Dos Andes ao México, uma viagem ao coração dos mistérios das antigas civilizações Maia, Inca e Asteca.
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ConhecimentosTranscrição
00:00Os Povos do Sol
00:30A Cordilheira dos Andes estende-se majestosamente ao longo da costa oeste do continente da América do Sul.
00:46Durante mais de 3 mil anos, estas encostas acolheram civilizações excepcionais.
00:51Os Incas foram a última a dominar os Andes.
00:53A sua história começa no século XV e termina brutalmente apenas um século depois, com a chegada dos conquistadores espanhóis.
01:01Durante este período relativamente breve, construíram um império imenso.
01:06Nos locais mais inacessíveis, construíram cidades incríveis.
01:12Mas a queda brutal desse império apagou os seus vestígios.
01:16Como é que dominaram um meio ambiente tão difícil?
01:19Como é que concebiam a vida e a morte?
01:23Quem eram os seus reis e os seus deuses?
01:27Que resta da sua história?
01:48Os Incas, construtores de impérios.
01:53Antes de os espanhóis chegarem, os Incas governavam o maior império do mundo.
02:00Maior do que o Império Ming da China.
02:02Maior do que o Império Otomano.
02:04E sem dúvida mais extenso do que qualquer nação europeia.
02:07O território Inca abrangia 32 graus de latitude,
02:27como uma única potência que reinasse entre São Petersburgo e o Cairo.
02:30A chegada dos invasores europeus no século XVI resultaria no fim violento deste império
02:47e no seu completo desaparecimento em apenas alguns anos.
02:50Mesmo no coração dos anos, a uma altura de mais de 3 mil metros ficava Cusco, a capital do Império Inca.
02:58Foi quase totalmente destruída pelos espanhóis em 1534.
03:02Hoje é difícil imaginar como seria Cusco antes de ter sido conquistada.
03:13No meio da cidade, exatamente no local onde se tinha erguido o Templo Inca do Sol,
03:17os espanhóis construíram uma catedral.
03:20Cusco começou a parecer-se com uma cidade europeia.
03:22No entanto, Cusco ainda ostenta alguns vestígios dos seus fundadores.
03:38O muro exterior deste mosteiro é em parte Inca.
03:41Eram excelentes arquitetos e as suas construções eram imponentes e engenhosas.
03:45A forma trapezoidal dos blocos de pedra aumentava a resistência aos frequentes terremotos da zona.
03:57À semelhança deste muro, a história dos Incas assemelha-se a um puzzle gigante.
04:01Não é fácil juntar as peças.
04:02A invasão e a colonização espanhola conduziu ao desaparecimento do mundo dos Incas.
04:17Toda uma civilização eliminada, deixando muito poucos restos para nos ajudar a compreender a sua época atormentada.
04:28No princípio do século XX, uma vez mais, os exploradores partiram em busca dos Incas
04:32e das suas lendas.
04:34Muitos sonhavam em encontrar a cidade perdida de Villacabamba, o último refúgio dos Incas.
04:40Os índios da região de Cusco falavam de uma cidade misteriosa nas montanhas.
04:46Guiado por estas indicações vagas,
04:48Eram Bingham, um historiador americano, embrunhou-se na floresta.
04:53Num dia de verão, em 1911, encontrou uma crista rochosa.
04:58A seus pés jazia uma cidade adormecida, magnífica e enigmática.
05:02Tinha acabado de descobrir Machu Picchu.
05:11O local atinge uma altitude de 2.430 metros e é protegido por um pico rochoso.
05:17Machu Picchu é a prova tangível da existência de uma extraordinária civilização que dominou os Andes.
05:22Depois dos exploradores, também os cientistas partiram para seguir os rastros Incas,
05:27numa tentativa de descobrir os segredos de uma civilização que iluminou a história de todo um continente.
05:37Alfred Mormontoy é um arqueólogo do Instituto Nacional de Cultura do Peru.
05:42Machu Picchu representa um verdadeiro tesouro para os cientistas.
05:45Machu Picchu não era uma cidade residencial, mas a sua estrutura e os seus edifícios são típicos da arquitetura inca.
06:07Há uma praça cerimonial, templos e fontes.
06:10Os edifícios estão alinhados ao longo de sucalcos estreitos, ou então reúnem-se à volta de um pátio.
06:17Em todos os seus pormenores, a cidade revela a mestria de quem a construiu.
06:20Desconhece ainda a verdadeira função da cidade.
06:34Esquecida e abandonada durante cerca de 400 anos, Machu Picchu é uma fonte de encantamento e farcínio.
