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A estudante universitária Verena Paccola nasceu em Campinas, fez pesquisa na UFMG com um mentor de Harvard, fez pesquisa no hospital Albert Einstein, formou-se na Unicamp como técnica de enfermagem, estudou neurociência em Vancouver, no Canadá, representou o Brasil em Assembleia da Juventude na ONU, descobriu mais de 25 asteroides em projeto da agência especial americana Nasa, ganhou três medalhas, um certificado e um troféu do Ministério da Ciência e Tecnologia em 2021 e atualmente cursa Medicina na USP.

“Não sei se deu para perceber, mas eu sou muito inquieta”, disse Verena ao jornalista Felipe Moura Brasil, no Crusoé Entrevistas.

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Transcrição
00:00Salve, salve, sejam bem-vindos a mais um Cruzoé Entrevista, eu sou Felipe Moura Brasil e tenho
00:13uma convidada muito especial hoje, é a Verena Pacola, estudante de medicina da USP, ela é a
00:19brasileira que descobriu mais de 25 asteroides para a NASA e a gente quer conhecer a história dela,
00:26assim como de outros estudantes brasileiros de destaque aqui no Brasil e no exterior.
00:31Verena, seja bem-vinda aqui ao Estúdio Antagonista em São Paulo, tudo bem com você?
00:35Tudo ótimo, muito obrigada pelo convite e estou bem ansiosa para a nossa conversa aqui.
00:41Imagina, é uma honra para a gente receber estudantes brasileiros que estão se destacando, a gente
00:45acabou transitando lá num espaço comum na Brasil Conference em Boston, nos Estados Unidos,
00:52em abril, eu estive lá, você esteve, porque ali se reúne uma série de interesses, de curiosidade,
00:59conhecimento, pessoas de diversas áreas e eu fiquei encantado com tanta gente qualificada
01:05que eu conheci lá e quis trazer isso para uma reportagem, para uma série de entrevistas
01:10especiais, já conversei com o Matheus Farias, pretendo conversar com a Sara Borges e todos
01:14vocês vão encontrar essas entrevistas aqui no canal.
01:17Verena, em primeiro lugar, antes da gente falar da descoberta de asteroides, o que
01:23que levou você para a medicina?
01:25Eu sou de uma família de médicos, eu conheço bem a área.
01:28Então, eu não sou de uma família de médicos, eu sou a primeira e eu não sei dizer o que
01:34me levou para a medicina, sempre foi algo muito inato, quando eu era pequena eu gostava
01:38de ler sobre os cinco sentidos, gostava de ler sobre o corpo humano, brincava que eu era
01:43médica.
01:44Então, assim, sempre foi bem inato e sempre que perguntam isso eu fico meio sem resposta,
01:50assim, porque realmente eu nasci com essa afinidade.
01:54É, tem muita gente da área da medicina que decide muito cedo, que resolve muito cedo,
01:59que tem uma identificação muito grande, eu vi isso na minha família, entre as pessoas
02:03próximas também.
02:04Foi o seu caso?
02:05Adolescente já sabia o que ia fazer e ia ser médica?
02:08Nunca cogitei outra faculdade, essa foi uma sorte que eu tive na vida, porque vejo
02:12o pessoal sofrendo para decidir o que vai prestar, onde, eu sempre sonhei em fazer
02:18medicina na USP.
02:19É, agora tem esse desafio de ser a primeira médica da família, eu sei que eu sou o primeiro
02:22jornalista, assim, do núcleo familiar, e aí você estudou para a faculdade e você
02:28já visava entrar na USP.
02:30Olha, era o meu sonho já, mas eu acabei seguindo um caminho diferente.
02:37Eu me formei como técnica de enfermagem na Unicamp, me formei em 2017, faz um tempo
02:43já.
02:44E eu estou no quarto ano da medicina, então se você for contar, não bate.
02:48Mas quando eu acabei o ensino médio, eu passei um ano fazendo pesquisa com neurociência
02:52computacional para crianças do espectro autista no Albert Einstein, aqui em São Paulo.
02:57Que legal!
02:58E do Einstein eu fui para o Canadá fazer neurociência, porque lá no exterior, medicina
03:02é pós-graduação.
03:04E eu via ir para o exterior como o único caminho para fazer essa parte acadêmica que
03:09eu gostaria de fazer.
03:11Tudo isso antes da USP?
03:13Antes da USP.
03:14Quer dizer, você já estava estudando neurociência no exterior antes de entrar para a faculdade?
03:19É.
03:20Para explicar um pouco melhor, no meu último ano de ensino médio, eu fui fazer uma pesquisa
03:25na UFMG com um mentor de Harvard e ele me contou como funcionava fazer pesquisa no exterior.
