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O presidente da Argentina, Javier Milei, completou 100 dias no poder nesta terça-feira, 19 de março, com um governo marcado por ajustes financeiros e embates políticos.
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Transcrição
00:00O governo de Javier Mellê completou 100 dias.
00:04100 dias em que houve de tudo.
00:07Mellê já enfrentou protesto,
00:09já fechou a agência pública de comunicação,
00:12já teve treta, já teve confusão com a vice.
00:17Caio Matos, vem pra cá, meu amigo.
00:20Seja muito bem-vindo ao Meio Dia em Brasília.
00:22Caio Matos, diretamente de Buenos Aires,
00:24seu cabelo esvoaçante.
00:26Caio, qual é a avaliação que dá pra se fazer
00:29desse 100 dias de governo Mellê?
00:31Ele conseguiu avançar em alguma coisa?
00:36De fato, ele conseguiu cumprir alguma promessa?
00:38Ou pra que ele cumpra alguma promessa,
00:41ele vai ter que fazer muita concessão
00:43ao seu estilo Javier Mellê de governar?
00:45Boa tarde pra você, Caio.
00:47Boa tarde, Wilson. Boa tarde.
00:49Gente, tudo bem?
00:50Bom, então, acho que o governo do Javier Mellê,
00:53o que ele mais valoriza é a questão
00:56do controle do déficit fiscal.
00:58ou, melhor, de alcançar superávites financeiros.
01:03O que isso significa?
01:04Significa que o governo está arrecadando mais do que gasta,
01:07incluindo gastos com dívidas e pagamento de juros dessas dívidas.
01:15Então, isso é muito importante,
01:16porque o governo conseguiu dois superávites financeiros
01:19seguidos em janeiro e em fevereiro,
01:22e isso é bom pra economia,
01:24porque isso ajuda o governo a ter mais credibilidade,
01:28ajuda a desacelerar a inflação,
01:30a inflação está desacelerando.
01:31Em dezembro foi,
01:33a inflação no mês, em dezembro,
01:35foi na casa dos 25%,
01:37em janeiro caiu pra 20%,
01:41caiu não, desacelerou, né?
01:42A inflação continuou subindo,
01:44mas agora em janeiro só subiu 20%,
01:46em fevereiro só subiu 13%.
01:48Então, é muito importante esses superávites financeiros
01:51que o governo tem alcançado.
01:53A pergunta é,
01:55como ele tem conseguido esses superávites financeiros
01:58e eles são sustentáveis?
02:02E aí é que a situação fica um pouco menos agradável do que parece,
02:05porque o governo do Javier Milley tem conseguido esses superávites
02:09de uma maneira um pouco,
02:11que não pode se sustentar ao longo prazo,
02:14porque ela se baseia praticamente em três pilares,
02:16que comprometem a sua sustentabilidade.
02:19O primeiro, e por ironia do destino,
02:22é justamente a inflação.
02:23Então, pode ser paradoxal,
02:25porque o governo do Javier Milley está desacelerando a inflação,
02:28mas a inflação é importante
02:30para manter esses superávites financeiros.
02:33Por quê?
02:33Porque ele corta muitas despesas
02:35que não são reajustadas pela inflação.
02:38Então, a inflação desvaloriza o peso,
02:41as despesas não são reajustadas,
02:42então as despesas ficam mais baratas.
02:44Esse é um caso principalmente das aposentadorias.
02:48Ao mesmo tempo, o governo começa a arrecadar mais com impostos
02:51sobre importação e exportação.
02:54Então, paradoxalmente,
02:56a inflação está ajudando a sustentar esses superávites financeiros.
03:00E é a inflação que o governo tem que combater
03:02para estabilizar a economia,
03:05e é o que tem feito justamente com esses superávites financeiros.
03:07Depois eu vou falar um pouco mais sobre a questão de arrecadação,
03:11que é importante.
03:12Mas agora, o segundo, para não perder o fio da merda,
03:14o segundo pilar é justamente o não pagamento de subsídios
03:18a empresas do setor energético.
03:21Isso é um fardo que os governos argentinos têm,
03:24é uma herança do governo do Néstor Kirchner,
03:26e que é uma das principais causas que explicam
03:29a situação econômica da Argentina.
03:31O Miley não pode simplesmente deixar de pagar
03:34sem apoio no Congresso.
03:37O que ele tem feito é simplesmente congelar o pagamento
03:39e adiar o pagamento,
03:40e vai acumulando dívida com as empresas do setor energético.
03:44E isso pode acabar gerando prejuízos.
03:48No final das contas,
03:53o custo pode acabar sendo repassado,
03:56e deve ser repassado parte,
03:58já está sendo repassado parte,
03:59já teve reajustes em fevereiro.
04:01A sociedade.
04:04E podemos também ter problemas com abastecimento energético.
04:09E o terceiro pilar são cortes de repasses
04:12aos governos das províncias.
04:15O que acontece?
04:17O governo tem cortado dinheiro que repassa
04:20aos governos provinciais,
04:21que são os governos estaduais aqui da Argentina.
04:23Só que o problema é,
04:25o Miley perde apoio político desses governadores,
04:29e ele começa a criar inimigos no cenário político.
04:31Isso é o que ele menos precisa.
04:33Nós tivemos um caos há algumas semanas
04:36com governadores das províncias do sul da Argentina,
04:40da região da Patagônia,
04:42falando em cortar fornecimento de gás e de petróleo,
04:45porque eles são muito importantes para isso na economia argentina.
04:48E falaram de cortar isso porque o Miley, justamente o governo Miley,
04:52não estava fazendo os repassos a essas províncias.