06:45Há muito poucas fontes de informação relativas à história dos Incas.
06:49A maior parte dos testemunhos que temos vem dos conquistadores e missionários espanhóis.
06:55Felipe Huaman Pouma de Ayola, um artista inca do século XVI, deixou um documento original e precioso.
07:02Ilustrações e crónicas que dão uma visão alargada da sociedade inca.
07:07Ao perceber que este mundo poderia desaparecer em consequência da conquista,
07:11Huaman Pouma ilustrou um relato do seu esplendor.
07:13Foi o trabalho de uma vida inteira e tensionava apresentá-lo ao rei Felipe II,
07:17pensando que o soberano poderia ver a colónia de um modo diferente e melhorar a sorte dos seus conterrâneos.
07:25O seu relato das origens da civilização retrata a vida nos Andes, antes de os incas terem chegado.
07:31Os homens levavam uma vida dura e difícil, eram quase selvagens.
07:34Mas tudo mudou com a chegada de um personagem que era meio homem e meio deus.
07:37O filho de Inti, o deus Sol.
07:41O seu nome era Manco Capac.
07:43A auto-intitulava-se inca e iluminou o seu mundo com civilização.
07:54Pôs homens a trabalhar para construir cidades e ensinou-lhes a agricultura.
07:59Sob a orientação do inca, o seu mundo prosperou.
08:01A esposa Mamoclo ensinou as mulheres a descer.
08:08Este era o mundo dos incas, em que o mesmo nome se aplica ao rei e ao seu povo.
08:13Não temos grande certeza da existência dos primeiros cinco incas.
08:25Não lhes chamamos incas históricos, mas sim incas lendários, míticos.
08:33Deve também ser entendido que aquilo que sabemos da história inca está muito ligado a mitos.
08:39Isto significa que cada linhagem real tinha as suas tradições,
08:46muito à semelhança do que se passa em África.
08:50Cada linhagem real tinha o seu próprio modo de contar uma história.
08:55Uma das grandes figuras do império parece ter sido o inca, Pachacuti.
09:00Pois foi ele, entre outras coisas, um dos grandes reformadores religiosos.
09:04Foi depois dele que eles pareceram depender muito menos do grande sacerdote do Sol.
09:19Os Andes eram compostos por um mosaico gigante de povos diferentes e tribos rivais
09:23que estavam frequentemente em conflito.
09:26Pachacuti queria unificar os Andes e criar um império.
09:30O seu nome, que significa reformador do mundo, diz muito sobre as suas intenções.
09:34Hoje, nos arredores de Cusco, revive-se a sua lenda.
09:39No princípio do século XV, os Txancas atacaram os Incas em todas as frentes
10:00e preparavam-se para capturar Cusco.
10:03Pachacuti assumiu o comando do seu exército e conseguiu rechaçá-los.
10:07Fortalecido com a vitória, o jovem príncipe prosseguiu a política de conquista.
10:13Dominou a região do lago Titicaca e estendeu a sua autoridade sobre os territórios do norte até Cajamarca.
10:19Quando subjugavam povos diferentes, eles tinham o seu próprio modo de imediatamente fazer ofertas
10:28de mulheres e presentes extravagantes, que davam aos chefes das tribos conquistadas.
10:35A consequência disso era que eles ficavam, de algum modo, em dívida.
10:45E, em troca, os chefes tinham de dar ao Inca um tributo e tinham de trabalhar para ele.
10:54Várias formas de trabalho, aliás.
10:56Portanto, deste ponto de vista, entravam numa relação que poderíamos chamar de vassalagem,
11:03que é uma relação baseada na dívida.
11:08Encontramos expressões destas dívidas com bastante frequência nos Andes.
11:13Têm vários nomes.
11:14Pode ser trabalho forçado, que se chamava Mita,
11:17ou podem ser trocas desiguais, chamadas Ayni.
11:23Portanto, penso que um dos aspectos fortes do Império Inca
11:26reside nestas relações entre chefias locais e a autoridade central.
11:39Organizar a vida a uma escala tão ampla,
11:41num território atravessado por uma das cordilheiras montanhosas mais elevadas do mundo,
11:45não era tarefa fácil.
11:46Tiveram de sustentar a mão de obra e as trocas,
11:49aumentar os impostos, criar uma administração digna desse nome
11:52e promover a segurança.
11:54Nada disso seria possível sem vias de comunicação.
12:08Os Andes formam uma ampla cordilheira, cheia de cristas
12:11e cortada por inúmeros vales íngremes e desfiladeiros profundos.
12:14Os Incas conheciam certamente a roda, mas não a usavam.
