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Transcrição
00:00Muito bem, Carlos Graeb e eu, Filipe Moura Brasil, vamos conversar com o Bruno Brandão da Transparência Internacional
00:05para falar desse relatório da OCDE que criticou a impunidade no Brasil,
00:10a vingança do sistema contra a Lava Jato, como eu gosto de colocar,
00:14e vamos abordar, evidentemente, outros temas relacionados.
00:19Muito obrigado pela sua participação, Bruno, é um prazer revê-lo.
00:23Prazer revê-lo também, Filipe, olá, Graeb, um prazer falar com todos vocês.
00:27Bruno, eu gostaria que você contextualizasse primeiro como funciona esse grupo antissuborno da OCDE,
00:37que é um organismo internacional, sempre há um debate sobre o Brasil ser aceito ou não nesse organismo,
00:43e qual é a ligação da transparência internacional com a OCDE também?
00:49Muito bem, a OCDE, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico,
00:58foi um organismo que surgiu para a reconstrução da Europa no pós-segunda guerra mundial,
01:04para gerir ali a reconstrução dos estados prioritariamente.
01:09Houve os fundos de apoio, principalmente dos Estados Unidos,
01:13mas a OCDE surge para reconstruir a capacidade de governo dos estados destruídos na Segunda Guerra Mundial na Europa.
01:23E a OCDE tem inúmeros grupos de trabalho, inúmeros instrumentos para promover melhores práticas
01:30em diferentes âmbitos das administrações públicas.
01:34E um dos principais é o combate à corrupção.
01:37Mas no caso da OCDE, não é qualquer tipo de corrupção, é um tipo específico e muito importante,
01:43a corrupção transnacional.
01:46A OCDE tem a Convenção contra o Suborno de Autoridades Estrangeiras em Transações Comerciais.
01:54Essa convenção, que completou cerca de 20 anos,
02:00ela é uma convenção, além de ter um foco específico,
02:05ao contrário da convenção da ONU, a convenção da Organização dos Estados Americanos,
02:10que são convenções genéricas contra a corrupção,
02:14essa o foco é sobre a atuação principalmente de multinacionais,
02:18quando elas operam fora dos seus territórios.
02:22Por que isso é muito importante?
02:24Porque isso diz respeito a interesses econômicos,
02:30a objetivos de competitividade dos países nos mercados globais.
02:35Nos anos 70, os Estados Unidos passaram o famoso FCPA,
02:40que é o Foreign Corruption Practice Act,
02:42que foi a primeira lei no primeiro país a criminalizar a corrupção transnacional,
02:48aquela que é cometida quando um indivíduo, uma empresa,
02:52suborna uma autoridade fora da jurisdição, em outro país,
02:56para conseguir um contrato, condições especiais.
02:59Naquela ocasião, aquilo foi um resultado de um momento,
03:05depois do Watergate, um escândalo de corrupção,
03:08e havia um incômodo de empresas dos Estados Unidos
03:11que outras empresas estavam conquistando mercado a partir do suborno,
03:15e elas perdendo dinheiro, perdendo mercado.
03:17Então, passaram uma régua para valer, entre todas elas,
03:22abolir ou tentar reduzir essa prática do suborno transnacional.
03:27Só que o que aconteceu?
03:28Depois que os Estados Unidos passaram essa lei,
03:31os europeus fizeram a festa,
03:33porque os europeus continuavam sem nenhuma legislação
03:36que criminalizasse esse tipo de suborno transnacional,
03:40e ao contrário, eles tinham até mecanismos
03:42que incentivavam tributariamente o suborno.
03:46Eles podiam, as empresas europeias, empresas francesas, alemãs,
03:52elas podiam declarar no seu imposto de renda
03:55pagamentos de facilitação,
03:58que é um eufemismo para suborno,
04:00reduzia o lucro e, portanto, pagava menos imposto.
04:04Então, tinha um incentivo tributário na Europa
04:06para pagamento de suborno no exterior.
04:09Então, os Estados Unidos pressionaram
04:11para que uma nova legislação com alcance muito maior internacional surgisse,
04:17e surge, então, a Convenção da OCDE,
04:19para principalmente colocar regras nas empresas europeias,
04:23mas ela acaba também tendo um impacto em outros mercados.
04:28Então, países passam a legislar também com documentos como o FCPA,
04:33por exemplo, o UK Bribery Act, em 2012,
04:36e a nossa lei anticorrupção brasileira, em 2013,
04:40no ambiente ali das passeatas, dos protestos de 2013,
04:44nós passamos a nossa lei anticorrupção
04:46sob incentivos, até pressão da comunidade internacional,
04:50especificamente a OCDE.
04:52Portanto, é uma convenção que tem como objetivo
04:56coibir essa prática de empresas roubarem negócios
05:02de outros competidores, seja de qualquer país,
05:05através do suborno.
05:07Então, é uma convenção com grande impacto econômico e político
05:12por seu propósito e o seu foco.
05:16E a outra questão era a ligação da transparência internacional.
05:20Eu já escrevi muitos artigos mostrando a importância
05:25que é determinados países usarem o seu eventual desejo
05:29de integrar organismos internacionais
05:32para fazer as lições de casa que eles cobram dos países
05:37para obter a sua adesão.
05:40E eu vejo toda uma iniciativa da transparência internacional
05:43em explorar isso.
05:46Quer dizer, é importante para o Brasil integrar a OCDE?
05:49Então, vamos aproveitar que a OCDE tem uma série de pré-requisitos,
05:53de exigências em relação ao combate à corrupção
05:55e vamos implementar isso na prática aqui no país?
05:59E essa postura, evidentemente, eu considero interessante
06:01como todas aquelas que visam ao endurecimento do combate
06:05à corrupção no Brasil, que é marcado por essa tolerância,
06:08por essa leniência e pela impunidade.
06:11Então, como a transparência internacional atua em relação a isso?
06:15E, claro, a gente vai chegar, depois dessa explicação de contexto,
06:20na parte sensível que rendeu aí toda uma repercussão estranha,
06:25para dizer o mínimo, com generosidade, em relação ao relatório.
06:28Como é a ligação?
06:30A transparência internacional, ela foi uma das principais entidades
06:36que lutaram para que existisse uma legislação internacional
06:41que coibisse a corrupção também dos ricos, dos países ricos.
06:47Surgiram aí as convenções, a primeira, inclusive, é da nossa região,
06:51a Convenção da OEA, uma das primeiras do mundo,
06:55se não me engano, a primeira convenção anticorrupção no mundo,
06:58só que ela tem um alcance muito genérico
07:02e também uma temática muito ampla,
07:05todos os tipos de corrupção, como eu disse.
07:07Mas faltava algo que focasse sobre a responsabilidade
07:13daqueles países que têm baixos índices de percepção da corrupção,
07:17que indicam o nosso IPC da transparência internacional,
07:20os países escandinavos, os países ricos da Ásia, Japão, Singapura,
07:26países que têm baixos níveis de corrupção nos seus territórios,
07:31mas, quando operam fora, dançam conforme a música.
