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00:00O voo 123 da Japan Airlines cai em uma montanha, matando 520 pessoas.
00:11É o acidente mais letal da história envolvendo uma única aeronave.
00:16Estávamos no meio de uma carnificina e eu fico arrepiado de lembrar.
00:21Os investigadores suspeitam imediatamente de terrorismo.
00:24Acham que foi uma bomba, pelo menos é o que estão suspeitando.
00:27Mas os destroços contam uma outra história.
00:30Sem danos por fogo, nem por estilhaços.
00:33E o que eles acabam descobrindo?
00:35Era a única coisa segurando os dois lados juntos.
00:38Ameaça um dos modelos de jatos comerciais mais populares do planeta.
00:42O 747.
00:45Achamos que podíamos ter uma falha estrutural naquele modelo.
00:48Isso nos preocupou.
01:00Especial de Mayday, desastres aéreos.
01:12Esta é uma história real.
01:13Se baseia em relatórios oficiais e relatos de testemunhas.
01:17São 6h10 da tarde, no aeroporto Haneda, em Tóquio.
01:22E o voo 123 da Japan Airlines está pronto para partir.
01:25Ligando o motor número 1.
01:32No lado esquerdo do cockpit, estava o copiloto de 39 anos, Yutaka Sasaki.
01:37Treinando para se tornar um capitão de 747.
01:41Eu cuido do rádio e você pilota.
01:43O capitão era Masami Takahama.
01:47Um ex-piloto da aeronáutica que ingressara na Japan Airlines 20 anos antes.
01:53O plano de voo exige uma saída à direita.
01:57Torre Haneda, Japan Air 123, solicitando o taxiamento Charlie 7.
02:04Obrigado, senhor.
02:05O voo estava lotado, com 509 passageiros a bordo.
02:17Era o início do Festival Obon.
02:20O Obon é um evento budista que diz respeito aos espíritos dos nossos ancestrais.
02:28E ele acontece em todo o verão.
02:31Quando as pessoas voltam então para suas cidades natais,
02:34para poderem celebrá-lo junto de suas famílias.
02:40Yumi Uchi-ai, de 26 anos, era uma comissária de bordo de folga.
02:44Ai, é tão bom descansar um pouco no feriado.
02:50A Yumi Uchi-ai era como muitas jovens japonesas.
02:54Ela queria ver o mundo.
02:56E trabalhar para uma companhia aérea poderia lhe permitir fazer isso.
03:04V-1.
03:10Subir.
03:1130 minutos antes do pôr do sol, o voo 1-2-3 levanta a voo.
03:18Subindo.
03:20Trim de pouso.
03:20Muito bem.
03:28O voo 1-2-3 é apenas um de dezenas de aviões 747 cheio de passageiros por todo o Japão.
03:34Até hoje, o 747 é o avião a jato mais emblemático já construído.
03:42Quando ele foi lançado nos anos 70, ele era de longe o maior avião comercial que existia.
03:48E todo mundo queria pilotar esse avião.
03:51Para atender a demanda crescente por viagens mais baratas no Japão,
03:55a Boeing projetou o 747-SR, uma versão especial do jato junto.
04:02E esse modelo específico, o 747-SR, era uma variante incomum,
04:06porque tinha sido projetado para operações de alta densidade e viagens curtas.
04:11O ministro dos transportes estava no último voo.
04:16Espero que ele tenha gostado do voo.
04:19Auxiliando naquele voo, estava o engenheiro Hiroshi Fukuda.
04:23Ele voava em 747s desde que haviam sido introduzidos na Japan Airlines nos anos 70.
04:31Esses primeiros 747s precisavam de três pilotos,
04:34o terceiro sendo um engenheiro de voo,
04:36que ficava atrás do capitão e do copiloto,
04:39controlando os sistemas e subsistemas do avião,
04:41que mais tarde acabaram sendo consolidados nos aviões de dois pilotos
04:44mais computadorizados que temos hoje.
04:47Estamos a 10 mil pés.
04:49Nível de voo 240 selecionado.
04:56Era uma viagem de uma hora de Tóquio até Osaka,
04:59uma das rotas domésticas mais movimentadas do Japão.
05:07Onze minutos após a decolagem,
05:09o Japan Airlines 123 se aproxima de sua altitude de cruzeiro.
05:13Certo, mais mil pés e poderemos nivelar.
05:19Sim, senhor.