03:30E eu falei assim, pô, tem que ir para o exterior, então se eu quiser fazer pesquisa, né?
03:35Estou vendo que as coisas são um pouco diferentes.
03:37E foi quando eu coloquei essa ideia na cabeça, quando eu coloco uma coisa na cabeça para
03:42tirar, é difícil.
03:44E daí eu falei assim, eu vou para o exterior.
03:45Daí eu fui fazer pesquisa no Einstein, fui realmente para o exterior.
03:48Daí nesse caminho eu fui para a ONU representar o Brasil na Assembleia da Juventude.
03:52Daí eu me apaixonei mais ainda para sair aqui, para expandir minha visão de mundo, né?
03:57E foi indo, mas lá a medicina é pós-graduação.
04:01Você faz quatro anos de graduação, faz uma pós em medicina, mesma coisa para direito,
04:05eu acredito.
04:06E foi quando, por questões principalmente financeiras, mas também porque eu vi que o
04:12melhor caminho para eu seguir na medicina seria realmente no Brasil, se eu quisesse me
04:16formar como médica.
04:18Com essas questões financeiras tudo, então eu retornei para o Brasil e prestei...
04:23Tive meses para usar para o vestibular depois de três anos longe do ensino médio, e eu
04:28fiz ensino médio público.
04:30Então, assim, muitas matérias eu já não tinha tido.
04:33Então eu aprendi do zero para prestar a prova e entrar na USP.
04:37E você nasceu no interior de São Paulo?
04:39Isso.
04:40Qual é a cidade?
04:41Eu nasci em Campinas, mas passei minha infância em Salto.
04:45Uma cidade bem pequena.
04:47Salto?
04:48Salto.
04:49Do lado de tu.
04:50E Ribeirão Preto, na sua vida, entra onde?
04:52Na USP.
04:52Na USP.
04:54Ah, tá.
04:54Porque lá é o campus de medicina, e aí você foi para lá.
04:57Mas você é de Salto, cidade ali do interior paulista.
04:59Isso.
05:00Eu moro, minha família atualmente mora em Deatuba, do lado de Salto, mas cresci nas
05:04duas cidades.
05:04E esse estudo no exterior antes da USP foi em qual cidade?
05:08Foi em Vancouver, no Canadá.
05:09Vancouver, no Canadá.
05:10Passou uma friaca danada lá.
05:12Não sabe que não.
05:13É, porque eu estou achando que você gosta de frio, né?
05:15Eu gosto de frio.
05:16Eu estava falando antes aqui que Ribeirão Preto é muito quente.
05:19Muito quente, mas é uma ótima cidade, a faculdade não tenho nada contra o Amos, mas é uma cidade
05:26quente.
05:27Meu Deus, derrete lá.
05:29E aí, como é que aconteceu essa história de você fazer uma experiência com a NASA,
05:35eles têm um programa para estrangeiros, você fez daqui virtualmente, você foi de novo
05:40para os Estados Unidos.
05:41Como que aconteceu isso na sua vida?
05:43Não, legal.
05:44Como eu estava contando, eu voltei do Canadá e coincidiu com o começo da quarentena.
05:50Então, foi aquele primeiro ano de quarentena, 2020.
05:53Além de ter que começar a estudar para o vestibular pela primeira vez e rever tudo de
05:58ensino médio que eu não via há três anos e talvez nem tivesse aprendido, eu tinha que
06:02ficar trancada no meu quarto.
06:04E assim, não sei se deu para perceber, mas eu sou muito inquieta.
06:07Eu gostava, eu queria estar no hospital, eu queria estar fazendo pesquisa, eu queria
06:11estar em tal evento, eu queria estar, assim, no mundo.
06:15E tive que ficar trancada no quarto estudando coisa de ensino médio.
06:18Para mim foi uma tortura.
06:20Tortura, assim, meu Deus, gente.
06:21Além da pressão do vestibular.
06:23E foi quando...
06:24Mas o fato de ter que ficar em casa também acaba empurrando para o estudo, né?
06:27Também.
06:28Ajudou, mas o que me move, assim, realmente é essa paixão por estar adquirindo novos conhecimentos.
06:36E fora de casa, né?
06:38No mundo a gente consegue muitos, mas foi quando eu comecei a pesquisar oportunidades online
06:43e descobri que eu podia aprender a caçar asteroides fazendo um treinamento.
06:48Isso você descobriu num portal de internet.
06:51É, eu pesquiso sempre muitas oportunidades, assim.
06:55E me deparei com essa e falei, ah...
06:58Mas você já tinha algum interesse por astronomia ou qualquer coisa parecida?
