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Felipe Moura Brasil conversa com três estudantes brasileiros de destaque. A primeira entrevista é com o pernambucano Matheus Farias, um ex-aluno da UFPE que desenvolveu um sistema para os semáforos do Recife. Ele foi o primeiro brasileiro PhD em Engenharia na Universidade Harvard, nos Estados Unidos.

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Transcrição
00:00Salve, salve, sejam bem-vindos, eu sou Felipe Moura Brasil, esse é mais um Cruzoé, entrevista
00:16hoje muito especial, porque eu fui em abril para Boston, nos Estados Unidos, para a Brasil
00:21Conference, onde eu participei como mediador, palestrante de debate, naquela conferência
00:27que reúne um monte de gente do Brasil, e eu conheci vários estudantes brasileiros de
00:32universidades americanas, inclusive de Harvard, onde o evento era sediado, e também é do
00:38MIT, e um desses estudantes que eu conheci é o Matheus Farias, estudante brasileiro de
00:45Harvard, e diz ele, ele vai explicar isso para a gente, primeiro brasileiro PhD em engenharia
00:52em Harvard, Matheus, seja muito bem-vindo aqui ao Estúdio Antagonista em São Paulo,
00:57é uma honra ter você com a gente.
00:59Felipe, uma satisfação total estar aqui, seu programa, Felipe é um amigo que a gente
01:03se conheceu lá na Brasil Conference, se divertiu muito, inclusive viu o Eclipse junto lá.
01:07É verdade, o Eclipse, pessoal, todo lá espalhado no campus de Harvard, vendo o Eclipse coincidiu
01:13com a Brasil Conference, parece que foi combinado, e estava um momento muito divertido, todo mundo
01:20lá colocando aquele óculos especial que foi distribuído ali, de uma maneira muito
01:24organizada, bem americana.
01:27Matheus, é uma alegria ter você aqui com a gente.
01:29Então explica, você já é PhD ou vai ser PhD?
01:32Você está para ser o primeiro brasileiro a obter esse título?
01:37E o que é exatamente, para quem não sabe?
01:38Legal.
01:39Então, Felipe, eu estava fazendo graduação em engenharia eletrônica na UFPE, a Federal
01:43de Pernambuco, e aí fiz vários projetos ali durante a graduação, me senti competitivo
01:48quando fui chegando perto do final da graduação, e uma coisa que é um pouco incomum aqui para
01:52o Brasil, mas é uma prática que já acontece nos Estados Unidos, é você ir direto da graduação
01:57para o doutorado.
01:58Então o PhD, na real, quando você traduz para a linguagem acadêmica brasileira, o PhD é
02:03o equivalente ao doutorado.
02:04E aí apliquei para o doutorado direto, aí acabei passando, e quando cheguei lá, lá
02:11em Harvard, tem um instituto, que é o Instituto de Estudos Latino-Americanos, lá de Harvard,
02:17e tem um braço brasileiro lá.
02:19E o pessoal ficou, Matheus, eu não sei se você está ligado, mas assim, no sistema
02:25de dados aqui, não tem nenhum brasileiro que passou aqui antes, não.
02:28Então acho que você é o primeiro brasileiro a entrar no PhD em engenharia, e aí eu estou
02:32nessa, desde 2021.
02:33Ah, muito legal, muito bacana, e a história do Matheus também é muito interessante, e
02:38vamos começar a contá-lo aqui, como vocês ouviram pelo sotaque, ele já falou da Universidade
02:43Federal de Pernambuco, ele nasceu em Recife, não é isso, Matheus?
02:46Mas em Recife.
02:47E qual é a sua história familiar, assim, rapidinho, para a gente pegar a sua biografia?
02:50Legal, nasci em Recife, lá, em 1998, então não sou tão velhinho assim.
02:54É, garoto.
02:55É, mas a minha trajetória, ela foi uma trajetória um pouco diferente do usual, assim, porque a
03:02minha mãe, quer dizer, minha mãe conheceu meu pai lá muito cedo, me tiveram, e aí meu
03:07pai acabou se afastando aí por questões dele, na família, e eu fui criado pela minha
03:11mãe ao longo de toda a minha vida, né.
03:14Então, minha mãe, a gente vivia de pensão lá, em casa, e minha mãe acabou se envolvendo
03:19muito com trabalhos informais para tentar trazer dinheiro em casa e me educar, né.
03:22Então, eu tive a sorte do meu pai ser o cara que disse, ó, eu vou pagar tudo relacionado
03:26à educação para você, e o resto, a família meio que toma conta disso, né.
03:32Então, eu estudei, sei lá, nos melhores colégios lá de Pernambuco, mas em contrapartida,
03:36minha mãe fez o trabalho informais, né.
03:38Então, foi camelô, fez massagem em aeroporto, vendeu doces salgados, então fazia tudo
03:43para botar um dinheirinho em casa.
03:44É comum massagem em aeroporto lá em Pernambuco?
03:46Eu nunca vi isso aqui em Rio de Janeiro e São Paulo.
03:48Ah, eram uns trabalhos informais que minha mãe conseguiu lá para juntar essa grana, né.
03:53Não sei se é muito comum, mas enfim.
03:56E aí, a escola que você frequentava era pública ou era privada?
04:00Era uma escola privada, uma escola privada que, na época, era top 1 do Enem lá em Pernambuco.
04:05Então, era uma escola muito boa.
04:06E aí, facilitou, evidentemente, a aprovação no vestibular.
04:10Facilitou, é muito natural, né.
04:11Assim, na época, já era o Enem.
04:14Então, eu tinha que fazer o Enem ali no terceiro ano de ensino médio.
04:17E tinha toda aquela pressão, né.
04:18Pô, a pensão vai até o terceiro ano de ensino médio.
04:20Mas, se você entra na graduação, a pensão acaba se estendendo até o fim da graduação, né.
04:25Então, eu tinha esse primeiro objetivo ali de entrar em engenharia.
04:27Mas a pensão que você está falando, que o seu pai pagava.
04:30Exato, é.
04:31Então, acabei conseguindo entrar lá na engenharia.
04:34Você conseguiu que ele financiasse seus estudos até o momento que você entrou numa faculdade pública,
04:38onde não era mais necessário.
04:39É, e aí, acabei caminhando as minhas próprias pernas lá.
04:42E como é que se deu essa paixão pelas exatas, que depois levou à engenharia?
04:48O que é que chamou a sua atenção, seja na adolescência, seja na época da universidade?
04:53Legal.
04:53Eu comecei, na verdade, eu comecei sendo um aluno muito ruim.
04:57Na época do colégio, eu era um aluno...
04:58Difícil de acreditar, hein.
04:59Eu era um aluno muito ruim.
05:01Eu até conto a história que na oitava série lá, eu fiquei de recuperação em Física,
05:05tinha uma professora meio carrasca, assim.
05:07E aí, pô, sorte da vida, acabei passando lá na matéria.
05:11E no primeiro ano, eu conheci um professor que mudou minha vida, assim.
