Pular para o playerIr para o conteúdo principalPular para o rodapé
  • 10/06/2025
No Direto ao Ponto, o idealizador do Marco Civil da Internet, Ronaldo Lemos, debateu os riscos da regulamentação das plataformas digitais. Lemos analisou o equilíbrio entre combate à desinformação e liberdade de expressão, e alertou sobre o perigo de medidas que possam ser usadas como instrumento de censura online.

Assista na íntegra: https://youtube.com/live/JhA0K_snqEw

Baixe o app Panflix: https://www.panflix.com.br/

Inscreva-se no nosso canal:
https://www.youtube.com/@jovempannews/

Entre no nosso site:
http://jovempan.com.br/

Facebook:
https://www.facebook.com/jovempannews

Siga no Twitter:
https://twitter.com/JovemPanNews

Instagram:
https://www.instagram.com/jovempannews/

Kwai:
https://www.kwai.com/@jovempannews

#JovemPan
#DiretoAoPonto

Categoria

🗞
Notícias
Transcrição
00:00Ronaldo, eu quero começar com o debate que acontece no Supremo Tribunal Federal
00:03sobre a possibilidade de se responsabilizar as redes sociais por conteúdos ilegais dos usuários
00:08sem a necessidade de uma ação judicial.
00:11Tenho visto muitos analistas criticarem esse julgamento,
00:14dizendo que isso poderia desencadear uma censura ou acabar com a liberdade de expressão.
00:20Há qualquer risco mínimo à liberdade de expressão no teu ponto de vista nesse debate?
00:25Boa noite.
00:26Boa noite, Evandro. Boa noite a todo mundo.
00:28Prazer imenso estar aqui com todos e com a doutora Alessandra também.
00:33Tem risco, porque o que acontece?
00:37O marco civil, é bom a gente olhar até como é que ele foi feito.
00:41E no próprio artigo 19, que está em debate no Supremo Tribunal Federal,
00:46ele começa com a expressão que diz, para proteger a liberdade de expressão,
00:51e aí vem o artigo que tem uma disposição que levou sete anos para ser construída,
00:59através de um debate muito intenso, para se tentar chegar a um equilíbrio,
01:05onde você teria a responsabilização das plataformas por meio de ordem judicial,
01:12que se não fosse cumprida, então aí levaria a corresponsabilização com o usuário que posta um conteúdo.
01:20Então, o que é importante a gente pensar é que o marco civil começou a ser construído no ano de 2007.
01:28Ele foi aprovado no ano de 2014.
01:31E a peculiaridade dessa lei é que ela foi feita através de um debate público,
01:35de um processo de consulta pública, que foi, inclusive, muito interessante,
01:40porque a sociedade brasileira toda foi convidada a participar.
01:43Você tinha a possibilidade de participar online pela internet,
01:47você tinha fóruns locais ao longo de todo o Brasil para se discutir isso,
01:53você teve até pedidos para as embaixadas brasileiras no mundo todo,
01:57para que mandassem informações sobre qual era a melhor forma que outros países estavam regulando a internet.
02:04E o Brasil conseguiu construir um modelo original, um modelo próprio, um modelo brasileiro,
02:10que depois foi saudado no mundo todo como uma vitória.
02:15O fundador da web, o WWW, o Sir Tim Berners-Lee,
02:21ele escreveu um artigo saudando o marco civil,
02:23dizendo que o Brasil tinha criado uma lei que tinha a capacidade de virar
02:28uma inspiração para o mundo todo em regulação da internet.
02:33Então, em 2014, claro, o mundo era diferente do que a gente vive hoje,
02:37aquele balanço, ele foi construído, tá?
02:41Agora, o que o Supremo está debatendo hoje é a constitucionalidade desse artigo.
02:46O que é surpreendente, porque já se passaram mais de 10 anos da aprovação,
02:51o Marco Civil se mostrou uma lei muito eficaz,
02:55ela permitiu o desenvolvimento da internet brasileira,
02:59a gente no Brasil hoje tem unicórnios,
03:01empresas que surgiram no Brasil justamente pela segurança jurídica
03:05que o Marco Civil trouxe.
03:07Então, ele estabilizou a forma como você toma decisões
03:11de uma forma muito equilibrada, né?
03:13Não é que as plataformas não têm responsabilidade,
