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Francisco Matturro, também conhecido no universo do agronegócio como Chiquinho e um dos idealizadores da Agrishow, feira internacional de tecnologia agrícola, é o entrevistado desta semana no Sala Antagonista...
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NotíciasTranscrição
00:00Música
00:30Entre, puxa uma cadeira e fica à vontade, esse é o nosso Sala Antagonista.
00:35No episódio dessa semana eu vou falar com o Francisco Maturo, que já foi comercial de empresa agrícola.
00:42É um dos fundadores da AgriShow, a maior feira, como ele gosta de falar, a maior feira de inovação tecnológica do agronegócio no mundo.
00:52Também está envolvido com novas pesquisas, com novas ideias para o agronegócio brasileiro.
00:59Uma pessoa que conhece tudo do que foi o agronegócio, o que é o agronegócio e ainda tem uma visão sobre o que será o agronegócio brasileiro,
01:08essa potência que a gente tem nesse país, tá bom? Então não perca o nosso Sala Antagonista.
01:14Alguém me pediu esses dias para eu definir minha passagem pelo governo em uma palavra.
01:19Eu vou definir da mesma forma que eu fiz. Foi uma passagem enriquecedora.
01:24O Brasil só chegou em 100 milhões de toneladas de grãos no ano 2001.
01:33Nós iniciamos a feira em 94.
01:36A gente ficava patinando ali entre 50 e 70 milhões de toneladas.
01:40Era um agro muito pequeno comparado com o agro que nós temos hoje.
01:44Mas o conceito era bom.
01:46Nós tínhamos que perseverar.
01:47No conceito, uma feira de negócios, onde não tem bebida alcoólica, não tem show, não tem roda gigante, não tem cantor sertanejo, não tem rodeio, não tem.
01:58Mas o grande salto da AgriShow foi com a chegada do Modern Frata.
02:07Presta grande serviço à nação, mostrando tecnologia, mostrando o que tem de melhor no planeta.
02:14Nenhum lançamento é feito no mundo que não seja concomitante com o AgriShow.
02:20Mais conhecimento, mais tecnologia.
02:23E esse é o Brasil que são esses jovens que vão levar a agricultura brasileira num patamar ainda mais alto.
02:30Olá, seja bem-vindo a mais um Sala Antagonista.
02:46No episódio de hoje eu vou começar com o Francisco Maturo, que sabe absolutamente tudo de agronegócio, tudo de agricultura.
02:55Óbvio que ele vai negar, mas é só humildade.
02:58O Francisco foi, também conhecido como Chiquinho, foi, entre outras coisas, um dos fundadores da AgriShow,
03:07uma das maiores feiras de negócio tecnológicos, de agronegócio e tecnologia do planeta Terra.
03:14É também presidente da LID de Agronegócio, foi secretário de Agricultura de São Paulo, é produtor de cana,
03:25também está à frente presidente da IFLP, ele vai explicar para a gente o que é isso,
03:30que é uma parceria público-privada com a Embrapa, no desenvolvimento de tecnologia, pesquisa, no agronegócio também.
03:38E vai contar muita história para a gente, ele que chegou aqui, a família chegou no século retrasado,
03:46o avô italiano, mas ele vai explicar isso já já para a gente.
03:48Então, por enquanto, entre, sente-se, fique à vontade, que esse é o nosso Salão Antagonista.
04:01Muito bem, Francisco, eu vou começar com o seguinte.
04:06Primeiro, vou começar explicando por que eu vou chamar o senhor de você,
04:10que foi você mesmo que pediu para eu fazer isso.
04:12Então, não sou eu faltando com a vênia, como gostariam alguns,
04:19mas eu queria que você começasse com essa história da vinda da família de vocês para cá
04:28e como é que as coisas se deram até o Francisco Maturo virar o chiquinho
04:34que todo mundo conhece no agronegócio hoje.
04:37Bem, é bem começar lá atrás.
04:38Meu avô chegou no Brasil, como muitos, um volume muito grande de imigrantes italianos,
04:45fugindo de doenças, fugindo da pobreza, da miséria,
04:49que assolava o território europeu todo.
04:51Meu avô italiano chegou no Brasil com o pai dele, que é o meu bisavô, com 10 anos de idade.
04:58E, como todo italiano, vieram para as lavouras de café.
05:03Nem sabiam para onde iam.
05:04Quando embarcaram lá no porto de Nápoles, eles não sabiam para onde iam.
05:10Alguém falou que iam para a América.
05:11A América, para eles, não significava muita coisa.
05:15Porque não tinha.
05:16Não tinha internet, não tinha WhatsApp, não tinha as informações que eles têm.
05:20Eles fugiam de doenças.
05:22Então, eles ficaram aqui, como todos os imigrantes de qualquer país,
05:27ficaram na hospedaria do imigrante, hoje Memorial do Imigrante de São Paulo.
05:32Porque havia...
05:33A gente disse que era uma hospedaria, na verdade, era um quarentenário.
05:37Eles tinham que ficar ali, porque podia desenvolver alguma doença,
05:41alguma coisa desse tipo.
05:43Porque eles estavam fugindo de doença, que era a peça bubônica na Europa.
05:47E era aqui um quarentenário.
05:49Pouca gente fala sobre isso, mas esse é o fato.
05:51E ficaram aí hospedados durante quarenta dias.
05:56E aí, os fazendeiros do interior, de lavouras de café,
06:00vinham para esse local, que era a hospedaria do imigrante,
06:04e faziam seleção.
06:07Lamentavelmente, mas era uma cultura de uma época,
06:09como eles faziam seleção de escravos.
06:11Porque eles buscavam braços para a lavoura.
06:14Então, quem tinha família com mais homens, menos homens,
06:17era uma seleção.
06:18Nem era maldade, talvez.
06:19Certamente, porque era cultura.
06:22É assim que eles selecionavam.
06:24A minha região nunca teve escravos.
06:26Matão, de onde eu sou, originalmente, nunca teve escravos.
06:30Que é uma cidade no interior de São Paulo.
06:31Cidade no interior de São Paulo, próximo de Araraquara,
06:34próximo de Ribeirão Preto, um pouquinho mais distante.
06:36Mas está ali na região.
06:38Uma cidade importante, hoje uma cidade industrial.
06:41Tem coisas maravilhosas na minha cidade.
06:43Que eu costumo dizer para o governo que é a República de Matão.
06:47Não passa de uma brincadeira, mas é uma cidade de 85 mil habitantes, pequena.
06:52Eu me orgulho muito de ter feito a minha vida lá.
06:56Então, aí começa a história do meu avô indo para uma lavoura de café aos 10 anos de idade,
07:01com o seu pai.
07:02E certamente, meu amigo, naquele tempo, os meninos iam para a lavoura junto com os pais.
07:07Até porque não tinha com quem deixar, né?
07:09O filho ia na barra da saia da mãe e, junto com o pai, fazia algumas tarefas e tal.
07:15E ali, eles permaneceram.
07:17Era uma fazenda muito grande, que era a condição da época do Império,
07:22que terra só era cedida a nobre português católico.
07:25Era uma condição.
07:27E ali tinha um nobre português católico com uma sesmaria,
07:31que equivale a 60 mil hectares.
07:33Tudo em café.
07:35E todos moravam na fazenda.
07:39Então, aí começa a história.
07:40Essa fazenda, um dia, foi vendida.
07:43Em 1924, foi vendida por uma companhia inglesa.
07:45Interessante.
07:47Já era uma companhia com ações cotadas de moça.
07:50Para 1924, imaginei.
07:52A gente nem sabia muito o que era isso no Brasil, né?
07:55Eu também não estava lá em 1924.
07:58Mas são as histórias que ficaram.
08:01E eu comecei minha vida em Matão,
08:03já meu pai trabalhando ainda em lavouras de café.
08:06Depois eu venho para a cidade.
08:09Nós éramos cinco irmãos.
08:11E todos precisavam ir para a escola.
08:13Enfim.
08:14Tentar melhorar de vida, né?
08:15Sim.
08:16E aí começamos a nossa corrida.
08:18Meus irmãos para um lado e eu para o outro.
08:21Enfim.
08:21Vamos estudar, vamos fazer alguma coisa.
08:23O senhor fez a administração de empresas.
08:25A administração de empresas em Araraquara, viajando à noite.
08:28Trabalhava durante o dia e viajava à noite.
08:31Aí eu me mudei para São Paulo, fui trabalhar na Hoje, Unilever.
08:35Foi em G.C. Lever.