07:35Eles operam em países, em mercados emergentes,
07:39e aí pagam suborno mesmo, operam com outros estándares.
07:43Então, a transparência internacional,
07:45ela foi uma grande lutadora
07:49pelo surgimento da Convenção da OCDE
07:52contra o Suborno Transnacional.
07:55E, a partir da promulgação da Convenção,
07:58do surgimento da Convenção,
08:00a TI passou a produzir relatórios independentes
08:04sobre o cumprimento dos países-partes
08:07sobre os seus compromissos como signatários da Convenção.
08:11Lembrando que, além dos trinta e tantos países membros da OCDE,
08:16outros cinco ou seis países que não são membros
08:19também assinaram a Convenção,
08:22e, entre eles, o Brasil.
08:24Então, a transparência internacional,
08:25periodicamente, a cada dois anos,
08:27nós fazemos um relatório independente
08:30sobre o cumprimento das obrigações pelos Estados-partes.
08:35E, assim, nós fazemos para todos os países, membros,
08:38e, em especial, nos últimos quatro anos,
08:40fizemos relatórios específicos
08:42sobre retrocessos graves no caso brasileiro,
08:46e submetemos à OCDE.
08:48Certo, e nós temos acompanhado e noticiado
08:51essas iniciativas da transparência internacional.
08:54Só estou aqui contextualizando e introduzindo,
08:57e, a seguir, eu vou passar a palavra para o Graeve
08:59fazer duas ou três perguntas seguidas,
09:01e é só para deixar tudo encaminhado
09:02de uma maneira didática
09:03na cabeça dos nossos espectadores.
09:06Porque o que aconteceu,
09:08e cada espectador pode procurar no Google,
09:10OCDE, Brasil, corrupção,
09:13Cruzoé, vai encontrar a matéria da Cruzoé
09:15sobre esse relatório do qual a gente vai falar agora.
09:18Quer dizer, o Grupo Antissuborno
09:20da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
09:23divulgou, no dia 19 de outubro,
09:26um relatório da quarta fase da avaliação do Brasil
09:29em relação ao cumprimento da Convenção
09:31contra o Suborno Transnacional da OCDE.
09:35Esse suborno é do qual o Bruno está falando.
09:38E o relatório apresenta críticas
09:39e expressa preocupação com a impunidade
09:41nos casos de corrupção no país.
09:43O que aconteceu, para explicar aqui para as pessoas,
09:48saiu aquele relatório.
09:49Nós imediatamente fomos olhar o seu conteúdo,
09:52destacamos aquilo que era, obviamente,
09:55o principal do relatório.
09:57E está lá na matéria outras questões secundárias.
10:00E nós comentamos aqui, no Papo Antagonista,
10:03o vídeo está disponível no canal de YouTube,
10:05com o título
10:06Decisão de Toffoli na Mira da OCDE.
10:09Então, há ali uma crítica direta à decisão do Dias Toffoli
10:13de melar o acordo de leniência da Odebrecht,
10:15que é uma espécie de acordo de delação premiada da empresa,
10:19com todos aqueles expedientes frágeis
10:23que a gente analisou em detalhes aqui no Papo Antagonista.
10:28E aí, outros veículos de comunicação,
10:31mais alinhados ao governo Lula,
10:33resolveram destacar que a OCDE, na verdade...
10:38Na verdade, não.
10:39Eles destacaram isso, como se isso fosse o centro,
10:42o foco do relatório.
10:45Críticas feitas à Lava Jato.
10:48Inclusive, usuários da rede social X, o ex-Twitter,
10:52contestaram ali e conseguiram emplacar uma nota
10:55nos tweets dos repórteres de grandes emissoras,
10:59que destacavam isso do relatório,
11:02para contextualizar e mostrar que o relatório tinha outro foco,
11:06que são decisões do Supremo Tribunal Federal,
11:09da cúpula do Poder Judiciário,
11:11que acabaram aliviando a barra de muita gente
11:14acusada de crime de colarinho branco,
11:16quer dizer, da velha política brasileira,
11:18de grandes empresários,
11:19de quem tem, efetivamente, poder político e poder econômico,
11:22não de investigadores e juízes de primeira instância,
11:25contra o qual o poder de turno se volta.
11:28Então, eu queria saber, Bruno,
11:30a sua avaliação inicial a respeito disso
11:34e depois o Greve fique à vontade
11:35para puxar alguma pena disso tudo.
11:40Correto.
11:41Como você mencionou, Filipe,
11:44é a quarta fase de revisão do Brasil.
11:47Isso significa que o Brasil já passou
11:50quatro vezes por esse processo
11:53do chamado peer review,
11:56a revisão por pares.
11:57Então, são outros países,
12:00também signatários,
12:02que fazem a revisão,
12:04fazem um relatório
12:05sobre o cumprimento
12:06daquele país analisado.
12:09E cada fase tem um foco em alguns artigos,
12:12em alguns aspectos da convenção,
12:15que apesar de ter um foco,
12:16o suborno transnacional,
12:18ela aborda isso em diversas maneiras.
12:21Então, tem vários compromissos.
12:22Então, cada fase tem um foco
12:25e países avaliadores,
12:29que são também signatários da convenção,
12:33com a ajuda do secretariado do WGB,
12:36o Working Group on Driver,
12:37que é o grupo de trabalho
12:38que faz esse acompanhamento.
12:40E, no caso brasileiro,
12:41os países pares,
12:42se não me falha a memória,
12:43foram Colômbia e Reino Unido,
12:45e eles, então, fizeram um relatório
12:49muito detalhado,
12:52muito bem elaborado,
12:53na nossa opinião.
12:55Temos alguns pontos, talvez,
12:57em divergência,
12:58mas, de maneira geral,
12:59um trabalho muito técnico,
13:01que incluiu, inclusive,
13:03visita ao Brasil.
13:04E nessa visita,
13:05foram feitas diversas entrevistas,
13:07inclusive com a transparência internacional.
13:09Que, além de mandar nossos relatórios,
13:12escritos, e que são públicos,
13:13nós também participamos de entrevista em loco.
13:17E, de fato,
13:19o que chama mais atenção
13:20e que deveria ser o foco
13:22das preocupações no Brasil
13:24é uma crítica muito direta,
13:27muito explícita,
13:28que isso está na abertura do relatório,
13:31à impunidade no Brasil
13:33da corrupção transnacional.
13:36Citando, inclusive,
13:38um caso que ilustra
13:39o grau de impunidade,
13:41que o único caso,
13:43na verdade,
13:44que chegou a um processo penal
13:46contra indivíduos por suborno
13:50transnacional,
13:52que é o caso da Embraer.
