A soberania das Ilhas Malvinas se tornou um tema na campanha presidencial argentina, que terminou com a vitória do libertário Javier Milei. O candidato peronista derrotado, Sergio Massa, lembrou no debate que Milei é um adorador da ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher, que comandou a guerra contra a Argentina, em 1982. O peronista, assim, tentou gerar rechaço ao libertário entre os argentinos, que ainda guardam as cicatrizes do conflito. Com a vitória de Milei, o tema das Malvinas deve voltar ao segundo plano. “Durante o governo de Alberto Fernández, esse foi um tema muito utilizado para fazer diplomacia ideológica. Não serviu para muito, mas agitou um pouco os ânimos nacionalistas. Milei foi muito crítico a isso. E sua futura chanceler, Diana Mondino, também foi muito crítica disso. Ela disse era preciso respeitar os direitos dos habitantes das Malvinas“, disse o professor Marcos Novaro no podcast Latitude. Novaro é professor de teoria política na Universidade de Buenos Aires e autor de vários livros, sobre a ditadura militar argentina e sobre o governo do peronista Carlos Menem. “Muita gente entende que ficar insistindo com uma reclamação de soberania das ilhas não vai mudar muitas coisas. A situação está travada. E tampouco é uma grande prioridade na política argentina. Acredito que foi mais um esforço de Massa em pressionar Milei, para colocá-lo como um amigo de Thatcher e dos ingleses, mas isso não importa muito intensamente do assunto“, disse Moraes. Latitude é um podcast semanal sobre os principais fatos da política internacional e da diplomacia brasileira que vai ao ar todos os sábados, às 18h. Desde setembro de 2023, o conteúdo do programa é exclusivo para assinantes de Crusoé/O Antagonista, que poderão assisti-lo no YouTube ou ouvi-lo nas plataformas de áudio. LATITUDE, UM PODCAST PARA SITUAR VOCÊ NO MUNDO Para assinar Crusoé/O Antagonista, clique aqui: https://assine.oantagonista.com.br/
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00:00Professor, agora, eu vi que na campanha o tema das Ilhas Malvinas voltou, né, o Sérgio Massa querendo que o Javier Milley explicasse por que ele gostava da ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher, e aí o Milley teve que se explicar, enfim, eu pergunto para o senhor, as Malvinas são argentinas?
00:30Perdón, mas não entendi bem a pergunta, não sei se houve um corte ou não a compreendido.
00:35As Malvinas são argentinas.
00:40Bom, a ver, há uma história, digamos, de reivindicação da soberania sobre Malvinas, e há, inclusive, uma inclusão da causa Malvinas na Constituição reformada de 1994.
00:58Ou seja, que aí há um mandato constitucional, né, de reclamar por a soberania de Malvinas.
01:05Durante o governo de Alberto Fernández, esse foi um tema muito utilizado para ser diplomacia ideológica.
01:14Este, não sirviu para muito, mas sim agitou um pouco os ânimos nacionalistas.
01:21Este, e Milley foi bastante crítico disso, incluso sua cancilla foi muito crítica disso, né, Diana Mondino, que é a candidata a cancilla,
01:28este, disse algo que depois teve que desdecirse porque a acusaram de ser pro-britânica,
01:35mas disse que havia que respeitar os direitos dos habitantes de Malvinas, este, algo que é elemental, digamos, né,
01:42e que muita gente na Argentina entende que é assim, e muita gente entende também que insistir com simplesmente um reclamo de soberania
01:50que não vai mudar muito as coisas, e que, este, a situação está travada, e que não é uma grande prioridade da política argentina,
02:00não deveria ser uma prioridade tão importante da diplomacia argentina, este, este tema de Malvinas, digamos, né?
02:09Então, eu acho que, por algo, o electorado ignorou toda essa discussão,
02:15Massa fez um esforço por colocar apretos a Milley, que tratasse de apresentá-lo como um amigo de os, de Thatcher e dos ingleses, né?
02:25Eu acho que isso não importa muito intensamente a maioria da gente, não é que a gente se esqueça do tema de Malvinas,
02:34muita gente, digamos, tem seu coração no reclamo, mas é um coração secundário sobre outras preocupações, digamos.
02:42Então, eu acho que um governo razonável argentino tem que trazer a conta outras prioridades de política exterior,
02:52e o tema Malvinas não usá-lo tanto para fazer agitação nacionalista ou diplomacia ideológica, digamos,
03:01que significa, bueno, rodear-se de os que apoiam os reclamos argentinos,
03:06aunque sejam dictaduras opressivas e governos muito atrasados,
03:13e sejam muito mal os socios, digamos,
03:16e, em vez, sejam muito mais importantes para a Argentina, como as democracias occidentais, digamos.
03:25Então, eu acho que Milley vai ir nessa direção,
03:28me parece que o tema Malvinas vai ocupar um lugar menor,
03:32e provavelmente seja o único que se pode fazer, digamos,
03:38porque não se pode pensar em que há outras alternativas de negociamento com Inglaterra.
03:45Por momento, não há nenhuma, e isso provavelmente seja assim durante muito tempo, digamos.
03:52Tá, eu perguntei para o professor se as Malvinas são argentinas,
03:55ele lembrou que isso está na Constituição do país,
03:59e que isso foi muito usado pelo atual presidente Alberto Fernandes,
04:03peronista, que trouxe essa diplomacia ideológica, né,
04:07trazer essa história para ver se atraía as pessoas, se dava uma animada,
04:12mas que isso foi muito criticado pela Diana Mondino,
04:15que vai ser a chanceler do Milley.
04:18O professor Marcos diz aí que a maioria dos argentinos não se importam tanto com essa questão,
04:25mas tem lá o seu coraçãozito, né, coraçãocito,
04:29que se importa ali com a questão, mas que não vai ser um tema importante.