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No Papo Antagonista desta quinta-feira, 30, Felipe Moura Brasil entrevistou Rafael Zimerman, sobrevivente brasileiro do terror de 7 de outubro de 2023 e educador da StandWithUs Brasil.
Rafael detalhou o dia do ataque em Israel e disse que não sabe como sobreviveu ao massacre cometido pelo Hamas.
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NotíciasTranscrição
00:00Muito bem, agora eu tenho a honra, o privilégio de receber aqui no estúdio de O Antagonista em São Paulo
00:04e conversar com Rafael Zimmermann, sobrevivente brasileiro do terror de 7 de outubro de 2023
00:10em território israelense e atual educador da Stand With Us Brasil.
00:14Rafael, boa noite, seja muito bem-vindo.
00:16Boa noite, Felipe. Boa noite a todo mundo que está assistindo a gente em casa.
00:20Obrigado pelo convite, é um prazer estar aqui e quem sabe eu consiga esclarecer
00:24e contar um pouquinho da minha história para vocês. Vai ser um prazer.
00:26Super maravilha, o prazer vai ser nosso e a gente evidentemente tem um gancho para essa conversa
00:32e a gente vai começar pelo que aconteceu hoje, até para o Rafael comentar também.
00:36O Hamas libertou nessa quinta-feira dois reféns israelenses, dois reféns israelenses,
00:42o Arbel Yehut, não sei se fala assim, depois o Rafael me corrige, e Gadi Moses,
00:47A gente tenta portuguesar e mesmo assim é difícil de pronunciar esses nomes com os quais a gente não está acostumado.
01:04A libertação ocorreu como parte de um acordo de cessar fogo entre Israel e Hamas.
01:08Os reféns foram entregues pela jihad islâmica Palestina, grupo aliado ao Hamas,
01:13a Cruz Vermelha, em meio a uma multidão exaltada em Khan Yuni.
01:17Vamos exibir o vídeo da libertação da refém Arbel Yehut, civil israelense de 29 anos.
01:22Ela ficou 482 dias em Gaza, após o sequestro no kibbutz Nihos, em 7 de outubro de 2023,
01:30quando seu irmão, Dolev Yehut, de 35 anos, foi assassinado.
01:34E o namorado dela, Ariel Cunio, e o cunhado Davi seguem reféns,
01:39até pelo menos onde a gente tem informação.
01:41Pode soltar o vídeo, produção.
02:11E aí, e aí, e aí, e aí.
02:13Studies T Martins, Ol路i, oficial da Rez 믿ou-se.
02:16A mim nhấte Salmo Amos, olha lá.
02:18Tanto Essa em cada um coração.
02:23Está em cada um coração.
02:30ztão Tarenha.
02:30Está aí o misto de medo e esperança nos olhos dela.
02:46E o refém Gadi Moses, também libertado, completou 80 anos no cativeiro na faixa de Gaza.
02:51Sua companheira Efraim Katz, de 69, foi morta em 7 de outubro de 23, no fogo cruzado,
02:57após o sequestro no mesmo kibbutz da Arbel.
03:00Avô judeu de 12 netos, Gadi nasceu no mesmo ano da libertação do campo de concentração de Auschwitz,
03:06que a gente comentou aqui no outro dia.
03:08Vamos assistir ao vídeo que mostra esse avô judeu sendo libertado.
03:11Achei!
03:13Achei!
03:15Achei!
03:17Amém.
03:47Amém.
04:17Amém.
04:48A gente tem algumas fotos também da Arbel voltando para a sua família.
04:52Pode ir colocando na tela que eu vou falando por cima, produção.
04:55Está aí.
04:56Vocês vejam aí o rosto dela no ombro ali da pessoa de boné.
05:01Você tem a cunhada dela de costas e o restante da família, ela abraçada ali, absolutamente emocionada.
05:08Pode passar essa foto.
05:10Ela está ali com uma roupa mais quadriculada, com esse tipo headphone no ouvido,
05:16do lado da cunhada e depois tem uma foto de close dela com a cunhada,
05:20que é uma pessoa relevante para se contar essa história,
05:25porque o irmão da Arbel e, portanto, marido da cunhada dela foi assassinado no 7 de outubro de 2023.
05:34Então, aí elas unidas novamente depois de uma perda conjunta.
05:41Muito bem.
05:42E vamos exibir agora um vídeo que flagra...
05:44Não, na verdade, esse vídeo, a gente está com questão de direito autoral, mas eu queria registrar aqui.
05:50A gente pode soltar?
05:51Bom, a gente fez o teste, então eu acho que não vai ter problema.
05:54São imagens internacionais históricas muito importantes.
05:57E a gente quer mostrar aqui o momento em que outra refém que acabou sendo libertada,
06:03mas antes da libertação, a Agan Berger, soldado israelense de 20 anos,
06:07sequestrada da base militar de Nahawoz, que eu visitei, inclusive, lá em Israel,
06:11ela é instruída por um terrorista do Hamas, que está filmando, ele está atrás da câmera,
06:17a imitar o seu gesto de aceno, para que tudo saia bonitinho na propaganda do Hamas.
06:23Mas um vídeo feito por trás ali acabou flagrando esse momento,
06:27que foi devidamente apontado na rede social pela Ones Reporting,
06:30que está fazendo aí um trabalho de desmascaramento de determinadas narrativas
06:35que estão sendo ventiladas contra Israel.
06:38Pode soltar.
06:38Está aí a postagem da Ones Reporting, dizendo da propaganda direta do Hamas em tempo real.
06:48Vocês vejam ali que o agente do Hamas, um terrorista do grupo,
06:52ele faz o aceno para ela imitar e ela é impelida, obviamente, obrigada a fazer esse aceno também,
06:59como se fosse um gesto espontâneo dela, como se ela estivesse sendo super bem tratada há quase 500 dias.
07:07Vamos exibir agora o cartaz dela, Agan Berger, após esses 482 dias de cativeiro na faixa de Gaza.
07:14Pode colocar na tela a produção.
07:16Ela escreveu o seguinte, abre o aspas,
07:17Eu escolhi o caminho da fé e através da fé cheguei em casa.
07:21Obrigado à nação de Israel e aos heróicos soldados das FDI, as Forças de Defesa de Israel.
07:26Não há ninguém no mundo como vocês.
07:28Feche o aspas.
07:29E pode colocar também a imagem de Agan Berger voltando aos braços da família,
07:34sempre a imagem mais emocionante.
07:36Está aí ela aos prantos, emocionada, nos braços dos seus familiares.
07:41E ainda tem um vídeo curtinho, que é muito bonito também, não tem como,
07:46acho principalmente para as mulheres, porque são cinco mulheres nesse vídeo,
07:49não tem como não imaginar como seria se fôssemos cada um de nós lá,
07:54reencontrando os seus amigos.
07:56E nesse caso, é a Agan se reencontrando com as quatro mulheres soldados
08:01que foram libertadas uma semana antes dela.
08:04A Liri, a Karina, a Daniela e a Naama.
08:06Lembrando que a Naama Levi é aquela que o militante do PCdoB aqui do Brasil,
08:12aliado do governo Lula, zombou em rede social quando ela estava sendo sequestrada pelos terroristas
08:17e havia mancha na calça dela.
08:20Vamos colocar essa imagem muito bonita do reencontro da Agan com as quatro amigas.
08:25Agan se reencontro da Agan com as quatro amigas.
08:55Muito bem, só para finalizar essa rodada de informações, antes de falar com o Rafael Zimmerman,
09:02a gente separou uma publicação do Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel,
09:06sobre a libertação de reféns.
09:07Abro aspas para ele.
09:09Vejo com grande severidade as cenas chocantes durante a libertação dos nossos reféns.
