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No Papo Antagonista desta quinta-feira, 9, Samuel Feldberg, cientista político e diretor acadêmico da StandWithUs, apontou irregularidades no caso da investigação sobre o soldado israelense Yuval Vagdani.

O militar deixou o Brasil recentemente, após a Justiça ordenar que a PF abrisse uma apuração a respeito de alegados crimes de guerra atribuídos ao soldado.

Feldberg também classificou o episódio como “mais uma vergonha do governo”.

Assista à íntegra da entrevista:

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Transcrição
00:00Agora, ainda em assuntos internacionais, nós vamos ter uma conversa muito importante e esclarecedora
00:05com o Samuel Feldberg, cientista político e diretor acadêmico da Stand With Us,
00:11sobre o Oriente Médio. Já dou boa noite a ele e agradeço muito por nos atender nessa noite
00:17no Papo Antagonista. E eu já passo também a palavra para o Duda Teixeira fazer a primeira pergunta.
00:23Boa noite.
00:25Samuel, boa noite. Obrigado por nos atender. Samuel, a gente publicou aqui uma nota outro dia
00:30falando que o Donald Trump já é presidente dos Estados Unidos, porque mesmo antes de voltar à Casa Branca
00:36já tem muita coisa mudando no mundo inteiro. Como é que você acha que essa volta do Trump à Casa Branca
00:44pode mexer ali no Oriente Médio?
00:46Boa noite. Um prazer estar aqui de novo com vocês. Obviamente, o presidente Biden é o que os americanos
00:58costumam chamar de um pato humano. Ele já não vem atuando de forma efetiva, a não ser com posicionamentos
01:08bastante polêmicos, como um perdão que foi dado a algumas dezenas de criminosos e outros aspectos de política,
01:20principalmente de política interna. No caso da política externa para o Oriente Médio,
01:26o que nós estamos vendo é um aumento significativo nas expectativas, o que leva a posicionamentos
01:35de vários dos atores na região. E eu dou alguns exemplos bastante claros. O Irã, por exemplo,
01:42está bastante contido ao longo das últimas semanas, desde a eleição americana, porque sabe que vai haver
01:53um preço a pagar quando Donald Trump efetivamente se tornar o presidente em 20 de janeiro.
02:00houve uma surpresa enorme na Síria com a eliminação do governo de Bashar Assad, mas, por enquanto,
02:11não há nada claro em relação a como a Síria vai ser governada. Os turcos estão muito preocupados
02:20com a presença de tropas americanas na região e uma possível movimentação em relação aos curdos.
02:29e no conflito entre Israel, o Hezbollah no Líbano e o Hamas na faixa de Gaza, aí sim as expectativas são
02:39muito, muito intensas, porque já houve declarações explícitas por parte do presidente Trump de que,
02:49se, por exemplo, não houver uma solução para a questão dos reféns israelenses na faixa de Gaza,
02:56o termo que o Trump usou foi de que vai haver um inferno na região. E, depois de tudo que os palestinos
03:08passaram devido às ações dos líderes terroristas do Hamas, ter que prever um inferno, certamente é algo
03:20bastante complicado e que eles vão ter que avaliar com muito cuidado. Há negociações, mas, por enquanto,
03:30elas não deram nenhum resultado e, portanto, pode haver um aumento significativo da pressão sobre o Hamas na faixa de Gaza,
03:39a diminuição da transferência de ajuda humanitária que normalmente é apropriada pelo Hamas em lugar de chegar
03:51até a população necessitada. Uma carta branca para que os israelenses atuem com mais violência contra os elementos do Hamas
04:01que ainda atuam na região. E nós estamos nos aproximando também de um momento decisivo no Líbano.
04:10Foi nomeado um novo presidente, ele foi um ex-comandante do Exército, portanto isso apresenta a possibilidade de uma maior
04:22ênfase na atuação das forças armadas libanesas contra o Hezbollah ao sul do Rio Litane, mas no dia 26 os israelenses e o Hezbollah
04:34vão ter que decidir se estendem a trégua ou se a trégua será rompida, principalmente em razão de violações da trégua por parte do Hezbollah.
04:46Como você colocou muito bem, não são somente três atores.