05:14O nome dele é Charles Turuda.
05:16Foi um professor que viu um potencial em mim, que era muito difícil de ver ali, Felipão.
05:19De Física?
05:20É, um professor de Física.
05:21Ele disse, ó, Matheus, vamos ficar no final da aula aí, eu te mostro umas curiosidades
05:25legais.
05:26E aí foi quando eu comecei a conhecer as Olimpíadas Científicas, que foi, pô, uma mudança
05:30total na minha vida, que foi quando eu vi que a Física, ela não era chata como é do
05:35jeito que a gente vê pro vestibular.
05:37A Física é super interessante quando você joga uma pitadinha de criatividade, quando
05:40você vê os fenômenos acontecendo de verdade, assim.
05:42Então, isso era muito o que as Olimpíadas Científicas puxava.
05:45E aí, pô, fiquei viciado em ler livro de Física.
05:47Eu lia livro russo, peruano, indiano de Física, passava o fim de semana inteiro resolvendo
05:51esse problema.
05:52Minha mãe achava que eu tava ficando maluco.
05:53Eu gostava.
05:54Que bom que alguém passou a fazer isso, né?
05:56Porque eu gostava na época da faculdade, também estudei num colégio muito bom do
06:00Rei de Janeiro.
06:01Gostava de dizer que eu gabaritei a prova de Física no vestibular da UFRJ.
06:05Acabei não indo pra lá depois, mas gostava muito das exatas e gostava de redação, de
06:12português e tal.
06:13O resto não me interessava muito e depois eu passei a estudar bastante história.
06:17Mas, na época do colégio, eu era muito mais de matemática, física, química e de
06:24redação, de textos.
06:26Mas a vida vai fazendo a sua própria, a nossa própria trilha, né?
06:30A gente vai descobrindo as coisas com o tempo, porque também é muito cedo pra fazer algumas
06:35escolhas definitivas.
06:36Mas, pelo visto, você já foi se destacando também nessa época.
06:40E aí, quando é que surgiu, assim, o primeiro destaque maior ou as Olimpíadas, né?
06:46Que foram importantes na sua trajetória?
06:48Então, e aí comecei a me envolver muito com Olimpíadas, né?
06:50Principalmente a Olimpíada de Física.
06:52Mas o engraçado é que eu nunca fui um cara vitorioso nas Olimpíadas de Física.
06:55Quer dizer, no meu terceiro ano de ensino médio, acabei pegando uma menção honrosa,
06:58que é como se fosse o menor título possível lá na Olimpíada, mas só de ter criado
07:03meio que um grupo de amigos, aquele grupo de apoio que estuda junto de você.
07:07E, pô, os caras eram muito feras.
07:08E aquele grupo é um grupo que sempre tá almejando alcançar voos maiores e tal.
07:13Então, você vê essa galera hoje, pô, tá no I, tá no IME, nas universidades de
07:16Sereo.
07:17Então, de estar naquele núcleo e de ter aprendido a aprender, que é uma coisa que a gente
07:22acaba aprendendo muito nas Olimpíadas, né?
07:23Quer dizer, no vestibular você tá fazendo aquele estudo focadão pra passar no vestibular,
07:27mas você não tem a pureza de aprender o conhecimento pelo conhecimento.
07:31Então, isso foi uma coisa que eu aprendi muito nas Olimpíadas e eu amo competição.
07:35Eu amo competição, né?
07:36Você é maravilhoso.
07:37É, na época do colégio eu era muito envolvido.
07:39Nosso atleta mental, Matheus Farias.
07:41E essas Olimpíadas eram interuniversitárias?
07:46São Olimpíadas nacionais.
07:47Nacionais.
07:48Olimpíadas nacionais e aí, à medida que você vai crescendo, você vai pras internacionais.
07:51Mas cada equipe era de uma faculdade ou era individual a competição?
07:55Então, existem Olimpíadas que são em equipe, existem Olimpíadas que são individuais.
08:00Na minha época, normalmente você representava o colégio, como pessoa, assim.
08:03Então, pô, você senta a bunda na cadeira, resolve aquela prova que é escrita, clássica,
08:07e tem as Olimpíadas que é de argüição, né?
08:09De discussão, que foram Olimpíadas que acabei me envolvendo depois.
08:11Foi bem legal também.
08:12Legal.
08:13E aí, como é que foi descobrir a possibilidade de estudar nos Estados Unidos?
08:18Legal.
08:19Então, entrei na graduação e aí, pô, primeiro que esses meus amigos foram para as melhores
08:25universidades do mundo, né?
08:26E aí, eu entrei na UFPE, que é uma universidade muito boa, topinho do Nordeste lá, bem legal.
08:32Sendo que o que eu tinha estudado para as Olimpíadas Científicas me deu uma base para,
08:36pô, os dois primeiros anos da engenharia.
08:39Então, eu disse, não faz sentido eu reestudar essas coisas.
08:42Faz sentido eu começar a fazer projeto, começar a botar coisa no dia a dia, começar a ver
08:46a tecnologia acontecendo mesmo.
08:48E aí, foi quando eu comecei a criar meus projetos, que acabaram sendo os projetos que
08:51eu me senti forte para aplicar para fora.
08:53A gente vai falar de cada um deles, mas faz aí o panorama geral.
08:56É, que são projetos de tecnologia que vão atacar ali o impacto social, que foi a coisa
09:00que eu sempre gostei.
09:01Muito pela realidade que eu vivi aí ao longo da trajetória.
09:03Claro.
09:04Então, não sei se o pessoal aí de casa teve a oportunidade já de ir para Recife,
09:09mas Recife é maravilhoso, sendo que tem alguns problemas.
09:11Estou doido para voltar lá, estava falando isso para o Matheus aqui antes da gente começar.
09:15Convidado, tem casa, tem casa.
09:15Que maravilha, é bom saber.
09:17Lá em Recife tem um dos piores trânsitos do Brasil e até do mundo.
09:21É uma situação bem complicada.
09:23E aí eu disse, pô, como é que eu ataco esse problema?
09:25Como é que eu resolvo esse problema com tecnologia?
09:28E aí, foi quando eu conheci a inteligência artificial e aí eu construí meu primeiro projeto,
09:33que era um projeto que eu colocava a inteligência artificial no semáforo da cidade.
09:38Eu escolhia qual era o melhor tempo de verde e vermelho do semáforo,
09:41de forma que o fluxo dos carros melhorava ao longo do dia.
09:45Esse é o Dr. Emmett Brown, de Pernambuco.
09:48Vocês lembram do Dr. Emmett Brown?
09:50Não é da geração do Matheus?
09:51De volta para o futuro, um, dois, três.
09:55Fica muito assim mais, o pessoal brinca com você,
09:57daquele cientista que vai ter várias ideias para fazer projetos especiais.
10:00Tem muito aquela visão do cientista maluco.
10:02É, do cientista maluco.
10:03Aquele cabelo todo espetado para cima e tal, quando me vê.
10:06Então, é o Dr. Brown.
