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O ex-secretário da Fazenda do Rio Grande do Sul, Aod Cunha fala sobre os péssimos sinais dados pela equipe de transição para o governo Lula.

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Transcrição
00:00Muito bem, vamos falar com Aode Cunha, que é doutor em Economia, ex-secretário de Fazenda do Rio Grande do Sul e hoje conselheiro de várias empresas. Aode, bem-vindo, muito obrigado pela disponibilidade do seu tempo.
00:14Obrigado, Cláudio, é um prazer estar aqui no Papo Antagonista com vocês.
00:17É, estamos também com o Rodrigo Oliveira, que é o nosso analista de mercado e jornalista econômico e apresentador do Morning Call, nosso boletim matutino aí de Economia. Bem-vindo, Rodrigo.
00:34Obrigado, Cláudio. Aode, muito prazer.
00:37Maravilha. Aode, já começando aqui com a história da PEC da Transição, eu estou chamando de PEC do Foro de São Paulo, porque eu já ouvi aqui PEC da Argentina, PEC da Venezuela, PEC do Rombo, PEC da Gastança.
00:52Qual a sua avaliação desse texto que foi entregue pela equipe de transição para tramitar e abrir um espaço fiscal, tanto para o pagamento do Bolsa Família, como para auxílios, como farmácia popular, merenda, a própria pagamento de merenda escolar,
01:11que não estavam previstos no orçamento, mas que o governo, o próprio ministro da Economia, o Paulo Guedes, me disse que faria o gasto necessário conforme a evolução da economia e os ajustes que fossem necessários ao longo do próximo ano, caso o governo Bolsonaro fosse reeleito.
01:32Assim como ele fez em alguns outros momentos, especialmente com recursos extraordinários da arrecadação. Mas, enfim, qual a sua análise mais objetiva desse texto e essa manobra que está sendo apontada por muitos analistas para permitir que o governo Lula, já de cara, faça esse rombo fiscal?
01:55Cláudio, eu vejo com preocupação, porque, claro, todos sabem que durante a campanha presidencial foi prometido a manutenção do auxílio emergencial de R$ 600,00, aliás, os dois candidatos, tanto Bolsonaro quanto Lula, prometeram,
02:09e que precisaria se achar espaço no orçamento e que no atual orçamento não havia esse espaço. O que surpreendeu, eu diria, negativamente, do ponto de vista de responsabilidade fiscal,
02:18foi que não só o adicional, mas como todo o valor do antigo Auxílio Brasil, o atual Auxílio Brasil, futuro Bolsa Família, novamente, vai ficar fora do teto de gastos.
02:31Então, a gente não está falando mais sobre R$ 50, R$ 60 bilhões adicional. Nós estamos falando sobre R$ 175 bilhões, ou seja, o que já estava dentro do orçamento dos R$ 400,00, mais esse adicional.
02:43E, com isso, ficando fora do teto de gastos, abre um espaço adicional de mais de R$ 100 bilhões para novos gastos, seja em obras de infraestrutura, o que foi.
02:56Isso não cabe, efetivamente, na atual situação fiscal do Brasil. O Brasil deve ficar aí com um superávit primário depois de, desde 2012, neste ano, mas todos sabemos que, por conta de aumentos temporários de receita,
03:09porque a inflação foi muito alta. E se essa PEC se transformar como está se imaginando, esse superávit vai para um déficit de 2% do PIB, o que é muita coisa numa mudança de um ano para outro só.
03:23Sem contar que há essa discussão de talvez ficar quatro anos fora do teto e muita gente fala já de uma maneira permanente.
03:31Então, o sinal é muito ruim e é um sinal que prejudica a própria ideia de sustentabilidade da política social que o próximo governo quer prometer.
03:41Qual é a grande diferença entre o que foi feito na pandemia, com o orçamento de guerra e todo o recurso fora do orçamento que se precisou implementar,
03:54com as políticas aí de apoio ao enfrentamento da pandemia? Qual é essa grande diferença?