07:03Já, sou muito curiosa.
07:05Eu falo que o que une, para mim, a medicina e a astronomia, a ciência espacial,
07:13é o desafio, assim, é a curiosidade, porque tem muita coisa para descobrir.
07:17Minha área preferida na medicina é o cérebro.
07:19Eu gosto de neuro, eu quero ser neurocirurgiã.
07:22E, assim, o cérebro ainda é um mistério para a gente.
07:24A gente não sabe, acho que nem metade do que tem para saber do cérebro.
07:27E a mesma coisa é do espaço.
07:28Então, sempre foram duas áreas que me chamaram muita atenção.
07:32E tem todo um estudo sobre a relação entre os astros e o cérebro.
07:36Você também se interessa por isso?
07:39Sim, numericamente é bem semelhante.
07:41Agora, qual é o mecanismo para descobrir asteroides e você fez isso de casa?
07:47Quer dizer, eles têm um programa para você monitorar o espaço e você passou a se interessar
07:52e se tornou uma expert nesse programa? Como é que é?
07:54Então, eu participei da primeira edição do Caça Asteroides no Brasil.
07:59Foi feito pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações.
08:03Em 2020, participei dessa edição, mas é um programa que acontece internacionalmente,
08:09em todos os países, várias vezes ao ano é gratuito.
08:12Você baixa um software, faz o treinamento deles,
08:15e você passa a receber imagens de um telescópio que está no Havaí.
08:19E você faz a análise pelo software dessas imagens, uma análise numérica, visual,
08:25e envia um relatório para a Harvard e eles analisam se há ou não asteroides
08:29para comunicar à NASA.
08:31Mas você que identifica os asteroides por meio desse programa,
08:37que traz imagens resultantes de um telescópio no Havaí, é isso?
08:41Ah, sim, vou te explicar um pouco melhor.
08:43É para tentar fazer com que o nosso espectador consiga visualizar mais ou menos a ferramenta.
08:48Não, vou explicar então para todo mundo que está assistindo.
08:51Olha lá, quero ver, olha para a câmera, Verena, vamos lá.
08:53É assim, eu faço treinamento e passo a receber pacotes de imagem
08:57de um telescópio que está no Havaí.
09:00Cada pacote é composto por quatro imagens, que são tiradas sequencialmente.
09:04Então, se são tiradas sequencialmente,
09:06todo mundo concorda que tem uma diferença de tempo
09:09entre a primeira e a última imagem.
09:11Então, o que eu analisava no software
09:13é o que mudou no espaço naquele período de tempo.
09:17Então, quando eu notava algo se movendo em uma órbita,
09:20ou o que eu achava que poderia ser uma órbita,
09:23eu fazia análise numérica desse asteroide, desse objeto,
09:27para ver se era um asteroide ou não.
09:29E são aquelas imagens que a gente está acostumado a ver do espaço,
09:32um fundo preto com um monte de brilho de estrelas?
09:35É uma imagem meio cinza, assim, com os pontinhos pretos.
09:40Ai, é confuso, assim.
09:43É uma imagem cinza em péssima qualidade.
09:45Não, a gente está conseguindo a visualização.
09:46Péssima qualidade com os pontinhos pretos.
09:48Ou você pode inverter o padrão de cores também do preto e branco.
09:52E aí você faz uma busca ali, um monitoramento,
09:54e ir raciocinando por meio lógico a questão do tempo, do espaço,
09:58dando zoom.
09:59Isso.
10:00Analisa cada pedaço.
10:02Tem que ter muita paciência, assim.
10:03E aí tem um asteroide que é considerado fraco,
10:08que é um dos mais relevantes para ser descoberto,
10:11e você descobriu um desses, foi isso?
10:12Isso.
10:13É, então, eu descobri 25 asteroides,
10:16eu acho que mais até durante esse programa de caça asteroides,
10:21e me convidaram para receber uma medalha de honra ao mérito brasileira.
10:24E eu fui receber.
10:26E eu achava que eu ia receber só a medalha,
10:28só a medalha, que era isso.
10:29E quando eu cheguei lá, eles me deram a medalha e me deram também um troféu,
10:34porque um dos asteroides que eu detectei é classificado como asteroide fraco.
10:39Que é um asteroide que não teria sido detectado por softwares automáticos,
10:45ou por pessoas normalmente, e eu consegui detectar.
10:48E normalmente são os que caem na Terra, assim.
10:51Cai asteroide todo dia na Terra.
10:53É, a gente acabou pulando alguns conceitos.
10:55Você sabe conceituar asteroide?
10:57Para o nosso público leigo, o que é um asteroide?
11:01Tá, falando assim, eu também não sou da área de astronomia,
11:04só da área da saúde.