05:00O que muda com esses dois novos atores nesses três pontos que eu abordei?
05:08Como você colocou muito bem, não são somente três atores. Nós temos todo um universo de atores importantes no Oriente Médio
05:17e, principalmente no caso da Síria, há uma enorme expectativa para o que vai acontecer no futuro imediato,
05:26porque o que acontece na Síria influencia o que acontece na Turquia, influencia o que acontece em Israel,
05:33influencia o que acontece no Líbano e certamente também na Jordânia.
05:40Então, vamos por partes. Primeiro, houve uma reviravolta na Síria que tirou do poder uma família que lá estava há mais de 50 anos.
05:52A Síria é um país composto de muitos grupos étnicos e religiosos e a família de Bachar Assad,
06:00representava uma minoria religiosa alauíta, que é uma vertente dos chiítas, portanto alinhada com o Irã.
06:10E quem tomou o poder agora são os remanescentes da Al-Qaeda, transformadas de alguma forma em uma vertente do Estado Islâmico,
06:22que tinha estado adormecida numa região da Síria apoiada pela Turquia.
06:29Então, nós temos agora uma reviravolta, porque um aliado da Rússia e do Irã foi retirado do poder
06:38e quem tomou o poder na Síria agora é um aliado da Turquia, mas que também representa um grupo fundamentalista islâmico
06:48que foi combatido pelos Estados Unidos e os seus aliados durante muito tempo naquela região.
06:57O que vai acontecer a partir de agora depende muito das ações desse grupo fundamentalista islâmico sunita,
07:06porque as declarações são muito simpáticas. O líder do grupo, Julani, já declarou que não está buscando outros conflitos externos,
07:17que quer apaziguar a Síria, que quer de alguma forma fazer com que a Síria retome a sua capacidade de protagonismo na região de forma pacífica.
07:30Mas o fundamentalismo islâmico sempre tem uma tendência a expandir os seus tentáculos pela região.
07:40Quem combateu esse grupo de forma muito profunda durante a expansão do Estado Islâmico na região foram os kurdos,
07:51um grupo étnico importante na Síria, no Iraque, no Irã e na Turquia, e que é considerado um inimigo existencial da Turquia.
08:01Por isso é muito importante prestar atenção naquilo que a Turquia vai fazer, porque a Turquia não pode aceitar que esse grupo de combatentes kurdos
08:14que buscam uma atuação autônoma possa influenciar os kurdos na própria Turquia.
08:22Como a Turquia é um membro da OTAN, um aliado dos Estados Unidos, vai ser muito importante prestar atenção naquilo que o presidente Trump vai fazer em relação à Turquia nos próximos meses.
08:37Muito bem, obrigado professor.
08:40E temos uma pergunta de um telespectador que mandou aqui no nosso chat.
08:46A Daniela GM disse, o que o professor Feldberg pode nos dizer sobre esses pronunciamentos bombásticos do Trump sobre Groenlândia, Canal do Panamá e Canadá?
08:58Ele está mesmo numa fase expansionista ou ele está jogando lá em cima algo para conseguir negociar algo no meio termo?
09:05Sem dúvida nenhuma, os Estados Unidos não vão se posicionar de forma hostil contra o Panamá, nem contra o Canadá, seu principal vizinho, nem contra qualquer país europeu.
09:26Nós estamos acostumados a ouvir bravatas do presidente Trump, muitas vezes isso cria um ambiente de expectativa que quando acontece uma ação efetiva as expectativas já estavam tão ampliadas que qualquer ação parece relativamente amena.
09:50Eu não daria muita importância a essas declarações, o canal do Panamá vai continuar funcionando como ele vem funcionando e é muito mais uma questão comercial em relação à China do que uma tentativa de reversão da autonomia que o Panamá recebeu há muitas décadas.
10:13O mesmo em relação à Groenlândia, professor?
10:16Porque lá se tornou um ponto de comércio, né?
10:19Sem dúvida nenhuma.
10:21A Groenlândia com a diminuição da calota polar passa a se tornar uma área de transição importante do ponto de vista das rotas comerciais,
10:33mas eles são um país que sempre manteve relações extremamente cordiais com o bloco ocidental, podem ver a Rússia como um elemento hostil se houver uma tentativa de os russos dominarem alguns dos canais de navegação.
