- 29/04/2025
Quase 50 anos depois, um dos 23 militares do Agrupamento de Cavalaria de Bobonaro revisitou Timor com uma equipa da RTP.
Categoria
📚
ConhecimentosTranscrição
00:00A Vila de Balibó ficou tragicamente célebre na história do conflito timorense.
00:12Nesta casa foram mortos cinco jornalistas, dois australianos, dois britânicos e um neozelandês,
00:18que estavam a cobrir a guerra civil e o avanço das tropas indonésias para televisões australianas.
00:23Foram deliberadamente mortos por tropas especiais indonésias.
00:26As últimas imagens dos cinco de Balibó foram captadas por uma equipa da RTP.
00:34No antigo Forte Português, junta-se a nós Manuel Joaquim Soares, filho do Sargento Soares,
00:40o militar timorense a quem foi entregue o comando do quartel de Bobonaro, quando os portugueses se retiraram.
00:46Depois da proclamação da independência de 28 de novembro de 1975,
00:52eles deram um cargo ao meu pai como vice-ministro da defesa.
00:57O meu pai esteve sempre em coisas.
01:00Depois nós recuavamos para o mato.
01:03No mato, mas ali, aquelas aldeias...
01:06Sim, não chegavam lá.
01:09Mantinham-se mais ou menos longe da guerra.
01:11Tanto mantimentos, não há problema.
01:15Tem largados, vacas, galinhas e pessoal dali também faz parte.
01:21Só que cabrões, quando vêm aquilo, vêm com o avião a bombardear.
01:26Para mim, aquilo que mais me dava curiosidade era saber como é que depois da nossa saída
01:33se dava a sobrevivência no quartel.
01:37Alguém tinha que pagar os ordenados no quartel.
01:40Não, porque na altura, eles sabem, meu pai explicou, disse que paciência,
01:46agora temos que fazer uma guerra própria contra invasor.
01:52Sim, mas isso a seguir.
01:55Quer dizer, vocês saíram, o pessoal não recebe o ordenado.
01:58Essa era a minha preocupação.
01:59É.
02:01Olha, foi a última vez que eu estive na praia, neste tempo foi aqui.
02:04E tive aí um fim de tarde a tirar fotografias, já não sei, já não me referenciaram slides,
02:09já eram...
02:10Sei que estive a tirar fotografias ao pôr-de-sol e tenho uma série de fotografias dessas,
02:14convencido que podia gastar a vontade porque eu ia embora.
02:16E afinal, estava a começar.
02:19Esta é que é a entrada que eu identifico.
02:22Nós estamos todos, nós dormimos todos aqui à volta, neste chão.
02:26E então quantos dias é que estiveram aqui?
02:27Não tenho ideia.
02:28Tivemos desde final de agosto, nós, se houver, fomos atidos a 26 ou 27 de agosto.
02:33Nós vínhamos perfeitamente embora de fardados, mas desarmados.
02:37Nós, os metropolitanos, por majoria, os ficaram.
02:40E connosco vinha a escolta do quartel.
02:42Vinham não sei quantos animogas, mas vinham bastantes militares timorenses
02:47que nos vinham a fazer guarda porque nós vínhamos aqui para Batugadé,
02:51onde a barcaça que vinha do Ecus nos iria recolher.
02:54E depois, quando estávamos em viagem da Maliana para Balibó,
02:56é que numa das curvas da estrada fomos mandados parar uma emboscada.
03:02Felizmente, ninguém disparou.
03:03Foi, se calhar, a nossa observação.
03:05Quem comandava essa força da emboscada era um ex-furial, meu colega, timorese,
03:11que não me lembro o nome, que tinha sido aliciado pela UDT e adriu ao movimento da UDT.
03:17Batugadé é a última vila do lado oriental da ilha, já muito perto da fronteira.
03:21Era aqui que uma barcaça deveria vir buscar os militares de Babunaro
03:26e levá-los para a ilha de Atauro, onde estavam já o governador e o comando portugueses.
03:31A barcaça chegou na madrugada de 30 de agosto,
03:34mas desistiu de aportar quando avistou uma multidão e homens armados na praia.
03:38Temendo um ataque, deu meia volta e regressou a Atauro.
03:42Depois da emboscada da UDT, os cinco militares do quartel que tinham ficado em Babunaro
03:47receberam ordem para irem para Atambua,
03:49capital do distrito do lado indonésio de Timor junto à fronteira.
03:53O governo de Jakarta tinha autorizado que um avião viesse aqui buscar o grupo dos cinco,
03:57mas quando chegaram à Atambua eles foram retidos,
04:00levados para Kupang, sujeitos a interrogatórios duros,
04:04e depois entregues ao MAC em Batugadé.
04:06Juntaram-se aqui a nós e nessa altura sim,
04:09os líderes da UDT estiveram, e foi nessa altura que estiveram a interrogá-los,
04:13nunca soube quais foram as perguntas do interrogatório.
04:16Acho que mostraram até alguma hostilidade por o quartel não ter aderido à UDT.
