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Centenas de milhares de argentinos foram às ruas de Buenos Aires nesta terça-feira em uma marcha antigoverno e contra cortes orçamentários em universidades públicas, no maior protesto até agora relacionado às medidas de austeridade do presidente Javier Milei.
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Transcrição
00:00Antes de perguntar justamente dos protestos que o Milley está sofrendo ontem,
00:05teve um grande aí, eu queria saber uma coisa.
00:08Aquele mito de que Buenos Aires, para brasileiro, é barato,
00:12ainda se aplica na realidade atual ou já agora está zero a zero?
00:18Não se aplica tanto quanto se aplicava antes,
00:21por conta de um tema muito complexo a política econômica da Argentina
00:25e que o Milley tem tentado desmaquiar porque sofria intervencionismo de décadas de má gestão.
00:33E atualmente o que acontece, de uma maneira bem resumida, sem avançar muito no tema,
00:38os preços continuam subindo, a inflação ainda continua, embora esteja desacelerando,
00:42só que o governo tem contido a desvalorização do peso.
00:45Ou seja, os preços aumentam, só que o real não acompanha, não se fortalece tanto.
00:51E ainda mais considerando que o real e vocês que são do mercado financeiro,
00:56que acompanham bem o noticiário, sabem, o real tem desvalorizado,
01:00por conta das políticas do governo Lula.
01:03Então, se o real desvaloriza com relação ao dólar e o peso não desvaloriza tanto
01:07quanto desvaloriza o preço das coisas aqui,
01:09é a pior combinação possível para nós que recebemos em real.
01:13Muito bem, pois é.
01:14Então, este ano não teremos Disney,
01:17então, pelo visto, também não teremos Buenos Aires para os brasileiros.
01:20Mas agora vamos falar sobre justamente esses protestos
01:24que o Millet está sofrendo,
01:26porque está acabando com muitos dos benefícios,
01:29está mandando muita gente embora,
01:31o funcionalismo público, sobretudo,
01:33e tudo isso sem, longe de ter,
01:36aliás, sem nenhuma maioria no Congresso.
01:38Então, ele faz tudo na base do tranco e do solavanco,
01:42e a popularidade dele está caindo mesmo,
01:45ou são os mesmos movimentos de oposição
01:47que estão se arregimentando para fazer esses protestos.
01:52Então, Inácio, o protesto de ontem, da terça-feira, 23,
01:56foi o maior desde o começo da gestão do Javier Millet.
02:00Segundo a polícia da cidade de Buenos Aires,
02:03mais de 150 mil pessoas participaram desse protesto.
02:07Nós fizemos gravações em vídeo e imagens,
02:10nós publicamos nas redes sociais do Antagonista,
02:13e em uma reportagem para a Cruz Oé.
02:16O que acontece é que, por exemplo,
02:19foram mais de 150 mil pessoas,
02:22segundo as fontes da polícia,
02:23mas a imprensa argentina, por exemplo,
02:25o jornal La Nación,
02:27que não é muito associado à esquerda
02:30ou a movimentos universitários
02:31ou movimentos sindicais,
02:33fala que pode ter sido até mais de 400 mil pessoas.
02:38Eu não me surpreenderia se tivesse mais de 200 mil, 300 mil.
02:42Para parâmetro de comparação,
02:44a maior manifestação na gestão Millet até então
02:47tinha sido a mobilização convocada
02:50pela Confederação-Geral do Trabalho,
02:52que é a maior central sindical da Argentina,
02:54é equivalente à CUT no Brasil.
02:56Essa mobilização ocorreu no final de janeiro
02:59e mobilizou, segundo fontes oficiais,
03:01100 mil pessoas.