13:54Esse caso já ocorre há 10 anos,
13:57ou mais de 10 anos,
13:59e já prescreveram
14:00algumas das acusações
14:03desses réus,
14:04não serão mais punidos,
14:06e muito improvável
14:09que aqueles que ainda
14:09permanecem sob processo
14:12sejam efetivamente punidos.
14:14Então, a OCDE, em primeiro lugar,
14:16ela destaca a absoluta impunidade
14:19com respeito a esse grave crime
14:21de suborno transnacional.
14:23Em segundo lugar,
14:25ela também,
14:26ela traz destaques
14:27a questões específicas.
14:29E ela trouxe,
14:31em primeiro lugar,
14:33nos chamados
14:34follow-up points,
14:35os follow-up points,
14:37é uma categoria
14:38que são os pontos
14:39que darão seguimento,
14:41que o Brasil terá que responder
14:42ainda por eles.
14:44Os países ainda vão acompanhar
14:46o que vai acontecer
14:47naquelas questões.
14:50E, no primeiro lugar,
14:51o primeiro item,
14:53inclusive,
14:53o segundo item também
14:55trata disso,
14:56é a decisão
14:56do ministro Dias Toffoli,
14:58que anulou todas as provas
15:00da Odebrecht,
15:01que é considerado
15:02o maior caso
15:04de suborno transnacional
15:05já investigado,
15:06já processado
15:08no mundo,
15:08na história
15:09do capitalismo mundial.
15:11Então, isso está
15:12no primeiro ponto
15:13do follow-up list
15:14e segundo ponto
15:16do relatório.
15:19Também é verdade
15:20que houve críticas
15:21sobre a Operação Lava Jato
15:23e sobre esse viés político
15:25que foi criticado
15:29na Operação Lava Jato.
15:30No entanto,
15:31isso é um comentário
15:33que é também relevante
15:34dos países observadores
15:36e que recomendam
15:37que seja blindada
15:38as ações penais
15:40de influência política.
15:42Cito o caso,
15:43principalmente,
15:43do Augusto Aras,
15:44mas cita também
15:45o contexto
15:46em que
15:47o juiz-chefe
15:51da Operação
15:53tinha contatos diretos
15:55com os procuradores
15:56através das mensagens
15:58no Telegram.
15:59Mas a gente pode falar
16:01mais tecnicamente
16:02disso também,
16:02é importante,
16:03porque ela faz
16:04uma grande ressalva
16:05sobre o tipo
16:06de contatos diretos
16:08entre agentes da lei.
16:09Isso também foi muito importante
16:10ali,
16:10um esclarecimento
16:11feito pelo OCDE.
16:12Mas desculpa,
16:13não quero ler
16:13o relatório inteiro,
16:15mas vamos lá
16:15para o que vocês acharem
16:17que importa mais,
16:18a gente explora.
16:19Fica à vontade, Greg.
16:22Muito bem.
16:23Bom,
16:23vamos começar
16:24pelo ponto
16:25que foi o destaque
16:26mesmo desse relatório,
16:27que tem 117 páginas,
16:29eu estou com ele aberto.
16:31aqui na página 12,
16:33eles escrevem,
16:36ali redigem um parágrafo
16:37bem gordão
16:38sobre o caso Odebrecht,
16:41no fim desse parágrafo,
16:42eles mencionam
16:44a decisão do Dias Toffoli
16:46de anular
16:47as provas
16:49obtidas por meio
16:52do acordo de leniência.
16:54Eles dizem,
16:55eles esclarecem
16:56que os próprios acordos
16:58não foram anulados,
17:00mas as provas, sim.
17:03E isso causou
17:04uma preocupação
17:05a respeito
17:07do impacto
17:07que isso poderia ter
17:09em ações
17:10fora do Brasil.
17:12Aqui no Brasil,
17:13a gente sabe
17:14qual é o impacto.
17:16Essas provas
17:16perdem qualquer
17:17possibilidade
17:19de instruir processos.
17:20então,
17:22aqueles
17:23que poderiam ser
17:25punidos
17:25com as provas
17:27do acordo,
17:28que é o Odebrecht,
17:29vamos lembrar,
17:30voluntariamente
17:32entregou
17:33ao
17:34Ministério Público,
17:36esses aí
17:36vão passear,
17:38vão ficar felizes
17:39e contentes.
17:41Então,
17:41eu queria que você
17:42nos explicasse
17:42justamente isso,
17:44Bruno,
17:44por que
17:45da preocupação
17:46com os impactos
17:47no exterior.
17:48A gente pode ver
17:49uma situação
17:50em que
17:51as empresas
17:52e os seus executivos
17:54fiquem completamente
17:56impunes
17:58aqui no Brasil,
17:59mas sofram
18:00algum tipo
18:01de condenação
18:02ou sanção
18:02fora?
18:05Bom,
18:06essa decisão
18:08do ministro
18:09Dias Toffoli
18:10sobre a anulação
18:12de todas as provas
18:13do acordo
18:15de leniência
18:16da Odebrecht,
18:17ela tem
18:19ao menos
18:20três ou quatro
18:21grandes impactos
18:23sistêmicos.
18:24O primeiro,
18:25em nível nacional,
18:27como você
18:27muito bem
18:28já adiantou,
18:30é a
18:31potencial anulação
18:33de,
18:34virtualmente,
18:34todos esses processos
18:35baseados
18:36nessas provas,
18:38inclusive já
18:39de condenações
18:40confirmadas
18:41em múltiplas
18:42instâncias.
18:43então existe
18:45o fator
18:46sistêmico
18:46de impunidade
18:47desses gravíssimos
18:49crimes
18:49de grande
18:51corrupção
18:51no território
18:52brasileiro,
18:53de indivíduos
18:55brasileiros
18:56e esse é o nível
18:58nacional.
18:59O segundo
19:00é olhar
19:01para fora
19:01em uma
19:02cor de leniência
19:03que envolvia
19:04relatos
19:06de crimes
19:06cometidos
19:07em ao menos
19:07doze
19:08jurisdições,
19:09o Brasil
19:10e outras
19:11onze jurisdições,
19:12dez
19:13latino-americanas
19:14e duas
19:15africanas,
19:16Angola e
19:16Moçambique.
19:17E há relatos
19:18também,
19:19e continuam
19:20aparecendo relatos
19:21sobre outros
19:22feitos
19:24em outros
19:26países.
19:26Isso sem
19:27contar a rede
19:27financeira
19:29que alcançava
19:30diversas outras
19:31jurisdições.
19:32Bom,
19:33o que que
19:33acontece
19:34nesse
19:34segundo nível?
19:36As poucas
19:38condenações,
19:39porque são
19:40países com
19:40altíssimo
19:41grau de
19:41impunidade,
19:42mas aquelas,
19:42por exemplo,
19:43no Peru,
19:43que foi talvez
19:44o único
19:45caso em que
19:45houve um avanço
19:46significativo
19:47de investigações
19:49e condenações,
19:50no Peru
19:50abre-se uma
19:52avenida enorme
19:53para o mesmo
19:55questionamento
19:56que será feito,
19:57já está sendo
19:58feito no Brasil.