04:20Tivemos noção de que éramos reféns da UDT,
04:23e a partir do momento em que os políticos da UDT nos prenderam aqui,
04:27a ideia é negociar com o governador Lemos Pires,
04:31uma contrapartida qualquer para nos deixar sair.
04:34Mário Carrascalão, dirigente da UDT,
04:36afirmaria numa carta a Armando Palma Carlos, pai de um dos presos,
04:40que Lopes da Cruz passou a querer usar os militares como reféns por influência indonésia.
04:46Francisco Lopes da Cruz, figura preponderante do processo e durante os anos da ocupação indonésia,
04:52era de facto quem mandava na UDT.
04:54Viria a ser conselheiro do presidente Soarto e embaixador da Indonésia em Portugal.
04:58Não respondeu aos nossos pedidos de entrevista.
05:02Na altura, em Portugal, soube-se apenas que os militares tinham sido presos pela UDT.
05:06A mulher do major Viçoso lançou-se numa batalha pela sua libertação.
05:10Ouvi aquilo e imediatamente tentei entrar em contato com os militares, os superiores dele aqui,
05:23e com o Presidente da República e o Conselho da Revolução,
05:30com qualquer pessoa que me soubesse dizer alguma coisa.
05:33Nunca me souberam dizer nada, nem onde ele estava, nem o que estava a passar.
05:37Assim que soubemos que eles estavam todos detidos, organizámo-nos a famílias todas dos 23
05:45e fizemos um plano para tentar saber onde eles estavam, o estado em que estavam,
05:53e se eram libertados ou não, e porquê.
05:58E desse grupo grande, fizemos tipo uma task force,
06:02éramos cinco ou seis que planeámos a maneira de atuar.
06:07Pouco depois, surgiram notícias de que alguns presos corriam risco de vida.
06:13As culpas eram, segundo lhes disseram, deles serem comunistas.
06:17Portanto, a UDT achava, os dirigentes da UDT achavam que o seu marido era comunista.
06:23O meu marido e os outros, esses tais do grupo.
06:26Os cinco.
06:26Os cinco, sim.
06:28E alguma vez acha que ele teve alguma inclinação pela Fretilin, ou que era um apoiante da Fretilin?
06:33Nunca. O meu marido era mentalmente, exclusivamente militar.
06:39A Fretilin, entretanto, foi empurrando o refugiado,
06:43já há imenso tempo que estavam a passar para a linha de fronteira.
06:45Estaremos aqui nestas imediações.
06:47Aliás, o sítio onde acampámos, onde acampámos, teve que ser desbravado,
06:52teve que ser queimado ali, tiveram que abrir clareiras para nós podermos instalar-nos.
06:56A ponte existia ou não?
06:57Não, não existia ponte nenhuma, não existia rigorosamente nada do que está aqui hoje.
07:01Nada, tudo é novo. Tudo é novo.
07:03Então atravessava-se a ribeira mesmo?
07:05Sim, a ribeira não tinha água, praticamente.
07:06Tinha um fio de água.
07:08Onde nós tentámos ir buscar um bocadinho de água, alguma pouca água,
07:11para cozinhar o arroz, que nos deram para cozer.
07:13Se aqui era o limite, se era a ribeira de Motain, era ali que nós estávamos,
07:17a 50 metros, ou se calhar nem tanto.
07:20Sob o bombardeamento?
07:21O bombardeamento um dia, no dia em que o bombardeamento deixámos de estar,
07:25entrámos na Indonésia.
07:26Havia aí uma vala, portanto, ao lado da estrada,
07:29e nós morgulhámos na vala porque nos disseram, é para aqui.
07:34E os armados da UDT a apontarem-nos as armas.
07:38Entretanto, isto tudo debaixo de tiroteio, de granadas, enfim, numa guerra total.
07:43Vocês nessa altura tinham guardas da UDT?
07:45Sim, sim, a apontar-nos a arma.
07:48E estivemos ali horas, eventualmente.
07:50Não tenho a noção, se foi uma hora, se foram três horas, se foram quatro horas.
07:54Enquanto houve tiro, até que alguém disse,
07:57embora, embora, e nós, embora, é para este lado, é para aquele.
07:59Embora, e passávamos a fronteira e acabou.
08:01Foi fugir debaixo de fogo.
08:03Era o dia 24 de setembro de 75 e muito acontecer, entretanto.
08:08Depois dos confrontos em Dili, as forças do MAC abandonaram a cidade
08:11e recuaram para a fronteira, que se tornou no centro dos combates.
08:15O apoio militar indonésio era já evidente.
08:18A 7 de setembro, o MAC enviaram uma petição ao presidente Soarta
08:21a pedir a integração, excluindo para todo o sempre
08:24qualquer tipo de autoridade reclamada ou reclamar pelo governo de Portugal.
08:30Na zona da Ribeira de Motem estariam no final de setembro
08:33cerca de 40 mil refugiados e os prisioneiros.
08:36Pela primeira vez, um delegado da Cruz Vermelha Internacional
08:39foi autorizado a visitá-los.
08:41Michel Testos conseguiu a autorização para repatriar a filha
08:45e a mulher do Sargento Rodrigues e o próprio militar.
