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NotíciasTranscrição
00:00O STF retoma amanhã, quarta-feira, 23 de agosto, o julgamento que discute se é crime
00:05o porte de drogas para consumo próprio.
00:08O placar está em 4 a 0 pela liberação do porte de maconha para consumo pessoal.
00:14O julgamento começou em agosto de 2015 com voto do relator ministro Gilmar Mendes.
00:19Depois, o ministro Edson Fachin pediu vista.
00:21Em setembro daquele ano, Fachin apresentou seu voto.
00:25Luiz Roberto Barroso também votou na mesma sessão.
00:27Mas o então ministro Teori Zavascki pediu vista.
00:31Ele morreu em janeiro de 2017 e Alexandre de Moraes assumiu sua cadeira no Supremo.
00:36No último dia 2, Moraes também votou a favor da descriminalização do porte de maconha.
00:43O julgamento foi suspenso a pedido do relator Gilmar Mendes,
00:46que quis reavaliar os votos apresentados por colegas até então.
00:51Quinze dias depois, em 17 de agosto, houve uma sessão no Senado Federal
00:55sobre a descriminalização do porte de drogas.
00:59Nela, o doutor Ronaldo Laranjeira, médico psiquiatra associado da ABP,
01:03Associação Brasileira de Psiquiatria, professor titular da Unifesp e PhD pela Universidade de Londres,
01:09criticou os votos dos ministros do STF,
01:12contaminados, segundo ele, pelo ativismo de setores da mídia.
01:16Vamos assistir a um trecho.
01:17A minha interpretação básica sobre esse debate é que existem dois movimentos.
01:23Você tem os ativistas, que defendem a legalização das drogas.
01:28E os ativistas são legítimos.
01:30São os principais jornais do país,
01:33a Folha de São Paulo, o Globo, a própria Rede Globo,
01:37a mídia na internet.
01:39Você tem um grande segmento da sociedade,
01:42grande, mas bastante minoritário,
01:46que defende a legalização das drogas.
01:50E esse ativismo pela legalização, no meu julgamento,
01:55contaminou o Supremo Tribunal Federal.
02:00Eu, como professor já com anos,
02:04me dei o trabalho de ler os votos dos ministros do Supremo Tribunal Federal.
02:09é tecnicamente inqualificável.
02:15Eu, por ter PhD em Psiquiatria pela Universidade de Londres,
02:20eu me sinto envergonhado que as nossas leis sejam baseadas
02:24nas pesquisas mencionadas nesses votos dos ministros do Supremo Tribunal Federal.
02:31Que, do meu modo de ver, está dentro de um ativismo
02:35que está absolutamente em descompasso
02:39com as famílias do Brasil e com a própria ciência.
02:43Hoje, no Papo Antagonista,
02:47ele mesmo, o doutor Ronaldo Laranjeira,
02:49é nosso convidado para conversar
02:51sobre o que está em jogo no julgamento de amanhã no STF.
02:54Ele que trabalha há 40 anos na área de dependência química.
02:58Boa noite, doutor.
02:59Seja bem-vindo ao Papo Antagonista.
03:02Boa noite.
03:02Boa noite aos ouvintes.
03:04Boa noite, Felipe.
03:04É um prazer e um privilégio para mim estar aqui
03:06num programa que eu admiro bastante.
03:09discutindo um problema complexo.
03:13Quer dizer, complexo a ponto do próprio Senado Federal
03:19estar se opondo.
03:22Na quinta-feira passada,
03:23eu estive presente nessa reunião do Supremo Tribunal
03:27no Senado Federal
03:29e que realmente o próprio presidente do Senado,
03:33Rodrigo Pacheco,
03:35acha que seria uma intromissão inadequada
03:38para discutir esse assunto tão complexo
03:41e que impacta um mercado difícil de se prever,
03:47que é o mercado de drogas ilícitas.
03:50E você, através de uma determinação,
03:53uma mudança de uma lei
03:54que o Supremo está com quatro votos já a favor,
04:00se tudo continuar assim,
04:02o Supremo muda a interpretação de uma lei
04:06que é uma das leis que foram mais discutidas
04:09nos últimos 20 anos no Congresso.
04:12É uma lei que foi discutida na Câmara Federal,
04:15com audiências públicas
04:17em praticamente todas as capitais do Brasil.
04:21Foram mais de uma centena de audiências públicas.
04:25A Câmara passou pela Comissão em Justiça da Câmara,
04:29foi votada duas vezes na Câmara,
04:32foi para o Senado,
04:33passou pela Comissão de Constituição e Justiça do Senado
04:37e os senadores votaram praticamente unanimemente
04:40e essa é a lei, a interpretação
04:45de que o porte de drogas
04:48seria considerado um crime,
04:51não um crime de privação de liberdade.
04:56não existe usuários de maconha
05:00ou de qualquer outra droga
05:01que estejam presos nas prisões brasileiras.
05:05Isso também é uma mitologia.
05:09Se você ver aqui na própria Cracolândia,
05:12você tem centenas de pessoas
05:14que estão consumindo drogas na Cracolândia
05:17e ninguém é preso
05:18pelo fato de estar consumindo drogas.
05:22Então, mesmo ninguém vai ser preso
05:25pela porte de alguma quantidade de maconha.
05:29O problema
05:29é que os próprios senadores estão muito avessos,
05:37essa é, numa canetada,
05:39poder transformar a forma
05:43como toda uma sociedade está lidando
05:46com várias substâncias,
05:48porque a lei não é específica para maconha.
05:51Os votos, principalmente o voto do ministro Barroso,
05:55caminha na direção de quantificar
05:58pesos em relação à maconha,
06:03mas os próprios votos dos ministros
06:06são muito incongruentes
06:09em vários aspectos, do meu ponto de vista,
06:11porque o mercado ilícito,
06:14o mercado da maconha tem uma lógica,
06:16o mercado das outras drogas tem outro.
06:22Especialmente no caso da maconha,
06:24era um mercado muito dinâmico.
06:27E eu cheguei a comentar esse fato
06:29na minha apresentação no Senado,
06:33porque, se a gente ver,
06:36na década de 70,
06:37só existia uma forma de maconha,
06:40que era o cigarro de maconha,
06:42com uma baixa concentração de maconha.
06:45E, hoje em dia, você tem,
06:47desde o skunk,
06:48que é uma forma de maconha
06:49mais de concentração,
06:5220 vezes maior
06:54do que os cigarrinhos de maconha
06:56na década de 70,
06:56e até o cigarro eletrônico,
07:00que tem uma concentração de 90%.
07:02Então, é um mercado complexo, dinâmico,
07:05e quem domina esse mercado
07:07é o crime organizado.
07:10Então, do meu ponto de vista,
07:13se prevalecer a ideia
07:18desses quatro votos do Supremo Tribunal Federal,
07:21nós estaremos, de fato,
07:23legalizando o pequeno porte de drogas,
07:28o pequeno comércio,
07:29o pequeno tráfico de drogas,
07:32quando as evidências mostram
07:34que a maioria do tráfico
07:36é feito em pequenas quantidades.
07:39Essa coisa do Pablo Escobar
07:41ganhar ou transportar
07:45centenas de quilos de cocaína
07:48ou de drogas,
07:49isso existe,
07:50é lógico que existe,
07:52e você precisa ter controles
07:54em relação a isso.
07:55Mas, no dia a dia,
07:56o crime é organizado,
07:58e a gente não pode esquecer
07:59que os pequenos traficantes
08:01estão conectados
08:03a alguma rede de tráfico,
08:05ele não cai do céu,
08:07ele tem uma conexão
08:08com o grande tráfico.
08:10Essa complexidade,
08:11desculpa me adlongar,
08:13mas é essa complexidade
08:15que esses votos dos ministros
08:16falham de ver
08:17e falham de dar uma resposta
08:19para a sociedade, né?