08:36Eu fiquei um período e me caso com uma moça de Matão.
08:39E volto para a minha cidade para trabalhar numa pequena empresa à época
08:43que meu sogro havia fundado.
08:45Uma pequena empresa.
08:47Somando todos os funcionários da família, nós éramos 30 pessoas.
08:51E aí começa a minha vida profissional, trabalhando no mercado.
08:58E foi trabalhar na empresa do sogro?
09:00Foi trabalhar.
09:00Foi trabalhar na área comercial porque eu já estava nessa área, na então G.C. Lever.
09:06Que depois, Unilever, né?
09:08Isso.
09:08Mas o senhor foi para a empresa da família.
09:10Foi para a empresa da família.
09:11Que vendia...
09:12Máquinas agrícolas.
09:13Fabrica até hoje.
09:14Máquinas agrícolas.
09:15Que é hoje não tão pequena.
09:18Não.
09:18Não tão pequena.
09:19É a número um do Brasil.
09:21Exato.
09:21A gente fez essa empresa junto com muita gente.
09:25Meu sogro com o irmão dele, Luiz.
09:27Meu sogro Armando.
09:28O irmão dele, Luiz.
09:31Uma sociedade de irmãos.
09:33Uma sociedade boa.
09:34Que durou até o último dia da vida dos dois.
09:37Que já se foram.
09:40E nós fizemos uma empresa que é a número um do Brasil.
09:43Hoje cerca de 3 mil funcionários.
09:46Uma empresa grande.
09:47E a minha cidade hoje predomina máquinas agrícolas.
09:53Certamente.
09:53A gente não diz isso.
09:55Mas deve ser a maior concentração de fabricantes de máquinas agrícolas do Brasil.
09:59Uma cidade pequena.
10:01Mas predomina a indústria metal mecânica.
10:04Temos lá também uma fábrica de suco de laranja.
10:06E como unidade é a maior do mundo.
10:10Está dentro da minha cidade.
10:11Porque ali foi um polo citrícula muito grande.
10:17Toda a minha região.
10:18Nós estamos ali na interseção da Washington, Luiz com a rodovia Faria Lima.
10:23Dali a Barreto são 140 a 150 quilômetros.
10:27E tem Limeira a 150 quilômetros no sentido oposto.
10:29Então tudo isso era citrícula.
10:33Era laranja.
10:34Então a grande concentração era ali.
10:36Aí vem doenças, vem pragas.
10:39E o greening, que é uma praga que a pesquisa não consegue alcançar.
10:44Dizimou os pomares da Flórida, que era grande produtor de laranja.
10:48Produzia assim, vou dar um número pra você.
10:50200 milhões de caixas.
10:52Caixa é um peso oficial 40 quilos, 800 gramas.
10:57Produzia 200 milhões de caixas, produz 14.
10:59Quer dizer, nada.
11:00Máximo laranja de mesa.
11:02E essa doença começou também a assolar o nosso país.
11:06Então a laranja foi sendo eliminada da minha região.
11:09E foi migrando para o norte de São Paulo.
11:12Já entrando no noroeste do Triângulo Mineiro.
11:16Região de Comendador Gomes.
11:20Outra vez fugindo de doença.
11:22Nesse caso, citrícula.
11:25O maior centro de pesquisa citrícula do planeta
11:27é da Secretaria de Agricultura de São Paulo, em Cordeirópolis.
11:31A pesquisa não alcança.
11:35Estados Unidos, com todo o seu dinheiro, com todo o seu potencial,
11:39também não alcança.
11:41E agora migrou para regiões menos quentes.
11:44Então a propagação da doença é mais lenta.
11:48Não quer dizer que eliminou.
11:49E também o citrícula do Toro está aprendendo a fazer um manejo melhor
11:53e continuar a produzir.
11:55O senhor então estava...
11:57Mas aí a região ali parou de produzir laranja, na mesma quantidade,
12:02pelo menos, e passou a produzir cana?
12:04Produzir cana.
12:05Tem muitas usinas no entorno da minha região.
12:08E era uma competição, né?
12:09Porque laranja é uma coisa rentável.
12:11E a opção foi cana.
12:14Então a minha região hoje, na verdade, só resta um pomar.
12:18Muito bem manejado, muito bem conduzido, irrigado, muito bem fertilizado.
12:23Eles estão aprendendo a fazer manejo nesse pomar.
12:27A praga é ainda muito difícil de eliminar.
12:30Muito bem.
12:31O senhor, ali, da Marquesã, o senhor sai da Marquesã para fazer o quê?
12:36Eu ainda, antes de sair da Marquesã, eu sempre fiz política empresarial,
12:42dentro da BIMAC, dentro da BAG, vamos dizer, levando propostas para políticas públicas
12:50adequadas ao agro.
12:52Dentro da AgriShow, que é um capítulo à parte, a gente conseguiu se juntar,
12:57os fabricantes todos, e demandar políticas públicas importantes para o setor.
13:01E, certamente, principalmente por essa razão, nós conseguimos uma linha de crédito,
13:09que é o Modern Frota, que era um programa de modernização da frota,
13:13que foi perenizado, continua até hoje, em 2024, foi criado no ano 2000,
13:18continua o programa de modernização da frota.
13:20O Brasil tem superutilização de equipamentos, por ser um país de clima tropical.
13:26Então, precisa de política adequada para a renovação do equipamento.
13:32Com essas fundações, associações, hoje o senhor está na BAG ainda ou não?
13:36Continua o diretor da BAG, Associação Brasileira do Agronegócio.
13:39É uma entidade que trabalha transversalmente todas as empresas que são do agro,
13:47de agroquímicos, agentes financeiros importantes.
13:51Então, não é uma entidade tão grande, cerca de 100 associados,
13:55mas tudo assim são complementares, são importantes para contribuir com o Frente Parlamentar da Agropecuária,
14:02com o próprio governo, para a orientação e subsídios para políticas públicas corretas para o agro.
14:10Sim, isso vai acabar... Bom, a gente vai falar da Agri-Show já, já.
14:13O senhor estava lá no comecinho da Agri-Show, estava também muito recentemente na Agri-Show e continua, né?
14:19Na verdade, a Agri-Show é quase um filho, é isso?
14:23É, é quase um filho.
14:25A gente tem amor por eles, claro que a família em primeiro lugar, mas a Agri-Show a gente viu na cena.
14:31É, exato. Mas o senhor acaba que essa passagem vai levar a um convite também para a Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo,
14:41já mais recente aqui, 2019, não é isso?
14:442021.
14:452021, desculpa.
14:462021.
14:47Eu estou pulando um pouquinho essa parte porque eu vou voltar na Agri-Show com um pouco mais de cuidado.
14:52na Secretaria... E aí, a minha dúvida é a seguinte, o senhor tinha uma carreira na iniciativa privada,
15:00passou para essa parte de associações e foi para a Secretaria de Agricultura.
15:04Quer dizer, o senhor frequentou todo o ecossistema burocrático, digamos assim.
15:10Sim.
15:11Isso é uma vantagem ou é uma desvantagem?
15:15Talvez eu tenha que voltar um pouquinho.
15:17Sim, na verdade, eu só saí da nossa empresa porque nós iniciamos um processo de profissionalização da companhia,
15:24que é necessário.
15:25Sim.
15:26Família, família cresce, às vezes cresce mais do que o negócio e você tem que começar a organizar regras de governança, né?
15:35Então, nós iniciamos um processo de profissionalização, eu me desliguei da empresa como gestor, como executivo.
15:43E eu nunca vou me desligar dela, né?
15:45Exato.
15:46A gente está lá, a família está lá, está tudo certo.
15:50E eu saí da executiva, assim como meus pares também.
15:55Toda a família saiu da gestão.
15:57Então, hoje ela é inteiramente profissionalizada e os donos continuam donos, né?
16:02Exato.
16:02Então, mas tem uma condição profissional.
16:05E aí eu fui cuidar da minha vida.
16:07Talvez até com um desejo que nunca foi realizado de passear, viajar, caros bons, um pouco do hobby.
16:18Passear, viajar.
16:19E eu acabei não conseguindo fazer.
16:22Também não me arrependo.
16:24E continuei trabalhando.
16:25Sempre no agro.
16:26Nunca fiz outra coisa.
16:27E foram experiências interessantes.
16:30E um dia, isso muito tempo depois, eu fui chamado para ser secretário executivo do então secretário Itamar Borges.
16:38Chegamos juntos na secretaria.
16:41Ele é um amigo querido, um parlamentar brilhante.