04:00Porque muita gente, os petistas especialmente, os apoiadores do governo, estão usando o exemplo,
04:05ah, mas o Lula, o governo Bolsonaro, o Guedes, estourou em mais de 700 bi ao longo de quatro anos e tal,
04:13e a maior parte desse recurso, a gente sabe, foi o orçamento de guerra aprovado aí pelo Congresso para o enfrentamento da pandemia.
04:20Qual é a grande diferença entre esses gastos e essas implementações?
04:28Eu acho que a maior diferença é que na própria legislação, na lei do teto de gastos, já se previa uma excepcionalidade eventual,
04:37no caso de uma própria pandemia, de uma catástrofe, de ter essa excepcionalização.
04:43Isso foi utilizado, grande parte desses 800 bilhões que se fala, foi utilizado principalmente em 2020,
04:48uma boa outra parte em 2021, realmente, no auge da pandemia.
04:53Mas nós não pudemos levar essa regra de excepcionalização neste nível, no meu entendimento,
05:00para que isso vire rotina.
05:02A gente não pode confundir isso com os programas correntes, habituais, que o governo quer fazer e pode fazer.
05:08Foi um governo democraticamente eleito, na minha opinião, e tem condições de fazer isso.
05:11Mas você precisa mostrar qual é a fonte desses recursos.
05:14Quando você não mostra, e numa situação fiscal que nós já sabemos que é difícil, já seria difícil para esse ano,
05:20independente dessa mudança nesse nível, é o que nós estamos vendo no mercado.
05:25Você vai ver dólar subindo, bolsa caindo, taxas de juros subindo.
05:30E quando as taxas de juros sobem, a própria despesa com juros do governo aumenta.
05:34Isso limita o próprio orçamento do governo para executar políticas sociais.
05:38Então, na minha avaliação, é um erro que pode custar caro para a própria ideia do novo governo
05:44de poder expandir gastos na área social.
05:49Rodrigo.
05:50Aode, eu queria fazer uma pergunta a seguinte.
05:53O André Lara Rezende é um camarada que defende que o juro alto é que causa inflação.
06:02É uma corrente diferente econômica.
06:04Não é a majoritária, mas dentro ali da equipe de transição encontra pontos de contato com outros componentes,
06:12excetuando aí o Pércio Arida.
06:15Você já foi secretário de Finanças.
06:18Você entende esses gastos e receitas do país.
06:21E eu queria saber se caso esse governo realmente aposte nisso que o Lula tem tangenciado aí nos discursos,
06:33que é de colocar o juro para baixo meio que na marra e aí sim gastar com...
06:41Eu não estou falando que não precisa gastar com o social, obviamente.
06:44Mas é aí gastar com o social porque você estaria economizando no pagamento de juros.
06:51Isso faz sentido para você?
06:53Você acha que tem alguma...
06:55Qual a chance disso funcionar, basicamente?
06:59Bom, o André Lara é um economista de ótima formação, trabalhou lá no Plano Real,
07:03mas efetivamente nos últimos anos ele tem se distanciado do ponto de vista de pensamento econômico
07:07de outros pares que trabalharam com a gente, como o próprio Pércio.
07:10É a visão dele, eu acho que é uma visão que não condiz com a evidência que nós vemos,
07:17não só no Brasil, mas em vários países.
07:20O juro na economia, você não consegue baixar na marra, como se diz.
07:25Juros mais baixos existem em qualquer economia quando você tem um ambiente de inflação controlada,
07:32situação fiscal e de endividamento do governo sob controle.
07:36E aí os detentores de dívida pública aceitam pagar uma taxa de juros mais baixa.
07:42Além disso, essa ideia de que o juro pode ir na marra, para baixo,
07:45ela pressupõe, na minha opinião, uma outra ideia perigosa,
07:49que vai inclusive além desse tema de se gastar mais no orçamento,
07:54que é controlar as ações do Banco Central.
07:56Eu acho que um dos avanços importantes que nós tivemos,
07:59das reformas que nós tivemos nos últimos anos,
08:02foi a independência do Banco Central.