08:21Pois é, só lembrando aqui
08:22para contextualizar,
08:23o Rodrigo Pacheco é o presidente
08:24do Senado,
08:25ele deu aquela declaração
08:26de que o Supremo Tribunal Federal
08:27estava invadindo a competência
08:28do Poder Legislativo,
08:30do Congresso Nacional,
08:31portanto,
08:31nós comentamos isso aqui,
08:33aliás,
08:33concordamos com ele nesse ponto,
08:35embora, claro,
08:36nós tenhamos feito uma crítica
08:37de que muitas vezes
08:38se diz isso,
08:40mas não se faz nada a respeito,
08:42quer dizer,
08:42o Congresso
08:42não dá uma peitada institucional,
08:46evidentemente,
08:47no Supremo Tribunal Federal.
08:48Então,
08:49se faz uma média ali
08:50com os parlamentares,
08:51mas a gente não vê
08:52uma reação.
08:54Quando houve princípio
08:54de reação contra
08:55ministro do STF,
08:57a gente sabe que tudo
08:58foi barrado,
08:58como no caso
08:59da própria CPI
09:00da Lava Toga.
09:01Agora,
09:01doutor,
09:02o senhor chamou
09:03de tecnicamente
09:04inqualificável,
09:05de vergonha,
09:07os votos dos ministros.
09:08O senhor estava falando
09:09aí a respeito
09:09de quantidade.
09:10Se a gente pegar o voto
09:11do ministro Alexandre de Moraes,
09:13que entrou na vaga
09:14do Teori Zavascki,
09:15que tinha pedido vista,
09:16ele decidiu ali,
09:18arbitrariamente,
09:19me parece,
09:20que 60 gramas
09:22de maconha
09:22poderiam ser
09:23usados
09:25para consumo pessoal.
09:26Quer dizer,
09:27o sujeito
09:27que for encontrado
09:29pela polícia,
09:29parado pela polícia,
09:31e tiver ali 60 gramas,
09:33é como se tivesse tudo bem
09:34e ele não estivesse
09:35cometendo crime algum.
09:36E pelo que o senhor
09:37está dizendo,
09:38e sempre foi um argumento
09:39nesse debate,
09:40eu, inclusive,
09:40sempre apontei isso,
09:42o traficante
09:43vai transportar,
09:44portanto,
09:45até 60 gramas
09:46e, se ele for pego,
09:48ele vai dizer
09:49que está transportando
09:50aquela quantidade
09:50para consumo pessoal,
09:52logo,
09:52não vai incorrer
09:53num crime.
09:55Esse é um dos pontos
09:56que me parece
09:57que o senhor está colocando
09:58e eu vi no seu discurso
09:59no Senado Federal
10:00que o senhor apontou.
10:02Eu queria que o senhor
10:03detalhasse um pouco
10:04o que o senhor pensa
10:05a respeito disso
10:05e quais seriam
10:06outros pontos
10:07desses votos
10:08que fez o senhor
10:09dizer que sente vergonha.
10:10Se você quantificar,
10:13por exemplo,
10:1460 gramas de maconha,
10:16de que maconha
10:17nós estamos falando?
10:19A gente está acostumado
10:20com essa maconha
10:21na década de 60, 70,
10:23que tinha uma concentração
10:25de THC,
10:26que é a principativa
10:27da maconha,
10:28ao redor de 1,
10:292%,
10:303%.
10:31Então,
10:32farmacologicamente,
10:33era uma maconha
10:34ainda muito fraca,
10:37mas quando você vê,
10:39por exemplo,
10:39você tem formas de maconha
10:40como o skunk,
10:42que é 20% de THC,
10:45que é um outro tipo
10:46de droga.
10:48Então,
10:48como é que você quantifica
10:49isso?
10:49Se alguém tiver
10:50com 60 gramas
10:52de skunk
10:53para falar
10:54que é para consumo
10:55pessoal,
10:56é ingênuo,
10:59no meu modo de ver,
11:00é ingênuo
11:00em termos da complexidade
11:03do mercado da droga.
11:04O mercado de drogas
11:05é muito dinâmico.
11:08Você vê,
11:09eu dou um exemplo
11:10nos Estados Unidos,
11:12que está tendo
11:12uma epidemia
11:13de opiáceo
11:14lá nos últimos 15 anos.
11:17É uma epidemia
11:18matando 700 mil
11:20americanos
11:23ao longo desses últimos
11:2412, 15 anos,
11:25mais ou menos
11:26o que morreu
11:26aqui no Brasil
11:27na pandemia.
11:30Isso está evoluindo.
11:32Agora surgiu
11:32uma nova associação
11:34que se coloca
11:37na droga
11:38lá dos opiáceos,
11:40do feitânio,
11:40que está matando
11:41mais ainda,
11:42que é uma droga
11:43que é usada
11:43em sedação
11:44de cavalos.
11:46Então,
11:46é só para ter
11:47essa complexidade,
11:49adicionar,
11:50que infelizmente
11:50o mercado,
11:52o clima organizado,
11:54ele é muito
11:55antenado
11:57a algumas
11:58inovações,
12:00entre aspas,
12:01do produto
12:02drogas.
12:03Nos Estados Unidos
12:03isso está custando
12:04a vida
12:04de milhares
12:07de americanos.
12:08E aqui no Brasil
12:09nós vamos ver
12:10isso também,
12:11à medida que
12:11hoje em dia
12:12aqui na cidade
12:14de São Paulo,
12:15por exemplo,
12:15as pessoas que têm
12:16mais recursos
12:16usam um tipo
12:18de maconha
12:18muito mais forte,
12:20a ponta
12:21deve chegar
12:21no cigarro
12:23eletrônico
12:24de maconha.
12:25Então,
12:25o Supremo
12:26querer ingenuamente,
12:28a melhor descrição,
12:30a mais benigna,
12:32a mais benevolente
12:33comentário
12:35que eu faria
12:36a esse voto
12:36é de uma ingenuidade,
12:38porque não entender
12:40essa complexidade
12:43do mercado
12:44da droga
12:44e você,
12:46vai ser resível
12:47historicamente
12:48se colocarem
12:50esse limite
12:50de 60 gramas
12:52que o ministro
12:53Alexandre Moraes
12:54colocou.
12:55Na evolução
12:56da história
12:58da produção
12:59e do mercado
13:01de maconha,
13:04mas das drogas
13:04no meio geral
13:05vai ser
13:05um fator
13:07de irrisível
13:09mesmo
13:10de ver
13:10que alguém
13:11escreveu
13:13uma bobagem
13:14dessa.
13:15Doutor,
13:16Carlos Graeb
13:16está aqui no estúdio
13:17também,
13:18tem uma pergunta
13:18para o senhor,
13:19a gente sabe
13:19que esse tema
13:20é amplo
13:21e a gente quer
13:22abordá-lo
13:22em vários aspectos.
13:24Diga, Graeb.
13:25Salve, Felipe.
13:25Boa noite,
13:26boa noite.
13:27Doutor Ronaldo
13:28Laranjeira,
13:29tudo bem?
13:30Tudo bem, Graeb.
13:31A minha pergunta,
13:33eu não estou querendo
13:34ser advogado do diabo
13:35e, na verdade,
13:37eu concordo
13:38integralmente
13:40com o que o senhor
13:41disse até agora,
13:42mas no trecho
13:44que o Felipe
13:45mostrou
13:46antes da gente
13:46começar o programa,
13:47da sua participação
13:48na audiência
13:50lá no Congresso,
13:52o senhor fala
13:53que existe
13:53um certo ativismo
13:55em relação
13:56à liberação,
13:57mas também
13:58me parece
13:59que existe
13:59um ativismo
14:00que quer bloquear
14:02qualquer espécie
14:03de discussão
14:04sobre drogas
14:07de outro lado,
14:09também existe
14:10um outro tipo
14:11de ativismo.
14:11Eu me lembro,
14:12por exemplo,
14:13do deputado
14:14Osmar Dias
14:15dizendo
14:17que se a Anvisa
14:19liberasse
14:19o plantio
14:20de maconha
14:21no Brasil
14:22para pesquisa
14:23medicinal,
14:24o órgão
14:25poderia até
14:25ser fechado,
14:26porque seria
14:27uma afronta
14:28à opinião
14:28do governo
14:29e tudo mais.
