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  • 03/06/2025
Com direção de Luiz Villaça, o espetáculo marca o retorno de Tony Ramos ao teatro depois de um intervalo de 20 anos, para, junto com Denise Fraga, convidar o público a refletir sobre questões bem contemporâneas.
Transcrição
00:00Música
00:00O teatro nunca saiu de mim.
00:26E sem dúvida, voltar ao teatro depois desses exatos 22 anos, 2003 para cá, é maravilhoso.
00:38Não há outro adjetivo que eu encontro de pronto assim.
00:41O texto que chegava, os textos que chegavam de teatro eram bons, mas não eram aquilo que eu queria fazer.
00:49E até que eu vi o texto Eu de Você, montado pela Denise Fraga, direção do Luiz Vilaça.
01:00E eu assisti na estreia em São Paulo, em 2019.
01:04Fiquei encantado, fiquei de fato mobilizado com aquilo que essa menina fazia, minha querida Denise.
01:11Eu falei, que coisa linda.
01:13E aí eu disse, eu tenho que ver de novo.
01:16Eu quero saber por que eu fiquei tão mexido.
01:20Vi de novo e fiquei perturbado.
01:22Eu adoro que ele use essa palavra porque eu adoro uma frase que fala,
01:26a arte serve para confortar os perturbados e perturbar os confortados.
01:31E quando ele usa essa palavra, quando ele fez esse movimento de fazer essa proposta para a gente,
01:38ele estava há 20 anos sem fazer teatro.
01:41A minha admiração por ele triplicou, já era imensa, porque era um homem que queria se aventurar.
01:48Falei, poxa, é algo por aí que eu gostaria de fazer.
01:52Vocês topariam, a partir do que vocês decidirem, se for dentro de uma proposta como vocês estão caminhando,
01:59de interação de plateia, mas principalmente discutindo todo o nosso comportamento humano
02:07e principalmente propondo reflexões.
02:11Se vocês encontraram alguma coisa e se eu puder estar dentro, falem comigo.
02:16Vó, vai ter a estreia do Oscarito.
02:21Aí eu carregava nas tintas, falava da importância do Oscarito,
02:26como aquele filme ia ser bom, maravilhoso, o melhor do ano.
02:31Eu fazia de tudo.
02:33Eu acho que ali é que estava começando a minha carreira de ator,
02:36porque eu era bem convincente.
02:39Tanto que minha avó sempre me dava aquela nota de dois cruzeiros.
02:44E ela puxava daqui, do bojo do sutiã.
02:47Ela falava bojo do sutiã.
02:49A gente entrou na sala de ensaio antes de ter o texto.
02:52Essa peça, como a nossa peça anterior, o Eu de Você, ela foi feita na sala de ensaio.
02:57Tem esse casal que permeia a peça, numa discussão que vai meio linkando as coisas,
03:04mas a gente foi já escrevendo sobre várias coisas que a gente queria falar,
03:10que começa nesse, que a gente chamava desse homem que precisa cultivar a dúvida,
03:15desse patriarca cansado, que também não está fácil para ele.
03:20Com todas essas questões da falta de escuta,
03:24do quanto que a gente precisa se escutar, que é urgente a gente se escutar,
03:29aí chega na questão ambiental, a gente traz Chekhov na questão ambiental,
03:34a gente traz um monte de coisas das quais a gente queria falar,
03:38e que todas são linkadas por essa falta de escuta.
03:43Só que uma coisa que a gente queria desde o início era fazer a gente se perceber,
03:49nós todos, nesse lugar chamado teatro, não é um lugar que está o palco e a plateia.
03:54Eu acho até mais do que o Eu de Você, a gente abre esse espaço para a plateia,
03:58a gente rompe de vez essa quarta parede.
04:02De repente, as luzes se apagavam, a gente ouvia aquelas cortinas de trás se fecharem,
04:07depois a cortina da frente se abria,
04:12e aparecia aquela tela majestosa.
04:21De repente,
04:23o projetor jogava a luz,
04:27e aí não era só o filme que a gente ia ver,
04:32a gente sonhava, a gente imaginava,
04:37era mais que o próprio filme.
04:41Tinha gente que gritava,
04:43gente que aplaudia,
04:45até que de repente aparecia na tela
04:47OXCARITO!
04:49Todo humor não é só para rir.
04:51Se ele faz rir,
04:53é porque a missão do humor,
04:54fazer rir.