08:47Foi também através de testos que chegou pela primeira vez a Portugal
08:51uma fotografia do grupo e a notícia de que eles estavam bem.
08:57A uma dezena de quilómetros da fronteira, do lado indonésio, fica Atapuco.
09:02Foi aqui que os 23 militares portugueses passaram nove meses em cativeiro.
09:06A primeira noite, numa esquadra de polícia,
09:09depois, numa igreja católica abandonada, isolada, no mato,
09:13perto de um cemitério de uma ribeira.
09:15Mas onde, exatamente?
09:19Junto à nova igreja de Atapuco, na Casa Paroquial,
09:22a nossa produtora diz ao que vimos.
09:23Bom dia, eu sou Luiz, Luiz Carvalho.
09:31Luiz Carvalho.
09:32Eu chamo Francisco López.
09:35Sim.
09:36Francisco?
09:37López, porque é um português.
09:39López.
09:40Oh, você pode falar em português?
09:42Não pode.
09:42Ok, não pode.
09:43Nós moramos aqui,
09:44nós moramos aqui,
09:45nós moramos aqui,
09:45nós moramos aqui,
09:46nós moramos aqui,
09:46nós moramos aqui,
09:46nós moramos aqui.
09:47A igreja?
09:50Sim, sim, sim,
09:50eles moramos aqui.
09:52A igreja?
09:52Sim, ok.
09:56Sim, ok.
09:58Você está aqui?
09:58Eles moramos aqui.
10:01Dentro da igreja?
10:02Sim, sim, sim.
10:04Eu não tenho trabalho aqui.
10:05Eu tenho trabalho
10:06do Senhor Comunan,
10:08para preparar,
10:10para fazer,
10:10para cuidar da igreja.
10:13Eu, como Hansip,
10:15WANRA,
10:16saibam banto
10:17de Koramil Atubo,
10:18no ano do Atubo,
10:20e de comandante
10:21para Kiki Sanakri.
10:24Kiki Sanakri, sim,
10:25comandante de Kiki Sanakri, sim.
10:29Os WANRA
10:31eram uma milícia civil paramilitar
10:33treinada pelas Forças Armadas
10:34Indonésias.
10:36Koramil
10:36é o acrónimo
10:37de Comando Militar Regional,
10:39que no distrito de Atambu
10:40era chefiado por
10:41Kiki Sanakri,
10:43um velho conhecido
10:43dos militares de Bobunaro.
10:45Ainda em julho,
10:46receberam o Major Viçoso
10:47do outro lado da fronteira.
10:49Kiki Sanakri
10:50foi um dos organizadores
10:52das operações militares
10:53antes e depois
10:54da invasão indonésia
10:55do Timor-Leste
10:55e viria a ser
10:56um dos responsáveis
10:58pelas milícias
10:58pró-indonésias
10:59que, em 1999,
11:01espalharam terror
11:02em Timor-Leste.
11:03Eles não tinham prisão,
11:28Mas eles não podem ir embora.
11:58Quero lhe dizer alguma coisa?
12:00Sentiu-se prisioneiro ou não?
12:02Eu senti-me prisioneiro.
12:07Ela vai traduzir.
12:09Deve ter sido dito à população
12:13para não nos procurar, não ir ter conosco,
12:15deviam estar proibidos.
12:17Nós estávamos limitados, ninguém se aproximava de nós.
12:21O que é facto,
12:23estávamos perfeitamente isolados,
12:25os únicos que faltava que tínhamos eram os guardas.
12:28Talvez, no momento,
12:29se desistirámos por isso,
12:31para não ter coisas que se engajariam
12:35e que nos mantém o processo
12:37de conflito entre Portugal e Portugal.
12:41E o UDT.
12:43Ok.
12:451, 2, 3.
12:47Tchau!
12:49Tchau!
12:515 anos!
12:535 anos!
12:555 anos!
12:575 anos!
12:595 anos!
13:01Franciscos oferece-se para ser o nosso guia em Atapupo.
13:04Vai levar-nos aos locais onde os militares portugueses estiveram presos.
13:08Primeiro, a esquadra da polícia.
13:10É aqui que Michel Testos entra de novo nesta história,
13:13cheio de boas intenções.
13:155 anos!
13:17Viemos a pé desde a fronteira até aqui.
13:20Oh, é!
13:21A meio do caminho apareceu-nos um senhor da Cruz Vermelha Internacional,
13:23o senhor Michel Testos,
13:25que levava uma camioneta que trouxe a bagagem,
13:27as nossas malas da camioneta,
13:29e nós viemos a pé com ele até aqui.
13:31E o senhor Michel Testos estava convencido
13:33que nos iria libertar neste dia.
13:35E nós também estávamos convencidos
13:37que iríamos ser libertados neste dia.
13:39Depois, enfim, houve as formalidades,
13:41não sei o que aconteceu,
13:42o que é facto é que acabámos a noite lá em cima.
13:45Estava apertadíssimo,
13:47nunca havíamos 23 deitados,
13:48não sei bem como é que fizemos.
