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  • anteontem
Com mais de 300 obras produzidas entre 1978 e 1983, a mostra mergulha num período de intensas transformações no país com a retomada da democracia, e que se refletiu na expansão do mercado da arte e na exploração de novas linguagens.
Transcrição
00:00Música
00:00Nos anos 80, isso parte de um coletivo, de um grupo, que era o Tupinondá,
00:22que vem de um poema de um geógrafo da USP, do Antônio Robert Moraes,
00:29um grande professor da USP, discípulo do Milton Santos, que falava assim,
00:37você é Tupi daqui, é Tupi de lá, é Tupiniquim ou Tupinondá?
00:42É uma pergunta.
00:44Então, o Tupinondá virou esse grupo que foi para a rua, foi conquistar o espaço urbano,
00:52dentro de um processo de reconquista democrática,
01:00saindo de uma situação sinistra da ditadura.
01:04A rua é um espaço, é um campo,
01:08onde essa desigualdade se mostra de uma forma muito cruel.
01:11E não só as pessoas, não só crianças, mas também os objetos, as coisas,
01:18há um sintoma das pessoas jogarem as coisas fora num espaço que é comum.
01:25E nesse processo, eu comecei a coletar objetos e a interferir em cima dos objetos.
01:32Então, essa porta, ela pertence, ela participou da intimidade do drama humano.
01:41A obra está aqui, com esses seres robóticos,
01:47que de uma certa forma já há quase 40 anos anunciavam esse momento que nós estamos vivendo,
01:53de robotização das relações, de uma nova etapa de tecnologia,
02:00de uma forma já muito, um pouco assustadora.
02:09A exposição se chama Fugaz, né?
02:12Artes visuais de anos 80 no Brasil.
02:15Então, o título dela vem de uma música da Marina Lima e do Antônio Cícero,
02:19que tem essa relação que, para a gente, ao longo da pesquisa para a exposição,
02:24começou a fazer muito sentido,
02:26porque tanto lidava com essa noção da efemeridade de uma geração,
02:31quanto também dessa noção de gasto total.
02:34Nos orgulha muito de ser a primeira exposição que tem obras de artistas
02:38de todos os estados do Brasil,
02:41que começaram a produzir entre 78 e 93.
02:44Então, a gente queria pensar a geração 80 a partir de um recorte mais amplo do que 80, 89.
02:52Então, pensando numa geração que começa nesse processo pós-ditatorial,
02:59até esse primeiro corte do fim da primeira eleição democrática no Brasil.
03:07Então, nesse recorte histórico, a gente entendia que existia também muitas questões que são artísticas,
03:15são debates artísticos que estão acontecendo nesse momento,
03:18que têm relação com a expansão do mercado,
03:21que têm relação com a possibilidade de organização das pessoas de forma coletiva
03:26e de ocupação das ruas,
03:28e que têm relação também com a exploração de novas linguagens no campo da arte.
03:33Nos anos 80, eu estava fazendo freelance para a grande imprensa,
03:44que foi o caso desse trabalho que eu estou expondo aqui,
03:48que eu fotografei de 79 para 80.
03:52Essa foto, o beijo,
03:53ela foi feita na boate Dinossauros.
03:57Foi uma pauta que me pediram para fazer,
04:03que era uma pauta nacional sobre as lésbicas no Brasil.
04:06E foi o primeiro freelancer que eu fiz,
04:08e foi assim,
04:10eu fui a única pessoa dos 20 fotógrafos que conseguiu fazer esse ensaio.
04:14Eu não tinha nem ideia,
04:15me mandaram fotografar o Ferros Bar,
04:18que era o único bar em São Paulo onde as lésbicas se encontravam.
04:21E eu comecei a fazer esse ensaio lá,
04:25fiquei amiga das meninas,
04:26porque eu ia todo dia lá,
04:29à tarde, conversando com elas.
04:31E aí, um dia uma me perguntou,
04:33você quer fotografar a boate Dinossauros?