09:13Essa é mais uma prova da crueldade inimaginável da organização terrorista Hamas.
09:18Exijo que os mediadores garantam que cenas tão ameaçadoras não ocorram novamente
09:22e que garantam a segurança dos nossos reféns.
09:25Quem ousar fazer mal aos nossos cativos, seu sangue estará, cairá sobre a sua cabeça.
09:32Fecho aspas.
09:33Rafael, muito bem.
09:35Em primeiro lugar, eu queria informar ao nosso público que você estava no Festival de Música Eletrônica,
09:40naquele 7 de outubro, em que o Hamas atacou israelense e outras pessoas, inclusive, que estavam ali em Israel.
09:46E você não acabou sequestrado.
09:48No entanto, você passou horas por lá.
09:50Em primeiro lugar, antes de entrar nos detalhes do seu relato,
09:53o que você sente vendo essas imagens das pessoas que foram sequestradas, que ficaram tanto tempo?
09:59Ó, Felipe, eu admito que eu estou arrepiado.
10:01Eu estou arrepiado.
10:03Por alguns motivos.
10:05Primeiro, felicidade.
10:06É muito bom você ver esse reencontro entre a família e os sequestrados.
10:11Acho que é um alívio muito grande para a família.
10:14Mas me choca muito quando você vê mulheres e um idoso sendo cercados por homens, só homens, né?
10:25E terroristas armados até o dente.
10:28Então, eu voltei à cena do 7 de outubro, na minha cabeça.
10:32Um pouco da cena dos terroristas sequestrando essas meninas.
10:35Um detalhe importante que eu acho relevante é que, assim,
10:41durante a guerra, esses terroristas, eles não colocam a roupa militar.
10:46Eles ficam com a roupa de civil para serem contados como civis,
10:50se forem contrados mortos.
10:52E também para confundir o exército israelense.
10:56Mas na hora de fazer essa propaganda, eles colocam a roupa de exército, né?
11:01Como se fosse um exército, mas são terroristas.
11:04Então, tem esse sentimento na minha cabeça de voltar para o 7 de outubro.
11:09Um sentimento de...
11:11Assim, que nem você falou, eu passei quase cinco horas pelo terrorismo, pelo inferno.
11:16E eu não imagino que é passar um ano e três meses.
11:20O terrorismo psicológico, físico, o abuso que elas sofreram.
11:24Todos eles sofreram.
11:25Então, assim, vai ser...
11:27Eles estão voltando para Israel, mas eu não estou dizendo que eles estão voltando para a vida.
11:31Porque eu sei que o tratamento, ele é diário.
11:35Então, e eu sei disso.
11:37Imagina ficar um ano e três meses.
11:38Não tenho ideia do que passa na cabeça deles.
11:41Deve ser bem difícil.
11:42Certo, Rafael.
11:43E o que você pode contar para a gente de detalhes que você se lembra e que depois, inclusive,
11:48você apurou que aconteceu no seu entorno, naquele festival de música eletrônica?
11:53Você estava lá, era um pequeno grupo de amigos, que tinha a Rafaela Treisman,
11:57que tinha o namorado dela que acabou assassinado.
12:01Qual foi a sua circunstância naquele momento?
12:05Só um ponto para finalizar.
12:07Antes, falar um pouco de pós-trauma, que eu toquei um pouco.
12:11Só para você ter ideia, Felipe, quase 100 jovens que sobreviveram ao festival se mataram.
12:16É um número muito elevado.
12:18E não é falado sobre isso, até porque é uma questão muito delicada.
12:22Mas o que eu quero dizer é que o fato de você sobreviver não quer dizer que você está vivo.
12:29Então, é um tratamento realmente bem difícil.
12:32Voltando para a pergunta, o que aconteceu naquele fatídico dia que mudou minha vida?
12:37Eu, na realidade, me mudei para Israel por uma questão de segurança.
12:41Olha que curioso.
12:42Entre janeiro e maio de 2023, tentaram me assaltar duas vezes mão armada aqui em São Paulo.
12:48E aí eu mudo para Israel por uma questão de segurança.
12:51Porque eu já conhecia Israel, eu sabia da qualidade de vida, da questão de ser um país seguro.
12:56Só mulheres, só para vocês terem ideia, você pode pegar um ônibus de madrugada que você não tem medo de ser abusada.
13:03Então, é realmente um país muito seguro do que eu conhecia.
13:06É, o perigo é a ameaça externa e não a criminalidade interna.
13:10Exato. Israel, na verdade, é um país muito pequeno, o tamanho de Sergipe.
13:14Então, ele está rodeado por inimigos.
13:16Ele é o único país do Oriente Médio que é democrático.
13:19Então, só para você ter ideia, Felipe, em Tel Aviv você tem a única parada gay do Oriente Médio.
13:25E uma das maiores do mundo.
13:27Ou seja, se você vai para Tel Aviv, parece que você está no Rio de Janeiro.
13:30Com praia, bons restaurantes, muita gente jovem.
13:34É um lugar muito gostoso.
13:35Eu sei, eu estive lá e fiquei com exatamente essa sensação.
13:39Quando a gente passou ali, nas ocasiões em que a gente passou por Tel Aviv e pela praia,
13:44a gente tem a sensação de que está no Leblon.
13:46Inclusive com muitos brasileiros jogando futebol, fazendo altinha ali na praia.
13:51E aquilo no meio do Oriente Médio, com tantas ameaças externas e guerras em torno, é um contraste muito grande.
13:57Exato. Então, assim, isso sempre me trouxe muita segurança.
14:01Então, quando aconteceu isso aqui em São Paulo, dessa tentativa de assalto, né?
14:05Essas duas vezes que ocorreu, eu resolvi me mudar para Israel.
14:07Então, aqui eu trabalhava no mercado financeiro, estudei numa faculdade.
14:13E lá eu comecei minha vida como garçom, muito curioso, né?
14:16Como imigrante.
14:17Então, um brasileiro que foi tentar uma vida melhor no exterior.
14:19Israel, dessa oportunidade.
14:21Então, eu me mudo para lá.
14:23E aí eu conheço o Hanani Glaser, nesse tempo que eu tive lá.
14:28Então, é entre maio e outubro, né?
14:29São cinco meses.
14:31Então, para vocês terem ideia, eu só vivi cinco meses em Israel.
14:35E aí, em julho de 2023, eu conheço o Hanani.
14:38E ele me fala que vai ter uma festa brasileira em Israel.
14:41Não sei se as pessoas sabem, mas o festival que foi atacado era uma festa brasileira.
14:45Do pai do Alok, organizado por ele.
14:48Do DJ Alok.
14:49Do DJ Alok, exatamente.
14:51E aí, obviamente, eu como fã de música eletrônica, eu falei.
14:55É uma festa brasileira em Israel.
14:57Como não me sentir em casa, né?
14:58Então, eu falei.
14:59É claro que eu vou.
15:00Então, o motivo para eu ter ido para essa festa, exatamente, era por ser uma festa brasileira.
15:05E aí que vem todo aquele dia, né?
15:09Na verdade, tudo começa no dia 6 de outubro, um dia antes.
15:13Quando o Hanani me manda uma mensagem.
15:14Ele fala que comprou os ingressos dele e da Rafaela.
15:18E muita gente não sabe, né?
15:20E aí ele me falou nesse dia.
15:21Ele falou.
15:22Rafa, a gente tem um ponto muito importante.
15:23Dois pontos, na verdade.
15:25Primeiro, que a gente não sabe a localização exata da festa.
15:28Então, as pessoas, elas falam.
15:29Como que você chegou tão perto da faixa de Gaza, né?
15:32Tem esse questionamento.
15:34Primeiro, que assim, para mim, isso não pode nem ser um questionamento.
15:37Porque eu vivo no Brasil.