12:20O relevo, extremamente irregular, não era apropriado a transporte sobre rodas.
12:24Ainda hoje, muitas viagens são feitas a pé.
12:27Mas os Incas haveriam de esculpir estas montanhas,
12:32criando uma incrível rede de caminhos e estradas,
12:35construindo pontos para os viajantes de um mundo suspenso entre a terra e o céu.
12:39Muitas destas estradas já não estão hoje em uso.
12:41Equipas de arqueólogos partiram para explorar esta vasta rede
12:45e construir um mapa preciso e detalhado.
12:53Os Incas encontraram soluções para atravessar os muitos obstáculos naturais
12:57que encontravam no caminho.
13:00Cortaram passagens e escaderias na montanha rochosa
13:02e desenvolveram toda uma série de novas técnicas.
13:04Para atravessar os rios, construíram pontos suspensos por cordas.
13:15A sua aparência ainda hoje é válida.
13:26Nos anos, nada se pode fazer sozinho.
13:29O trabalho coletivo era um dos princípios fundamentais dos Incas.
13:34Desenvolveram o seu território com notável mestria,
13:58empregando esforços consideráveis para domar um ambiente hostil.
14:04A leveza das suas pontas suspensas contrasta fortemente
14:20com o impressionante trabalho de escavação necessário para construir estradas.
14:24Alfredo Mormontoy e a sua equipa estão a tentar encontrar
14:27uma antiga estrada que atravessava esta floresta
14:29entre a capital Cusco e Machu Picchu.
14:34Olhem, há aqui uma estrada inca e aqui estão alguns degraus.
14:37Os Andes combinam as dificuldades das montanhas altas com o clima tropical.
14:50A vegetação é densa até altitudes elevadas
14:52e as raízes que crescem por entre as pedras são um verdadeiro pesadelo.
14:57As chuvas fortes abrem ravinas,
14:59escavam barrancos e pressionam as infraestruturas.
15:01No entanto, depois de abandonada durante vários séculos,
15:06esta estrada ainda aqui está.
15:08Um feito que impressiona os arqueólogos.
15:11De 10 em 10 metros, ao longo das fundações,
15:14há um canal de drenagem.
15:17Na região circundante de Machu Picchu,
15:19chove abundantemente e isso levanta problemas sérios.
15:22Os canais permitem escoar grandes quantidades de água
15:25e isso impede os muros de ruir.
15:27É muito bem pensado.
15:29Esta construção inca é de muito boa qualidade.
15:39Graças às estradas e às pontes,
15:41os incas construíram uma rede de comunicações
15:43que ligava diversas comunidades, línguas e culturas.
15:47Esta rede era um dos principais alicerces do Império.
15:51As estradas eram também um elemento-chave na manutenção da horda.
15:55Permitiam às forças militares viajar depressa
15:57para dominar uma rebelião ou pacificar uma região.
16:10Eram também as veias e as artérias de um sistema económico
16:13em que todos os tipos de produtos essenciais
16:15eram transportados de aldeias e cidades longínquas.
16:18Os limites mais afastados do Império
16:20estavam ligados à capital para uma imensa rede
16:22composta por 40 mil quilómetros de estradas
16:24com oito itinerários principais.
16:35O sistema dependia de uma importante organização administrativa.
16:40Desde a mais pequena aldeia
16:41e de cada capital regional
16:42até ao próprio Palácio do Rei
16:44havia funcionários públicos
16:45que controlavam o pagamento dos impostos
16:47e orientavam a realização do trabalho.
16:49A rede de estradas não servia apenas
16:52para transportar mercadorias por todo o Império
16:54mas também para transmitir informações.
16:57Os txakis eram mensageiros
16:59que corriam estafetas de 20 quilómetros
17:01para levar as ordens do Inca
17:02às aldeias mais distantes em apenas dois dias.
17:05Os incas não tinham escrita
17:10mas inventaram um sistema original
17:12para registrar dados estatísticos
17:14relativos à economia e às questões sociais.
17:18O quipu era a chave deste processo de gestão.
17:21Cordões, nós e cores
17:31combinavam-se para registrar
17:33informação demográfica e económica
17:34para um controle mais eficaz
17:36das diversas comunidades.
17:38Hoje, nestas regiões isoladas de montanha
17:51os descendentes dos incas
17:52levam uma existência quase autossuficiente
17:54a partir de uma agricultura de subsistência.
17:57Mas como era durante a época áurea dos incas?
18:00Como se organizavam as trocas comerciais
18:02num território imperial tão vasto?