14:30Então,
14:31não é uma discussão
14:32que está
14:33espremida
14:35demais
14:35entre visões
14:37que são
14:38simplistas?
14:39Só um segundo,
14:40doutor,
14:41é só para confirmar,
14:42tá, Grae?
14:42É Osmar Dias
14:43ou Osmar Terra?
14:44Eu tenho dois.
14:45Perdão, Osmar Terra,
14:46obrigado.
14:46Osmar Terra, que é mais ativo
14:47nesse debate.
14:48não, só...
14:48É porque o Graeiro,
14:49de vez em quando,
14:50ele mistura nomes
14:51e sobrenomes
14:52aqui no programa
14:52e eu acho divertidíssimo.
14:53Ele compõe novas pessoas
14:55que às vezes
14:56tem tudo a ver.
14:57Mas só para separar,
14:59então,
14:59esse é o Osmar Terra.
15:00É Osmar Terra
15:01que eu queria mencionar.
15:03O Osmar Terra,
15:04ele é um deputado
15:07do Rio Grande do Sul
15:08que está ativo
15:09há mais de 25 anos
15:11lá no Congresso Nacional
15:13nesse debate
15:14e participa
15:15e teve aí um destaque
15:17também na época
15:18da pandemia, né?
15:21Assim,
15:22a gente chama atenção
15:22para o ativismo
15:23porque a mudança
15:25que ocorreu
15:26nos Estados Unidos,
15:28se você for ver,
15:28nos últimos 20 anos
15:30foi uma mudança
15:31muito programada,
15:34pensada,
15:36planejada
15:37e financiada, né?
15:40por grupos
15:41que têm interesse
15:45nisso, né?
15:46Você vai ver,
15:47há 25 anos atrás,
15:49a maconha nos Estados Unidos
15:50era considerada
15:51a erva do diabo
15:52e nem se discutia
15:53a legalização.
15:54Mas aí,
15:55a partir da Califórnia
15:57e grupos
16:00como o Jorge Soros,
16:01ele financiou
16:02grupos...
16:03Esses dados
16:04não vêm na minha cabeça
16:05é bem de estudo
16:07de fontes
16:08de recursos
16:09desses grupos
16:10mais organizados.
16:11Começou desde o plebiscito
16:13de flexibilizando
16:14as leis lá
16:15na Califórnia
16:16e que hoje em dia
16:17você tem mais
16:18de 12 estados
16:19americanos
16:20no número de foge
16:21que literalmente
16:23legalizaram
16:24o processo
16:25da venda,
16:26produção,
16:28venda e distribuição
16:29da maconha.
16:30Então, você tem
16:31um grupo,
16:33um lobby
16:34que, no meu lado de ver,
16:37é legítimo, né?
16:38Você defende
16:39essa visão
16:40de sociedade
16:41e acabou prevalecendo
16:43nos Estados Unidos
16:44e no Canadá,
16:46que são os dois
16:47grandes mercados
16:48de maconha,
16:51no caso.
16:52Então, assim,
16:53isso não acontece
16:54espontaneamente, né?
16:56Isso aconteceu
16:57de uma forma
16:57estruturada.
16:59Eu acho que no Brasil
17:00não é diferente.
17:01Você tem grupos
17:02que continuam sendo
17:03com muito menos
17:04vigor financeiro, né?
17:08Como teve nos Estados Unidos
17:10que foram literalmente
17:11milhões e milhões
17:12de dólares.
17:12Mas tem grupos
17:13que são financiados
17:15aí por essa via.
17:17Que eu, sinceramente,
17:18eu não acho isso
17:20muito...
17:21Não acho...
17:23É o fato da vida, né?
17:25Que tem grupos
17:26que vão financiar
17:27a sua visão de mundo, né?
17:29Então, acaba tendo...
17:31Isso não vem por acaso, né?
17:34Não é usuário de maconha
17:35que vai fazendo um lobby
17:37para legalizar a maconha.
17:38São grupos bem mais organizados
17:40e com mais financiamento.
17:42Obviamente, aí,
17:43o debate fica meio polarizado
17:45que os grupos de saúde,
17:48no qual eu me incluo, né?
17:50Você acaba tendo
17:51que polarizar o debate,
17:54um debate que eu sei
17:55que é mais complexo, né?
17:58E mais sutil,
18:00mas acaba o grupo de saúde, né?
18:03O grupo das famílias
18:04que são muito pouco ouvidos, né?
18:07Se a gente for ver,
18:08como eu falei,
18:10a maioria da população brasileira
18:12ela é contra a legalização,
18:15mas pelo tipo de ideias
18:18que são transmitidas
18:19pelos vários meios
18:20de comunicação,
18:21eu citei alguns,
18:22mas vários meios de comunicação,
18:23é que como se todo mundo
18:25no Brasil
18:25apoiasse a legalização das blocas,
18:28porque isso não é verdade.
18:30Então, você tem esse ativismo
18:32mais ativo,
18:33são grupos vocais
18:35e articulados
18:37e que defendem a ideia
18:39de liberdade de uso.
18:42São ideias que têm
18:42um grande apelo
18:44para vários grupos sociais
18:46importantes no Brasil.
18:48Mas se você for ver,
18:50se você tivesse um plebiscito,
18:51como teve no processo americano,
18:54teve vários plebiscitos
18:56da Califórnia
18:57e vários estados
18:58que votaram a favor
19:01de algum tipo de legalização
19:03para a maconha,
19:03foram votos estaduais.
19:06Tanto que a lei federal
19:07nos Estados Unidos,
19:08ela ainda proíbe
19:10o uso da maconha.
19:11São os estados
19:12que têm mais autonomia
19:13nos Estados Unidos
19:15e que botaram
19:16a legalização de fato
19:19e a organização do mercado
19:23de lojas,
19:25de distribuição,
19:26de plantação.
19:27Então, teve uma lógica
19:28que durou mais de 20 anos.
19:30E aqui no Brasil
19:31acaba não tendo
19:32um processo organizado
19:36em que a sociedade
19:37possa se posicionar
19:39de uma forma
19:40um pouco mais racional.
19:41Fica depois o debate.
19:42E o setor saúde,
19:44no qual realmente
19:45eu falo,
19:46que eu me incluo,
19:47nós não temos recursos,
19:49eu sou psiquiatra,
19:51sou professor,
19:52tenho salário
19:53de professor federal,
19:55eu faço isso
19:56no tempo livre
20:00e não sou financiado
20:02por nenhum tipo
20:03de interesse.
20:05E mesmo vários
20:06desses atores
20:07que acabam tendo
20:09um pouco mais de voz
20:10no grupo oposto
20:13à legalização,
20:14então acaba sendo
20:14um debate desigual.
20:16E eu tive essa oportunidade
20:17de anos e anos
20:18de falar com vários jornalistas
20:19que às vezes
20:20queriam ouvir minha opinião
20:21para colocar minha opinião
20:23dentro de um contexto
20:25para eu ser
20:25o caretão de plantão,
20:27que vai lá
20:28e fala a conta
20:28da maconha.
20:30Alguém na cota.
20:31E tive também.
20:33E tive, desculpe só,
20:35eu tive a oportunidade
20:36de participar
20:36de um debate
20:37da Folha de São Paulo
20:38que eu tive que sair
20:39escoltado,
20:40literalmente,
20:42sair de lá
20:44escoltado
20:44para defender
20:45essas ideias
20:45que eu estou defendendo aqui
20:46e o que eu defendo,
20:48eu tenho mais de duas centenas
20:49de artigos internacionais
20:51publicados nessa área.
