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Nos anos 1960, quatro jovens de Brasília decidiram construir um carro para competir na segunda maior corrida do país, os 500 km de Brasília. Pilotando contra outros 33 veículos, a maioria de grandes marcas internacionais, eles largaram em último lugar mas conseguiram terminar a corrida na segunda posição.

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Diversão
Transcrição
00:00:00A CIDADE NO BRASIL
00:00:30A CIDADE NO BRASIL
00:01:00A CIDADE NO BRASIL
00:01:02Dali saíram três pilotos que alcançaram a Fórmula 1, um deles com três títulos mundiais.
00:01:08X metro quadrado, saí três pilotos de Fórmula 1. Cara, isso não existe.
00:01:12Era uma Brasília criança, era uma Brasília nova, era uma Brasília onde todos estavam interessados em fazer alguma coisa de bom.
00:01:31Você pode ir a qualquer cidade, existiam os pegas. Roberto Carlos fala disso.
00:01:38Na Rua Augusta, 120 por hora e tal. Mas Brasília era diferente, porque Brasília era totalmente possuída por nós, jovens.
00:01:47Quem podia imaginar o desdobramento de toda essa história? Ia ser tão importante para cada um de nós, né? Quem podia imaginar?
00:01:56Imaginem a cena.
00:02:16Quatro garotos resolvem construir um carro de corrida no fundo de quintal para eu competir em uma das provas mais importantes do automobilismo brasileiro.
00:02:25Quando eu soube dessa história, eu fiquei simplesmente extasiado.
00:02:29E depois, eu fiquei chocado. Como que essa história o mundo não conhece?
00:02:34Para mim, aquilo se transformou quase que em uma missão, contar essa história no cinema.
00:02:45O símbolo daquela paixão por um esporte é que quando você começa desde criança, desde um jovem,
00:02:55e que às vezes um jovem tem um sonho em qualquer esporte.
00:02:59E isso eu sempre falo nas minhas palestras, quando você tem um sonho de criança, um sonho de juventude,
00:03:07às vezes você acha que você não consegue alcançar, você mesmo se limita.
00:03:10E na vida você não pode se limitar.
00:03:12Esses sonhos você tem que correr atrás e você consegue até se surpreender de alcançar esse sonho.
00:03:18Podemos comparar com o Steve Jobs, que saiu de uma oficina de casa para ser o projeto que ele foi na informática.
00:03:25Então eu acho que a Camber, saindo de um fundo de quintal praticamente,
00:03:31revelar três pilotos para a Fórmula 1, é um negócio que ninguém poderia imaginar que pudesse acontecer.
00:03:40Gente apaixonada vai existir sempre.
00:03:43Mas hoje, para você fazer uma coisa desse tipo,
00:03:47Imagine o dinheiro que teria que ter por trás em termos de equipamento, engenheiros.
00:03:55Eles conseguiram pegar no regulamento que permitiu muita coisa,
00:03:59eles conseguiram inventar o que eles conseguiram em cima de uma plataforma de um Fusca.
00:04:17O meu cantinho,
00:04:32o meu cantinho de trabalho, de reflexão, de leitura.
00:04:40Minhas coisas, meus livros, minhas lembranças.
00:04:45Tem ali um churrasco, o Nelson, quando o Nelson foi tricampeão mundial.
00:04:50No meio, em frente ao Supremo também, uma foto logo após a corrida.
00:04:57Vim para Brasília com meus pais em 1962.
00:05:01E tão logo a 305 ficou pronta, nós mudamos para a 305.
00:05:06Fomos para a 305, não havia nem asfalto, nem calçada, nem grama.
00:05:13Eram os prédios na terra.
00:05:15Foi quando eu conheci a Lex.
00:05:17Eu descobri que o grande problema da minha família eram os carros.
00:05:21Meu pai não entendia nada, nada.
00:05:22Era o pior motorista do mundo e eram zero à esquerda, em termos de entender de mecânica.
00:05:28E volta e meia, os carros pifavam e a gente ficava a pé no meio de nada.
00:05:33Até por uma necessidade de afirmação perante a família,
00:05:36eu comecei a desenvolver, assim, o conhecimento do automóvel.
00:05:40Eu vim de São Paulo, então Brasília, para mim, era tudo muito aberto, muito livre, né?
00:05:47Eu andava de bicicleta para todo lugar, ia para o colégio a pé.
00:05:52Então, não tinha...
00:05:53Porque a 34 hoje é onde o Jean morou.
00:05:58Pronto.
00:06:00Olha, tudo organizado.
00:06:03Meia-meia já foi negócio de cande, de...
00:06:06A gente começou a mexer com a oficina.
00:06:08E qual era a periodicidade?
00:06:10Você escrevia de quanto tempo?
00:06:11Duas, três vezes por semana.
00:06:13Duas, três vezes por semana?
00:06:14É.
00:06:15Então, eu falava de tudo.
00:06:17Falava tanto das corridas, como das fábricas.
00:06:21O que tivesse de assunto, eu ia...
00:06:24Eu ia, ó...
00:06:26Quando tinha alguma corrida importante.
00:06:28O nosso sonho, além da mecânica, sempre foi correr de automóvel.
00:06:34A gente começou consertando o carro, mas um dia a gente sabia que ia correr de automóvel.
00:06:40Só tinha um problema para correr de automóvel.
00:06:43Não tinha nem o carro, nem dinheiro.
00:06:45Não tinha um carro e não tinha um dinheiro.
00:06:49Mas o solo era fértil.
00:07:00De 56 para 60, fez-se a capital do país.
00:07:03Fez-se a capital do país e, ao mesmo tempo, implantou-se na indústria automobilística brasileira.
00:07:07As imagens da selva primitiva são substituídas pelas modulações modernas de uma arquitetura harmoniosa.
00:07:15Nisto reside a beleza tocante da integração geográfica, econômica e social.
00:07:21Uma integração dos contrastes.
00:07:24Por isto, só em raros momentos da história do Brasil, um chefe de Estado pôde empunhar a bandeira nacional tão emocionado em um gesto tão emocionante.
00:07:40O Juscelino, para atrair as pessoas, ofereceu o salário em dobro.
00:07:44A grande maioria veio promovida porque os chefes não queriam vir.
00:07:48Então, já tiveram um upgrade ali.
00:07:50E oferecer os apartamentos com uma taxa simbólica de ocupação.
00:07:54Então, se você somar, de repente, a pessoa tinha uma promoção dobro de salário e ainda tinha um aluguel de um apartamento que ele deixou no Rio.
00:08:02Então, a renda tinha sofrido um implemento muito grande.
00:08:07Tiraram a rolha do consumo.
00:08:09Então, houve uma demanda muito grande.
00:08:12A tal ponto que, quando o Juscelino falou que ia produzir um milhão de automóveis em quatro anos,
00:08:17e foi objeto de chacota e fez um pouco mais que isso.
00:08:21Então, nesse universo, nós tínhamos a frota mais nova do país.
00:08:25Nós, Brasília.
00:08:27Automóvel fazia parte do seu negócio.
00:08:30Automóvel lotava o estacionamento dos edifícios.
00:08:33Como é que essa cidade foi inaugurada?
00:08:35Com corrida de automóvel.
00:08:38Quem deu a bandeirada?
00:08:40Juan Manuel Fangio.
00:08:41Quem correu?
00:08:42Chico Lande.
00:08:43Não teve jogo de futebol.
00:08:45Não teve jogo de tênis.
00:08:47Não teve jogo de golfe.
00:08:48Então, ali era a marca oficial.
00:08:51Esporte em Brasília e automóvel.
00:08:53Entre a instalação da indústria automobilística e nós temos o primeiro campeão mundial de Fórmula 1,
00:08:58passaram-se 16 anos.
00:09:01Ninguém fez isso.
00:09:03País algum fez isso.
00:09:04A única foto que eu tinha na inauguração de Brasília do lado do meu pai,
00:09:22meu pai transmitida pela Rádio Panamericana,
00:09:25no dia da inauguração de Brasília, a primeira corrida de Brasília.
00:09:28Primeira corrida de Fórmula 1 ali no Eixão, em frente da 106, 105, por ali.
00:09:33E assisti quase tudo de corrida de lá pra cá.
00:09:38Foi uma corrida que vieram carros italianos, fantásticos.
00:09:43Eu fiquei tão fissurado por aquilo.
00:09:45Quando eu cresci, eu ia ser piloto.
00:09:48E a população tomou gosto.
00:09:51E o futebol aqui não tinha vez, porque não existia campo de futebol.
00:09:54Quando muito, nos clubes.
00:09:56Então, a paixão pelo automobilismo em Brasília começou por causa da própria cidade, o traçado da cidade.
00:10:02Pelo sistema viário de Brasília, já era quase um bom autódromo de rua.
00:10:10Porque se você imaginar todas aquelas avenidas novas, sem prédio, sem nada.
00:10:15Aquele asfaltão bonito, curvas, subida, descida.
00:10:19E Brasília era uma verdadeira, e é até hoje, uma verdadeira pista de corrida.
00:10:23Querer comparar Mônaco com as pistas de Brasília é ridículo.
00:10:26Brasília tem pistas muito melhores.
00:10:28Brasília, com essas avenidas largas e longas distâncias, o carro era fundamental.
00:10:35Você não anda em Brasília, é igual a outra cidade.
00:10:38Você tem que pegar o carro e ir para outro lugar.
00:10:40O morador de Brasília tinha cabeça, tronco e rodas.
00:10:45Necessariamente rodas para se locomover na cidade.
00:10:48Vamos dizer, a cidade do automobilismo, porque às vezes as preces eram boas para isso.