08:04Ou seja, o Banco Central tem uma missão de controlar a inflação
08:08e, portanto, se a inflação sai de controle, não tem outro jeito.
08:12Ele precisa subir taxa de juros.
08:13Aliás, é o que está acontecendo no mundo inteiro, na Europa, nos Estados Unidos.
08:17Então, eu acho que, por melhor que sejam as boas intenções aqui,
08:22elas não têm materialidade na realidade.
08:26Taxas de juros mais baixas, nós vamos ter um ambiente de inflação sob controle
08:30e de responsabilidade fiscal.
08:32E isso permite mais investimentos, que a economia cresça mais.
08:35E aí, sim, o próprio governo vai ter mais recursos para executar as suas políticas sociais.
08:40Raul, você acha que é possível...
08:42Desculpa, Cláudio.
08:44Perdão, perdão.
08:45Pode prosseguir, Rodrigo.
08:46Você acha, rapidinho, só mais uma pergunta.
08:50Você acha que é possível...
08:51Eu conversava com um gestor de um grande fundo brasileiro
08:54e ele falava que o Lula responde ao mercado, ele ouve o mercado.
08:59E é o que não está acontecendo.
09:02Você acha que é possível que a gente tenha daqui a um dia, dois,
09:05um passo para trás, ou do Lula, ou de alguém importante na equipe,
09:10para dizer, olha, eu não estou falando que não vai haver responsabilidade fiscal
09:15ou que a gente vai gastar como se não houvesse fim, né?
09:21Você acha que...
09:23É, Rodrigo, eu espero que sim.
09:25Eu estou torcendo, acho que, como todos nós, para o país dar certo.
09:29Nós temos um governo que foi eleito para mais quatro anos.
09:31Eu acho e espero que o pragmatismo, o bom senso de ouvir...
09:38Não é só o mercado, não está falando aqui de Faria Lima.
09:41É ouvir o setor produtivo, ouvir o que as pessoas e quem acompanha
09:49o que já está acontecendo no mundo, o que já aconteceu no Brasil,
09:53estão dizendo.
09:56E o que está se dizendo aqui não é que o governo não pode executar
09:58suas políticas sociais.
09:59Não é que ele não pode, eventualmente, até gastar mais em áreas
10:02que ele pretende fazer isso.
10:04Mas precisa mostrar um plano exequível para isso, né?
10:07Despesas precisam ser financiadas por receitas.
10:10Quando elas não são financiadas dessa forma,
10:13e o déficit cresce muito,
10:15o mercado todo começa a olhar
10:16que a dívida vai sair fora de controle.
10:19E aí o juro corre antes.
10:20O juro começa a subir.
10:22Quando o juro sobe, os investimentos privados começam a parar.
10:26A economia começa a ter mais dificuldade para crescer.
10:28Nós vamos ter menos geração de emprego, menos geração de renda.
10:32Então, o que eu espero é que tanto o presidente Lula
10:36como o seu entorno político passem a ser sensíveis a isso que está ouvindo.
10:40Tem gente que especula que talvez esses movimentos de agora
10:44sejam um teste para tentar extrair o máximo de espaço fiscal,
10:48de espaço no Congresso, na largada,
10:50para não ter que voltar nessas discussões nos próximos anos.
10:53Mas eu, pessoalmente, acho que é uma estratégia ruim,
10:57porque ela desgasta no início,
11:00estressa o mercado de tal forma
11:02que acaba prejudicando o próprio bom início do governo, na minha opinião.
11:06Só para eu encerrar aqui.
11:08Desculpa, Cláudio.
11:09Eu não quero que você encerre, não, Rodrigo.
11:12Eu só não quero perder o fio da meada aqui.
11:14Então, a gente faz um bate-bola e volta em você.
11:16Eu só queria aproveitar esse gancho,
11:19porque a gente está falando de receita.
11:21Como é necessário você ter a fonte de financiamento dessas políticas?
11:28O Guedes havia prometido fazer taxação de grandes fortunas,
11:33que, aliás, é uma pauta de esquerda,
11:36é uma pauta do PT durante muitos anos.
