uma página
27:40no Facebook
27:41que é
27:41Lanchas da Marinha
27:42Ultramar
27:43onde todo
27:44o pessoal
27:46das Lanchas
27:47e Fuzileiros
27:48publicam
27:51cenas
27:52que se passaram
27:53na Guiné,
27:54em Góla e Moçambique
27:55e
27:57alguém pensou
27:59que talvez
28:00eu
28:00conseguisse
28:01localizar o pai.
28:04A primeira coisa
28:05que fiz
28:05foi vir aqui
28:06para o arquivo
28:06da Marinha.
28:08A mãe da Rosa,
28:09que ainda é viva,
28:10dizia que o pai
28:11era marinheiro
28:13artilheiro
28:14e teria andado
28:15na Lancha 405
28:17na LDM.
28:18Só tinha o nome
28:18Monteiro
28:19e artilheiro.
28:21No fim
28:21deste trabalho
28:22todo
28:22a mãe
28:23da Rosa
28:24diz que
28:25às vezes
28:26vestia o macacão
28:28e trabalhava
28:30com os motores.
28:31E pronto,
28:31já não é artilheiro,
28:33é fogueiro
28:34CM
28:35com todo
28:36máquinas.
28:38Se a gente
28:39fizer
28:39no Facebook
28:41encontrar
28:42o filho
28:43da escola
28:43tal,
28:43tal.
28:44Uns camaradas,
28:45uns filhos
28:45da escola
28:45da zona
28:46de Setúbal
28:46e falaram
28:46eu estive
28:47numa Lancha
28:49acabou por nascer
28:50a 405
28:50era a 408
28:52até tenho
28:53uma fotografia
28:53e o Monteiro
28:54que eu diga
28:55é este
28:55assim,
28:55assim,
28:56nessa fotografia
28:57e eu mandei
28:58a fotografia
28:59para a Rosa
29:01para a filha
29:01para ela
29:03mostrar
29:03à mãe
29:04da vida
29:06olha
29:07o teu pai
29:07em princípio
29:08é esse aí
29:08assim
29:09agachado
29:10mas não digas
29:12à tua mãe
29:12que é esse
29:14o teu pai
29:14para ver se ela
29:15diz qual é
29:18então
29:19nesta fotografia
29:20quando eu
29:21mostrei
29:22minha mãe
29:23reparou
29:24pouco só
29:26ela fez isto
29:28limpou as lágrimas
29:29dela
29:30nos olhos
29:31e disse
29:32o teu pai
29:33é este
29:34pronto
29:36e eu levei
29:38o meu tio
29:39também
29:39à parte
29:40eu disse
29:41tio
29:41você conheceu
29:42muito bem
29:43o meu pai
29:44nesta foto
29:45está
29:45o meu pai
29:46peço
29:47para identificar
29:48o meu tio
29:50também fez o mesmo
29:51olhou
29:52e disse
29:53oh
29:53Monteiro
29:54está aqui
29:55então
29:57foi muito fácil
29:58eles conseguiram
30:00identificar
30:00o meu pai
30:01através
30:02desta fotografia
30:03pela primeira vez
30:04foi assim
30:07por andar
30:08à procura
30:08do pai
30:09da Rosa
30:09quando eu ia
30:13perguntar
30:14ou me diziam
30:15os filhos
30:16da escola
30:16diziam
30:17olha
30:17pergunta
30:18ao filho
30:21da escola
30:21tal
30:21vou apresentar
30:23os enormes
30:23que ele esteve lá
30:26talvez com ele
30:27mas olha
30:27que esse
30:28parece também
30:29lá deixou um filho
30:30portanto
30:30era assim
30:31assim
30:32ainda está bem
30:33depois falava com ele
30:34olha
30:34estiveste lá
30:35com o Flano
30:35assim
30:36assim
30:36e tal
30:36depois no fim
30:39perguntava
30:40olha lá
30:40tu
30:40também lá deixaste
30:41um filho
30:42é pá
30:43deixei
30:43deixei
30:44então
30:45e sabes
30:45há uma coisa
30:45do teu filho
30:46é pá
30:47meu filho
30:48morreu ao fim
30:48de dois anos
30:49morreu ao fim
30:52de dois anos
30:52em vir embora
30:53Pina
30:54tinha morrido
30:55e eu tinha
30:57as fotografias
30:58dele
30:58e dos netos
31:01e já conhecia
31:04esse filho
31:04da escola
31:05também tinha
31:05fotografia
31:06já desse filho
31:06da escola
31:06e eu disse
31:09olha
31:09é assim
31:10tu
31:11és casado
31:13não é
31:13tens filhos
31:14e ele disse
31:16é pá
31:17sou casado
31:18mas nunca
31:19tivemos filhos
31:19então