04:36Eu falei, o que é?
04:36É uma boate que tem aqui nessa rua,
04:39que a gente se encontra à noite.
04:41E aí, um dos dias que eu entrei,
04:44logo na entrada,
04:45eu vi essa cena do beijo das meninas,
04:48que estavam num cantinho.
04:49Depois, eu fundei uma agência fotograma,
04:52com mais dois fotógrafos,
04:53o Emílio Luiz e o Ed Vigiani.
04:55Então, aí que eu realmente comecei a entrar fundo mesmo
04:59no meu trabalho autoral,
05:01fazendo um trabalho sobre as festas populares brasileiras.
05:07Em 89, eu fui fotografar o Enquanto de Altamira,
05:11comecei a fotografar,
05:13fazendo um grande trabalho que eu faço até hoje,
05:14são 34 anos,
05:16sobre os povos indígenas no Brasil.
05:19A exposição está formada por cinco núcleos.
05:28Todos os núcleos são nomes de canções
05:31que foram feitas nos anos 80.
05:34Então, primeiro de tudo,
05:36como o nosso recorte tem uma relação muito grande
05:39com o contexto histórico,
05:40então a gente entendeu que isso era o núcleo,
05:43que é o Que País é Esse,
05:44que é uma música que é interpretada pelo Legião Urbana.
05:47E esse é um núcleo que reúne obras
05:51que estão mais diretamente relacionadas
05:54à discussão entre arte política cotidiana
05:58e sociedade nesse recorte histórico proposto.
06:02O segundo núcleo, que é o Beat Acelerado,
06:04que é uma música da banda Metrô.
06:06Então, é um núcleo em que a gente fala muito
06:09sobre esse gesto da pintura.
06:11Então, são as grandes telas que vão marcar a década de 80.
06:15O outro núcleo que a gente foi constituindo
06:19a partir dessa reunião de trabalhos
06:21foi de Versões Eletrônicas,
06:23que é uma música do Arrigo Barnabé.
06:24E a gente entendeu também que a relação entre a arte e a tecnologia
06:29era uma pauta muito importante para a década de 80.
06:32O outro núcleo que temos aqui,
06:33que para a gente também foi se constituindo como um núcleo essencial,
06:38ele foi correndo paralelo ao longo da montagem,
06:41é o Pássaros na Garganta,
06:43que é o núcleo que parte de uma música da T.T. Espíndola,
06:46e é um núcleo que fala das relações
06:49entre paisagem, território e ecologia.
06:52O núcleo que faz um contraponto a esse beat acelerado,
06:56a essa noção de uma alegria, de viver, de uma certa euforia,
07:01carrega o nome do Cazuza, do título de uma música do Cazuza,
07:05que é O Tempo Não Para,
07:06fomentado não só por experiências do âmbito doméstico,
07:10do âmbito político, mas também do âmbito coletivo.
07:13E aí, nesse sentido, eu acho muito interessante pensar,
07:15por exemplo, num trabalho de vídeo como o da Brígida Baltar,
07:18que é muito simples, entre aspas, e por isso mesmo muito sofisticado,
07:23que é a palavra contemporânea, que ao ser soprada, ela se dissipa.
07:26O Sérgio Niklicev, que é o autor dessa pintura,
07:35ele é um grande artista paulista,
07:38e esse trabalho, ele foi praticamente feito ao mesmo tempo que a Porta,
07:43porque nós tínhamos, nesse momento, não era mais o que não dá,
07:46e a gente compartilha um ateliê conjunto.
07:49Eu vim nascer esse trabalho.
07:52E é muito interessante essa exposição,
07:55porque, para nós, é uma grande celebração,
07:57um grande panorama do que foi nos anos 80,
08:02do que é, porque, na verdade, quase todo mundo ainda está,
08:06a mil por hora, produzindo e vivendo disso.
08:12Legenda Adriana Zanotto

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