18:03Na aldeia de Mara
18:06entre Cusco e Machu Picchu
18:08um ancião de 77 anos
18:09possui a chave do enigma.
18:13Palino Sinti Roca
18:14é descendente de uma família nobre
18:16a quem foram concebidos
18:17certos privilégios
18:18que lhe permitem trabalhar
18:19numa mina de sal.
18:21O documento do século XVII
18:22confirma este privilégio
18:23que vem desde a administração colonial.
18:25Sinti Roca
18:26é o primeiro filho de Manco Rapa
18:29e também do segundo índio
18:33o Inca
18:34significa o senhor das pedras.
18:41O Inca ensinou os homens
18:43a encontrar sal e a usá-lo.
18:46Depois disso
18:47construiu estradas por todo o lado
18:49para serem usadas por todos
18:51por todo o império.
18:53Mara é um local extraordinário.
19:07Os incas produziam aqui sal
19:09para parte do império.
19:11Encontraram um fenómeno geográfico
19:13invulgar,
19:13uma nascente de água salgada.
19:16Através de uma sucessão de sucalcos
19:18a água evaporava-se,
19:19deixando sal,
19:19que é particularmente escasso
19:20nas montanhas.
19:24De Mara
19:24estendiam-se estradas
19:25em todas as direções
19:26servindo várias regiões vizinhas.
19:29Em tempos,
19:29o local desfrutou
19:30de uma importância especial
19:31que agora se perdeu.
19:37As minas de sal de Mara
19:38também engrandeceram a imagem
19:40de todo poderoso
19:41dos imperadores.
19:41era o sol.
19:43Era graças ao sol.
19:45Os incas adoravam o sol.
19:47Os incas adoravam o sol.
20:05Além de Cusco
20:06e de alguns centros administrativos regionais,
20:08o império tinha poucas cidades.
20:10A maioria das pessoas
20:11vivia em aldeias pequenas
20:12e trabalhava nos campos.
20:14A agricultura
20:15era o pilar
20:16da economia inca.
20:27Entre a capital
20:28e Machu Picchu,
20:29ao longo da velha estrada,
20:31os sucalcos
20:31estendem-se pelas encostas
20:32ao longo de várias
20:33centenas de metros.
20:34Enfrentando um terreno montanhoso
20:38particularmente irregular,
20:39com poucas áreas planas,
20:41os camponeses incas
20:41conseguiram aumentar
20:42a zona de terreno arável
20:43escavando sucalcos
20:44nas colinas.
20:46Empregando esforços monumentais,
20:47construíram muros de pedra
20:49para segurar o solo
20:50em camadas,
20:51o que dá às montanhas
20:51a aparência
20:52de um lance de escada
20:53gigantesco.
20:56Durante as escavações,
20:58Alfredo Mormontoy
20:59descobriu um enorme sistema
21:00de canalização de água.
21:03Como eram técnicos excelentes,
21:04os incas controlavam
21:05os seus recursos aquáticos
21:07e irrigavam as plantações
21:08graças a quilómetros
21:09e quilómetros de canais.
21:27Os camponeses dos Andes
21:29ainda vivem ao ritmo
21:30da sua faina agrícola.
21:32Algumas plantas como o milho
21:33requerem um clima quente e úmido,
21:35mas outras como as batatas
21:36dão-se bem nas terras altas.
21:38Os camponeses sabem explorar
21:40as diferenças climáticas
21:41entre os vales e os picos
21:42para cultivar espécies
21:43que normalmente
21:44não se encontrariam
21:45na mesma região.
21:48Sobe, não vá, sobe, não vá.
21:59E estes sucalcos
22:00hoje em dia
22:00mais ou menos abandonados
22:01dão uma imagem teno
22:03da verdadeira opulência
22:04do passado.
22:05Parece que o peru de hoje
22:06mal consegue igualar
22:07aquilo que o Império Inca
22:08produziu há tantos séculos.
22:09As festividades nos Andes
22:25celebram as épocas altas
22:27do calendário agrícola.
22:28Hoje, apesar de os santos cristãos
22:30serem adorados,
22:31subsistem ainda numerosos aspectos
22:32da religião antiga,
22:33em especial os rituais
22:34de fertilidade.
22:36Estes homens mascarados
22:37representam todos os anos
22:39o drama eterno
22:39que opõe os seus protetores
22:41aos espíritos maus.
22:54O povo dos Andes
22:56inventou a batata.
22:58Através da hibridação,
23:00transformaram o tubérculo
23:01de esforme em mais
23:02de 600 variedades de batata.