19:59O país
20:00estrangeiro,
20:01ele tem
20:01a prerrogativa
20:02de decidir
20:03se é válida
20:04ali ou não,
20:05não é automático
20:06dizer que é inválido,
20:07mas se você tem
20:08um ambiente já
20:09querendo,
20:09propenso a anular
20:10um processo,
20:11você abriu ali
20:12uma grande avenida
20:13para que isso
20:14aconteça também
20:15em âmbito
20:16internacional.
20:18Então,
20:18outra vez,
20:19mesmo que não
20:19haja alcançado
20:21condenações,
20:22investigações,
20:23elas serão
20:23muito provavelmente
20:24abortadas,
20:25nesses casos,
20:27em várias
20:28jurisdições.
20:29Isso,
20:29nós estamos falando
20:30de países pobres,
20:31sociedades que
20:32sofreram
20:33gravíssimas
20:34consequências
20:34desses crimes.
20:35Essa é a segunda
20:36consequência.
20:37terceira,
20:38uma consequência
20:39também muito
20:40grave
20:41dessa decisão,
20:42ela decorre
20:43da sua
20:44fundamentação,
20:45que é uma
20:46fundamentação
20:46que promove
20:48ou decorre
20:50de desinformação
20:52para ser,
20:53talvez,
20:55otimista
20:56na interpretação
20:58das motivações,
20:59etc.,
20:59uma desinformação,
21:01uma grande
21:01incompreensão
21:03sobre cooperação
21:04penal internacional,
21:05porque o fundamento
21:07dessa anulação
21:08é que a Lava Jato
21:09teria cooperado
21:11ilegalmente,
21:12clandestinamente,
21:13porque trocou
21:14mensagens
21:14com procuradores
21:16suíços dos Estados
21:17Unidos através
21:18de aplicativos
21:19de mensagens.
21:20A própria OCDF
21:22fez questão,
21:22nesse atual relatório,
21:24atualíssimo,
21:24recente,
21:25de explicar
21:26que as interações
21:28pré-processuais
21:30entre autoridades
21:31investigatórias,
21:33procuradores,
21:33policiais,
21:34estrangeiras,
21:35não é só legal
21:36e permitido,
21:39como desejável
21:40e recomendável,
21:42porque você só vai...
21:44Desculpa.
21:45Não,
21:46só para chamar
21:46atenção,
21:47esse era o fato
21:47que você tinha destacado
21:49um pouco antes
21:50de eu fazer a pergunta,
21:51né?
21:52Era essa...
21:53Exatamente.
21:55Essa ressalva,
21:56porque esse ponto,
21:58Graeb,
21:59Felipe
22:00e nossos ouvintes,
22:01essa foi uma grande
22:03confusão no debate
22:06nacional, né?
22:07Sobre Lava Jato,
22:09que deve ser analisada
22:11importantíssima,
22:13inclusive seus problemas,
22:14seus defeitos,
22:15crítica,
22:15mas nós sabemos
22:16que a crítica
22:17à Lava Jato,
22:18ela traz junto
22:19uma carga imensa
22:21de interesses
22:22em simplesmente
22:23passar uma régua
22:24da impunidade.
22:25e um dos caminhos
22:27para isso
22:27foi essa
22:29confusão
22:30sobre cooperação
22:31internacional
22:32pré-processual.
22:33Por quê?
22:34Antes do processo
22:36e nas atividades
22:37diretas
22:38entre agentes,
22:39é por isso que você tem
22:40um adido policial
22:41numa embaixada,
22:43porque ele vai tratar
22:44diretamente
22:44com policiais locais,
22:46com procuradores locais
22:47e vai...
22:47Imagina se você tem
22:48que mandar
22:49para o Ministério da Justiça
22:50cada encontro
22:51que você tem,
22:52toma um café,
22:53vai no coquetel
22:54na embaixada,
22:55o procurador
22:56conversou
22:56com o adido policial,
22:58isso é cotidiano
23:00em todos os países
23:01do mundo
23:01e recomendado.
23:02Existem fóruns,
23:03a Noruega promove
23:04fóruns,
23:05encontros
23:05para que isso ocorra,
23:07para que elas encontrem,
23:08gerem confiança,
23:09podem conversar.
23:10O que não pode
23:11é transmitir informação,
23:12duas coisas,
23:13de cunho sigiloso
23:15que o procurador,
23:16a autoridade,
23:17não tem acesso
23:18e ela transmitir isso,
23:20ou, segundo,
23:21para que isso depois
23:22instrua um processo,
23:24por exemplo,
23:24uma decisão judicial,
23:26um pedido de prisão,
23:27cautelar,
23:29preventiva,
23:30um pedido de apreensão
23:31de bens,
23:33um mandado de busca
23:34e apreensão,
23:35isso sempre tem que passar
23:37pela autoridade central
23:39designada no país
23:40para a cooperação penal,
23:41que no Brasil,
23:42para a maioria dos países,
23:43é o DRCI,
23:44o Departamento de Recuperação
23:45de Ativos e Cooperação Internacional,
23:47no Ministério da Justiça.
23:48E assim foi feito,
23:50nesse caso específico,
23:51do acordo
23:52da Odebrecht,
23:54não apenas
23:55houve essa
23:56troca
23:58considerada
23:59desejável,
24:00recomendada,
24:01mas também,
24:02quando foi instruir,
24:03de fato,
24:04a formalização
24:05do acordo,
24:06houve, sim,
24:07o processamento
24:08via autoridade central.
24:09Então,
24:10o terceiro impacto
24:11sistêmico
24:12é gerar
24:12um imenso
24:13embrólio,
24:14um obstáculo
24:15para que o Brasil
24:16participe
24:17da cooperação penal
24:18internacional.
24:19Imagino que isso
24:20significa alijar
24:21um país
24:22dessas redes
24:23de contatos
24:24e cooperação,
24:25justamente no momento
24:26em que o mundo
24:27discute
24:28o financiamento
24:29ao terrorismo,
24:31em tantas formas,
24:32e a corrupção
24:34de países como a Rússia
24:35fomentando guerras.
24:36Então,
24:37é um impacto
24:38muito preocupante
24:40para a comunidade
24:40internacional
24:41a fundamentação
24:42também
24:43dessa decisão.
24:44E aí eu quero
24:46falar o português
24:46bem claro aqui
24:47para o nosso público
24:48do Papo Antagonista.
24:49Se busca,
24:50evidentemente,
24:51qualquer tipo
24:52de pretexto
24:52para aliviar
24:53a barra
24:54dos políticos
24:54que foram acusados,
24:56que foram denunciados,
24:57que foram condenados,
24:58assim como dos empresários
25:00mancomunados com eles
25:01e que já estão aí
25:03a todo vapor
25:05para voltar
25:06a obter
25:06contratos públicos
25:07milionários
25:08ou bilionários
25:09que eles obtinham
25:11naquela época,
25:12anos atrás,
25:13molhando a mão
25:14de agentes públicos
25:15e políticos,
25:16quer dizer,
25:16justamente pagando
25:18suborno.