00:10:53Em Brasília não tinha problema de trânsito, não tinha nada, não tinha gente na rua naquela época.
00:10:58Imagina num lugar, no meio do nada, da cabeça de um homem, nascia uma cidade.
00:11:04Agora você imagina, da cabeça de quatro garotos, o que podia sair.
00:11:26Impressionado.
00:11:29Porque havia gente, e havia gente, e havia gente.
00:11:32Vamos descrever a cidade como era.
00:11:35Setor bancário sul, tinha um prédio do Banco do Brasil, o edifício Casa de São Paulo.
00:11:40PT Saudações.
00:11:41Setor bancário norte, tinha o edifício da Vale do Rio Doce.
00:11:45Só.
00:11:46Setor comercial, lojas, esquece, isso não existia.
00:11:50Será?
00:11:51Havia meio fio e havia terra, o resto não tinha nada.
00:11:55E a rodoviária, que foi sempre o grande ponto de cruzamento dos maiores eixos da cidade.
00:12:03E onde as pessoas tinham boa visão do circuito, que passava sob o mural do Tatu.
00:12:08E ir pra rodoviária e assistir uma corrida, você imagina a emoção.
00:12:13As crianças absolutamente soltas.
00:12:15100 mil pessoas num evento em 1962, se você for comparar hoje, é milhão.
00:12:36Por que, naquela época, Brasília tinha trazido seus habitantes.
00:12:40Acho que a partir dali foi a semente do automobilismo em Brasília.
00:12:44Em 1963, 1964, 1965, começou realmente essa nova fase das pessoas que gostavam de automobilismo
00:12:54a praticar o automobilismo de grande velocidade em Brasília.
00:12:58Com o incentivo das corridas, que chegamos até oito corridas por ano,
00:13:03a juventude daqui local foi tomando gosto cada vez mais.
00:13:07Brasília é uma cidade pequena, todo mundo estudando praticamente nas mesmas escolas, com a mesma vocação.
00:13:15Brasília, todo mundo era alucinado de carro, todos os filhos queriam dirigir o carro dos pais,
00:13:21lavar carro, roubar carro dos pais de noite.
00:13:25E foi assim que começou, né?
00:13:28E daí começou a se formar pequenos pontos, que eram estratégicos para a juventude brasileira,
00:13:34que eram os pegas, os famosos pegas.
00:13:36A cidade era nossa, nós éramos proprietários dela, não era o presidente da república.
00:13:42E começamos, naquela época antiga, a roubar os carros do papai.
00:13:45Naquela época, ninguém tinha carro.
00:13:47Você pode ir a qualquer cidade, existiam os pegas.
00:13:50Roberto Carlos fala nisso, na rua Augusta, 120 por hora e tal.
00:13:54Mas Brasília era diferente, porque Brasília era totalmente possuída por nós, jovens.
00:14:01E eu tinha meus 15, 14, 15 anos de idade.
00:14:05E eu já ia para os pegas.
00:14:08A gente pegava o carro dos pais da gente, ou eles sabendo ou não.
00:14:13E aquelas avenidas vazias imensas.
00:14:17À noite, então, não tinha nada.
00:14:19Sexta-feira e sábado, íamos para as festinhas, para os clubes e tal.
00:14:24E quando voltaram, lá para 11 horas e meia-noite, nós íamos lá para o Hotel Nacional,
00:14:29para a pista do Hotel Nacional.
00:14:31Nada mais era do que uma via pública, né?
00:14:35Pega, rolava solto ali.
00:14:37Dezenas e dezenas de carros descendo e apostando, e cada um querendo mostrar que era mais piloto do que o outro, fazendo a curva em frente à plateia ali.
00:14:46A turma toda, o Ruy, o Nelson Pequê, o Raífe Gibran, o Cidinho, o Cidirrage, o Edgar da 107, o Ivan Penin.
00:14:59Olha, era uma turma muito grande.
00:15:01O DKV Vermag do pai, Fusquinha, Dolphine, o Gordinho, aqueles negócios.
00:15:07E não era preparado, porque era o carro do pai, ou da mãe.
00:15:12O grande palco dessa história foi, sem dúvida nenhuma, aquela rampa de descida do Hotel Nacional,
00:15:19que fica ali voltada para o centro Conique.
00:15:22E a turma improvisava uma pista na madrugada de Brasília.
00:15:26A gente ia para o Budapeste, que era ali no Lago Sul, e ali se organizavam pegas homéricas, né?
00:15:33Com bandeirada, com tudo e tal.
00:15:36Miséria, era um tal de destruir carro para lá, carro para cá, que não acabava dentro.
00:15:43Essa transgressão, essa coisa meio James Dean, esse negócio que a gente fazia, era muito bom.
00:15:49Nós estamos falando de juntar milhares de pessoas no palco de grama lá e assistir as capotadas e as catadas de guia, etc.
00:15:58Era uma época de aventuras, grandes aventuras para a gente.
00:16:02Aquela época que estavam chegando os Beatles, os Rolling Stones, aquela coisa toda.
00:16:09A música popular brasileira com os baianos, o Chico.
00:16:13E isso tudo dava essa certa magia que a gente tinha no negócio das corridas e dos pegas e tal.
00:16:24Era um, era dois, era cem.
00:16:26Era um, era dois, era cem.
00:16:28Era um, era um, era cem.
00:16:30Era um, era dois, era cem.
00:16:33Vieram para me perguntar.
00:16:35Você me vai, onde vem? Diga logo o que tem para contar.
00:16:38Mas era uma delícia, até chegar o camburão da PM, com o famoso capitão Latorraca.
00:16:45Fugir da polícia era frequente.
00:16:47Então botava pega toda hora ali no hotel nacional, aí chegava a polícia.
00:16:51Aí era uma debatada geral, né?
00:16:53O Latorraca chegava lá e dizia o seguinte, ele cercava, prendia todo mundo.
00:16:58E dizia o seguinte, alinha.
00:17:00Eu vou alinhar também.
00:17:02Quem é o Passata preso.
00:17:04Ele adorava correr também.
00:17:05Tanto que nas corridas da época ele era o carro madrinha.
00:17:09Era o camarada que abria as corridas.
00:17:11Mas para nossos heróis, os pegas foram apenas laboratório.
00:17:15Eles sonhavam alto, buscavam mais.
00:17:18Ali era o comum.
00:17:20Eles buscavam o extraordinário.
00:17:23O governo federal, como patrocinador de corrida, então tinha corrida do dia do exército,
00:17:36corrida do dia do aeronáutico, corrida do Santos de Monte, e o diabo de corrida patrocinado pelas Forças Armadas.
00:17:41Então você recebia aqui a fina flor, as equipes de fábrica.
00:17:47O Brasil naquela época tinha uma equipe informal da Fábrica Nacional de Motores com automóveis FNM JK.
00:17:55A Sinca com a equipe bem montada, grande desenvolvimento de tecnologia.
00:18:01A VMAG, mesmo caso.
00:18:03Pouco dinheiro, muita aplicação técnica.
00:18:06Deucar DKD VMAG, líder absoluto das pistas brasileiras.
00:18:1250 HP, mais arranque, mais velocidade, mais potência.
00:18:17Deucar DKD VMAG, a qualidade justifica a fama.
00:18:22E ao Iris, que era a equipe dos príncipes, uma verba fantástica, tudo de primeira qualidade,
00:18:28nada era negado, desde que ganhasse corrida, isso que ela ganhava.
00:18:32Isso vinha para o mil quilômetros.
00:18:36Eu tinha os mil quilômetros de Brasília, eu tinha autorização para passar uma noite fora de casa por ano.
00:19:00As corridas atraíam um público que nunca mais se repetiu, nem com autódromo, nem com nada.
00:19:05Era um negócio, assim, era um grande evento da cidade, monstruoso.
00:19:10Era um negócio, assim, indescritível.
00:19:12Pessoas vinham aqui e você tinha aquele convívio, aqueles caras que você só via por revista, por jornal e por comentário, estavam aqui na cidade.
00:19:32E o automobilismo de rua chama muitas pessoas. O automobilismo de autódromos distancia.
00:19:39Você está longe numa arquibancada, cheia de cercas. E o de rua, não. Você está do lado do carro.
00:19:45Por isso aconteceu, inclusive, dezenas de acidentes mortais nos famosos 500 quilômetros e mil quilômetros de Brasília.
00:19:52A gente se reuniu no bar da 507, no Mocambo, e os caras paravam ali, estacionavam em frente, desciam.
00:19:59Então, cara, o que isso era assunto no colégio no dia seguinte, você não acredita, né?
00:20:05Estive com o Bia de ontem. Ficou maluco. O Bia só estava na Autosport, na Quatro Rodas, mas estava dando sopa.
00:20:11Estava comigo comendo uma pizza no Mocambo ontem. Pizza era mentira, mas o Bia desceu lá para tomar café.
00:20:16Todo mundo, eu também era muito novo, isso também, todo mundo. Era molecada, né?
00:20:21Molecada apaixonada por automobilismo. E só de falar assim, a gente já sentia, né? O amor, a paixão que tinha.
00:20:27Vinha gente de fora a correr aqui. Quem primeiro chegou a 200 quilômetros, que era um comentário todo,
00:20:33foi o Fit Porsche descendo a descida da esplanada dos ministérios para fazer a curva de baixo, o curvão de baixo da rodoviária.
00:20:46Não era nada mais nem nada menos do que a gente já fazia na rua, né?
00:21:00Naquela época, Brasília, a gente vivia aí fazendo pegas, etc.
00:21:07Envenenar o Gordini para poder participar dessa corrida.