23:04Algumas crescem
23:05a uma altitude de 4 mil metros,
23:07sem sofrer os efeitos
23:08das geadas,
23:09enquanto outras são
23:10resistentes às doenças.
23:13Adaptada a cada situação,
23:14a batata juntamente com o milho
23:15é a base da alimentação nos Andes.
23:20Hoje, nos arredores de Cusco,
23:22as famílias juntam-se
23:23nos mercados locais
23:24para trocar os alimentos
23:25que têm em excesso
23:26e alguns produtos artesanais,
23:27promotando géneros.
23:37nos tempos do Império,
23:40o essencial da vida económica
23:41realizava-se fora dos mercados,
23:43no contexto de uma economia
23:44estritamente controlada.
23:45Perto do mercado,
24:07erguem-se uns edifícios antigos.
24:09Os colcas eram armazéns
24:10dirigidos pelo Estado.
24:16Hoje estão vazios,
24:17mas quando os espanhóis chegaram
24:19estavam cheios de alimentos
24:20e objetos do dia-a-dia,
24:22materiais e ferramentas.
24:25Tudo o que uma sociedade
24:26precisava para viver e trabalhar
24:28estava armazenado aqui,
24:29metodicamente.
24:30Impostos, sob a forma de víveres,
24:48eram coletados por todo o Império
24:49e abasteciam os colcas.
24:52Não podemos falar de abundância,
24:53mas o sistema permitia à população
24:55viver em condições aceitáveis.
24:57Eles armazenavam
25:00e continuavam a armazenar.
25:02E isso era um aspecto importante
25:04no controlo da economia.
25:06Porque temos de compreender
25:08que se trata de regiões
25:09situadas em altitudes elevadas,
25:12em que durante cinco ou seis anos
25:14as colheitas podiam não ser boas.
25:16que as plantações tinham ardido, etc.
25:24Portanto, era absolutamente
25:26indispensável que tivessem reservas.
25:29Estas reservas existiam
25:30a nível regional,
25:32mas aqui tornavam-se
25:33extremamente importantes
25:34para todo o Império.
25:35extremamente importantes
25:36com o Império.
25:44No topo deste Império
25:46altamente organizado,
25:47o Inca era omnipresente.
25:50Os domínios reais
25:50estendiam-se desde a capital Cusco
25:52até Machu Picchu
25:53ao longo do rio Urubamba.
25:56Era o vale sagrado.
25:58Incluía a capital
25:59várias cidades,
26:01locais sagrados
26:01e muitas fortalezas.
26:03No reino as aves não voam
26:07e as folhas não mexem,
26:09a não ser por minha vontade.
26:12Esta frase,
26:13pronunciada por Atualpa,
26:15o 13º Inca,
26:16resume o enorme poder
26:17de que os imperadores dispunham.
26:19Desde Pachacuti,
26:20o Estado era dirigido
26:21por um soberano
26:22com poderes absolutos
26:23e direitos divinos.
26:24Era o supremo intermediário
26:25entre o mundo dos homens
26:26e o mundo dos deuses.
26:29Além das funções políticas
26:30e económicas,
26:31ele exercia também
26:32a autoridade religiosa.
26:33a base do seu poder.
26:36A intenção de Machu Picchu
26:37é ainda um mistério.
26:39Foi obra de Pachacuti
26:40e fazia parte
26:40dos seus domínios privados.
26:43Havia poucos habitantes.
26:45Um convento de Aclás,
26:46as Virgens do Sol,
26:48alguns edifícios culturais
26:49e algumas pistas sugerem
26:51que Machu Picchu
26:52era um local sagrado
26:52dedicado às atividades religiosas
26:54e à glória do Inca.
26:56A dominar este local sagrado
27:10está uma pedra
27:10com o nome de Intihuatán,
27:13que significa o local
27:14a que o Sol está ligado.
27:16Um símbolo da adoração do Sol
27:17e do poder do Inca.
27:18Os arqueólogos
27:23estão interessados
27:23nesta construção original
27:25e na sua forma arredondada.
27:29Para os Incas,
27:30o Sol era muito importante.
27:32O edifício semicircular
27:34era usado
27:35para observar
27:35a sua posição
27:36nos solstícios
27:37de inverno e de verão.
27:38Nessas alturas,
27:42os raios
27:42atingem o interior
27:43desta pedra sagrada.
27:53O poder do Inca,
27:56como todos os poderes,
27:57tem de ser encenado.
28:00E na verdade,
28:02o aspecto gigantesco
28:03de Machu Picchu
28:04faz parte
28:05dessa imagem de poder.