16:44É um parlamentar que sempre esteve no agro.
16:47Mesmo quando foi vereador em Santa Fé do Sul, prefeito em Santa Fé do Sul.
16:53Por três vezes foi prefeito.
16:55Depois veio para a Assembleia Legislativa.
16:57Que agora está no quarto mandato.
16:59E ele ainda é um jovem.
17:01Meu amigo.
17:03É o homem da frente parlamentar do agro paulista na Assembleia Legislativa.
17:07E ele queria alguém que pudesse ajudá-lo com o conhecimento de todos os setores de produção do nosso estado.
17:16Eu não tenho nenhuma arrogância, mas eu conheço bem o agro do país todo.
17:23Então, acho que ele me pegou num momento de fraqueza.
17:27Ou de bem querer que eu tenho pelo Itamar Borges.
17:31Eu vim com o compromisso de ficar com ele o período que ele poderia ficar.
17:35Como ele é da política, ele é parlamentar.
17:37Ele tinha um tempo para ficar.
17:40Ou ficar até o fim do governo João Dória e Rodrigo Garcia.
17:45Ou ir abrir mão de uma candidatura certa novamente para o parlamento.
17:50Ele teve um período para desincompatibilizar.
17:53Aí o governador Dória e o próprio Rodrigo Garcia me chamaram para continuar.
17:57Aí sim, como titular da secretaria.
18:00Eu já estava ali, eu achava importante naquele momento continuar.
18:05Continuei.
18:06E venceu a nossa gestão.
18:09Saí da secretaria.
18:10E devo dizer assim, um orgulho tremendo, porque foi absolutamente enriquecedor.
18:15Não foi nenhuma novidade para mim, porque eu convivo e convivi a vida inteira com os técnicos da secretaria,
18:24os pesquisadores, os servidores.
18:26E aí entra novamente a história de Agrishow.
18:29Porque a Agrishow é feita num próprio da secretaria de Agricultura, que é em Ribeirão Preto, no centro de Cana.
18:36Então o meu convívio com eles vem de muito tempo.
18:39Para mim foi uma delícia, porque eu não tive nenhuma dificuldade com os servidores, com os pesquisadores.
18:44Mas está dentro do governo, isso ajudou a ter uma noção melhor das dificuldades que o governo tem para ajudar o agro?
18:51Quais são as limitações do...
18:53Na verdade, Rodrigo, eu devo dizer para você, alguém me pediu esses dias para eu definir minha passagem pelo governo em uma palavra.
19:03Eu vou definir da mesma forma que eu fiz.
19:06Foi uma passagem enriquecedora.
19:08Porque não era só para o agro, porque na gestão do João Dória e do Rodrigo, a gente tinha oportunidade de viver todas as pastas, todo o governo.
19:21Eu devo dizer isso para você, porque todos nós, ex-secretários daquela gestão, a gente confessa publicamente,
19:29gente muito mais preparada que eu, que todos nós saímos melhores do governo.
19:33Melhor disciplinado em tempo, melhor disciplinado na apresentação da nossa pasta, o resumo que sempre esse governo exigiu de nós para poder fazer uma boa gestão.
19:47Só para dar um exemplo, a gente tinha cinco minutos para apresentar uma pasta.
19:52Uma pasta do tamanho da agricultura, do tamanho da educação, da saúde, da segurança, é gigante.
19:58E a gente aprendeu a ter capacidade de síntese, de sintetizar uma pasta em uma apresentação de cinco minutos e meia dúzia de slides.
20:07Então, isso foi um ganho.
20:09Mesmo na minha formação, que a gente é mais do comercial, mais daquela conversa mais longa e tal, a gente saiu melhor desse governo.
20:20Alguma pretensão política? Ficou a vontade de virar político?
20:23Não, zero pretensão. Não sou filiado a partido.
20:26Eu costumo dizer que meu partido é o agro, até porque eu não sei fazer outra coisa, né?
20:31Eu só vivi nisso.
20:33E zero de pretensão política.
20:36Embora todos nós queiramos ou não, nós somos seres políticos.
20:41Todos nós, na vida em casa.
20:43Você vai num restaurante e você não viveu a boa política e nem bem atendido você é.
20:47Mas política partidária é uma outra história.
20:50E dessa eu não faço parte. Não é meu mundo.
20:52Vamos falar um pouquinho de negócios agora.
21:01Negócios.
21:03E aí eu queria focar, nessa parte aqui, eu queria focar na AgriShow.
21:08Tá bom.
21:09O senhor estava lá ao lado do Roberto Rodrigues, na concepção da ideia da AgriShow, não é isso?
21:18Sim.
21:18Que veio, o senhor gosta de falar, eu não sei como comprovar isso, eu não sei nem como é que se mede isso,
21:25mas que seria a maior feira tecnológica do agronegócio no mundo, certo?
21:31Ela se tornou, né?
21:32Sim.
21:32Ela não era.
21:33Mas como é que nasceu essa ideia?
21:37Nasceu o seguinte, eu sou do setor de máquinas agrícolas e o agro não era essa pujança que é hoje,
21:45não era tão representativo para o país como ele é hoje.
21:50Sem nenhum demérito, mas a gente era um pouco o patinho feio da economia do país, a essa época.
21:56Em 92, o que nós fazíamos?
22:00Nós apresentávamos nossos produtos em feiras, feiras de agropecuária,
22:04onde acontece rodeio e shows de cantores sertanejos.
22:10Todos nós gostamos disso, eu gosto muito.
22:15E a gente ia à noite para essas feiras.
22:18E tinha um público maravilhoso, só que em algum momento a gente cansou de ir para essas feiras,
22:23e que elas aconteciam à noite, e o público maravilhoso estava lá, não era para nós.
22:29Era público para o rodeio e para o show do cantor sertanejo.
22:32Não ia comprar máquina nenhuma.
22:33Não, não é nem o perfil daquele visitante, não é o perfil daquele público.
22:38E não é o comprador, não é o proprietário de uma fazenda.
22:42Talvez seja como eu, como você, a gente gosta de um rodeio, gosta de um show sertanejo,
22:47mas aquele público não era o nosso.
22:50Mas a gente pagava a conta.
22:51Então, nós queríamos ter uma feira, o nosso setor queria ter uma feira de negócios.
22:59E aí surge um louco, né?
23:03Visionário, só depois que mora.
23:05Um louco, um louco lá em Londrina, que faz uma feira com esse conceito que nós imaginávamos.
23:12Uma feira de negócios, abre às 8, fecha às 18,
23:15e com demonstração dinâmica, a gente tinha a oportunidade de mostrar os nossos equipamentos em operação.
23:21Doutor Roberto Rodrigues e eu fomos a Londrina ver essa feira.
23:28Gostamos do conceito.
23:31Ele tinha o propósito de fazer uma feira itinerante.
23:35Ano seguinte, em 93, ele fez essa mesma feira em Uberaba, Minas Gerais.
23:41O conceito era bom, mas ela não deu o resultado que ele esperava.
23:48Nós pegamos o conceito...
23:49No sentido de negócios.
23:50De negócios.
23:51Não teve, porque ele fez dentro de uma faculdade.
23:53Era muito bonito, tudo muito bonito, mas eram alunos que estavam ali.
23:58E nós estávamos buscando o cliente para comprar nossas máquinas.
24:01O setor vivia com dificuldades, que não é fácil até hoje.
24:06Vamos dizer que hoje, menos difícil.
24:10Então, nós negociamos com esse cidadão e levamos esse conceito para criar uma feira nossa.
24:19Doutor Roberto Rodrigues é convidado pelo então governador a ser secretário de Agricultura do Estado de São Paulo.
24:26Ele é da região de Ribeirão Preto, com todo o interesse dele.
24:32Ele disponibilizou uma área para nós fazermos uma feira.
24:36Que é onde é realizada a feira até hoje.
24:38Até hoje.
24:39Que é da Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo, quer dizer, um próprio do Estado.
24:45E ali funciona o centro de cana.
24:47É o maior centro de pesquisa da canavicultura do planeta.
24:51Ali estão os pesquisadores, os cientistas ali.
24:54E ele disponibiliza essa área.
24:57Nós fizemos um acordo com a prefeitura, que nos emprestou algumas máquinas.
25:01Algumas usinas da região, que nos ajudou a fazer o arruamento.
25:06Então, fizemos uma feira com, sei lá, 20, 30 pequenos expositores.
25:12Pequenas tendas.
25:14Tinha tudo para dar certo.
25:17Em 1994.
25:18Em 1994.
