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NotíciasTranscrição
00:00Bom, então, saindo da área militar para a área que realmente mais importa para a União Europeia, que é a economia, qual a perspectiva de que ainda tenhamos o acordo entre a União Europeia e Mercosul?
00:12Olha, essa pergunta aí está difícil. Esse acordo, ele é uma grande incógnita, na verdade, né? Se a gente for fazer um histórico, ele começou a ser negociado lá em 99, 2000 mais oficialmente, teve um hiato nesse período, mas a gente teve uma assinatura do texto da parte comercial em 19, em junho de 19,
00:40então quer dizer, vai se fazer cinco anos agora em junho, e essa parte comercial que esse texto foi concluído, que era o mais controverso, e a gente já deveria estar no processo de ratificação.
00:51Como temos acompanhado, tanto do lado do Mercosul, mas sobretudo por parte da União Europeia, há muito balde de água fria sendo jogado nesse acordo por grupos mais variados e que, muito interessantemente, se encontram em lados opostos em outras agendas.
01:10Como nós acompanhamos no início desse mês de fevereiro, houve uma grande manifestação que ainda acontece do setor do agronegócio, principalmente da França, mas em Bruxelas, que também se manifestou na Polônia e em alguns outros grandes capitais da Europa,
01:28contrários ao acordo do Mercosul-União Europeia, pressionando seus governos para não encabeçarem o processo de ratificação, e esse é um grupo.
01:39E por outro lado, o que nós também vimos, que agora está um pouco mais silencioso, mas foi um grande barulho feito pelos ambientalistas,
01:46também muito preocupados com o impacto numa agenda ambiental, de sustentabilidade e nas mudanças climáticas que esse acordo potencialmente traria.
01:56Então, tem grupos de interesses muito, com interesses muito antagônicos e com muito conflito de interesse, tanto do nosso lado quanto do lado europeu.
02:05E como lá esses grupos conseguem fazer um lobby e muito mais barulho, a gente vai enfrentar uma grande dificuldade de ver esse acordo,
02:12inclusive entrando no processo de ratificação. E aí, Caio, esse processo não tem um prazo.
02:18E como o acordo é chamado de um acordo misto, ele precisa ser ratificado, aprovado pelas instituições de Bruxelas,
02:27mas também pelos 27 Estados-membros. Cada um tem dentro da sua Constituição o seu processo de ratificação.
02:35E aí a gente tem casos que tem até parlamento regional que precisa ratificar, como é o caso de Bruxelas.
02:39Então, no total, a gente está falando de uns 30 parlamentos que não têm um cronograma e que vão precisar discutir esse acordo
02:48e, eventualmente, ratificá-lo para ele entrar em vigor. Isso só no lado europeu.
02:52Depois a gente tem aqui os países do Mercosul, que também, sendo quatro, fica um pouco mais fácil, também precisam ratificar.
02:58Então, mesmo que a gente veja essa nova etapa sendo iniciada, ela ainda deve se estender por muito tempo.
03:05Carolina, mas vamos falar agora mais do nosso lado aqui, nesse acordo União Europeia-Mercosul.
03:12Qual que é a parcela de culpa do Lula?
03:15Porque, ano passado, quando se falava que isso seria ratificado, o governo aqui só ficava chiando,
03:21dizendo, olha, a Europa mandou uma carta à questão do meio ambiente, a gente não pode aceitar isso.
03:27Ou então, olha, eles querem que a gente abra as compras governamentais, isso a gente não pode fazer.
03:31Faço a pergunta, qual que é a parcela de culpa do Lula nessa história?
03:38Olha, eu tendo a ver com um olhar um pouco diferente, acreditando que, na verdade, não por tanto foco no acordo,
03:49mas acho que algumas medidas que foram tomadas no primeiro ano do governo Lula conseguiram fazer com que esse acordo,
03:55pelo menos alguns estraves, andassem um pouco mais.
03:58E aí vem essa questão, por exemplo, da sustentabilidade, né?
04:01O que aconteceu?
04:03Como teve muita pressão do lado europeu, dizendo que o acordo era muito frouxo com relação às cláusulas de sustentabilidade,
04:11meio ambiente e direitos humanos, os europeus, para não abrir a negociação de novo,
04:17vieram com essa brilhante ideia unilateral de fazer uma carta anexa ao acordo,
04:23no qual os países do Mercosul, então, se comprometiam, assumiam mais compromissos nessa agenda de sustentabilidade.
04:30E foi aí que o Lula bateu o pé e falou que isso já era uma exigência demais,
04:35inclusive porque é unilateral, né?
04:37Eles iam fazer uma carta com as demandas extras deles, sem oferecer uma contrapartida,
04:42e aí houve uma grande insistência.