03:02Eles tinham lotado só à frente do Congresso da Nação,
03:06enquanto que a manifestação de terça começou
03:09em vários pontos diferentes,
03:11porque juntaram vários grupos de universidades distintas
03:15e até mesmo alguns sindicalistas
03:17que tentaram se apropriar da pauta,
03:20mas se mobilizou até o Congresso,
03:22encheu o Congresso,
03:23depois encheu a frente da Casa Rosada
03:25e, para quem não conhece Buenos Aires,
03:27a Praça do Congresso,
03:29onde fica o Congresso da Nação,
03:31e a Praça de Maio,
03:33que é onde fica a Casa Rosada,
03:34são separadas pela Avenida de Maio.
03:36A Avenida de Maio vai de uma praça à outra
03:39e essa avenida também ficou completamente lotada.
03:44Então, foi uma mobilização bem significante mesmo.
03:48E tem algumas características também diferentes
03:50das outras mobilizações que vimos no governo Milley,
03:52porque as outras mobilizações que já tivemos
03:54na gestão Milley
03:55foram concentradas no sindicalismo,
03:59foram lideradas pelo sindicalismo,
04:00e o sindicalismo tem um certo desgaste
04:02na sociedade argentina
04:03por sua associação muito forte com o peronismo
04:07e com algumas políticas de benefícios sociais
04:11que ligam ao poder,
04:13corrupção, vários motivos,
04:16diminuem um pouco,
04:19comprometem um pouco a imagem do sindicalismo
04:20na Argentina.
04:21E a mobilização desta terça
04:23foi convocada e foi liderada
04:25pela comunidade universitária,
04:27pelos estudantes, professores e funcionários
04:30das universidades públicas
04:32que reclamam cortes de verbas
04:34nas universidades públicas.
04:36No primeiro trimestre de 2024,
04:38as universidades públicas, em sua maioria,
04:40tiveram cortes de 30%, 40%.
04:43A maior universidade da Argentina,
04:45a Universidade de Buenos Aires, a UBA,
04:47diz que teve um corte de 32,5%
04:51e diz que pode ter que fechar as portas
04:55daqui a dois meses
04:56se não tiver recomposição do seu orçamento.
05:02A situação até já está tramitando.
05:04Hoje, quarta-feira, dia 24,
05:06tem uma sessão de emergência
05:08no Congresso da Nação
05:09para tentar solucionar este problema.
05:13A questão universitária pesa muito na Argentina
05:16e atrai diversos grupos.
05:18O Milley, logo depois que dissipou
05:21a manifestação de ontem, da terça,
05:24lá pela noite,
05:26o Milley publicou nas redes sociais
05:28uma imagem de um leão,
05:30que é o símbolo dele e dos libertários,
05:33bebendo uma xícara que dizia
05:35lágrimas de esquerdistas.
05:37Nós podemos até falar que...
05:40Pode-se até dizer que na comunidade universitária
05:43tem principalmente gente de esquerda,
05:45mas é uma visão meio rasa
05:48porque não é um grupo uniforme.
05:51Tem muitos movimentos
05:52que podem ser considerados,
05:54que sem dúvida são mais à esquerda
05:56do que para um libertário,
05:58mas são importantes para o governo
05:59como o radicalismo,
06:01que apesar do nome não é tão radical,
06:02seria mais equivalente ao MDB no Brasil,
06:05e ao peronismo não-kirchinerista,
06:07que é um peronismo crítico,
06:09do peronismo que a gente está acostumado
06:11a falar na imprensa internacional,
06:12que é mais o kirchinerismo,
06:14que ataca instituições
06:17e vela por um Estado muito grande.
06:19E esses grupos compõem
06:20a chamada oposição dialoguista no Congresso,
06:23que é a oposição com quem o governo
06:25precisa negociar,
06:26é que dá chance para o governo negociar
06:28e tentar avançar com as suas reformas.
06:30A questão educacional na Argentina
06:32também toca a classe média,
06:33que é um segmento muito importante
06:35da sociedade argentina,
06:38e que não é tão sensibilizado
06:39pelas questões sindicais,
06:40mas na questão educacional
06:42é, e isso pode afetar um pouco
06:44a imagem do Milley.
