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Os cem anos de nascimento de Dalton Trevisan, um dos maiores escritores do Brasil, é comemorado com uma exposição em São Paulo e o início do relançamento de toda a sua obra pela editora Todavia.
Transcrição
00:00O Dalton, ele teve várias revoluções assim na vida dele, ele é um escritor que começou
00:23a escrever antes de Getúlio Vargas e acabou agora, para de escrever nos anos 2010, ele
00:34consegue conferir estilo, o seu estilo, estilo inclusive incontornável e ímpar, estilo dele,
00:41único, que foi realmente talhado, lapidado por ele através dos anos, a essas formas
00:48diferentes que ele abordou da literatura, que ele conseguiu abordar da literatura e as
00:54diferenças temáticas também, então o Dalton é esse homem, esse escritor magnífico que
01:01a gente tem na nossa cultura, um dos maiores escritores do mundo, em qualquer literatura,
01:06um dos maiores contistas da história, mas que aos poucos, nos últimos 20 anos, na minha
01:13opinião, estava sendo um pouco esquecido, porque é como se, ah, a gente tem o Dalton,
01:19o Dalton está ali, e aí quando a gente acha que tem o Dalton, o Dalton está ali, gerações
01:25passam e acabam não aproveitando o privilégio imenso de você ter um escritor dessa dimensão
01:33na nossa literatura.
01:35O Dalton armazenou e guardou todos os registros da produção desde os 14 anos de idade, como
01:42ele morreu às vésperas do CEM, então era um material enorme, em 2023 ele fez uma doação
01:48de edições raras, caderninhos, traduções da própria obra, de vários livros que não
01:56tinham na coleção do Mindlin, que já era bastante completa, aqui da BBN, e ele completou
02:01essa coleção com um acervo significativo, uma coleção completa quase da obra do Dalton,
02:07e nesse período o professor Hélio Seixas Guimarães sugeriu a gente fazer uma comemoração
02:14do Centenário, eu pensei na exposição, porque eu sabia da relação dele com artistas plásticos,
02:19da riqueza desse acervo.
02:20O acervo no geral, todo o arquivo, a coleção de artes visuais, as primeiras edições com
02:27as emendas, a correspondência, diários, tudo foi doado, e a biblioteca também, foi doado
02:33para o Instituto Moreira Salles.
02:35O Moreira Salles forneceu, a gente tinha esse acordo de promover ações para divulgar o
02:42acervo em parceria com outras instituições, então eles forneceram, emprestaram o material
02:48para a gente poder digitalizar e utilizar aqui na exposição.
02:55O Dalton foi um autor que controlava todos os aspectos da produção da obra, ele fazia
03:00edições independentes, ele se correspondia muito duramente com os editores, porque ele
03:05exigia uma diagramação específica, ele pensava não só no aspecto da criação do texto, mas no
03:10aspecto gráfico, ele escolhia as capas, ele teve todo esse, durante, né, desde a revista
03:16Joaquim, assim, esse processo de controle da produção, né, e aqui a gente vê que tem
03:21um pedaço de uma carta dele com o Enio da Silveira, assim, que esse processo de reescrita
03:29era vital para ele, assim.
03:35Além de ser amiga do Dalton, eu trabalhei muito tempo organizando esse acervo, cuidando
03:40das edições, né, editando algumas obras paralelamente para ele, assim, então foi um
03:46grande aprendizado e um privilégio, né.
03:48Foi um grande prazer, na verdade, ver a obra do Dalton também editada agora, assim, então,
03:54com o seu aspecto gráfico renovado, mais jovem, mais, né.
03:58O Dalton fazia muitas emendas, como dá para bem ver aqui na exposição, né, então ele deixou
04:04as últimas edições todas com a, com as suas versões definitivas, né, com as emendas
04:10feitas à mão, assim, o que a gente fez foi estabelecer esse texto, é, criar uma espécie
04:16de manual de estilo do Dalton para resolver problemas de revisão.
04:19Agora, os leitores vão ter o privilégio de poder ler a versão definitiva do Dalton.