11:37Não vejo o próprio PT nem o Lula falar disso agora.
11:40Mas ele vinha com uma abordagem,
11:43vamos dizer assim, mais de ir ajustando
11:46e ir trocando o pneu do carro com o carro andando,
11:49ir ajustando, afinando o motor com o carro andando.
11:52Então, o que eu quero dizer com isso?
11:54Você teve aí gastos que foram feitos,
11:57que também foram muito criticados,
11:59o uso de receita extraordinária para baixar imposto,
12:01para baixar IPI, para baixar ICMS e tal,
12:04mas que isso, ele argumenta que é, vamos dizer assim,
12:08uma política mais inteligente.
12:10Não tem esse cheque em branco de quatro anos,
12:12como se quer para o Lula.
12:13Você vê ano a ano, vê mês a mês,
12:15vê como é que vai fazendo e vai ajustando isso.
12:18Qual a tua avaliação da abordagem
12:20que foi feita na área econômica pelo governo Bolsonaro
12:24ao longo desses quatro anos?
12:27Tanto agora com o que foi feito na época da campanha,
12:30que foi criticado, foi taxado como uma forma também
12:33de tentar capturar votos dos mais miseráveis,
12:37com o auxílio de R$ 600.
12:39Qual a tua avaliação?
12:41Nós temos aí alguns dados importantes de emprego,
12:44nós temos dados de dívida pública que baixou bastante.
12:49Como é que você vê esse cenário,
12:52se cria um balanço da gestão econômica do governo Bolsonaro
12:57e essa perspectiva, essa proposta que se tinha,
13:02caso o governo fosse reeleito,
13:03para se bancar dentro de certos limites
13:07esses gastos extras do Bolsa Família, por exemplo?
13:12Bom, eu acho que a gente precisa considerar o contexto aqui.
13:15É um contexto onde nós tivemos uma pandemia global.
13:19Essa pandemia, ela, de um lado,
13:22pressionou o governo para gastar mais,
13:24tinha que se gastar mesmo,
13:25porque nós tivemos uma interrupção de produção,
13:28geração de emprego, renda.
13:30Isso estava previsto, como nós já falamos,
13:31dentro do próprio teto de gastos.
13:32Por outro lado, nós tivemos inflação bem alta no Brasil,
13:37como não se tinha há muito tempo.
13:38Essa inflação aumentou as receitas governamentais,
13:41do governo federal e estados,
13:42e isso ajudou no equilíbrio das contas.
13:44Eu acho que houve um merda nessa situação
13:47de controlar também a despesa com funcionalismo,
13:49que não consegue se controlar para sempre,
13:51mas o fato é que neste ano, com tudo isso,
13:54com essas condicionalidades,
13:56o Brasil vai conseguir um superávit primário
13:59pela primeira vez, desde 2012.
14:01relativamente apertado,
14:03porque tinham todas essas próprias promessas,
14:06o próprio governo Bolsonaro fez promessas
14:07para o próximo ano,
14:09mas nós vamos chegar com o superávit primário,
14:11o mercado de trabalho estava melhorando sim,
14:14continua melhorando,
14:15nós temos uma recuperação boa da taxa de desemprego,
14:19e durante os últimos anos,
14:22teve sim vários subterfúgios para ir burlando
14:25a regra do teto,
14:26teve a questão do postergamento de precatórios,
14:29mas, dentro de certo sentido,
14:32a gente tem uma situação hoje,
14:34que eu digo que permite um ajuste melhor,
14:38um ajuste melhor.
14:40Mesmo o governo tendo que gastar um pouco mais,
14:42ele pode fazer isso sob certo controle,
14:45porque a gente não pode perder o controle de uma maneira total.
14:48E nesse ponto, eu acho que tem o seguinte,
14:51a gente precisa no Brasil, de uma vez por todas,
14:54começar a olhar para os gastos públicos,
14:56para os programas sociais, de uma maneira mais eficiente,
14:59mais organizada,
15:00a gente precisa ter avaliação,
15:01porque senão, essa conta nunca vai fechar.