05:20Ao se aproximar de 24 mil pés,
05:23a tripulação se acomoda para o que espera ser um voo tranquilo.
05:26Se um avião é deslocado de repente por algum tipo de força súbita,
05:36o piloto automático pode acabar desligando sozinho.
05:40E daí os pilotos têm que assumir o controle e pilotar o avião manualmente de novo.
05:45Alguma coisa explodiu?
05:46Vou transmitir 7700.
05:50Colocar 7700 no transponder é um modo de transmitir que estão em uma situação de emergência.
05:57Foi a porta do trem de pouso?
05:59Verificando.
06:00E quanto aos motores?
06:02Os motores estão ok.
06:05Quando alguma coisa incomum ou repentina acontece,
06:07os pilotos são treinados para parar,
06:10analisar e avaliar a situação antes de simplesmente sair reagindo.
06:14Olha só isso.
06:1716 segundos após a explosão,
06:20os pilotos percebem que a área dos passageiros está perdendo pressão.
06:24Se um avião acaba despressurizando a qualquer atitude acima de 20 mil e poucos pés,
06:29você de repente acaba ficando sem oxigênio.
06:32Coloquem as máscaras de oxigênio e apertem os cintos.
06:35Estamos prestes a fazer uma descida de emergência.
06:37As máscaras de emergência fornecem apenas 15 minutos de oxigênio.
06:40Apenas o suficiente para uma descida de emergência até abaixo de 10 mil pés.
06:47Alguma coisa explodiu.
06:51Para a direita.
06:53Para a direita.
06:56Tóquio, Japão A123.
06:58Estamos com problemas.
07:01Solicitando retorno para Raneda.
07:03Descendo e mantendo 2-20 câmbio.
07:06Entendido.
07:07A direita em 0-9-0.
07:10Os pilotos tentam uma curva fechada para voltar até o aeroporto de Raneda.
07:15Agora a mais de 110 quilômetros de distância.
07:18Não role tanto.
07:22Certo.
07:24A porta R-5 está quebrada.
07:26Fazendo uma descida de emergência.
07:29Não role tanto.
07:32Pressão hidráulica caindo.
07:34Enquanto tentam determinar por que a área dos passageiros havia despressurizado,
07:39os pilotos se deparam com um problema ainda maior.
07:41O sistema hidráulico.
07:42Sem a pressão hidráulica é muito difícil conseguir mover as superfícies de controle
07:52do avião.
07:58Não role tanto.
07:59Está no manual.
08:01A redução da pressão hidráulica torna difícil para o copiloto conseguir parar aquela
08:06curva fechada e perigosa à direita.
08:09Vira de volta.
08:11Isso não está virando.
08:12Estamos sem o sistema hidráulico.
08:20Ninguém naquele cockpit nunca tinha visto uma falha completa no sistema hidráulico.
08:25E eles não tinham um checklist, nenhum procedimento para lidar com aquilo.
08:33Descendo.
08:34Os pilotos não têm certeza se os controles estão sequer funcionando.
08:39O que está acontecendo?
08:42Ele não está voltando para a Haneda.
08:48Os controladores ficam confusos pela trajetória instável do voo 123.
08:54Por que não estão descendo?
08:57Japan Air 123.
08:58Confirme que declararam uma emergência.
09:01Afirmativo.
09:02Solicito.
09:03Solicito a natureza da emergência.
09:05Sem controle.
09:06Sem controle.
09:07Certo.
09:08Entendido.
09:13Use toda a sua força.
09:14Se você perde o controle da inclinação e da elevação, o avião acaba entrando em uma série de subidas e descidas que ficam oscilando uma fugóide.
09:25O avião inclina para cima até perder velocidade e daí ele acaba mergulhando.
09:30E com um impulso, a velocidade e as asas gerando mais sustentação, o avião começa a subir novamente.
09:39Os pilotos tentam usar a potência do motor para virar a aeronave em direção à Haneda.
09:44Aumentando a potência do lado esquerdo, o avião acaba virando para a direita.
09:49E aumentando a potência do lado direito, o avião vira para a esquerda.
09:58E funciona.
10:00O 747 começa a virar para a direita aos poucos.
10:04Estamos prestes a realizar uma descida de emergência.
10:08Coloquem suas máscaras de oxigênio e aparecem os cintos.
10:09Não se preocupe, os pilotos estão voltando e logo estaremos em Haneda, tá bom?
10:13Coloquem suas máscaras de oxigênio e apertem os cintos.