20:52Eu tenho um argumento técnico
20:55que é sofisticado,
20:57sinto muito falar,
20:58mas eu tenho,
21:00mas num debate público,
21:02eu já fui,
21:03tive que sair escoltado
21:04da Folha
21:05e acabei ao longo dos anos
21:07tendo que me recusar,
21:09eu recuso,
21:09às vezes,
21:10eu gostaria de ir
21:11no Largo de São Francisco
21:13discutir
21:15essa questão,
21:16mas fui aconselhado
21:17por professores
21:18do próprio Largo de São Francisco
21:20a não ir,
21:21porque eu tenho essa tendência
21:22de ir com o peito aberto
21:24e ir para o debate intelectual,
21:26mas nem sempre
21:27que esses debates
21:27são intelectuais
21:29dessa forma
21:30que a gente está acostumado,
21:31nós perdemos um pouco
21:32o ativismo,
21:35embora seja legítimo,
21:37como o senhor disse,
21:38a gente sabe
21:38que tem muito autoritarismo,
21:41quer dizer,
21:42há muitos ativistas
21:43que defendem a sua bandeira
21:45tentando impedir
21:46o argumento contrário
21:48àquilo que eles estão defendendo.
21:50Já assisti
21:51a muitas vezes
21:52em que o senhor
21:52passou por debates
21:54bastante complicados
21:57e o senhor está contando
21:59que já teve que sair escoltado,
22:02mas mesmo nos debates
22:03midiáticos
22:05o senhor enfrentou
22:06diversos ativistas
22:07e defensores
22:08da descriminalização,
22:10como no programa
22:11Roda Viva
22:12que acabou tendo
22:12uma grande repercussão
22:13em 2013
22:14quando o senhor foi,
22:15eu assisti,
22:16eu escrevi artigo
22:17inclusive
22:17baseado em respostas
22:19que o senhor deu
22:20a vários defensores
22:22da descriminalização
22:23das drogas
22:24e eu considero
22:27muito importante
22:27trazer aqui
22:28para o Papo Antagonista
22:29como a gente fez ontem,
22:30trazendo a Eliana Calmon,
22:32a ex-ministra do STJ
22:33que tem críticas
22:34aos ministros do STF,
22:36trazer certas vozes
22:37dissonantes
22:38que muitas vezes
22:39não são repercutidas
22:41na grande,
22:42em boa parte da imprensa,
22:44não dá para a gente generalizar,
22:46mas em boa parte dela.
22:47Agora,
22:48trazendo aqui
22:49para o foco
22:49do dia a dia
22:50das pessoas
22:51até do nosso convívio,
22:53eu vejo que existe
22:54muita dúvida.
22:55qual é o ponto de vista
22:57do senhor
22:58sobre a gravidade
22:59do aumento
23:01do consumo
23:01da droga?
23:02Eu digo isso
23:02porque
23:03nos ambientes
23:04elitizados
23:05e me parece
23:06que os ministros
23:06do STF
23:07e diversos parlamentares
23:08vivem
23:09nesses ambientes
23:10de elite,
23:12você já tem
23:12uma naturalização
23:13do chamado
23:14uso recreativo
23:16da maconha.
23:17Então,
23:17aquelas pessoas
23:18não veem
23:18absolutamente nada de mais,
23:20pessoas que integram
23:21esses grupos,
23:22elas não veem
23:23absolutamente nada de mais
23:24em que a pessoa
23:25fuma e maconha,
23:28seja diariamente,
23:29seja no fim de semana,
23:31seja nas festinhas,
23:32as pessoas se acostumaram
23:33a ver essas centros
23:36e é como se aquilo
23:37não tivesse
23:37para elas
23:38qualquer consequência.
23:40Agora,
23:40o senhor tem
23:4040 anos
23:41de vida
23:42e testemunho
23:43sobre o que aconteceu
23:45em diversas famílias
23:46com usuários de drogas,
23:48eu pergunto
23:49qual é a diferença?
23:50Existe realmente
23:51esse uso recreativo
23:52sem consequência alguma
23:54isso quando a gente
23:55escala
23:56para uma descriminalização
23:58em nível nacional,
24:00isso vai deteriorando,
24:01vai demandando mais
24:02inclusive do setor
24:03de saúde pública,
24:05como é que a gente
24:05pode distinguir?
24:09Olha,
24:09é assim,
24:10se a pessoa
24:11tem lá
24:1130,
24:1240 anos
24:13e está fumando
24:14uma maconha
24:15ocasional,
24:17do ponto de vista
24:18de saúde pública,
24:19não tem significado nenhum,
24:20ele que fique lá
24:22dentro do seu
24:23aconchego,
24:24da sua casa,
24:25fumando maconha,
24:27e a repercussão
24:29do ponto de vista
24:29de saúde pública
24:30é muito limitada.
24:32Mas,
24:32à medida que você
24:34flexibiliza as leis,
24:36quem vai fumar
24:37não é essa elite
24:38da Vila Madalena,
24:41aqui de São Paulo,
24:42ou dos ambientes
24:43que são protegidos,
24:46quem vai fumar mais,
24:47vai começar mais
24:48precocemente,
24:49são os adolescentes,
24:51principalmente adolescentes
24:52pobres.
24:54Estados Unidos
24:54mostra isso,
24:55que quem,
24:56o grupo social
24:57que vai aumentar
24:58o consumo
24:59é principalmente
25:00a população
25:01negra americana
25:02que vai começar
25:04a fumar
25:05aos 14 anos
25:06e vai fumar
25:07uma maconha
25:08mais forte.
25:09Do ponto de vista
25:10de saúde pública,
25:13é um outro tipo
25:14de fenômeno.
25:15Então,
25:16o quarentão,
25:17o tiozão
25:18que fuma
25:19sua maconha lá,
25:20isso não me preocupa,
25:22não é uma prioridade
25:23de saúde pública.
25:24Agora,
25:25a adolescente
25:26que começa a fumar,
25:28no meu cenário
25:29de horror,
25:31começa a fumar
25:32cigarro eletrônico
25:34de maconha,
25:35isso não é
25:36nenhuma coisa
25:37de outro mundo,
25:38isso já está acontecendo
25:39nas classes
25:40mais abastadas.
25:42E não que o cigarro
25:43de maconha
25:43custe muito,
25:44100, 200 reais,
25:45você compra o cigarro
25:46eletrônico de maconha.
25:48Essa adolescente,
25:50a chance dele
25:51ter prejuízo
25:52cognitivo
25:53na escola,
25:55na memória,
25:56na capacidade
25:57de articulação,
25:58isso acontece
26:00muito frequentemente,
26:02a ponto de aumentar
26:03o risco de suicídio,
26:04aumentar o risco
26:05de transtornos psicóticos
26:06mais graves.
26:07Então,
26:08do ponto de vista
26:08de saúde pública,
26:10é um outro fenômeno.
26:11minha preocupação
26:12é esse tipo
26:15de efeito.
26:16No Brasil,
26:17os últimos levantamentos
26:19falavam que tinha
26:195, 6%
26:21dessa população
26:23usando
26:24maconha.
26:25Os dados
26:26mais recentes
26:27não publicados ainda
26:28já estão
26:28para 12%.
26:29Então,
26:29nós dobramos
26:30o número
26:31de usuários
26:31de maconha
26:32nos últimos
26:327,
26:338 anos.
26:34Nos Estados Unidos,
26:36esse número
26:36chega a 44%.
26:38Do ponto de vista
26:39de saúde pública,
26:40quanto metade
26:41da população jovem
26:43estão usando,
26:44independente
26:45da frequência,
26:45maconha,
26:46o impacto
26:47em termos
26:48de saúde mental
26:49é completamente
26:50diferente
26:51do que
26:52a gente se preocupar
26:54com o tiozão
26:56de classe média
26:57que quer fumar
26:58sua maconhinha.
26:59Não é isso
27:00que é o relevante
27:01do meu ponto de vista.
27:03O relevante
27:03é isso
27:04que a gente
27:04infelizmente vê
27:05como psiquiatra,
27:07é isso.
27:08Às vezes,
27:08aquele adolescente
27:10que começa
27:11por vários motivos
27:12e até
27:13a própria percepção
27:15de risco
27:16desses adolescentes.
27:17Esse debate
27:18faz muito mal
27:19no sentido
27:20da percepção
27:21de risco
27:22da maconha.