03:16elas têm um gatilho pelo qual elas são responsabilizadas.
03:20Agora, se você acaba com esse modelo, né?
03:24Que levou tanto tempo para ser construído,
03:27a pergunta que se faz é, o que você vai colocar no lugar?
03:31Será que o Supremo tem nas mãos um modelo muito superior
03:35ao do Marco Civil, um modelo brilhante?
03:37O Supremo, quem teria de definir isso?
03:39Olha, esse é outro ponto, tá, Evandro?
03:43Porque o Marco Civil foi definido pelo Congresso Nacional.
03:47a partir dessa consulta pública, né?
03:51Que veio da sociedade,
03:53lembrando que a origem do Marco Civil
03:56foi uma demanda da sociedade,
03:58não veio de cima para baixo,
04:00veio de baixo para cima.
04:02O Congresso, obviamente,
04:04analisou o Marco Civil por mais de dois anos.
04:07A tramitação dele não foi uma tramitação
04:09que levou alguns meses, levou anos.
04:13E lá ele foi intensamente debatido.
04:15E as modificações que foram feitas pelo Congresso
04:19não foram grandes.
04:20Por quê?
04:20Porque ele chegou lá debatido, consensuado, pactuado.
04:24Então, foi uma lei, assim, muito madura
04:26no momento em que ela ingressa no Congresso.
04:30Agora, o que é difícil é,
04:33se a gente olha para outros países do mundo,
04:36a regulação da internet,
04:38ela vem dos parlamentos, né?
04:40A lei alemã, por exemplo,
04:42que é muito citada,
04:42até vários ministros do Supremo
04:44tem citado a lei alemã
04:46como referência para o Brasil.
04:48A lei que se chama NETS-DG,
04:50que foi aprovada há alguns anos na Alemanha
04:52e que regula as plataformas.
04:54Essa lei foi criada pelo parlamento da Alemanha.
04:58Ela não foi uma criação judicial.
05:01Então, o que me preocupa é,
05:04o Supremo, ele pode atuar com relação ao Marco Civil?
05:06Sim.
05:07Mas eu acho que ele não pode e não deveria
05:10trazer para si a regulação
05:15da responsabilidade das plataformas,
05:19tirando um regime que tem problemas.
05:21Hoje, como a gente falou,
05:22o mundo mudou,
05:23ele pode ser pontualmente aperfeiçoado.
05:26Eu acho que até o Supremo pode ter um papel nisso,
05:29um papel limitado.
05:30mas substituir esse regime
05:33por um regime incerto.
05:36Inclusive, que não tem consenso no próprio Supremo.
05:38Se a gente olha os votos
05:39que foram proferidos até agora,
05:42o voto do ministro Barroso,
05:44o voto do ministro Fuchs,
05:46o voto do ministro Toffoli,
05:48o voto do ministro André Mendonça,
05:50cada um vai para um lugar.
05:52Não tem consenso.
05:53Então, a minha preocupação é
05:56você vai remover
05:57uma norma do ordenamento jurídico brasileiro
06:01muito importante,
06:02que dá segurança jurídica
06:04para inúmeras indústrias,
06:06dá segurança jurídica
06:08para cada cidadão e cidadã
06:10com relação ao que pode ou o que não pode
06:12e como é que se procede
06:14a responsabilização de plataforma no Brasil
06:17e vai colocar um regime
06:19que até agora não está no horizonte.
06:22A gente não sabe nem qual é
06:23o resultado da decisão
06:26que viria do Supremo Tribunal Federal.
06:28Então, eu sou de Minas,
06:30lá a gente tem aquela frase que é
06:32cautela e canja de galinha
06:34não faz mal a ninguém.
06:36Eu acho que a gente pode seguir
06:37um pouquinho com isso aí
06:38para ter a função do juiz
06:41é a função da prudência.
06:43Eu fui aluno do professor Celso Laffer.
06:46Celso Laffer sempre falava
06:47que a palavra jurisprudência
06:50ela embarca nela própria
06:52a palavra prudência.
06:55O judiciário não pode ser
06:57o arauto de mudanças radicais.
06:59Ele pode ser o arauto
07:00de mudanças pontuais.
07:02Agora, ele pegar o regime
07:04completo de responsabilização
07:06que foi definido no marco civil
07:08jogar no lixo e substituir
07:10por outro que a gente nem sabe
07:12o que é, ninguém sabe,
07:14vai ter que ser pactuado
07:15entre os próprios ministros.
07:18Eu acho isso que foge da regra
07:20da canja de galinha.

Recomendado