10:07Mas você tem projetos realmente de impacto social, como você disse,
10:12que tem uma utilidade, que tem uma funcionalidade prática no dia a dia
10:15e de preferência para resolver problemas urbanos.
10:19Como é que foi esse projeto do semáforo em termos físicos,
10:24em termos de engenharia?
10:26Qual era o material?
10:27Como que você fez isso?
10:29Legal.
10:30Então, esse projeto, primeiro, que a gente começou já fazendo uma parceria
10:33com o órgão de trânsito da cidade.
10:34Porque é muito importante você saber como é o trânsito hoje
10:36e como seria o trânsito com o meu sistema.
10:39Então, foi muito importante pegar os dados dele.
10:41Então, o pessoal forneceu os dados, uma parceria pública com a universidade.
10:46Então, a gente tinha esses dados para validação.
10:48O que foi que a gente fez?
10:49A gente criou esse sistema, a gente treinou o sistema com os dados deles
10:52para conseguir ver qual seria a melhoria aplicando esse algoritmo.
10:55Então, a gente criou todo o ambiente de simulação,
10:58como seria a arquitetura das ruas lá de Recife e tal,
11:01o semáforo, onde fica, como é o cruzamento.
11:04E aí, uma vez que a gente aplicou isso,
11:06como eu sempre digo e como eu sempre gosto de dizer,
11:08eu participava muito de competição.
11:09Então, a gente dizia, qual é a competição que tem que eu posso submeter esse projeto?
11:12E a gente submeteu para uma competição lá,
11:13que é a competição nacional de sistemas embarcados, né?
11:15Então, esse tipo de sistema que você embarca no semáforo.
11:19E aí, a gente conseguiu melhorar em 130%
11:21o trânsito da cidade nessas vias de teste
11:23que a gente conseguiu lá.
11:25Que beleza.
11:25Mas é um projeto especificamente para o tempo do sinal vermelho,
11:29do sinal verde, e aí varia.
11:31Por exemplo, você tem um cruzamento em que é melhor
11:33que um sinal demore mais do que outro, por exemplo,
11:37porque a via é mais ocupada do que a outra.
11:39Quer dizer, são essas questões de engenharia do trânsito?
11:42Perfeito.
11:42Então, tem um conceito que a gente fala muito na engenharia de trânsito,
11:46que é a onda verde, né?
11:47Quer dizer, você pega o primeiro verde,
11:49se você manter aquela certa velocidade,
11:51durante o tempo você vai pegar todos os verdes.
11:53É o sonho, assim.
11:54Sendo que essa onda verde, ela é calculada hoje, né?
11:58Primeiro, de uma maneira completamente manual,
12:00e segunda, com base na velocidade máxima da rua.
12:04Quer dizer, você tem uma plaquinha lá, 60 km por hora,
12:06significa que se você pegar o primeiro verde,
12:0860 km por hora, e manter, você vai pegar todos os verdes.
12:11Mas sabe que isso não é uma realidade usual, né?
12:14Quer dizer, se chove em Recife, por exemplo,
12:15chove bastante, principalmente nessa época agora,
12:17se tem um buraco, se tem algum evento grande na cidade,
12:20é importante que, em vez de ser estaticamente dependendo da placa,
12:24que seja dinamicamente dependendo do ambiente
12:25que está acontecendo naquele momento.
12:27Então, a nossa alteração de verde e vermelho ali
12:29era dinamicamente e ao longo do dia.
12:32E isso foi usado em determinado período
12:33ou está sendo usado até hoje?
12:35Então, isso é uma coisa que foi junto a mim ali,
12:38durante toda a minha trajetória.
12:39Eu era um cara muito novo.
12:40Eu fiz esse projeto com 19 anos de idade.
12:41Então, mesmo que você tenha todo o projeto,
12:45bonitinho, funcionando, 130%, falidou,
12:48chegarmos na hora, tipo,
12:50ó, tem essa empresa aqui que trabalha com isso aqui há 20 anos,
12:53por que a gente vai acreditar no menino de 19 anos?
12:54Ah, tem o preconceito etário, o etarismo.
12:59Então, acabou que, tipo, realmente...
13:00Eu não sei bem como é que é,
13:01porque também passei por isso no jornalismo,
13:03tem sempre o pessoal mais velho com ar professoral.
13:06Ah, esse garoto.
13:08Ah, tem futuro, tem muito a aprender,
13:10essas coisas assim,
13:12e não analisa as questões pelo que elas são.
13:14O dado real.
13:15O resultado real, o trabalho real.
13:18E isso é realmente desagradável.
13:21E muitas vezes perdem a oportunidade.
13:22Tenho certeza que o seu projeto teria sido muito mais útil ainda, né?
13:27Se levassem em consideração ele por si.
13:30Agora, teve um outro também que eu acho fascinante.
13:33A gente está aqui mostrando o caminho do Matheus até Harvard.
13:36Nós vamos voltar a pegar esse gancho de como que ele foi para lá.
13:40É porque tudo isso acabou contando depois para aprovação, etc.
13:45E um desses projetos é o localizador de tiro com um guarda-chuva do avesso.
13:51Conta para a gente, Matheus.
13:52Esse projeto, acho que foi o projeto, na verdade, que realmente me botou errado.
13:55Então, o projeto ficou bem famoso, né?
13:57Esse projeto, tudo começou com a gente ver como é que as corujas faziam
14:01para localizar as presas.
14:04Isso é fantástico.
14:04Tinha umas pesquisas que pegavam a coruja e um ratinho e botavam numa sala completamente escura.
14:10E pelo som que o ratinho emitia, a coruja conseguia encontrar onde ele estava.
14:14Então, isso era muito curioso porque a gente viu que isso era devido a uma diferença anatômica
14:18que tinha na disposição das orelhas da coruja.
14:21Tinha uma orelha que é um pouco mais baixa do que a outra.
14:23E aí, quando o ratinho emitia o som, aquele som chegava primeiro nessa orelha de baixo
14:27e depois na de cima.
14:28Então, é como se você estivesse andando numa calçada, o carro passa do seu lado,
14:32como o som chegou primeiro aqui do que aqui, você vira, né?
14:36Então, você já sabe onde está o carro.
14:37E a gente estendeu essa ideia para como se fosse um guarda-chuva de cabeça para baixo.
14:41Então, pensa que cada perninha do guarda-chuva tinha um microfone.
14:44Quando o cara dava um tiro, aquele tiro vai navegar na velocidade do som, né?
14:48O som do tiro vai chegar em cada microfone em tempos diferentes.
14:52Cada microfone era como se fossem as orelhas da coruja.
14:54E aí, a gente conseguia encontrar a localização do Álvaro, precisamente.
14:58Mas e se o guarda-chuva é pequenininho?
15:00Porque quando você pensa em tiro, um barulho muito alto,
15:03e guarda-chuva, um equipamento tão pequenininho,
15:06porque assim, a coruja da orelha do ouvido para a outra,
15:09numa sala pequena, um rato, é uma coisa.