13:49Sei que ficámos lá mal.
13:51Lembro-me do senhor Michel Testos ir lá despedir-se de nós.
13:54E nunca mais ouviram?
13:55Nunca mais ouvimos.
13:57Foi assim...
13:59Olha, foi uma esperança que tivemos
14:00e que se perdeu neste dia.
14:03Durante meses, a Indonésia irá dizer
14:05que os militares eram prisioneiros da UDT
14:07e a ela tinham sido devolvidos,
14:09e no entanto estavam numa igreja abandonada,
14:11a um quilómetro da esquadra onde Testos os deixaram.
14:14Hoje, da igreja, não resta nada.
14:16Não resta nada.
14:17Aqui está o cemitério.
14:19Há aqui sinais de poço de sangue.
14:22Próximo de onde estávamos,
14:25tinha um poço.
14:27Ah, fornei.
14:28Vocês estãoendo.
14:29Aia assustada.
14:30Tem um poço.
14:31A água assustada.
14:32Tem um poço.
14:33Um poço.
14:34Um poço.
14:35Ah, vamos lá.
14:36Um poço.
14:37Pois é, um poço.
14:38Um poço.
14:39Até ontem...
14:40precisar o mesmo terreno.
14:42Isso eu sei.
14:45Nós estávamos, de certa forma, cercados.
14:49À nossa volta havia uma cercazinha
14:51e víamos passar os penurais por fora da cerca,
14:55a caminho do cemitério.
14:56A igreja estava em ruínas,
14:59estava cheia de materiais de construção,
15:01tábuas enormes,
15:02e foi com esses materiais de construção
15:04que nós conseguimos tornar a nossa vivência,
15:06de certa forma, mais cómoda.
15:08Porque construímos mesas, construímos camas,
15:12com todos os materiais que estavam na igreja.
15:13Quando chegaram aqui, o que é que pensaram?
15:17Nós pensámos que seria por dois ou três dias,
15:20uma permanência aqui muito limitada.
15:22Mas à medida que o tempo passava
15:24e não havia sinais de saída,
15:27fomos acomodando e fomos instalando.
15:29Tínhamos um poço aqui próximo,
15:31logo em frente à igreja,
15:32creio que estamos aqui nas imediações onde seria o poço,
15:35que tinha bastante água.
15:36As primeiras refeições que comemos aqui
15:38eram o arroz embrulhado numa folha de bananeira,
15:42não tínhamos colheres,
15:44vinham um monte de arroz
15:45e vinham uma pasta de piripiri junto,
15:48aquilo era muito picante,
15:49misturámos no arroz para diluir um bocadinho,
15:50e era a nossa refeição do dia.
15:53Nós aqui tínhamos noção
15:55de que a Indonésia estava a avançar para dentro de Tibor.
15:57Ouviam-se os bombardeamentos
15:59ou a partir de barcos no mar,
16:02ou a partir de canhão de borteiros a partir de terra,
16:05mas nós ouvíamos continuamente
16:07os canhões a disparar sobre Tibor.
16:12Na madrugada de 7 de dezembro,
16:14unidades navais indonésias começaram a bombardear Dili.
16:17Aviões e helicópteros lançaram tropas especiais sobre a cidade.
16:20Seguiu-se o desembarque.
16:22Ao fim de poucas horas, controlavam a capital.
16:25Nas semanas seguintes,
16:26as tropas indonésias tomaram praticamente tudo o território.
16:29Em apenas quatro meses,
16:30terão morrido 60 mil timorenses.
16:32Dias antes da invasão,
16:34a 28 de novembro,
16:35a Fretilin tinha proclamado unilateralmente
16:37a independência da Timor-Leste.
16:39No dia 30,
16:40os partidos do MAC
16:41tinham assinado a declaração de Balibó,
16:44pedindo a intervenção da Indonésia
16:45e a integração.
16:48A invasão foi tolerada por países da região,
16:50entre eles a Austrália,
16:52e aprovada pelo presidente dos Estados Unidos,
16:54Gerald Ford,
16:55e pelo seu secretário de Estado,
16:56Henry Kissinger.
16:57Na véspera da invasão,
16:59foram recepidos em Jakarta
17:00pelo presidente Soarto.
17:01Os documentos sobre a reunião
17:03são hoje públicos.
17:04Soarto falou da instabilidade em Timor-Leste
17:06e disse que Portugal se mostrou
17:08incapaz de controlar a situação.
17:10Por isso,
17:11pedia a compreensão dos Estados Unidos
17:13se a Indonésia
17:14entendesse ser necessária
17:15uma intervenção rápida e drástica.
17:18O presidente Ford
17:19disse compreender o problema
17:20e as intenções de Soarto.
17:22Kissinger
17:23compreendia a necessidade
17:24de uma atuação rápida
17:26e quis saber se Soarto
17:27antecipava uma guerra de guerrilha prolongada.
17:30O presidente indonésio
17:31disse que provavelmente
17:32haveria uma pequena guerra de guerrilha.
17:35A guerrilha em Timor-Leste
17:36durou o tempo da ocupação,
17:3825 anos.