04:56Então, o Miley perde apoio político e começa a sofrer desgaste político com esses governadores.
05:04Isso é muito importante porque o Miley só consegue manter superávites financeiros
05:10de maneira estável se ele conseguir implementar reformas de base na economia argentina.
05:17E ele só consegue isso com o apoio do Congresso.
05:20Ele precisa do apoio do Congresso para poder aprovar essas reformas.
05:24Uma reforma que seria muito importante para ajudar a economia argentina
05:28seria, por exemplo, a questão da flexibilização da legislação trabalhista
05:34que o Miley tentou implementar via o decreto de necessidade e urgência
05:39que ele aprovou, um decreto do final de dezembro.
05:44E o Miley, o problema é que,
05:48como essa reforma precisa passar pelo Congresso,
05:51a justiça derrubou essa reforma no decreto do governo.
05:56Então, o Miley precisa de sustentação política no Congresso.
06:00Ele tem pouquíssimos deputados, pouquíssimos senadores.
06:03E quando ele cumpre a briga com os governadores,
06:06dificulta ainda mais a situação dele no Congresso,
06:08porque os governadores têm parlamentares que respondem justamente a esses governadores.
06:13E nós vemos a fragilidade do Miley no Congresso
06:16quando nós vemos que ele, por exemplo, tentou enviar um pacotão de reformas
06:22via Congresso, que era a famosa lei ônibus,
06:26que caiu no começo de fevereiro, ainda no plenário da Câmara,
06:31o decreto de necessidade e urgência que eu falei do Miley,
06:33que é um decreto muito importante, que está em vigor desde o final de dezembro,
06:37exceto a parte da reforma da legislação trabalhista.
06:42E foi rejeitado pelo Senado
06:45e pode cair se o plenário da Câmara dos Deputados também rejeitá-lo.
06:51Então, o Miley precisa
06:53tentar
06:55costurar maior apoio político.
06:57E ele tem
06:58indicado que ele pode conseguir isso
07:01redirecionando
07:03a sua estratégia política.
07:06Antes, ele estava focando muito
07:07na Câmara dos Deputados
07:09e agora ele...
07:11No Congresso Nacional, perdão.
07:13E agora ele está focando mais nos governadores.
07:16Ele até teve uma reunião recente com os governadores.
07:19Ele não.
07:20O governo do Miley teve uma reunião recente com os governadores
07:22na Casa Rosada
07:23e pretende costurar um pacto estrutural
07:26com esses governadores para maio.
07:28Wilson?
07:28E, Caio,
07:32é porque você já engatou uma quinta marcha,
07:34então eu fiquei realmente com pena de interrompê-lo
07:37nos seus comentários.
07:38Agora, Caio, para a gente fechar,
07:42muito se fala,
07:45e aí muito se fala na imprensa brasileira,
07:47que o governo Javier Miley
07:49é um governo
07:50que tem várias...
07:52que tem sofrido várias derrotas
07:54justamente porque ele não tem uma maioria
07:56na...
07:58Enfim, no que seria equivalente
07:59à Câmara dos Deputados aqui do Brasil,
08:01ali no Parlamento.
08:04Dá para a gente falar que, de fato,
08:06é um governo que ele já começa enfraquecido
08:08ou...
08:10E aí que vem a tua provocação.
08:12Ou, apesar de ser um governo
08:14com minoria no Parlamento,
08:16ainda dá para falar que é um governo
08:18que conseguiu avançar em algumas pautas,
08:21principalmente nessa parte da austeridade fiscal, Caio?
08:23Então, Wilson, na verdade,
08:26isso até é um ponto interessante
08:27que você comenta,
08:29que eu acho que é um dos grandes pontos positivos
08:31do governo Miley,
08:32que ele ainda tem sustentação
08:34na sociedade.
08:37Nós vemos as pesquisas de opiniões
08:38sobre a aprovação do governo Miley,
08:41e ele tem ainda acima de 50%,
08:43o que é muito importante.
08:44A sociedade argentina,
08:46em sua maioria,
08:47ainda atribui toda a situação econômica
08:50há décadas de má gestão no governo,
08:54e ainda endossa o governo do Javier Miley.
08:58Mas, até quando?
09:00É muito difícil saber,
09:01sem essas reformas estruturais
09:03que o governo precisa fazer
09:05e precisa do apoio no Congresso,
09:08a situação,
09:09esse apoio da sociedade,
09:13ele é muito sensível.
09:14Então, ele pode diminuir
09:15até um ponto que o Miley nem tenha mais isso.
09:18mas precisamos ver
09:19como é que avançam as negociações
09:21com os governadores
09:22e como ele tenta costurar
09:23a articulação política
09:24para aprovar suas medidas.
09:27Ele vai tentar enviar
09:28uma nova lei Omnibus
09:30ao Congresso,
09:32vai ser,
09:34agora vão ser vários projetinhos menores,
09:37na verdade,
09:37não vai ser mais um grande pacotão
09:38de reformas de uma vez,
09:41e ver se ele consegue sustentar
09:44ou manter ainda o decreto em vigor,
09:47porque se o decreto cai,
09:49também voltamos a ter várias leis
09:51que tinham sido grandes pontos
09:53do governo Milley,
09:55várias leis acabam voltando
09:57que ele tinha derrubado
09:58com esse decreto,
09:59várias leis de controle de preços
10:00que voltam a asfixiar a economia.
10:03Então, ainda precisamos ver
10:05como o Milley vai costurar
10:08se ele vai conseguir costurar
10:11esse apoio político no Congresso.
10:13Descrição e Legendas Pedro Negri
10:14Legenda Adriana Zanotto

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