15:11Agora, o tiro faz diferença a cada ponto do guarda-chuva
15:14em termos de distância para a chegada do som?
15:18Legal.
15:19A velocidade do som é bastante alta, né?
15:21Então, a resolução do sistema era muito baseada na geometria desses microfones.
15:28Então, quanto mais perto o microfone era do outro,
15:31maior a resolução que você precisa para captar aquele som.
15:33Então, vai aumentando a dificuldade do sistema acontecer, né?
15:36E o sistema, na verdade, ele tem duas partes importantes.
15:39Ele tem, primeiro, reconhecer que aquele som é um som de tiro,
15:42e aí envolve a inteligência artificial.
15:44Então, a gente fez uma parceria com o BOP,
15:46o Baternão de Operações Especiais do Brasil,
15:48para treinar esse sistema.
15:49Quando você tem uma IA, você tem que treinar ela
15:50para dizer o que é tiro e o que é não tiro.
15:53Eu não tenho uma arma em casa.
15:54Então, eu contei com o BOP aí para dar uns tiros e eu gravar.
15:58E a segunda parte é essa parte do sistema,
16:00de pegar o som e calcular essas diferenças.
16:04E como é que ele entrega o resultado de onde foi disparado o tiro?
16:10Perfeito.
16:10A gente tem um aplicativo que é muito parecido
16:12com esse aplicativo de localização, de mapa.
16:15Então, aparecia um pinozinho de onde o cara tirou,
16:18baseado nesse algoritmo de localização.
16:21A gente tinha o resultado e botava um pinozinho lá.
16:23Maravilha.
16:23Quer dizer, a inteligência artificial já está bem presente aí no seu trabalho,
16:29como uma ferramenta para se criar em cima dela.
16:32Outras coisas.
16:32E a gente submeteu esse projeto para uma competição mundial
16:35de inteligência artificial que aconteceu lá na China,
16:37inclusive uma semana antes do Covid.
16:39Caramba.
16:40Correria, a gente foi lá.
16:41E era uma competição que não era limitada para um de graduação.
16:45Quer dizer, eu estava na graduação,
16:47mas outros competidores tinham graduação, mestrado, doutorado.
16:50Tinha grandes indústrias.
16:51Então, para chegar lá, a gente ganhou da Microsoft.
16:53A gente ganhou da Intel.
16:55A gente ganhou de várias universidades incríveis.
16:56Isso é história para contar para o resto da vida.
16:58Não, eu ganhei da Microsoft nas Olimpíadas, lá na China.
17:01Tem um listão lá.
17:02Está o FPE lá em cima e Microsoft lá embaixo.
17:04Eu circulei o resultado.
17:05Que beleza.
17:06É muito louco.
17:07Mas aí, como é que você fez para apresentar esse currículo para a Harvard?
17:11Foi simplesmente fuçando a internet, preenchendo o formulário?
17:15Ou teve alguma dica especial?
17:17A application de doutorado, né?
17:19Quer dizer, esse processo de submissão para entrar no doutorado lá fora,
17:23não é um Enem.
17:24É completamente diferente.
17:25Você tem que enviar vários documentos.
17:27Alguns desses documentos é, por exemplo, histórico escolar, né?
17:29Suas notas durante a graduação, como é que foram e tal.
17:32Tem uma parte que é muito legal, que é documentos sobre a sua vida.
17:35Então, tudo que eu estou falando aqui, eu falei lá, no documento de Harvard também.
17:39Qual é a sua história acadêmica?
17:41Quais foram os projetos que você fez?
17:42Por que faz sentido você entrar no doutorado nessa área?
17:45E tem outra parte, que é uma parte muito legal também, que são as cartas de recomendação.
17:49Durante a graduação, eu tive proximidade com vários professores que fizeram projetos comigo, né?
17:54Inclusive, uma das minhas maiores referências, que foi ministro da Ciência e Tecnologia.
17:58Um ministro anterior, né?
17:59Chamado Sérgio Rezende.
18:01O cara me abraçou.
18:02O Sérgio fez doutorado lá no MIT, que era uma das universidades que eu pleiteava, né?
18:07Fazer o doutorado.
18:08Tão qualificado que nem voltou mais a ser ministro.
18:11É isso.
18:11Mas, enfim, contribuiu para a sua formação.
18:13Demais.
18:14Pô, tinha a carta de recomendação, para mim, a maior referência de Ciência e Tecnologia do Brasil.
18:19Então, a carta dele está emoldurada na minha parede até hoje.
18:22É, a gente vai voltar a falar desse negócio de ministério mais adiante,
18:25porque vai ser a parte aqui sobre o futuro.
18:27Agora, como é que foi a sua reação quando você recebeu a notícia de que foi aprovado?
18:32Pô, foi muito engraçada essa história, porque eu estava sentado no meu computador
18:35numa reunião de projeto de pesquisa, e aí eu recebi um e-mail.
18:40Quando eu vi o e-mail, aí, um negócio de Harvard assim, isso aqui só pode ser trote, né?
18:43Aí eu abri, aí tinha, ó, você acabou de passar em Harvard e tal, não sei o quê, comemora e blá blá blá.
18:48Aí eu, gente, só um minutinho aqui, que eu vou ali na cozinha, que aconteceu um negócio aqui.
18:52Aí, manhinha, passei em Harvard.
18:54Ah, a gente saiu chorando com tudo que é canta, minha avó não sabia o que era Harvard.
18:57Até hoje chama de Hávani.
18:59Aí, pô, com uma alegria danada, todo mundo comemorando.
19:02Ficou pra fora, mano.
19:02Como é que sua avó chama?
19:04Hávani.
19:04Hávani.
19:05E manhinha, manhinha, ficou feliz, ficou orgulhosa do filho.
19:08Manhinha conhecia, manhinha sabia que era um negócio que mudava a vida, mudava, pô, tudo, né?
19:13Sensacional. E ela tá viva, acompanhando.
19:14Tá viva, acompanhando e vibrando muito.
19:16Inclusive, vai assistir isso aqui também.
19:17Que maravilha.
19:19Pô, ficamos muito honrados e damos aí os parabéns pelo filho, que eu tive esse prazer de conhecer.
19:24E agora tô tentando extrair a história, porque é isso que nós jornalistas fazemos pra vampirizar.
19:29A gente tenta trazer à tona tudo que a pessoa viveu pra servir aí de orientação pras outras pessoas também
19:37sobre como as coisas acontecem.
19:39E como é que é a sua vida?
19:41Passando agora pra uma questão mais cotidiana, mais de rotina.
19:44Como é que é o seu dia-a-dia lá em Harvard?
19:46Você tem um dormitório, tem um quarto, isso dura todo o período que você tá lá?
19:52É seu? Tem alguma troca anual?
19:55Tem muitos brasileiros?
19:57Como é que... Fala um pouquinho do seu dia-a-dia.
19:59Primeiro, um fato muito curioso é que Boston é a cidade dos Estados Unidos que tem mais brasileiro.
20:03Antes de ir pra lá, eu achava...
