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  • há 3 dias
O psicanalista Christian Dunker analisa o longa dirigido por Yasmin Thayná e Jorge Furtado, que retrata um momento crucial da psicanálise no Brasil, com o encontro de duas pioneiras na área.
Transcrição
00:00Música
00:00Virginia?
00:18Doutora Adelaide, desde criança eu sempre senti preconceito de corpo
00:23e eu não posso entender o racismo na sociedade
00:26se eu não compreender o que ele causou em mim.
00:28Eu quero fazer análise.
00:30O filme é muito interessante porque ele foca, de fato,
00:32um momento crucial da psicanálise no Brasil.
00:36A primeira psicanalista é a Adelaide Koch.
00:39Ela vem nesse contexto já de fuga do nazismo,
00:45de totalitarismo europeu.
00:47Chega ao Brasil marcada por isso, como o filme mostra muito bem,
00:52e encontra uma figura que é, de fato, incontornável
00:56quando a gente fala em história da psicanálise.
00:59Para muitos, a primeira psicanalista brasileira, negra.
01:04Esse encontro deixou marcas profundas.
01:08Ele é muito compatível com a história de cruzamentos da psicanálise,
01:12com as vanguardas, com o pensamento estético
01:14e com o pensamento sobre o Brasil.
01:17Você vai me fazer alguma pergunta ou eu escolho livremente um tema?
01:22O que você prefere?
01:23E eu prefiro que você me faça uma pergunta.
01:30Sobre o que você quer falar.
01:33Filmar psicoterapia, filmar psicanálise,
01:35é um negócio que já derrotou Otto Preminger,
01:39Pabst, gente de Hitchcock,
01:42gente de mais alto calibre cinematográfico,
01:46porque é difícil.
01:47Você passar a temporalidade da sessão analítica,
01:53você passar no cinema,
01:54quer dizer, um silêncio,
01:57que nem o Bergman conseguia encaixar e tal.
02:00Eu acho que, nesse caso,
02:03a solução escolhida pelo filme,
02:06que é de pôr as duas e dividir a tela,
02:09ela acho que acabou trazendo uma perda
02:15para como a gente experimenta uma sessão de análise.
02:18Você está vendo ali a Adelaide,
02:20você está vendo ali a Virgínia,
02:22você está vendo a reação de uma e de outra,
02:25mas isso dificulta ir para a cabeça do paciente
02:28ou ir para o lugar do analista
02:31e acompanhar essa movimentação como se fosse com a gente.
02:35E eu achei que isso não foi o melhor momento do filme.
02:40Eu preciso que você me ajude.
02:41Diga alguma coisa.
02:42Para você resolver seus problemas,
02:45primeiro você precisa descobrir quais são os seus problemas.
02:50O choque linguístico,
02:51ele era tematizado pela psicanálise
02:54porque o Freud atendeu muitos pacientes estrangeiros.
02:56E então tem toda uma discussão
02:58de que esse fato de você falar mal a língua
03:02ou não falar a mesma língua com a mesma perfeição do teu analista.
03:06E ele vai ser explorado pelo inconsciente
03:09para produzir resistência.
03:11Mas a graça da coisa é que você tem uma dupla tensão.
03:15A tensão é da Adelaide em relação à Virgínia,
03:19mas também da Virgínia em relação à Adelaide.
03:21Quando ela vai pontuando,
03:23tem coisas na analista que talvez
03:26não estão muito lá bem resolvidas.
03:30Combina com a personagem,
03:31todos aqueles que conheceram a Virgínia
03:33diziam que ela era uma pessoa muito forte,
03:37muito assertiva,
03:38e que a gente imagina,
03:40na análise não vai ser exatamente uma cadeirinha,
03:43que vai ficar obedecendo, aceitando,
03:47tentando ser a paciente ideal.
03:49Então o filme vai caminhando
03:50até uma espécie de grande confronto entre as duas,
03:53que é bem solucionado,
03:55porque no fundo ambas aprendem.
03:57ambas se transformam muito profundamente
04:01a partir desse encontro,
04:02e é o que a gente espera de toda boa psicanálise.
04:05Podemos sair as duas pregando a psicanálise?
04:08Boa tarde!
04:09Tem um minutinho para a palavra de Freud.

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