As discussões do pacote de gastos, conduzidas pela equipe econômica, acontecem desde o mês passado. O governo é pressionado pelo mercado, que vê com receio a trajetória fiscal das contas públicas nos próximos anos. O pacote inteiro do Executivo é estimado em R$ 30 bilhões em 2025 e R$ 40 bilhões em 2026. - Siga O Antagonista no X, nos ajude a chegar nos 2 milhões de seguidores! https://x.com/o_antagonista
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00:00O presidente Lula está em reunião com a sua equipe econômica para terminar de concluir o pacote de ajuste fiscal que deve ser anunciado até amanhã, terça-feira.
00:09Pelo menos essa é a expectativa.
00:11As discussões do pacote de gastos conduzidas pela equipe econômica acontecem desde o mês passado.
00:17O governo é pressionado pelo mercado, que vê com receio a trajetória fiscal das contas públicas nos próximos anos.
00:23O pacote inteiro do Executivo é estimado em R$ 30 bilhões em 2025 e R$ 40 bilhões em 2026.
00:31Em que pé está isso, meu caro Van Dijk?
00:34Esses números parecem os que vão sair ou o mercado está um pouco otimista?
00:40Zé Inácio, é aquela questão da peça famosa, a espera de Gadot.
00:46Muito se fala e o Gadot não chega.
00:49E quando o Gadot chegar, que é esse pacotão, nós vamos compreender que não tem a dimensão e a estrutura necessária para impedir que os gastos continuem explosivamente crescendo
01:03e pressionando a dívida pública, que é a grande preocupação por trás disso tudo.
01:10Nós temos uma taxa de crescimento de gastos acima de 10% enquanto o PIB cresce a 3%.
01:16Você não pode ter uma relação de gastos que cresce mais de 3 vezes do que o PIB, mesmo tendo a arrecadação crescendo.
01:26Essa estrutura, essa matemática, no tempo, não é sustentável.
01:31Então, a minha perspectiva é um pacote entre R$ 30 e R$ 40 bilhões.
01:35Não vai ser nada estrutural.
01:40Se tivesse algo, de fato, que institucionalizasse um corte de gasto, não é a diminuição da taxa de crescimento.
01:50O mercado gostaria de ver um corte, de fato, nos gastos.
01:55O que a gente está lutando agora, a gente vê na fala do governo, é conseguir manter o gasto crescendo em 2,5% em termos reais.
02:05Quer dizer, a inflação mais 2,5%.
02:08Isso não vai resolver o problema, nem o problema do primário, muito menos a questão do endividamento,
02:16que vai continuar crescendo de maneira explosiva.
02:19E, em quatro anos, o governo Lula, a gente pode chegar a 12, talvez 14 pontos a mais em cima da dívida,
02:27passando do número atual, que são cerca de 84% de relação dívida à PIB, segundo o FMI.
02:34Vandique, eu estava lendo uma entrevista com o Luiz Stuberger, no Estadão de hoje,
02:40ele que é um dos maiores gestores aqui do país, de fundos.
02:44Ele disse que o mercado está muito cético, mesmo que o pacote seja anunciado de R$ 40 bilhões.
02:50Você acha que existe a possibilidade de ser anunciado um número até palatável,
02:54mas ele não ser cumprido, com exceções que vão se criando ali e acolá ao longo do ano seguinte,
02:59e, sobretudo, de 2026, que é um ano eleitoral?
03:04Um pacote que vai fazer um corte de impacto de R$ 40 bilhões em 2026 não é crível,
03:13especialmente por ser um ano eleitoral.
03:16Nós vamos ver, como a gente viu em todos os governos, independentemente de coloração política,
03:22um aumento de gasto nesse último ano, que é o ciclo, o political business cycle,
03:29o ciclo de políticas associadas à expansão fiscal para a reeleição.
03:37Então, isso acontece em todos os lugares do mundo, o Brasil não vai ser exceção,
03:41e o Brasil tem números sempre muito elevados com isso.
03:44Aconteceu com o Bolsonaro, aconteceu com a Dilma, aconteceu com o Lula.
03:48Então, seja lá qual for o número, essa perspectiva de, em 2026 nós vamos fazer isso,
03:53tira a atenção do que é imediato, que precisam ser decisões estruturantes
04:00que impeçam do gasto de continuar a crescer de maneira acelerada.
04:06Sem que haja alguma coisa estrutural, institucionada, que talvez tenha que ir através de uma PEC,
04:14não vai convencer ninguém.
04:19O mercado está esperando algo e talvez fique feliz.
04:23É aquela relação canina que a gente sempre assiste.
04:27Recebe um biscoito, balança o rabo por um certo tempo e depois compreende que precisa de mais biscoito.
04:35E fica essa história de empurra para frente para ver no que dá.
04:38Eu não me convenço com nenhum número se não passar por uma reestruturação de gastos obrigatórios
04:45e a questão da Previdência, que não pode mais ser atrelada ao mínimo
04:49e tem que haver algum tipo de redução nesse aumento real no mínimo.
04:54São temas que não são palatáveis para o governo e, no final da história,
04:59aquilo que tem que ser feito não vai acontecer.
05:02Vai ser, mais uma vez, um pacote para animar a Faria Lima,
05:06mas anima por pouco tempo até que as contas sejam refeitas
05:09e a gente entende que é um negócio muito temporário.
05:13Uma última pergunta, bem curtinha agora.
05:15Até que ponto a eleição do Trump influencia no tamanho desse pacote?
05:21Se fosse a Kamala Harris, o valor seria um pouco menor,
05:25prevendo um ano um pouco menos difícil
05:27e com o Trump o número teria que ser um pouco maior para compensar isso
05:31ou não tem influência?
05:32Rapidamente.
05:33Tem uma influência, sim, que tem a ver com a questão do dólar, o câmbio.
05:40O câmbio tem se valorizado no mundo inteiro,
05:43o dólar tem se valorizado vis-à-vis as moedas globais
05:47e, durante a gestão do Trump, a tendência deve ser exatamente essa,
05:52que vai impactar as contas públicas no Brasil
05:56e isso anima a ideia de cortar mais gastos.
06:00Mas, do ponto de vista político, eu não vejo como o governo vai sair dessa amarra.
06:08É interessante.
06:10Meu caro Vandique Silveira, muito obrigado.
06:12E só com uma curiosidade, eu trouxe aqui para mim mesmo,
06:15vou falar em voz alta,
06:17o nosso dinheiro, a nossa moeda, o dólar, o real, aliás,
06:21é uma das que mais se desvalorizou esse ano em relação aos seus pares.
06:27Por exemplo, o dinheiro da África do Sul se valorizou 1,3%.
06:32Já o Brasil se desvalorizou o real, 16,4% esse ano,
06:38só atrás do México, que é 17,1%,
06:41porque tem aquela questão do Trump,
06:43que tem a pegar pesado com o México,
06:46mas o Brasil se desvalorizou mais do que Colômbia, Chile, Japão,
06:52Coreia do Sul, Noruega e aí também outros países
06:55com economias mais pungentes do que a nossa.
07:02O Brasil se desvalorizou mais do que a nossa.