31:22e tens a certeza
31:22que teu filho
31:23morreu
31:23não é
31:23mas
31:24pronto
31:27foi um bocado difícil
31:28ele ter que dizer
31:30mas ter
31:31pronto
31:32tinha que dizer
31:32não é
31:33até o teu filho
31:35olha que o teu filho
31:37não faleceu
31:37não faleceu
31:38o homem ficou
31:39de novo
31:39não faleceu
31:40não
31:41o teu filho
31:42tem 50 anos
31:44está vivo
31:45o que é
31:45e tal
31:46é pá
31:46não pode ser
31:48está vivo
31:48ainda te digo mais
31:50tu não tens filhos cá
31:51tens um filho
31:52tens seis netos já
31:53opa
31:55não faleceu
31:56é verdade
31:57olha até te vou dizer
31:59ele até é parecido contigo
32:00um bocadinho mais moreno
32:02claro
32:02mas é parecido contigo
32:04esse tempo
32:07eu já estive a chorar
32:09como
32:13que eu
32:14é de encontrar
32:15o dinheiro
32:16que vai chegar
32:17ligar para o meu pai
32:19mas graças de Deus
32:23consegui ter
32:26uns 200 medicais
32:28pronto
32:30eu
32:32ligava para o pai
32:34no primeiro dia
32:35que foi
32:36dia 18
32:37de fevereiro
32:392019
32:4215 horas
32:45é o tempo
32:48que eu consegui
32:49falar com o meu pai
32:51sou eu
32:52Paulo José
32:53Adelino
32:55que estou
32:56a ligar
32:57a este tempo
32:58e onde
32:59que estou
33:00a ligar
33:00é o lugar
33:02que o senhor
33:03estava a trabalhar
33:04o senhor
33:06o senhor
33:07estava a trabalhar
33:08no barco
33:09Xipa
33:11404
33:13e o senhor
33:15era fogueiro
33:16que estava a trabalhar
33:18na base na Vale
33:19e o barco
33:21sempre
33:21estava na
33:24deslogação
33:25Malawi
33:26Metangula
33:27Metangula
33:28Malawi
33:28que transportava
33:29mercadoria
33:31da base na Vale
33:33e
33:35teve um final feliz
33:36teve um final feliz
33:38porque
33:38o filho
33:40está feliz
33:40o pai ajudou
33:42está a ajudá-lo
33:43já comprou
33:44uma casa melhor
33:45
33:46está a ajudar
33:46os netos
33:47os netos
33:47estão a estudar
33:48e está tudo bem
33:49eu
33:50tenho sorte
33:51de verdade
33:52encontrei
33:54o meu pai
33:55que
33:55me ajudou
33:56e até assim
33:57ele consegue
33:58me ajudar
33:59ao construir
34:01esta casa
34:02aqui
34:02foi muito
34:03rápido
34:04a minha casa
34:05é de tijolo
34:06e também
34:07é feito
34:07por cimento
34:08e também
34:09de cojo
34:10de zinco
34:11a minha casa
34:12antiga
34:13foi de
34:14matope
34:15a matope
34:16é terra
34:18é terra
34:20mataliga
34:25com a mãe
34:26da
34:26marawi
34:27o
34:28tem,
34:29mafuta
34:29diama
34:30lula
34:30kufvinto
34:30vifu
34:31nena
34:31cuti
34:31mjifu
34:32lukula
34:33efi
34:33akatumikile
34:34akasa
34:35anga
34:35kukumu
34:36de
34:37adando
34:37gulila
34:37kua
34:38isisoko
34:38anasitatu
34:39dimbali
34:40makapu
34:41kuchoda
34:42antipacha
34:42antichutumikila
34:43chono
34:44potipata
34:44likilangu
34:45imena
34:45chapano
34:46idata
34:46ichangu
34:47kalai
34:48ichibasi
34:48chupa
34:49E eu sou a mãe que eu estou com a mãe.
35:00Eu sempre aprendi a mãe.
35:04Eu aprendi a mãe.
35:07Eu aprendi a mãe.
35:10Eu aprendi a mãe com a mãe.
35:15Eu aprendi a mãe.
35:19Eu não sei, eu não sei. Eu não sei.
35:21Eu não sei.
35:23Eu não sei.
35:27Nas lanchas, no meu caso na Guiné,
35:31nós andávamos muito tempo nos rios.
35:3330, 40 dias.
35:35Em Moçambique, eles já andavam um dia na lancha
35:39e dormiam em terra.
35:41E tinham as companheiras, pronto, as nativas.
35:45E depois acontecia, pronto.
35:49Viviam dois anos, um ano e tal, dois anos.
35:51O tempo lá estava.
35:53Viviam com elas e depois havia filhos.
35:59Muitas mulheres eram tratadas assim.