04:46Como houve um reestabelecimento de uma agenda e de uma política do clima e de uma política ambiental,
04:54no ano passado, que sinalizava que havia um compromisso um pouco maior com essa agenda,
05:01isso, de certa forma, acalmou os ânimos do lado europeu,
05:05tentando dar um voto de confiança para o Brasil, para o Mercosul,
05:09que a gente realmente estava comprometido com essas questões ambientais.
05:12Então, esse tema, ele sai um pouco de cena,
05:15e aí que entram as questões dos subsídios agrícolas,
05:20que vão ser perdidos,
05:22então, o setor agrícola francês usufrui de muito protecionismo
05:27e vai precisar abrir mão disso, por causa do acordo,
05:30para que o nosso produto agrícola entre nesse mercado,
05:33e, em contrapartida, como você tocou muito bem,
05:35houve uma concessão de compras governamentais.
05:38Isso, para a gente, já era um grande problema,
05:41porque as empresas aqui,
05:43e esse setor de compras governamentais é uma fatia volumosa da economia.
05:49Então, as empresas que prestam serviços públicos,
05:53que participam das licitações públicas,
05:55seria, e vai ser, quando o acordo entrar em vigor,
05:58a primeira vez que o Brasil permite a participação de empresas estrangeiras
06:02em licitações públicas,
06:04que esse acordo vai acabar fazendo essa concessão.
06:07E aí, isso sofreu muita represária no Brasil,
06:11inclusive porque serviços estratégicos e muito importantes,
06:17como o SUS, estariam dentro dessa oferta.
06:21E aí, o que o Lula tentou fazer foi negociar
06:24para que alguns setores chaves ficassem de fora dessa concessão.
06:29E aí, Duda, um ponto importante,
06:32quem fez essa concessão na negociação,
06:34se a gente pensar um acordo que começou lá em 99,
06:37ele passou por todos os presidentes desde então.
06:40E quem fez essa concessão nas compras governamentais
06:43foi Dilma Rousseff.
06:44E aí, agora, a gente viu isso virando um problema
06:46e o Lula tentando reduzir um pouco mais essas ofertas.
06:52Ou seja, o PT tinha permitido uma coisa
06:54e agora não gosta mais disso.
06:55Agora, vamos lá atrás.
06:58É, o PT começou a se avaliar e o que não dava muito certo.
07:02Mas, Carolina, a hora que o acordo não é assinado,
07:05você acha que o Brasil está...
07:07Ou isso é adiado?
07:08O Brasil está saindo ganhando ou perdendo?
07:11Depende muito do setor que a gente for olhar.
07:13Obviamente que o setor do agronegócio,
07:16que é a nossa força exportadora,
07:18ele está muito interessado nesse mercado.
07:21Mas, assim, o mercado europeu não é o maior mercado
07:25para produtos primários que a gente exporta
07:28como soja, como carne, né?
07:30A gente acaba tendo o mercado asiático como um grande mercado.
07:33Então, assim, de qualquer forma,
07:35é um mercado potencial com um grande poder aquisitivo também.
07:39Então, para o agronegócio,
07:40acho que é o setor que mais ganha.
07:42E aí, grãos, milho, soja,
07:45mas também carnes em geral.
07:47Por outro lado, nessa troca,
07:49o que a gente abriu mão aqui?
07:52De serviços e da indústria.
07:54E aí, a indústria,
07:55quanto mais esse acordo demorar para entrar em vigor,
07:59parte da indústria continua muito satisfeita.
08:02Por exemplo, o setor automotivo.
08:04Um setor que a gente fez concessões
08:06e a gente viu aí recentemente
08:08as concessionárias anunciando investimentos bilionários.
08:11Quer dizer, há uma tentativa de investir nesse setor
08:15que é importante, principalmente para a geração de empregos
08:18aqui no ABC de São Paulo e tudo mais,
08:20e que vai enfrentar uma grande concorrência
08:22com os produtos europeus
08:24quando esse acordo entrar em vigor.
08:26Então, depende muito do setor.
08:28É uma análise setorial
08:29para a gente poder fazer essa leitura.
08:32Fato é que, em geral, a indústria perde.
08:35E, num momento onde a gente tem acompanhado
08:37uma desindustrialização,
08:38a participação do setor industrial
08:41nas nossas exportações
08:43tem estado em queda há muito tempo.
08:46Então, é um momento delicado
08:48para a indústria brasileira
08:49e a não entrada em vigor desse acordo
08:52nos expõe menos a essa concorrência.
08:55Então, dá uma margem aí,
08:57uma garantia melhor
08:58de possibilidades de políticas de crescimento.
09:01Nós estamos falando com a Carolina Pavese,
09:06professora de Relações Internacionais da SPM,
09:09especializada em estudos europeus.
09:12Carolina, eu queria perguntar um pouco sobre,
09:15voltando um pouco sobre aquela questão
09:16do protecionismo e dos protestos
09:18que nós vimos na França
09:19e se espalhando pela Bélgica
09:21nesse começo de 2024.