06:45Segundo as pesquisas,
06:46ele ainda tem apoio
06:47da maioria da população,
06:50mas se ele começa a se desentender
06:52com esses grupos mais diversos,
06:55essa situação pode acabar se revertendo.
06:56Inácio?
06:57De fato, de fato,
06:59porque como ele não tem maioria,
07:01nem o partido dele tem maioria no Congresso,
07:03ele precisa necessariamente negociar
07:05com o centro,
07:07não confundir com o centrão do Brasil,
07:09mas com as pessoas mais de centro,
07:11com um pensamento que não seja peronista,
07:14que vai ser contra,
07:15pelo princípio de ser contra um governo,
07:18que não o do seu partido,
07:20e justamente esse tipo de atitude,
07:23talvez beligerante,
07:24talvez afrontosa com esses núcleos
07:28que não são alinhados necessariamente
07:30à oposição,
07:31pode, ao contrário do efeito que ele imagina,
07:34empurrá-los para a oposição
07:35e dificultar que mais projetos importantes
07:38para o governo dele passe, né?
07:40Mas isso você, eu,
07:42quem está assistindo também sabe,
07:43e vamos acompanhar.
07:45É esperado algum novo movimento importante
07:48do ponto de vista do governo Milley
07:50pelos próximos tempos?
07:52Algum projeto que está na gaveta,
07:53ser votado ou ser proposto no Congresso?
07:56Ou, por enquanto,
07:57tudo continua como está?
08:00Não, então, na verdade,
08:01tem um projeto que já está tramitando,
08:03que é o novo pacotão de reformas Omnibus.
08:07O Omnibus, em português,
08:09seria traduzido para ônibus,
08:11e é um pacotão de reformas
08:12que é muito tradicional,
08:13não é uma invenção do Milley,
08:14é algo tradicional na política argentina,
08:16sempre que começa um novo governo,
08:17ele envia um pacotão de reformas,
08:19ou mais de um,
08:20ao Congresso,
08:21para tentar engatar a sua agenda.
08:25O Milley já tinha apresentado
08:27um pacotão de reformas Omnibus
08:29em janeiro,
08:31e o projeto acabou caindo
08:33por conta da falta de articulação
08:35do governo no começo de fevereiro.
08:37Esse projeto voltou para a fase de comissões,
08:40que nem tinha passado pelo plenário
08:42da Câmara dos Deputados,
08:43que é a primeira votação mais importante.
08:46Voltou para a fase de comissões,
08:47que é o início do trâmite.
08:49O Milley reescreveu o texto,
08:51e com agora mais articulação política,
08:53principalmente da parte com os governadores,
08:56que jogam um papel muito importante
08:58na política argentina.
08:59E ele reapresentou esse projeto
09:02agora em abril.
09:03O projeto deve ser votado,
09:05a expectativa do governo
09:06é que se passe o texto
09:08na fase de comissões ainda nesta semana,
09:11e na próxima já se vote no plenário da Câmara.
09:15O governo precisa avançar
09:16com esse pacote de reformas,
09:18porque pela própria agenda do governo,
09:21para poder avançar com o que em maio
09:24o governo espera ser o pacto,
09:28que ele chama Pacto de Maio,
09:30por conta do período em que ele pode vir
09:32a ser firmado,
09:34com os governadores,
09:35que seria um pacto
09:36para reformar várias questões estruturais
09:40da política argentina
09:42e do federalismo argentino,
09:44da relação entre as províncias
09:46e o governo.
09:47E isso é muito importante
09:48para o Milley poder avançar
09:50com as suas reformas,
09:51porque a forma que ele tem conseguido
09:53sustentar a sua política econômica
09:56de responsabilidade fiscal
09:59não é sustentável
10:00sem reformas de longo prazo
10:01que precisam passar pelo Congresso.
10:03Inácio.
10:03Inácio.

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