10:17Ainda a 22 mil pés de altitude, o capitão começa a ver Haneda a 130 quilômetros no horizonte.
10:24Você aguenta?
10:26E a tripulação pensou, vamos levar esse avião de volta para Haneda.
10:31E por que Haneda e não um outro lugar mais perto?
10:33Porque eles já conheciam Haneda.
10:35E Haneda está próximo.
10:37Mas o comportamento instável do avião está piorando.
10:40E os pilotos estão no seu limite.
10:43Coloquem suas máscaras de oxigênio e apertem os cintos.
10:50Na área dos passageiros, as máscaras estão ficando sem oxigênio.
10:54Coloquem suas máscaras de oxigênio e apertem os cintos.
10:57Realizando descida de emergência.
10:59Eu não sei o que está acontecendo.
11:08Por 14 minutos, a tripulação do Japan Airlines 123 luta para tentar controlar o 747.
11:16Eles não conseguem fazer o avião descer.
11:18Abaixar o trem de pouso, colocar todo aquele equipamento direto na corrente de ar, reduz a velocidade do avião, aumentando consideravelmente a quantidade de arraste, ajudando o avião a descer.
11:35Não vai.
11:36O trem de pouso não está descendo.
11:40Vamos tentar o alternativo.
11:42Em uma situação de emergência, como uma falha hidráulica, a tripulação pode baixar o trem de pouso usando a gravidade.
11:51Contudo, depois de baixado, ele não pode mais ser guardado novamente.
11:57Mais baixo!
11:59Sim!
11:59Sim!
12:01Trem de pouso baixando.
12:03Eles estavam tentando manobras desesperadas, tentando achar a configuração certa para estabilizar o avião o melhor que podiam.
12:15Mantenham o nariz para baixo.
12:17Sim!
12:21Com o trem de pouso abaixado, o avião começa a desacelerar.
12:25Estamos descendo agora.
12:28Após o início do incidente, o Japan Airlines 123 finalmente começa a perder altitude.
12:33O plano havia dado certo.
12:37Ainda não era o que eu chamaria de um voo controlado, mas estava em uma condição mais firme do que antes e agora descendo para altitudes em que os passageiros conseguiriam respirar novamente.
12:51Mantenha assim.
12:56Estamos subindo o lago Sagami.
12:58Pouco à frente, os pilotos veem as luzes familiares de Tóquio.
13:02Mas o otimismo do capitão desaparece quando o avião começa, de repente, a tombar para a esquerda.
13:09Não vai dar certo.
13:15Abaixa mais o nariz.
13:19Solicitando vetores de radar até Raneida.
13:21Certo, entendido.
13:22Então continue até 090 para a pista de pouso 22.
13:26Nossa!
13:27Quando o avião chega abaixo dos 10 mil pés, a situação piora.
13:34Estamos sem controle de novo.
13:36Cuidado com a montanha!
13:39Então, de repente, o avião começa a descer com muita velocidade diretamente até as montanhas.
13:46O Japan Airlines 123 estava voando para longe do aeroporto Raneida.
13:50E diretamente em direção ao terreno alto, ao norte do Monte Fuji.
13:54Para a direita!
14:05Ou vamos bater nas montanhas!
14:06Eu sei!
14:08Nove minutos depois de abaixar o trem de pouso, o avião já desceu 4.500 metros.
14:22Onde eles estão?
14:24O voo 123 estava abaixo da altura dos picos das montanhas.
14:31Fora do alcance do radar de Tóquio.
14:41Potência máxima!
14:46Incrivelmente, os pilotos conseguem reverter o drástico mergulho.
14:50O avião começa a subir muito abruptamente, ao ponto deles agora estarem preocupados com o avião sofrer um stall no topo daquela subida.
15:11Quando a velocidade aerodinâmica reduz até 108 nós, o stick shaker é ativado.
15:21Diminui a potência!
15:24Não dá!
15:26Stoll!
15:27O avião reduziu até 108 nós.
15:30Que é bem além da margem de Stoll para um 747.
15:33E como eles não caíram do céu ali mesmo, eu não sei dizer.
15:39Estamos perdendo altitude!
15:41Sobre o nariz!
15:43A tripulação está exausta.
15:45Eles estão tentando a 25 minutos retomar o controle do avião enquanto voam para longe do aeroporto Haneda.
15:51Flaps!