25:19E muita gente
25:20não quer admitir isso,
25:21então usa
25:22essa estratégia
25:23de manipulação
25:24de massa,
25:24que é você fazer
25:25a caricatura
25:26de investigadores,
25:27de juízes,
25:28de gente com muito pouco
25:29poder
25:29na República do Escambo,
25:31que é o Brasil,
25:32e maximizar,
25:33turbinar
25:34eventuais
25:34pecadilhos
25:36para usar a expressão
25:36utilizada pelo
25:37ministro Luiz Roberto Barroso
25:39do STF,
25:40que votou contra
25:40a suspeição
25:41do Sérgio Moro
25:41no caso do Lula.
25:43Então,
25:44eles maximizam,
25:45turbinam isso
25:46para fingir
25:47que ninguém
25:48roubou nada,
25:49que ninguém
25:49recebeu suborno,
25:51que ninguém pagou.
25:52Aqui,
25:53evidentemente,
25:53a gente faz
25:54todas essas
25:55distinções.
25:57Então,
25:58nesse caso,
25:59em relação
25:59à decisão
26:00do Dias Toffoli,
26:01que foi colocado
26:01no STF
26:02pelo próprio Lula,
26:04ele
26:04parece que
26:06exagerou
26:07na tentativa
26:08de criar
26:09um falso
26:10pretexto,
26:11com uma
26:12colaboração,
26:12evidentemente,
26:14que ele
26:15poderia usar
26:16em sua defesa,
26:17se ele mudasse
26:17a decisão,
26:18do governo Lula.
26:19Então,
26:19vamos lembrar aqui,
26:20só para contextualizar
26:21para o nosso público.
26:23O Ministério da Justiça,
26:25comandado pelo
26:25Flávio Dino,
26:26ministro do governo Lula,
26:29disse que não havia
26:30a formalização
26:31do pedido
26:35de colaboração
26:36das autoridades
26:37suíças
26:38com os procuradores
26:39da Lava Jato.
26:40Quer dizer,
26:40foi investigar ali
26:41nos seus arquivos,
26:43o Bruno,
26:43daqui a pouco me corrija
26:44se estiver errado,
26:45e falou que
26:47aquilo não existe.
26:48Aí veio a ANPR,
26:49a Associação Nacional
26:50dos Procuradores
26:51da República,
26:52contestar
26:52aquela alegação
26:54que foi usada
26:55pelo Dias Toffoli
26:56para melar
26:57o acordo de leniência
26:58da Odebrecht.
26:58Dizia assim,
26:59olha,
26:59os dados estão aqui.
27:00houve o pedido
27:01de formalização.
27:03E aí o Ministério
27:03da Justiça,
27:04constrangido,
27:05teve que dizer
27:07para o Dias Toffoli
27:08que, olha,
27:09realmente nós não
27:09tínhamos encontrado,
27:10mas agora encontramos
27:11com esses dados.
27:13Então,
27:14toma aí.
27:15Só que a decisão
27:15já estava tomada
27:16de anular o acordo
27:17de leniência
27:18da Odebrecht
27:19sob essa base
27:20de que houve
27:21contatos clandestinos
27:22entre procuradores
27:24da Lava Jato
27:24e autoridades suíças.
27:27Percebam,
27:27eu ironizei isso
27:28quando a gente comentou
27:29da primeira vez,
27:30autoridades suíças
27:31fazendo algo
27:32clandestinamente.
27:33Vocês já ouviram
27:33falar disso?
27:35É bem complicado
27:36para que um juiz
27:38aqui do Terceiro Mundo
27:39aponte esse tipo
27:41de coisa.
27:42Mas aquilo
27:42estava insinuado,
27:44pelo menos ali,
27:45naquela decisão.
27:47E aí,
27:47veio à tona
27:48que houve pedido
27:49de formalização,
27:50veio à tona,
27:52evidentemente,
27:52a ordem dos fatores,
27:54quer dizer,
27:54quando se fechou
27:55o acordo de leniência,
27:55a própria Odebrecht
27:56forneceu provas
27:57de livre e espontânea
28:01vontade
28:01no âmbito
28:02daquele acordo
28:03já firmado.
28:04Então,
28:04não houve a necessidade
28:05de esperar
28:06tudo que as autoridades
28:07suíças pudessem
28:08entregar
28:09depois de toda
28:10a formalização,
28:11porque a própria
28:12Odebrecht entregou.
28:14Então,
28:14as bases
28:15para a decisão
28:16do Dias Toffoli
28:17são tremendamente frágeis.
28:19E isso foi apontado
28:21lá no relatório também.
28:22mesmo com todo
28:24o reconhecimento
28:26de que houve
28:27aquilo que ele disse
28:27que não havia,
28:29ele não mudou,
28:30porque na minha análise
28:31não importa
28:32qual é a argumentação,
28:34existe um objetivo
28:35e ele é cumprido
28:36independentemente
28:37do argumento.
28:38Então,
28:39se esse argumento
28:39não vale,
28:40se cria outro
28:41para que aquilo
28:42efetivamente
28:43fique de pé.
28:45Então,
28:46Bruno,
28:47queria perguntar
28:48para você
28:49sobre
28:50esse caso específico,
28:54qual é a sua avaliação,
28:55qual é a sua expectativa
28:56daqui para frente?
28:57Quer dizer,
28:58não tem mais praticamente
28:59corrupto e labador
29:00de dinheiro
29:00preso no Brasil,
29:01pelo menos desses
29:02que estão envolvidos
29:03nesses grandes escândalos.
29:05E o Brasil
29:05vai continuar assim?
29:09O que a gente
29:10já disse
29:12algumas vezes
29:13sobre
29:14a história recente
29:16brasileira,
29:17o que diz respeito
29:18ao combate à corrupção,
29:19é uma grande lição
29:21de que um país
29:22leva décadas
29:24para fortalecer
29:25a sua capacidade
29:26de combate
29:27à corrupção,
29:29dos seus marcos
29:30legais,
29:31institucionais,
29:32e ele
29:33pode destruí-la
29:35em pouquíssimo tempo.
29:38Você é muito
29:39mais difícil
29:40e lento
29:40construir,
29:41evidentemente,
29:42do que destruir.
29:43E agora
29:44a gente está
29:44tendo outra
29:46lição,
29:47a dificuldade
29:48da reconstrução.
29:50É muito lento
29:52construir,
29:54muito rápido
29:54destruir,
29:56e muito difícil
29:57voltar
29:57o gênio
29:58para a garrafa,
30:00voltar
30:00a ter
30:03um combate
30:03à corrupção
30:04depois que passa
30:05toda essa situação
30:07que nós passamos.