00:21:11Então, para nós, pioneiros, era um momento único.
00:21:15Todas as corridas a gente estava lá, não tinha como. Era o grande programa.
00:21:19A gente ia, sentava no meio fio, ficava assistindo a corrida e vendo aquele negócio passar.
00:21:23Entendeu? Era muito bom, era muito divertido e a gente nunca perdia uma corrida dessa.
00:21:28Então, a expectativa era muito grande, a madrugada era muito grande.
00:21:31Então, se juntava muita gente na rodoviária.
00:21:34Era uma emoção, uma adrenalina fantástica, não só para quem assistia, como para quem corria.
00:21:39E uma corrida dessa movimentava a capital inteira.
00:21:43Eu ia porque era um projeto, era um destino correr em Brasília uns quilômetros.
00:21:47Era, assim, um prestígio ganhar mil quilômetros em Brasília.
00:21:50Em 1964, surgiu a Autosport.
00:22:03A primeira capa de Autosport era o Interlagos Berlinetta, sonho de todo mundo,
00:22:09com uma mocinha vestida, se tivesse pelada, se entender, mas a moça era vestida de piloto.
00:22:15E aquilo também era o sonho de todo mundo, né?
00:22:18Então, a Autosport começou a encher espaço.
00:22:20E aí, lá pelas tantas, logo depois, a Autosport fez uma matéria sobre preparação dos carros que haviam no mercado.
00:22:28Como envenenar um DKV com uma lima?
00:22:32A culpa foi da revista Autosport, né?
00:22:34A gente leu lá aquela matéria que precisa de uma lima para envenenar um DKV.
00:22:39Basta uma lima para envenenar um DKV.
00:22:41Bom, todo mundo que tinha DKV, ou pai com DKV, que era o meu caso,
00:22:45resolveu já por conta tirar o final de semana, comprar uma luva, uma lima e fazer.
00:22:51A lima a gente tinha, era um instrumento que dava para comprar com a nossa mesada.
00:22:56O Zeca conversou com o Dona Lourdes, a mãe dele, e a mãe dele cedeu um aviamaguete para a cima.
00:23:02Eu conheci o Zeca, e o Alex falou,
00:23:05ah, estamos lá mexendo no motor da pracinha da mãe do Zeca, você não quer ir?
00:23:09Ah, vou.
00:23:10Dissemos para ela que íamos fazer uma revisão do motor, para o motor ficar melhor.
00:23:14Fui ver o que estava sendo feito em função da reportagem.
00:23:18E seguindo a revista, nós fomos desmontando.
00:23:21Tirei o motor do carro na garagem, lixamos, polimos todo o motor, fizemos transferência, toda a receita.
00:23:28O carro estava tão novinho que a gente não precisava nem se sujar para mexer no motor dele.
00:23:34Aumentamos a taxa de compressão, né? Aumentamos o difusor do carburador, demos mais gasolina nos giglês.
00:23:41Eles viram lá os diagramas lá e corta dois milímetros aqui, abre três milímetros ali e meteram a lima no motor de Dona Lourdes.
00:23:51E depois de uma semana o carro ficou pronto, funcionou, ficou ótimo.
00:23:55Nós fomos, saímos para andar nele.
00:23:59Infelizmente, ele só não podia andar devagar.
00:24:02Sábado, voltando do Gilberto Salomão, com os pegas da volta, né?
00:24:06E ganhava de todo mundo, andava na frente de todo mundo.
00:24:09Quer dizer, foi muito assim, gratificante para nós termos conseguido fazer esse motor.
00:24:15Realmente a Bracinha ficou um demônio lá nos pegas noturnos, na mão do Zeca.
00:24:20Eu me lembro uma frase do Zeca, um dia que ele deu um pau em todo mundo.
00:24:23Ele falou para mim, eu amo essa Bracinha.
00:24:26Agora, Dona Lourdes sofreu um bocado, porque às vezes o carro parava no meio da rua.
00:24:30Ia para o trabalho com esse carro e o carro só funcionava em alta, né?
00:24:35Então ela saia acelerando.
00:24:36E no final, Dona Lourdes estava andando com uma vemaguete de corrida na rua.
00:24:41Ali nós realmente chegamos à conclusão que o nosso objetivo seria, de alguma maneira, trabalhar com automóveis.
00:24:51Em função disso, é que começamos a pensar em mexer com carros dos pais, né?
00:25:08De repente, começou um movimento de preparação, de envolvimento, desenvolvimento de pequenas competições entre as pessoas, entre as oficinas.
00:25:17A gente não tinha ferramenta nenhuma, tinha algumas chaves e mal dava para desmontar alguma coisa.
00:25:25Uma tarde, eu fui à casa do Zeca e os peguei fazendo uns cavaletes de madeira, né? Estavam serrando-os.
00:25:32Eu fui lá e falei, pô, o pai tinha uma oficina lá em São Paulo que tinha uns cavaletes de aço, com regulagem de altura, profissional o negócio.
00:25:40Só que essa oficina estava desativada, porque o negócio não deu certo e as ferramentas estavam guardadas.
00:25:46E convencei com o meu pai, ele prontamente, não é uma ferramenta de vocês.
00:25:51E aí, nós fomos buscar. Eu, o Eladio, o Jean, nessa viagem, o único que tinha carteira era o Alex.
00:25:57A gente veio para São Paulo, na rural da mãe do Zeca, os quatro.
00:26:00Era um garoto que, como eu, amava os Beatles e os Rolling Stones.
00:26:08Girava o mundo, sempre acusava as coisas finas da mãe.
00:26:15Eu não era belo, mas, mesmo assim, havia mil garotas assim.
00:26:24Cantava help and ticket to life, oh lady.
00:26:28Chegando em São Paulo, buscamos as ferramentas.
00:26:31Realmente, a gente pensava que eram os cavaletes. Chegamos lá, era uma oficina inteira.
00:26:35Tinha tudo nessa oficina fechada.
00:26:37Cavalete, tinha um macaco jacaré, aquele que é grandão assim, que abre uma boca.
00:26:42Tinha ferramentas de precisão, como micrômetros, paquímetros, goniômetro,
00:26:49as ferramentas de medir câmbio e caster, alinhamento de suspensão.
00:26:54Tudo isso, nós ficamos assim, maravilhados.
00:26:56E botamos tudo dentro da rural e trouxemos.
00:26:58Carregamos a rural até, viemos por cima das ferramentas, porque não tinha mais banco para colocar.
00:27:04E aí, na viagem de volta, a gente vinha filosofando.
00:27:07O assunto era só como se chamaria essa nossa oficina.
00:27:13Nós temos aqui, dentro desse carro, a chance da nossa vida.
00:27:18Com essas ferramentas, a gente pode montar uma oficina de verdade
00:27:22e a chance não passa duas vezes, então nós vamos ter que levar isso a sério.
00:27:27Então, dali, surgiu a ideia de achar um nome de alguma coisa que relacionasse com o carro.
00:27:37A gente gostava muito de um nome chamado torque, na oficina que tinha em São Paulo.
00:27:41A gente queria um nome técnico parecido, assim.
00:27:44E aí, surgiu o câmbio.
00:27:46Podia ser caster, podia ser alinhamento, podia ser um monte de pistão, sei lá.
00:27:53Então, nós achamos uma palavra que fosse relacionada com o carro.
00:27:59Camber são os ângulos das rodas dianteiras de qualquer automóvel.
00:28:05Chama-se câmbio, que é a cambagem negativa ou positiva.
00:28:09O grande lance da época era que a gente rebaixava os carros, os carros ficavam com as rodas abertas, né?
00:28:14Esse é um termo bem técnico. Então, vai ser câmbio.
00:28:18E aí, já chegamos aqui com a oficina pronta, com nome e com ferramental.
00:28:25O que a gente queria é isso. E, de repente, a chance que era na nossa escola.
00:28:29Então, a gente agarrou isso com muita vontade.
00:28:31E aí, chegou a rural de Dona Lourdes, lotada de ferramenta.
00:28:36E o grande problema era onde começar a câmbio.
00:28:39Aí, Dona Lourdes, se não me engano, sugeriu que nós fizéssemos um barracão na área de serviço, descoberta da casa dela.
00:28:46E aí, fizemos lá na casa da minha mãe essa oficina.
00:28:50Nós pegamos um canto e aí conseguimos as telhas doadas. Acho que foi uma amiga da mãe do Jean.
00:28:58E eu me lembro que o Zeca, de repente, começou a quebrar o chão pra fazer o buraco pras estacas, né?
00:29:05E quando o Zeca começou a fazer muito barulho, construir alguma coisa dentro de casa,
00:29:12a gente vivia um na casa do outro, um entrando na casa de um, na casa de outro.
00:29:17E acabou que eu vi que eles estavam fazendo uma coisa nova.
00:29:20Era uma construção de um barraquinho dentro de uma área de serviço.
00:29:24Dali, parece que eu gostei do negócio.
00:29:27Eu segurava uma madeira aqui, pintava um negócio ali.
00:29:31Tudo começou aqui, nessa casa da 706.
00:29:36Era a casa da minha mãe.
00:29:39É como se tivesse abrindo um presente de Natal que tivesse 30 milhão de peças ali dentro da Rural, né?
00:29:46E aí já pendurava, já pregava lá na parede.
00:29:49E aí as ferramentas todas couberam dentro desse barracão.
00:29:53E aqui era a garagem onde a gente trabalhou muito.
00:29:59Os carros ficavam lá fora esperando e a gente colocava os carros no cavalete.
00:30:05E ali era a oficina.
00:30:08Aonde era a oficina?