15:39Você falou no Leblon, né?
15:40Do Leblon para uma favela, você está a 10 minutos.
15:43Exato.
15:43Onde tem criminalidade, onde tem abusos, onde tem várias coisas que você julga perigoso.
15:49É, dentro e fora da favela, né?
15:51Exato.
15:51Porque em determinadas favelas, evidentemente, você tem um controle de tráfico de drogas, etc.
15:55Embora haja também toda uma população de bem.
15:58Mas é, a fronteira praticamente inexiste.
16:00O que eu quero dizer é que, assim, muita gente compara a faixa de Gaza com uma favela por ter uma facção, né?
16:06Por ser terroristas.
16:07Então, essa é a minha comparação.
16:08Até porque eu acredito que na faixa de Gaza também existem pessoas de bem.
16:12Claro.
16:12Então, a minha comparação é exatamente pela criminalidade em termos de ser terroristas e facções, né?
16:18Mas o que eu quero dizer é que o Brasil, se você pisa na rua, você já está correndo perigo.
16:22Sim.
16:23Então, para mim, essa pergunta não cabe.
16:25Como que eu cheguei tão perto da faixa de Gaza?
16:26Primeiro, essa pergunta não cabe.
16:28E aí, segundo, que eu só recebi a localização duas horas antes da festa.
16:32Eu nunca tinha chego tão perto da faixa de Gaza.
16:35E aí, eu perguntei para o Hanani.
16:36O Hanani morava lá há seis anos.
16:38Eu morava lá há cinco meses.
16:39E ele me tranquilizou.
16:41Ele falou, primeiro, que a gente está em Israel.
16:42Então, você não está lá na faixa de Gaza.
16:44Você está em Israel.
16:45Você está protegido.
16:46E, segundo, que eu já fui nesse lugar algumas vezes e é seguro.
16:50Já teve algumas festas lá.
16:52Então, as pessoas que me perguntam, aí está a resposta.
16:54Então, era comum ter festas lá.
16:56Não era algo novo.
16:58E aí, a gente foi informado duas horas antes.
17:01Eu costumo falar também que aquele dia foi perfeito.
17:05O dia antes da festa.
17:07Se eu soubesse o que ia acontecer depois, eu não diria que aquele dia foi tão perfeito.
17:11Porque a gente comeu a comida preferida do Hanani.
17:14A gente fez piquenique.
17:16O Hanani tocava violão.
17:18Ele tocou violão naquele dia.
17:19A gente cantou.
17:20Foi um dia maravilhoso.
17:21Até que tudo começou no dia 7.
17:24Eu estava aqui no intervalo falando do nosso jornalismo, que está aqui para mostrar o que é a realidade.
17:31Doa quem doer para refutar eventualmente falsas narrativas.
17:34E para trazer as pessoas que vivenciaram momentos que geraram muita comoção no debate público.
17:40E, claro, muita controvérsia também.
17:43E hoje estamos tendo esse privilégio de receber o Rafael Zimmermann, sobrevivente brasileiro do terror de 7 de outubro de 2023 em Israel.
17:51Rafael, você ia contando sobre o dia da festa de música eletrônica.
17:56O dia, portanto, do ataque.
17:57Você falou da véspera.
17:59Como é que começou, então, esse dia?
18:00Bom, a festa ia durar 16 horas.
18:04Então, ia ser da meia-noite de sexta até as quatro da tarde de sábado.
18:09Mas o ataque começou às seis e vinte e nove da manhã.
18:12Nesse horário, ninguém esquece.
18:14Eu estava sozinho na frente do palco.
18:16O Hanani e a Rafaela, a gente foi nós três.
18:19A Rafaela, namorada do Hanani.
18:21Eles estavam vendo alguns quadros que tinham lá no festival.
18:25Só para vocês entenderem, é um festival que fala muito sobre coexistência, sobre paz.
18:30Eram três mil pessoas do mundo inteiro.
18:32Gente de todas as religiões.
18:35E de toda...
18:36Realmente, você ouvia todas as línguas.
18:38Ou seja, era muito sobre coexistência.
18:40E aí, tinha essa parte de quadros.
18:42Os dois estavam olhando os quadros.
18:43E eu estava sozinho nessa hora.
18:45E aí, às seis e vinte e nove, eu começo a ouvir barulhos como se fosse fogo de artifício.
18:51Pá, pá, pá.
18:52Muito alto, muito alto.
18:54Eu olho para cima e eu vejo uma quantidade incrível de mísseis passando pela nossa cabeça.
18:59Por que que teve esse barulho, né?
19:01Porque Israel tem um antimíssel, o Iron Dom.
19:04E aí, ele explodia o míssel no ar.
19:08A gente estava a dez quilômetros de Gaza.
19:11A gente estava muito próximo.
19:12E o perigo era que caísse em cima da gente.
19:15Porque a gente estava em campo aberto.
19:16Nessa hora, a festa parou.
19:19Parou.
19:20O DJ, ele pegou o microfone e ele falou,
19:22Tsevadom, Tsevadom, que em hebraico significa código vermelho, código vermelho.
19:26Agora, Felipe, você é um brasileiro que se mudou há cinco meses para Israel e você ouve isso.
19:33O que você faz?
19:35Né?
19:35Qual que é a sua reação?
19:37Bom, eu me agachei.
19:39Eu me agachei e fiz posição de defesa.
19:42E eu fiquei um minuto agachado.
19:43Eu vi cada um reagindo de uma forma.
19:45Eu vi muita gente correndo, muita gente chorando.
19:48Eu vi gente gravando.
19:49Realmente, cada um com uma reação.
19:51Aliás, essa reação quase que intuitiva sua de abaixar, na verdade, a de deitar é a reação muitas vezes recomendada lá em Israel.
20:02Porque eles dizem que quando um míssil explode no chão, os estilhaços vão para cima.
20:06E se você está deitado, você tem menos risco de ser atingido pelos estilhaços.
20:11Então, de certa forma, você poderia, se fosse apenas um ataque aéreo, até sair bem nessa posição.
20:16É, inclusive, é algo que eu lembrei de ter aprendido muitos anos atrás, aqui no Brasil, alguma aula que eu tive relacionada e por isso que eu me agachei.
20:26E aí eu fico um minuto agachado e eu saio correndo em direção à barraca.
20:29A gente tinha uma barraca de encontro, eu, o Hanani e a Rafaela, que a gente tinha uns amigos que a gente conheceu lá, brasileiros.
20:36E aí era o nosso ponto de encontro.
20:38E aí eu encontro o Hanani e a Rafaela.
20:39O Hanani, ele tinha feito exército, né?
20:42Ele morava lá há seis anos.
20:42Na época ele tinha 22 anos, ele sabia seis línguas, o Hanani era uma pessoa absurdamente especial, feliz para cima e a inteligência, assim, fora do normal.
20:55E ele falou, Rafa, a gente precisa encontrar um bunker, a gente precisa encontrar um bunker.
20:59A gente sai correndo, sem direção.
21:01A gente não foi de carro, né?
21:03Então a gente pegou uma carona para ir para a festa.
21:05Então a gente não tinha carro.
21:06A gente sai correndo e aí eu até paro os dois, eu falo, vamos olhar no Maps, no Google Maps, onde é que a gente está indo?
21:12E aí eles falam, eu olho e a gente estava indo em direção à faixa de Gaza.
21:16Ou seja, a gente estava indo em direção aos terroristas.
21:20E aí eu falo, vamos para o lado ao contrário.
21:21A gente para numa estrada e aí a gente pede carona.
21:25Um carro, deu para ver pelas roupas que era um casal que estava na festa, né?
21:28Eles pararam o carro, cena de filme, assim, a gente pula dentro do carro, a porta aberta, eles começam a correr.