10:54Portanto, eu, se fosse um dos cidadãos do país, não estaria nada preocupado com as declarações do presidente Trump.
11:03Maravilha.
11:04Duda?
11:05Samuel, como é que você vê esse caso do soldado israelense que estava aqui no Brasil?
11:13Teve que sair fugido para a Argentina porque tinha ali um pedido de uma ONG palestina que foi acatado pelo Ministério Público, pedindo uma investigação em relação a ele.
11:25Esse é um caso isolado?
11:29Não é?
11:30Que significado que tem isso para os israelenses?
11:33Olha, eu estava preocupado de você me perguntar que significado isso tem e eu não tenho uma resposta.
11:42Se a pergunta em relação aos israelenses é realmente mais uma aberração desse governo que, da mesma forma como não condena as ações do presidente Maduro,
11:57também não condena as ações do ex-presidente Bashar Assad na Síria, que fugiu para a Rússia com uma carga de pelo menos meio milhão de sírios que foram mortos somente durante o período da Guerra Civil,
12:16e quando se trata de um soldado israelense, um reservista que estava cumprindo com seu dever, defendendo a pátria e que certamente não cometeu absolutamente nenhum dos crimes que são imputados a ele,
12:37porque o governo brasileiro, que é inclusive ilegal, não há nenhum embasamento legal para que o Ministério Público possa pedir a investigação contra esse ou qualquer outro soldado que eventualmente não tenha sido processado por alguma organização internacional legal.
13:01Essa ONG que apresentou as acusações contra o soldado é uma ONG que tanto que eu e você poderíamos ter criado no quintal da nossa casa ontem à noite para fazer exatamente o mesmo tipo de ação com o objetivo provavelmente de simplesmente divulgar fake news, mentiras,
13:25e tornar o Brasil, em lugar de ser um destino para o turismo do mundo inteiro, um lugar perigoso para qualquer turista que preze a sua segurança num sistema internacional legal.
13:41Imaginem, amanhã, uma ONG vietnamita pode eventualmente pedir a prisão de um soldado americano que atuou no Vietnã na guerra da década de 1970, baseado exatamente nos mesmos critérios.
14:02Samuel, agora qual você acha que seria o objetivo dessa ONG que você falou que poderia ter sido criada ali no fundo de quintal?
14:10É transformar o mundo inteiro num lugar inóspito para os israelenses?
14:17Você vê algum tipo de antissemitismo nessa campanha dessa ONG?
14:24Sem dúvida nenhuma.
14:26Onde estão as ações contra soldados russos que eventualmente cometeram crimes de guerra na Ucrânia?
14:34Onde estão as ações contra soldados do Congo que cometem crimes de guerra contra suas próprias populações?
14:43Onde estão as ações contra o governo da Venezuela, que vem prendendo seus cidadãos sem absolutamente nenhuma base legal?
14:51O objetivo dessa ONG é promover o sentimento de antisionismo, de antissemitismo, baseado em notícias falsas, baseado na falta total de qualquer evidência em relação a qualquer crime que eventualmente tenha sido cometido.
15:13Pois é. Professor, além dessa ONG, existem outros movimentos parecidos com outras organizações?
15:25Essa é usada aqui no Brasil, existem outras organizações em outros países agindo de forma semelhante?
15:31É um movimento orquestrado?
15:33Há uma infinidade de organizações tentando causar esse tipo de problemas, mas elas só podem ser efetivas se houver a conivência e a participação do judiciário de países onde esses cidadãos israelenses estão viajando.
15:58Se o judiciário brasileiro tivesse um mínimo de critério, ou se essa juíza brasileira tivesse um mínimo de critério, ela certamente não teria acatado o pedido de uma organização que não tenha absolutamente nenhuma legitimidade.
16:16Então, é importante que aqueles que estão nos assistindo entendam que isso só pode funcionar como uma ação hostil quando há um juiz que não tem os critérios apropriados para acatar o pedido que não deveria ter sido reconhecido em nenhuma circunstância pela justiça brasileira.