00:30:10Nessa portinha aqui, onde nós guardávamos as ferramentas.
00:30:15Quando veio na primeira viagem da Rural, as ferramentas já ficaram aí.
00:30:20Mas o Alex, o Zeca, o Jean e o Eladio, eu acho que eles foram o início de tudo.
00:30:27De uma geração.
00:30:29Porque tinha uma geração mais velha, né?
00:30:32Que eram os pilotos.
00:30:34Enio Garcia, um pessoal mais adulto, né?
00:30:37Jorge Papas, Valdir Lomasi.
00:30:40Mas esse que a gente falava é da outra turma, né?
00:30:43A turma mais velha, né?
00:30:45Ali era a turma mais garotada, né?
00:30:48A partir daí, no dia seguinte já estávamos trabalhando.
00:30:51Uma oficina para arrumar os carros dos pais.
00:30:55Nós atendimos os carros dos amigos, aí começou...
00:30:59E pensando, obviamente, em um dia preparar um carro para correr.
00:31:03Ali nasceu a primeira semente da futura câmbia.
00:31:09Embora ninguém tivesse capital, todo mundo tinha muita vontade.
00:31:14E daí foi um passo para evoluir e chegar onde a gente chegou.
00:31:22Quando as ferramentas vieram, a gente não sabia como mexer com aquilo.
00:31:28Tivemos que aprender a mexer com mecânica seriamente.
00:31:32Comecei a desenvolver, assim, o conhecimento do automóvel.
00:31:36Então eu entrava em tudo que é oficina, perguntava tudo.
00:31:39Até os mecânicos falavam, sai daqui, moleque, para de fazer perguntas.
00:31:42Os meninos da câmbia, eles vieram aqui solicitando um treinamento na época.
00:31:49Isso em mais ou menos 1965.
00:31:52Aí eu cedia o treinamento para eles.
00:31:56O concessionário tinha quase tudo o que a gente tinha no concessionário.
00:32:01Você imagina, a gente era um mini concessionário com todas as ferramentas especializadas.
00:32:05O chefe da oficina da Desbrave, na época, o Douglas, passou a dar aulas para a gente, né?
00:32:12De como fechar o motor, como fazer um câmbio, enfim.
00:32:15Por exemplo, quando eu tinha alguma dificuldade, eu levava ele na casa da minha mãe.
00:32:19Eu ia buscar ele lá na Desbrave.
00:32:21Pelo menos descobri o que estava acontecendo.
00:32:23Ele nos ensinava aquele pedaço e voltava para a Desbrave.
00:32:27Muito legal com a gente, porque não tinha remuneração, não tinha nada.
00:32:32Era na base da amizade.
00:32:36Ou a gente insistia tanto, eu não sei.
00:32:39Eu acho que a gente insistia muito, viu?
00:32:42Muita paciência, muita dedicação com eles também.
00:32:45Era um menino muito interessado, né? Esforçado.
00:32:49Porque tem todas medidas e ferramentas para você fazer o serviço.
00:32:54Senão a marcha não entra, as marchas nem funcionam.
00:33:00Depois do expediente, eles vinham muito aqui.
00:33:02Porque, às vezes, o Douglas, durante o dia, não tinha muito tempo para ensinar eles.
00:33:06Então, ele vinha depois do expediente para cá para aprender.
00:33:09A gente já fazia trabalho para fora, mas o pessoal não fazia muita fé de levar carro para quatro meninos, né?
00:33:18Era uma época que não tinha tantas oficinas, era começo de Brasília.
00:33:22É, a clientela foi crescendo, né? Foi crescendo.
00:33:26Um vizinho, até, lá da oficina.
00:33:30Levou a Kombi lá para fazer um trabalho de câmbio.
00:33:33Ele estava com vazamento e nós tivemos que desmontar o câmbio para arrumar.
00:33:40A gente prometeu entregar o carro no dia seguinte.
00:33:42Nós tomamos uma surra daquele câmbio.
00:33:44A hora que nós colocamos macharré para sair da garagem, o carro andou para frente.
00:33:51Aí eu desci e falei, olha, deu um pequeno probleminha aqui.
00:33:54Mas só pode ficar tranquilo que amanhã cedo nós entregamos ela.
00:33:58Vamos virar a noite em cima dela aqui.
00:34:01Eu não disse qual era o pequeno probleminha.
00:34:04É que depois o boato espalhou pela cidade.
00:34:08O importante era que o cliente final, o cliente no final do serviço,
00:34:12recebesse o carro pronto, bonitinho.
00:34:15Era um erro que parece um absurdo, mas era fácil de acontecer.
00:34:18Por quê? Nós tínhamos o manual e a gente fazia tudo pelo manual.
00:34:21E na foto do manual, a coroa estava do lado certo.
00:34:27Nós montamos conforme a foto.
00:34:29Só que a Kombi tem uma caixa de desmultiplicação para dar mais força,
00:34:33porque ela é um veículo de carga, que inverte o sentido.
00:34:37Então, a coroa da Kombi tem que ser montada ao contrário.
00:34:41Eu me lembro que nós saímos para testar, andando de ré,
00:34:46nós fizemos a primeira, a segunda, a terceira e a quarta.
00:34:48A gente chegou lá para uma da manhã, depois que o japonês fosse dormir.
00:34:52Aí o diagnóstico estava completo, mas a gente queria saber se o câmbio estava perfeito.
00:34:56Nós chegamos a fazer esse teste de andar com ela até a quarta para trás,
00:35:01para ver se não roncava, se não tinha problema nenhum.
00:35:03Aí nós tínhamos certeza que o câmbio estava perfeito.
00:35:05Era só trocar a coroa. Tínhamos que abrir tudo.
00:35:07Mas, para fazer isso, tem que tirar o motor, tirar o câmbio, desmontar a traseira do carro todo.
00:35:12E, quando deu oito horas da manhã, o japonês precisava dela para ir para trabalhar.
00:35:17Ele veio buscar e estava pronto. E a gente virou à noite em cima.
00:35:21Eu não sei como é que a minha mãe aguentava. Eu não sei como...
00:35:25Porque era uma... A gente dormia no chão tudo sujo de graxa, no tapete.
00:35:31A gente trabalhava a noite... Tinha gente que trabalhava a noite inteira.
00:35:35Não tinha. E ela deitava no chão e dormia.
00:35:39Sem saber, ela curtia os sonhos de vocês, né?
00:35:43É.
00:35:45Ela apoiava, né?
00:35:46Ela apoiava.
00:35:48Ela foi assim... Ela entendeu...
00:35:52Eu acho assim, por exemplo, muito melhor do que ficar na rua, né?
00:35:56Do que... Hoje...
00:35:59Pelo menos ela tinha o controle, né?
00:36:02Estava todo mundo em casa, né?
00:36:05É muito melhor, né? Do que...
00:36:08Na garagem cabiam dois carros.
00:36:11Mas, na calçada, a gente deixava mais três ou quatro carros na fila.
00:36:16E a gente não saía da oficina, entendeu?
00:36:19A gente ficava lá o tempo todo.
00:36:21Era um laboratório. A gente gostava daqui.
00:36:23Eu saía da loja do meu pai e ia direto para Câmbia.
00:36:25Câmbia era a casa da D. Lourdes.
00:36:27E aqui começou o patinho feio.
00:36:29E aqui, consertamos o chassi do pai do Alex pela primeira vez.
00:36:35E sua mãe o que achava disso?
00:36:38A minha mãe era uma santa para aturar essa confusão de graxa, óleo e...
00:36:44E tanta gente dentro de casa. Enfim...
00:36:47Ela aceitava tranquilo e incentivava.
00:36:50Uma época boa, né?
00:36:52Eram os loucos anos 60 e, mais precisamente, 1967.
00:36:59Um ano que foi emblemático para mudar comportamentos no mundo inteiro.
00:37:04E os quatro garotos de Brasília fizeram parte disso.
00:37:09O nosso sonho, além da mecânica, sempre foi correr de automóvel.
00:37:18Só tinha um problema para correr de automóvel.
00:37:20A gente não tinha nem o carro, nem dinheiro.
00:37:23E depois a gente ficou pensando, se não tivesse um carro só da gente,
00:37:26era muito mais legal.
00:37:28Houve o acidente do pai do Alex.
00:37:30O carro que ele estava deu perda total.
00:37:33E aí, um dia, surgiu a ideia de pedir para o meu pai o Fusca,
00:37:36que nós estávamos lá já fuçando nele, garimpando, não sei o quê.
00:37:39Ele me deu.
00:37:40Eu prometi a ele que eu ia fazer um carro de rua.
00:37:43E era mesmo a minha intenção.
00:37:44Embora não tivesse sobrado nada do carro,
00:37:47pelo menos o motor, alguma coisa, ainda estava para ser recuperado.
00:37:51Reconstruir o Fusca para ir para a escola, né?
00:37:55Para ser um carro de passeio normal.
00:37:57Então, nós começamos, primeiro, a desmontar.
00:38:00Tirar a carroceria estragada de cima do chassi.
00:38:03Tirar a parte mecânica toda.
00:38:06Levamos a parte mecânica para a oficina, na casa da Dona Lourdes.
00:38:10Aí, eu tive que cortar o chassi na marreta e na talhadeira.
00:38:16Eu levei um mês cortando esse raço.
00:38:20Então, pim, pim, pim.
00:38:21Dava um trabalho desgraçado.
00:38:23Depois, eu consegui convencer o cara que tinha o aparelho de solda
00:38:27a alinhar e soldar o chassi para mim.
00:38:30Como eu não tinha dinheiro, eu dei para ele uma mesa e quatro cadeiras.