30:09Então,
30:10talvez,
30:11dando destaque
30:12para algumas questões
30:14sistêmicas.
30:16São vários avanços
30:17que o Brasil
30:18teve durante décadas
30:19e vários governos
30:20deram contribuições,
30:22inclusive contribuições
30:23importantes
30:23de governo
30:24do PT,
30:25governo Lula,
30:26governo Dilma Rousseff,
30:27que fizeram
30:28principalmente
30:29o fortalecimento
30:32de instituições
30:33de controle
30:33e da independência
30:34dessas instituições.
30:36Talvez o destaque
30:36maior
30:37seja a independência
30:38da Procuradoria-Geral
30:40da República,
30:41porque o Brasil
30:41tem um sistema esquizofrênico
30:44que lhe deu
30:44ampla autonomia
30:46a procuradores
30:47para agirem
30:48contra pequenos,
30:49em primeira instância,
30:51muito mais do que
30:51a maioria dos países,
30:53esse grau de autonomia,
30:54mas criou um sistema
30:56de blindagem
30:57de elite
30:58que é o foro privilegiado.
31:00Então,
31:01é muito fácil
31:02no Brasil
31:02você ligar
31:03ou desligar
31:04o sistema
31:04de impunidade,
31:06basta você
31:07colocar um PGR
31:08controlado,
31:10politicamente controlado,
31:11submisso,
31:12porque é a autoridade
31:13única
31:14que pode investigar
31:15e processar
31:16mais de 500
31:17autoridades máximas
31:19no nosso país.
31:20E foi exatamente
31:21esse o retrocesso
31:22que aconteceu
31:23com o Bolsonaro,
31:25com o Augusto Aras,
31:28e agora a dificuldade
31:30que nós estamos vendo,
31:31o atual governo
31:31dizendo que não vai,
31:32que aprendeu a lição,
31:34e que lição,
31:34que triste lição,
31:36aprendeu lição com o Bolsonaro,
31:37aprendeu que é
31:38mais conveniente
31:39controlar,
31:40ter um Ministério Público
31:41subjulgado,
31:43e já disse
31:43que não vai
31:44respeitar a lista
31:46triples,
31:46que ele próprio
31:47foi o primeiro
31:48a respeitar
31:49e fortalecer.
31:50Outro aspecto
31:51também
31:52muito importante
31:53é o aspecto
31:54legislativo.
31:55Leis foram passadas
31:57para facilitar
31:58a corrupção política
32:00no Brasil,
32:00que eram os esquemas
32:01de Caixa 2,
32:02que eram desvios
32:03estatais
32:04de grandes recursos
32:05da Petrobras,
32:06da Caixa Econômica,
32:07etc.
32:08O que o Brasil fez?
32:09Ele explodiu
32:11o investimento
32:12público
32:12em campanhas
32:13e partidos
32:14e reduziu
32:15os marcos
32:16de controle.
32:17Então,
32:18hoje não precisa
32:19roubar tanto ali,
32:20porque o dinheiro
32:21já vem,
32:22já é entregue,
32:23já está dado
32:23aos caciques
32:24e aquilo lá.
32:26E depois ainda
32:26o orçamento secreto,
32:28que aí a Farra
32:29ganhou outra proporção.
32:31E para finalizar,
32:32o papel do judiciário.
32:33Duas decisões,
32:34ao menos,
32:35que foram fatais
32:36para o combate
32:37à grande corrupção.
32:38A mudança de competência
32:39do foro
32:40da Polícia
32:41da Justiça Federal
32:42para a Justiça Eleitoral,
32:44para qualquer caso
32:44que envolvesse algum
32:45crime eleitoral.
32:46Então,
32:47centenas de casos
32:48foram para a Justiça Eleitoral
32:50muito menos capacitada,
32:51estão morrendo todos.
32:53E o outro também,
32:54a questão da execução
32:55da pena em segunda instância,
32:57que talvez seja
32:58uma interpretação justa
32:59do texto literal
33:00da Constituição,
33:01mas se é assim,
33:02o Congresso
33:03precisa dar uma solução,
33:04ou nós vamos conviver
33:05com essa impunidade
33:06como algo natural
33:08e desejável
33:10para o nosso país.
33:11Então,
33:11um quadro muito difícil
33:13de reconstrução
33:13e é uma pena
33:14porque o Brasil
33:15foi reconhecido
33:16como um dos países
33:17de maior avanço
33:19na capacidade
33:20de enfrentar
33:20a macrocorrupção
33:22e a impunidade
33:22de poderosos.
33:24Graebi,
33:25caminhando para o final.
33:28E os avanços legais,
33:31por exemplo?
33:31A gente não tinha
33:32até 2013
33:33uma lei de combate
33:35ao crime organizado,
33:37que permitia
33:38o combate
33:38ao crime
33:39de coladinho branco.
33:41A gente viu
33:43o STF
33:45desenvolvendo
33:46algumas teses jurídicas
33:47que foram importantes
33:50na época
33:50do julgamento
33:51do Mensalão.
33:53Estava ali se formando
33:54também um ferramental
33:55jurídico
33:56para possibilitar
33:58a investigação
34:00e o processo
34:03contra a gente
34:05que era pega
34:06com a boca na botija.
34:09Nesse âmbito,
34:10você acha que também
34:11teve um retrocesso?
34:14Eu acho que talvez
34:15o maior retrocesso
34:16com respeito
34:17à lei anticorrupção
34:19tenha sido
34:20na capacidade
34:21do Brasil
34:22usar a ferramenta
34:24que foi mais
34:24bem-sucedida,
34:26que são os acordos
34:27de Leninense.
34:28A lei anticorrupção
34:30de 2013
34:31trouxe diversas inovações,
34:33mas uma das principais
34:35foram esses instrumentos,
34:37a sistematização,
34:39a regulamentação
34:39desses instrumentos
34:40de colaboração,
34:41que permitem
34:42a quebra
34:43da chamada
34:44omertar,
34:45o silêncio da máfia.
34:46Então,
34:46alguém que é investigado
34:48pode buscar
34:49um benefício
34:49entregando informações
34:51sobre outros casos
34:52e outros investigados,
34:54outros réus,
34:55outros criminosos.
34:57Isso foi
34:58um divisor de águas
35:00na capacidade
35:01de investigadores
35:02de subir
35:03na escala
35:04do crime,
35:05na escada
35:05da hierarquia
35:07do crime,
35:08inclusive da grande
35:09corrupção,
35:10mas também outras formas
35:11de criminalidade
35:12violenta.
35:14Só que
35:14esse instrumento
35:16tinha
35:18um obstáculo
35:20que era
35:20a forma tradicional
35:21de trabalho
35:22dos investigadores
35:23brasileiros
35:24no Ministério Público,
35:25que é uma forma
35:25atomizada,
35:27individualizada.
