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O novo romance de Aline Bei
Canal Arte1
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Em “Uma Delicada Coleção de Ausências”, a escritora Aline Bei usa o presente contínuo e a narração em terceira pessoa para contar as histórias de abandono de quatro mulheres de gerações diferentes, de uma mesma família.
Categoria
🦄
Criatividade
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Música
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Laura passa a toalha entre os dedos do pé.
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As covinhas nas costas são as mesmas de glória, Margarida pensa.
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E a menina pergunta, coçando os olhos, que horas são?
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Quando deixa um banheiro, Laura pisa lentamente um passo depois do outro,
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para mostrar o quanto isso a torna, não sei, com sorte, especial.
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Entram no quarto.
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Com a toalha na boca, Laura espera a avó-lhe estender o mundo do modo como ela o conhecia.
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E, no mesmo gesto, por cima do gesto pelos anos, Margarida lhe entrega o pijama.
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Ao ver a cabeça de Laura no fundo do tecido, aperta aquele corpinho contra o dela.
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Raspa uma sombra no travesseiro, um luco qualquer no tecido,
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para em seguida ajeitar o lençol.
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E Laura se deita na cama que divide com a avó.
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Com Deus me deito, com Deus me levanto.
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Com a graça de Deus e do Divino Espírito Santo. Amém.
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Quando eu comecei o projeto desse livro, ele teve, acho que, três entradas principais.
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Um primeiro momento foi uma viagem que eu estava fazendo para Buenos Aires, em 2019.
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E lá eu vi uma mulher.
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Ela era uma mulher que estava numa praça, que eu cruzei por acaso.
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E ela tinha uma placa do lado escrito Leia Humanos.
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E essa mulher captou a minha imaginação.
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Eu até tirei uma foto e, de certa forma, Margarida nasceu nessa imagem, dessa mulher.
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Uma outra ponta foi quando eu estava escrevendo justamente a pequena coreografia do Adeus.
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E num dado momento a Gila Terra, que é a protagonista, ela tem uma reflexão sobre a avó dela.
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Ela diz que é uma pena que a maioria das nossas avós vão embora
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antes de virarmos pessoas que sabem aproveitar uma conversa.
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Me revelou também parte dessa história que eu trabalharia ao longo dos anos, mais à frente,
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que é a história de uma avó e de uma neta.
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E uma outra ponta importante para fechar esses inícios de abandonos e assuntos do livro,
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a minha professora, numa aula de escrita, me pediu, pediu para nós, como turma,
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escrever uma história num presente contínuo.
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E quando ela pediu isso, eu que sempre escrevi no passado, com verbos no passado,
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de repente vi a minha narrativa crescer de um ponto do presente.
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E a Filipa, que é a personagem da bisavó, nasceu nessa ponta,
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porque no final é quase como se fosse uma linha, né?
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Com vários personagens de gerações diferentes de uma mesma família
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abordando e construindo esse presente, passado, futuro.
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Antes de deslizar para o sono, Laura vislumbra uma nudez luminosa.
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Vó, ela chama, parece que irá esquecê-la no momento em que Margarida deixar o quarto.
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Laura ainda não sabe que se tornará, cada vez mais,
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um corpo que atravessa a porta em direção a seu próprio desaparecimento.
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Um corpo que, à luz das atividades do dia, será maturado e completo,
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e por isso muito mais visível que o dela de criança,
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com veios e amplitudes, pintas e a bunda perturbadoramente plana.
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Mas eram os seios o seu maior assombro.
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Ter seios mudaria tudo.
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Vó, Laura ainda chama,
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e escuta, lá do fundo o aquoso do que já é um sonho.
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Dorme, querida.
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Tem uma mulher que não está, que é uma grande ausência, que é a Glória.
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A Glória é mãe de Laura, filha de Margarida,
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neta de Filipa.
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Então, são mulheres que, cada uma ao seu tempo,
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estão lidando com as suas individualidades
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e também com uma questão mais misteriosa,
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de uma ordem existencial,
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mas também política, estrutural.