17:39Cerca de 200 mil pessoas,
17:41um terço da população,
17:42foram mortas de forma violenta,
17:44ou à fome,
17:45durante esse período.
17:46A invasão em Indonésia
17:47também não surpreendeu os portugueses.
17:49No dia 2 de dezembro,
17:50em Atauro,
17:51o comando referiu
17:52numa mensagem para Lisboa
17:54a elevada probabilidade
17:55de ataque indonésio
17:56e pedia instruções.
17:58Eu estava a descansar
17:59e aí às 4 da manhã
18:02vieram-me chamar
18:04e depois eu fui
18:06e realmente vi os colarões.
18:08À distância não,
18:09se havia só os colarões.
18:11Eu disse,
18:12de facto, pronto,
18:13isto é o bom mordeimento naval.
18:15Depois da frente ali
18:16que a declarada independência
18:18era iminente
18:19a invasão em Indonésia.
18:22E no radar
18:23temos 5 navis de guerra
18:25ao largo de ali.
18:28O que é que foi fazer
18:28um bom mordeimento naval?
18:30Com certeza
18:31é para fazer um desembarque.
18:33Tinha uma recebida
18:34ordem,
18:34se houver invasão em Indonésia,
18:37a força portuguesa
18:38deve ser recuperada
18:39na corvette.
18:41E eu
18:41ficava na
18:43afonso cerqueira
18:45que ficava
18:47numa missão
18:48de show the flag
18:50Monterey-le-pavillon
18:52e eu fiquei lá
18:53como representante
18:54do Timor
18:55ao afastar-me
18:57do Ataluro.
19:00Este é mesmo
19:01o final do Império.
19:02Acabou.
19:03Acabou aqui.
19:04No dia 7 de dezembro
19:05eu estou a assistir.
19:06Eu sou a última
19:07testemunha
19:08do fim do Império.
19:10Um dia depois
19:11da invasão,
19:12Adam Malik
19:12fez um anúncio
19:13surpreendente
19:14que chegou aos militares.
19:16Ouvimos na rádio,
19:17na voz da Austrália,
19:18um jornalista australiano
19:20perguntar
19:20ao senhor Adam Malik
19:21o que era feito
19:22dos 23 militares portugueses
19:24e ele disse
19:25já foram libertados.
19:27E ouvimos isto
19:27e houve assim
19:28alguma euforia
19:28aqui dentro.
19:29Fomos libertados.
19:30Olha, peraí
19:31que já estão a dizer
19:31que fomos libertados.
19:32Vamos embora finalmente.
19:34E pronto,
19:34ficámos a expectativa.
19:35Eu sentei-me
19:36à frente do banco
19:37que havia em frente
19:37à porta da igreja
19:38e fiquei a olhar
19:38para o caminho
19:39às peras do transporte.
19:41Passou um dia,
19:41passaram dois,
19:42passaram três.
19:43E depois inventávamos
19:44desculpas estúpidas.
19:46Estamos em dezembro,
19:47agora não há aviões.
19:48Depois,
19:48se calhar é difícil
19:49virar-nos cá buscar
19:50nesta altura
19:50e nós íamos conformando.
19:52Nas adversidades,
19:54mesmo em situações difíceis,
19:55nós conseguimos levar
19:56uma vida normal
19:57e conseguimos rir
19:59e conseguimos cantar
20:00e conseguimos brincar
20:02uns com os outros.
20:03Mas como é que passavam
20:04os vossos dias?
20:05Como é que não...
20:05Olha,
20:06para já
20:07tínhamos...
20:09Bem,
20:10prevíamos a nossa água,
20:11lavávamos a louça,
20:12tínhamos escala,
20:13toda a gente contribuía,
20:14toda a gente entrava
20:15na escola,
20:16quer fosse oficial ou não.
20:18Tínhamos muitos
20:19parais de cartas,
20:20conversava-se muito,
20:21andava-se à volta
20:22da igreja,
20:22às vezes já tínhamos
20:23para ir um primo
20:24para andar a passear,
20:25para conversar.
20:26Fundamentalmente,
20:26não era uma vida
20:27de certa forma pacata.
20:29Não tinha a viola,
20:30lamentavelmente.
20:31Mas sempre com a ideia
20:33de que iam voltar.
20:34Ah, sim.
20:34O Luís nunca...
20:35Vocês nunca perderam a...
20:36Esperanças, não.
20:37Que eu saiba,
20:38nunca ninguém perdeu
20:38a esperança do regresso.
20:40Ia a lenha,
20:41lá para cima para o monte,
20:42atrás de nós havia um monte,
20:44ia arranjar alguns postos
20:45para acender a fogueira
20:47e gritava,
20:48quero-me ir embora,
20:48até aprendi a dizer
20:49a frase em Indonésia,
20:51que era
20:52saia-me ao pulang.
20:53E gritava muita vez.
20:55A versão indonésia
20:56voltou a ser
20:56que os prisioneiros
20:57estavam sob responsabilidade
20:59da UDT.