35:28Um promotor,
35:29um procurador,
35:29trabalha sozinho
35:30e quando ele começa
35:31a poder usar
35:33essa ferramenta,
35:34é trabalho
35:34que gera trabalho.
35:36Então,
35:36o caso vai aumentando
35:37e um procurador,
35:38promotor sozinho,
35:39jamais vai ser capaz
35:40de processar aquilo,
35:41apresentar acusações
35:43e fazer o percurso
35:44do processo penal
35:46sem tropeçar
35:48na impunidade
35:50da prescrição,
35:51porque o caso
35:51vai aumentando
35:52exponencialmente.
35:53Então,
35:54foi muito importante
35:54a combinação
35:55de uma inovação
35:56legal
35:57com uma inovação
35:58administrativa
35:59organizacional,
36:00uma nova forma
36:00de trabalho
36:01em equipe.
36:02Então,
36:02a força-tarefa
36:04foi uma inovação
36:04que extraiu
36:06o máximo potencial
36:07dessa grande novidade
36:08do marco legal brasileiro,
36:11que foram os acordos
36:11de colaboração.
36:13Só que aí
36:13se destruiu
36:14essa perna,
36:15essa perna
36:15do trabalho
36:16em equipe
36:17enfraqueceram
36:18com outras medidas
36:19a outra perna
36:21da Leninense.
36:22Então,
36:23talvez as duas pernas
36:25do combate
36:25à corrupção
36:26que fez o Brasil
36:27alçar
36:27no combate
36:28à corrupção
36:29de poderosos,
36:30elas foram quebradas.
36:32E agora,
36:32essa reconstrução
36:33é bastante complicada
36:34de ser feita.
36:37Bruno,
36:38eu queria dar
36:38a oportunidade
36:39para você esclarecer
36:40aqui,
36:41porque a Transparência
36:42Internacional
36:42e até o seu nome
36:43apareceram
36:44num relatório
36:45da Procuradoria-Geral
36:46da República.
36:47Nós, inclusive,
36:48divulgamos nota
36:49no site
36:50mostrando
36:52como vocês alegaram
36:53que era fake news,
36:55uma notícia crime
36:56que tinha sido apresentada
36:58pelo deputado do PT,
37:00o Rui Falcão,
37:01mencionando ali
37:03interferência
37:04da ONG, etc.
37:05É o que eu avaliei
37:07como parte
37:08de uma vingança
37:09do sistema
37:10que quer
37:12tentar macular
37:13até a imagem
37:14de interlocutores
37:15das pessoas
37:16envolvidas
37:17com o combate
37:17à corrupção
37:18no Brasil,
37:19de pessoas
37:19que acompanharam
37:21esse processo,
37:21que monitoraram
37:22e que, obviamente,
37:23cobraram
37:23a punição
37:25daqueles envolvidos
37:26em suborno.
37:27Mas,
37:28aproveitando aqui
37:29a sua participação,
37:30fique à vontade
37:31para expor
37:33o seu posicionamento
37:34a respeito do tempo.
37:36Perfeito.
37:37Bom,
37:37em primeiro lugar,
37:38uma organização
37:39como a Transparência
37:40Internacional,
37:41se ela não for
37:42criticada,
37:43se ela não for
37:44atacada,
37:45se ela não for
37:46perseguida,
37:46se ela não for
37:47retaliada,
37:48ela não está
37:49fazendo o seu trabalho.
37:50Ou, então,
37:51ela opera
37:51num ambiente
37:52quase um paraíso,
37:54onde tem muito pouco
37:55trabalho a ser feito.
37:57Infelizmente,
37:57não é o caso
37:58do Brasil.
37:59Mas a gente
38:00toma isso
38:00com muita
38:01naturalidade,
38:03é uma má palavra,
38:04e eu vou explicar
38:05por quê.
38:05Mas a gente
38:06já sabe lidar
38:07com isso.
38:08Por quê?
38:09Eu, pessoalmente,
38:10trabalho há 14 anos
38:11na Transparência
38:11Internacional,
38:12e grande parte
38:13desse período
38:15é fora,
38:16em outros países,
38:17principalmente na América
38:17Latina.
38:18E a gente vê
38:19a realidade cotidiana
38:20dos nossos colegas,
38:22infelizmente,
38:22é ainda mais grave.
38:24Temos colegas
38:25assassinados,
38:26temos colegas
38:26que têm que andar
38:27com guarda-costas,
38:29que não podem ter
38:29endereços revelados,
38:31que têm que se mudar
38:32de tempo em tempo,
38:33que têm que se exilar.
38:35Nós temos colegas
38:36agora exilados,
38:36que saíram da Rússia,
38:37temos colegas exilados
38:38de vários países.
38:42Então,
38:42isso é parte
38:43do cotidiano
38:44do nosso trabalho.
38:45Então,
38:45a gente sabe lidar
38:46com isso
38:47e tem que enfrentar.
38:49Se a gente quer
38:49cumprir a nossa missão
38:50de incomodar poderosos,
38:52a gente não pode esperar
38:53que a gente vai receber
38:54aplausos,
38:55que a gente vai receber
38:56tapinha nas costas.
38:58A gente vai tomar
38:59pancada,
39:00canelada
39:00e sempre abaixo
39:02da cintura,
39:02porque é onde joga
39:03essa turma.
39:04É como os métodos
39:06que adotam
39:07o objeto
39:09do nosso trabalho.
39:10Essas pessoas,
39:11é assim que elas lidam.
39:12E,
39:13a partir principalmente
39:14da mentira,
39:15é que elas tentam
39:16atacar o nosso maior
39:18bem,
39:18que é a nossa reputação,
39:20construída
39:21três décadas
39:21de trabalho
39:22de combate
39:23à corrupção
39:24em mais de 100 países.
39:26Mas,
39:26nós vamos continuar
39:27enfrentando,
39:28são mentiras
39:29todos os dias
39:29que aparecem,
39:30e não por acaso
39:31de figuras como
39:32Augusto Aras,
39:34diversas ocasiões,
39:35trouxe,
39:37inclusive em documentos
39:38oficiais,
39:39em verdades,
39:40informações
39:40absolutamente
39:41inverídicas,
39:42e tentando
39:44destruir
39:46a reputação
39:46de quem estava
39:47criticando
39:48o seu trabalho,
39:49a sua omissão
39:50diante de tanta
39:51criminalidade,
39:52tanta corrupção.
39:53Augusto Aras
39:54é apenas um deles,
39:56nós temos isso,
39:57infelizmente,
39:58como nosso cotidiano.