20:04Eu notei.
20:05É, tem muito brasileiro lá.
20:06O estado é Flórida.
20:07Normalmente o pessoal pensa que é por lá.
20:09Flórida é Orlando, Miami e tal.
20:11Mas é Boston, tem muito brasileiro lá.
20:12Então, acho que o dado do último censo da Associação dos Brasileiros de Harvard
20:16é que tem uns 120 brasileiros.
20:18Se você quiser, não fala nem inglês lá, né?
20:20Tanto brasileiro que tem.
20:21O meu dia-a-dia, eu tento me conectar muito com o pessoal que tá fazendo doutorado.
20:26Como a gente falou aqui, eu sou o primeiro brasileiro a entrar no doutorado em engenharia.
20:29Então, não tem brasileiros na engenharia fazendo doutorado.
20:32Então, eu moro com umas três colegas que fazem doutorado.
20:36Então, tinha um amigo americano, um colombiano e um turco.
20:39E o nosso dia-a-dia é, a gente tem umas matérias que tem que fazer ao longo do programa.
20:44No doutorado, você tem que fazer dez matérias.
20:46E você tá sempre fazendo a pesquisa.
20:48E aí, pô, o meu grupo tem mais cinco alunos de doutorado,
20:52que são orientados para esse meu orientador, né?
20:54Que a gente tem reuniões duas vezes na semana.
20:55Durante quanto tempo o doutorado?
20:57O doutorado lá é no mínimo cinco anos.
20:59Cinco anos e você tem que fazer só dez matérias?
21:02Só dez matérias ao longo do ano.
21:03É porque, assim, a impressão que eu tive circulando lá, conversando com as pessoas como você,
21:07é que você tem muita liberdade curricular para escolher aquilo que você quer.
21:12Me parece que não tem, assim, um excesso de ocupação com aulas.
21:18Quer dizer, você participa de aulas, você assiste às aulas,
21:21mas você tem um longo tempo para estudar para além das aulas.
21:25Talvez até para a aula ser mais rentável, quer dizer, produtiva.
21:31Exatamente, você vai preparado e você, enfim, tem toda uma preparação para ela e a consequência dela.
21:39Mas não sufoca você, não sufoca o seu tempo.
21:42Eu percebi lá que as pessoas têm tempo para circular, para ir para a biblioteca,
21:45para ficar lá, passar muito tempo, é assim?
21:49A gente tem muita liberdade lá.
21:50Um negócio que eu acho muito legal é que, pô, lá em Boston tem várias universidades prestigiosas,
21:55não é só Harvard.
21:56Tem Harvard, por exemplo, MIT, que fica ali no mesmo bairro.
21:59É, pertinho.
22:00E aí a gente tem...
22:01Eu fiquei lá num hotel entre Harvard e MIT.
22:03Muito massa, deu para conhecer os dois, né?
22:04É, dava para ir andando para os dois.
22:06E aí o sistema de matérias de Harvard é integrado com MIT.
22:10Então você entra em Harvard, eu, por exemplo, das dez matérias que eu fiz,
22:14oito foram em Harvard e duas foram no MIT.
22:16Então vê que legal, você não só conhece a comunidade científica de Harvard,
22:20mas também, pô, de uma das maiores universidades do mundo também, que é o MIT.
22:23Então você tem essa liberdade de escolha das matérias, onde você vai fazer as matérias também.
22:29A única coisa que o professor orientador pede é que faça sentido no direcionamento ali do seu doutorado,
22:35direcionamento da sua pesquisa.
22:36Mas a gente tem muito tempo, muita coisa legal para fazer.
22:39Lá em Harvard, por exemplo, a gente tem acho que cinco ou seis academias.
22:42Essas academias são gratuitas para o pessoal do doutorado.
22:45E academia, pessoal, não é academia só de levantar peso, não.
22:48Tem piscina olímpica lá, tem as quadras de squash, que eu gosto muito de jogar,
22:52de tênis, badminton, que eu também jogava muito badminton.
22:55É, eu adorava quando era moleque.
22:57Tentei levar lá para o Rio de Janeiro, para a praia, mas não.
22:59Aí o pessoal só queria saber de futebol, de vôlei, agora de beat tênis, etc.
23:05Eu também passei a jogar muito futebol, mas o badminton não pegou.
23:08Não pegou.
23:09Ficou como aquele negócio que a gente vê quando viaja para os Estados Unidos e tal,
23:13e joga de brincadeira, né?
23:14Mas acabou não se popularizando muito no Brasil, embora já tenha uns profissionais por aí.
23:19Mas, Matheus, a gente obviamente não quer politizar aqui esse assunto,
23:25mas a sua história, ela mostra como, até por ser da área de engenharia,
23:33é como existe muito mais vida e oportunidade em Harvard e em outras universidades americanas
23:38do que muitas vezes chega no debate público para a gente.
23:41E a gente, obviamente, aqui trata muito de política, no antagonista, etc.
23:45Então, volta e meia, a gente tem que analisar certas coisas que acontecem no campo,
23:49seja um protesto, seja declaração de reitor de universidade americana,
23:53que gera polêmica.
23:55Mas, assim, no dia a dia, você sente uma politização de tudo?
24:00Ou você sente, assim, um lugar com estrutura que você pode trilhar o seu caminho acadêmico,
24:06meio sem participar disso?
24:09Então, eu trilho essa trajetória acadêmica sem participar,
24:12mas tem muita gente que participa ativamente também dos protestos lá
24:15e se engaja com essas questões políticas, né?
24:18Então, esse ano e o ano anterior, teve muitas coisas que aconteceram na geopolítica mundial.
24:22Você tem aí a Ucrânia e Rússia, você tem agora a questão da Palestina lá.
24:27Uma coisa que viralizou muito esse ano foi a questão dos acampamentos, né?
24:32Então, nas universidades, o pessoal acampou fazendo protesto em suporte à Palestina
24:37e as coisas começaram a esquentar muito nas proximidades da minha graduação do mestrado.
24:43Eu peguei o mestrado lá e ali nas últimas semanas estava muito sério,
24:47porque teve um acampamento no Jardim de Colúmbia,
24:50que é uma universidade muito forte lá em Nova York,
24:53e aí a polícia chegou lá e caiu em cima e teve toda uma discussão bem séria lá, né?
24:58Começou isso e aí os acampamentos que eram primeiramente em suporte à Palestina
25:02acabaram sendo em suporte aos estudantes da Colúmbia.
25:05E aí isso espalhou pelas Ivy Leagues, né?
25:07Que são o grupo das universidades prestigiosos, assim, dos Estados Unidos.
25:11Então, lá em Harvard tinha muita gente, muita família,
25:14querendo conhecer, por exemplo, o Harvard Yard,
25:15que é a parte principal, o jardim principal, que tem a estátua lá do John Harvard, né?
25:19O pessoal estava lá querendo conhecer.
25:21Cheio de lenda em torno daquela estátua, inclusive.
25:23Cheio de lenda.