27:23É por isso
27:23que, às vezes,
27:23nós,
27:24profissionais de saúde,
27:24temos que
27:25deixar um pouco
27:27mais sóbrio
27:28a ideia
27:28de que a maconha
27:29não é uma erva natural.
27:31Se você for
27:32na internet,
27:32você vai ver
27:32que 99%
27:34das informações
27:35sobre maconha
27:36é isso,
27:36que a maconha
27:37não faz mal,
27:37que é uma erva natural,
27:38que faz menos mal
27:40que cigarro.
27:41É toda uma narrativa
27:42enjoativa
27:44que, para nós,
27:46profissionais de saúde,
27:46que vê as pessoas
27:47tendo surtos psicóticos,
27:49incapacitação na escola
27:51e as famílias
27:52vendo a queda
27:53de produção
27:54desses adolescentes,
27:56é meio, assim,
27:58muito violento
28:00para nós
28:00e principalmente
28:00para as famílias,
28:01ter que agarrar...
28:03Só um pontinho,
28:03doutor,
28:03só um pontinho,
28:04rapidamente,
28:05tem a questão
28:06da esquizofrenia também,
28:07aliás,
28:08eu vi um vídeo
28:08do senhor explicando
28:09a questão genética
28:10para rebater
28:11determinadas narrativas,
28:12que existiria
28:13uma predisposição,
28:14mas que pode
28:15não se manifestar,
28:17só que a maconha
28:17eventualmente
28:18facilita
28:19a manifestação
28:20da esquizofrenia?
28:22Sim,
28:22hoje em dia
28:23as doenças,
28:26ela não é assim,
28:27você tem um gene
28:28e você vai ter a doença,
28:29eu posso ter o gene
28:32da esquizofrenia,
28:34mas o fato
28:35de nunca ter fumado
28:36a maconha,
28:37o gene nunca
28:38foi acionado,
28:40na medida que você
28:41tem o dobro
28:42de adolescentes
28:42que se expõem
28:44à fumaça
28:45da maconha,
28:46ele vai ter mais chance
28:48de aqueles genes
28:49que estariam dormentes
28:51ali e não se manifestariam,
28:53eles vão ser acionados
28:54e vão poder...
28:55Vai ter depressão,
28:57vai ter esquizofrenia,
28:5815 a 20%
29:00dos novos casos
29:01de esquizofrenia
29:02são devidos
29:04ao aumento
29:05de maconha,
29:06é isso que os estudos
29:07mais modernos
29:08mostram,
29:09e a esquizofrenia
29:10é a pior doença
29:12em psiquiatria,
29:14porque ela é uma incapacitação
29:16para o resto da vida,
29:17então não é um detalhe
29:19você ter mais de 20%
29:22de esquizofrênicos
29:23no mundo,
29:24principalmente no mundo
29:24desenvolvido
29:25que tem mais acesso
29:26a essas maconhas
29:27mais fortes,
29:28teve estudo
29:29publicado no Lancet
29:30das principais capitais
29:32europeias,
29:33onde aconteceu
29:34exatamente isso,
29:35jovens que usam
29:38essas maconhas
29:38mais fortes
29:39como um skunk
29:40têm risco maior
29:42de ficar esquizofrênico
29:43e 20%,
29:45a esquizofrenia
29:46é uma doença
29:46pouco frequente,
29:481%,
29:49você pode falar,
29:49mas vai ser 1%
29:50dessa população
29:51que vai ficar
29:51o resto da vida
29:52incapacitado,
29:54dependendo da família,
29:55porque o Estado
29:56não vai dar
29:59o suporte
30:00para essas pessoas
30:02que desenvolvem
30:03transtorno mental
30:04crônico,
30:05vai ser um peso
30:07para as famílias,
30:08é isso que está
30:09em jogo
30:09no julgamento
30:11da Associação
30:12Brasileira de Psiquiatria
30:13e das pessoas
30:14que têm
30:14o mínimo contato
30:15com esse problema.
30:17Carlos Glebre,
30:18professor,
30:19uma preocupação
30:21que é descartada
30:23por muitas das pessoas
30:25que falam
30:25sobre consumo
30:26de maconha,
30:26é que a maconha
30:28não vicia,
30:30é muito difícil
30:31ela viciar.
30:33Então,
30:33eu queria que,
30:33de um lado,
30:34o senhor falasse
30:36sobre maconha
30:38e vício
30:39e também
30:41que falasse
30:42um pouco
30:43sobre
30:43outros efeitos
30:46possíveis
30:47do uso,
30:48principalmente o precoce,
30:49a que o senhor
30:49estava se referindo,
30:50porque não necessariamente
30:53a pessoa
30:54vai desenvolver
30:55um vício,
30:56mas
30:56me parece
30:58que o uso
30:59precoce
30:59da maconha
31:01pode acarretar
31:03outros prejuízos
31:05ao desenvolvimento
31:05cognitivo
31:06e tudo mais.
31:07Então,
31:08eu gostaria que o senhor
31:08comentasse
31:09ou falasse
31:10sobre esses dois aspectos,
31:11maconha e vício
31:13e outros
31:14possíveis
31:15prejuízos
31:16ao desenvolvimento
31:18mental
31:18do jovem
31:19que consome
31:20maconha
31:20e que não
31:21eventualmente
31:22vai virar
31:22um viciado.
31:25Se você vê,
31:26por exemplo,
31:27você fala
31:27o chá
31:29de cocaína
31:30usado
31:31nos Andes
31:33por centenas,
31:34milhares de anos
31:34nunca viciou ninguém.
31:36Por quê?
31:37Por causa
31:38que a cocaína
31:39na forma
31:40de chá
31:41tem um efeito
31:42energético
31:43e que não
31:44causa dependência.
31:46Mas a mesma
31:47cocaína
31:47na forma
31:48de crack
31:49causa uma
31:50dependência
31:51absurda
31:52que nós temos
31:53aqui em São Paulo.
31:54Essa
31:54realidade
31:56nos esfregando
31:57na cara
31:58o potencial
31:58da mesma
32:00cocaína
32:01que na forma
32:01de chá
32:02não causa
32:02dependência
32:03e na forma
32:03de crack
32:05causa uma
32:05dependência
32:06desesperadora.
32:08A mesma coisa
32:09com a maconha.
32:10Se você pegar
32:10aquela maconha
32:11de Woodstock
32:13talvez
32:15eu já tenha
32:16eu não vivi
32:18Woodstock
32:19mas
32:19a cultura
32:20de Woodstock
32:21aquela maconha
32:22não viciava.
32:23Mas
32:24a maconha
32:25que se tem
32:26hoje
32:26que é uma maconha
32:29muito mais forte
32:30o que vai
32:33causar
32:34dependência
32:34de uma droga
32:35é
32:35a concentração
32:38daquela droga.
32:39você fala
32:39a cerveja
32:41causa dependência
32:42a cerveja
32:44é 5%
32:45de álcool
32:45é mais difícil
32:46alguém
32:47consumir
32:48um grande
32:49volume
32:49de cerveja
32:50a ponto
32:51de se tornar
32:51dependente
32:52da cerveja.
32:53Muito embora
32:54mas se você
32:55tomar uísque
32:56ou pinga
32:57que tem uma
32:57concentração
32:58de 40
32:5845%
32:59de álcool
33:00você tem
33:00a chance
33:01muito maior
33:02de ficar
33:03dependente.
33:04A mesma coisa
33:05é a maconha.