21:34E por acaso, por ser muito próximo da faixa de Gaza, e é comum que tenham mísseis, infelizmente, é normal que tenham bunkers ao longo da estrada.
21:46Você deve ter visto, né?
21:46Eu vi, eu passei por lá.
21:48São os abrigos anti-aéreos, como a gente diz, anti-mísseis.
21:51No entanto, eles têm um vão, né?
21:55Não tem nem uma porta.
21:56Eu acho que eu trouxe uma imagem...
21:58É, se puder colocar aí, produção, porque o Rafael trouxe a imagem do próprio abrigo no qual vocês se refugiaram.
22:04Você estava sozinho ou o Hanani e a Rafaela estavam juntos, só para deixar claro?
22:09Na verdade, nós três juntos, a gente entrou no bunker juntos.
22:15A gente foi um dos primeiros a entrar, inclusive.
22:17O casal deixou a gente nesse bunker e eles seguiram viagem.
22:21Muita gente também me pergunta, por que vocês não continuaram com eles?
22:26Porque eles estavam indo em direção oposta aonde a gente morava.
22:29Então não fazia sentido ir para mais longe.
22:31Até porque, então, era só mísseis.
22:34Então, como vocês podem ver no bunker, é igual você falou, é só um vão, não tem porta, né?
22:38Não tem uma porta que te protege.
22:41É só esse vão e é num ponto de ônibus.
22:43Isso aí é uma parede, tá, pessoal?
22:44É que está pintada ali, ela tem uma pintura, mas é uma parede grossa ali de cimento.
22:49Pois é, que protege contra estilhaços.
22:51Não é nem subterrâneo, né?
22:52Você entra ali para ficar protegido contra os mísseis que caem em torno, etc.
22:56Exato, eu nunca tinha entrado num bunker desse, eu nem sabia como era.
23:00O que me chocou muito quando eu entrei é que tinha uma carcaça de um pássaro.
23:05E isso já me deixou um sinal de que a coisa não estava boa, sabe?
23:10Fora os mísseis, é claro.
23:12Bom, o lugar que você entrou lá dentro, você deve saber que cabem poucas pessoas.
23:16Sim.
23:17Deve caber umas 15, né?
23:18Bem apertado.
23:19Bem apertado, umas 15.
23:21No final tinham 40.
23:23Nossa.
23:2340 pessoas.
23:25Já não dava para respirar.
23:27Era muito difícil.
23:28Como eu falei, a gente foi um dos primeiros a entrar, então a gente ficou lá no fundo.
23:31E os israelenses, imagina, com uma expertise enorme, 20, 21, 22 anos, eles falaram, vamos
23:37dividir o ar.
23:39Metade fica em pé e metade fica sentada.
23:42Olha.
23:43É uma coisa que o brasileiro acho que nunca vai ouvir.
23:45Pois é.
23:46É uma coisa que eu lembro que na hora eu falei, uau.
23:49Tipo, uau, que inteligência, né?
23:51É inteligência, estão preparados para o pior.
23:53Então vamos dividir o ar.
23:55Então realmente isso aconteceu.
23:56Depois de um tempo, eu estava bem encostado na parede, no fundo do bunker, eu sinto o primeiro
24:04tiro, pá, o segundo, pá, nas minhas costas.
24:08Só que ele não atravessa a parede do bunker.
24:11Eu sinto o impacto.
24:12Até então, eu não sabia que tinham terroristas em volta.
24:16Para mim era só mísseis.
24:18Nesse momento, quando eu sinto o primeiro tiro, o segundo tiro, depois vem o barulho de
24:23filme.
24:24Piii, granada.
24:25Eu entendo que os terroristas começaram a atacar do lado de fora.
24:31E aí eu começo a ouvir uma troca de tiros.
24:33Então, depois eu fui descobrir, tinha uma policial do lado de fora do bunker, protegendo
24:37a gente.
24:38Eu não sabia.
24:38Era tanta gente dentro que eu não conseguia ver a luz do lado de fora.
24:42E aí eu começo a ouvir ela.
24:45Imagina, eu estava aqui na parede e aí eu começo a ouvir ela aqui do meu lado.
24:49Só que do lado de fora, eu não conseguia ver ela.
24:51Eu só ouvia.
24:52E ela fala de novo no rádio do Cevador, código vermelho.
24:56Eu não sabia o que significava isso.
24:58Eu fui descobrir depois.
24:59E ela fala que não vai aguentar, que eles são muitos.
25:04Do nada, muito tiro.
25:05Como se fosse do meu lado.
25:07Então, era eles matando ela.
25:09E eles gritavam um grito que...
25:13Uau.
25:15Até então eu rezava.
25:16Só pra você ter ideia, Felipe.
25:18Eu coloquei a mão sobre o Hanani e a Rafa e eu comecei a rezar.
25:20Por favor, Deus, por favor, Deus, por favor...
25:22Sem parar, sem parar.
25:24Quando eu ouvi o grito deles, eu entendi que já era.
25:28Alawakba, alawakba, alawakba, sem parar.
25:31O que significa alawakba?
25:32Pra quem não sabe, é Deus é grande em árabe.
25:35E eu já tinha estudado na escola que quando terroristas fazem atentados, eles gritam isso.
25:40Então, eu sabia que eu ia morrer.
25:43Eu tinha certeza.
25:43De novo, um bunker lotado, 40 pessoas.
25:48A sua proteção, que era policial, morreu.
25:51E sem porta.
25:53Exatamente.
25:53Não tem saída.
25:55Bastava que eles entrassem e metralhassem as pessoas.
25:57E foi o que eles fizeram.
25:59A primeira coisa que eles fizeram, na verdade, foi jogar um gás.
26:02Um gás que em 30 segundos eu colocava a mão na garganta, eu tentava puxar o ar e eu não conseguia.
26:10Eu não conseguia puxar o ar.
26:11E aí, nesse mesmo momento, uma menina, ela entrou em colapso.
26:18E ela me mordeu aqui na costela, com tanta força, que ela arrancou toda a minha carne.
26:23Eu tenho a marca da mordida até hoje.
26:25Tem uma foto dessa marca?
26:27Eu acho que sim.
26:29Acho que é mais uma pro lado, não sei se tem.
26:31A outra foto?
26:32Essa.
26:34Essa.
26:34Essa mordida.
26:35Vocês podem ver a boca inteira dela.
26:37Inteira.
26:38Ela fincou os dentes na minha costela.
26:40E aí, nesse gás, quando eles tacaram o gás e eu fiquei sem respirar, eu comentei aqui nos bastidores com você que tem um pouco relacionado ao holocausto, né?
26:51Sim.
26:52Olha que loucura, Felipe.
26:54Quando eles tacaram o gás, a menina me mordeu no meio daquele caos.
26:58Sabe qual foi a cena que veio na minha cabeça?
26:59Um judeu.
27:02Na câmera de gás.
27:03Indo pra câmera de gás.
27:04Esquelético.
27:05Carne e osso.
27:07Às vezes eu acho que eu era aquele judeu.
27:09Às vezes eu acho que eu passei por isso em outra vida e eu me vi naquele momento.
27:15Essa menina que me mordeu, ela caiu em cima da Rafa.
27:18A Rafa tava sentadinha lá no canto.
27:21Então a gente já tava sem respirar por causa do gás.
27:23E essa menina caiu em cima dela.
27:25A Rafa começou a gritar.
27:27Eu tô morrendo, eu tô morrendo, eu tô morrendo, sem parar.
27:30E aí eu e o Hanani tentamos...
27:32A gente tentou...
27:32Desculpa.
27:33A gente tentou tirar a menina de cima da Rafa.
27:36Imagina, dois homens com a máxima força tentando tirar a menina e a gente não conseguiu.