00:38:33Consertamos o chassi.
00:38:35Era carburação de um, roda de outro.
00:38:38Cada um emprestou.
00:38:39Os amigos emprestavam. Cada um emprestava uma coisa.
00:38:42Aí, nós viramos as rodas ao contrário.
00:38:45Porque, com isso, a gente ganhou uma bitola enorme,
00:38:47principalmente na traseira.
00:38:49Nós ganhamos umas cinco polegadas de offsets para fora.
00:38:54Brasília era muito restrita naquela época.
00:38:56Nós não tínhamos muito o que fazer.
00:38:57Então, a molecada ia para a rua.
00:38:59Ia para os points.
00:39:00E a gente se conhecia nesses locais.
00:39:02Como a gente tinha esse gosto, essa preferência por automóvel,
00:39:06e logo eles inventaram de fazer um carro,
00:39:09a gente logo começou a seguir, né?
00:39:12Um bando de seguidores acompanhando aí a evolução
00:39:15da construção do primeiro protótipo aqui em Brasília,
00:39:18que foi o Patinho Feio.
00:39:19Lá na Desbrava, a gente tinha acesso ao Ferro Velho,
00:39:22esse lugar onde eu já íamos fazer aula de mecânica.
00:39:25E aí, lá no Ferro Velho, a gente começou a garimpar um monte de peças de suspensão
00:39:29de vários sinistros e fomos selecionando e medindo nos aparelhos que a gente tinha.
00:39:34E aí, quando ficou pronta a mecânica e ficou pronto o chassi,
00:39:39nós levamos o chassi para a casa da dona Lourdes.
00:39:44Um dia nós tínhamos já prontinho a suspensão dianteira,
00:39:47completa, o conjunto de suspensão dianteira.
00:39:50Quando o chassi ficou pronto, aí nós parafusamos esse eixo no chassi.
00:39:54Quando tudo funcionou, saímos para andar, andar com o carro.
00:39:59Acho que era uma sexta-noite, um sábado à noite.
00:40:01Pusemos quatro rodas, um banco e saímos para andar, sem a carroceria.
00:40:07O volante era apoiado no colo.
00:40:10Uma lata com um pouco de gasolina amarrada lá na frente.
00:40:14Era uma tábua apoiada no fundo do chassi e na bateria que fica do lado.
00:40:20E um meio deitado ali, agarrado aqui no banco.
00:40:24Nós terminamos ela de noite, aí colocou um pendente.
00:40:31Uma coisa para ligar na bateria, para mexer no carro.
00:40:35Amarramos lá na frente.
00:40:37Andando à noite na W4, W13, imagino.
00:40:41Ficamos impressionados, né?
00:40:43E andava pra caramba, porque não tinha o peso da carroceria.
00:40:46O arranque que ele tinha.
00:40:48Os pais não podiam saber de jeito nenhum.
00:40:49A mãe do Jean, se soubesse, ia morrer.
00:40:51E a gente passou lá em frente no meu campo com essa coisa.
00:40:54E demos um acelerado.
00:40:55Os caras ficavam assim, meio sem saber o que era aquilo.
00:40:57De onde veio e pra onde foi.
00:40:59Surgiu na madrugada e desapareceu.
00:41:01Aí nós escondemos ele.
00:41:03E ficamos tão encantados.
00:41:06Pah, vamos andar de dia com isso.
00:41:08E, na época, o Enio Garcia estava construindo uma Fórmula V, mecânica Volkswagen.
00:41:17E já tinha feito alguns testes no Lago Sul, numa quadra desabitada,
00:41:23que só tinha o asfalto, não tinha meio fio, não tinha nada.
00:41:27Tinha marcado um tempo, né?
00:41:29E nós resolvemos ir nesse mesmo circuito que o Enio fazia com a Fórmula V,
00:41:35que era um carro com tecnologia, motor entre-eixo, uma série de coisas.
00:41:41E nós fizemos um tempo muito próximo, muito bom em relação ao que ele virou.
00:41:45Tá, aí começou a ideia de construir o carro de corrida.
00:41:49Fiat Lux, todo mundo acordou.
00:41:51Sim, vamos correr, vamos correr, unanimidade de novo.
00:41:54Eu até fiquei meio assustado.
00:41:55Eu que sou otimista, nesse dia eu dei uma de Zeca.
00:41:58Isso não vai dar certo.
00:42:00O Zeca era pessimista.
00:42:01O Zeca era pessimista.
00:42:02Eu era o contrário.
00:42:03O Zeca tinha sempre uma história de isso não vai dar certo, né?
00:42:06A gente brincava muito com o Zeca.
00:42:08Se perguntar para o Zeca, ele disse que não vai dar certo.
00:42:11O Jean também é otimista, só que demais, assim.
00:42:16Ele, de vez em quando, sonha o impossível.
00:42:19No começo aquilo tudo parecia uma brincadeira.
00:42:22E o carro foi sendo construído e a gente começou a acompanhar.
00:42:25Ia lá ver, ia bater a lata e juntar as peças e tal.
00:42:31Estava até comentando isso com o Jean, que o Galvão, na época da garagem da casa do Zeca lá, do pai do Zeca, na 706, foi onde tudo começou.
00:42:46O Galvão era nosso amigo, morava aqui em Brasília.
00:42:50E ele, como tantos outros, iam lá.
00:42:53Era uma reunião de amigos, né?
00:42:57E a gente montava os motores, aqueles troços, e ele participava.
00:43:02Ele gostava muito, porque o cabeçote tem as válvulas, né?
00:43:06E tem a série de válvulas.
00:43:08E tem que esmerilhar para anular o vazamento de cilindro, né?
00:43:11Para ficar bem vedado.
00:43:13E o Galvão adorava ficar esmerilhando válvulas.
00:43:15Ele gostava daquilo, de ficar esmerilhando válvulas.
00:43:18Então ele era o esmerilhador oficial da equipe.
00:43:22Era uma oficina movimentada.
00:43:28Virou ponto de encontro, um passatempo para vários garotos que moravam em Brasília na época.
00:43:33Um deles já era fã de automobilismo bem antes de virar narrador.
00:43:37Carlos Eduardo dos Santos Galvão Bueno também aparecia por lá de vez em quando.
00:43:43Fui levado por um amigo em comum.
00:43:45E quando eu dei por mim, estava com a lixa, lixando o cabeçote do que viria a ser um bravo motor do Patinho Feio.
00:43:57E a gente acompanhou dessa forma, assim, como entusiasta do projeto, como amigo.
00:44:02Eram os adolescentes diferentes dos dias de hoje.
00:44:05Porque eles não se importavam com essa história de grifes e de movimentos grandiosos.
00:44:10Eles tinham um sonho e colocavam aquilo para se concretizar, para se realizar.
00:44:17A partir de 1967 começou a se disputar também os 500 quilômetros.
00:44:22Que além de serem provas importantes para Brasília, eram provas muito importantes dentro do cenário automobilístico brasileiro.
00:44:29Que a garotada frequentava as oficinas onde recebia os carros, principalmente os de fora.
00:44:35E já vinham acompanhando a prova antes até do evento.
00:44:40E na época estava se aproximando os 500 quilômetros de Brasília.
00:44:44No mês de setembro, comemoração 7 de setembro.
00:44:47E tivemos a ideia, gente, se a gente encarroçar esse chassi, né, nós vamos andar muito bem, né?
00:44:55Se a gente puser aqui em cima desse chassi só o suficiente para passar na vistoria técnica,
00:45:00nós vamos ter um carro muito leve, com baixo consumo de combustível.
00:45:06A corrida é longa, nós vamos ter que parar menos vezes para abastecer.
00:45:10E Volkswagen não quebra nunca.
00:45:12Então, vão ter muitas quebras, porque as corridas são longas.
00:45:15Os gordinhos, a gente sabia que desmachavam, os DKVs eram mais resistentes um pouco.
00:45:20Mas a performance era fora do anamal, por causa da leveza do carro.
00:45:25No começo de tudo, tinha que ser como saber como é que a gente ia poder correr.
00:45:32Quanto tempo faltava para a competição?
00:45:3325 dias.
00:45:34Faltava 25 dias?
00:45:35É.
00:45:36Você já viu já pensando nela antes?
00:45:40Não, a sonhar em correr, a gente sonhou a vida inteira.
00:45:43Agora, o dia que nós falamos, vamos correr, foi esse dia quando a gente voltou desse teste lá do outro lado do lago.
00:45:49Aí foi 25 dias. Foi aí que nós começamos, vamos, então vamos.
00:45:53Porque, na época, os estreantes só podiam correr em carros normais, como os carros que saem de fábrica.
00:46:03Que você fizesse uma, duas, três provas de estreante, de corridas regionais, para que você pudesse participar de uma prova nacional.
00:46:14E não tínhamos corrida nenhuma, né? Nós só tínhamos corrida de autorama, né?
00:46:19E aí, o Jean foi à Federação Automobilística do Distrito Federal.
00:46:25Fomos nós, então, ao presidente da Confederação Brasileira de Automobilismo, para explicar, para tentar uma exceção.
00:46:33Falando lá com o senhor Ramon Wuggenhaut, que era o presidente da federação, e deve ter contado uma história triste.
00:46:42E aí, nós fomos lá e contamos a história.
00:46:45Nós íamos construir um carro, partindo dos restos de um carro batido.
00:46:51E, com isso, para isso tudo ser feito, nós teríamos que ter autorização dele e garantir que nós íamos correr.
00:46:58Ele não acreditou. A gente tinha cara de moleque.
00:47:01Eu, então, tinha cara de 18, mas tinha cara de 13, 14, por aí.