33:07Os livros
33:08da década
33:09de 90
33:10falavam exatamente
33:11que a maconha
33:12não causava
33:12dependência
33:13da década
33:14de 90
33:14do século
33:15desse último século
33:16dos últimos 20 anos
33:17não tem
33:18esse é um assunto
33:20pacificado
33:21que causa
33:21dependência
33:22mais ou menos
33:2330%
33:24dos usuários
33:26de maconha
33:26não tem algum
33:27nível de dependência
33:28porque a maconha
33:29era mais forte
33:29essa é a explicação
33:31mais
33:32que a gente
33:33tem que entender
33:34essa complexidade
33:35não tem como
33:36você fica com
33:37uma visão geral
33:38maconha não
33:38causa dependência
33:39não
33:39depende da maconha
33:41essa maconha
33:42que a gente está
33:42tendo aqui
33:43e mesmo nos Estados Unidos
33:44os próprios locais
33:47de venda legal
33:48da maconha
33:48estão produzindo
33:49maconhas cada vez
33:50mais fortes
33:51a ponto até
33:52mais forte
33:53do que o tráfico
33:54de drogas
33:56nos Estados Unidos
33:57porque eles cultivam
33:58geneticamente
33:59a maconha
34:00e acaba criando
34:00uma maconha
34:01bem mais
34:02poderosa
34:03causadora
34:04de dependência
34:06mais vigorosa
34:07então assim
34:08que causa dependência
34:10causa
34:10e vai causar
34:11cada vez mais
34:11porque essas maconhas
34:12vão vir mais
34:13poderosas
34:14e as pessoas
34:14vão estar
34:15o mercado
34:16ilícito
34:17ou lícito
34:18vai estar
34:19ofertando
34:20maconhas
34:21cada vez mais
34:22impactantes
34:24do ponto de vista
34:25cerebral
34:25e causadoras
34:26de dependência
34:26agora
34:27no outro lado
34:30da moeda
34:30mas a mesma coisa
34:31essas maconhas
34:33mais
34:34poderosas
34:37usadas
34:38no cérebro
34:39em desenvolvimento
34:40a gente tem que saber
34:41que dos 15
34:42até os 25 anos
34:43o cérebro
34:44está em desenvolvimento
34:45vigoroso
34:46o cérebro
34:47da criança
34:48está se preparando
34:49do cérebro
34:50do adulto
34:51aí você
34:52ter
34:52expor
34:53o cérebro
34:54do adolescente
34:55a essas maconhas
34:56vai desregular
34:58a memória
34:58atenção
34:59concentração
35:01aquilo que a gente
35:02chama de função
35:03executiva
35:04que é a capacidade
35:05de pensar
35:06planejar
35:07executar
35:08uma coisa
35:09após a outra
35:09é por isso
35:10que o estereótipo
35:11social
35:12do usuário
35:13de maconha
35:13é aquele cara
35:14que não
35:15fica violento
35:16fica lá
35:17deitado
35:19sem fazer nada
35:20sem ficar produtivo
35:21e ficar
35:22um dependente
35:23econômico
35:24da família
35:25então os dados
35:26americanos
35:26já mostram isso
35:27que os usuários
35:29adolescentes
35:30de maconha
35:30ficam
35:31não terminam
35:32um colégio
35:33não acaba
35:33a profissionalização
35:34e fica
35:36num tipo
35:38de dependência
35:39econômica
35:40das famílias
35:41isso já está
35:42acontecendo aqui
35:42no Brasil
35:43de você ver
35:44algumas gerações
35:45aí de pessoas
35:46que às vezes
35:47têm filhos
35:48e não conseguem
35:49cuidar dos seus filhos
35:50isso a gente vê
35:51todo dia
35:51que os usuários
35:54de maconha
35:55eles têm filhos
35:55mas têm filhos
35:56mas não conseguem
35:57trabalhar
35:58e acaba tendo
35:59efeito
35:59da segunda geração
36:00os avós
36:01que deveriam
36:02só estar
36:03mimando os filhos
36:04tendo que cuidar
36:05dos netos
36:06pagando colégio
36:07pagando um monte
36:07de coisa
36:08porque os filhos
36:08usuários de maconha
36:09não conseguem
36:10trabalhar
36:10ou se consegue
36:11trabalhar
36:12trabalha
36:12num nível
36:13muito básico
36:14que esse
36:14que é o efeito
36:15da maconha
36:15não precisa nem
36:16falar
36:17das pessoas
36:19ficarem esquizofrênicas
36:20ou ficarem
36:20deprimidas
36:21os quadros
36:22psiquiátricos
36:23maiores
36:24mas tem essa queda
36:26de rendimento
36:28que impacta
36:30inclusive nos filhos
36:31dos usuários
36:32de maconha
36:32doutor
36:34professor
36:35tem mais uma
36:35pergunta para o senhor
36:36mas só registrar
36:37aqui algumas mensagens
36:38no nosso chat
36:39Silvia Naldoni
36:40diz que foi sua aluna
36:41com muito orgulho
36:42dá parabéns
36:42pela sua coerência
36:43de sempre
36:44obrigada por todo
36:45conhecimento que passa
36:46sem dificuldade
36:47com tanta segurança
36:48Kelly Gameltorp
36:50diz que esquizofrenia
36:51é triste
36:52e o Estado
36:52não está preparado
36:54a Beth Papa
36:55diz debate honesto
36:56muito bom
36:56Milita Bares
36:57diz
36:58eu acho que o STF
36:59não foi eleito
37:00e não poderia decidir isso
37:01a competência
37:02é do Congresso Nacional
37:03muita gente participando
37:04aqui no chat
37:05e eu vejo
37:06doutor
37:07há 10 anos
37:08pelo menos
37:08desde aquela roda
37:10da qual o senhor
37:11participou
37:11que o senhor
37:12rebate
37:13aquela alegação
37:14de que a tendência
37:16no mundo todo
37:16é da descriminalização
37:18e muitas vezes
37:20no debate nacional
37:21a gente vê
37:22ativistas
37:23apelando
37:23a esse discurso
37:25de que em tantos países
37:27isso aconteceu
37:28etc
37:28às vezes os ativistas
37:29nem sequer estão
37:30preparados
37:31para detalhar
37:32aquilo que acontece
37:33nos outros países
37:34mas é um certo
37:35argumento
37:36de autoridade
37:37eles dizem
37:38que tantos países
37:39ou nos países
37:40de primeiro mundo
37:41isso já acontece
37:42o Brasil portanto
37:43está atrasado
37:44precisa correr atrás
37:45o que o senhor avalia
37:48agora
37:4810 anos depois
37:49eu vejo que o senhor
37:50ainda continua
37:51rebatendo
37:53e talvez
37:54para trazer ali
37:54um elemento específico
37:56que se tornou
37:56até mais folclórico
37:58quer dizer
37:58todo mundo sabe
37:59que em Amsterdã
38:00na Holanda
38:01você tem o acesso
38:03liberado
38:04a maconha
38:04etc
38:05é o que esses casos
38:06específicos
38:07trazem
38:08como experiência
38:09para a gente
38:09eu acho que assim
38:12faz parte
38:12dessa
38:13da mitologia
38:15da argumentação
38:16de um debate
38:17polarizado
38:18você criar
38:19factoides
38:20para poder
38:21alimentar
38:22a narrativa
38:23do discurso
38:24mas quando você vê
38:26o pessoal
38:28que defende
38:28a legalização
38:29teve uma reunião
38:30em Nova Iorque
38:31há uns 5 anos
38:31atrás
38:32que a própria
38:33mídia brasileira
38:35fala
38:35não
38:36as Nações Unidas
38:37vão legalizar
38:38a maconha
38:39que vai ter lá
38:39nessa reunião
38:40lá em Nova Iorque
38:41e não aconteceu
38:43nada
38:43porque
38:44basta você ter
38:47ido numa reunião
38:48multilateral
38:49desse assunto
38:50e você vê
38:51que o pessoal
38:52o Japão
38:54por exemplo
38:55o Japão
38:56eles tem
38:57consumo de maconha
38:58de 0,5%
39:00da população japonesa
39:01mesmo na China
39:04na Malásia
39:06Singapura
39:08nos países
39:09nórdicos