15:04A gente tem essa cultura aqui no Brasil,
15:05de achar que simplesmente mais dinheiro
15:08vai trazer melhores resultados,
15:10na educação, na saúde, segurança,
15:11e nem sempre é assim.
15:13E essa conta não fecha,
15:14a gente está numa elevação contínua de gasto público
15:16e de carga tributária.
15:18O Brasil tem 33, 34% de carga tributária,
15:20para um país de renda média, média baixa,
15:23é muito alta.
15:24E aí, neste ponto,
15:25eu tenho uma divergência da forma
15:27como o governo foi encaminhando,
15:28talvez por falta de base de sustentação política,
15:31que é nós precisamos avançar para uma reforma tributária.
15:34O Brasil tem um conjunto de desonerações fiscais,
15:37de incentivos,
15:38só no orçamento da União,
15:39de mais de 300 bilhões de reais.
15:42Ele faz esse manuseio,
15:44esse ano a ano,
15:45mas nós precisamos evoluir
15:47para uma reforma tributária mais ampla.
15:50Eu acho que esse deveria ser um objetivo
15:51do novo Congresso,
15:52do novo governo.
15:54Nós precisamos definir o seguinte,
15:55que tamanho de Estado nós queremos?
15:57Eu prefiro,
15:59acho que o tamanho do Estado do Brasil
16:00está ficando muito grande e muito caro,
16:02porque ele entrega
16:03e para o tamanho da renda do Brasil.
16:05Mas eu respeito
16:06as escolhas e as eleições.
16:08Se a escolha é para um Estado maior,
16:10o que ele não pode é não caber nele.
16:12Ele precisa ser financiado
16:13de receitas de forma compatível.
16:16Senão nós temos déficit,
16:17taxa de juros alto,
16:18volta à inflação
16:18e aí não consegue se entregar nada.
16:20E é o que não se ouve do PT
16:23nessa transição
16:24é enxugamento da máquina,
16:26corte de gasto.
16:27Aí eu já passo a bola para você, Rodrigo.
16:30Eu só queria falar dos 100 bi,
16:31porque muita gente não está enxergando
16:33que quando você tira do teto
16:35o Bolsa Família e o Auxílio Brasil,
16:39você tira não só o extra dos 200 reais,
16:42mas você tira os 400 reais
16:45que estavam dentro do orçamento,
16:46que equivalem a 105 bi,
16:48você abre um espaço orçamentário
16:50que vai ser utilizado pelo governo
16:52para se gastar em quê?
16:54Eles já querem o quê?
16:55Já querem já no primeiro ano
16:56dar reajuste para todo mundo,
16:58querem fazer obra por todo o país.
17:01Quer dizer, é muito dinheiro.
17:03100 bi é muita grana.
17:05E é um dinheiro que não está...
17:07Ele não está...
17:10Não há indicação da destinação dele.
17:14Ele abre-se esse espaço,
17:16mas não se diz...
17:18Olha, nós vamos usar esse recurso aqui
17:20para XYZ programas.
17:25Eu acho que é exatamente isso, Cláudio.
17:28E aqui você tocou num ponto muito importante.
17:30Eu acho que esse é um momento
17:30quando está se discutindo a PEC,
17:32muito relevante.
17:32Inclusive, eu escuto de vez em quando
17:34dizer assim,
17:34poxa, mas estão criticando,
17:36estão fazendo oposição
17:37a um governo que nem começou.
17:38É justamente o contrário.
17:40É que se você errar agora,
17:42neste tamanho,
17:44nesta largada,
17:45não adianta você depois fazer
17:47uma regra fiscal
17:47que não vai parar de pé.
17:49Você falar em limite de controle
17:50da dívida,
17:51botar um superávit primário,
17:52onde você já se comprometeu,
17:54a priori,
17:55com o tamanho de gasto
17:56que você não consegue financiar.
17:58Eu tenho insistido nesse ponto.
18:00Eu acho que o Brasil
18:01precisa avançar num programa
18:02como tem na Inglaterra,
18:03por exemplo,
18:03que a gente chama
18:04de spending review,
18:05que é de revisão constante
18:06dos programas.