16:41Pois é, e o governo argentino o acolheu, ele voltou, o soldado voltou para Israel e disse, já manifestou que nunca mais pretende voltar ao Brasil.
16:53Essa é a consequência e que certamente vai ser seguido por outros colegas que poderiam vir aqui ao Brasil, não é, Duda?
17:00É isso aí. E Samuel, eu queria voltar ao Oriente Médio. Fala-se muito na probabilidade de um ataque israelense com apoio dos Estados Unidos às instalações nucleares do Irã, agora com a volta do Trump e a Casa Branca.
17:17Eu te pergunto o seguinte, há um bom motivo para que Israel e Estados Unidos não bombardeiem essas instalações nucleares?
17:27Porque me parece que é uma coisa que já está dada como certa, né?
17:33No Oriente Médio nada é certo. Nós temos sempre que ter muita cautela com as previsões.
17:41Eu costumo dizer que, inclusive, o passado é difícil de prever.
17:44Então, é verdade que o presidente Trump tem uma postura muito mais assertiva no que se refere às relações com o Irã, mas, por outro lado, o presidente Trump também não tem interesse em ampliar o envolvimento dos Estados Unidos na região, especialmente com um envolvimento militar ativo.
18:09O outro elemento dessa fórmula é o fato de que os Estados Unidos seriam obrigados a participar da ação se os israelenses se engajassem na destruição das instalações nucleares no Irã.
18:25Existe pelo menos um local onde é necessário que aviões americanos com bombas americanas realizem o ataque para que ele realmente seja efetivo.
18:38E fazer um ataque cosmético que, eventualmente, diminua a capacidade imediata do Irã, mas que não elimine o seu programa nuclear, seria absolutamente irrelevante.
18:51No último ataque israelense contra o Irã, na retaliação que foi feita contra o lançamento de mísseis, Israel destruiu a maior parte das baterias de mísseis antiaéreos iranianos, portanto, o espaço aéreo iraniano está extremamente vulnerável.
19:09Então, voltando ao raciocínio em relação à possibilidade de um ataque às instalações nucleares do Irã,
19:16O posicionamento do presidente Trump sempre tão enfático em relação ao programa nuclear do Irã, talvez leve os líderes iranianos a diminuírem o ritmo da produção de elementos que podem produzir uma bomba nuclear no Irã, por parte do Irã.
19:43Então, eu não acredito que deva haver um ataque contra as instalações nucleares do Irã no curto prazo.
19:53Os iranianos estão vulneráveis, a sociedade iraniana está vulnerável, sofre uma crise econômica muito forte.
20:02O seu principal aliado no Líbano, o Hezbollah, foi praticamente destruído pelos israelenses, portanto, os líderes iranianos devem estar bastante preocupados com o que está acontecendo no seu entorno e podem, eventualmente, acelerar o seu programa nuclear,
20:21mas sabem que, se isso for feito, eventualmente isso pode efetivamente gerar um ataque combinado dos Estados Unidos e de Israel.
20:33Mas, de novo, é muito difícil prever.
20:36O que nós podemos somente é definir os possíveis cenários.
20:40Ok. Professor Samuel Feldberg, muito obrigado pela sua participação no Papo Antagonista.
20:47Espero contar com você em outras ocasiões, tanto aqui no Papo Antagonista, como também, quem sabe, no Meio Dia em Brasília,
20:54outro jornal que apresentamos aqui na TV BMC e no nosso YouTube, todos os dias, ao meio-dia.
21:01Boa noite, professor.
21:01Vai ser um prazer voltar a participar e, como você mencionou, o Momento Merchant, eu vou aproveitar para mencionar para aqueles que nos assistem que, como o Oriente Médio é tão complicado,
21:15eu tomei a liberdade de gravar um curso Decifrando o Oriente Médio.
21:22que está divulgado na minha página do Facebook, no meu Instagram, Samuel Feldberg.
21:29Procurem lá o link para inscrição e eu tenho certeza que todos aqueles que se interessaram pelo nosso papo aqui vão poder aproveitar bastante o conhecimento que está sendo disseminado naquele curso.
21:41Obrigado a todos.
21:42Muito obrigado.

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