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  • 22/05/2025
O espetáculo “(Um) Ensaio sobre a Cegueira” marca o encontro da companhia mineira com o diretor Rodrigo Portella e com o romance do escritor português, que completa 30 anos agora em 2025.
Transcrição
00:00Música
00:00No consultório, algumas pessoas esperam
00:15Um velho com um tapa-olho nos olhos
00:17Um velho
00:18Um garotinho que parecia extrávico
00:21Eu
00:21Acompanhado da mãe
00:24Mãe
00:25E uma moça jovem de óculos escuros
00:29Jovem
00:29A porta se abre
00:31E o casal entra logo
00:33A enfermeira se dirige aos outros
00:35Foi ordem do doutor
00:37O caso dele é urgente
00:39Tem uma camada do Saramago maravilhosa
00:41Que eu acho muito política
00:43Ele é muito
00:44Enfim, ele fala muito dessa cegueira
00:48Que não é fisiológica
00:51Mas é uma cegueira social
00:52Uma cegueira moral
00:53Como escritor
00:55Ele tem esse posicionamento político
00:58Que eu acho muito interessante
01:00Assim, de não nos acomodarmos
01:04Nesse lugar onde estamos
01:06De sermos cegos
01:08Para o que está acontecendo no mundo
01:11Para as pessoas ao nosso redor
01:13Nesse romance ele tem uma reflexão
01:15Não sei se eu vou saber falar as palavras exatas
01:18Mas é algo assim
01:20Como que a gente olha para o presente
01:21Se a gente não consegue enxergar o futuro
01:24E ele também fala uma coisa muito interessante
01:28Que a saída está no coletivo
01:32Juntos a gente vai conseguir
01:34Sozinho
01:36Seremos destroçados pela massa
01:41Os primeiros a serem transportados para o manicômio
01:44São o médico e a mulher
01:47Ao sair da ambulância
01:48O médico pode ouvir uns passos do silêncio da noite
01:51Umas poucas vozes
01:52Uma música antiga ao longe
01:55O latido de um cão nas proximidades
01:58Já a mulher pode ver todo o cenário
02:01Muros muito altos
02:04Cercas elétricas
02:06Soldados concentrados
02:08Armados com fuzis
02:09Parece uma guerra
02:11Essa ideia surgiu de uma visita
02:14Que o Rodrigo Portela
02:16Fez aqui à nossa sede
02:18Aqui do Grupo Galpão em BH
02:19Falamos
02:20Rodrigo, você não quer dirigir a gente?
02:22E aí ele falou
02:23Quero
02:24Eu queria muito que isso acontecesse
02:26Quando eu sugeri
02:28Vim aqui visitar a sede de vocês
02:32E a proposta do ensaio sobre cegueira
02:35Veio do próprio Rodrigo
02:37O que eu encontrei no Galpão
02:38Foi um terreno extremamente propício
02:40Para esse jogo
02:42Porque é um grupo
02:43É uma companhia
02:44Que está há 43 anos juntos
02:47Uma companhia muito sólida
02:49Formada por pessoas muito diferentes
02:53Mas que ao mesmo tempo
02:55Tem objetivos comuns
02:56E mais do que isso
02:58Eles entendem
03:00Que eles são mais fortes juntos
03:02Então é um casamento perfeito
03:05Do contexto
03:06Do romance
03:07E do contexto artístico
03:11E processual
03:12Meia volta
03:13Vou ver
03:13Seguem em frente
03:21Sem desviar
03:22Agora vai para a direita
03:25Agora vai para a outra direita
03:29Agora vai para a extrema direita
03:32Agora vai para a direita
03:34Para a outra direita
03:35Para a direita da direita
03:36Direita da direita da direita
03:38Parou!
03:40Foram duas etapas de processo. Na primeira etapa a gente trabalhou online, fizemos reuniões, conversamos, fizemos alguns exercícios.
03:50Depois eu ainda vim a Belo Horizonte e passei dois finais de semana com eles, pedi que eles fizessem algumas atividades e aí vinha para assistir o que eles tinham produzido.
04:04E a mesma coisa aconteceu com o Federico Pupi, que é o diretor musical desse trabalho.
04:11Eu diria que os pilares mais fundamentais foram criados ali naqueles encontros.
04:16A questão da narrativa, de como trabalhar com a narrativa, com essa ideia de um ator, eu diria, rapizodo, um ator narrador, formulador,
04:27que não é personagem, mas também não é o performer, ele está num lugar meio híbrido ali.
04:32Muito da trilha foi criada nesses workshops e depois entramos na segunda e última etapa, que foi a imersão.
04:39E que se no terceiro alojamento da direita não existem mulheres dispostas a deitar com eles por livre e espontânea vontade?
04:49Foda-se! O problema é de vocês!
04:52Posso parar? Minha mulher não falaria isso.
04:55Teatralmente, tem vários caminhos apontados por esse trabalho com o Rodrigo Portela sobre o ensaio sobre cegueira,
05:04que trazem muitas perspectivas novas.
05:08A própria relação, por exemplo, com o silêncio, com a pausa,
05:12a relação de um narrador, formulador, que está além de um mero narrador que conta uma história,
05:24mas um narrador que, contando essa história, ao mesmo tempo formula essa história.
05:29Então, são algumas chaves que eu acho que foram trazidas pelo trabalho que são muito interessantes.
05:35Isso em termos da minha relação com o teatro.
05:38Alguns te odiarão por não estar cega. Não acredite que a cegueira nos fez melhores.
05:43Também não nos fez piores.
05:46Se você pudesse ver o que eu sou obrigada a ver, também ia querer estar cega.
05:52Não acredito, mas eu não preciso. Eu já estou.
05:55Esse lugar dessa cegueira, vamos dizer, do ser humano, do sobrevivente,
06:00é o que ele chama de quem não olha.
06:03Mas quem não enxerga, quem não vê, é quem não vê o sofrimento do outro.
06:09Então, a mulher que vê, que é a minha personagem,
06:12ela é a única ali naquele lugar que ela vê.
06:16Então, ela tem, vamos dizer, o privilégio de enxergar,
06:23mas, ao mesmo tempo, ela tem a dor de ver todo aquele caos,
06:29aquelas pessoas viradas do avesso, no sentido da moral.
06:35A sobrevivência vai fazendo com que as pessoas vão se tornando meio animalescas.
06:41Na solidariedade, ela consegue ajudar um grupo a sobreviver e até o final da história.
06:48Então, foi muito prazeroso, muito desafiador.
06:53Apanhei bastante, mas aprendi muito também, acho.
07:18E aí

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