39:10que já tiveram
39:11políticas mais
39:12liberalizantes
39:14e voltaram
39:14refluíram tudo
39:15mesmo a
39:17Holanda
39:18que agora
39:19está cada vez
39:20mais restrito
39:21quem pode
39:22comprar
39:23maconha
39:24nos coffee shops
39:25não é você ir lá
39:27não sendo holandês
39:29que você vai lá
39:30entrar
39:30você não faz
39:32mais isso
39:32então existe
39:33toda uma
39:34política que é
39:35difícil fazer
39:36a Holanda
39:37por ter
39:39assumido
39:40essa postura
39:41mas se você
39:42fala lá
39:43se você visita
39:43a Holanda
39:44não só em
39:45Amsterdã
39:46no Red Light
39:47District
39:48mas você vai
39:48para os outros lugares
39:49os holandeses
39:50não tem tanto
39:51atitude tão favorável
39:52à legalização
39:53então é essa
39:54complexidade
39:56que às vezes
39:57a narrativa
39:59do discurso
39:59apaixonado
40:00vai levando
40:02a gente quer
40:03nos convencer
40:04ou convencer
40:05a sociedade
40:06brasileira
40:08que
40:08perdemos a guerra
40:11às drogas
40:12então agora
40:13nós temos que
40:14legalizar tudo
40:15essa é uma narrativa
40:16empobrecedora
40:18do meu modo de ver
40:18primeiro que nunca
40:19teve uma
40:20guerra às drogas
40:21no Brasil
40:21teve uma falta
40:23de política
40:24mas nunca tivemos
40:25política de prevenção
40:26às drogas
40:27nunca tivemos
40:27uma política
40:28coerente
40:30minimamente coerente
40:31às drogas
40:33então nunca houve
40:33uma guerra
40:34às drogas
40:34houve uma reação
40:35descoordenada
40:39de vários tipos
40:40de políticas
40:41de drogas
40:42no Brasil
40:42nunca houve
40:43uma perseguição
40:44aos usuários
40:46de drogas
40:46repito de novo
40:47se você vai
40:48na Cracolândia
40:49tem alguma
40:50toma 25 anos
40:52convivendo
40:53com a Cracolândia
40:54se tivéssemos
40:54uma sociedade
40:55absolutamente
40:57intolerante
40:58aos usuários
40:59as pessoas
41:02já teriam sido
41:02presas
41:03eles sofrem
41:04muito mais
41:05violência
41:05entre si mesmos
41:07lá na Cracolândia
41:08ou em relação
41:08ao próprio crime
41:09organizado
41:10do que
41:12com uma violência
41:13policial
41:14o lugar mais policial
41:15da cidade de São Paulo
41:16é a Cracolândia
41:17mas de alguma forma
41:19vai para
41:19proteger
41:21os usuários
41:22infelizmente
41:23acaba protegendo
41:25até o próprio
41:25crime organizado
41:27do que
41:27uma violência
41:28contra os usuários
41:30então acho que faz
41:31tudo parte
41:32dessa narrativa
41:34de que nós temos
41:35que jogar a toalha
41:36e a legalização
41:38seria
41:38a melhor solução
41:40que resolveria
41:41todos os nossos
41:42problemas com as drogas
41:43o crime
41:44organizado
41:45iria vender
41:45flores
41:46em Copacabana
41:47essa tipo
41:48de figura
41:50acaba prevalecendo
41:51nessa narrativa
41:52quando o mundo
41:53é mais complexo
41:54que isso
41:54e eu não tenho dúvida
41:56que se
41:57não precisa ir longe
41:59mas se você for
41:59nos países escandinavos
42:01você vai ver
42:01que não se fala
42:03isso
42:03de legalização
42:04que eles já
42:05abandonaram
42:06essa política
42:06e vários
42:07desses outros países
42:08que eu mencionei
42:09não tem esse debate
42:10tão fácil
42:12que infelizmente
42:13está prevalecendo
42:14aqui no Brasil
42:15Quando eu falei
42:17aliás
42:17que eu escrevi
42:18a respeito
42:19da sua participação
42:19naquele Roda Viva
42:20foi justamente
42:21sobre esse ponto
42:22em que o senhor
42:22diz que
42:23na verdade
42:23a guerra às drogas
42:24nunca existiu
42:25no Brasil
42:25se aceita
42:26essa premissa
42:27muitas vezes
42:28em discussão
42:29mas como o senhor
42:30falou
42:31aquele conjunto
42:32de medidas
42:33devidamente
42:33organizado
42:35em nível
42:36nacional
42:36e até
42:37com uma integração
42:38estadual
42:39municipal
42:39nunca houve
42:41porque
42:42há reações
42:43policiais
42:44em determinadas
42:44localidades
42:45e aí
42:46há escândalos
42:47de excesso
42:47de abuso
42:48então se pega
42:49tudo aquilo
42:50para fazer
42:51um caldeirão
42:51e dizer
42:52que não funciona
42:53que é uma
42:54alegação geral
42:55quando algum
42:56ativista
42:57quer
42:57emplacar
43:00a sua agenda
43:01e pronto
43:02só que o debate
43:03obviamente
43:03é muito mais complexo
43:04é só para indicar
43:05aqui aos nossos
43:05espectadores
43:06que esse meu artigo
43:07é FHC
43:08maconha
43:09e o fracasso
43:09entre aspas
43:10da repressão
43:11inexistente
43:11publicado
43:12na minha coluna
43:13na Veja
43:13em 29 de dezembro
43:15de 2014
43:16ali no ano seguinte
43:17a participação
43:18é do doutor
43:19Ronaldo Laranjeira
43:20no Roda Viva
43:21e eu citei ali
43:21várias declarações
43:22que ele deu
43:23Graeb
43:23tem uma última
43:24pergunta para o senhor
43:24Diego
43:25professor
43:26qual seria
43:27a seu ver
43:28o melhor ponto
43:29de partida
43:30para uma discussão
43:31consequente
43:33sobre
43:34uma legislação
43:37uma política
43:38sobre o uso
43:39de drogas
43:40no Brasil
43:40olha Graebi
43:42eu
43:43engatando
43:44até no comentário
43:45do Felipe
43:45eu acho que
43:46quem comanda
43:48a política
43:48de drogas
43:49no Brasil
43:49é o crime
43:50organizado
43:51é o crime
43:52organizado
43:53de norte
43:55a sul
43:56se você for
43:56no interior
43:58do nordeste
43:59hoje em dia
44:00você vai ter
44:00o crime organizado
44:02vendendo drogas
44:03lá
44:04então
44:04nas grandes cidades
44:07sei lá
44:07na Cracolândia
44:08nós estimamos
44:09por pesquisa
44:09que a Cracolândia
44:11por mês
44:11gira em torno
44:13de uns 9 milhões
44:14de orçamento
44:17para o grupo
44:18que atua lá
44:19cada usuário
44:20da Cracolândia
44:21gasta em média
44:22140 reais
44:23por dia
44:24de crack
44:25e o dinheiro
44:25vem de fruto
44:26de crime
44:27de prostituição
44:28de roubos
44:30e tudo mais
44:31então
44:32do ponto
44:33para mim
44:34assim
44:34lógico que
44:35eu sou psiquiatra
44:37e o meu foco
44:38é a saúde
44:39então poderia
44:41facilmente falar
44:42vamos começar
44:42pela saúde
44:43pela prevenção
44:45nas escolas
44:46políticas preventivas
44:48eu pensaria
44:50em políticas preventivas
44:51para começar
44:52nos municípios
44:54eu não acredito
44:54que o Estado
44:56o Governo Federal
44:58vai fazer
44:59uma grande política
45:00de drogas
45:01no Brasil
45:02isso eu não vou ver
45:03do tempo
45:05que me resta
45:06da minha vida
45:06isso eu não vou ver
45:07mas eu acredito
45:08que alguns municípios
45:10poderiam se transformar
45:11em modelos
45:12que seja
45:13de prevenção
45:13nas escolas
45:14e intolerância
45:15ao tráfico
45:16nas cidades
45:16porque mesmo
45:17no interior
45:17de São Paulo
45:18que tem uma grande
45:18estrutura social
45:20o crime organizado
45:22prevalece
45:23você tem
45:23nas pracinhas