28:08O facto de,
28:13por exemplo,
28:15não se poder olhar
28:16para o rosto do Inca,
28:19o facto de as pessoas
28:20terem de transportar fardos
28:22ou de lhe fazer vénia,
28:26tudo isso fazia parte
28:27do ritual
28:27que rodeava o Inca.
28:34Como filho do Sol,
28:35ele tinha, obviamente,
28:36algo de completamente sagrado.
28:38A influência de um Inca
28:50era perpetuada
28:51após a sua morte,
28:52quando se juntava aos deuses,
28:53tornando-se-lhe próprio
28:54um deus.
28:56As crónicas de
28:57O Aman Poma
28:58dedicam vários capítulos
28:59à concepção inca
29:00da vida depois da morte.
29:02Eles acreditavam
29:03que a força vital do homem
29:04não desaparecia
29:05com a sua morte.
29:06Os antepassados
29:08também podiam proteger
29:09aqueles que ainda
29:10estavam vivos.
29:13As múmias imperiais
29:15tinham direito
29:15a um tratamento especial.
29:17Era um objeto
29:17de atenções delicadas
29:19e davam-nos comida,
29:20roupas e ornamentos.
29:21em dias de festa
29:25eram transportadas
29:26em liteiras
29:27pelas ruas da capital
29:28e eram colocadas
29:29na praça principal
29:30para serem homenageadas.
29:33Os médios
29:33consultavam-nos
29:34para pedir conselhos
29:35e oráculos.
29:36são os nossos antepassados
29:54que nos dão
29:54aquilo que somos,
29:56que nos dão,
29:57entre outras coisas,
29:58os nossos alimentos.
29:59É graças aos nossos antepassados
30:02que sabemos
30:02produzir coisas,
30:04que sabemos
30:05cultivar o milho
30:05e as batatas,
30:06etc.
30:08Além disso,
30:09temos de compreender
30:09que os nossos antepassados
30:11nos dão a vida.
30:12Há uma palavra
30:14muito importante
30:15nesta religião
30:15que é
30:16kamai,
30:19a força anímica.
30:20A múmia ancestral
30:23é kamaken
30:25e o que ela dá
30:27aos seres vivos
30:27humanos
30:28é esta kamai,
30:29esta força anímica.
30:31Por outras palavras,
30:32dependemos continuamente
30:34dos nossos antepassados
30:35e em troca
30:36nós temos de os alimentar
30:38continuamente,
30:39temos de lhes dar
30:40ofrendas,
30:40etc.
30:42Hoje,
30:42se formos aos cemitérios
30:44de Altiplano,
30:45perto do dia
30:45de todas as almas,
30:47vêem-se claramente
30:48os vestígios
30:49destes rituais.
30:50Em que se fazem
30:51ofrendas aos antepassados,
30:53em que se limpam
30:54os túmulos
30:55e às vezes
30:56se retiram as caveiras
30:57e se fala para elas
30:59e em que se dá
31:00aos mortos
31:01tudo aquilo
31:01de que eles gostavam.
31:17A colonização
31:18e a evangelização espanhola
31:20nunca conseguiu
31:20suprimir completamente
31:21alguns aspectos
31:22fundamentais
31:23desta religião,
31:24em particular
31:24o culto dos antepassados.
31:27Muitos aldeões
31:28dos anos
31:28guardam relíquias
31:29e múmias em casa
31:30para proteger a casa
31:31e as pessoas
31:32que lá vivem.
31:33é como um membro
31:45da família,
31:45um parente.
31:47Temos este costume
31:48de lhes prestar culto.
31:50Damos-lhes coisas
31:52para comer
31:52e fazemos roupas
31:53para eles.
31:54são costumes
32:00muito antigos
32:00que nós preservamos.
32:02e as pessoas
32:03ainda, né?
32:03Não, não, não.
32:33Não, não, não.
33:03Quando a vela está acesa, nem os ladrões podem entrar, porque eles estão a ver, invisíveis.
33:15Os espíritos estão dentro das caveiras.
33:17As crónicas de Oaman Poma dedicam também um capítulo a um ritual bastante estranho, o Capacocha.
33:32Quando havia acontecimentos especiais, como por exemplo um eclipse solar, uma erupção vulcânica ou uma epidemia,
33:40às vezes sacrificavam-se crianças para apaziguar os espíritos.
33:44Estes massacres e sacrifícios de crianças ou de jovens adolescentes faziam também parte de um processo ritual e de um processo político que era necessário em Cusco.
34:07Geralmente, as crianças que eram sacrificadas, pelo menos as de Alaico, na região de Arequipa, ou de Lambato,
34:21eram escolhidas de entre as mais belas das tribos que eles tinham conquistado.