18:07O Chile, aqui na América do Sul,
18:09é um bom exemplo.
18:10Fez com o Banco Mundial
18:11e tem uma carga tributária
18:12bem menor do que o Brasil.
18:14Então, assim,
18:15nós precisamos compreender
18:18que só anunciar
18:21que mais despesas públicas,
18:23mesmo na área social,
18:24mesmo que meritórias,
18:25elas não necessariamente
18:28vão se transformar
18:29em melhoria das condições
18:30de vida das pessoas
18:31se não forem feitas
18:32no ambiente
18:32de responsabilidade,
18:34de prudência
18:34do ponto de vista fiscal.
18:37Aude,
18:37você é uma pessoa
18:39que já passou pelo mercado,
18:41de certa forma,
18:43e também pela vida pública,
18:45foi secretário de Finanças
18:46lá no Rio Grande do Sul.
18:47Pelo que você tem visto
18:51até agora,
18:51a gente devia esperar
18:53uma continuação lá
18:55do primeiro mandato do Lula
18:57ou uma continuação
19:00do segundo mandato da Dilma?
19:03Eu vou continuar
19:04no terreno otimista
19:05e esperando, né,
19:07que fosse do primeiro,
19:09do início do primeiro mandato,
19:10onde você tinha
19:12Henrique Meirelles,
19:14Marcos Lisboa
19:15na Secretaria de Política Econômica,
19:17Joaquim Levina,
19:17na Secretaria do Tesouro Nacional,
19:19micro-reformas importantes.
19:22E eu acho que é,
19:23eu vou dizer o seguinte,
19:25é mais importante ainda
19:27para o próprio governo,
19:29para o próprio presidente Lula
19:30fazer isso, né,
19:32ter esta boa dose
19:33de racionalidade,
19:34não é agradar o mercado, né,
19:36é dar condições efetivas
19:38de estabilidade macroeconômica,
19:41de um ambiente pró-reformas
19:42para que a economia cresça mais.
19:44É mais importante ainda
19:45isso agora do que em 2002,
19:462003.
19:472002, 2003,
19:48a China crescia 12%,
19:50não existe mais isso, né,
19:51nós temos uma China lá
19:52crescendo algo como 3%,
19:54o mundo estava numa fase
19:56de elevado crescimento
19:58com boom de commodities,
19:59nós vamos ter no próximo ano
20:01um mundo que está ali
20:02próximo da recessão,
20:03com desaceleração econômica forte.
20:05Então, as condições são outras.
20:08É muito mais importante hoje
20:10ter uma boa política econômica,
20:13uma boa equipe econômica
20:14e bastante prudência
20:16e responsabilidade
20:16na área fiscal.
20:17A gente percebe,
20:21quando você coloca em perspectiva
20:23em relação a outras economias
20:24do mundo,
20:25a gente percebe
20:26um frequente uso
20:28ou uma manipulação
20:30dessas comparações.
20:31porque nos Estados Unidos
20:33a relação dívida-PIB
20:35é muito maior,
20:37então aqui a gente
20:37também tem espaço,
20:38por que não a gente
20:39gastar,
20:40daqui a pouco vamos
20:41imprimir dinheiro,
20:43o que importa
20:43é atender ao social.
20:45E você já tem
20:46um presidente eleito
20:47que parece que realmente
20:49comprou uma guerra
20:50com o mercado
20:51e que também
20:53acaba manipulando
20:54a narrativa nesse sentido.
20:55Olha,
20:57o que eu te peço aqui?
20:59Quais são as consequências
21:00concretas
21:00que nós podemos ter
21:01nos próximos meses
21:03em termos
21:05de economia real,
21:07do dia a dia
21:10das pessoas?
21:11Eu acho que
21:12passa ao largo,
21:14quem não está
21:15dentro do mercado
21:17ou dentro da política
21:18não entende muito bem
21:19que tipo de consequência
21:21essa discussão toda
21:22pode ter na sua vida,
21:23no seu dia a dia.