09:24O quão grandes são esses protestos?
09:26Esses protestos foram acima do normal
09:29para padrões do agro francês
09:32e devemos esperar mais protestos
09:35cada vez que avance
09:36ou aparenta avançar
09:38as negociações para o acordo
09:40entre a União Europeia e o Mercosul?
09:43Olha, Caio,
09:44esse é um setor
09:45que é conhecido por ser um setor
09:47capaz, bem organizado
09:50e com um capital político muito grande.
09:53A gente precisa enfatizar
09:55que a agricultura na Europa
09:57é menos de 3% do PIB,
10:00então, assim,
10:00economicamente a agricultura
10:02tem um valor relativamente pequeno,
10:05mas óbvio que tem um papel central
10:07para uma questão de segurança alimentar,
10:09desenvolvimento,
10:10retenção de empregos em zonas rurais,
10:13uma questão cultural também,
10:14então ela tem um grande valor
10:16e isso vai variar de país para país,
10:18países onde a agricultura
10:20é o carro-chefe de fato,
10:22como Romênia, como Irlanda,
10:24e outros que são países mais industrializados
10:27ou onde a indústria fala mais alto.
10:29Então, é sempre muito heterogênea
10:31e essa análise da Europa
10:33precisa sempre a gente quebrar
10:35em países e setores.
10:37De qualquer forma,
10:38é um setor que se organiza
10:41em nível regional
10:42há muito tempo,
10:44desde que a União Europeia
10:45foi constituída.
10:46O setor agrícola,
10:48ele já chegou a ter 40%
10:50do orçamento da União Europeia
10:53destinado a ele,
10:54voltando a um setor com 3%,
10:56então, para a gente ver o tamanho
10:58e o peso que esse setor tem
11:01politicamente
11:02na determinação das políticas em Bruxelas.
11:06Como esses 40% eram,
11:08de certa forma, muito exagerados
11:10e se caracterizavam
11:11como um protecionismo deslavado,
11:13a União Europeia foi,
11:14ao longo das décadas,
11:16realizando com muito custo
11:18reformas na sua política agrícola comum
11:20e enxugando isso.
11:23Mas ainda é uma fatia substancial.
11:26Esse grupo,
11:27esses grupos tendem a fazer
11:29esse tipo de protesto,
11:30como a gente acompanhou,
11:32bloqueando estradas,
11:34bloqueando ruas de cidades
11:35com tratores, com caminhões,
11:37justamente para chamar a atenção
11:39das suas agendas.
11:40Então, é um ator presente
11:43nessa política europeia
11:45já a longa data
11:46e deve continuar fazendo assim.
11:48Aí, Caio, tem um ponto importante
11:50para a gente entender
11:51esses protestos de 2024,
11:53que, para nós,
11:54o que nos interessa
11:55é essa oposição ao acordo
11:56do Meta-Sumo Europeia,
11:58mas essa não é a única fonte
12:00e o único motivo
12:02pelo qual eles têm protestado.
12:04O que tem gerado
12:06e motivado
12:07essa onda de protestos?
12:08Mais do que o acordo
12:10tem sido a adoção
12:12do Pacto Verde Europeu,
12:14que foi lançado em 2019
12:17pela União Europeia
12:18e que pretende transformar
12:19a União Europeia
12:20no primeiro continente
12:21ou região
12:22neutra de carbono.
12:24Então, fazer uma revolução
12:25econômica e social
12:27na União Europeia
12:28na direção da sustentabilidade.
12:32E, com isso,
12:33vem uma série de medidas
12:34de regulamentações
12:35e proibições
12:37para o setor agrícola,
12:39banindo o uso
12:40de muitos pesticidas
12:42e agrotóxicos,
12:43impedindo a produção,
12:45o uso de transgênico,
12:47favorecendo produções orgânicas,
12:49quer dizer,
12:49uma série e cortes
12:51de subsídios
12:52para esse grande agronegócio,
12:54favorecendo uma linha
12:56mais sustentável.
12:57Essa tem sido
12:58a grande motivação
12:59desses protestos,
13:00porque isso tem implicado
13:01num aumento de custos
13:02muito grande
13:03para o setor agrícola
13:05no momento
13:06onde eles têm que enfrentar
13:07essa concorrência
13:08já internacional presente
13:10e a isso se soma
13:12um acordo
13:13que, se entrar em vigor,
13:15significaria
13:16uma inundação
13:18do mercado europeu
13:20com produtos agrícolas
13:21do Mercosul.
13:22Então,
13:23boa parte dessa oposição
13:25tem sido
13:25essas políticas
13:26radicais
13:28de sustentabilidade
13:29da União Europeia.
13:32Legenda Adriana Zanotto
13:35Tchau
13:35Obrigado.
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