21:00Portugal não reconhecia
21:01o governo provisório
21:02e deixou claro
21:03logo de início
21:04que a libertação
21:05dos presos
21:05era condição sine qua non
21:07para conversações.
21:09Tínhamos sempre
21:09o objetivo
21:10que eles fossem
21:11considerados
21:11prisioneiros de guerra,
21:13que era precisamente
21:13para os proteger.
21:15Nunca conseguimos,
21:16porque foi-nos sempre dito
21:18que no dia
21:18em que eles fossem
21:20considerados
21:20prisioneiros de guerra,
21:22que se estava
21:23a reconhecer
21:24ao movimento
21:25terrorista
21:26que os tinha
21:28capturado,
21:31estava-se-lhes
21:34a dar importância
21:35política.
21:35e isso foi
21:37o que lhes
21:37disseram
21:37as autoridades
21:38portuguesas?
21:38sempre.
21:39Sim, sim.
21:41Havia uma certa
21:41ansiedade,
21:44o que é que se passa
21:45com o meu marido
21:46e a preocupação
21:51com a saúde,
21:53havia tudo isso.
21:55E pela nossa parte
21:57havia a impossibilidade
21:59de responder
21:59às perguntas.
22:00de modo que a tendência
22:03era dizer
22:03o problema
22:06que está na Indonésia
22:07está em Portugal
22:10não reconhecer
22:11a integração,
22:12porque aqui não é reconhecida
22:13a integração.
22:15Quer dizer,
22:16as famílias gostavam
22:18a entender isso.
22:19Mas ao nível nacional,
22:21ao nível político,
22:22não era possível
22:23que Portugal
22:25aceitasse
22:26trocar 23 militares
22:28para o território.
22:33Não era bem isso
22:34em troca.
22:35eu achava
22:36que se devia negociar
22:38e como diziam
22:39que não negociavam,
22:41eu começava
22:42logo aí à partida
22:43por achar
22:44que se devia fazer
22:45qualquer coisa
22:46para negociar.
22:47Agora,
22:48se era a integração
22:48ou não era a integração,
22:50nunca isso me passou
22:51pela cabeça.
22:52Eu é que pessoalmente
22:53e sem falar
22:54com ninguém
22:54do nosso grupo
22:55e sem discutir
22:56o assunto
22:57com ninguém,
22:58um dia
22:58pensei
23:00na altura,
23:01não quer dizer
23:02que pense igual agora,
23:03mas na altura
23:04pensei
23:05olha,
23:07se calhar
23:08era melhor
23:08para todos
23:09a integração
23:10na Indonésia.
23:11As famílias
23:12dos presos
23:12nunca desistiram,
23:14reuniram-se
23:14com o primeiro-ministro
23:15e vários ministros,
23:17com o presidente
23:17da República
23:18e membros
23:18do Conselho
23:19da Revolução,
23:20pressionaram partidos,
23:21escreveram regularmente
23:22para jornais
23:23para que o caso
23:23não fosse esquecido.
23:25A nível internacional,
23:27apelaram à ONU,
23:28foram a Nova Iorque
23:29falar com representantes
23:30do governo provisório
23:31de Timor,
23:32contactaram a Cruz Vermelha
23:33Internacional,
23:33enviaram cartas
23:34à Rainha da Holanda,
23:36antiga potência colonial,
23:37ao Papa
23:38e a várias entidades
23:39religiosas e civis
23:40da região.
23:42Quando o meu marido
23:43veio,
23:43eu soube
23:44que eles não sabiam
23:44nada de nada
23:46de nada
23:46do que se passava,
23:47nem cá nem lá,
23:49estavam absolutamente
23:50na ignorância total.
23:52Estavam convencidos
23:54que o governo português
23:57estava a fazer
23:59tudo,
23:59tudo,
23:59tudo para os libertários.
24:00E não estava?
24:01Para mim,
24:02não.
24:02Não cademos
24:03por esforços
24:04nenhuns.
24:06Diziam-nos sempre
24:07a mesma coisa.
24:09Documentos
24:09provam,
24:10no entanto,
24:10que o presidente
24:11da República,
24:12Costa Gomes,
24:13ministros como
24:13Melo Antunes
24:14e Vítor Crespo,
24:15bem como Lemos Pires,
24:17não estiveram parados.
24:18Foram montadas
24:19a Operação Verde
24:20e a Operação Laranja
24:21e definida
24:22uma estratégia
24:23em duas frentes,
24:24uma diplomática,
24:25oficial,
24:26outra informal.
24:26Na frente diplomática,
24:28Portugal manteve-se
24:29sempre aberta
24:30à questão de Timor
24:30na ONU
24:31e junto de países
24:32aliados
24:33para pressionar
24:34em Jakarta.
24:35Nos bastidores,
24:36foram nomeados
24:37António Pinto da França
24:38e Luís Reis Tomás
24:40para estabelecerem
24:40contactos informais
24:42com indonésios
24:42e timorenses.
24:44Pinto da França
24:44tinha sido
24:45cónsul-geral
24:45de Portugal
24:46em Jakarta
24:47e Luís Reis Tomás,
24:48professor de História
24:49da Faculdade de Letras
24:50de Lisboa,
24:51fizeram serviço
24:52militar em Timor
24:53e era amigo
24:53de Carrascalão
24:54e Lopes da Cruz.