15:53O copiloto sugeriu o uso dos flaps, que poderiam ajudar a estabilizar o avião e permitir que voassem a uma velocidade menor sem o risco de Stoll.
16:03Estender os flaps!
16:04Estendendo os flaps!
16:06Mas como o acionamento hidráulico normal estava obviamente indisponível, quando os flaps são acionados eletricamente, eles saem muito, mas muito mais devagar.
16:15Por mais de um minuto, o voo 123 quase voa normalmente.
16:29Para a esquerda!
16:31Quando os pilotos tentam virar para a esquerda de volta para Haneda, o avião tomba para a direita.
16:38Japan Air, 123, solicitando posição.
16:41A sua posição é 72 quilômetros a noroeste de Haneda.
16:44Sem que os pilotos soubessem, os flaps em cada asa estavam se estendendo em velocidades diferentes.
16:50O que aconteceu foi que os flaps do lado esquerdo desceram antes que os flaps do lado direito.
16:55O que fez com que a asa esquerda ficasse com mais sustentação, que acabou tombando o avião para a direita.
17:02O nariz!
17:04Os flaps desnivelados pioram a situação.
17:07O nariz!
17:09A apenas 4 mil pés do solo, o Japan Airlines 123 está caindo rápido.
17:13Descendo a 1.500 pés por minuto.
17:19Levanta o nariz!
17:21Levanta o nariz!
17:23Em breve, faremos um pouso de emergência.
17:27Os pilotos usam toda a sua força para retomar o controle.
17:32Eu não sei quanto mais eu vou aguentar.
17:35Mas nada funciona.
17:37Flaps, para cima!
17:38Para cima!
17:39Flaps, para cima!
17:40Flaps, para cima!
17:43Flaps, para cima!
17:46Flaps, para cima!
17:47Levanta o nariz!
17:48Flaps, para cima!
17:49Potência!
17:52Não sei!
17:54Flaps, para cima!
17:57O voo 123 da Japan Airlines caiu em uma montanha em uma região remota, ao noroeste de Tóquio.
18:17Quando os socorristas chegaram no local do acidente na manhã seguinte, eles encontraram devastação.
18:24Apenas a asa esquerda e a parte traseira da aeronave estavam reconhecíveis.
18:33Enquanto examinavam a parte da cauda, os socorristas fazem uma descoberta incrível.
18:41Quatro pessoas sobreviveram.
18:44Sobreviver à queda e ter conseguido sobreviver às 15 horas seguintes debaixo dos destroços, no meio das montanhas, eu não sei como, mas conseguiram.
18:51520 pessoas morreram.
18:56É o acidente mais letal da história envolvendo uma única aeronave.
19:01A Comissão de Investigação de Acidentes Aéreos do Japão, ou AAIC, logo recebe especialistas da NTSB e da Boeing.
19:09Nós estávamos no meio de uma carnificina terrível, e os... familiares já tinham ido até a montanha e haviam construído pequenos altares.
19:21Eu fico arrepiado só de lembrar.
19:24Uma das sobreviventes é Yumi Otiai, uma comissária que estava de folga.
19:33Ela consegue falar?
19:35Apesar de ferida, Yumi consegue falar com os investigadores.
19:40Yumi, você pode me contar do que se lembra?
19:41A gente estava subindo quando alguma coisa explodiu atrás de mim.
19:48Os investigadores descobrem que 12 minutos após a decolagem, sob a baía de Sagami, houve uma explosão.
19:55O relato da sobrevivente dá aos investigadores a sua primeira pista.
20:05Depois de escutar o som daquela explosão, a senhorita Otiai viu uma fumaça muito branca enchendo toda a área de passageiros.
20:14E aquela fumaça bem branca deve ter sido resultado de uma descompressão súbita decorrente de uma...
20:21de uma ruptura ocorrida na fuselagem.
20:26Imediatamente após a descompressão, a comissária descreve ter visto um buraco na fuselagem.
20:35Obrigado.
20:43Com base no relato da sobrevivente, os investigadores ficam desconfiados.
20:50Acham que foi uma bomba. Pelo menos é o que estão suspeitando.
20:55E o Japão já estava em alerta máximo.
20:59Dois meses antes do acidente, uma bomba havia sido detonada no aeroporto Narita.
21:05No mesmo dia em que um outro 747 da Air India havia caído perto da costa da Irlanda.
21:11Havia então essa preocupação, internacionalmente e no Japão, de que havia um grupo terrorista tentando derrubar aviões.
21:21Vamos pensar também em outra possibilidade.