11:06Mas o que eu aprendi, estando envolvida com esse assunto agora,
11:09é que asteroides são fragmentos que sobraram da formação inicial do nosso sistema solar.
11:15Então, eles podem ser, por exemplo, compostos de rochas ou metais,
11:20e eles circulam principalmente entre Marte e Júpiter.
11:23É a órbita principal de asteroides que a gente tem no nosso sistema.
11:27E é onde eu analiso normalmente para achar.
11:30E tem muitos que caem?
11:33Isso.
11:34Todo dia cai, não sei a quantidade certa agora,
11:37do peso que cai de coisas espaciais na Terra.
11:42Mas cai asteroide todo dia na Terra.
11:44E vira meteorito, né?
11:46Ou vira pó e a gente nem fica sabendo.
11:48Mas em geral não rende nenhum perigo.
11:52Não, é estrelacadente.
11:53Sabe quando você vê estrelacadente no céu?
11:55Sim.
11:56E faz pedido.
11:57Isso.
11:57Ah, isso a gente sabe, a gente faz, né?
11:59Na dúvida...
12:00É um asteroide.
12:01É um asteroide.
12:03Ah, muito bom saber.
12:04E aí, a partir daí, o que mudou na sua vida?
12:08Tudo.
12:10Então, nesse período...
12:11Várias portas se abriram.
12:13Demais.
12:13Nesse período, além de descobrir os asteroides,
12:16o meu objetivo principal era entrar em medicina na USP.
12:20E eu alcancei.
12:21Então, foi tudo no mesmo período.
12:22Quem me ajudou a receber minha medalha
12:24foi a USP, que financiou minha ida.
12:26E eles publicaram.
12:27Quando eu retornei com a medalha e com o troféu,
12:30eles publicaram minha história no jornal da USP.
12:32E disso, viralizou no Brasil.
12:35E você entrou pelo vestibular.
12:37Ah, eu já era aluna.
12:39Já estava acabando o primeiro ano de medicina,
12:41quando me chamaram para receber a medalha.
12:43Porque até então, a pandemia não permitia a gente
12:46ter essa entrega de medalhas presenciais, tudo.
12:49Então, quando foi permitido,
12:52a USP me mandou para Brasília para receber essas coisas.
12:55E quando eu voltei, eles publicaram minha história.
12:58E do jornal da USP, viralizou, assim,
13:01de um jeito que eu não consegui assimilar até hoje.
13:03Daí, foi uma loucura.
13:04Daí, eu participei de um monte de programas de TV.
13:07Fui chamada para um monte de coisa.
13:09Virei personagem da Turma da Mônica.
13:11Que é o negócio mais legal da minha vida inteira.
13:13Gente.
13:13Não, conta essa história para a gente.
13:15Como é que é virar personagem da Turma da Mônica?
13:17Nossa, é muito doido.
13:19Eu não sei, eu não consegui entender ainda.
13:21O Maurício de Souza agora é meu melhor amigo.
13:23Te amo, Maurício.
13:25Você teve contato com ele?
13:27Sim.
13:28Que ótimo.
13:29Eu recebi uma homenagem da Turma da Mônica
13:32do dia das meninas e mulheres na ciência.
13:35Criaram uma personagem.
13:37E depois disso, já fui gravar podcast com eles, com a Mônica, filha do Maurício.
13:43Gravei podcast com ela.
13:45Aí conheci o Maurício e ele é apaixonado pelo espaço.
13:48O Maurício ama.
13:49Ama espaços.
13:50Ele é uma figura extraordinária, né?
13:51Eu falo porque eu era mulher que lia as rebistinhas da Turma da Mônica.
13:56Na época de férias saía o amanac da Turma da Mônica.
13:59É o manacão e tal.
14:01E é um incentivo para a leitura para as crianças.
14:05E ver que ele continua incentivando, chamando você, dando destaque, usando como referência.
14:10É um trabalho todo educativo.
14:13Sim.
14:13Por meio das imagens, por meio das histórias.
14:16E nós, jornalistas, amamos histórias.
14:17A gente está aqui ouvindo a sua história.
14:19E o Maurício de Sousa fez isso de uma maneira fascinante.
14:23Fica aqui a reverência.
14:24Muitas vezes é chamado de Walt Disney brasileiro.
14:26Só que ele é essa figura singular.
14:28Eu aprendi a ler com os quadrinhos, com as histórias dele.
14:31Então, tem que irado.
14:33Personagem.
14:33E em relação aos Estados Unidos, você teve uma oportunidade de conhecer a NASA porque você descobriu asteroides?
14:44Acredita que não.
