Rodrigo Oliveira explica o "jogo de cena" de Galípolo e Campos Neto

O Antagonista

O presidente do Banco Central conseguiu tirar parte da pressão do mercado por um reajuste na Selic de 0,50 ponto percentual na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) com duas mensagem públicas. A entrevista à colunista de O Globo Miriam Leitão e a participação no evento Macro Day do BTG Pactual foram vistas como mais tranquilas e ajudaram a conter o ímpeto visto nos últimos dias no mercado financeiro.  Na sessão de sexta-feira, 16, as opções de Copom da B3 com vencimento na reunião do colegiado de setembro passaram a apontar uma probabilidade maior de um reajuste de 0,25 ou 0,50 ponto percentual na taxa básica que a manutenção da Selic. Na segunda-feira, as chances de um aumento de 0,50 p.p. se igualou em 30% às de manutenção.  - Ser Antagonista é fiscalizar o poder. Apoie o jornalismo Vigilante:   https://bit.ly/planosdeassinatura   Acompanhe O Antagonista no canal do WhatsApp.  Boletins diários, conteúdos exclusivos em vídeo e muito mais.    https://whatsapp.com/channel/0029Va2S...   Ouça O Antagonista | Crusoé quando quiser nos principais aplicativos de podcast.   Leia mais em www.oantagonista.com.br | www.crusoe.com.br

Transcript

00:00Deixa eu trazer o meu grande amigo Rodrigo Oliveira

00:03para falar sobre o jogo de cena entre dois personagens dentro do Banco Central,

00:07Gabriel Galipo e Roberto Campos Neto.

00:10Matheus, solta por gentileza o nosso Rodrigo Oliveira.

00:12Boa tarde, Wilson. Boa tarde, pessoal que está acompanhando a gente.

00:15Hoje, gravado aqui por motivos técnicos e operacionais,

00:20mas eu queria falar sobre uma coisa muito interessante

00:22que a gente já tem tocado aqui em algumas participações,

00:27mas é essa sintonia.

00:31Eu até chamei lá, em 13 de agosto,

00:33eu coloquei um artigo no antagonista.com.br

00:36falando que a gente tinha uma nova dupla pela alta dos juros no Banco Central,

00:43que era uma dobradinha entre Roberto Campos e Gabriel Galipo.

00:47O que é? O que, afinal de contas, está acontecendo?

00:50Ontem, o Roberto Campos Neto participou ali do Macro Day,

00:54do BTG Pactual, que é um evento com algumas personalidades

00:58para falar, tratar sobre macroeconomia.

01:00Ontem estava lá o Haddad, o Roberto Campos Neto,

01:05o Dario Durigan, que é o secretário executivo do Ministério da Fazenda,

01:11alguns gestores famosos,

01:14André Esteves, é claro, dono do banco,

01:16e por aí vai.

01:18Mas a conversa lá,

01:20o Roberto Campos Neto foi fazer uma apresentação,

01:22no fim até teve um probleminha lá com os slides dele,

01:26desistiu da apresentação e foi direto para o Perguntas e Respostas.

01:30E o Roberto Campos já tinha dado aquela entrevista

01:32que saiu pela manhã no Globo,

01:34para a Miriam Leitão,

01:36assumindo uma postura um pouco mais dovish,

01:38como o pessoal gosta de chamar no mercado financeiro,

01:40que é uma postura mais de bomba,

01:42um pouquinho menos dura,

01:45que a postura contrária seria rokesh,

01:47de falcão, de águia.

01:53E isso até causou um pouco de estranheza,

01:57mas eu acho que eu tenho a resposta.

02:02Lembra que eu falei logo no começo,

02:04e falei uma semana atrás,

02:05sobre essa dobradinha de Roberto Campos Neto e Gabriel Galípolo?

02:10Então, o que a gente está vendo no Banco Central?

02:14O Banco Central entendeu que aquela divisão que teve lá atrás,

02:18a gente falou sobre isso aqui,

02:19quando foi reduzir o ritmo dos cortes na taxa Selic,

02:25prejudicou a credibilidade do grupo indicado pelo Lula,

02:29visto como mais leniente com a inflação.