34:25Com belas, quero dizer, sem marcas.
34:34E às vezes, sem dúvida, os filhos do próprio chefe da tribo.
34:38Eram trazidas para Cusco, onde eram submetidas a vários rituais, com o sacrifício de uma mão, das roupas, etc.
34:47Depois eram levadas, quase sempre a pé, até ao local onde iriam ser sacrificadas.
34:55Em especial, os vulcões na costa do Pacífico.
34:59E era aí que eram sacrificadas.
35:00Em 1995, uma expedição dirigida pelo arqueólogo John Reinhardt partiu para escalar as encostas do vulcão Ampato.
35:30A uma altitude de 6.380 metros, John Reinhardt e o guia Miguel Zararte descobriram um embrulho numa cavidade.
35:45Para a grande surpresa de ambos, continha o corpo mumificado de uma jovem chamada Juanita, a donzela de gelo.
35:57Juanita era uma jovem inca sacrificada há 500 anos.
36:01O corpo foi enterrado nas encostas do vulcão, considerada morada de um grande espírito protetor.
36:09Porém, entre as pedras soltas, encontrou-se outro corpo mumificado e diversos objetos de rituais que revelam mais sobre estas estranhas práticas.
36:26Está...
36:27...da a qual é a consulta para...
36:29O excelente estado de conservação permitiu estudar o cabelo e a pele de Juanita.
36:53E até mesmo a comida encontrada no seu estômago.
36:58A autópsia revelou que a jovem tinha morrido aos 14 anos.
37:02Estava bem alimentada e de perfeita saúde.
37:05Tinha sido morta com um golpe violento na cabeça.
37:08A outra criança, mais jovem, tinha marcas de queimaduras no rosto devido a um raio.
37:16As roupas e vestes de Juanita foram confeccionadas de modo requintado.
37:28A inumentária vestiva, criada especialmente para uma cerimónia.
37:32Os enfeites do cabelo eram feitos com penas de pássaros tropicais.
37:35Uma capa com padrões geométricos revela a marca de uma tecelagem de Cusco.
37:48Há outros objetos que vêm de todos os cantos do Império.
37:51E o seu número indica que se tratou de um importante acontecimento.
37:54Os incas consideravam estes sacrifícios essenciais para manter uma existência harmoniosa.
38:05As múmias e o culto dos mortos desempenhavam um papel ainda mais surpreendente na conquista de novos territórios.
38:27Durante o século XV, o Império Inca expandia-se rapidamente.
38:31A norte quase alcançava a Amazónia.
38:35Estamos na zona de Chachapoyas.
38:39Esta região era habitada por uma civilização pré-inca e foi cena de intensas batalhas ao longo de vários anos.
38:47O povo daqui tinha os seus próprios rituais fúnebres.
38:50Os Chachapoyas são conhecidos pelos seus Purumachos, ou mausoleus no topo de penhascos.
39:09Estes sarcófagos antropomórficos são os guardiões das suas terras.
39:14Vigiam o horizonte de cima dos penhascos e dos telhados.
39:21Os Incas passaram um mau bocado para dominar os índios de Chachapoyas.
39:41Só foram integrados no Império em 1475 após várias longas campanhas.
39:47Durante a guerra, os túmulos ancestrais desempenharam um papel importante.
39:51Os Chachapoyas acreditavam que os espíritos lutavam a seu lado.
39:55Para minar a moral dos seus inimigos, os Incas retiravam os corpos.
39:58Sonia Gillan é arqueóloga, uma das principais especialistas em múmias dos Andes.
40:20Ela e a sua equipa estão a escavar as cavernas fúnebres dos Chachapoyas.
40:24Descobriu recentemente os restos de uma múmia cujo esqueleto se encontra dobrado em posição fetal.
40:28A múmia é de um homem de cerca de 40 anos na altura da morte.
40:38As orelhas furadas com os lobos estendidos indicam que era um orejón, que significa orelha grande.
40:44Esta alcunha foi dada pelos espanhóis e designava os representantes do Inca
40:47que eram identificados graças a pesados ornamentos colocados nos lóbulos das orelhas.
40:53Estes homens eram membros da nobreza e parentes da linhagem real.
40:56Os orejónes eram uma espécie de perfeito especial
41:01que representava a autoridade do soberano por todo o império.
41:09Os Incas enviavam um dignitário mais velho para governar a região.
41:15Encontrar a múmia num túmulo de Chachapoyá
41:17a prova que eles tentavam impor o seu próprio culto das múmias.