25:19Mas tem um pequeno detalhe.
25:22No dia da abertura...
25:24Na primeira agri-show.
25:27Chegava em São Paulo o corpo do Ayrton Senna.
25:30Que morreu no dia 1º.
25:32Então, a nossa feira virou um velório.
25:34Como virou todo o Brasil.
25:36Todo mundo estava triste.
25:38Então, não preciso contar para você o resultado da feira.
25:41Era uma feira pequena.
25:43A gente gastou um dinheiro, mas não era muito.
25:45Também a gente não tinha muito para gastar.
25:47Então, fizemos lá o que era possível.
25:50E a escolha...
25:51E a escolha...
25:52Eu vi o senhor numa outra entrevista, ou li em algum lugar.
25:56A escolha da data tinha uma...
25:59Como é que se diz?
26:00Uma explicação científica, né?
26:02Ela é científica.
26:03Porque aquela...
26:04Como é um centro de pesquisas...
26:08Ali nós temos precipitação pluviométrica...
26:10Tem todo o registro do que ocorre na região.
26:14E ali, quando nós fizemos a primeira edição...
26:16Fazia 55 anos que não chovia...
26:19Na semana do 1º de maio.
26:21Como é uma feira a céu aberto...
26:24Não pode chover.
26:25Até já choveu.
26:26Mas não pode chover.
26:27Se chover é complicado.
26:29As pessoas não se curam, né?
26:32E tem mais razões para isso.
26:34Ribeirão Preto, por ser uma cidade do Porto que é...
26:37Já tinha uma rede hoteleira robusta.
26:39Uma cidade grande.
26:41E o entorno, num raio de 100 quilômetros...
26:43Também tem hospedagem.
26:46Tem hotéis.
26:47Tem restaurantes.
26:48Tem rodovias de pista dupla para chegar.
26:51Tem aeroporto comercial.
26:53Quer dizer...
26:54Ribeirão Preto não foi escolhido de forma aleatória.
26:58E as coincidências é que tem um amigo...
27:00Do setor Roberto Rodrigues...
27:02Que era o secretário.
27:03Ele tinha caneta na mão para autorizar.
27:05Numa área que nós não podíamos comprar.
27:07Nós não podíamos alugar uma outra área.
27:09Não tinha dinheiro para isso.
27:11Fizemos uma feira, na verdade...
27:12Para juntar cacos de um setor...
27:14Que vinha com dificuldades.
27:16Nós estávamos passando para o plano real.
27:18Era essa situação.
27:20A gente vinha de uma inflação muito grande.
27:23Então, era um setor que era difícil.
27:26Tanto, Rodrigo, que eu devo te dizer...
27:29O Brasil só chegou em 100 milhões de toneladas de grãos no ano 2001.
27:37Nós iniciamos a feira em 94.
27:40A gente ficava patinando ali entre 50 e 70 milhões de toneladas.
27:44Era um agro muito pequeno comparado com o agro que nós temos hoje.
27:49Então, aí nasce a Grichou.
27:50Aí vem em 95, 96.
27:52Já em 95 o resultado foi melhor.
27:5494 começou com aquela coisa.
27:57Se aqui é para contar a verdade, a gente não esconde ela.
27:59É verdade.
28:01O então presidente Neib Tenkudera Úrgico, que era o presidente da BAG.
28:05Aí nasce a BAG.
28:07Ele terceirizou a realização da feira.
28:12Nós tomamos um prejuízo gigante.
28:14Na verdade, nós tomamos um golpe e a culpa foi nossa.
28:18Nós não fizemos a gestão como devia fazer.
28:21Mas ninguém perdeu dinheiro.
28:23Tudo que resistiu a uma auditoria, a gente negociou.
28:29A gente pagou.
28:30No tempo que a gente podia pagar, mas pagou.
28:32Ninguém tomou prejuízo.
28:34E aquilo que não resistiu a uma auditoria em 95,
28:39ficou com todo o direito de ir para a justiça.
28:41Então, nós estávamos certos de auditar, porque ninguém foi para a justiça.
28:45Significa que não era uma coisa muito que poderia se colocar sobre a mesa.
28:52Então, a gente pagou todo mundo, mas o conceito era bom.
28:56Nós sempre perseveramos.
28:57Nós acreditávamos naquela.
28:58No conceito.
28:59Uma feira de negócios.
29:01Onde não tem bebida alcoólica, não tem show, não tem roda gigante,
29:05não tem cantor sertanejo, não tem rodeio, não tem.
29:08É isso, eu tive esse...
29:10A primeira vez que eu fui, foi esse ano de 2024, a AgriShow,
29:14e realmente o horário é 8 às 18.
29:1818 horas e está todo mundo indo embora mesmo.
29:21Cansado, porque chegou muito cedo.
29:23E a feira é gigantesca hoje, é um negócio inacreditável.
29:26Vou te dar um número, talvez isso dê a dimensão.
29:28São 800 e tantos expositores, 25 quilômetros de rua.
29:33Muitas cidades do interior pequeno não têm 25 quilômetros de rua.
29:36Lá tem, é uma cidade.
29:38É uma cidade que naquele dia ele tem, todos os dias da AgriShow,
29:42tem 50, 45 mil pessoas por dia.
29:47Então, é uma cidade.
29:49E fecha muito o negócio hoje, né?
29:502024, 2023, fechou aí para 14 bilhões.
29:53Fechou semelhante, quase 14 bilhões.
29:56E tem uma razão para não ter tido um avanço maior em 2024.
30:00Tem mais de uma razão.
30:01Mas nós tivemos chuvas irregulares no país todo.
30:05Então, nós tivemos uma colheita menor em alguns setores,
30:09algum produto.
30:11Nós tivemos preço das comodidades internacionais muito baixos.
30:15Isso inibe investimento.
30:17E tem também um outro fator que é o possível,
30:21mas os juros estão muito altos.
30:23Não há nenhuma crítica nisso.
30:24É uma política econômica que ela deve estar fazendo certo.
30:27Então, são fatores que inibem investimento.
30:32Então, poderia ter sido muito maior.
30:33Quando foi a virada da AgriShow mesmo?
30:35Ela começa em 94, ela tem uma coincidência histórica aí com a morte do Ayrton Senna.
30:4395 tem a terceirização que não deu muito certo.
30:46Quando é que ela vira essa feira?
30:50Quando é que a AgriShow vira esse momento esperado para o agronegócio brasileiro,
30:58principalmente no que diz respeito à compra de maquinário?
31:02Sua pergunta é muito simples.
31:04A resposta vale um milhão de dólares.
31:05Mas o grande salto da AgriShow foi com a chegada do Modern Frota.
31:15Uma linha de crédito oficial que o governo, à época,
31:19tinha o propósito da renovação do parque de máquinas.
31:22Nós temos máquinas, colhedora,
31:25que você pega todo o dinheiro que você tem como produtor,
31:28esparra-ma no chão.
31:30E você não pode ter perdas na colheita.
31:33E o ponto é que as colheitadoras, as colheitadeiras,
31:38tinham perdas muito acentuadas.
31:41Depois de tudo pronto, uma safra pronta,
31:43você perdia 6%, 8%.
31:46Eu estou falando que isso é um absurdo.
31:48Quando você fala em 100 milhões de toneladas,
31:50você está falando em 8 milhões de toneladas.
31:52Quando você fala em 300 milhões de toneladas,
31:54que é a nossa produção hoje,
31:56então isso vira uma coisa gigantesca
31:58que muitos países não produzem o país inteiro.
32:01Então nós não podíamos ter perda.
32:02O governo teve a sensibilidade,
32:05e o ministro, à época, era Marcos Vinícius Pratine de Moraes,
32:09está vivo até hoje,
32:11que ele desenhou uma política por demandas do nosso setor,
32:15que juntos a gente compartilhava das mesmas alegrias
32:19e das mesmas dores.
32:21Então aí a Grichon começou a gerar demandas
32:25para políticas públicas mais adequadas ao setor,
32:28a sensibilização para o governo.
32:30No ano 2000, nasce o Modo de Frota.
32:34Aí foi uma venda espetacular
32:37com o compromisso de colocar nas máquinas
32:40tecnologia, ciência, pesquisa, desenvolvimento
32:45para minimizar as perdas.
32:48Mas é tão importante isso
32:49que a gente começou a olhar também as perdas
32:51que a gente tinha no plantio,
32:53a gente tinha nos tratos culturais,
32:55e o Brasil dá realmente a grande virada
32:58a partir do ano 2000.