27:43Ela só queria sobreviver.
27:44Quando ela me mordeu, eu lembro que eu pensei.
27:47A gente vai morrer de qualquer jeito.
27:49Não tem o que eu faço.
27:50Muita gente fala, pô, você poderia dar um soco nela pra ela desmaiar.
27:54Que não é que é a reação às vezes quando alguém tá se afogando e não sabe que tá fazendo isso, né?
27:59Mas não, pra mim era só uma questão de tempo.
28:01E aí quando eu e o Hanani, a gente não consegue puxar a menina, eu olho a cara dele.
28:06E a cara dele é de...
28:08Eu preciso fazer algo.
28:10Ele não precisou falar isso pra mim.
28:12Eu vi na cara dele.
28:13E aí ele atravessa um mar de gente.
28:16Eu lembro como se fosse ontem, agora.
28:18Ele atravessa um mar de gente.
28:21E ele vai mais pra frente.
28:22Ele vai quase na entrada do bunker.
28:24Eu fiquei lá no canto atrás.
28:26Eu fiquei em posição de defesa.
28:28Agachado.
28:29E aí os terroristas começam a atacar o bunker de outras formas.
28:33O intuito do gás é que as pessoas não conseguiam se respirar e elas saíssem de lá.
28:37E aí eles matavam.
28:38Ou pegavam e faziam o que quisessem.
28:41Poucas vezes eu abri o olho e olhava pro lado.
28:46Uma das vezes que eu fiz isso, eu vi o Hanani sendo atingido.
28:50Não sei se foi granado ou tiro.
28:52Eu não sei.
28:53E agonizando de dor.
28:55Então, eu não sabia que talvez aquele momento foi o que ele...
28:59Provavelmente foi o momento que ele morreu.
29:01Mas pra mim era só uma questão de tempo pra acontecer comigo, sabe?
29:06Rafael, você tava contando sobre o momento em que o Glaser levantou ali no bunker.
29:13E ele fez isso com um senso de proteção em relação aos outros, você acha?
29:17Total.
29:17Ele é um herói.
29:18Um herói.
29:19Ele tentou de alguma forma reagir.
29:22Eu comento que é como se a gente estivesse numa gaiola e não tivesse o que fazer, sabe?
29:26Mas de alguma forma ele tentou reagir.
29:28Eu, na verdade, naquele momento já tinha aceitado que eu ia morrer.
29:33Minha mãe não gosta que eu fale isso, mas eu pedia pra isso acontecer.
29:37Porque quando eles estavam atacando as granadas, eram aquelas granadas de estilhaço, né?
29:42Que soltam pregos, vidros.
29:45E aí eu sentia bater em mim, né?
29:47Eu sentia bater nas minhas costas, sentia bater na minha costela.
29:51Mas eu não sentia dor física.
29:52Eu sentia dor psicológica.
29:55De não saber o que ia acontecer comigo.
29:57Sabia que eu não tinha saída.
29:59Então eu pedia pra morrer.
30:00Eu pedia pra morrer.
30:02Um certo medo de uma eventual tortura.
30:05De uma dor ainda maior do que uma morte instantânea, algo assim.
30:09Total.
30:09Eu pensava que eu não poderia ser sequestrado.
30:12E que...
30:13E na Rafa também.
30:15É uma menina, né?
30:16Na época de 19 anos.
30:17Então eu pensava que isso não poderia acontecer.
30:20Mas pra mim todo mundo que estava lá dentro ia morrer.
30:22Isso era um fato.
30:23Isso era um fato.
30:24Mas você tinha dito aqui nos bastidores que você passou um tempo rezando na esperança
30:29de sair da situação.
30:30Mas quando os terroristas chegaram, aí que virou uma chave e você quase que pediu
30:35pra morrer.
30:37É, na verdade essa chave vira quando a policial morre.
30:39É bem na hora.
30:40Quando ela morreu e eu ouvi o aluacua, eu entendi.
30:43Essa chavinha virou.
30:44Até então eu pedia, eu pedia, pedia, pedia.
30:47E aí quando eu virou essa chavinha eu entendi que já era.
30:50E aí eu vi tudo acontecer.
30:51Essa parte do gás.
30:53A menina me mordeu.
30:55Eu vi o Hanene se movendo pra tentar fazer algo.
30:58Eu vi ele morrendo.
30:59E aí eu vi muita coisa acontecer.
31:01Eu vi gente pegando granada e jogando de volta pra fora.
31:05Eu vi muita gente agonizando de dor.
31:07Eu vi gente gritando.
31:08Vamos reagir, vamos reagir.
31:10A gente fez exército.
31:12Só que não tinha como reagir.
31:16E aí naquele estresse todo, tudo acontecendo.
31:19Pra mim era uma questão de tempo pra eu morrer.
31:22Eu desmaio.
31:23Eu desmaio e aí depois de um tempo.
31:26Obviamente eu perdi noção de tempo, hora, dia, tudo isso.
31:30Eu acordo já embaixo de vários corpos.
31:33E é muito surreal.
31:34Porque assim, se na minha cabeça eu pedia pra morrer.
31:38O meu corpo, ele de alguma forma, ele se defendeu bravamente.
31:42E ele já acordou fingindo de morto.
31:45Ou seja, quando eu acordo, eu penso comigo mesmo.
31:48Nossa, ainda não morri.
31:50E eu não abro os olhos.
31:52Eu mantenho a posição realmente estendida, como se eu tivesse morto.
31:56Eu lembro de tirar o tênis.
31:58Porque minha perna doía muito.
32:00Porque eu fiquei pressionado entre corpos durante horas.
32:03Ficou dormente.
32:03É, eu achei que eu tinha quebrado.
32:06E aí eu, na minha cabeça, eu preciso respirar.
32:10Eu preciso respirar.
32:12Eu começo a rastejar pra cima dos corpos.
32:15Eu começo a ir pra trás, em direção à entrada.
32:17Uma cena que me veio agora na cabeça foi quando eu, de olhos fechados, rastejando, eu começo a ver um brilho de um celular.
32:28E ao ouvir ele vibrar.
32:30E eu, no desespero, eu pego esse celular e jogo na parede.
32:34De medo.
32:35Pra você ver, foi reação.
32:38Medo deles verem o celular e vendo que eu tava vivo.
32:40Então, eu fiz isso.
32:43E eu continuo a rastejar.
32:44Até que eu chego perto da entrada.
32:47E eu puxo o ar.
32:50Na hora que eu solto, eu faço xixi.
32:52Mas era um xixi de alívio, sabe?
32:55De tá respirando.
32:56Eu comento nas minhas palestras que, às vezes, a gente não valoriza, né?
33:00O básico.
33:01É respirar.
33:02E aí, naquele momento, eu falei comigo mesmo e pra Deus, eu tô pronto.
33:08Só não me tirou o ar.
33:09Eu só não podia ir sem ar.
33:11Eu pedi pra jogar em uma granada, na verdade.
33:14Pra que acabasse logo com aquilo.
33:15Mas eles ainda estavam lá?
33:18Eu não sei.
33:20Sinceramente, eu ouvia muita coisa do lado de fora.
33:23Eu ouvia muitas risadas.
33:26Eles riam bastante.
33:27A Rafa, ela me falou isso depois.
33:29Eu não lembrava tanto, mas eles riam bastante.
33:31Eu lembro disso.
33:32E eu não...
33:34Pra mim, eu não ia sair de lá.
33:36Sabe?
33:36Eu coloquei isso na minha cabeça.
33:38Eu não saio daqui.
33:40Pra mim, eu ia morrer toda hora.
33:41Mas, assim, pra mim mesmo, eu falei.
33:43Eu não saio daqui.
33:43Se fosse acontecer algo a mais, é que eu fosse resgatado.