41:20Este é um aspecto integrante de como funciona a sociedade inca.
41:48Para eles é necessário colocar corpos mumificados em território conquistado
41:56para indicar não só a conquista militar, mas também a conquista espiritual.
42:01Os Incas expandiram o seu território usando a religião e o culto dos mortos
42:17como meio de dominar e integrar.
42:19Um estranho mundo, sem dúvida, onde as fronteiras entre a vida e a morte parecem vagas
42:27e onde os que partiram influenciam significativamente a existência dos vírus.
42:34As múmias estariam também no centro de um conflito civil que teve consequências desastrosas.
42:39Em 1528, o Inca Yohana Capac morreu.
42:44Guáscar e Atualpa, seus dois filhos, empreenderam uma luta feroz pela sucessão.
42:49Guáscar queria abolir o culto das múmias, pois os mortos continuavam donos das suas terras
42:53e precisavam de hostes de servos para cuidar deles.
42:57Ele encarava isto como um farco pesado pelo Império.
42:59A sua decisão suscitou a revolta por todo o Império, acentuada pela rivalidade do Irmão.
43:07Guáscar foi confrontado com a hostilidade quer pelos nobres, quer por aqueles que cuidavam das múmias.
43:13Foi assassinado.
43:25Penso que isto é muito importante, porque explica muitas coisas.
43:28Em especial, um aspecto da queda do Império Inca.
43:34Ela não se deveu apenas à superioridade do armamento dos espanhóis.
43:39Essa não foi a única razão.
43:41Havia também lutas internas que podem explicar a queda.
43:52A luta fratricida teria consequências graves,
43:55pois deixou o Império enfraquecido para enfrentar uma nova ameaça.
44:00Em 1531, Francisco Pizarro começava a sua terceira expedição à América do Sul.
44:05Aumendo modesta fortuna e letrado, com 56 anos de idade, partiu à conquista do Império Inca.
44:10O seu único património era a inteligência, a coragem e um desejo esmagador de fazer fortuna.
44:17Ao saber da presença do Inca Atualpa em Cajamarca, partiu ao seu encontro.
44:21Eu diria que o encontro foi um fracasso.
44:24Foi um encontro desastroso, porque houve uma total falta de compreensão.
44:28Quando os espanhóis veem Atualpa em Cajamarca, veem-no numa liteira coberta de penas.
44:39E ele próprio tem uma coroa de penas.
44:44O Valverde, o arcebispo e guardião dos livros sagrados espanhóis, oferece-lhes escrituras.
44:51Como o Inca nunca tinha visto um livro, pega nele, olha para ele e atira-o para o lado.
45:02Isto foi obviamente ofensivo para os espanhóis, que do seu ponto de vista, tinham vindo também para evangelizar.
45:08Este mal-entendido foi desculpa suficiente para os espanhóis massacrarem uma boa parte da aristocracia inca que estava presente.
45:26Atualpa foi feito prisioneiro.
45:28Pizarro exigiu um enorme resgate em ouro que foi pago imediatamente.
45:32Mas a transação era duvidosa.
45:35Pizarro conseguiu que o Inca fosse julgado e executado.
45:38Enfrentando um império dividido e sem comando, Pizarro dominou a resistência dos Incas.
46:02Os anos que se seguiram à conquista espanhola foram trágicos para os Incas.
46:06Devastados por armamento moderno e escravizados, assistiram ao colapso do seu mundo,
46:11obrigados a reavaliar as suas crenças mais básicas.
46:15Massagrados, pilhados e torturados, os índios foram tratados como seres inferiores,
46:20destituídos das suas terras e condenados a uma vida de miséria e humilhação.
46:24Os Andes foram finalmente libertados da operação espanhola no início do século XIX.
46:29Os Andes foram finalmente libertados da operação espanhola no início do século XIX.
46:30Os Andes foram finalmente libertados da operação espanhola no início do século XIX,
46:55dando origem a vários estados independentes, incluindo a Bolívia e o Peru,
46:59que herdaram uma parte substancial do velho Império Inca.
47:01As montanhas Altiplano continuam a ser o território dos Ameríndios.
47:18Falam as suas próprias línguas, o Kichua e o Aimera.
47:23Têm as suas próprias crenças ancestrais e ainda veneram Pachamana, a terra-mãe.
47:28Mas o sonho Inca já não existe, pertence à história.
47:34No entanto, a herança cultural dos Andes permanece viva e continua a perpetuar-se.
47:58Tradução e locução. Dialectos.
48:28Tradução e locução.
48:58Tradução e locução.
49:00Tradução e locução.
49:02Tradução e locução.