32:59Com o Modo de Frota,
33:02política para a construção de armazéns,
33:04e nós temos um déficit gigante hoje,
33:07mas começou a política de construção de armazéns,
33:09silos,
33:10para armazenar os grãos.
33:12O Brasil é carente de logística,
33:14até hoje você calcula,
33:15no ano 2000,
33:16a logística nossa era muito pior.
33:17Então, o grande salto foi a partir do ano 2000.
33:21Tanto que em 2001,
33:24nós alcançamos 100 milhões de toneladas,
33:26que era um récord,
33:27assim, absolutamente extraordinário.
33:29E aí, em 2018, o senhor é escolhido
33:32nessa votação que tem ali entre as entidades,
33:33que são as entidades que...
33:36São cinco entidades.
33:37Que, como é que se diz,
33:38organizam ali a feira.
33:39São as sócias da feira.
33:41Exato.
33:41E aí, em 2018, o senhor...
33:44Assuma a presidência.
33:45Na verdade, eu fui escolhido em 2017,
33:47é assim que funciona.
33:48Porque você começa a feira do ano seguinte
33:51e no dia que termina a do ano.
33:55O próximo presidente continua o mesmo,
33:57porque são dois anos de mandato.
33:59Eu fui escolhido em 2017.
34:02Pudemos organizar em 2018.
34:04Qual a dificuldade de organizar uma feira desse tamanho?
34:07Então, na verdade, é mais ou menos assim.
34:10Se tinha um cidadão que carregava um boi
34:14nas costas de um circo.
34:15E perguntaram para ele,
34:17por que você carrega um boi nas costas?
34:19Como é que você...
34:19Não, mas ele era meseiro quando eu comecei.
34:21Então, é uma divisão muito simples,
34:24mas é verdade.
34:24A gente começou com ela pequena.
34:27Então, nós temos um time técnico muito bom.
34:31Todo mundo já com grande vivência
34:33em feiras internacionais, nacionais.
34:35E a nossa se transformou por alguns critérios
34:40na maior feira do mundo.
34:43E tem muitas razões para que eu possa explicar isso.
34:47Não há dificuldade de organizar.
34:50Porque a equipe está montada, o time está montado,
34:54a área está disponibilizada.
34:56Nós cuidamos de infraestrutura, de mais banheiro,
34:58de mais restaurante.
34:59A malha viária é espetacular,
35:01mas tem problema,
35:02porque concentra gente demais.
35:05Não é gente demais,
35:06concentra muita gente.
35:07Exato.
35:08Concentra muita gente.
35:10E todos querem entrar no mesmo horário,
35:11sair no mesmo horário,
35:13embora seja lá pista dupla.
35:15Foi reorganizado para esse ano todo,
35:17um fluxo novo.
35:18E ainda assim,
35:20dá um bom problema,
35:22que é o congestionamento.
35:23A gente não queria.
35:24Queria que todo mundo chegasse bem,
35:27no ar-condicionado,
35:28mas não dá para pôr ar-condicionado
35:29em 200 hectares.
35:31Então,
35:32a feira tem problemas também
35:33para esse grande serviço à nação,
35:36mostrando tecnologia,
35:38mostrando o que tem de melhor no planeta.
35:41Nenhum lançamento
35:42é feito no mundo
35:44que não seja concomitante
35:46com o Agri-Show.
35:48Qual a razão?
35:51Nariz empinado demais?
35:53Não.
35:54É que o Brasil,
35:54por ser um país de clima tropical,
35:57tem superutilização de equipamento.
35:59O que não é possível
36:00em um país de clima temperado,
36:02que durante seis meses
36:03as máquinas estão no barracão,
36:05esperando a neve virar água.
36:08Então, não trabalha.
36:10No Brasil,
36:10o processo de validação,
36:11eu trabalho o ano inteiro.
36:13O Brasil faz cultura o ano inteiro
36:14em todo o país.
36:16Quando você vai para a área de cana,
36:18aí é operação 24 horas por dia.
36:21Colheita de cana é 8,
36:2210 meses.
36:23Então,
36:24aqui há uma superutilização.
36:26Então,
36:27todo o processo de validação
36:29de máquinas feitas
36:31ou projetadas
36:33em países de clima temperado,
36:35o processo é feito no Brasil.
36:37E o momento supremo
36:39da apresentação
36:39é a Agri-Show.
36:40Vamos aproveitar esse gancho
36:47para a gente falar de pesquisa,
36:50futuro.
36:51Futuro do agronegócio,
36:52que eu sei que sou,
36:54não só um entusiasta,
36:56mas também um conhecedor.
36:58O senhor é presidente da IFLP.
37:01ILPF.
37:01ILPF, desculpa.
37:02Sou diretor executivo.
37:04Diretor executivo.
37:05O que é a ILPF?
37:07Vamos lá.
37:07Vamos começar do começo.
37:08Então,
37:08vou começar do começo.
37:10Eu tenho que voltar um pouquinho no tempo,
37:11mas será rápido.
37:13Nós fazíamos agricultura no Brasil,
37:15predominantemente,
37:16no Rio Grande do Sul.
37:17São Paulo,
37:20à época,
37:21predominava café,
37:23cultura de café
37:24e cana.
37:25A época que o senhor diz é...
37:27Muito lá atrás.
37:29E os imigrantes europeus,
37:31de qualquer país que seja da Europa,
37:33eles faziam agricultura no Rio Grande do Sul
37:35como eles aprenderam
37:37nos seus países de origem,
37:39que são países de clima temperado,
37:42que só faz,
37:43para o nosso conceito,
37:45a safra de verão.
37:46Como o Rio Grande do Sul é mais frio
37:48e tem um pedacinho lá
37:49que é um pouco confundo
37:51com a Argentina e o Uruguai,
37:53é país de clima temperado.
37:54E uma parte do Rio Grande do Sul
37:55é de clima temperado.
37:57E a gente só fazia
37:57a chamada safra de verão.
38:00Começa a plantar
38:01nas primeiras chuvas
38:01de setembro, outubro,
38:04terminou com a olheia
38:04e ia para casa.
38:06Não tinha mais o que fazer.
38:08Eu vou falar
38:09da primeira grande evolução.
38:11Aparece um louco,
38:12depois que ele morreu,
38:13virou visionário,
38:14em Rolândia,
38:16no Paraná,
38:17um cidadão,
38:18filho de alemães,
38:19que nasceu no Brasil,
38:22foi embora para a Alemanha
38:24com um ano de idade,
38:25com os pais,
38:26voltaram para a Alemanha
38:27por alguma razão.
38:29Foi alfabetizado na Alemanha,
38:31estudou na Alemanha,
38:33tinha dificuldade para falar português,
38:34mas tinha passaporte brasileiro.
38:35E por conta disso,
38:37a família pode voltar,
38:39porque tinha um membro da família
38:40que ia passar português brasileiro,
38:42fugindo novamente de guerra.
38:45Voltou para o Brasil,
38:47casa-se com uma catarinense,
38:49também filha de alemães,
38:52que era da colônia deles,
38:53a família,
38:54e muda-se para a Rolândia,
38:56no Paraná,
38:56Herbert Bates.
38:57E ele começa
39:00a fazer o plantio direto.
39:02Porque nós fazemos
39:03agricultura como?
39:05Arando e gradeando o solo,
39:07revolvendo o solo.
39:09Num país de clima tropical,
39:11é complexo,
39:12você perde umidade,
39:14você perde fertilidade do solo,
39:16mata micro-organismos,
39:17nós temos um solo
39:18para cada um aqui,
39:19diferentemente de Europa.
39:21Esse homem resolve
39:22fazer plantio direto
39:24sobre a palha,
39:25a palha que é
39:25o resto da colheita anterior.
39:28Em vez de ele arar e gradear,
39:30ele passava uma plantadeira
39:32que não existia no Brasil
39:33e nem em lugar nenhum do mundo,
39:36uma plantadeira
39:36que cortasse o solo
39:38para fazer plantio direto.
39:39Quer dizer,
39:40a deposição da semente,
39:41a deposição do adubo,
39:43na mesma linha,
39:44sem revolver o solo.
39:46Ele era mesmo louco.
39:48Mas é uma loucura
39:49que deu certo.
39:50O Brasil hoje tem
39:5140 milhões de hectares
39:53em plantio direto.
39:55Então,
39:55o louco que virou visionário
39:57depois da sua morte,
39:58o Brasil deve muito a ele.