14:45Não? Não convidaram você aí? Então fica aqui o protesto.
14:48NASA está na hora de vocês mostrarem aí os departamentos, os foguetes, para a Verena,
14:55que descobriu mais de 25 asteroides, inclusive um fraco para vocês.
14:59Sim. Eu queria muito dar essa oportunidade.
15:01Eu não sei se as coisas teriam sido diferentes se não fosse pandemia, quando tudo aconteceu.
15:07Mas é. Mas eu ainda não estive lá.
15:10E aí, a vez seguinte que você voltou aos Estados Unidos, assim, não para turismo,
15:16mas para alguma questão acadêmica, foi na Brasil Conference?
15:19Que eu voltei.
15:20Eu sempre tive muita conexão, assim, de ver os laboratórios de pesquisa lá.
15:25Então, por exemplo, no meu período lá em Boston, eu conheci pessoalmente agora, né,
15:30o doutor Leonardo Riella, que fez aquele transplante, você ouviu falar do rim de suíno para humano?
15:37Ah, sim, eu ouvi.
15:38E ele é brasileiro.
15:39É, muito legal.
15:41Precisamos entrevistá-lo também, hein? Vamos anotar aí para você.
15:43Ah, ele é incrível, assim, acho que ele vai ganhar o Nobel ainda em um futuro prévio.
15:48E foi muito legal.
15:50Então, sempre tive esse contato.
15:51A faculdade de medicina cobra muito, muito da minha presença física e mental.
15:56Então, às vezes fica difícil eu estar fora do país.
16:00Mas, como eu já te disse, também tinha feito projetos com a ONU, né?
16:04Estive na ONU para representar o Brasil na Assembleia da Juventude.
16:09Onde isso?
16:11Lá.
16:11Você esteve?
16:12É, em Nova York.
16:13Lá em Nova York.
16:14Na ONU mesmo.
16:15Sim, no prédio da Assembleia.
16:18É, vi aquela salona lá da ONU.
16:21Nossa, foi muito legal.
16:22Então, sempre muito envolvida, mas não necessariamente presencialmente.
16:27E Harvard tem alguma conexão aí com a medicina que possa levar você a realizar estudos por lá?
16:34Sim.
16:34Porque você se interessou pelos laboratórios.
16:36Eu vi que o Matheus, inclusive, fez um tour lá com você para mostrar.
16:39Sim.
16:40O meu sonho era ir para Harvard.
16:43Sim.
16:44Tipo, um dos meus sonhos é estar em Harvard.
16:47Sempre sonhei com isso.
16:47Te contei que eu tinha feito pesquisa com um mentor de Harvard durante o meu último ano do ensino médio.
16:53E eu quero muito voltar.
16:56Eu não vejo a hora de voltar para Harvard.
16:58Eu não sei ainda exatamente quando da minha graduação que vai ser.
17:02Mas é incrível, assim.
17:04A estrutura.
17:05O que você viu lá de laboratório, de equipamento, que mais chamou a sua atenção?
17:11Além do ambiente universitário, que, claro, é muito acolhedor.
17:15Sim.
17:16Eu acho que atualmente estou me envolvendo cada vez mais com a área do empreendedorismo.
17:21Ah, contando até ainda dessas coisas que aconteceram malucas, né?
17:24Depois que a minha história foi contada, eu entrei para o Forbes Under 30.
17:28Pois é, está lá no seu registro, na conta de Instagram da Belenna, tem todos esses títulos já.
17:34Está ficando um pequeno espaço de descrição para caber isso tudo.
17:39Como é que foi essa história?
17:40Você entrou como?
17:42Sempre fui muito ligada na lista da Forbes.
17:44Tipo, um sonho, assim, parecia muito distante, mas sempre acompanhei quem estava na lista do Under 30.
17:49Mas essa lista do Under 30, quer dizer, sub 30 anos, ela é em relação a quê?
17:56A pessoas que estão desenvolvendo coisas interessantes, ela é aberta a todas as áreas ou é mais restrita a uma área específica?
18:03Até o ano passado, que foi o ano que eu entrei, eram 15 categorias diferentes.
18:07E eles selecionam os jovens de maior destaque do país para entrar e ser destaque em cada uma dessas categorias.
18:14E eu entrei na área de ciência e educação.
18:16Você entrou como uma das 15 pessoas selecionadas do Brasil para disputar?
18:23Não, a Forbes Brasil tem a lista fechada do Brasil.
18:28Sim, a Forbes Brasil.
18:29Então, eles selecionam os jovens de maior destaque aqui no Brasil.
18:32Certo.
18:33Dentro dessas 15 categorias.
18:34Eu não sei exatamente quantas pessoas que são no total, mas eu fui destaque da ciência e educação.