02:33Não só por essa decisão,

02:35mas também pelo histórico,

02:38principalmente de Gabriel Galípolo,

02:42que tem entre os seus ídolos econômicos,

02:47André Lara Rezende.

02:48Eu sei que muita gente vai falar,

02:49mas é o pai do plano real,

02:51é um dos pais,

02:53porque o plano real tem um monte de pai.

02:54Filho Bonito tem sempre um monte de pai.

02:57É, ele é realmente,

02:59mas também é um cara que é pai de outros planos

03:01que não deram nada certo e, ultimamente, está lá.

03:05Eu ainda acho que está como assessor especial

03:08para as fontes aleatórias lá no BNDES,

03:11mas é um cara que escreveu aí um dos últimos livros dele

03:15que chama Camisa de Força Ideológica,

03:18se não me falha a memória que eu tive.

03:19Eu li, não vou adjetivar aqui,

03:24porque se não o pessoal me processa.

03:26Mas eu li esse livro,

03:27e lá ele defende aquela teoria monetária moderna,

03:30de que o que causa inflação é juro alto,

03:34porque o juro alto faz com que o rentista

03:35tire dinheiro da economia

03:36para aplicar no juro alto,

03:39e aí a economia real não consegue se desenvolver

03:42e os preços sobem.

03:43Grosso modo, é claro,

03:44que você tem que elaborar muito mais

03:46esse raciocínio para ele parecer crível,

03:49embora ninguém acredite.

03:51E os países que tentaram isso,

03:52como a Turquia,

03:54viram a inflação que era 20%

03:56chegar a quase 100% no ano

03:59e já estão voltando à normalidade.

04:02Muito bem, Gabriel Galípolo

04:03é o favorito para ocupar o Banco Central

04:07no lugar, a cadeira de presidente do Banco Central

04:10no lugar do Roberto Campos Neto

04:12a partir de 2025.

04:13Inclusive o Lula tem dito,

04:15aliás o Lula não,

04:15mas pessoas ligadas ao Lula

04:18tem dito que essa indicação

04:21deve sair agora nas próximas semanas,

04:23a ideia era que saísse nesse mês ainda,

04:25mas também acho que não sai.

04:28Mas o que aconteceu?

04:30Essa credibilidade arranhada

04:33do possível futuro presidente do Banco Central,

04:37Gabriel Galípolo,

04:39faz com que o esforço monetário

04:41tenha que ser maior,

04:43porque é aquela coisa que a gente sempre fala aqui,

04:45para simplificar,

04:46se você empresta dinheiro para um cunhado

04:49que nunca te paga,

04:51tem uma hora que você começa

04:52a não emprestar.

04:55No caso do mercado financeiro,

04:57o mercado financeiro empresta,

04:59mas ele cobra cada vez mais caro

05:01e o juro fica cada vez mais alto.

05:04Quando você acha que uma pessoa

05:06não vai fazer aquilo que ela combinou com você,

05:08o que você faz?

05:09Por exemplo, sabe aquele seu amigo

05:11que toda vez chega atrasado

05:13para um compromisso?

05:14Mas você tem um compromisso importante

05:16nesse dia com ele.

05:18E você fala,

05:18olha, cara,

05:19a gente precisa sair daqui

05:20às nove da manhã.

05:22E ele fala,

05:22não, beleza,

05:23nove horas eu vou estar lá.

05:25Você sabe que ele não vai estar às nove.

05:27Ele sempre tem aí um erro

05:29no relógio dele

05:30de mais ou menos meia hora.

05:32O que você faz nesse dia

05:33porque é muito importante?

05:34Você avisa ele

05:36que o compromisso é oito e meia

05:38e não às nove.

05:39E quando ele chegar às nove

05:40ele vai estar no horário

05:41e está tudo bem.

05:43É a mesma coisa.

05:44O que acontece?

05:45Quando a gente não acredita

05:46que alguém

05:48ou que o grupo

05:49que vai ser indicado pelo Lula

05:50lá no Banco Central

05:51que vai ter maioria

05:52a partir de janeiro de 2025,

05:55eu, presidente

05:55da autoridade monetária,

05:59quando você não acredita,

05:59o que você faz?

06:01Você pede mais para ele.