40:00Aí,
40:01entra Embrapa,
40:02nasce Embrapa
40:03e a gente não diz isso
40:06por arrogância
40:07de ser paulista,
40:08porque o nosso
40:09Instituto Agronômico
40:10é o primeiro
40:10Instituto de Pesquisas Agrárias
40:12da América Latina.
40:14Foi fundado por Dom Pedro
40:15137 anos atrás.
40:18Foi de uma enorme
40:18contribuição para o país,
40:21com as variedades.
40:22tudo o que o Instituto Agronômico
40:25fez,
40:25a produção de cientistas
40:26voltados para a época.
40:29E o Brasil
40:29nasce a Embrapa
40:31por um governo
40:32e surge a Embrapa,
40:35é desenhada,
40:35estruturada,
40:37manda-se mais de mil homens
40:38para fora,
40:39já na gestão
40:41do Alisson Paulinelli,
40:43que não foi ele
40:43que criou a Embrapa.
40:45A Embrapa foi criada
40:46no papel
40:47por Luiz Fernando Cirne Lima,
40:49que foi o ministro
40:50que o antecedeu.
40:52Criou no papel
40:52e, por alguma razão,
40:54saiu do ministério.
40:55Alisson Paulinelli
40:56chega,
40:57acha aquele negócio
40:59estruturado,
41:00mas que fisicamente
41:01não existia,
41:03coloca para o presidente
41:04da época
41:04a necessidade
41:05de mandar homens
41:07para o exterior,
41:08porque nessa época
41:09o Brasil não tinha
41:10nenhum doutor
41:11em ciências agrárias.
41:12Não tinha muito
41:13engenheiro agrônomo,
41:14doutor em ciências agrárias
41:15ninguém.
41:16E aí nasce a Embrapa,
41:18que foram aprender
41:20em países
41:20de clima temperado,
41:22mas com o propósito
41:23de adequar
41:24as nossas culturas
41:25ao nosso clima,
41:27que é um país
41:28de clima tropical.
41:29Surge a Embrapa
41:30e avança
41:31a pesquisa
41:32dando suporte,
41:34pesquisa,
41:35ciência,
41:36dando suporte
41:37a essas loucuras
41:38que era plantar
41:39sobre palha,
41:40deixando o preparo
41:42tradicional do solo.
41:44Muito bem,
41:45foi o primeiro
41:46grande salto
41:47da agricultura brasileira
41:48e por conta disso
41:49nós podemos dominar
41:50serrados,
41:52solos arenosos,
41:54pobres,
41:54empobrecidos,
41:56pela natureza.
41:57O homem não degradou
41:58aquilo,
41:59isso é degradado
42:00há milênios.
42:03Uma semente
42:03que cai num solo
42:05descoberto
42:06no serrado brasileiro,
42:08ela vai ganhar
42:0860 graus de temperatura
42:10no solo.
42:12Então,
42:13semente não germina,
42:14cozinha.
42:15com um plantio
42:18direto,
42:18com cobertura
42:19de palha,
42:19que é espetacular,
42:21é fundamental
42:22para uma agricultura
42:23nossa,
42:24a temperatura
42:25cai para 26 graus.
42:27Semente germina,
42:28preserva a umidade
42:29de solo
42:29e vai
42:30reconstituindo
42:32esse solo
42:32para ter matéria
42:33orgânica.
42:34Então,
42:35aí
42:35vem a segunda safra,
42:37que só se tornou
42:38possível
42:39porque tinha
42:40a cobertura
42:41de solo.
42:42Então,
42:42primeiro grande salto,
42:43plantio direto.
42:45Segundo grande salto,
42:47segunda safra,
42:48que alguns
42:49ainda mais desavisados
42:51chamam de safrinha.
42:53Safrinha não existe mais
42:54há muito tempo.
42:55Cada três sacas de milho
42:56que se produz no Brasil,
42:58duas é de segunda safra.
43:00Todo algodão
43:01que o Brasil produz,
43:02que esse ano
43:02é o primeiro produtor
43:03exportador do planeta,
43:05é de segunda safra.
43:07Todo o nosso algodão.
43:08você certamente
43:10está vestindo
43:11uma camisa
43:12de algodão.
43:13Pode até chamar
43:14de egípcio,
43:14você só pagou mais caro.
43:16Porque o nosso
43:17é igual,
43:18fibra longa,
43:19produzido no centro-oeste,
43:20onde não pode chover.
43:22Quando chove,
43:23o algodão
43:23perde o tipo.
43:25Cultura de ciclo longo,
43:27tudo de segunda safra.
43:29Então,
43:29foi o segundo
43:31grande salto
43:31do Brasil.
43:33Aí vem o terceiro salto,
43:34que são os sistemas
43:37integrados de produção
43:38que nós chamamos
43:40de integração
43:41lavoura-pecuária
43:42e integração
43:42lavoura-pecuária-floresta.
43:45De novo,
43:47uma sobreposição
43:48ao plantio direto,
43:50que é o ILPF, né?
43:51ILPF.
43:52Se sobrepõe
43:53a integração
43:56lavoura-pecuária
43:57e floresta,
43:58tem muita gente
43:59que não põe a floresta,
44:01mas muita gente
44:02faz ILP,
44:03outras fazem ILP,
44:04que eu julgo
44:05o mais completo
44:06e o mais,
44:07vamos dizer,
44:09o mais amigável
44:10com o meio ambiente.
44:12Se você cria gado,
44:13você precisa ter sombra.
44:15O gado precisa
44:15do conforto,
44:16chama de conforto animal,
44:17mas na verdade
44:18é um conforto térmico.
44:19Tem o momento
44:20da sombra
44:21para o gado.
44:22O gado gosta disso,
44:23mas precisa disso.
44:25Então,
44:25aí começa
44:26uma pesquisa
44:28da Embrapa
44:28e como esse
44:30programa da Embrapa,
44:32que era um projeto,
44:33deve ter milhares
44:34de bons projetos
44:35em gavetas
44:36de pesquisadores
44:38dos nossos institutos
44:39de São Paulo,
44:40dos institutos privados,
44:41dos institutos públicos
44:42do país inteiro,
44:44mas esse era da Embrapa,
44:45arroz e feijão
44:46lá de Goiânia.
44:48Esse é tirado
44:49do papel,
44:50levamos por uma
44:51propriedade em Goiás,
44:53aí já entra
44:54a iniciativa privada,
44:55fazendo uma parceria
44:56público-privada.
44:58Uma propriedade
45:00particular,
45:01fizemos um experimento
45:02com 100 hectares.
45:04Deu certo.
45:06Na mesma área,
45:07a gente produz
45:08soja,
45:09milho,
45:11capim
45:11e eucalipto.
45:13Na mesma área,
45:15no mesmo hectare.
45:16Eucalipto,
45:17como é
45:17uma cultura
45:19semi-perene,
45:20você pode abater
45:21com seis anos,
45:22sete anos,
45:22se você tiver mercado.
45:23se você quiser
45:24para móveis,
45:25vai demorar um pouco mais,
45:27mas é uma decisão
45:28do produtor,
45:28é uma poupança
45:29que ele tem lá,
45:30que ele tira
45:30a hora que quer
45:31e se quiser.
45:32Então,
45:32mantém.
45:33Porque o eucalipto
45:34deve dar três cortes,
45:35então você poderia fazer
45:37três ciclos
45:38de sete anos,
45:39leva 20 anos.
45:41Então,
45:41fizemos uma parceria
45:44público-privada,
45:45somos oito
45:46empresas
45:47privadas
45:48que acreditam
45:50no sistema
45:50que isso pode mudar
45:51o Brasil,
45:52pode melhorar
45:53a vida das pessoas,
45:54mudar o IDH
45:56de onde ela está
45:57instalando,
45:59a Embrapa
46:00sempre nos dando
46:01suporte técnico,
46:02científico,
46:03e a gente
46:04bancando despesas
46:06eventualmente
46:06para pesquisador,
46:07para viagens,
46:08para dia de campo,
46:09difusão do sistema.
46:12Hoje,
46:13contabilizado
46:14e medido pela Embrapa,
46:15nós chegamos
46:15a 17 milhões
46:17e 500 mil hectares.
46:19De área
46:20que está inserida
46:21na ILP.
46:21Inserido em ILP,
46:23ou ILP-F.
46:25Muitos têm o F,
46:26muitos não têm.
46:28Por opção,
46:29por uma razão
46:31ou por outra,
46:32não tem consumo
46:33para madeira,
46:34não tem destinação,
46:35ele não planta.