36:01Ô Maria!
36:05Não digo essas que tinham suas esposas, né?
36:07Suas amigas.
36:09Mas, ô militar, você está a passar.
36:13O nome que te dava era Maria.
36:17Todas elas eram Marias.
36:19Não era Rosa, não era Celeste, não era Teresa.
36:23Maria.
36:25Maria é a mesma coisa prostituta.
36:29Nessa altura, então, era um ser inferior.
36:41Nessa altura, os negros ainda mais.
36:45Depois não tinham estudos também.
36:47A cultura era deles, pronto.
36:51E havia malta que se aproveitava, pronto.
36:57Havia aproveitamento.
36:59Havia muito aproveitamento.
37:01Mas, olha, foi a guerra.
37:03Foi a guerra.
37:05Eu estou convencido que há milhares de filhos de soldados portugueses.
37:09Estou convencido disso.
37:11Aqui em Moçambique, em toda parte que tinha quartel de tropas portugueses, estão cheios de filhos de portugueses.
37:24Cheios mesmo.
37:26Onde passou quartel, tem filhos de portugueses.
37:31Somos muitos.
37:33Dois.
38:03Amém.
38:33Amém.
39:03Amém.
39:04Amém.
39:05Portanto, eles ficam felizes por encontrar o pai.
39:09O desejo deles é encontrarem o pai.
39:12No caso que encontre o pai e que o pai não aceita, eu tento dizer que não consigo chegar.
39:19Epá, estou a mentir, mas o que é que é dizer?
39:21Vou dizer, olha, o teu pai não te aceita.
39:24Penso que isso, não sei se é a tua fazer mal, mas eu digo que não consigo chegar.
39:32Meu pai não foi buscar porque ele ficou ciente que a minha mãe não quis me deixar ir com ele.
39:45Então não foi de novo atrás para ver se podia me levar.
39:51A Rosa disse-me que o pai gostava muito dela e que a quis trazer, mas que a mãe não deixou
39:59depois perdia-lhe o rastro. Nunca mais havia.
40:02Mas eu acho que o pai não gostava assim tanto da Rosa porque ele veio embora e não veio para Portugal,
40:12não veio para o continente. Ele ficou lá.
40:14Quando recebi as fotografias do meu pai, eu escolhi esta fotografia que fiz este quadro e a mesma fotografia
40:29Puxo no ecrã do meu telefone. Isso é importante para mim. Quando eu uso o meu telefone, reparo na fotografia do meu pai.
40:46É uma grande lembrança. É uma grande lembrança para mim. Eu digo, este é meu pai.
40:57Esta pesquisa teve um fim triste, mas um fim também feliz porque a filha queria encontrar a família e a encontrou.
41:08Já sabem do pai. O pai foi cremado. Já sabem onde estão as cinzas do pai.
41:15Um cemitério, que até tem a fotografia do pai quando era marinheiro.
41:22E a Rosa, quando soube que o pai tinha morrido, cortou o cabelo, que é a tradição em Moçambique,
41:31que segundo ela, arrapou a cabeça. Mas pronto, já localizou, já sabe muito o pai, já pode visitar a campa e há de cá vir.
41:42Música
42:00Eu trago estas capulanas. Uma camiseta da marca do meu ministério. Um par de chinelos.
42:11O feijão da minha terra. Lixinga onde eu moro, onde eu trabalho. Produz-se esse tipo de feijão. E ele é muito bom para consumo. Mesmo para semente.
42:26Eu fui tocar a campainha da casa do meu pai. E lá encontrei a minha madrasta. Ela atendeu-me. Procurou saber quem eu era. Eu apenas disse que era Rosa. Não falei o nome do meu pai porque eu não quero prejudicar ninguém.
42:40Lá pedi o número da Sara. Lá pedi o número da Sara. Ela deu-me o número da Sara. E consegui deixar a encomenda.
42:46Que tanto me pesou, embora uma coisa de nada. Mas tem muito significado para mim. Porque tirei o presente de Moçambique para cá.
42:58Então foi muito importante. Eu gostaria de conhecer ela pessoalmente. Mas penso que só Deus sabe.
43:04Está com o telefone desligado.
43:06Está com o telefone desligado.
43:10Olá Sara. Não diga nada a tua mãe.
43:12Olá Sara. Não diga nada a tua mãe.
43:16Quando você está com o telefone desligado.
43:32Olá Sara. Não diga nada a tua mãe.
43:38Não diga nada a tua mãe para não a magoar.
43:42Sou tua irmã.
43:44O teu pai fez a mim em Moçambique em 1968.
43:48A encomenda é quase nada,
43:50mas tem um grande significado de amor que tenho por ti.
43:56Beijinhos.