25:24Mas enfim, eu vi que você postou uma foto no seu story, no Instagram,
25:28contra o antissemitismo.
25:31E eu achei ótimo que você tivesse essa postura,
25:33porque, enfim, a gente é contra preconceitos,
25:37seja contra judeus, israelenses, seja contra palestinos.
25:41Quer dizer, essas pessoas que estão lá nos Estados Unidos,
25:44principalmente, né?
25:45Porque a gente viu certos embates com professores judeus, etc.
25:49Elas não têm nada a ver com decisões que estão sendo tomadas,
25:53seja pelo atual governo de Israel,
25:55onde mesmo assim tem divergências internas,
25:58seja pelo Hamas.
26:01E, no entanto, as pessoas vão projetando o seu ódio
26:05por determinado político, por determinado governo,
26:08ou por um grupo terrorista,
26:10porque aqui a gente chama o Hamas de grupo terrorista,
26:12mas vão projetando esse ódio em cima de outras pessoas
26:15que têm algum elemento comum.
26:18E não dá para ser assim, né?
26:19Imagina que você tenha conhecido pessoas do mundo inteiro
26:22com essa abertura de espírito que você está demonstrando aqui,
26:27sem esse tipo de vinculação.
26:29Mas existem momentos que você sente que, ali no campus,
26:33a carga ficou mais pesada, né?
26:34É, assim, tem muita gente que puxa para o lado,
26:37tem muita gente que puxa para o outro,
26:38a depender das experiências familiares ali.
26:40Exatamente.
26:40Quer dizer, o ambiente é muito internacional.
26:42Para você ter noção, no doutorado,
26:43quando eu entrei, entrou 30 pessoas,
26:45dois americanos.
26:46O resto do dia é internacional.
26:47Então, o ambiente é muito internacional.
26:49A minha posição política, assim,
26:51em relação a isso é que eu não quero guerra.
26:53Não quero guerra de nenhum jeito.
26:54Quer dizer, não tem isso de apoiar,
26:56matar de um lado ou de outro.
26:58Também não entendo muito sobre o conflito,
27:00historicamente falando.
27:01E aí, pô, quando é para apoiar a Palestina,
27:04apoia a Palestina.
27:04Quando é para Israel também,
27:06eu quero participar dos eventos de paz.
27:08É isso que eu busco.
27:09É um posicionamento ótimo.
27:11Aí você falou, olha,
27:13não entendo muito do histórico do conflito.
27:15Isso que você falou, assim,
27:16ampassando, para alguém como você,
27:20que é um estudante de engenharia,
27:22jovem ainda,
27:24é raro da gente ver.
27:26Essa noção de que, olha,
27:28se eu for começar a me posicionar publicamente,
27:31a respeito disso,
27:32eu preciso ter uma base de conhecimento sobre aquilo.
27:36Quer dizer, você é um cientista na prática.
27:39Você está aí tendo toda uma formação científica.
27:42E, no entanto, o que a gente vê,
27:43e muitas vezes a gente critica aqui,
27:45é que muitos jovens têm uma posição
27:49que não tem nada de científica.
27:51Ela é anti-científica.
27:52Eles simplesmente ercoam certas narrativas
27:55que a gente sabe muito bem,
27:57às vezes, de onde vem,
27:58que contém sínteses enganosas.
28:01Então, muitas vezes, a gente analisa,
28:04diversos protestos,
28:04estou falando de uma maneira geral,
28:05estou falando especificamente sobre esse caso,
28:08por parte de juventude,
28:11não é que as juventudes não possam se engajar,
28:13mas é que muitas vezes a gente vê
28:15que eles estão querendo transformar o mundo
28:18antes de compreendê-lo.
28:20E isso que é problemático.
28:22E é por isso que, às vezes,
28:25tem ruído e tem ódio demais.
28:27Mas vamos voltar aqui
28:28para a gente caminhar para o final.
28:32Você respondeu sobre o quarto,
28:34o dormitório?
28:35Acho que não, né?
28:36É verdade.
28:36Você divide com alguém lá na faculdade?
28:39Eu divido com umas três amigos,
28:40mas acho que o fato mais curioso
28:42é que existe a possibilidade
28:43de você pegar um dormitório,
28:45sendo que não é uma possibilidade
28:46que o pessoal gosta muito, não.
28:47Porque é um banheiro por corredor,
28:48e é um banheiro ou masculino ou feminino.
28:51Então, imagina,
28:51às vezes tu está no corredor
28:53que não tem banheiro masculino,
28:54aí tu três horas da manhã,
28:55cair no banheiro,
28:56vai ter que descer, andar bem muito.
28:58Então, a gente costuma não querer
28:59ir para os dormitórios.
29:00E aí, a minha sorte
29:01é que um dos meus amigos, né,
29:03que dividia quarto comigo,
29:04ele é americano e de Boston.
29:06Então, a gente se conheceu remotamente
29:08e ele disse,
29:08não, vou procurar uma casinha
29:09fora do campus
29:11e a gente mora lá e divide.
29:12E aí, a gente pegou uma casa super legal
29:14que fica 15 minutos andando
29:15do meu escritório lá da engenharia
29:17e é lá onde eu moro faz três anos, né.
29:20Então, é bem legal.
29:21E a Brasil Conference?
29:23Eu participei esse ano,
29:24o Eduardo era o presidente,
29:26vocês têm um...
29:27Como é que vocês chamam?
29:28Um comitê?
29:29Existe a parte da co-presidente lá, né?
29:31São vários presidentes
29:32que puxam cada braço.
29:34Tudo é presidente lá.
29:35O reitor não é reitor,
29:36é presidente da universidade.
29:37É, tem o presidente da universidade.
29:38Tem o presidente,
29:38mas como é que vocês chamam
29:39o órgão que organiza a Brasil Conference?
29:42A Brasil Conference é a entidade mesmo.
29:43Ah, a entidade Brasil Conference.
29:44E aí, é organizada pelos alunos
29:46de Harvard e MIT,
29:47mas aí acabou estendendo também
29:49para alunos dos Estados Unidos,
29:50em geral.
29:51Você tem algum vínculo,
29:52seja de pesquisador,
29:53ou seja, de aluno,
29:55em alguma universidade dos Estados Unidos,
29:56você pode engajar como voluntário.
29:58É uma conferência completamente voluntária também.
30:01E você pode fazer parte da construção
30:02da Brasil Conference.
30:03É, só explicando para quem não sabe,
30:05a Brasil Conference ocorreu em dois dias,
30:07foi um sábado e um domingo,
30:08um sábado em Harvard e domingo no MIT,
30:11ali em Boston,
30:11organizada pelos brasileiros,
30:13com um cronograma de painéis
30:16sobre diversos assuntos,
30:17com políticos, com empresários,
30:19com atletas, ex-atletas,
30:21com artistas.
30:24Então, assim,
30:24da Ivete Sangalo
30:25até o presidente do STF,
30:27Luiz Roberto Barroso,
30:27um monte de brasileiros
30:29falou nesse evento.