33:48Mas eu saí desse lugar, eu não ia sair.
33:50Eu coloquei isso pra mim.
33:51Só saio daqui morto.
33:53E aí, depois de um tempo, um menino, um homem, ele entra no bunker, começa a falar algo.
34:00Na hora, eu não entendi nada.
34:01Eu não sabia se era árabe, se era hebraico, o que que era aquilo, né?
34:04Acho que naquela confusão, eu só ia entender português.
34:06Minha língua mãe.
34:08Mas eu abro o olho.
34:09E quando eu abro o olho, eu vejo um cidadão civil.
34:12Ou seja, pra mim, era um terrorista.
34:16E aí, eu falei.
34:17Já era.
34:18Abri o olho e já era.
34:19Não tem o que fazer.
34:20E aí, eu me levanto.
34:22E eu vou em direção à entrada, né?
34:25O vão.
34:26E quando eu tô saindo, pra mim, vem a pior cena de todas.
34:30Uma pilha de corpos pegando fogo.
34:32Depois, eu ouvi relatos de que, na verdade, eles foram colocados vivos, né?
34:38Alguns deles.
34:40E eles fizeram uma pilha de corpos na entrada do bunker.
34:44Ou seja, além do gás, das granadas, dos tiros, coquetel molotov, eles ainda fizeram essa fogueira pra fumaça toda entrar dentro do bunker.
34:53Imagina o cheiro que tava lá dentro.
34:56O cheiro de morte.
34:58E aí, quando eu dou a volta nessa fogueira, eu vejo seis policiais.
35:03E aí, eu sento do lado de fora do bunker e eu começo a me olhar assim.
35:08Eu não acredito.
35:09Eu não acreditava que eu tava vivo.
35:11Eu não acreditava.
35:12E logo depois de mim, sai a Rafa.
35:13A Rafa começa a gritar o nome do Hanani.
35:16O Hanani, o Hanani, o Hanani.
35:18O Hanani morreu.
35:19E eu olho pra ela e de uma forma até fria eu falo, eu não sei como que a gente tá vivo.
35:25Comigo e a Rafa, naquele momento, saíram mais quatro.
35:28Então, foram seis, né?
35:30Que saíram naquele momento.
35:32Só pra você ter ideia, eu fiquei quase cinco horas lá dentro.
35:35E quando eu saí, eu ainda ouvia barulhos de tiros.
35:39Ou seja, eles ainda estavam por perto.
35:42Ainda não era seguro.
35:43Então, eu fiquei desesperado pra sair de lá.
35:45A Rafa pedia pra entrar no bunker.
35:48E eu não sei se eu fiz o certo ou não.
35:51Mas eu falei pra ela não entrar.
35:52Porque eu acho que na minha visão, eu não queria que ela tivesse uma última imagem do Hanani daquela forma.
35:57E aí, eu não deixei.
35:59E eu tinha muito medo.
36:00Então, eu só queria sair de lá.
36:02E aí, eles colocam a gente no carro da polícia.
36:04Eles levam a gente até um terreno baldio.
36:06Pra esperar embaixo do carro.
36:08De um outro carro.
36:09Porque ainda tava muito perigoso.
36:11Até que levam a gente pra uma ambulância.
36:13E da ambulância, eu levam a gente pro hospital.
36:15E aí, só no hospital que eu fui entender o que que tava acontecendo.
36:19Até a dimensão.
36:20A dimensão.
36:21Eu vejo...
36:21Porque assim, quando eu fui retirado da ambulância, ninguém veio me retirar.
36:25Eu saí andando.
36:26Eu falei, como assim?
36:28Tipo, né?
36:29Olha o que eu passei e não vieram me pegar.
36:32Aí, quando eu entro no hospital, eu entendi.
36:35Tava todo mundo atormentado.
36:36Era uma pessoa sem pedaço do corpo.
36:38Cirurgia de emergência.
36:40Pais procurando os filhos desesperados.
36:43Assim, era uma cena de guerra.
36:44E aí, eu sentei numa cadeira de plástico e desabei.
36:52Até então, eu não tinha chorado.
36:54Eu acho que eu tava ainda no...
36:56Sabe?
36:56Na adrenalina.
36:58Sem entender.
36:59E aí, cuidando da Rafa.
37:01Quando a Rafa saiu, eu entendi que eu tinha que cuidar dela.
37:03Pra mim, ela tava morta.
37:04Pra mim, tava...
37:05Eu não sei como que eu tava vivo.
37:07Pra mim, tava todo mundo morto.
37:10E aí...
37:11Só pra vocês terem ideia.
37:12No final das 40 pessoas que tinham, somente 9 sobreviveram.
37:17Inclusive, o menino que foi me resgatar.
37:19Depois eu descobri a história dele.
37:20Ele era uma das pessoas que tava no bunker.
37:23E por um milagre, antes de começarem a atacar o bunker, ele saiu pra fazer xixi.
37:27E aí, ele se escondeu.
37:29E ele viu tudo acontecer.
37:30Ele viu uma menina ser abusada na frente do bunker.
37:33Ele viu a fogueira sendo feita.
37:36Ele viu tudo acontecer.
37:38Foi ele que parou os policiais.
37:40E os policiais não queriam entrar lá devido ao cheiro.
37:43E pra ele, estava todo mundo morto.
37:46É, você usou a palavra milagre.
37:48E eu não tive como não pensar nisso.
37:50Quando eu estive lá, em maio do ano passado, de 2024.
37:55Meses depois do ataque.
37:56E fui à área da rave, onde tem o memorial.
37:58Onde tem as imagens das pessoas que morreram ali naquela região.
38:02E não tem como a gente ir lá e não se imaginar no local.
38:06E eu fiquei pensando, como muita gente que visita ali deve ter ficado pensando.
38:10Pra onde eu fugiria se eu estivesse aqui?
38:13Se eu estivesse aqui totalmente consciente que fosse.
38:16É claro que a gente sabe que era uma festa.
38:18Era de manhã.
38:18Tinha gente que já tinha bebido bastante.
38:21Que tinha que fazer uma escolha muito rápida.
38:23Muito difícil.
38:23Mas por mais consciente que você estivesse, é uma área descampada.
38:28Você tem ali uma estrada próxima.
38:30E quando a gente vê as imagens agora, no futuro, dos terroristas atirando nas pessoas.
38:36Porque eu vi o filme exclusivo para jornalistas.
38:39As imagens são terríveis.
38:41E a gente ouviu relatos lá de que alguns se esconderam no arbusto.
38:44Eles queimavam o arbusto.
38:45Aí a pessoa saía do arbusto.
38:46Aí eles metralhavam.
38:47Ou morria queimado.
38:47Como você está narrando.
38:49E a sensação que se tem, e de todo mundo que relatou ali para a gente o que aconteceu,
38:54é que foi uma grande loteria.
38:56Quer dizer, um saiu para um lado, eventualmente deu a sorte de sobreviver.
38:59O outro saiu para o outro, deu o azar.
39:01O outro foi para o bunker, para o abrigo antiaéreo.
39:04Que não protege contra ataque analógico do terrorista com fuzil que entra pelo mesmo vão por onde você entrou.
39:10E o seu caso, ele é ainda mais incrível.
39:15Porque você estava lá.
39:17Os terroristas foram até o abrigo.
39:18Eles lançaram gás.
39:20Eles atiraram contra pessoas que estavam no abrigo.
39:23E você deu essa sorte, esse milagre que aconteceu com você.
39:28Apesar de tudo que você está contando, evidentemente, de maneira nenhuma minimizando o drama.
39:33De que eles não tenham conferido.
39:36De que havia alguma pessoa ali que pudesse estar viva entre os demais corpos.
39:41Ou eles estavam, enfim, atirando para outras pessoas e acabaram esquecendo você lá.