18:41E aí, antes de você falar isso, você estava contando sobre Harvard?
18:45Foi só um parêntese aqui para mais uma qualificação.
18:50Não, é porque tem ligação, porque depois disso eu acabei criando muitos contatos e me envolvendo muito com esse meio do empreendedorismo.
18:57E conhecendo muitas empresas, né?
18:59Porque a visibilidade que isso dá é muito grande.
19:01Então, foram muitas portas que foram abertas e eu tenho muito interesse por inovação.
19:05Isso.
19:06Então, fui aproveitando essas oportunidades e gostando cada vez mais da área de inovação.
19:13E é notável que em Harvard a parte de inovação é muito avançada.
19:18Eles investem muito nisso.
19:20Então, é uma área que eu quero explorar mais lá.
19:24E inovação em que ponto exatamente?
19:26Porque inovação em termo genérico, você diz inovação tecnológica, são equipamentos, é mais essa área?
19:31É, é o desenvolvimento de novas inovações para a área da saúde, né?
19:37Então, quem está à frente das novas tecnologias de inteligência artificial, de novos produtos físicos mesmo, né?
19:44Protótipos, de diversas áreas, senhor.
19:48E qual é a área da medicina que mais fascina você?
19:51Neuro.
19:52É, a neurociência continuou sendo.
19:54Você deu uma volta ali de enfermagem, estudou neurociência, depois foi para a USP,
19:59mas continua buscando o caminho dessa especialização?
20:02Nunca mudei de ideia sobre a neuro, sempre foi.
20:06Que ano você está da faculdade?
20:07Quarto ano.
20:08Quarto ano.
20:09E você pensa em fazer, por exemplo, uma residência no exterior, algo assim?
20:13É, então, agora eu estou nessa fase de...
20:15Eu estava até agora falando com os neurocirurgiões para ver o que eu ia decidir,
20:20se eu quero fazer residência aqui ou fora.
20:23E eu acho que eu vou prestar as provas para o exterior mesmo.
20:26E sempre está, chama Step, tem Step 1, Step 2.
20:31E daí agora eu estou vendo esse novo universo, porque é tudo diferente aqui e lá.
20:35É a mesma coisa de vestibular, é tudo diferente o acesso.
20:38Então...
20:39E são quantos anos a faculdade de medicina da USP está no quarto?
20:43Faltam dois.
20:44Uhum.
20:45E para a gente caminhar aqui para o final, e o Instagram?
20:49Fran, você faz vídeos, faz stories o tempo todo, você gosta de movimentar as suas redes,
20:56porque existe hoje todo um universo de influenciadores e influenciadoras.
21:01Às vezes tem pessoas que olham com olhos críticos, às vezes muita gente fica com a impressão
21:08de que as pessoas estão lá mostrando vídeo, postando, etc.
21:12E eventualmente não estão se preocupando com os estudos.
21:15E essa é a preocupação que a gente fica, assim.
21:17Mas as pessoas não estão estudando também, não estão se qualificando.
21:21Evidentemente que as suas conquistas, elas mostram que você sempre se dedicou.
21:25Aliás, você era aquela pessoa que sentava na frente da sala, que copiava toda a matéria,
21:31que era vista como pessoa mais dedicada, aplicada.
21:35Você era assim na escola?
21:37É, as pessoas acham que eu tenho facilidade, mas a verdade é que eu sempre fui muito dedicada.
21:41Tem um esforço muito grande.
21:42Sim, uma vontade de aprender, assim, muito grande.
21:46Em relação ao Instagram, eu estava numa festa junina outro dia, e aí eu fui conversar
21:50com um médico, que é membro da Academia Nacional de Medicina, inclusive, um médico excelente,
21:54com uma cabeça muito boa.
21:56E nós estávamos falando sobre isso, sobre influenciadores, etc.
21:59Ele falou, ah, já tem uma piada no meio médio.
22:02Claro que é uma síntese cômica, não é a descritiva totalmente da realidade, sempre
22:07há exceções.
22:08Mas ele falou, assim, olha, hoje só faz residência quem é ruim de Instagram.
22:15É pra dizer, assim, tem muita gente fazendo sucesso nas redes sociais e acaba ganhando dinheiro
22:21com isso.
22:22Acaba conseguindo permutas, acaba conseguindo patrocínio de marcas, eventualmente, mesmo na área
22:28científica, você pode fazer propaganda de determinado equipamento, determinado medicamento, etc.
22:33Mas você, com o seu interesse pra neurociência, você vê essa movimentação virtual como algo
22:41que pode auxiliar a abrir portas, mas que evidentemente não substitui o seu trabalho, a sua vocação
22:48médica.
