Apoiadores do presidente eleito Javier Milei cantaram “Cristina será presa” e “Argentina sem Cristina” na noite do domingo, 22 de novembro, durante a celebração da eleição em segundo turno do libertário à Presidência da Nação. A comemoração era em referência à situação legal da hoje vice-presidente Cristina Kirchner, alvo de diversos processos, em sua maioria por corrupção. “A situação judicial de Cristina é muito preocupante, muito mais grave [agora] do que em 2015, quando ganhou o [Mauricio] Macri. Os processos estavam sendo abertos [naquela época]. Hoje, estão praticamente terminando“, disse o professor Marcos Novaro no podcast Latitude. Novaro é professor de teoria política na Universidade de Buenos Aires e autor de vários livros, sobre a ditadura militar argentina e sobre o governo do peronista Carlos Menem. Ele é especialista em peronismo. “O kirchnerismo ainda tem um porta-aviões para poder se refugiar e de onde pode contra-atacar. É a província de Buenos Aires. [Axel] Kicillof, que governa a província, é um seguidor fiel de Cristina”, acrescentou Moraes. Latitude é um podcast semanal sobre os principais fatos da política internacional e da diplomacia brasileira que vai ao ar todos os sábados, às 18h. Desde setembro de 2023, o conteúdo do programa é exclusivo para assinantes de Crusoé/O Antagonista, que poderão assisti-lo no YouTube ou ouvi-lo nas plataformas de áudio. LATITUDE, UM PODCAST PARA SITUAR VOCÊ NO MUNDO
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00:00Continuando no tema da decadência, Cristina Kirchner, os apoiadores do Javier Milley cantavam no momento da vitória, logo depois de saber os resultados, o então candidato peronista Sérgio Massa já tinha reconhecido a derrota para o Milley, isso na noite do domingo passado, 19 de novembro.
00:21E os apoiadores do Milley durante a celebração nos arredores do bunker da campanha do Milley cantavam Cristina Presa, depois eu também nas ruas de Buenos Aires também via pessoas cantando Argentina sem Cristina e eu queria perguntar agora para o professor, o que deve acontecer com a Cristina?
00:44Ela será presa? Ela vai, a carreira política dela, como deve prosseguir agora num eventual governo, num eventual, não, já consagrado governo Milley?
00:57Sim, esse é outro dos temas que preocupam respecto de como vai reaccionar Cristina e seus seguidores frente a uma situação judicial que é muito preocupante para ela,
01:09é muito mais grave do que foi em 2015, quando ganou Milley, quando ganou Macri, perdão,
01:15os juicios estavam começando contra Cristina, hoje estão praticamente terminando, muitos juicios que se iniciaram
01:23hace 8 anos ou 10 anos, estão, han reunido muitas pruebas, estão concluindo já e têm fallos inminentes,
01:31ela já tem uma condena e vai acumular outras condenas pronto.
01:34Não vai ir presa por sua idade, mas, bom, não vai ter foros e, de todos modos, a condena vai significar um custo político muito importante, digamos,
01:47como vai asimilar isso? Ela e seu sector político é uma dúvida, digamos, pode reaccionar de um modo virulento,
01:55como o fez outras ocasiões, inclusive durante todo o governo que compartilhou com Alberto Fernandes,
02:01reaccionou aos avanços da justiça com movilizações, o intento de juízo à Corte Suprema,
02:07intentos de desplazar jueces, bom, todo tipo de manipulações,
02:14inclusive investigações ilegais por serviços de segurança, serviços de inteligência contra jueces e fiscais,
02:21que agora se estão revelando e que também vão ser investigados por a justiça e vão conduzir,
02:25de alguma maneira, contra dirigentes kirchneristas, digamos, é uma situação muito delicada.
02:33Eu acho que vai empujar a Cristina a ocupar um rol de oposição dura.
02:38Cristina seguramente vai dar ánimos a sectores sindicales, movimentos piqueteros,
02:46e sectores políticos do kirchnerismo e da esquerda para passar à protesta apenas o governo de Millet.
02:57Já há convocatórias de sindicalistas do kirchnerismo e de piqueteros ligados à esquerda
03:05para fazer protestas no dia 19 e 20 de diciembre.
03:08Ou seja, 10 dias depois de que assume a Millet já estão programando protestas contra Millet.
03:15Ou seja, ele não começou a governar e já tem uma agenda de protestas, digamos.
03:19Me parece que Cristina vai afogonear isso e vai tratar de manter o maior sector possível do peronismo
03:29alineado com essa protesta e tratar de evitar que o peronismo se modere,
03:35que os sectores peronistas cooperem com o governo.
03:39Replicando o que sucedeu na época de Macri,
03:42aunque em condições de debilidade maior, digamos,
03:45Cristina já não é o que era 8 anos atrás,
03:48é uma líder muito desprestigiada,
03:50o kirchnerismo está bastante mais reduzido,
03:54mas tem um âmbito, digamos, uma espécie de porta-aviones
03:59de onde refugiarse e onde lançar ataques,
04:01que é a Provincia de Buenos Aires.
04:04Kicillof governa a Provincia de Buenos Aires,
04:07é um seguidor fiel de Cristina,
04:10e controla muitos dos municípios que rodean a capital.
04:14E desde ali sempre han assediado com protestas
04:17ao governo nacional quando não é seu.
04:19O que eles fizeram com Macri e o vão fazer com Millet.
04:24Bom, vamos fazer um resumo agora,
04:28que o professor comentou várias coisas,
04:30fez uma análise muito interessante,
04:32que a situação da Cristina Kirchner
04:34está muito mais complicada do que foi
04:36da última vez que os peronistas perderam poder
04:39em 2015 com Macri.
04:41Principalmente porque as principais causas judiciais
04:44contra ela, a maioria envolvendo corrupção,
04:48estavam se iniciando durante o governo do Macri.
04:51Agora algumas já até avançaram a nível de condenação,
04:54é até interessante relembrar uma que avançou muito
04:58durante a campanha,
05:01que envolvia o mercado imobiliário e de hoteleiro
05:07e as relações da família Kirchner lá na Patagônia,
05:10de onde eles são originários.
05:13O Néstor Kirchner, o falecido marido da Cristina,
05:17e também ex-presidente da Argentina.
05:19E a Cristina Kirchner não deve ser presa por conta da idade,
05:27mas mesmo assim demonstra o medo dela
05:30por possíveis avanços dos processos,
05:34porque podem desprestigiá-la ainda mais politicamente,
05:38é demonstrado em várias atitudes que ela teve
05:40e que o governo do Alberto Fernandes teve
05:43nos últimos, recentemente,
05:46como, por exemplo, tentativas de interferência no judiciário,
05:50um escândalo de espionagem que estourou no meio do segundo turno.
05:55E os sindicatos mais alinhados ao kirchnerismo
05:59já estão se mobilizando para protestos
06:03já no início do governo do Milley.
06:05E um refúgio que a Cristina Kirchner tem
06:08para poder lançar a sua contra-ofensiva
06:12é a província de Buenos Aires.
06:14Lembrando que a província de Buenos Aires
06:16é uma província que tem uma importância política para a Argentina
06:19incomparável a qualquer estado aqui no Brasil,
06:22porque a província de Buenos Aires, sozinha,
06:24representa 37% do eleitorado argentino.
06:28Então, é uma província demograficamente muito importante
06:31e bem consolidada no kirchnerismo.
06:33Lembremos que, nestas eleições, foi reeleito o governador Axel Kicillof,
06:38que é um proteger da Cristina Kirchner,
06:41é um apadrinhado político dela e fiel seguidor dela.