04:55Mas melhor é quando o humor faz você refletir,
05:01quando ele espia o ridículo da vida dos seres humanos,
05:06daqueles que pontuam a verdade absoluta,
05:10daqueles que acham que a soberba é uma postura natural,
05:14eu sou assim.
05:16Então o humor serve para
05:18varrer tudo isso,
05:21espiando tudo isso,
05:23propondo o riso.
05:25O Luiz tem um negócio que ele fala,
05:26agora não, agora sim,
05:27eu falo que ele seria um excelente arranjador,
05:29um maestro,
05:30porque ele fala assim,
05:31não, não, está na hora de cair,
05:32está na hora de...
05:33Ele fala, agora está na hora de rir.
05:35Agora essa montanha russa de emoções que ele faz,
05:37ele fez isso no Eu de Você,
05:39na parede, assim,
05:40com post-its coloridos,
05:42ele falava, não, agora
05:43já está dramático demais,
05:45agora a gente levanta.
05:47Então essa montanha russa de emoções
05:49que a gente vê muita gente na plateia,
05:51até com lágrimas ainda escorrendo,
05:56já as gargalhadas,
05:58e isso é um terreno muito precioso.
06:01Nossa, eu acho esse terreno
06:02coisa mais...
06:03Fica um terreno muito fértil,
06:05de você poroso,
06:07para você compreender uma ideia.
06:09Não sei o que me deu,
06:09me coloquei no meio daquelas pessoas,
06:11fui andando lá no meio,
06:13fazendo aquela cara de coerência,
06:14fingindo costume,
06:16fazendo cara de pertencimento,
06:18até que eu consegui passar pela porta do estúdio.
06:21Eu achei um cantinho no escuro,
06:23aí eu fiquei lá escondida, assim,
06:24morrendo de medo
06:25que alguém me descobrisse
06:26e me colocasse para fora.
06:27Aí fiquei lá,
06:28olhando por uma frestinha.
06:30Eu,
06:31Denizinha,
06:33diminutiva,
06:35morrendo de medo,
06:37encantada,
06:39esperando a tal da cena começar.
06:41Quem abre a porta do teatro
06:42para as pessoas entrarem
06:43sou eu e o Tony.
06:44A gente está aqui,
06:45a gente está conversando
06:46com as pessoas efetivamente,
06:48a gente está querendo saber
06:49como elas vieram para cá,
06:50onde é que elas moram.
06:52Conversinha, conversa.
06:54E aí,
06:55depois,
06:55no final,
06:56a gente vai lá fora,
06:58tem as fotos,
06:58a gente tira a foto,
07:00e aí a gente tem esse feedback,
07:01realmente,
07:02dessas pessoas no saguão,
07:04e aí eu vejo
07:05que coisa linda
07:07que é
07:08você ter a coragem
07:12de ir até o outro.
07:15Então,
07:16talvez o teatro,
07:17ele seja o lugar ainda
07:18que vai te propor
07:19o mergulho.
07:21E esse lugar,
07:22eu vou dizer,
07:22dá muito prazer.
07:24E a gente,
07:25eu tenho visto isso acontecer,
07:26testemunhado de perto,
07:28e as pessoas me falando isso no final.
07:30É muito bacana.
07:31Eu vejo
07:32o olho do ator.
07:35E eu lá,
07:36olhando pela frestinha,
07:38morrendo de medo,
07:40encantada,
07:43contendo a respiração
07:45e as lágrimas,
07:47feliz,
07:48porque se tudo desse certo,
07:51eu teria escolhido
07:52a melhor profissão do mundo.
07:55A série era Primo Basílio,
07:561988,
07:57e o ator era você,
07:59Tony.
07:59A minha resposta possível
08:01é para o que só sabemos juntos,
08:05é quando nós,
08:06juntos,
08:07refletimos e dialogamos juntos
08:10com justiça,
08:14com harmonia,
08:16com inteligência,
08:17usando o intelecto
08:18para que ele foi feito,
08:20não para maldade,
08:21e muito menos
08:22para estupidez,
08:24é quando você usa o intelecto
08:26para propor o diálogo.
08:29Tudo para mim na vida
08:30é reflexão
08:31sobre o que somos,
08:34o que já fomos,
08:35o que podemos ser,
08:36não é?
08:37E, principalmente,
08:39como devemos nos comportar
08:41com o próximo.
08:43E o que é que nós só sabemos juntos?
08:45Só vendo
08:46o que só sabemos juntos
08:48para entender o que juntos
08:49podemos saber.
08:50o que é que nós temos
09:20o que é que nós temos

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