39:45Os terroristas estavam se divertindo, na verdade.
39:48Era uma brincadeira para eles.
39:52Eu me pergunto como que alguém em sã consciência consegue estar matando e ao mesmo tempo estuprar alguém.
39:59O estupro já é abominável.
40:02Mas você está matando alguém e consegue parar para abusar de uma menina?
40:06É uma mistura estranha de ódio e desejo.
40:09E de felicidade.
40:11Eles riam, né?
40:12Sim.
40:12Então, eles tinham prazer naquilo.
40:14Eles ficaram, pelo que eu ouvi falar, pelo que eu ouvi depois, duas horas e meia mais ou menos nessa, né?
40:19De ficar atacando, saindo.
40:21O que me salvou?
40:22Na minha visão, tinha muita gente.
40:25Então, eu acabei ficando embaixo de várias pessoas.
40:28Para mim, obviamente, o milagre é o principal.
40:30Porque, assim, o estilhaço da granada poderia pegar aqui.
40:33O tiro poderia pegar aqui.
40:35Então, assim, não pegou.
40:36Não sei por quê.
40:37Olha que curioso.
40:39Quando eu estava dentro do bunker, um amigo meu enviou mensagem falando
40:42Rafa, estou indo embora de carro.
40:44Você quer carona?
40:45E eu falei, não.
40:46Eu me sinto seguro.
40:47O carro dele foi metralhado.
40:49Graças a Deus, ele não morreu.
40:51Mas eu fico pensando, se eu estivesse lá, talvez eu não teria morrido?
40:55Pois é.
40:55Então, é assim.
40:56Essa questão não tem uma escolha certa.
40:58Não tem, exatamente.
41:00É sobre milagre.
41:01Sobre milagre.
41:02Então, depois de um tempo, eu volto para o Brasil.
41:04E o que mais me pega, Felipe, da minha volta para o Brasil,
41:06é que eu vejo o aumento do antissemitismo e o ódio pelo judeu.
41:12Eu, inclusive, passei por isso.
41:14Eu voltei em festas.
41:16Inclusive, eu passei isso na Vila Madalena.
41:19Um menino ouvindo a minha conversa, ele me reconheceu.
41:21Aqui em São Paulo.
41:23E ele fala, eu sou Hamas e eu quero a morte de todos os judeus.
41:26Nossa.
41:27Isso três semanas depois de tentarem me matar da forma que foi.
41:31Isso no meu país, na minha cidade, no lugar que eu vivi a vida inteira.
41:34Que coisa horrorosa.
41:35Então, assim, eu percebo que se tornou algo político.
41:38Se tornou algo que não deveria ser.
41:41Porque o terrorismo, ele não é político.
41:42O terrorismo, ele é contra a vida.
41:45Ele é o mal.
41:46Ele é o mal, né?
41:47Que nem eu falei, eles riam do que eles estavam fazendo.
41:49É o que a gente sempre diz aqui.
41:50A gente defende a civilização contra a barbárie.
41:53Não é um Estado, não é um governo, não é político, não é um exército.
41:57É civilização contra a barbárie.
41:58O resto, a gente mantém vigilância em relação a uma questão pontual aqui.
42:03Mas a questão de princípio moral é a civilização contra o terror.
42:08É inadmissível que alguém possa subjulgar pessoas dessa maneira como o Rafael e todas aquelas vítimas foram subjulgadas.
42:15É, eu gostaria de deixar claro que é bom a gente separar os palestinos dos terroristas.
42:20Claro.
42:20Assim como eu acho que é importante a gente separar os israelenses e os judeus do governo israelense.
42:25Você pode criticar o governo.
42:27Claro.
42:27É democrático.
42:28Igual você pode criticar aqui.
42:29Graças a Deus, você tem o direito a isso.
42:31Uhum.
42:32Mas em Gaza você não pode criticar o Hamas.
42:36Se não você é retaliado.
42:37Você é morto.
42:38Você não pode escolher sua orientação sexual porque você pode morrer.
42:42Você não pode opinar porque você pode morrer.
42:46Então é entender que tanto essa guerra não é só sobre pegar os sequestrados, né?
42:53É muito sobre também o terrorismo, lutar contra o terrorismo.
42:57E isso é uma luta que um país pequenininho está tentando fazer de uma forma bravamente.
43:03Eu sei que é um exército forte, eu sei que tem ajuda.
43:05Mas, que nem eu falei, em volta é tudo inimigo, né?
43:08Então é muito complicado quando eu vejo, por exemplo, as pessoas relativizando o que aconteceu lá.
43:19Porque eu vivi aquilo.
43:20E segundo, chamar aquilo de resistência.
43:24Desculpa, mas não é resistência.
43:26O que eu passei lá não foi resistência.
43:27Ninguém veio perguntar qual era a minha opinião.
43:29Ninguém veio perguntar qual era o meu país.
43:31Ninguém veio perguntar nada.
43:33Inclusive, um dos meus grandes amigos em Tel Aviv, que era do meu trabalho, se chama Mohamed, um muçulmano.
43:40E eu fui conversar com ele depois do atentado.
43:42Eu fui falar, Mohamed, no meio daquele caos, eu pensei em você.
43:46Eu pensei e eu falei, se o Mohamed estivesse aqui, ele ia me salvar.
43:50E aí ele falou, Rafa, se eu estivesse lá, eu teria morrido.
43:53Porque o terrorista não pergunta quem é quem.
43:56Ele mata.
43:57Então, é exatamente isso.
43:58Então, é entender que essa guerra, ela se iniciou no dia 7 de outubro.
44:04Com os ataques às comunidades, à festa, aos civis e também alguns militares em Israel.
44:10O sequestro de 250 pessoas.
44:13Inclusive, algumas delas voltando hoje para casa, graças a Deus.
44:16Depois de um mês e três meses.
44:18Um ano e três meses.
44:19Ou seja, imagina o que quer.
44:22E assim, entender que numa guerra ninguém sai ganhando.
44:26Numa guerra não há um vencedor.
44:28Os dois lados perdem.
44:30Os dois lados têm famílias chorando.
44:32Eu acho que é muito importante a gente falar sobre paz.
44:36Mesmo que a gente não chegue nessa paz.
44:38Mas, sabe, eu quase morri.
44:41Para mim, eu morri e eu voltei.
44:44E o que eu posso falar é que não adianta nada a gente brigar.
44:46A gente tem que ser pessoas que tenham opinião forte, com argumentos.
44:51Mas que brigar não leva a nada.
44:54A gente não sabe o dia de amanhã.
44:55Eu sempre falo, Felipe.
44:56Eu estava dançando e uma hora depois tentaram tirar a minha vida da forma mais brutal possível.
45:02Então, valorizem a vida.
45:04Ou respirar.
45:05Ou a sua família, seus amigos.
45:07Perdoem.
45:09Peçam desculpas.
45:10Porque realmente, no final, a gente não leva a nada dessa vida.
45:14E foi isso que eu vi.
45:15Rafael, você conta com uma serenidade incrível a respeito do que aconteceu.
45:20Você tem feito isso em diversos eventos, com a Stand With Us Brasil.
45:23E você falou de um antissemitismo que você sofreu pessoalmente na volta para o Brasil.
45:29Agora, não tem como evitar esse assunto.
45:31Até porque muita gente está comentando no chat, perguntando se o governo Lula está assistindo.
45:34Se o PT está assistindo.
45:35Se o Lula está assistindo.
45:36Porque o presidente fez diversos comentários que, inclusive, foram respondidos de uma maneira firme pelos próprios membros do governo israelense.
45:45Inclusive, por alguns familiares e algumas vítimas do 7 de outubro.
45:49Incluindo a Rafael, que também deu entrevista para a gente aqui no Papo Antagonista.