00:47:07O cara nem acreditava que eu tinha carteira.
00:47:09Ele só não disse que era mentira.
00:47:13Ele, a princípio, não aceitou, mas quando ele percebeu que era uma coisa impossível que a gente queria,
00:47:20já tinha uma hora de conversa, ele, para se ver livre da gente, falou,
00:47:26não, então tá, pode ir. O dia que estiver pronto, vocês apareçam aqui.
00:47:30E, na cabeça dele, a gente nunca mais ia voltar.
00:47:33Então, aí que começou toda a história do Patinho Feio.
00:47:37Ele nasceu dessa forma.
00:47:39E ele aceitou a nossa inscrição para a corrida.
00:47:42E nós, no carro, não estava nem pronto.
00:47:44Ele falou, tá bom.
00:47:45Se vocês construíram mesmo um automóvel, eu autorizo vocês a participarem da corrida.
00:47:50As coisas antigas eram mais simples, né? Porque faltava corrida, faltava corredor, né?
00:47:55Eram 21 dias, ou seja, nós tínhamos três semanas até a corrida.
00:47:59Aí foi um corre-corre, cara.
00:48:02Juntaram uns doidos, Alex, Jean, Eladio, Zeca.
00:48:09Chamaram o mais doido, que era o Moisés, que era mecânico do Supremo Tribunal Federal.
00:48:14Então, foi assim. A gente resolveu fazer. O Zeca vendeu...
00:48:18O Zeca tinha juntado uma graninha das férias dele.
00:48:21Com essa graninha, ele...
00:48:25A gente comprou os canos de conduíte para fazer o telaio da calceria.
00:48:30Fomos numa outra loja, compramos mais chapas de ferro e pegamos umas fotografias do carro
00:48:37que a gente mais gostava na época, que se chamava Chaparral.
00:48:42Pegamos uma outra do Ford GT40 e decidimos que o carro teria que ser parecido com aquele.
00:48:49Todo um processo de ideias com os lanterneiros.
00:48:55Moldamos lá aquela coisa.
00:49:00Foi toda a nossa energia para aquilo ali.
00:49:02E a gente fez aquilo com muita paixão, com muita dedicação, com muita devoção, sabe?
00:49:09A gente virava à noite e foi um negócio extraordinário, assim, para quatro moleques entre 18 e 16 anos.
00:49:19Meus pais tinham muito medo de carro.
00:49:22Quando faltavam dez dias, eles...
00:49:24Eu não me lembro se eu contei ou se alguém contou que a gente estava fazendo um carro de corrida.
00:49:29E pior ainda, que eu que ia correr nesse carro.
00:49:32Com isso, eles me pediram para decidir se eu preferia desistir da ideia e continuar em casa
00:49:41ou sair de casa e realizar o que eu estava dizendo que ia fazer.
00:49:54A partir daí, fiquei morando lá na casa da mãe do Zeca.
00:50:01Ia em casa de vez em quando, nos horários que eu sabia que não tinha ninguém, para buscar a roupa.
00:50:06E assim foi até o dia da corrida.
00:50:09Um amigo me disse, olha, estão construindo um protótipo para participar dos 500 quilômetros.
00:50:14Lá na Zanorte, você quer ver e tal? E eu fui lá.
00:50:18Fiquei espantado, porque o primeiro choque realmente foi com o que eles chamavam de oficina, que parecia um galinheiro.
00:50:25E tinha lá aquele amontoado de coisas, de peças e tubos retorcidos e remendos.
00:50:36Eu olhei, a primeira figura que veio na minha imagem foi o Frankenstein.
00:50:40Eu falei, isso não é...
00:50:42Esse é um projeto Frankenstein.
00:50:44E fiquei...
00:50:45Parecia realmente...
00:50:46Eu saí de lá e disse para esse meu amigo, falei, essa é uma cadeira elétrica.
00:50:50E fiquei preocupado por eles.
00:50:52Porque eles se propuseram a fazer aquele carro e estrearam uma corrida que era válida pelo Campeonato Brasileiro.
00:50:58E a corrida do Campeonato Brasileiro, participavam as principais equipes e principais pilotos do Brasil todo, principalmente o Eixo Rio e São Paulo, que na época lideravam o Campeonato Brasileiro.
00:51:10E os meninos, com o carro, se é que podia chamar de carro, com aquilo ali, para participar de uma corrida dessa...
00:51:19E corrida longa, de 500 quilômetros. Não era uma corridinha de três horas, duas horas.
00:51:23Minha preocupação reduziu, porque eu falei, eles vão quebrar logo. E isso limita o risco. Não foi o que aconteceu.
00:51:33E o Moisés dobrou o eletroduto no joelho. Arrebitou, soldou, bateu umas latas por fora e chamou aquilo de carro.
00:51:43Quer dizer, se você for à luz da engenharia analisar aquilo, era uma fórmula fantástica.
00:51:49Porque ele praticava um negócio chamado aproveitamento da relação peso-potência.
00:51:54O carro era muito leve, então ele andava muito bem. Ao invés de ter potência, ele não tinha peso.
00:52:01Então você compensa uma coisa com a outra.
00:52:05Foi aí que nós construímos esse carro, outra leve, em cima do chassi do Fusco.
00:52:09Até na noite anterior, a gente estava fuçando. Aí o Zeca e o Eladio falaram, vão dormir vocês dois, que nós viramos aqui à noite para terminar o que falta.
00:52:18Resultado, ele ficou pronto um dia antes da corrida.
00:52:20Levamos o carro até o presidente da confederação, que levou até um susto.
00:52:25Nós levamos o carro na federação. E foi aquele espanto, né?
00:52:30Por que isso? Por que aquilo? E a gente explicando.
00:52:33Tinha que ter porta, tinha que ter para-brisa, né? Limpador de para-brisa.
00:52:39Quer dizer, tudo isso tem. O carro tinha, né?
00:52:42Faróis, quatro faróis. Luz de freio.
00:52:46E o para-brisa parece que era de...
00:52:48Era uma para-brisa de acrílico, de uma lancha velha que a gente achou lá no iate.
00:52:52Nós fomos procurar e encontramos um para-brisa de lancha velha, que tinha mais ou menos o mesmo comprimento, altura nem tanto.
00:53:02Mas a curvatura foi... Tinha como fazer a curvatura, né?
00:53:09Para colocar aí uma paleta de limpador de para-brisa cortada, pequena, motorzinho, tudo. Funcionava.
00:53:17Tinha que funcionar para poder passar no teste, né?
00:53:21E aí ele não podia voltar atrás da palavra dele e teve que nos autorizar a correr.
00:53:26É uma estreia, né? A estreia é sempre emocionante.
00:53:29Primeiro que a gente éramos tratados pelos outros pilotos, né?
00:53:32Pelos meninos. O carro dos meninos.
00:53:35A gente, de vez em quando, escutava as conversas ou no Mocambo, que era um barzinho que tinha, que os pilotos se encontravam.
00:53:42Ou no circuito da feira, ali se encontravam de noite com os peguinhas noturnos, escondidos da polícia e tal.
00:53:50Então eles diziam, ah, os carros... Será que o carro dos meninos vai ficar pronto e tal?
00:53:53Porque os meninos estão construindo o carro. Que meninos são esses?
00:53:56Os garotos, né? Eram os garotos ainda.
00:53:59Nossos ídolos, né? Que eram Enio Garcia, André Gustavo, Paulo Guaraciaba, Jorge Papas e outros, né?
00:54:09Eram muito mais velhos que a gente, né? Então nós não tínhamos um envolvimento, né?
00:54:13O Brasil era estigmatizado naquela época como uma cidade que não tinha opções.
00:54:19E foi ali, naquele ponto, naquela oficina, na câmara, que aqueles quatro meninos...
00:54:28Neste momento, estamos quase no fim dessa história, o que me faz lembrar como eu vim parar aqui.
00:54:34Foi nessa festa comemorativa dos 30 anos da oficina câmbio onde tudo começou.
00:54:39Na ocasião, eu realizava uma pesquisa sobre a vida do tricampeão mundial de Fórmula 1, Nelson Piquet.
00:54:46E havia informação de que ele havia trabalhado nessa oficina.
00:54:50Mas quando quatro senhores, totalmente desconhecidos para mim, subiram ao palco e começaram a narrar suas histórias,
00:54:57de como tudo se passou e como tudo aconteceu, aquilo cada vez mais ia chamando minha atenção.
00:55:03Saber da história do Patinho Feio e os quatro garotos, uma chama acendeu em mim.
00:55:08Aquela história não poderia ficar restrita àquele salão de festas.
00:55:33E aí, Zé, vamos lá? Vamos lá, amor. Me ajuda aqui.
00:55:48Zé, que volta? Volta.
00:55:53Acabei de chegar em Brasília, mas já conheço. Já conheço.
00:56:03Falou. Então, gente, vamos para o ônibus?
00:56:09Como é que tudo isso começou? Foi aqui?
00:56:12Levanta a bandeira quadriculada.
00:56:15Aqui existiam os palanques, ficavam as autoridades, o pai do Alex, o pai do Jean,
00:56:20ficavam todos aqui as autoridades e os convidados na época da largada.
00:56:26Quando chegamos com o carro, já foi um auê no boxe,
00:56:29porque todo mundo queria saber que carro era aquele, como é que era, o que ele fazia.
00:56:34Novidade, né? Um carro totalmente diferente, com aparência de gafanhoto, como já foi dito.
00:56:40Todo mundo querendo ver. E o Zeca tem uma história interessante do Greco.
00:56:46Na época, existia uma equipe da Willys, que era uma fábrica no Brasil antiga,
00:56:52e que tinha um departamento de competições.