22:48É, eu acho que a parte de Instagram e de eu postar coisa lá foi uma consequência da minha história ser divulgada.
22:56Claro.
22:56As pessoas procuraram saber onde ela vive, o que ela come.
23:01Foi pra isso que nós chamamos você aqui, Verena.
23:04Olha, o que que Verena come, onde ela vive, de onde veio alguém que teve todas essas conquistas.
23:13E, na verdade, foi uma responsabilidade que eu senti, que eu passei a ter, né, porque,
23:18por exemplo, quando eu tive esse estalo, foi quando eu acordei e vi uma solicitação
23:23de mensagem no meu Instagram falando assim, oi, Verena, minha filha é de sete anos, tive
23:27ontem na TV e agora ela quer ser médica astronauta.
23:31Exatamente.
23:31Aí eu falei assim, ó o poder que contar a minha história pode ter na vida de uma
23:35garota, porque, assim, mulher, falando como mulher, a gente sabe a dificuldade que é
23:40ser mulher nesse mundo e como é difícil a gente arranjar nosso espaço, historicamente
23:44falando.
23:45As coisas estão tendendo a melhorar, é óbvio, mas eu passo por situações quase que diariamente
23:50por ser mulher, sabe?
23:51Então, ainda não é fácil.
23:53Então, eu tá me...
23:54Você citou um exemplo de inspiração e é isso que a gente busca aqui, né, citar,
23:59mostrar a sua história, a de outros estudantes que estão se destacando para inspirar as
24:04pessoas, porque a gente quer justamente que os brasileiros se dediquem, se qualifiquem,
24:08busquem conhecimento para poder investir no Brasil, inclusive, e trazer esse retorno para
24:13a sociedade.
24:13Continue, por favor.
24:15Não, e daí foi essa responsabilidade, eu notei que tinha o poder de inspirar meninas
24:20e, para mim, isso é muito importante, elas terem a consciência que o lugar delas é
24:25onde elas quiserem estar.
24:26Claro.
24:26Se elas quiserem ser médicas, astronautas, caçar asteroides, fazer astrofísica, estar
24:33no Ghibi da Mônica, estar em qualquer coisa, eu acho que essa imagem que ficou muito importante
24:40para...
24:40Agora você citou uma palavra muito importante, que é esforço, dedicação.
24:44Então, não se chega a todas essas conquistas sem isso, né, às vezes até as pessoas têm
24:51talento, etc, mas se não lapidar o talento, se não correr atrás, não aparecem essas
24:57oportunidades todas, né, e eu vejo que você está correndo, obviamente, eu trago uma provocação
25:02aqui para a gente sempre refletir sobre o mundo virtual também, mas eu mesmo venho,
25:05meu trabalho acabou sendo exposto pelas redes sociais.
25:08E durante muito tempo eu fui ali publicando meus artigos, minhas crônicas e ganhando
25:17seguidores e aí isso foi ampliando, veio um momento muito turbulento do cenário político
25:22brasileiro, então a comoção nacional em torno daqueles temas sobre os quais eu falava
25:30ela aumentou muito, então a minha visibilidade foi crescendo imensamente até que um grande
25:34veículo falou, opa, vem aqui, vou contratar você, vou remunerar você para você continuar
25:40fazendo esse trabalho exatamente como você faz nas redes sociais.
25:43Então, assim, para mim, essa história, eu tenho uma afinidade tremenda, porque começou
25:48a haver uma procura pelo meu trabalho e aí você citou um ponto que eu acho muito interessante,
25:54que é a curiosidade sobre a sua vida.
25:56É muita gente que fica curiosa sobre a sua vida e a maneira de você saciar um pouco
26:01dessa curiosidade, mostrar aquilo que você está fazendo, é você mesmo a produzir conteúdos
26:06para muitas pessoas ao mesmo tempo, porque senão você tem que responder uma a uma, né?
26:09E é óbvio que a gente busca dar atenção a todo mundo, mas às vezes você faz um vídeo
26:14que já sacia aquela curiosidade, certo?
26:17Sim, é, mas o Instagram, assim, é uma coisa bem secundária na minha vida, porque, poxa,
26:22fazer faculdade em período integral é uma faculdade tão puxada e eu tenho minhas prioridades
26:27muito claras na minha cabeça, então, assim, eu quero meu diploma e isso é inegociável.
26:32Então, eu quero ser uma boa médica, eu tenho, assim, notas excelentes na faculdade
26:36e, para mim, tipo, o Instagram não vai me atrapalhar nisso, entendeu?