21:25que consequências
21:26são essas
21:27se a gente continuar
21:28nesse rumo,
21:29considerando a PEC
21:29do jeito que está,
21:30considerando o discurso
21:31do Lula
21:31do jeito que está?
21:33Bom, Cláudio,
21:34você fez uma menção
21:35inicial que é importante,
21:36que é o seguinte,
21:36não dá para comparar
21:37o Brasil com países
21:39como Estados Unidos,
21:40Europa,
21:40que tem outro nível
21:41de riqueza,
21:42tem renda per capita
21:43de 60,
21:4470 mil dólares,
21:45e tem o histórico
21:47anterior sempre
21:49de repagamento
21:50de dívida,
21:50a dívida sobe,
21:51mas depois ela cai,
21:52então essa é a nossa história.
21:53E é por isso
21:55que o Brasil não pode,
21:56o Brasil já tem
21:57uma dívida significativamente
21:59maior do que a média
22:00dos emergentes,
22:01a gente está falando
22:02num patamar aí
22:03acima de 60%
22:04da milíquida
22:05contra 50 e poucos
22:06da média,
22:07já é alto,
22:08e se nós continuarmos
22:09a projetar um crescimento
22:10grande da dívida,
22:11se a gente for falar
22:11de dívida bruta,
22:12dependendo dessa PEC,
22:13ela pode nos próximos anos
22:14passar de 100% até,
22:16o que vai acontecer?
22:17E já está um pouco
22:18acontecendo quando se
22:19sinaliza isso.
22:20a taxa de juros
22:21começa a subir,
22:22não é a taxa de juros
22:23para um ano,
22:24para cinco anos,
22:24para dez anos,
22:25para quinze anos,
22:26é aquela taxa de juros
22:27que quando, por exemplo,
22:27as empresas vão
22:28captar recursos
22:30para decidir
22:30se vão fazer
22:31mais uma fábrica,
22:32se vão expandir
22:33os seus negócios,
22:34se vão contratar
22:35mais pessoas,
22:35elas param,
22:36opa, está muito alta
22:37essa taxa de juros,
22:38eu não vou fazer isso.
22:39Quando elas fazem isso,
22:40tem menos empregos
22:41que estão sendo gerados,
22:43os empregos passam a ser
22:44de renda mais baixa,
22:46ao mesmo tempo,
22:48o dólar passa a ser
22:50pressionado,
22:50o Brasil importa,
22:52tem importações,
22:53tem custos que estão
22:54atrelados a essas importações
22:55e ao próprio dólar,
22:56com isso a inflação
22:57também sobe.
22:58Quando a inflação sobe,
23:00quem é mais afetado
23:01é o trabalhador
23:02de baixa renda,
23:03aquele que recebe menos.
23:05Quem tem recursos
23:06e tem condições
23:07de estar aplicando
23:07esses recursos
23:08em taxa de juros,
23:09em poupança,
23:09nos bancos,
23:10é quem é menos afetado.
23:12Então é um contracenso
23:13quando se fala que isso,
23:14se pedir responsabilidade fiscal,
23:15está querendo se agradar
23:16a Faria Lima,
23:17o mercado financeiro.
23:18Não, é o contrário.
23:19É uma preocupação
23:20com aqueles que vão ser
23:20mais atingidos
23:21por inflação alta
23:23e menos geração de emprego.
23:26Muito bem.
23:26Rodrigo, tem mais algum
23:27questionamento?
23:28Não, por mim está ótimo.
23:29Estou satisfeito também.
23:30Muito obrigado,
23:31Aode Cunha,
23:32obrigado aqui pela participação.
23:34O programa permanece
23:35aberto para futuras
23:36colaborações
23:37e elas serão necessárias.
23:40Obrigado,
23:40Cláudio,
23:41Rodrigo,
23:41até a próxima.
23:43Tchau.
23:43Obrigado,
23:44Rodrigo,
23:44obrigado.
23:45Muito bem,
23:48obrigado aí pela audiência.
23:50Obrigado.
23:51Obrigado.
23:52Obrigado.
23:52Obrigado.

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