06:04Você faz com que ele se comprometa

06:07a mais

06:07para que você,

06:09já sabendo que ele não vai chegar

06:11lá tão longe,

06:12você faz com que ele

06:13pelo menos chegue

06:14onde você acha

06:15que ele precise chegar.

06:18E isso tem acontecido

06:19desde a última decisão

06:20do Comitê de Política Monetária,

06:23as expectativas de inflação

06:24desancorando,

06:25indo para tudo que é lado,

06:2612 meses de inflação

06:27acumulado no teto da meta,

06:30a inflação lá para 2026

06:32em 3,2 com o juro parado,

06:34onde está,

06:35e a meta é 3.

06:38E eles sacaram

06:39que isso estava,

06:41essa falta de credibilidade

06:42estava afetando

06:43as expectativas do mercado.

06:45Então,

06:46na minha modestíssima opinião,

06:48Roberto Campos,

06:50Gabriel Galípolo

06:50e os outros sete

06:53componentes ali

06:54da diretoria do Banco Central

06:55chegaram a um acordo

06:55que era bom

06:56com o Galípolo

06:58começar a ser mais vocal,

07:00mais austero

07:01nas falas dele.

07:02Hoje ele fala de novo

07:03e deve de novo

07:05falar que não tem

07:06interdiversação,

07:08que a gente vai dar

07:08porrada na inflação,

07:10que inflação

07:11a gente não brinca

07:13e que se precisar

07:14a gente vai subir

07:15o juro sim

07:16e que não tem ninguém

07:17dentro do Banco Central

07:18que vai impedir

07:19o juro de subir

07:20se for necessário

07:22e blá, blá, blá.

07:23Enquanto isso,

07:25Roberto Campos Neto

07:26notou que isso funcionou,

07:28mas o que aconteceu?

07:28O mercado começou a achar

07:29nossa, é verdade,

07:30o Gabriel Galípolo

07:31e o grupo todo do Lula

07:33e o grupo do Roberto Campos

07:34vão atacar

07:36essas expectativas

07:38desancoradas de inflação

07:39e vão subir os juros

07:40e começaram a rever

07:41tudo que é expectativa

07:43e aí já tem um corte

07:45de 0,25 para setembro

07:47e mais dois cortes

07:49de 0,50 para um monte.

07:51Cortes não,

07:51aumentos de 0,50 ponto percentual

07:54para um monte de banco

07:56que começou a revisar

07:58não só em função, é claro,

08:00das falas,

08:01mas também alguns dados

08:02que estão vindo

08:02um pouco piores

08:03do que o pessoal esperava.

08:06Mas o principal aqui

08:07é o custo

08:09da falta de credibilidade

08:11do Galípolo.

08:12O Galípolo, então,

08:13está retomando a credibilidade,

08:14mas é aquela coisa, né?

08:17Cachorro picado de cobra

08:19tem medo de linguiça, né?

08:21Fica todo mundo assim,

08:23olha, será que é verdade?

08:24Então, vamos ver, né?

08:26O que acontece em setembro?

08:28Vai aumentar ou não vai aumentar?

08:29Ontem, o Roberto Campos Neto,

08:32então, naquele evento lá do BTG,

08:33o Macro Day,

08:34baixou um pouquinho o tom.

08:35Por quê?

08:36Porque já estava o mercado

08:38acelerando para as expectativas

08:42para um aumento dos juros

08:44para 0,5, né?

08:47De um aumento de 0,5 ponto percentual,

08:5150 pontos base,

08:52na taxa Selic,

08:53que hoje está em 10,50.

08:56Então, ia custar muito caro.

08:59O Roberto Campos botou um pouquinho

09:00de água na fervura,

09:01mas vai continuar esse joguinho

09:03até lá o dia 20,

09:05se não me falha a memória de setembro,

09:06que é quando o Comitê de Política

09:08Humanitária senta

09:09e discute o que acontece com a Selic.

09:11Olha só,

09:12se isso funcionar,

09:14nem aumentar o juro

09:15vai ser necessário.

09:18Mas a gente vai ter que esperar para ver.

09:31E aí

09:36a gente vai ter que esperar para ver.

09:38Obrigado.

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