21:23Ainda que haja suspeita de bomba, ainda é especulação.
21:28O 747 era um dos aviões mais populares em funcionamento na época.
21:33E nós ficamos preocupados de que se fosse outra coisa, que poderia derrubar outros aviões.
21:37Depois de enviar as caixas pretas para serem analisadas, os investigadores examinam os destroços em um hangar.
21:49Vamos procurar resíduos de explosivos.
21:51Para conseguir reconstruir os últimos 30 minutos do voo, eles usam o radar.
22:21Quase 24 mil pés acima da Baía de Sagami.
22:24É.
22:26Enquanto tentam descobrir como e onde o incidente havia começado, eles fazem uma descoberta.
22:32Olha.
22:34É o nosso avião.
22:36Uma testemunha no chão havia tirado uma foto do avião durante o incidente.
22:42Está sem uma parte da cauda.
22:44Praticamente sem o estabilizador vertical.
22:45Uma aeronave daquele tamanho, perdendo um estabilizador vertical, era uma coisa que nunca havia acontecido antes.
22:54O avião tinha perdido a maior parte da sua cauda.
22:57E faz sentido que os investigadores tenham focado na possibilidade de uma explosão, de uma bomba.
23:03Uma cauda faltando.
23:05E aí o meu chai diz que tinha um buraco atrás dela.
23:09Faz sentido.
23:10Mas precisamos da cauda.
23:17No dia seguinte da queda do voo 123 da Japan Airlines, parte da cauda é encontrada flutuando na Baía de Sagami, ao sul de Tóquio.
23:26O que você acha?
23:33Os investigadores examinam a cauda, procurando por sinais que pudessem indicar uma bomba.
23:39Sem danos por fogo.
23:42Nem por estilhaços.
23:44Mas não foi isso o que encontraram.
23:47E nada ali se parecia com uma explosão de bomba.
23:50Existem vários tipos de sinais e eu não vi nenhum.
23:53Mas até que recebam os resultados das amostras, eles ainda não podem descartar a possibilidade.
24:03Você foi o controlador do Japan Air 123, correto?
24:06Correto.
24:08Os investigadores falam com o controlador que esteve em contato com a tripulação por 32 minutos.
24:13Os pilotos falaram o que tinha acontecido com o avião?
24:16Desde o começo, disseram que estavam sem o controle.
24:21E falaram por quê?
24:22Não.
24:23Mas mencionaram para o despachante alguma coisa sobre uma porta danificada.
24:33A porta R-5 está quebrada, fazendo uma descida de emergência.
24:40Ok.
24:41Muito obrigado.
24:42O piloto relatou que a porta poderia ter saído e estavam preocupados que se a porta tivesse saído, isso poderia ter danificado o avião.
24:51A porta traseira fica aqui, atrás da sobrevivente.
24:58Talvez esse tenha sido o buraco que ela descreveu.
25:02Isso explicaria a despressurização.
25:03E havia um precedente.
25:06Em 1974, a porta de carga de um DC-10 da Turkish Airlines tinha explodido, causando uma despressurização instantânea e falhas na porta da área dos passageiros, resultando na perda dos controles de voo.
25:21E uma porta é grande, então poderia mesmo danificar a cauda.
25:29Mas o bastante para arrancar ela do avião?
25:32Dias após o acidente, a porta traseira direita é encontrada.
25:49Parece que a porta estava trancada.
25:52E foi encontrada com o resto dos destroços.
25:55Então não caiu durante o voo.
26:02Era uma boa teoria.
26:08Era.
26:11Está faltando alguma coisa.
26:24E voltamos à estaca zero.
26:26Nenhum vestígio de explosivo encontrado na amostra.
26:34O voo 123 não havia sido derrubado por uma bomba.
26:39Bom, mas uma coisa é certa.
26:42Alguma coisa aconteceu na parte de trás.
26:44Teria sido um problema estrutural?
26:46Ou quem sabe, um problema de design?
26:49Ou um que poderia acabar afetando outros aviões 747?
26:52Precisávamos de uma resposta para isso e rápido.
26:57Precisamos remontar a cauda.
27:03Enquanto os investigadores focavam na traseira do avião,
27:06o governo japonês ordenou inspeções nas caudas de todos os 747 do país.
27:11E ao redor do mundo, a segurança do 747 foi posta em questão.
27:18Os europeus e os britânicos quiseram tirar o 747 de circulação
27:23e isso teria tido um terrível impacto econômico nos Estados Unidos.
