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  • 18/06/2025
Depois de “Americanah” e um intervalo de 10 anos sem lançar uma ficção, a escritora nigeriana apresenta “A Contagem dos Sonhos”, romance com quatro protagonistas femininas e seus relacionamentos amorosos.

Transcrição
00:00Seu ombro esquerdo dói como se algo dentro dela tivesse sido tirado do lugar.
00:18Ela sente vontade de segurar aquele ombro para tentar mantê-lo intacto,
00:22para impedir que se fragmente mais, mas não quer chamar atenção para ele.
00:27Entre as pernas, onde o homem agarrou com uma força animal,
00:31ela não sente dor, mas uma violação surda, um latejar distante.
00:40Como leitora, eu gostei muito do livro.
00:44Eu acho que sempre dá aquele friozinho na barriga dos leitores, dos fãs, de um escritor,
00:50quando fica algum tempo sem lançar nada, né?
00:53Ela ficou mais de 10 anos sem lançar ficção.
00:55Esse é o quarto livro de ficção dela que eu traduzo.
00:59Eu sinto uma segurança maior na escritora.
01:02E tem, eu acho que, temas recorrentes, né?
01:06Essa questão da divisão da vida entre Nigéria e outro país.
01:09E falando sempre, eu acho que, da condição da mulher, do papel da mulher.
01:14O livro tem quatro protagonistas mulheres.
01:18São todas africanas.
01:19Três são nigerianas.
01:21Uma é do Gana e ela, de Gana Conacre, né?
01:27E uma delas é baseada numa personagem real.
01:29E isso é explicado numa nota da Chimamanda no final do livro.
01:33Cada sessão é dedicada a uma das personagens,
01:37sendo que tem uma delas que começa o livro, mas também fecha.
01:40Ela é a única que tem duas sessões, que é a Chia.
01:42Três delas, a de Gana Conacre, a Chia e a melhor amiga, vão morar nos Estados Unidos.
01:47Então, elas são imigrantes.
01:49Mas a prima da Chia continua na Nigéria, mas mora nos Estados Unidos uma época quando ela vai estudar.
01:55Fala muito, assim, dos relacionamentos amorosos de todas essas mulheres.
01:59É meio que um catálogo de amores, sabe?
02:03E a contagem dos sonhos tem a ver com isso.
02:05Quando a Chiamaka, na pandemia, começa a relembrar todos os homens com quem ela se envolveu.
02:10Mas as histórias das outras mulheres também têm muito a ver com isso,
02:14embora não seja exclusivamente sobre isso.
02:16O livro é sobre várias coisas.
02:25A Chimamanda, ela não usa, digamos assim, uma linguagem muito experimental.
02:30Mas é um desafio de você ter vozes de personagens muito distintas, né?
02:36Você tem uma questão de vocabulário também, que é associada a essa questão da imigração.
02:44Como usar um vocabulário que vai dar um sabor de África ou dar um sabor de América.
02:53Isso é sempre um desafio.
02:55E também a pesquisa sobre esses lugares específicos.
02:59E fora isso, o desafio de toda a tradução, né?
03:01De você sempre manter, tentar manter a voz daquele autor e, ao mesmo tempo, criar um texto que seja fluido em português.
03:10E aí, quando eu recebi o arquivo, que eu recebi um PDF lá atrás, antes de ser lançado,
03:17comecei a ler, comecei a ficar apaixonada, me envolver muito com o livro.
03:22E aí pensei, olha, ela ainda está em forma.
03:24A Chimamanda continua sendo a Chimamanda.
03:26Elas estão falando das meninas de Lagos, que morreram por causa da cirurgia de enxerto de gordura no bumbum.
03:33Não estão questionando o anseio por bundas grandes, que faz alguém concordar em tomar uma anestesia geral
03:39num quarto escuro, com a tinta das paredes descascando.
03:43Elas sabem o que é ironia, o que é hipérbole e o que é ser atrevida, mas desconhecem o que é amor próprio.
03:50Lembro de mim com 16 anos.
03:53Era uma época de ritmo mais lento e nossos problemas eram diferentes, claro,
03:58mas não estávamos tão propensas a reconhecer o pior de nós mesmos.
04:03Se nossas filhas não sabem o quanto são lindas sem que precisem mudar nada,
04:07sem dúvida, fracassamos.
04:09Música

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