43:58Rosa Monteiro
44:08Rosa Monteiro
44:38Rosa Monteiro
45:08Rosa Monteiro
45:10Rosa Monteiro
45:18Rosa Monteiro
45:20Rosa Monteiro
45:22Rosa Monteiro
45:24Rosa Monteiro
45:26Rosa Monteiro
45:30Rosa Monteiro
45:32Rosa Monteiro
45:36Rosa Monteiro
45:38Rosa Monteiro
45:40Rosa Monteiro
45:42Rosa Monteiro
45:44Rosa Monteiro
45:46Rosa Monteiro
45:48Rosa Monteiro
45:52Rosa Monteiro
45:54Rosa Monteiro
45:56Rosa Monteiro
45:58Rosa Monteiro
46:00Rosa Monteiro
46:02Rosa Monteiro
46:04Rosa Monteiro
46:06chegar à minha casa
46:08e incomodar a minha mãe,
46:10porque a minha mãe não tem nada a ver com essas histórias.
46:12Sim. E a minha mãe
46:14é uma pessoa que tem muitos problemas,
46:16principalmente de saúde, e
46:17neste momento não é a altura certa
46:20para ir lá à casa
46:21e invadir o espaço dela, porque a minha mãe
46:24não tem nada a ver com o que o meu pai
46:26fez ou deixou de fazer.
46:28Sim, e peço desculpas.
46:30Por isso eu fiz a mensagem
46:32a pedir desculpas.
46:33O meu pai foi vivo
46:3667 anos. Durante
46:3767 anos, ninguém
46:40apareceu. Passados
46:41mais 10 ou 11,
46:44lembram-se de aparecer e dizer
46:45que estão isto e que estão assim.
46:47Acho que não é o mais correto.
46:51Eu sei,
46:51Sara, mas...
46:5367 anos deviam ter aparecido
46:55e deviam ter tirado as dúvidas
46:57com o meu pai, não com a minha mãe.
47:00Porque ninguém mexe com a minha mãe.
47:01Sei, Sara,
47:03peço desculpas.
47:05Eu comecei a procurar a família
47:07há muitos anos atrás.
47:10Não foi agora.
47:11Mas claro.
47:12Mas Deus não quis
47:13que eu encontrasse vivo o pai.
47:15Espero que não vão te incomodar
47:17o espaço da minha mãe.
47:18Porque a minha mãe
47:19não está muito boa de saúde.
47:21Está bem?
47:22Ok.
47:24Obrigada e felicidades.
47:26Obrigada.
47:27Para ti também.
47:28Obrigada.
47:28Obrigada.
47:28Obrigada.
47:28Obrigada.
47:29Obrigada.
47:29Obrigada.
47:29Obrigada.
47:29Obrigada.
47:29Obrigada.
47:29Obrigada.
47:29Obrigada.
47:29Obrigada.
47:29Obrigada.
47:31Pela primeira vez
47:44o Menos atendeu
47:45e falou a verdade.
47:47Eu compreendo.
47:49É difícil.
47:51São 54 anos
47:53de idade que eu tenho.
47:57Mas com o tempo
47:58ela pode perceber
48:00ver que na verdade
48:01eu sou sua irmã.
48:04É pela primeira vez
48:06que eu falo com a Sara.
48:09Então
48:09não é daqui para que
48:11uma pessoa pode aceitar
48:13a outra pessoa
48:14sem conhecer.
48:16Ela não me conhece.
48:18Nunca ouviu falar de mim.
48:21Eu compreendo
48:22a parte dela.
48:23mas com o tempo.
48:24Mas com o tempo
48:26ela poderá ver
48:28que afinal de contas
48:29eu sou sua irmã
48:31e eu não quero tirar
48:32nada deles.
48:36Apenas estou
48:37à procura
48:37da família.
48:38é muito importante
48:47ver a terra
48:48do meu pai
48:49e eu precisava
48:51desde a nascência
48:54até aos 54 anos.
48:58Estive em Moçambique
48:59onde eu nasci
49:01na terra da minha mãe.
49:02precisava muito
49:04conhecer esta terra
49:05que é a terra
49:06do meu pai.
49:06do meu pai.
49:36Não, não, não, não, não, não.
50:06Quando vi a campa do meu pai, eu senti um grande vazio, uma grande tristeza.
50:36Vendo a farda, o meu pai, fardado de marinheiro, então senti grande tristeza, foi um grande homem.
50:46E foi importante eu chegar nessa campa, porque daqui voltarei satisfeito ao meu coração de estar muito alegre, porque consegui ver onde estão as cinzas do meu pai.
51:06Eu acho que se meu pai fosse vivo, percebia-me muito bem, muito bem.
51:27E aí, e aí, e aí, e aí, e aí, e aí, vou lá, e aí, vou lá.
51:35Amém.
52:05Amém.

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