27:28Então, da primeira ligação de emergência até o acidente, foram quase 32 minutos.
27:39A equipe escuta a gravação do cockpit atrás de pistas.
27:44Pode tocar.
27:48Que rápido.
27:49Obrigada.
27:52Nada demais, só uma comissária falando alguma coisa no interfone.
27:54Nossa!
28:04Alguma coisa explodiu?
28:08Nós sabemos que não foi uma bomba.
28:10Mas você ouviu isso?
28:12Deixa eu voltar.
28:20É, ouvi.
28:22Foram duas explosões.
28:24Não sabíamos o que o boom, boom, era quando escutamos aquela gravação.
28:30Tá.
28:31Vamos supor que a primeira explosão foi uma descompressão
28:34num lugar atrás da ilme.
28:37Tá aí a segunda.
28:39Vamos ouvir mais.
28:42Não role tanto.
28:43Está no manual.
28:46Vira de volta.
28:47Isso não está virando.
28:49Estamos sem o sistema hidráulico.
28:56O 747 tem quatro sistemas hidráulicos.
29:00Eles controlam o leme, o profundor, os ailerons, os flaps e o trem de pouso.
29:06E sem nenhum sistema hidráulico.
29:13É, muita coisa ao mesmo tempo.
29:15Para os investigadores, era uma pista importante.
29:19Se você perde todos os sistemas hidráulicos do avião, não consegue usar os controles de voo.
29:25Por isso disseram à torre que estavam sem controle.
29:31Depois, então, de descartar a teoria da porta, começamos a focar na parte de trás do avião.
29:42Tudo isso está conectado.
29:43Ali, depois.
29:58Vamos tentar identificar a causa da descompressão.
30:02A equipe vasculha a reconstrução toda da cauda do voo 123 da Japan Airlines.
30:08Procurando por evidências do que teria causado a primeira explosão.
30:12Os Estados Unidos precisavam determinar a causa daquele acidente,
30:17porque nós fabricávamos o 747.
30:20Achávamos que poderíamos ter uma falha estrutural naquele modelo,
30:23e isso preocupou muita gente.
30:26Vamos começar aqui.
30:27O anteparo de pressão traseiro.
30:33O anteparo de pressão traseiro tem mais de quatro metros de altura.
30:38Com o formato de um guarda-chuva,
30:40ele age como uma rolha em uma garrafa de champanhe,
30:43mantendo a área de passageiros pressurizada.
30:45Uma explosão na traseira do avião
30:47poderia explicar a despressurização súbita.
30:52Decidimos que tínhamos que focar naquela área,
30:55no anteparo,
30:56para ver o que tinha acontecido lá.
30:57A equipe recupera o anteparo de pressão traseiro do local do acidente
31:04e meticulosamente o reconstrói ao longo de vários dias.
31:08Ah, ele está aí, né?
31:17É.
31:1924 mil pés são mais de 113 mil quilos de pressão.
31:23É muita força.
31:25O anteparo de pressão traseiro tem que manter a pressão dentro do avião,
31:30e por isso ele tem que ser muito forte.
31:32Tem que ser à prova de falhas,
31:34e tem que fazer o seu trabalho de forma confiável.
31:39Olha, esse dano aqui é da queda.
31:42Essas marcas são do avião batendo na montanha, certo?
31:45Uma das coisas que os investigadores são treinados
31:48e que eventualmente aprendem a fazer
31:50é procurar qualquer coisa que seja fora do comum.
31:54E olha isso aqui.
31:59Isso não é dano da queda, é só uma ruptura.
32:01É, e uma ruptura bem clara.
32:03Olha, ela percorre toda essa linha de rebites.
32:09Aquela fratura contínua certamente nos deixou bem curiosos
32:13sobre o porquê daquilo.
32:17Os investigadores descobrem uma ruptura de 1 metro e 4 centímetros.
32:21Por causa daquela área grande e achatada que vimos,
32:29ficamos pensando que aquela coisa deveria ter se rompido instantaneamente
32:33causando aquela despressurização explosiva.
32:35O que poderia ter causado aquele rompimento?
32:53O que descobriu?
32:55A equipe examina um pedaço de metal de onde o anteparo havia rompido.
33:00Estriações.
33:01Muitas.
33:02Mediante um exame minucioso,
33:05eles descobrem uma teia de contornos radiantes chamados estriações,
33:10que são os sinais de rachaduras em crescimento.