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O fato de elas serem mulheres
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molda a angústia que, de certo modo,
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ela sente cada uma ao seu tempo,
04:14
que passa também por essas questões
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de apagamento de desejo,
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de dificuldade de lidar com segredos, silêncios,
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questões que vão sendo elaboradas no fundo do livro,
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na parte de baixo do texto,
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e conforme a narrativa vai crescendo,
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a gente vai entrando em contato com esse segredo,
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com esse rio que corre por baixo da escrita.
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Para mim era importante que essas mulheres estivessem juntas.
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Eu sempre escrevo a partir do tempo,
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atravessando o espaço e atravessando corpos femininos.
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Nos outros livros tenho saltos temporais.
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Nesse livro, como eu disse para vocês,
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queria trabalhar esse presente contínuo.
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Eu acho que esses corpos dessas mulheres
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é uma forma de saltar no tempo,
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tendo, por exemplo,
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nas duas pontas a neta e a bisavó,
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quase que se unindo nesse ciclo
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que se fecha e se inicia,
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numa mesma família.
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Agora que Filipe está ali,
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de certa forma,
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Margarida se arrepende
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de ter ficado tanto tempo sem vê-la.
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Poderia ter ido visitá-la,
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uma ou duas vezes por mês,
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e então, agora, teriam se visto
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sem se assustarem demais
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com as mudanças que notassem uma na outra.
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Mas foi Filipe a quem partiu
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quando Margarida mais precisava dela.
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E mesmo que tivessem se visto
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de que adiantaria,
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teriam ficado tão quietas
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quanto estão agora.
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Nunca estudei psicanálise frontalmente.
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Eu gosto de ler muita coisa sobre,
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leio Freud, Lacan.
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Muitas vezes não compreendo
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tudo o que eu estou lendo.
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Às vezes compreendo mal
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ou compreendo o meu modo.
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Mas ainda assim,
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tudo isso me ajuda a pensar
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essas partes,
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essas camadas subterrâneas do texto
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e das personagens.
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Eu venho do teatro,
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então a minha investigação
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é sempre a partir da personagem.
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E eu acho que as personagens,
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com essa metáfora da cebola,
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com muitas camadas
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que a gente vai acessando
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pelo gesto,
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pela fala,
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pelo encontro com objetos,
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tudo isso,
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acho que a psicanálise
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vai me dando,
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vai fermentando
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essas possibilidades estéticas
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e filosóficas.
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Eu gosto da primeira pessoa
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porque ela traz uma intimidade
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para o leitor e para a leitora,
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mas, por outro lado,
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a gente fica amarrado
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a um ponto de vista único
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da narrativa.
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E a Delicada, de repente,
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subitamente se impôs
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como uma necessidade
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de terceira pessoa
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por ter três vozes importantes
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dentro dessa narrativa
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e desejar também
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que essas vozes
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fossem observadas
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com uma certa distância.
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Então, o meu narrador,
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ele vai contando a história,
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ele observa essa história
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e vai descobrindo a história
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junto com a leitora e com o leitor
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e, às vezes,
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ele mergulha
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nos pensamentos
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dessas personagens,
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se mistura com elas
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e depois volta.
07:02
Então, é um narrador
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bem silencioso,
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espero que ele
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proporcione
07:07
uma sensação de intimidade
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como eu costumo gostar
07:10
de trabalhar,
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mas, por outro lado,
07:12
também traga
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uma espécie de
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um caleidoscópio
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de interpretações
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onde a gente não tem
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uma verdade única
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ou uma interpretação exclusiva,
07:21
mas que essa história
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possa se desdobrar
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em muitas possibilidades
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imagéticas,
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enfim,
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era o meu desejo
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quando eu comecei a escrever.
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Margarida ainda não teve coragem
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de encarar a mãe,
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apenas a entrever,
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escuta o ar
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que sai de seus pulmões.
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Mesmo assim,
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percebeu que Filipe
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está mais magra,
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os bracinhos manchados
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por pintas de verão,
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mas os dedos
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seguem enormes,
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palmas das mãos grandes,
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que se frequentassem teatros,
07:53
elas seriam um aplauso
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de dez em um.
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