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  • 02/06/2025
Construído entre 1924 e 1934, o Edifício Martinelli é símbolo do enriquecimento dos imigrantes na América e foi projetado pelo húngaro Vilmos Fillinger seguindo o modelo dos prédios de Chicago na época.
Transcrição
00:00A CIDADE NO BRASIL
00:30São Paulo, no começo do século, estava entre Paris e Nova York e Chicago,
00:40que iria ser uma grande metrópole.
00:43Já começava a industrialização e o Martinelli reuniu todo o seu capital,
00:49vendeu todos os seus negócios para investir num prédio modelo de Chicago.
00:56Em Chicago, nós tínhamos o Louis Sullivan, que defendia a teoria tripartite dos edifícios altos,
01:07como uma coluna, base, corpo e ático.
01:11E o Martinelli escolheu um desenhista para fazer o prédio mais alto de São Paulo.
01:19Era um terreno em declive e como eles trabalhavam, tinham 80 operários trabalhando.
01:27A imagem do prédio subindo no skyline da cidade na época.
01:32A elegância dos nossos operários de gravata, de chapéu e colete.
01:41Vários casos do começo do século e até hoje.
01:46A legislação é superada por diálogo entre os interesses imobiliários e a prefeitura e os seus burocratas.
01:55Ele convenceu que podia chegar a 25 e, além disso, para mostrar segurança que ele não cairia,
02:04saía no jornal, o Martinelli não vai cair mesmo.
02:08Ele pôs a casa dele em cima dos 25 andares.
02:13E hoje a gente está aqui no 28º andar, que é a casa dele.
02:18O Martinelli, ele combina duas coisas.
02:28Ele combina uma arquitetura de estilo passadista.
02:32Na década de 30, a arquitetura que estava em voga era o art deco.
02:37Não era esse estilo, esse é o estilo boussard.
02:41Então, o Martinelli é um negócio muito curioso, que tem muito a ver com os imigrantes.
02:45Com o enriquecimento, ele é uma manifestação dos imigrantes que enriqueceram na América.
02:53Então, o estilo dele é passadista e ele é moderno.
02:59Então, o estilo dele é europeu boussard, mas ele tem um feitio norte-americano, ele é um arranha-céu.
03:06Bom, esse é um livro, então, organizado pelo Adrian Gorelick e pela Fernandarias Peixoto,
03:18Cidades Sul-Americanas como Arenas Culturais.
03:21Essa figura das Arenas Culturais Urbanas, né?
03:24Essa ideia, a capacidade de apresentar a cidade simultaneamente como um lugar de germinação,
03:30de experimentação e de combate cultural.
03:32Eu e Fernanda produzimos esse artigo sobre o Martinelli exatamente com essa perspectiva, né?
03:40Quer dizer, então tinha uma série de combates ali.
03:43E, ao mesmo tempo, esse prédio germina numa época em que diz muito sobre a cidade de São Paulo,
03:49que estava mudando o seu eixo econômico.
03:51Ele é construído numa área em que aponta para o novo centro.
03:57Mas ele está entre o velho centro, ruas São Bento, Direita e 15 de Novembro.
04:04E ele aponta para o novo centro.
04:06Avenida São João, Avenida Ipiranga, Conselheiro Crispiniano.
04:11Então, ele, de certa maneira, ele olha para o passado por conta do estilo arquitetônico dele,
04:18mas ele aponta para o futuro, para o próprio destino da cidade, né?
04:22Que é a verticalização.
04:24E daí a gente traz algumas imagens, como essa fotografia do Claude Lévi-Souz,
04:31um antropólogo importante que deu aula na USP
04:34e que produziu um livro muito relevante chamado Saudades de São Paulo.
04:40E essa é uma das imagens que o Lévi-Souz fez do edifício Martinelli,
04:45que, como diz ele, aquela massa rosa era impossível de não ser vista.
04:51Qualquer pessoa andando pela cidade era confrontada com essa dimensão material
04:56dessa construção gigantesca, não é?
05:04O Martinelli a gente chama de euforia vertical
05:07exatamente porque o Martinelli é parte de uma disputa pelas alturas, não é?
05:12Então ele ultrapassa um prédio, por exemplo,
05:17um edifício chamado A Noite, no Rio de Janeiro,
05:20que até então era o edifício mais alto do Brasil,
05:24e ele ultrapassa o Palácio Barolo.
05:27Então, por um tempo, o Martinelli foi o maior prédio da América Latina.
05:31Então, o que a gente está chamando de euforia é essa tentativa de modernização
05:36a todo custo, não é?
05:38Que aconteceu numa cidade como São Paulo,
05:40que era uma cidade muito pacata ainda na década de 30, não é?
05:44Além de ser um ponto do poder econômico de São Paulo,
06:00o Martinelli tinha um programa bastante interessante.
06:06Tinha hotel, tinha loja, tinha barbearia,
06:10a elite frequentava o Martinelli.
06:12O Martinelli era chique até 1943,
06:17quando ele foi expropriado na entrada do Brasil na guerra contra a Itália.
06:24A expropriação se transformou num vazio.
06:28O prédio ficou vazio e foi sendo apropriado,
06:33formal e informalmente, por 160 atividades e moradores.
06:38Como estudante de arquitetura, eu fotografei.
06:42Em 1975, eu vinha todos os dias fotografar o Martinelli.
06:48E eu tenho fotos de salas abandonadas,
06:51de espaços abandonados, aqui o casarão abandonado,
06:57foto do palacete abandonado, banheiro.
07:01Aqui ainda um papel de parede da ocupação chique,
07:06algum escritório que foi abandonado.
07:12Essa família, essa mãe com duas filhas e 250 passarinhos,
07:17ela era muito conhecida nos anos 70.
07:19Mas tinha também o Partido Comunista e bares,
07:25prostituição, tinha uma vida aqui.
07:28Durante os anos antes da recuperação que foi feita pelo Olavo Setúbal,
07:36nos anos 70,
07:38e que transformou o Martinelli, de novo,
07:41como um marco ocupado da história de São Paulo.
07:46Um prédio, ele é uma coisa viva, não é?
07:56Então ele vai se transformando em função dos usos.
07:59Eles são feitos para durar.
08:01Existe uma ideia de eternidade.
08:03Existe uma ideia de que aquilo que eu construí
08:06tem poder de permanência.
08:11O que fica de simbólico no Martinelli é ele próprio.
08:14É claro.
08:15Legenda Adriana Zanotto

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