30:31Inclusive,
30:33eu e parlamentares,
30:35enfim,
30:36a gente estava lá participando
30:37e pôde conhecer
30:38toda essa turma.
30:40O Eduardo,
30:41que fez o contato comigo,
30:44inclusive,
30:45era o presidente nessa ocasião,
30:46e agora você vai ser o presidente?
30:48É isso, é.
30:49Tem vários presidentes,
30:50a gente chama de co-presidente lá.
30:52Eduardo estava responsável pelo braço,
30:53que a gente chama de impacto social.
30:55Então,
30:55quando ele assumiu essa presidência,
30:57ele tem que declarar os vice-presidentes,
30:59e eu fui um deles.
30:59Sobrenome do Eduardo?
31:00Eduardo Vasconcelos.
31:01Vasconcelos.
31:02Isso.
31:03E aí,
31:03Eduardo,
31:03ele tinha,
31:04sobre os braços dele lá,
31:05seis programas de impacto social.
31:07E um deles,
31:08que foi o programa que eu toquei,
31:09era o programa de pesquisadores.
31:11Então,
31:11a gente fez um processo seletivo,
31:13teve quase mil inscritos,
31:14pesquisadores brasileiros
31:15de diversos estágios
31:16da carreira científica.
31:17Foi fantástico isso.
31:19Eu assisti as palestras,
31:21teve a Ana Paula.
31:22Isso,
31:23Ana Paula Zappellini.
31:23Como é que é o sobrenome da Ana Paula?
31:24Ana Paula Zappellini.
31:26Zappellini.
31:26Isso.
31:27Ótima,
31:27Ana Paula,
31:28que fez um projeto
31:29em cima de uma cafeteira.
31:31A gente estava comentando,
31:32quando a gente conversou
31:33a respeito disso.
31:35No Brasil é assim,
31:36a pessoa faz um projeto
31:38com uma cafeteira,
31:39você deu uns outros exemplos,
31:41achei muito engraçado.
31:43Porque no Brasil,
31:44você não tem muita estrutura,
31:45você não tem muito apoio.
31:47E isso faz com que
31:48as pessoas ligadas à ciência
31:50tenham que improvisar.
31:51criatividade total.
31:52Você foi tratar de sinal de trânsito,
31:54você pegou o guarda-chuva
31:55para localizar tiro.
31:57Ela fez um negócio
31:59com a cafeteira
32:00para medir,
32:00como é que era?
32:01Era poluição no mar?
32:02É,
32:02não sei se tu lembra,
32:03de um tempinho atrás
32:04aqui no Brasil,
32:04que teve aquele derramamento
32:05do petróleo,
32:06uma confusão danada.
32:07Pronto,
32:08ela fez um projeto
32:09que usava a cafeteira,
32:10né,
32:11expresso,
32:11para identificar
32:12se o peixe
32:14estava contaminado.
32:16O título era esse.
32:18Eu disse,
32:18que danado é isso,
32:19na hora do programa
32:21da aplicação dela.
32:22E a gente tem que emocionar.
32:23Talvez ela possa vir aqui
32:24um dia,
32:24que é muito legal a história também.
32:25É,
32:25não,
32:26história fantástica.
32:27E aí você ajudou
32:28a organizar essa parte
32:29de pesquisadores
32:30com a nossa querida
32:31Sara Borges também,
32:32estudante de psicologia,
32:34de Harvard também,
32:35espero que ela venha aqui
32:36para participar
32:37desse nosso projeto aqui,
32:38de falar da experiência
32:39de estudantes brasileiros
32:41nos Estados Unidos.
32:43E agora,
32:44você vai ser
32:45um dos organizadores
32:46ano que vem,
32:47mas isso ainda
32:47falta um bocado,
32:49né?
32:49Exato.
32:50Vamos falar do futuro
32:51para além do ano que vem?
32:53Eu sei que você tem
32:55uma ideia de virar
32:56ministro,
32:57virar ministro,
32:58olha só,
32:59daqui até o momento,
33:01todo mundo adora
33:02o Matheus,
33:03cientista,
33:04cheio de história,
33:05aí ele quer virar ministro,
33:06aí você sabe
33:06o que acontece,
33:07se você quiser
33:08virar político,
33:10porque ministro
33:11acaba sendo encarado
33:11como político.
33:12Metade do país
33:13vai começar a odiar você,
33:14se tudo continuar
33:16a ser como é hoje.
33:17com toda essa divisão,
33:19com essa polarização.
33:20Mas eu espero
33:21que você
33:22tenha todo o direito,
33:23tenha toda a liberdade
33:24de seguir a carreira
33:25que você quiser,
33:26que lá na frente,
33:28se você conseguir
33:29essa trajetória
33:30que hoje você
33:31vislumbra,
33:32que seja um país melhor,
33:33menos ódio,
33:35enfim,
33:35que seja
33:35mais
33:36construtivo,
33:39que você possa
33:39contribuir
33:40para a ciência,
33:41para a tecnologia
33:41nacional,
33:42com tudo aquilo
33:42que você aprendeu.
33:43de onde vem
33:45esse sonho?
33:46O que você
33:47espera fazer pelo país?
33:48Eu tenho esse sonho
33:49de ser ministro
33:50da ciência e tecnologia
33:50há um tempo,
33:51desde quando eu conheci
33:52o Sérgio,
33:53que foi esse mentor,
33:54esse orientador
33:54durante a graduação,
33:55que foi ministro também.
33:56Então ele sempre
33:57plantava sem mentir,
33:57Matheus,
33:58faz uma coisinha
33:59pela ciência brasileira,
34:00e tal,
34:00volta.
34:02Então,
34:02quando eu cheguei lá
34:03e principalmente
34:03conheci a Brasil Conference,
34:05disse,
34:05tem muita gente
34:06incrível aqui
34:07com currículo brilhante,
34:08e que está investindo
34:10no Brasil,
34:10que está apostando
34:11em fazer a diferença
34:12no Brasil.
34:13Egoísmo da minha parte,
34:14não pensar em uma coisa
34:15parecida também,
34:16ainda mais tendo todo
34:16esse background
34:17de impacto social
34:18que eu tive.
34:19Então eu tenho esse sonho,
34:20eu vejo hoje
34:21uma lacuna muito forte,
34:22que é a minha área
34:23de estudo,
34:24eu estou trabalhando
34:25com inteligência artificial
34:26desde 2016,
34:27e eu sinto que hoje,
34:28por exemplo,
34:28não tem uma pessoa
34:29de inteligência artificial
34:30no Brasil,
34:30quer dizer,
34:30se o presidente
34:31quer fazer algum projeto,
34:32quem é que ele chama
34:32para discutir?
34:33Quem é o cara?
34:34Não tem.