46:36Nós gostaríamos
46:37que plantasse,
46:38mas não planta.
46:39A vantagem qual é,
46:40exatamente?
46:41A vantagem é
46:42produzir o ano inteiro,
46:43fazer uma agricultura
46:44sem parar.
46:45Fixação do homem
46:46no campo,
46:47que é um fato
46:48bem tecnificado,
46:51que todas as máquinas
46:52já eram dados,
46:54que viram informações,
46:55que viram mapas agronômicos,
46:57e nós,
46:58o sistema,
46:59nós,
47:00porque eu estou aqui,
47:00amanhã tem outro,
47:01já teve outro no passado,
47:04o benefício grande
47:05é que nós
47:06tomamos
47:07pastagens degradadas
47:09pela natureza
47:11ou pelo mau uso
47:12em terras produtivas.
47:16Com uma vantagem
47:18gigantesca
47:19que em algum momento
47:20vai monetizar,
47:21é o sequestro de carbono,
47:23que a palhada
47:25no solo
47:25já sequestra carbono,
47:27eucalipto
47:27sequestra carbono,
47:29mas a forrageira,
47:30que são os capins
47:31que nós plantamos ali,
47:32ela percura
47:334, 5, 8,
47:3510 metros de profundidade,
47:36e nessa profundidade
47:37ninguém mexe,
47:39então o carbono
47:39está ali preso.
47:41Nós já temos regiões
47:42com carne
47:42e carbono neutro,
47:44então isso é espetacular
47:45para o Brasil.
47:47Agora,
47:47Rodrigo,
47:48o mais importante
47:49que o agricultor
47:51cresce,
47:53melhora de vida,
47:54gera emprego,
47:55gera renda,
47:57ele tem
47:573,
47:594,
48:005 safras
48:01na mesma área
48:03em um ano.
48:05Isso é tão importante
48:06para o país,
48:06tão importante
48:07na mudança
48:08do IDH
48:09de uma região,
48:10nós temos regiões
48:11inteiras,
48:12que estão mudando
48:13o IDH,
48:14noroeste do Paraná,
48:15solo predominantemente
48:16pobre,
48:17diferente do
48:18lado de cá,
48:20norte,
48:21norte velho,
48:22oeste do Paraná,
48:23que são terras
48:23maravilhosas,
48:2560,
48:2670% de argila,
48:27tem um pedaço
48:28só de 3 milhões
48:29e 200 mil hectares,
48:30que é solo arenoso
48:32degradado,
48:33solo muito leve,
48:34mas de quebra,
48:36nós temos também
48:36a consciência
48:37do produtor,
48:39com preservação
48:40de nascentes,
48:41com mata ciliar,
48:44que o objetivo
48:45da rede
48:46ILPF
48:46é a certificação
48:48da propriedade
48:50e não da produção.
48:51tem muita gente
48:53aí fazendo
48:53certificação
48:54do produto,
48:55mas e o rio
48:56como está?
48:57As nascentes
48:58como estão?
48:59Então,
49:00isso é muito
49:01mais amplo
49:02do que simplesmente
49:03um sistema
49:04de plantio,
49:05é sequestro de carbono,
49:06é preservação
49:07do meio ambiente,
49:08com isso a gente consegue
49:09provar para o Brasil
49:11que nós podemos
49:12produzir
49:13e preservar,
49:14esse sistema
49:14faz isso.
49:15E é sempre
49:16uma coisa
49:17que ficou
49:18muito clara,
49:19até nessa minha
49:20visita
49:21à AgriShow,
49:22é o quanto
49:23a gente é avançado
49:24tecnicológicamente,
49:27tecnologicamente,
49:28olha aí,
49:29o quanto que a gente
49:30é avançado
49:30tecnologicamente
49:31no agro,
49:34como hoje
49:35você tem robôs,
49:36você tem
49:36inteligência artificial,
49:38drones,
49:39é um negócio
49:40que a gente
49:41que não conhece,
49:41eu que sou
49:42aquela pessoa
49:43que acha
49:43que o leite
49:44vem da caixinha,
49:45que descobriu
49:45outro dia
49:46que o leite
49:46não vem da caixinha,
49:48vem da vaca
49:49se tiver comida,
49:50né?
49:50Pois é,
49:53vem o
49:54o tanto
49:58que a gente
49:59evoluiu
50:00e o quanto
50:00a gente evoluiu,
50:01eu vi uma entrevista
50:01do senhor
50:02que o senhor citava
50:03um,
50:05e eu acho
50:05que é um,
50:06é um,
50:07é uma visão
50:08muito,
50:09muito clara
50:10do que é
50:10o avanço
50:10tecnológico
50:11do campo,
50:13que é uma,
50:15uma moça
50:16numa colheitadeira
50:17de soja
50:18com um bebê
50:19com foto
50:20dentro da cabine,
50:21e aí eu obviamente
50:22não sabia disso,
50:23o senhor comenta
50:24que colher soja
50:26não é um negócio
50:27amigável, né,
50:29para o ser humano,
50:30que tem,
50:31tem, tem,
50:32tem um pozinho
50:34que sai da soja,
50:34não é isso?
50:35Então,
50:35talvez eu explique
50:36o que era
50:37num passado
50:38muito recente,
50:39as colhedoras
50:41não tinham
50:41sequer cabine,
50:43então o operador
50:44tinha que se paramentar
50:46todinho,
50:48cobrir a cabeça,
50:49deixar só
50:50os olhos
50:51de fora,
50:51não,
50:52protegido por óculos,
50:54porque a,
50:54a poeira
50:56que levanta
50:56da colheita
50:57de soja,
50:58você poderia
50:59chamar de
51:00um pó de mico,
51:02a coceira
51:02no corpo todo,
51:04então a evolução
51:05trouxe o que?
51:06é uma cabine
51:06pressurizada,
51:09climatizada,
51:11com som,
51:12internet a bordo,
51:14muito bem,
51:15pressão positiva
51:16na cabine,
51:17o que quer dizer
51:18o que exatamente?
51:18Quer dizer que
51:19quando você abre
51:20a porta,
51:21você pode comparar
51:21com o centro cirúrgico,
51:23a pressão positiva
51:24joga a sujeira
51:25para fora,
51:26se ela fosse
51:27uma pressão
51:28negativa,
51:29como ia ser o cara
51:29no ar condicionado,
51:31ele vai puxar
51:32a sujeira para dentro,
51:33e naquele caso,
51:34então uma moça
51:35pode operar
51:36uma colhedora
51:36e certamente
51:38essa mãe
51:38deveria estar
51:39amamentando
51:40esse bebê,
51:41como ela tem
51:42piloto automático
51:43e tudo,
51:44pode ser que a máquina
51:45estivesse em operação
51:46em algum momento
51:46e ela é amamentando
51:47seu filho,
51:48então hoje é possível
51:49isso,
51:50não é bem hoje,
51:51já é possível
51:52há algum tempo,
51:53mas isso é evolução
51:54que vem demandas
51:56do campo
51:57que vão
51:57demandando
51:59mais conforto
52:00para o operador,
52:01a gente brinca
52:02que as máquinas
52:03de hoje,
52:03os tratores,
52:04você pode operar
52:05de paletói e gravata,
52:06camisa branca,
52:08então é uma evolução
52:09que melhora as condições
52:12de trabalho
52:13do operador,
52:14que é sempre um trabalho
52:15mais difícil,
52:15e também isso
52:18é por uma razão,
52:20país inteiro,
52:21nós temos 85%
52:22da população
52:23que é urbana hoje,
52:25no estado de São Paulo
52:2795%
52:28da população
52:28é urbana,
52:30então quem está
52:31no campo
52:31é uma parcela
52:33pequena
52:33da população
52:34que tem que produzir
52:36para uma população
52:37cada dia
52:37mais crescente,
52:39agora,
52:40qual é o nosso desafio?
52:43Baratear
52:44essas tecnologias
52:45para que cheguem
52:46também
52:46nas pequenas
52:47propriedades,
52:49porque quando
52:50você fala
52:50de agro,
52:51você não pode
52:52falar só
52:53do grande
52:54produtor,
52:55que ele é mais
52:55visível,
52:56tem mais visibilidade
52:58no mundo,
52:59mas você pega
53:00São Paulo,
53:01nós temos
53:01406 mil
53:03propriedades,
53:04se você fizer
53:05uma linha
53:05de corte
53:07em 20 hectares,
53:08você
53:09pega 200 mil
53:11até 20 hectares,
53:13até 20
53:14significa que tem
53:15propriedade
53:15de 2,
53:16de 3 hectares,
53:17se você levar
53:18esse corte
53:19para 30 hectares,
53:20você chega
53:20perto de 300 mil
53:22propriedades,
53:23e no universo
53:24de 406 mil,
53:27então o exemplo
53:28para o restante
53:29do país
53:29não é diferente,
53:31tem grandes
53:31produtores,
53:32médios e pequenas
53:33propriedades,
53:34então o desafio
53:36é chegar
53:36essa tecnologia
53:37também
53:38nas pequenas
53:39propriedades.