24:55Em encontros
24:56e conversas informais,
24:58os dois conseguiram
24:58informações sobre os presos,
25:00sobre a posição
25:01da Indonésia
25:02e sobre a disponibilidade
25:03do governo timorense
25:04para conversações secretas
25:06com representantes
25:07de Portugal.
25:08A Igreja Católica
25:09teve um papel central
25:10na libertação
25:11dos presos,
25:12em particular
25:12o padre Pintado
25:13da Missão Portuguesa
25:14de Malaca,
25:15que intercedeu
25:16junto de bispos
25:17e padres da região.
25:18Correspondia-se
25:19com familiares
25:20dos presos
25:20e foi ele
25:21quem deu a notícia
25:22de que um padre
25:23de Atambua
25:23tinha visto os portugueses
25:25em Atapupo.
25:25Fomos finalmente visitados
25:29por um padre holandês.
25:30Pronto,
25:30venho cá visitar-vos,
25:31agora vou prestar assistência,
25:33vou estar aqui
25:34mais de vez convosco.
25:35O que é que vocês precisam?
25:36E, olha,
25:37eu pedi uma viola,
25:38porque me fazia muita falta,
25:39pedi-os comida,
25:40enlatados,
25:41e houve depois quem sugerisse
25:44sementes,
25:46sementas e eventualmente
25:48as ferramentas
25:49para fazer uma horta.
25:51E, efetivamente,
25:52o seu padre
25:53trouxe-nos
25:54isto tudo
25:55que lhe pedimos.
25:56Quando vieram
25:57cá buscar-vos
25:58para vos levar
25:59para Atambua,
26:02como é que foi,
26:02o que é que lhes disseram,
26:03o que é que vocês pensaram?
26:04A única coisa
26:06que nos disseram
26:07é preparar as coisas
26:08que vão embora.
26:09E, efetivamente,
26:10pegámos os nossos pertences,
26:12os nossos malas,
26:13e metemos uma caminheta
26:14e fomos sair para Atambua.
26:16Para nós,
26:16era um bom sinal.
26:17Ou seja,
26:18não podia ser para
26:18irmos para uma situação pior.
26:20Pior do que a que estava,
26:21não devia ser.
26:22Atambua é uma cidade grande
26:23para os padrões de Timor.
26:25Há 50 anos,
26:26Luís e os camaradas
26:27nunca foram autorizados
26:28a visitar o centro.
26:30Durante cerca de um mês,
26:31ficaram confinados
26:32a um pequeno perímetro
26:33à volta de uma casa,
26:34na periferia da cidade,
26:36impossível de localizar
26:37sem ajuda.
26:39Em Atambua,
26:40os presos continuaram
26:41a ser acompanhados
26:42pelo padre Lalawar
26:43e pela Diocese.
26:44O atual secretário
26:45da Diocese,
26:46padre Marli,
26:47reconheceu de imediato
26:48nas fotografias de Luís
26:49a piscina
26:50onde os militares iam.
26:52Identificou também
26:53Clara,
26:54uma das voluntárias
26:55da Cruz Vermelha,
26:56que levava as refeições
26:57aos militares.
26:58Uma coincidência
26:59que nos conduz
26:59ao então chefe
27:00da Cruz Vermelha Indonésia,
27:02Robert Bera.
27:03Olá,
27:03Dr. Robert Bera.
27:09Boa noite.
27:10Boa noite.
27:11Boa noite.
27:11Boa noite.
27:13Boa noite.
27:15Boa noite.
27:16.
27:17Eu pensei que eu iria voltar aqui e encontrarmos todos os lugares que quisermos encontrar.
27:23Obrigado.
27:25Obrigado por nos receberem.
27:29Obrigado.
27:31Olá.
27:32Olá.
27:34Olá.
27:35Olá.
27:36Olá.
27:37Olá.
27:38Olá.
27:39Olá.
27:40Olá.
27:41Olá.
27:42Olá.
27:43Olá.
27:44Robert sabe que os militares correram riscos que desconhecemos.
27:48Olá.
27:49Olá.
27:50Olá.
27:51Olá.
27:52Olá.
27:53Olá.
27:54Olá.
27:55Olá.
27:56Olá.
27:57Olá.
27:58Olá.
28:00Olá, minha mãe.
28:01Olá.
28:03Olá, minha mãe.
28:04Estou a conversar em rosa.
28:06Olá.
28:07Olá, minha mãe.
28:08Olá, meu Deus.
28:10Estou a conversar em rosa.
28:13Mas você conhece seus amigos?
28:16Para a comunicação, não é?
28:17Nós somos jogadores.
28:18Estamos em casa com a irmã.
28:21Oh, sim.
28:23É eu.
28:25É a irmã.
28:26É o meu irmã.
28:28É o meu irmão.
28:30Você ainda é jovem.
28:35É eu.
28:37É eu.
28:38É o meu irmão.
28:39É o meu irmão.