45:25das pequenas cidades
45:26do Estado
45:27de São Paulo
45:28que tinha
45:28na minha geração
45:30tem aquele
45:31ideal meio romântico
45:32da pracinha
45:33do interior
45:33hoje em dia
45:34essas pracinhas
45:35viraram pontos
45:35de tráfego
45:36em todas as cidades
45:37do Estado
45:38de São Paulo
45:39então assim
45:40um ramo
45:42seria de você
45:43tentar
45:43políticas municipais
45:45consistentes
45:46integradas
45:47e que ousasse
45:48ter uma determinação
45:50como sei lá
45:50na Islândia
45:51o melhor programa
45:52de prevenção
45:53é na Islândia
45:54um país
45:55de 250 mil habitantes
45:57que consegue fazer
45:59uma política
45:59de prevenção
46:00muito vigorosa
46:02e que é um modelo
46:03para o mundo
46:04mas é um país
46:05de 250 mil habitantes
46:06e que poderia ser feito
46:07em cidades
46:08aqui no Brasil
46:11então acho que
46:11esse seria um bom começo
46:14para se articular isso
46:15mas os municípios
46:16são muito
46:18pouco
46:19eles têm
46:21pouco conhecimento
46:22articulação
46:23eles têm muita boa vontade
46:24vejo isso acontecendo
46:26você vê que tem pessoas
46:27muito motivadas
46:28mas a gente
46:29não falta articulação
46:31conhecimento
46:32e como fazer
46:33um programa
46:33de 5, 10, 15 anos
46:34para fazê-lo surgir
46:37numa cidade
46:37no interior do Brasil
46:39por outro lado
46:40desculpa me alugar
46:41mas eu acho que tem
46:42a questão emergencial
46:44que é o crime organizado
46:45o crime organizado
46:47e o consumo de drogas
46:48ele é um fenômeno
46:49que está consumindo
46:52a sociedade brasileira
46:53está consumindo
46:54a democracia
46:55está consumindo
46:56o sistema
46:57os municípios
46:59as câmaras municipais
47:01vários processos
47:03de
47:04de contratos
47:06públicos
47:08no Brasil
47:08eu acho que o crime organizado
47:10não dá para a gente
47:11ter uma ingenuidade
47:13vamos fazer um grande
47:14projeto de prevenção
47:15que vai durar 15 anos
47:16eu acho que em 15 anos
47:17prevalecendo
47:18o crime organizado
47:20nós vamos estar
47:21num
47:22narco-estado
47:24mas tem esse conceito
47:25de que alguns países
47:26que foram perdendo
47:28alguns países africanos
47:30se transformaram
47:31em narco-estado
47:32e a própria Venezuela
47:34no meu modo de ver
47:35também se transformou
47:36num narco-estado
47:37e o meu medo é que
47:38o Equador está indo
47:39pelo mesmo caminho
47:40aparentemente
47:41tivemos agora
47:42um candidato
47:42à presidência da república
47:43assassinado
47:44por narcoterroristas
47:45então me parece
47:46que é uma realidade
47:48cada vez mais comum
47:50aqui na América Latina
47:51e no Brasil
47:52o poder
47:52é muito grande
47:54de fato
47:54doutor
47:54um detalhezinho
47:56para encerrar
47:56o senhor argumenta
47:58então que
47:59mesmo com a
48:00descriminalização
48:00do porte
48:01não se liquida
48:03a venda
48:05e obviamente
48:05o lucro
48:06por parte
48:07de narcotraficantes
48:08porque muitas vezes
48:09eles vendem
48:10um produto
48:11com uma concentração
48:12maior
48:13e eventualmente
48:14a um preço melhor
48:15seria isso
48:15na sua avaliação
48:16eles acabam
48:18até se apropriando
48:20de grandes áreas
48:20públicas
48:21você pegar
48:22o que acontece
48:23na Califórnia
48:24o norte da Califórnia
48:25o crime organizado
48:27ele dominou
48:28todo o norte
48:29da Califórnia
48:30tem até
48:31um filme
48:33na Netflix
48:34sobre isso
48:35mas eu acompanho
48:37muito a Califórnia
48:37porque ele é
48:38um estado teste
48:39um estado maravilhoso
48:41sob vários aspectos
48:43eu sou um grande
48:43fã da Califórnia
48:44mas ela está sendo
48:45destruída
48:46em parte
48:47pelo crime organizado
48:48o crime organizado
48:49ele é muito mais
48:50dinâmico
48:51ele faz produções
48:53mais fortes
48:55da maconha
48:56mas ele está
48:56mesmo nos Estados Unidos
48:58o estado da Califórnia
48:59Seleção Francisco
49:01é uma cidade
49:03contaminada
49:04pela droga
49:05pelos sem-tetos
49:08de uma forma
49:09que a gente não reconhece
49:10mais São Francisco
49:11hoje
49:12do que era
49:12há 20 anos atrás
49:13mas o estado
49:15da Califórnia
49:15e aqui
49:16como você bem falou
49:17na América Latina
49:19você tem
49:20vários focos
49:21de narco-estado
49:23quer seja
49:24no Equador
49:24a ponto
49:25do próprio
49:26São Salvador
49:26que assumiu
49:28um novo
49:28presidente lá
49:29que teve que
49:30prender 65 mil
49:31pessoas
49:32e destruindo
49:33as gangues
49:34para o país
49:34ter o mínimo
49:35de segurança
49:38lá em relação
49:38às gangues
49:39e ao crime organizado
49:41então você começa
49:41não só
49:43a invasão
49:44do crime organizado
49:45em vários setores
49:46da sociedade
49:47mas algumas
49:48posturas
49:51bem mais
49:51radicais
49:52para resolver
49:53um negócio
49:54que poderia
49:54ter uma dinâmica
49:56seguindo as regras
49:58democráticas
49:59mas precisaria
49:59de um estado
50:00e de uma sociedade
50:01mais vigorosa
50:03e que não se encantasse
50:04com esse canto
50:05fácil
50:06da sereia
50:07da legalização
50:08doutor Ronaldo Laranjeira
50:11aliás
50:12várias coisas
50:13que o senhor falou
50:13me lembraram
50:14um tweet meu
50:15de 10 anos atrás
50:1529 de maio
50:16de 2013
50:17falei
50:17em nome do consumo
50:19recreativo
50:19de drogas
50:20pelos adultos
50:21sempre se chegará
50:22ao consumo
50:23de drogas
50:23pelas crianças
50:24no recreio
50:25quer dizer
50:25foi até a questão
50:26que eu coloquei
50:26para o senhor
50:27e o senhor
50:28acabou citando
50:30esses dois lados
50:31o tiozão
50:32que usa
50:32de modo recreativo
50:34esporadicamente
50:35e acaba tendo
50:37muitas vezes
50:37uma bandeira
50:38de descriminalização
50:39mas quando você
50:40toma uma decisão
50:41dessa
50:42que envolve
50:42uma larga escala
50:43as crianças
50:45os adolescentes
50:46acabam aumentando
50:47o seu consumo
50:48pessoas pobres
50:49sem tanta estrutura
50:51e aí gera
50:52todo um drama familiar
50:53o estado
50:54eventualmente
50:54não dá conta
50:55e eu acredito
50:56que o senhor
50:56em todas essas décadas
50:57testemunhou
50:58muitas famílias
50:59desestruturadas
51:00pelo vício
51:02de usuários
51:02ou pelo uso
51:03contínuo
51:04com todos
51:04esses prejuízos
51:05que o senhor citou
51:06agradeço imensamente
51:07sua participação
51:08aqui no Papo Antagonista
51:09doutor Ronaldo Laranjeira
51:11senhoras e senhores
51:12a gente sempre vai trazer
51:13aqui vozes dissonantes
51:14para debater
51:16os assuntos
51:16de uma maneira
51:17mais aprofundada
51:18para vocês
51:18boa noite
51:19bom trabalho
51:19boa noite
51:20eu agradeço
51:21a oportunidade
51:22e aí
51:27e aí
51:27e aí
51:28E aí
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