00:00E já vamos começar falando sobre o dia horribilis, que foi ontem, dólar disparou, bolsa caiu, vários papéis sólidos também caíram, outros nem tão sólidos caíram, mas daí também não se pode surpreender.
00:12Como é que você viu aquele movimento de ontem, movimento muito ruim, em parte diz o ministro Haddad que é por causa dos Estados Unidos,
00:21disse que é por causa da tensão no Oriente Médio, mas a verdade é que a nossa lição de casa aqui não só não está sendo bem feita, como está sendo feita erradamente.
00:29E aí teve mais peso ainda, não?
00:31Tem, na verdade o Haddad como bom matemágico que é, ontem mandou essa, ah não, dois terços desse movimento no dólar e nos juros é externo, é em função do mercado internacional,
00:46dois terços você vê que ele faz contas, ele só não acerta resultados e fórmulas, mas ele tem tentado, coitadinho.
00:53E aí descobriu que a meta fiscal não ia dar para conseguir, não ia ser alcançada em 2025 e 2026 e teve um choque de realidade no mercado financeiro.
01:05E entre os agentes econômicos no geral, o Focos, o boletim Focos também que consulta ali os principais economistas do país,
01:15ou pelo menos de instituições financeiras brasileiras, também reajustou ali a expectativa da Selic que estava em 9% ao ano,
01:24já há muito tempo para 9,17.
01:26O mercado financeiro precificando a Selic terminal, que é aquela taxa de juros final, quando o Banco Central terminar de fazer os cortes, onde estará a Selic?
01:36Para o mercado financeiro, na curva futura de juros, 10,25%.
01:41Se vocês lembrarem, lá no começo do ano, era 9% essa expectativa, agora está aí próximo dos 10%,
01:48que é o mercado indicando ou entendendo que o Banco Central não tem espaço para baixar os juros
01:55de uma forma mais contundente em função de um risco fiscal que pode alimentar uma inflação.
02:06Aí, gente, essas coisas não acontecem de hoje para amanhã.
02:12O mercado financeiro se antecipa a isso e começa a precificar essa inflação a mais já, hoje.
02:20Então, quando você olha lá para os títulos indexados ao IPCA, a gente já falou sobre isso aqui,
02:26aquele IPCA a mais que tem no Tesouro Direto, você nota que o juro saiu de R$ 5,90, alguma coisa, para R$ 6,00 e pouco.
02:34Então, não foi no juro a reprecificação.
02:38O que isso quer dizer?
02:39Que a reprecificação toda está sendo feita na inflação implícita,
02:44que é aquela diferença quanto o mercado está achando que vai ser a inflação média para os anos futuros que subiu.
02:51Então, o mercado está precificando mais inflação e, por isso, mais juros ou juros mais altos por mais tempo em função disso.
03:01Então, o Banco Central tem muito espaço para baixar os juros.
03:04Por que eu estou falando tudo isso?
03:06E aí, as pessoas falam, mas ninguém entende esse negócio.
03:08O que a gente tem que entender aqui é o seguinte.
03:11Existe um problema fiscal que é o governo gasta mais do que arrecada.
03:17E o governo pensou que conseguiria arrecadar mais.
03:21Não porque gastaria menos, só porque arrecadaria mais mesmo.
03:25É tipo chegar para o chefe e dizer, chefe, fiz um monte de dívida e agora preciso de um aumento de salário.
03:32E o chefe, às vezes, olha para você e diz, aqui não, violão, não vai rolar aumento.
03:37Foi mais ou menos o que o Congresso falou para o Executivo, no caso do aumento de impostos e fim de benefícios, etc.
03:47Não porque o Congresso também não sejamos bobos.
03:50Não porque o Congresso está defendendo que não pode mais cobrar imposto, é super liberal, não tem nada disso.
03:57É porque imposto pega mal, é ano eleitoral e ninguém quer segurar essa batata quente.
04:03Então, ontem foi o segundo dia de choque de realidade.
04:07Hoje, o mercado um pouquinho mais tranquilo, já estopou, como falam aí o pessoal do mercado, já estopou as apostas que iam para outra direção e as coisas com um pouquinho mais de normalidade hoje.
04:22O Haddad está mentindo quando diz que tem influência do cenário externo?
04:27Não, está falando a verdade, realmente tem influência do cenário externo.