00:56:56Existia o chefe de equipe, que era o Greco, que era o deusa.
00:57:00Quando chegamos com o carro, ele foi lá olhar o carro, ver o que era aquilo.
00:57:05Já ficou meio assustado com aquele carro todo esquisito, dando palpite.
00:57:13Falou, será? Esse carro quebra? Esse carro é muito frágil.
00:57:16Já botou um monte de defeito e saiu andando.
00:57:18Aquele jeito dele, né? Reclamando das coisas.
00:57:23Então foi muito interessante, foi muito legal a chegada do protótipo no boxe.
00:57:29Uns olhavam com espanto e outros, assim, ridicularizando, né?
00:57:36Porque o carro era muito feio, né?
00:57:38Parecia um inseto com os dois farosãs, assim, um aerofólio enorme.
00:57:43Então aquilo era um sonho, era igual um disco voador.
00:57:45Objeto não identificado, era um deles, uns apelidos.
00:57:51Os goianos chamavam ele de prototipo formigão.
00:57:55Porque tinha a cara de uma formigona, assim, com aqueles paralamas, aquelas asas pra trás, assim.
00:58:01A cara era horrível.
00:58:03E os faróis eram do lado de fora, então parecia um gafanhoto de quatro olhos, assim, daqueles...
00:58:07de filme de ficção científica.
00:58:10A traseira parecia um patinho, né?
00:58:13Patinho Feio. Não sei quem deu o apelido. Quem deu o apelido?
00:58:17Patinho Feio foi o apelido.
00:58:19O apelido que foi dado, eu não me lembro se foi por jornalistas, né?
00:58:24Ou se foi pela vizinhança, né?
00:58:25Então, foi a mãe do Jean. Ela fez uma matéria maravilhosa. Ela era uma jornalista fantástica.
00:58:31E ela fez uma analogia da história do Patinho virando o Cisne Real com o fato do carro ter sido desdenhado e depois ele...
00:58:40Então, ela que deu o título da matéria, o Patinho Feio. E aí ficou Patinho Feio.
00:58:47Ele é um nome muito forte, o nome é inteligentíssimo, mas não é exatamente feio.
00:58:53O Patinho não era feio, né? Ele era um cisne.
00:58:57Ele parecia ser feio, né?
00:59:01É até uma... interessante, né?
00:59:04É um patinho feio que nasceu, mas ele era um cisne.
00:59:07O cisne do automobilismo brasiliense, né?
00:59:11Nós o chamamos de protótipo.
00:59:13Ah, pra nós era a coisa mais linda do mundo.
00:59:16É.
00:59:18Não era bonito, não.
00:59:20Mesmo feio.
00:59:21Deu certo.
00:59:22Entende?
00:59:24O Fusca, por exemplo, era feio.
00:59:26Mas o Fusca é bonito.
00:59:27O Patinho Feio era isso.
00:59:29Era um carro feio, mas que era muito bonito.
00:59:33Era um carro, assim, que chamava muita atenção, que era um carro muito espartano, diferente do convencional do carro de corrida.
00:59:40Impressionou todo mundo.
00:59:41E quando parou o carro na largada, então, todo mundo ria, né?
00:59:45Porque o bichinho feio, né?
00:59:46Por isso que se chamava aí, o pessoal deu o nome de Patinho Feio.
00:59:50Nesse momento, todo mundo começou a rir, inclusive os outros pilotos, porque achavam que ou a gente ia parar ali uns 10, 15 minutos, ou ia andar lá atrás.
00:59:59Não, não, nem me preocupei.
01:00:01Mas nem me preocupei.
01:00:03Eu sabia que eles não iam, eu tinha convicção de que eles não iam completar aquela prova.
01:00:08Porque é muito difícil você preparar um carro de corrida.
01:00:11Apesar de ser improvisado e tal, você passa ali um mês em cima daquilo, com pequenos detalhes, então, tudo pode quebrar.
01:00:19E um carro feito dessa forma que eles fizeram, tinha tudo pra quebrar. Tudo.
01:00:23Mas aquilo era um esquife com quatro rodas.
01:00:27A estrutura da carroceria foi feita com eletroduto, esse tubinho de passar fio por dentro.
01:00:32Aquilo que você diz, o carro, o Patinho Feio.
01:00:33É.
01:00:35Eu não posso chamar aquilo de carro, né?
01:00:38Aquilo era o pico da irresponsabilidade juvenil, né?
01:00:41Olha, era... Eu costumo dizer que aquilo ali contrariou a lei de Murphy.
01:00:47Tinha tudo pra dar errado. E deu certo.
01:00:50Cara, naquela época, o combustível era estamina com testosterona, né?
01:00:55Então, você vazava a pressão pelos buracos do rosto, né?
01:01:00Você queria estar ali, né?
01:01:03A largada tinha sido decidida por sorteio e nós tínhamos sido sorteados em último lugar.
01:01:09E aí fomos... Era o trigésimo terceiro carro a largar, lá atrás.
01:01:17É assim que a gente chegou na largada.
01:01:19O Jean que largou.
01:01:21E a gente não tinha a menor noção de como a coisa iria se comportar.
01:01:28O Douglas, que nos ensinou a mecânica da desbrave,
01:01:32ficou no box pra fazer a parte mecânica.
01:01:37Ele e Zeca.
01:01:39Eu fiquei na parte de...
01:01:41Pra ajudar no abastecimento.
01:01:45Outros amigos ficaram na parte de cronometragem.
01:01:49Então, foi assim, né?
01:01:51Fernando Ramos, Lúcio...
01:01:54Ficamos assim...
01:01:56A expectativa, a emoção foi muito grande.
01:01:58Foi muito legal.
01:01:59Aí, quando deu a largada, acelerei pra continuar em último.
01:02:04Não sei por quê, o carro começou a andar mais que o penúltimo.
01:02:07Aí eu passei.
01:02:08Passei mais um.
01:02:10Sei que no final da primeira volta tinha passado uns dez.
01:02:13Quando a gente viu que ele passou, nós começamos a pular.
01:02:17Tô sendo lá que nem uns macacos de auditório.
01:02:20E eu me lembro da cara de reprovação das outras pessoas que estavam no boxe.
01:02:26Os caras olhados.
01:02:27Moleque, vocês tão doidos.
01:02:30Isso aqui é automobilismo, é coisa séria.
01:02:32E a gente lá...
01:02:34Vibrando.
01:02:35E já foi passando, passando, passando um monte de gente.
01:02:39O carro era muito melhor do que a gente pensava.
01:02:42Na segunda, mais uns dez.
01:02:44E...
01:02:46Com quatro voltas, tava entre...
01:02:49Entre os cinco...
01:02:51Tava entre os cinco primeiros.
01:02:53Mas foi uma corrida extremamente emocionante.
01:02:57Foi um negócio que a gente vibrava,
01:03:00como vibramos com Ayrton Senna,
01:03:02com o Nelson Piquet,
01:03:05com o Emerson Fittipaldi.
01:03:07Porque era tudo uma história, né?
01:03:08De luta, de coragem, pra fazer aquilo.
01:03:11Eu cheguei à conclusão que o peso dele era tão pouco.
01:03:15Eu não sei quantos cavalos tinha, mas era muito leve o carro.
01:03:18E isso aí dava uma grande vantagem pra eles.
01:03:21Era um projeto que tinha tudo pra não dar certo,
01:03:24mas que acabou dando muito certo.
01:03:26Você imagina, você correr com um carro,
01:03:29com um motor de 1.200, Volkswagen 1.200,
01:03:31contra Alfa Romeo, Porsche, carros desse tipo.
01:03:35Você esperava que ele ficasse bem pra trás.
01:03:38Uma história de sucesso.
01:03:40De sucesso a partir da aplicação.
01:03:43Da...
01:03:45Da determinação.
01:03:47Eles tinham poucos recursos.
01:03:49Não tinham nada de recursos.
01:03:51Como oficina, a câmbio era amadora.
01:03:54Não tinha recursos profissionais nenhum.
01:03:56Eles mesmo que informação tinham.
01:03:59Quer dizer, era na base do sonho e da teimosia.
01:04:03A gente era tão crica que a gente chegava em dia de lua,
01:04:08apagar o farol e treinar no escuro sem farol.
01:04:12Pra ficar bom mesmo o negócio.
01:04:14Quando a gente andou com aquele carro no trânsito fechado,
01:04:18e era trânsito aberto, então tinha que sinalizar um pro outro,
01:04:21tinha que tirar o pé.
01:04:22Pra fazer uma volta limpa era difícil.
01:04:25Porque às vezes tinha um carro no meio da rua e tudo.
01:04:28Quando a gente entrou num circuito fechadinho,
01:04:30que a gente não tinha que se preocupar se vinha carro do outro lado.
01:04:33E de dia, foi extremamente fácil pra gente.
01:04:36Nossa, uma beleza!
01:04:38E como a gente conhecia muito bem o circuito já,
01:04:40a gente se deu bem instantaneamente.
01:04:43E eu via eles empenhados assim no volante,
01:04:46o jeito de guiar, né, muito agressivo no carro,
01:04:49chamava muita atenção.
01:04:51Porque eles também ficavam muito fora do carro.
01:04:53Aparecia muito o capacete, o corpo todo, né?
01:04:56Porque o cockpit era muito aberto.
01:04:58Nós descíamos o retão no sentido do curvão da rodoviária,
01:05:03e ele sistematicamente me passava no mesmo lugar.
01:05:06Por causa dele, realmente, tinha um desempenho bem superior ao meu.