33:13Toda vez que a fadiga progride um pouco,
33:16ficam marcas que chamamos de estriações.
33:19É a fadiga do metal.
33:21É.
33:21Toda vez que eles pressurizavam o avião,
33:23as fissuras de fadiga iam crescendo.
33:25Se rachaduras microscópicas se formam debaixo dos rebites em um anteparo de pressão,
33:33elas continuam crescendo com a força do avião sendo repetidamente pressurizado.
33:40Uma vez que um avião está em funcionamento,
33:43essas rachaduras começam a surgir debaixo da cabeça dos rebites,
33:46onde não dá pra ver.
33:47E mesmo depois que crescem pra fora,
33:50elas são difíceis de ver,
33:52porque elas têm só alguns milímetros de comprimento.
33:55Mas por que elas apareceram pra começar?
33:58É.
34:00O anteparo de pressão é uma das partes mais fortes de um 747.
34:03A filosofia por trás do anteparo de pressão
34:06incluía um design à prova de falhas.
34:10Se o anteparo traseiro começasse a ter uma fissura de fadiga,
34:14ela teria parado de crescer por causa de uma alça.
34:18O anteparo de pressão traseiro consiste de cinco baías.
34:22E cada baía é separada por uma alça,
34:24que é projetada para conter pequenas rachaduras,
34:27a fim de impedir que elas se espalhem para as outras baías.
34:34Então por que essa ruptura se espalhou além da alça?
34:37Os investigadores examinam o histórico de manutenção do avião.
34:41Talvez isso explique.
34:46O avião já teve outro acidente.
34:50Sete anos antes, o avião havia tido um incidente aterrissando em Osaka,
34:56sofrendo uma forte pancada na cauda.
35:00Sérios danos no anteparo de pressão traseiro.
35:03Continua?
35:03A parte de baixo do anteparo foi esmagada e enviada para reparos.
35:11Nesse incidente em Osaka,
35:14a cauda do avião havia batido na pista com força
35:17e acabou danificando tanto a parte de fora quanto a estrutura,
35:22incluindo o anteparo de pressão traseiro.
35:25Em vez de substituir o anteparo inteiro,
35:31os engenheiros da Boeing decidiram substituir apenas a parte danificada.
35:36Depois do reparo, o avião deveria ter ficado tão forte quanto,
35:41se não mais forte do que antes do reparo.
35:47Essa parte de cima é a original.
35:49E a de baixo é a nova.
35:51Talvez o problema esteja no reparo.
35:56Aquele tipo de fissura na mesma área onde o reparo havia sido feito
36:01foi mesmo uma coincidência maior do que havíamos imaginado.
36:10Então, como você fez para juntar a parte nova com a antiga?
36:13Os investigadores analisaram o reparo de 1978 mais a fundo.
36:18É, deu bastante trabalho.
36:21Os técnicos haviam trabalhado sem parar por oito dias dentro do avião
36:26para montar e fixar a parte nova do anteparo à parte antiga.
36:31Você notou alguma coisa fora do normal?
36:34Tinha só uma coisinha.
36:37Um pouco mais para cima?
36:39Durante o reparo, os técnicos tiveram dificuldade
36:42dificuldade em conectar a parte de cima com a parte de baixo.
36:46Não estão se sobrepondo.
36:48Como assim?
36:49Tivemos problemas na sobreposição na posição nove horas.
36:55A dificuldade no reparo batia exatamente com onde o anteparo havia se rompido.
37:00Tá bom.
37:03Muito obrigado.
37:04Os investigadores estavam confiantes de que o reparo de sete anos antes estava conectado ao acidente.
37:10Agora estamos progredindo.
37:19Então, normalmente, a parte de cima e a de baixo são fixadas com duas fileiras de rebites, certo?
37:24Os investigadores analisam, então, o reparo feito no anteparo de pressão do voo 123.
37:31Certo. E fizeram isso em tudo, menos aqui.
37:35Em uma área do anteparo, não havia sobreposição o suficiente.
37:40E a Boeing teve que projetar uma junção, um reparo, um tipo de emenda.
37:48Sem espaço o suficiente para duas fileiras de rebites na sobreposição,
37:52uma placa separada foi fixada sobre a área.
37:57Mas só uma fileira de rebites tinha sinais de fadiga no metal.
38:01É difícil dizer como o reparo foi feito.