04:32Mas não dois terços, né?
04:33É, dois terços é a matemática do meu querido Fernando Haddad.
04:39Aliás, só completando aí, muitos desses prognósticos de aumento de inflação vêm, inclusive, do aumento do dólar, já que o dólar pauta vários insumos que são consumidos aqui no Brasil.
04:52Inclusive, mas não apenas, petróleo, tudo que é importado, que vem para cá, mesmo que venha da China, vem cotado em dólar.
05:00Então, tudo isso acaba entrando no valor futuro do Brasil.
05:06E outra coisa que se comenta, aliás, me corrija se tiver errado.
05:09E impacta isso, e impacta a inflação. O dólar impacta muito a inflação também.
05:13Exato, justo.
05:15E outra coisa também que estaria ocorrendo é que começa, começa não, se sedimenta cada vez mais um sentimento que a taxa de juros, que hoje está em 10,75, talvez não caia mais tanto assim.
05:27O pessoal estava falando que ia cair para 9, quem sabe até 8,5, 8,75, isso jogando para 2025.
05:36Talvez isso já não aconteça, pelo menos não na gestão do Roberto Campos Neto.
05:41Aí depois, quando tiver o novo presidente do Banco Central no começo do ano que vem, vai ser uma bancada, digamos assim, de amigos do governo.
05:50Daí talvez caia na marra com consequências empoderáveis.
05:55Mas enquanto tiver Roberto Campos Neto, com esses números nacionais e externos, talvez a nossa taxa de juros caia menos, não é isso?
06:04É isso, é exatamente isso.
06:05O Roberto Campos tem indicado isso, ele falou disso várias vezes, falando, olha, o fiscal, a meta fiscal, a mudança de meta fiscal, não é positiva, porque ela aumenta o custo da política monetária.
06:19Quando ele fala custo da política monetária, ele quer dizer que ele precisa de juros mais altos para ter o mesmo efeito na economia.
06:27Qual é o efeito que os juros buscam na economia?
06:30É travar a economia para que os preços caiam e aí você controla a inflação.
06:35A lógica, aqui, super simplificada, obviamente, é que com o juro mais alto, as pessoas se endividam menos e isso faz com que quem vende, quem produz, venda os produtos por preço mais baixo.
06:53E aí você acaba, ou segurem o preço, segurem um possível aumento de preço, um reajuste de preço por mais tempo.
07:00E aí você consegue segurar o ímpeto inflacionário, porque a inflação é um elemento que vai tomando velocidade conforme ela vai acelerando.
07:11Então, ela acelera cada vez mais porque ela acelerou antes.
07:15E a lógica aqui é a seguinte, olha, como eu sei que o preço dos meus insumos aqui, dos meus produtos, para fabricar os meus produtos, vão ficar mais caros esses preços?
07:25Então, eu já aumento o preço de venda do meu produto e isso é uma bola de neve.
07:31E é esse que é o problema com a inflação e é isso que o Banco Central está tendo que lidar e o fiscal não está acompanhando no Brasil.
07:39Aquela história de que não, eu já falei isso várias vezes, o Lula lembrava sempre durante as eleições que não precisa de lei, não precisa de teto, não precisa de nada.
07:50Basta a minha palavra, no fio do bigode, o Lula garantia superávit primário em todos os anos do governo dele, porque tinha sido assim nos outros dois mandatos.
08:01Pois bem, não tivemos em 2023, não teremos em 2024, quiçá teremos algum superávit em 2025.
08:10Mas, Rodrigo, por que isso é importante?
08:13Isso é importante porque se você não consegue pagar as suas dívidas, as suas contas, você tem que se endividar mais.
08:20Quanto mais você se endivida, menos crível é que você vai pagar as suas dívidas e aí quem te empresta dinheiro começa a cobrar juros mais altos.
08:29Quem perguntou se isso era importante era a velhinha de Taubaté, Rodrigo?
08:33Não, era um...
08:34É importante, parecia a velhinha de Taubaté.
08:37Parou outro dia aqui na Paulista, próximo ao ponto de ônibus, e aí falaram, mas Rodrigo, por que é importante isso que você está falando?
08:45E aí eu expliquei isso com a Paulista.
08:47Aí você respondeu, assista no meio-dia em Brasília dessa quarta-feira.