40:00Agora,
40:00o que eu queria
40:00terminar dizendo,
40:02que apesar da gente
40:02saber lidar com isso,
40:04já está acostumado,
40:06o couro
40:06engrossado,
40:07infelizmente,
40:08nós não podemos
40:09naturalizar
40:10nunca isso,
40:11porque jamais
40:13pode ser algo
40:13tolerado
40:14que uma organização
40:15da sociedade civil,
40:16que cidadãos
40:17que denunciam,
40:19que usam
40:20sua voz
40:21para denunciar
40:21corrupção
40:22e lutar
40:23por um país
40:23melhor e mais íntegro,
40:25seja um alvo
40:26de retaliações,
40:27e principalmente
40:28retaliações
40:29por parte
40:30de autoridades públicas.
40:31Então,
40:31isso não pode
40:32ser naturalizado.
40:33Então,
40:33nós vamos lutar
40:34contra,
40:34nós vamos sempre
40:35trazer a verdade,
40:36mas também
40:37denunciar
40:38essa forma
40:39de tentativa
40:39de silenciamento,
40:41que é inaceitável,
40:42e o Brasil
40:43não quer isso,
40:44o Brasil,
40:45a sociedade brasileira
40:46sabe o valor
40:47da luta contra a corrupção,
40:48porque já fez isso
40:48avançar
40:49no passado recente.
40:51Só queria lembrar
40:52que o presidente Lula
40:53está prestes a indicar
40:55um novo procurador-geral
40:56da República,
40:57nós temos feito
40:58análise
40:59há anos
40:59de que ele quer
41:01um Augusto Aras
41:01para chamar de seu,
41:03está avaliando
41:03quem pode ser
41:04mais fiel,
41:05entre aspas,
41:06mais leal,
41:07entre aspas,
41:08todas essas palavras
41:09cujos conceitos
41:10são um tanto
41:11vilipendiados
41:12em razão
41:13de outros interesses
41:15que não o público.
41:16E a gente vê
41:17as indicações políticas
41:19feitas para blindagem
41:20pessoal,
41:21eventualmente,
41:22para que
41:23se esmiúse
41:24a tujeira
41:25só dos adversários,
41:27no máximo,
41:27e nós vamos
41:28sempre exercer
41:29aqui a vigilância.
41:31E em relação
41:32a esses ataques,
41:33evidentemente,
41:33cada um responde
41:34por si,
41:35o Bruno responde
41:36por ele,
41:36pela transparência
41:37internacional,
41:37nós respondemos
41:38pelo nosso
41:39jornalismo independente.
41:40A gente sabe
41:41exatamente
41:42o que é
41:42a retaliação
41:44de pessoas
41:45poderosas,
41:46seja do ponto
41:46de vista político,
41:47seja econômico,
41:48que normalmente
41:49são os dois,
41:50porque quem tem
41:50poder político
41:51acaba conseguindo
41:52o poder econômico.
41:54Nós temos
41:55uma ficha imensa
41:57de episódios
41:58para contar
41:58que talvez um dia
41:59sejam costurados
42:01numa grande obra literária
42:03para que as pessoas
42:04tenham dimensão
42:05do que acontece
42:05nos bastidores.
42:07Quer dizer,
42:07são frituras,
42:08são censuras veladas,
42:09são plantações
42:10de notas
42:11na imprensa
42:11para tentar
42:12desqualificar o trabalho
42:13daqueles que incomodam,
42:15daqueles que são
42:16pedra no sapato
42:17do poder,
42:18daqueles que exercem
42:19a sua liberdade
42:20de informação,
42:21crítica e imprensa,
42:22em nome da vigilância
42:23ao poder de turno,
42:24aquilo que não existe
42:25apenas nos regimes
42:27autocráticos,
42:28onde há
42:29todo um esquema
42:30também
42:31de corrupção
42:32transnacional,
42:34como a gente tem visto
42:35envolvendo esses países
42:37que acabam se ajudando
42:38para que as tiranias
42:40se perpetuem.
42:41E é isso
42:42que a gente tenta
42:43evitar no Brasil.
42:44Mas o escular,
42:46o escracho
42:48aqui já é muito grande.
42:50Então,
42:51a gente combate
42:52forças imensas,
42:55muito maiores
42:55do que nós,
42:56mas temos
42:57o nosso público
42:58para referendar
42:59o nosso trabalho
43:00e pedir que a gente
43:01jamais desista.
43:03Graebi,
43:04quer fazer alguma
43:04pergunta final,
43:06consideração,
43:06para encerrar?
43:07A última palavra é sua.
43:09Não,
43:09quero agradecer
43:10só ao Bruno
43:10por ter ajudado
43:12a gente a entender
43:13o significado
43:15desse relatório,
43:17né?
43:18E é o triste cenário
43:19em que a gente está, né?
43:20Infelizmente,
43:22a expectativa
43:23que se formou
43:24no Brasil
43:24de que
43:25a lei de fato
43:27ia começar a valer
43:28para todo mundo,
43:29né?
43:29De que tinha sido
43:30quebrada
43:31essa barreira
43:32que impede
43:33que gente,
43:35que grandes empresários,
43:36que políticos influentes
43:37sejam.
43:38Enfim,
43:39essa expectativa
43:40se frustrou.
43:41Então,
43:42agora tem que
43:43remar de novo,
43:44né?
43:47É isso.
43:47Eu também agradeço.
43:50Bruno, obrigado pela sua participação,
43:51fica à vontade aí
43:52para as suas considerações finais.
43:54Também,
43:55da minha parte,
43:55agradecer muito o convite,
43:57a oportunidade,
43:58né?
43:58De trazer um pouco
43:59da nossa interpretação,
44:00do momento,
44:01do trabalho,
44:02mas trazer também
44:02uma nota de esperança,
44:04né?
44:04A gente já viu isso acontecer
44:06em outros países,
44:08a luta contra a corrupção
44:09é assim,
44:11é um,
44:11infelizmente,
44:12é um stop and go,
44:13é algo que avança,
44:15mas logo tem uma reação,
44:17forte do sistema,
44:19mas aos poucos
44:20é um processo civilizatório,
44:22a gente está do lado
44:23do processo civilizatório,
44:25então a gente tem que continuar,
44:26tem que acreditar
44:27e seguir em frente.
44:29Vamos enfrentando aí
44:30momentos difíceis,
44:31mas outros melhores
44:32virão se nós continuarmos.
44:34Se abandonarmos,
44:35não,
44:35mas se continuarmos,
44:36nós vamos reconstruir
44:37esse combate
44:39à corrupção no Brasil.
44:40Eu acredito muito
44:41e o trabalho de vocês,
44:42jornalistas,
44:43jornalistas investigativos,
44:44se torna ainda mais importante
44:45nesse momento,
44:47junto com o ativismo
44:48anticorrupção.
44:49Então, outra vez,
44:50muito obrigado pela oportunidade,
44:52parabéns pelo trabalho.
44:53Vamos perseverar.
44:55Muito obrigado.
44:55Bruno Brandão,
44:56da Transparência Internacional.
44:57Boa noite,
44:58bom trabalho.
45:15Beleza отредito,
45:27understand each other,
45:27vai depois do trabalho.

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