38:04Nós sabíamos que era para ter uma placa a mais ali.
38:08Mas ficou evidente para mim que havia só uma fileira de rebites segurando toda aquela carga, o que não era normal.
38:22Usarão duas placas diferentes.
38:29E usando duas placas diferentes, eles comprometeram o reparo.
38:37Os investigadores descobrem que a equipe de reparo havia cortado a placa de emenda em duas partes,
38:43talvez para facilitar a instalação.
38:45A placa de baixo havia ajudado a fixar a sobreposição, mas a de cima não.
38:54Aquela única fileira de rebites não foi o suficiente para tanta carga.
38:58E, eventualmente, as fissuras de fadiga começaram e a sessão da fuselagem falhou.
39:05E a fratura seguiu o vão entre as duas placas de emenda.
39:08Aquele 747SR, em específico, tinha acumulado mais de 18 mil ciclos em seus 12 anos com a Japan Airlines.
39:21E esse é um número impressionante.
39:24V1.
39:28Subir.
39:29E em cada um desses ciclos, cada decolagem e aterrissagem contava com um ciclo de pressurização e despressurização.
39:35E o anteparo traseiro tinha um ponto fraco.
39:41Era quase que como uma bomba-relógio esperando para detonar.
39:46É isso. Só pode ser isso.
39:49É o que nós chamávamos de pepita de ouro.
39:52Quando nós achávamos o haha, então foi isso.
39:58E não há dúvida de que, se feito corretamente, o reparo não teria falhado.
40:05Os investigadores haviam descoberto o que causar a rápida descompressão.
40:10Mas eles ainda precisavam entender por que a cauda havia se soltado.
40:15O anteparo se rompeu aqui.
40:17E todo aquele ar pressurizado tinha que ir para algum lugar.
40:21Então, a onda de choque foi até a cauda.
40:25E deve ter estourado, que nem uma rola de champanhe.
40:27Então, o primeiro boom foi a falha no anteparo.
40:35E o segundo foi depois da cauda receber o ar pressurizado e ter estourado.
40:40Olha, olha isso aqui.
40:51Todas as quatro linhas hidráulicas passavam pela parte da cauda.
40:56Então, quando a descompressão aconteceu, eles não só perderam um pedaço da cauda,
41:01mas também todas essas linhas.
41:02Nesse caso, as quatro linhas hidráulicas subiam até o estabilizador vertical,
41:08o que era um design ruim.
41:12Para os engenheiros, era tão improvável, tão inimaginável,
41:16que os quatro sistemas fossem desativados ao mesmo tempo,
41:19mas foi exatamente o que aconteceu.
41:21E foi essa falha de design que havia tornado o resto dos controles do avião inúteis.
41:31Não role tanto.
41:32Tá bom.
41:34Não role tanto.
41:37Pressão hidráulica caindo.
41:39Sem nenhum sistema hidráulico para controlar o profundor, o leme ou ailerons,
41:44o voo 123 voou de forma instável por 32 minutos aterrorizantes.
41:49Levanta o nariz.
41:54Levanta o nariz.
41:57Os dois pilotos usaram todas as suas forças para retomar o controle.
42:02Eu não sei quanto mais eu vou aguentar.
42:04Mas nada deu certo.
42:07Flaps, pra cima.
42:08Pra cima.
42:09Flaps, pra cima.
42:16Levanta o nariz.
42:17O que havia começado como um reparo sete anos antes,
42:24foi o que abriu caminho para um acidente devastador.
42:31Que acabou levando a vida de 520 pessoas.
42:35O pior acidente de uma única aeronave de todos os tempos.
42:48O início e propagação da fissura de fadiga.
42:51Uma série de recomendações foram dirigidas diretamente ao design do 747 original.
42:56Operadores foram encarregados de instalar uma cobertura na cauda para proteger o estabilizador
43:02vertical contra uma descompressão do anteparo.
43:05E o reparo impróprio que foi realizado?
43:08E válvulas de corte em casos de emergência também foram recomendadas para evitar uma perda
43:12total de pressão hidráulica.
43:14E o modo de fazer isso é colocando o que chamam de fusíveis no sistema hidráulico.
43:20Então, se você cortar a linha, o fluido hidráulico ficaria preso no resto da linha.
43:26E por isso eles foram instalados no 747.
43:29E atualmente, fusíveis hidráulicos são usados em quase todo o avião comercial.
43:40Esse acidente foi um divisor de águas na história da segurança da aviação.
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