01:05:09Quer dizer, ao mesmo tempo tinha um Gordini,
01:05:10um Vemaguete, um Interlagos, um Carmanguia, um Cinca,
01:05:17e carros já de Gran Turismo,
01:05:19ou carros com um perfil esportivo importados.
01:05:24Então, quando, naquela época, entre esses carros surgiu o Patinho Feio,
01:05:31fez um grande sucesso.
01:05:33Todo mundo do automobilismo brasileiro,
01:05:35assim, os melhores estados diferentes ou pra Brasília correr?
01:05:38É, ele acelerava muito rápido.
01:05:42No final, ele não tinha uma grande velocidade não,
01:05:43mas de aceleração, ele era muito forte.
01:05:46Isso era um Volkswagen, aquilo dava pra ser táxi, né?
01:05:49Pra andar, é um quebrar, né?
01:05:51Performance, zero.
01:05:53Resistência, muita.
01:05:54Mas, se não aumentaram o rendimento, a performance,
01:05:57com a carroça seria LED.
01:05:58Um carrinho que ia fazer sucesso.
01:05:59Sucessava esse?
01:06:00É.
01:06:01Na época, era um carrinho bem rebaixável, muito baixinho, né?
01:06:06Então, tinha muita estabilidade.
01:06:08Ele torcia intensamente quando via o João Luiz colado num carro importado,
01:06:15vermelho, reluzente, de design, com um ronco respeitável, né?
01:06:21É, e eu partia o feio colado nele o tempo todo.
01:06:25Você tem ideia como que fazia naquela época?
01:06:27Você acelerava com o pé esquerdo e freava com o direito e freava com o esquerdo.
01:06:31Se você fizesse esse movimento de tirar do acelerador e voltar lá,
01:06:35o giro caía, o motor não reagia, não tem nada com isso.
01:06:39Então, você tocava essa coisa, era por entusiasmo.
01:06:41Mas eles eram mais malucos do que bons, é isso?
01:06:43Não, eu acho que com essa idade não existe essa conta.
01:06:47Acho que todo mundo era mais entusiasmado do que o bom senso recomendava.
01:06:51Luiz Greco, que era o chefe da equipe Willis, toda poderosa,
01:06:54e que veio com, se não me engano, dois ou três Renault importados,
01:06:59que eram pra ganhar a corrida.
01:07:01E, a cada volta, eu comecei a passar dois, três.
01:07:04Quando terminou uma hora e meia, que eu entreguei o carro pro Alex,
01:07:13eu já estava, não me lembro se estava em quarto ou quinto.
01:07:16E o patinho feio passou à frente, estava liderando a corrida, estava pontuando.
01:07:23Aí eu fui falar com o Greco, perguntei pra ele,
01:07:26Greco, como é que você explica isso?
01:07:28Ele fez um gesto assim.
01:07:29Então, subitamente, aquilo começou a haver uma onda de orgulho
01:07:36que perpassava no circuito e nós estávamos muito...
01:07:41Ao longo da corrida.
01:07:42Ao longo da corrida.
01:07:43Nós estávamos muito mais interessados em ver o patinho feio
01:07:46do que ver os Alfa GT da Gantt.
01:07:50Bastava quebrar, porque tinha tudo pra quebrar.
01:07:53Era um carro improvisado, o motor eu não sei de quem era,
01:07:56era emprestado da mãe de um, a subvenção era de outro.
01:07:59O carro era soba de um carro acidentado.
01:08:03É, nós passamos todo mundo dos carros nacionais.
01:08:05O caso veio trazendo problemas mecânicos nos favoritos,
01:08:09que foram abandonando a prova.
01:08:12O Porsche peifou, não sei o que aconteceu com ele.
01:08:16O Renault queimou a junta do cabeçote.
01:08:19Uma Alfa capotou.
01:08:21Acho que ele me entregou o carro em sexto.
01:08:24Aí eu andei mais um período, devolvi pra ele em quarto.
01:08:28Quando eu entreguei pra ele pra terminar a corrida,
01:08:33o carro já estava em segundo, mas já ia passar pra primeiro.
01:08:39Eu estava guiando de noite, já, porque a corrida começou tipo uma da tarde,
01:08:45e era seis horas a corrida, então ela terminou tipo sete horas da noite,
01:08:49já estava bem escuro.
01:08:52E aí me chamaram pro box, porque tinha queimado uma lâmpada traseira.
01:08:59O carro parou e a gente não tinha lâmpada, tivemos que sair procurando.
01:09:02Tivemos que correr atrás de um Fusca, desmontar a lanterna de um Fusca,
01:09:05parado ali, pôr a lâmpada e voltar pra pista.
01:09:08E com isso nós perdemos um tempo.
01:09:10Acabou o carro ficando parado, se eu não me engano, onze voltas.
01:09:15Se nós deduzíssemos no nosso tempo final esse tempo,
01:09:19nós teríamos ganho a corrida.
01:09:20Ele chegou uma volta, meia volta atrás da Alfa Romeo que ganhou.
01:09:26Ou seja, se não fosse essa lâmpada, dava pra ganhar disparado.
01:09:30E depois de seis horas de corrida, nós chegamos em segundo e quase ganhamos a corrida.
01:09:35E de repente, os brasileiros estavam passando por cima dos paulistas.
01:09:40Na verdade sim, eles chegaram em segundo lugar, mas eles ganharam a corrida.
01:09:44Ganharam porque pra nós foi ganhar.
01:09:47E o Patinho Feio fez bonito. Acabou chegando em segundo lugar, foi um show, um verdadeiro show.
01:09:53atrás do carro principal, que na época era o top de carro de corrida no Brasil.
01:10:01Eu me lembro quando eu cruzei a linha de chegada, eu ouvi o grito da multidão.
01:10:06Coisa que você não ouve de jeito nenhum dentro de um carro de corrida.
01:10:09Na chegada foi uma festa, parecia que a gente tinha ganho o campeonato mundial.
01:10:15Eu fiquei muito feliz.
01:10:17Os caras saíram me carregando dentro do carro, me carregaram pra cá, me carregaram pra lá,
01:10:22não sabiam pra onde me levar.
01:10:24Foi assim, muito legal.
01:10:26Foi uma experiência muito bacana.
01:10:30Brasília inteira, ninguém nem se lembrou do primeiro lugar lá, o paulista.
01:10:37E ele ficou muito decepcionado, porque todo mundo correu pra nós.
01:10:43E tava todo mundo lá na hora da chegada, aplaudindo, ovacionando eles com todo mérito, emocionando todo mundo.
01:10:52Eu me lembro quando ele parou, a quantidade de gente correndo, algumas até chorando.
01:10:57Porque era realmente uma vitória de todo aquele pessoal.
01:11:05O doutor não ouviu isso.
01:11:08E foi o dia mais feliz da minha vida.
01:11:11Eu fiquei tão feliz de ter participado dessa aventura, onde ninguém acreditava no que nós estávamos fazendo.
01:11:24A gente parou, pensou, estudou, aprendeu e conseguiu realizar aquele sonho.
01:11:31Eu tenho certeza que eles jamais imaginaram, primeiro, em concluir a prova.
01:11:36Segundo, em segundo, colocado na classificação geral, competindo contra carros completamente superiores ao dele.
01:11:44Quando nós fomos pra casa, pra casa do Zeca, pra oficina, né, de volta, os vizinhos jogaram, teve uma chuva de papel picado, estouraram champanhe, jogaram champanhe em cima do carro.
01:11:57Eu sei que foi a noite adentro, na quadra, onde era a oficina, lá na casa da mãe do Zeca, foi uma festa só.
01:12:06Quer dizer, a vizinhança fez uma festa muito legal.
01:12:10A vizinhança que participou, né, porque eles participaram até pelo incômodo dos barulhos que a gente fazia, né, os vizinhos eram incomodados, né, na época.
01:12:21E também por ser da quadra, então, quer dizer, virou aquilo que se fosse, fizessem parte da turma, né.
01:12:28O câmbio fez um carro de corrida, o protótipo, né, era o patinho feio, e chegaram em segundo lugar, na geral, um negócio assim, e aí saiu em tudo que é jornal, em tudo que é revista, né, de coisa, e a gente, através daí, chegamos aqui.
01:12:43É, eu diria, o grande lance da minha juventude, sabe, uma juventude sadia, uma juventude empreendedora.
01:12:54Foi a primeira corrida, né, que foi uma grande emoção, né, de ter um objetivo, porque é corrida nada mais que um objetivo, né, de ganhar, de preparar, de...
01:13:07Então, esse objetivo, aprendi muito o que era o objetivo.
01:13:10Foi um negócio muito legal, foi uma juventude fantástica, nós fomos privilegiados pela época, a cidade nos proporcionou isso, né.
01:13:19É assim que começou a história de glória do patinho feio.
01:13:25Aí, daí pra frente, o céu era o limite.
01:13:29E o céu foi realmente o limite.
01:13:32Depois dessa aventura com o patinho feio, muitas outras vieram depois.
01:13:37Às vezes, pessoas comuns fazem coisas fantásticas.
01:13:41E esses garotos de Brasília pousaram a transformar sonhos em realidade,
01:13:46e mudaram não somente suas vidas, mas o mundo a seu redor.
01:13:50A Turma da Camby chegou ao topo do mundo, e produziram uma das histórias mais incríveis da capital federal do Brasil.
01:14:04Sabe aquela velha frase?
01:14:06Não sabia que era impossível, foi lá e fez?
01:14:09Pois é, foi isso que aconteceu aqui.
01:14:13E aí
01:14:43Transcrição e Legendas Pedro Negri
01:15:13Transcrição e Legendas Pedro Negri

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