34:35E aí eu quero ser esse cara,
34:36e eu quero construir
34:37essa carreira de impacto social
34:38com políticas públicas
34:39e inteligência artificial,
34:41e no momento aí,
34:42dá uns 10 anos
34:42ou um pouquinho mais,
34:43pegar esse cargo
34:44de ministério
34:45e fazer um impacto social
34:46forte,
34:47fazer com que a ciência
34:48do Brasil avance,
34:49ter essa experiência,
34:50eu quero que todo brasileiro
34:51tivesse a experiência
34:52que eu tenho lá
34:52nos Estados Unidos,
34:53que é tipo,
34:54o meu orientador,
34:54e aí qual é a ideia?
34:55Eu solto a ideia e ele diz,
34:56você pode fazer o que você quiser,
34:57tome dinheiro,
34:57pá,
34:58dinheiro infinito,
34:59pá, pesquisa dinheiro infinito.
35:01E aqui a gente tem
35:01que maravilha,
35:02é outra realidade.
35:03Mas também uma confiança
35:04muito grande,
35:05de que aquilo não vai ser
35:07mal utilizado,
35:08que aquilo,
35:09enfim,
35:09existe uma responsabilidade
35:11com aquilo que está sendo dado,
35:13e aqui no Brasil
35:14a gente precisa
35:15melhorar essa cultura,
35:16para que haja
35:17um mecanismo fomentador
35:19que traga resultados.
35:22Tomara que você consiga
35:23esse projeto,
35:24Matheus Farias,
35:25é um prazer enorme
35:26conversar com você,
35:27e a gente vai deixar
35:28para a posteridade
35:29registrada
35:30a essa entrevista,
35:31porque daqui a 10,
35:3220 anos,
35:33ou antes,
35:34já que você é tão precoce
35:35em tudo,
35:36o pessoal vai ver
35:37se, enfim,
35:39tudo corresponde
35:41àquilo que foi dito.
35:41Estamos nessa.
35:42Muito obrigado,
35:43Matheus,
35:43pela sua presença.
35:44Abração, pessoal.
35:45O Felipão vai começar
35:46a me criticar
35:46quando estiver lá
35:47no Ministério,
35:47mas por enquanto
35:48estamos juntos.
35:48Não, aí você vai vir aqui
35:50e a gente vai fazer
35:50uma entrevista
35:51num outro tom.
35:51E aqui é de saudação,
35:54de contar experiências,
35:56é nessa brincadeira,
35:57quando virar ministro,
35:58aí vem a postura
35:59vigilante,
35:59o senhor falou isso,
36:01agora está fazendo isso,
36:02já estou deixando
36:03material aqui reservado.
36:04Vamos mostrar
36:05o que o Matheus
36:06dizia 15 anos atrás.
36:09E agora, Matheus?
36:10Estamos brincando,
36:11você é muito bem-vindo.
36:12Estamos juntos demais.
36:13Satisfação é minha.
36:14E, assim,
36:15para terminar,
36:16um recado
36:17para estudantes brasileiros
36:19que ouviram você,
36:21assistiram a essa entrevista
36:23e falam assim,
36:24estou pensando em estudar
36:25nos Estados Unidos,
36:26ou estou pensando em estudar
36:27em outros países.
36:28Você tem algum conselho
36:29para essas pessoas?
36:30Legal.
36:30Felipão,
36:30eu acho que o maior conselho
36:31que eu daria hoje
36:32é se você está aí
36:33no colégio,
36:34se você está aí
36:35nos anos de ensino médio,
36:37começa a se engajar
36:38na ciência de verdade,
36:39começa a ver o romantismo,
36:40eu sou muito romântico,
36:41começa a ver o romantismo
36:43da ciência,
36:44tipo,
36:44a ciência na prática,
36:45a ciência básica também,
36:47como é que tudo aquilo
36:47foi construído,
36:49não pensa só no vestibular,
36:50não.
36:50Acho que isso foi a coisa
36:51que fez a mudança de chave
36:52na minha vida.
36:53Então,
36:53isso é uma coisa
36:53que eu falo muito sempre,
36:54eu sou organizador
36:56de Olimpíada de Física
36:57no Brasil,
36:57então estou super engajado
36:58com isso,
36:59fui técnico
37:00da seleção brasileira
37:01na Copa do Mundo de Física
37:03no ano passado,
37:03no Paquistão,
37:04então estou sempre
37:05envolvendo por esse lado
37:06e eu vejo
37:07que o pessoal
37:08que vai para fora
37:08é o pessoal
37:09que passa por isso,
37:11que passa por Olimpíadas Científicas,
37:12que consegue enxergar
37:13a ciência do jeito
37:14que ela é.
37:14Então,
37:15convido todos vocês
37:16a conhecer as Olimpíadas Científicas
37:18e detonar.
37:19É um recado
37:19de amor ao conhecimento,
37:21mais do que amor
37:22a um status,
37:23a um cargo,
37:23a uma vaga,
37:24vamos buscar o conhecimento
37:26porque ele é
37:28a melhor ferramenta.
37:30E se puder
37:31ter esse processo
37:32com alguma competitividade,
37:34melhor ainda,
37:34mais sabor,
37:35se não for para não ganhar,
37:37se não é para não ganhar
37:38de ninguém,
37:39nem me chama,
37:39quero ganhar de alguém,
37:40quero ficar em primeiro lugar,
37:41ficar no final,
37:42uma medalhinha.
37:43E assim,
37:44eu fico super aberto
37:45para quem quiser
37:45conversar comigo também,
37:46eu sou um cara
37:47que estou ali
37:48nas redes sociais,
37:49então se quiser me seguir
37:50aí,
37:50Matheus S. Farias
37:51no Instagram,
37:52a gente está sempre discutindo
37:53sobre Olimpíadas Científicas,
37:54eu sou muito engajado nisso
37:55e também fica aberto
37:57para ajudar
37:57quem quiser estudar fora.
37:58Maravilha,
37:59Matheus Farias,
38:00senhor e senhores,
38:00estudante brasileiro em Harvard
38:02e primeiro brasileiro,
38:04PhD em engenharia
38:06na famosa
38:07Universidade Americana.
38:09Prazer recebê-lo aqui,
38:11a gente,
38:12só para concluir,
38:13muitas vezes faz entrevistas
38:15com políticos
38:16ou com determinadas autoridades
38:19sobre assuntos
38:20de escândalo nacional
38:22ou espinhosos
38:24e é muito bom
38:24poder mostrar aqui
38:25um lado positivo,
38:27mostrar brasileiros
38:28que estão buscando
38:30qualificação
38:31para depois
38:33gerar um impacto
38:34positivo,
38:35concreto
38:36de resultados
38:37no Brasil
38:38e a gente precisa
38:39valorizar isso
38:40e o Antagonista
38:40sempre valoriza.
38:42Um grande abraço
38:42a todos vocês
38:43e até o próximo
38:44Cruzoé Entrevista,
38:45lembrando que o Papo Antagonista,
38:47que é o Ancoro,
38:48está na TV
38:48de segunda a sexta,
38:50às 18 horas
38:50e aqui no canal
38:51de YouTube
38:51de O Antagonista,
38:52na TV BMC,
38:54nossa nova parceira.
38:55Tchau!

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