45:54Você volta para o Brasil e o presidente do seu país está acusando o Israel de genocídio.
45:59Está fazendo declarações que são vistas com simpatia por lideranças do Hamas.
46:04Em manifestações diretas deles.
46:07O que você pensa?
46:09Porque eu vejo que você consegue ter uma relação direta ali com a experiência.
46:13E não fala com uma carga política de viés ideológico para um lado e para o outro.
46:19Então, assim, do ponto de vista da sua experiência pessoal, como é que você enxerga isso?
46:23Decepcionado.
46:25Primeiro, por que a primeira decepção?
46:27Quando veio os aviões da FAB, de Israel, nenhum deles, os cinco, foi recepcionado por ele, pelo presidente.
46:35Ou por algum representante do governo.
46:39E o dos palestinos foi.
46:42Eu acho que foi correto os palestinos serem recebidos porque eles são brasileiros.
46:47Assim como eu.
46:48Por que eu não fui recebido?
46:51Um outro ponto.
46:51Eu saí como ferido pelo Itamaraty.
46:53Ninguém me mandou uma mensagem, ninguém me mandou um e-mail, ninguém veio ver como eu estava.
46:58Então, assim, a decepção vem primeiro pessoal por não ter recebido esse apoio do governo e do Brasil.
47:06E segundo, eu sinto uma parcialidade.
47:09E isso o Brasil nunca fez.
47:11Em situações de guerra, em situações externas, né?
47:14Então, por exemplo, na guerra da Rússia e da Ucrânia.
47:17O Lula fala em fazer paz.
47:19Por que que na guerra de Israel contra o Hamas, um grupo terrorista, ele fala que Israel é o culpado?
47:24Ele não fala em paz?
47:26Ele coloca a culpa em alguém?
47:28Então, assim, o que o governo brasileiro está fazendo é uma vergonha.
47:32Porque em questão de relacionamento internacional, em questão de guerra, não faz sentido nenhum.
47:39Me chocou muito quando eu vi o vice-presidente, virado Alckmin, lá no Irã, ao lado de líderes do Hamas, do Hezbollah, de terroristas.
47:51Está aí a imagem na tela.
47:52Eu que identifiquei, inclusive, as outras lideranças terroristas e publiquei em rede social, depois a imprensa veio atrás.
47:58Essa é a imagem a qual o Rafael está se referindo.
48:00Diga.
48:00E aí me choca muito, porque assim, por que que o presidente envia quem está abaixo dele logo, na hierarquia do governo, e para outros países não?
48:12Sendo que todo mundo sabe que o Irã financiou o atentado do dia 7, o Irã financia o Hamas e o Hezbollah também, grupos terroristas, e que inclusive o Brasil não reconhece como grupo terrorista.
48:24Me choca muito isso.
48:26E de novo, tá?
48:27Que nem você falou, eu tenho uma visão muito racional das coisas.
48:31Sim.
48:32Os palestinos não são os grupos terroristas.
48:35São os grupos terroristas que comandam esses lugares.
48:38O Irã, onde a mulher não tem direito a nada, onde a mulher não pode nem dirigir, escolher a roupa que quer, como que o Brasil é parceiro deles?
48:46Como que o Lula chama ele de amigo?
48:49Como que ele senta junto para conversar?
48:52Então assim, me choca muito.
48:54E o que me choca muito também são minorias apoiando o Hamas, sendo que essas minorias morreriam na mão do Hamas.
49:01De novo, o Hamas não é os palestinos.
49:04O Hamas é o grupo que comanda a faixa de Gaza.
49:07O que eu quero dizer com isso?
49:08Eu quero dizer que se você é uma mulher em que você gostaria de andar sem sutiã, por exemplo, no Brasil você tem totalmente a liberdade de fazer isso.
49:15E em Israel também.
49:16Parabéns, é democrático.
49:18Agora na faixa de Gaza você seria morta.
49:20Ou estuprada.
49:21Então assim, eu me pergunto como que você como minoria defende alguém que te mataria.
49:27É algo cultural.
49:28É algo deles.
49:29Isso daí eu não julgo.
49:30Eu não estou lá.
49:31A educação é deles.
49:33Aí é entre eles.
49:33Mas você defender isso.
49:36Vocês viram as cenas hoje das meninas voltando para casa ao lado de homens.
49:41Só homens armados até o dente.
49:44E isso me estranha muito.
49:46E assim, eu como judeu, eu sou uma minoria.
49:48Por que as minorias não me defendem quando eu defendi elas?
49:52Eu apoiei essas minorias.
49:54Eu levantei, briguei com familiares, briguei com pessoas por causa das minorias.
49:58E eu sou recebido com ataque.
50:02Aí eu me pergunto o que está acontecendo com o mundo.
50:05Sendo bem sincero.
50:07Eu falo que se eu não tivesse fé e fosse um pouco racional, eu acho que eu teria ficado louco.
50:13Porque não dá para entender.
50:14Rafael, fora aqui as questões políticas, de governo, etc.
50:19O que mudou na sua vida, no dia a dia?
50:23Quais são as lições que você tira desse episódio?
50:26As pessoas próximas?
50:28Sua vida muda completamente.
50:30Até você hoje tem uma outra função, inclusive um outro tipo de trabalho.
50:34Então, assim, só para a gente fechar todo esse capítulo, resumido, evidentemente, sobre a sua história.
50:42O que você destaca desse novo período da sua vida?
50:45Bom, primeiro, igual eu falei, eu acho que uma lição de vida que eu posso dar para as pessoas é que tudo acaba de um dia para o outro.
50:52Pode acabar.
50:53Então, realmente, é valorizar a vida, ser pessoas melhores.
50:57Então, é um aprendizado que eu tenho muito grande.
51:00Eu valorizo muito minha família, meus amigos.
51:01E hoje eu também sou analista educacional do Stand with Us, que é uma ONG que busca educar para a paz.
51:09Ele busca falar sobre o conflito no Oriente Médio, explicar mais detalhadamente toda a história do conflito.
51:16E hoje eu sou palestrante, junto com o Stand with Us Brasil.
51:20E aí a gente está fazendo esse trabalho para realmente conscientizar e para que não tenha antissemitismo.
51:26Desde o dia 7 de outubro, aumentou cerca de mil por cento o antissemitismo aqui no Brasil.
51:30Então, o meu papel é para que isso não aconteça e que as pessoas separem realmente a guerra do judeu e do israelense.
51:38Para que as pessoas entendam o que é ser humano.
51:41Então, esse é o meu papel hoje em dia.
51:43Maravilha.
51:44Rafael Zimmermann, sobrevivente do terror de 7 de outubro de 2023.
51:47Muito obrigado pela sua presença aqui no Papo Antagonista, por esse relato minucioso, pela sua serenidade, por tudo aquilo que você está fazendo para educar as pessoas, para informar sobre a gravidade do terror.
52:00Sobre esse momento um tanto insano, como a gente vê, falando em uma linguagem até mais coloquial, de reação favorável ao terrorismo.
52:11Claro que isso não vem de muita gente.
52:13A gente sabe que são milhões de pessoas pelo mundo que apoiam as pessoas que sofrem com esse tipo de violência que você sofreu.
52:21Então, eu agradeço demais aqui a sua participação, registro histórico para a gente, que eu acho que daqui a muitos anos o pessoal vai voltar a esse vídeo para ter a dimensão do que foi, inclusive, a própria cobertura jornalística desse tempo.
52:33Muito obrigado, valeu.
52:34Obrigado você pelo convite, pelo espaço, acho super importante e é agradável estar com você.
52:40Então, muito obrigado mesmo.
52:42Espero que a gente consiga mostrar a verdade para todo mundo.
52:45Obrigado.
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