53:40Mas barato
53:41porque hoje
53:41é milhões,
53:42um trator desse.
53:43É,
53:44mas a pequena
53:45propriedade
53:45não precisa
53:46de um trator
53:46de milhões,
53:47é trazer
53:48essa tecnologia
53:49que já está
53:50nos tratores
53:51de baixa
53:52cavalagem,
53:5285,
53:53105 cavalo,
53:55eles já têm
53:56a mesma tecnologia,
53:57eles têm
53:58piloto automático,
53:59eles têm
53:59cabine climatizada,
54:00pressurizada,
54:02têm piloto automático,
54:03tem tudo,
54:04num trator
54:04de pequena
54:05cavalagem,
54:06porque quem
54:07precisa de um
54:08trator de 500 HP?
54:09É quem tem
54:09uma propriedade
54:10grande,
54:11muito grande,
54:12a janela
54:13de plantio
54:13é sempre curta,
54:14tem que ter
54:15máquina
54:15para produzir,
54:17e a pequena
54:17propriedade,
54:18ele acaba
54:18o plantio
54:19dele no mesmo
54:20tempo que o grande,
54:21mas tem menos
54:21máquina
54:22e de menos potência,
54:23então esse
54:24é o grande desafio.
54:25E um outro
54:26desafio brutal
54:27no Brasil
54:27é a armazenagem.
54:29A produção
54:31e a produtividade
54:32cresceram muito
54:34e nós não temos
54:35infraestrutura
54:36de armazenagem.
54:37Não acompanhou.
54:38Não acompanhou,
54:39nós temos
54:40nada exato
54:42para você.
54:43O déficit
54:43de armazenagem
54:44hoje no Brasil
54:44é 124 milhões
54:46de toneladas.
54:48Para quem
54:48produz 300,
54:49300 e poucos milhões,
54:51nós temos
54:51um terço
54:52de deficiência
54:52que nós temos
54:54que pagar
54:55a pressão
54:55de frete
54:56no momento
54:56da colheita,
54:58vender
54:58no momento
54:59da colheita,
55:00está tirando
55:00a colhedora,
55:02está jogando
55:02numa carroceria
55:03de caminhão.
55:04Talvez eu te dê
55:05um dado
55:05tão importante,
55:07o Brasil armazena
55:07a nível
55:08de fazenda
55:0915%
55:10de uma safra
55:11de 300 milhões
55:12de toneladas.
55:13Estados Unidos
55:14armazena
55:15a nível
55:16de fazenda
55:1665%
55:18de uma safra
55:19de 600 milhões
55:20de toneladas,
55:22sendo quase
55:22400 só de milho.
55:24Então nós temos
55:25um déficit
55:25de armazenagem
55:26muito grande,
55:26embora tenha
55:27indústria instalada,
55:29capacitada para isso,
55:31mas são investimentos
55:32grandes e de longo prazo.
55:34O payback
55:35dele é muito mais curto,
55:36quer dizer,
55:36o retorno
55:37do capital
55:37é muito mais longo,
55:39então não dá
55:40para fazer
55:40esse investimento
55:41em todo mundo.
55:42O senhor acha
55:42que essa é a próxima
55:43grande virada
55:44do agro?
55:45Eu acho
55:45que tem que ser sim,
55:48com políticas públicas
55:49adequadas,
55:49ninguém está falando
55:50de subsídio não,
55:51nós estamos falando
55:52de política pública
55:53adequada.
55:53O que seria o quê?
55:54Um juro,
55:55administrado.
55:57Ninguém está dizendo
55:58que quer subsídio.
56:00Quando uma pessoa fala
56:01que o agro tem subsídio,
56:02faz a conta que não tem.
56:04Não tem.
56:04É baixo,
56:06mas nós precisamos
56:07de previsibilidade.
56:09Isso que a política pública
56:10oferece ao produtor.
56:11se você pega
56:13os grandes produtores,
56:14tem até linha em dólar
56:15e ele pode pegar.
56:17Ah,
56:17mas pode ter
56:18uma variação cambial,
56:19não tem problema
56:19para ele,
56:20porque ele trava,
56:21ele faz um hedge,
56:23trava lá fora.
56:24Então,
56:25ele compra em dólar,
56:27vai vender em dólar,
56:27travou em dólar,
56:28para ele não tem problema.
56:30As pequenas propriedades
56:32não têm esse mecanismo,
56:34mas entram as cooperativas
56:35que fazem esse mecanismo.
56:37Então,
56:37tem muitas linhas,
56:38mas tem que ter
56:40a previsibilidade.
56:41Aí há investimentos.
56:43Bom, Francisco,
56:43antes da gente terminar,
56:45eu só queria
56:45que você quiser deixar
56:46mais um último recado
56:48aqui para o pessoal.
56:50Por favor,
56:50fique à vontade.
56:51Talvez eu queira dizer
56:52que a nossa agricultura
56:54que vai muito bem,
56:56graças a Deus,
56:57apesar que é uma indústria
56:58e é céu aberto,
57:00mas um dado tão importante,
57:02esse exemplo.
57:03O agricultor europeu,
57:05em média,
57:05tem 62 anos,
57:07que não é muito.
57:08O agricultor norte-americano
57:10tem, em média,
57:1158 anos.
57:13O agricultor brasileiro
57:14tem 45 anos.
57:16Aquela chamada
57:17nova fronteira
57:18do Mato Piba,
57:19que é Maranhão,
57:20Tocantins,
57:21Piauí e Bahia,
57:22a Bahia que é mais
57:23oeste da Bahia,
57:25o agricultor médio
57:27tem 34 anos.
57:29Então,
57:29esse pessoal mais jovem
57:30é muito mais afeito
57:31às novas tecnologias.
57:33São menos resistentes,
57:35mais amigáveis
57:35às novas tecnologias.
57:37estão indo buscar
57:39o plus
57:39que eles podem tirar
57:40da produção,
57:42da produtividade,
57:43do melhoramento genético.
57:45Essa gente
57:46vai fazer
57:47a agricultura
57:47daqui para frente.
57:49São eles
57:49que estão fazendo.
57:50É quase triste dizer,
57:52mas a pandemia
57:53contribuiu com isso.
57:55Que muitos filhos
57:56estavam na cidade
57:57e durante a pandemia
57:58nada aconteceu.
57:59Eles voltaram
58:00para a casa
58:00de seus pais,
58:01mas já com conhecimento.
58:02muitos voltaram,
58:04concluíram seus cursos
58:05e voltaram
58:06para o negócio
58:07da família.
58:09E ali levou junto
58:10mais conhecimento,
58:11mais tecnologia.
58:13E esse é o Brasil
58:13que são esses jovens
58:15que vão levar
58:16a agricultura
58:17brasileira
58:18em um patamar
58:18ainda mais alto.
58:19Aí, Francisco,
58:20muitíssimo obrigado
58:21mais uma vez.
58:22Sei que eu chamei
58:23você de senhor
58:25durante boa parte
58:27da entrevista.
58:28Força do hábito.
58:29E também uma deferência
58:31a toda a sua história
58:33no agronegócio.
58:34Bom, eu queria agradecer
58:35você também
58:35que acompanhou a gente
58:36até agora.
58:37Não se esqueça,
58:38o Salão Antagonista
58:39vai ao ar toda segunda-feira
58:40às 20 horas
58:41com um episódio novo
58:42e histórias tão interessantes
58:43quanto a do Francisco
58:44e aulas.
58:45Eu costumo dizer aqui
58:46que toda entrevista
58:48que a gente faz aqui
58:48eu recebo,
58:49pelo menos eu,
58:50recebo uma aula
58:52sobre algum assunto
58:53e dessa vez
58:54foi essa aula
58:55sobre agronegócio,
58:56o passado,
58:57o presente
58:57e o futuro
58:58do agronegócio.
58:59Então, muito obrigado
59:00a vocês que acompanham a gente,
59:01muito obrigado Francisco
59:02e até a próxima
59:03no nosso Salão Antagonista.