28:40Foi um prazer estar com eles. É emocionante, muito emocionante.
28:54Da igreja abandonada de Atapupo, os militares foram finalmente transferidos para uma casa em condições.
29:00Havia uma razão para isso.
29:02Ou neste mesmo dia em que nos instalámos aqui, ou no dia seguinte de manhã,
29:07vimos passar helicópteros, vimos o brilho de helicópteros, e passado uns tempos, um pedaço,
29:15vimos parar carros, e dos carros iram, operadores da televisão, um movimento, assim, muito grande,
29:22alguém, portanto, com aspecto europeu, e quando entrou por aqui dentro,
29:31e disse, bom dia, fez uma emoção muito forte.
29:36E vimos o Tavares, o Farninha Ferreira, o capitão Farninha Ferreira,
29:41dirigir-se abraçar de uma forma muito efusiva,
29:46já não me recordo se o cadete, se o capitão cadete, se o general Moraes e Silva,
29:50porque um deles tinham sido colegas, e de repente começam a falar português,
29:54e para nós foi assim, oh, ficamos de cara à banda, o que é que está a passar?
29:58Enfim, foi uma emoção muito forte, mas também teve algum misto de alegria e de frustração.
30:06De alegria, porque finalmente estamos descobertos e estamos em boa, está tudo no bom caminho,
30:13mas dá alguma frustração porque parece que ainda não ia acabar, e não acabou naquele momento.
30:17Quando eles foram embora, eu lembro perfeitamente, nós alinhámos todos aqui na cerca,
30:21e ele dizia, eu vou tirar fotografias que é para mostrar às vossas famílias,
30:24para eles verem que estão bem.
30:26O general Moraes e Silva, então chefe de Estado-Maior da Força Aérea,
30:30tinha vivido em Timor e era bem visto pelo governo provisório.
30:34Envolveu-se no caso por sugestão do major cadete que estiver em Timor,
30:38conhecia Viçoso e estava em contacto com as famílias.
30:41Mário Carrascalão contactou Moraes e Silva na sequência das conversas oficiosas com Luís Reis Tomás.
30:47Também a título oficioso, Moraes e Silva e o major cadete foram secretamente a Bangkok
30:52reunir-se com uma delegação do governo de Timor.
30:55Depois foram convidados a visitar Dili e levados a Tambua.
30:59Era o dia 20 de junho de 1976.
31:02A Assembleia Popular de Timor, cujos membros foram designados e não eleitos,
31:06já tinha aprovado o ato de integração.
31:09O Parlamento indonésio ratificou e a 17 de julho o presidente Soarte assinou o decreto
31:14que fez de Timor-Leste a 27ª província da República da Indonésia.
31:19Na mesma ocasião, anunciou que deram instruções para o repatriamento dos portugueses em Timor.
31:24Lopes da Cruz informou que seriam libertados incondicionalmente
31:28de forma a preparar o caminho para reatar as relações diplomáticas entre Portugal e a Indonésia.
31:35O acordo de entrega dos prisioneiros foi assinado a 26 de julho.
31:38Talvez alguém tenha feito alguma promessa.
31:41Talvez ninguém quisesse aquele fardo.
31:43Talvez nunca se venha a saber o que realmente determinou a libertação.
31:47Para o DT, para o Indonésio, deixar vir alguma coisa se... não sei.
31:54Até hoje, 50 anos depois, não sabemos o que é que se tem.
31:58Eu não sei. Eu não sei.
32:00As pessoas que lá foram também sabem.
32:07Nos últimos três ou quatro dias, quando já estava iminente a saída,
32:10não conseguia dormir.
32:11Deram-nos Valium, deram-nos...
32:13Nem com Valium eu conseguia dormir.
32:15Passei noites, mas também não tinha sono.
32:18E a chegada, como é que foi?
32:24A chegada foi emocionante.
32:26Foi emocionante porque eu não contava.
32:28Vocês eram os heróis.
32:29Sei lá, eu não me considerava nada herói.
32:32Eu queria ir para casa, sabe?
32:34E de repente, quando chego ao aeroporto, eu fico assim, mas o que é isto?
32:37Está aqui um mar de gente, estão os jornalistas todos, mas quem somos nós afinal?
32:41Isso marcou-me assim um bocado e na altura fiquei assim meio, sei lá, meio palerma, pronto.
32:49Olha, os abraços à família, enfim, qualquer coisa extraordinária.
32:56No dia 27 de julho de 1976, onze meses depois de terem sido presos em Timor,
33:02os 23 militares aterravam em Lisboa e com eles um primeiro grupo de 130 refugiados timorenses.
33:08Cerca de mil seriam repatriados para Portugal nos meses seguintes,
33:12alojados em tendas no Jamor e entregues à sua sorte.
33:19Eu nunca pensei que voltaria, quase 50 anos depois, a tomar banho na mesma praia, no mesmo sítio.
33:24Mas foi tudo claro.
33:38E aí
34:08Amém.
34:38Amém.
Recomendado
29:58
|
A Seguir
52:11
50:48
50:50
50:23
50:47
50:36
49:59
52:26
49:46