26:40Mas sempre que eu vejo, agora, por exemplo, estou de férias essa semana, já volto semana
26:44que vem para a faculdade, mas daí já movimento mais o Instagram, já consigo mostrar mais
26:49coisa aqui, ali, mas eu acho que é muito importante também ter esse foco em prioridades.
26:56Claro.
26:57Sua prioridade é estudar, é conseguir realizar o seu sonho e a sua vocação.
27:03E, para a gente encerrar, a sua família.
27:05Eu soube que a sua avó ficava muito orgulhosa da sua conquista.
27:10Como é que foi essa relação e o encantamento com esse universo que você acabou abrindo?
27:16Ah, legal.
27:16Minha família, minha mãe e minha avó, na verdade.
27:19Nunca conheci meu pai.
27:20Então, as duas me criaram, duas mulheres fortes criando uma nova mulher, assim.
27:25Então, eu falo que sou uma mulher criada por mulheres lutando por mulheres.
27:30E eu quero dar o nome dos meus asteroides, o nome da minha avó, o nome da minha mãe,
27:35se eu puder nomear.
27:36Claro, sempre.
27:38E ela, ah, muito feliz, óbvio.
27:40Me apoiando sempre.
27:41Eu cresci ouvindo que eu poderia ser o que eu quisesse ser da vida.
27:44Então, de bailarina, que eu gostava de fazer balé, até astronauta, que eu também tinha
27:48interesse.
27:49Então, o que eu quisesse fazer, eu sempre tive muito apoio.
27:52Isso foi uma sorte muito grande que eu tive na vida, né?
27:55Então, isso foi essencial para a minha curiosidade em explorar o mundo.
28:00Quer dizer que você gostaria de dar aos asteroides que você descobriu os nomes da sua mãe e da
28:05sua avó?
28:05Isso.
28:06Quais são os nomes, você pode dizer?
28:07Rochelle e Natália.
28:09Belos nomes de asteroides.
28:10Verena, e em relação ao futuro, se você pudesse mandar uma mensagem mesmo para os demais
28:19estudantes no Brasil, agora que você conseguiu abrir tantas portas, que você está num caminho
28:24aí muito legal para se qualificar, fica essa mensagem do esforço, de correr atrás, de
28:30procurar as oportunidades?
28:33Isso, eu acho que as coisas principais que eu foco diariamente são, na verdade, três
28:38palavras que eu repito em uma base diária, várias vezes por dia, que a primeira é
28:44curiosidade, que a gente está falando aqui.
28:46Então, explorar o mundo, fazer pergunta e, principalmente, ir atrás dessas respostas,
28:52né?
28:52A segunda palavra é coragem, que não vai ser fácil.
28:57Não é fácil passar por barreiras, quebrar barreiras que existem historicamente, né?
29:04Como é o caso que eu abordei aqui da mulher, né?
29:06Na ciência, tudo.
29:07Então, ter coragem de ir atrás, de explorar essas curiosidades que você tem.
29:12A terceira palavra é empatia, porque não adianta nada você ter o conhecimento e não
29:16saber como usar, não saber olhar para a pessoa do seu lado e ver, entender o que ela está
29:20passando.
29:21Então, essas três coisas são o maior conselho que eu poderia dar e é o que eu uso todos
29:25os dias.
29:25Maravilha, já está com uma palestra pronta aqui, a Verena.
29:28Empatia é fundamental, a comunicação com o outro, com o paciente, no meio médico.
29:34Tem muita gente que acredita, e eu tenho amigos médicos também, que ensinam a respeito disso.
29:39É que é só chegar lá e ver qual é o problema e esquece que tem uma pessoa ali que você precisa
29:45realmente atender e que, em geral, quando está atrás de um médico, está passando por alguma
29:49dificuldade, né?
29:50Então, essa noção, ela de fato é muito importante.
29:53Verena Pacola, estudante de medicina da USP, brasileira, que descobriu mais de 25
29:59asteroides para a NASA.
30:01Muito prazer, uma honra ter tido essa conversa com você.
30:04O prazer é todo meu.
30:05Obrigada mais uma vez pelo convite e foi muito bom.
30:09Obrigado a você, Verena.
30:10Cruzou a entrevista, mais uma edição.
30:12A gente vai continuar aqui trazendo novos talentos sempre dos estudantes brasileiros
30:17de destaque aqui no Brasil e no exterior.
30:19E não esqueçam que o Papo Antagonista, o programa que eu apresento, em que eu faço
30:24análises também, junto com a nossa equipe de colunistas e repórteres, está na TV,
30:28no canal BMC News, de segunda a sexta-feira, às 18 horas.
30:33Aqui no canal de YouTube de O Antagonista, você encontra também todo o nosso conteúdo.
30:37Um grande abraço e até a próxima.

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