04:23Um outro elemento dessas edições, ele tem, no final de cada, de cada título, nós separamos
04:29o material do acervo, né, que teve alguma relação direta com o processo de feitio daquele livro,
04:37né, então, assim, vão ser 36 edições e cada uma vai contar um pouquinho desse acervo
04:42e um pouquinho do, dos bastidores, né, da produção literária.
04:53Vai acontecer uma reedição muito grande da, da, da obra dele, de 38 livros nos próximos
04:58anos, é, e me foi pedido pela editora, a minha, o Caetano Galindo, uma antologia.
05:06E aí, começamos a ler tudo, reler tudo, esse é um prazer imenso, né, reler tudo
05:10do Dalton, é, sabendo, inclusive, que o Dalton também criou antologias de sua obra e sabendo
05:17que o Dalton, é, sempre, a cada reedição de sua obra, ele reescrevia os contos, ele,
05:23ele, é, reeditava os contos.
05:27Então, a gente tinha que ter uma última versão desses contos, né, finalmente, é o que aconteceu.
05:31E aí, fizemos, eu e Caetano, nessa seleção, alguns muito pessoais, escolhas dele, escolhas
05:37minhas, tinha o próprio Dalton, chegou a fazer uma pequena lista de tão, de tão empolgado
05:42que ele ficou quando ele soube que nós faríamos, é, essa antologia, né, que seria lançada
05:47essa antologia porque ele gostava de antologias.
05:49Eu sempre tive vontade muito de ter um livro pra apresentar o Dalton a quem não conhecesse,
05:54eu tenho certeza que esse se transformou nisso, sem falsa humildade, eu acho um livro muito
05:59bonito pra se começar, pra quem nunca leu Dalton Trevisan.
06:07Na verdade, eu trabalhei uma vez só no teatro com o Dalton, numa peça que tem o mesmo nome
06:13dessa antologia, que chama Educação Sentimental do Vampiro, já há longos 18 anos atrás,
06:22e foi difícil, eu até escrevi um artigo no Globo sobre isso, como é difícil você escrever
06:27sobre a tua esquina e é fácil você imaginar uma Rússia distante.
06:32Foi difícil assim, até porque existiam outras montagens que eu respeitava muito, principalmente
06:38as do Adhemar Guerra, do Marcelo Marquioro, e até achar a linguagem ali dentro, a forma,
06:45a linguagem, mas nós achamos, e a gente achou principalmente na visão desses ilustradores
06:54do Dalton.
06:55É um caminho um pouco mais mítico, mais suspenso, expressionista, e foi assim que a
07:00gente trabalhou, é um espetáculo muito querido.
07:03Muita gente da época da Sutil Companhia, que é essa companhia que fez lá atrás há
07:0618 anos esse espetáculo, acham até o espetáculo preferido deles, dessa companhia.
07:11O Dalton sempre foi além de ser um autor, de criar as próprias histórias com muito método,
07:26com muita constância, ele escreveu mais 700 contos, reescreveu esses contos também, mas
07:33ele tinha hábitos de pesquisa muito disciplinados, ele tem quase milhares de fechamentos com
07:43mistas de palavras, que são muito bons, muito de um condensante estudioso da língua, inclusive
07:50várias palavras que ele sugeriu, ele mandava a correspondência para Aurélio e pedia para
07:54ela, olha, agora a oralidade é assim, as pessoas não falam mais desse jeito, falam desse, eu
07:59uso essa palavra com esse sentido, tem alguns exemplos ótimos, que inclusive alguns vêm da
08:04música, ele comenta, ah, Bezerra da Silva usa caguete, eu uso caguete, não é, mas é
08:09o caguete Aurélio, assim, tem uma correspondência muito engraçada, assim, tentando trazer um pouco
08:15dessa vida da língua para a própria obra.
08:20Ele tem a dimensão de um Nelson Rodrigues, um Machado de Assis, então é imprescindível que
08:24você conheça Dalton Trevisan.
08:29Música
08:42Música
08:44Música

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