Com mais de 600 obras vindas do Museu Andy Warhol de Pittsburgh, a mostra transforma o MAB-Faap, em São Paulo, numa espécie de Factory, o lendário galpão prateado do artista em Nova York.
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CriatividadeTranscrição
00:00Para trazer ao Brasil um artista que conversasse com todas as idades, com todas as classes sociais
00:23e com um background que se comunica facilmente com o público, Andy Warhol era o personagem ideal.
00:30A mega exposição Andy Warhol Pop Art nasceu três anos atrás, quando eu e Roberto Leão, que é meu co-fundador do Instituto Totex,
00:44resolvemos provocar o museu The Andy Warhol Museum em Pittsburgh.
00:47Como toda instituição de primeira linha, o The Andy Warhol Museum nos solicitou logo de cara aquilo que a gente chama de Facility Report,
00:56as condições do espaço em que aconteceria a exposição.
01:00A temperatura, a umidade, a iluminação, a segurança, o controle do acesso, a orientação do público,
01:08enfim, todos os requisitos para que a gente pudesse receber com o mesmo nível de qualidade
01:13que qualquer país do mundo tem nos seus melhores museus, essa mega exposição de Andy Warhol no Museu da FAAB.
01:19É muito comum quando você vai solicitar uma exposição, os museus já perguntam qual o recorte que você quer do artista.
01:27Ah, vocês querem as polaroides do Warhol, vocês querem a iconografia americana, o que vocês querem dele?
01:34A gente quer mostrar tudo dele.
01:35E chegamos em mais de 60 obras.
01:37E aqui a nossa ideia realmente é fazer uma cidade pop, né?
01:40Que é como se fosse uma cidade do pop e com vários bairros temáticos, assim,
01:45cada um mostrando uma plataforma, uma mídia que o Warhol navegou durante a vida.
01:50Então a própria espografia se remonta a essa ideia da Factory,
01:54trazendo uma dimensão um pouco mais industrial, com painéis perfurados,
01:58a questão de ter a espacialidade trazendo um pouco essa ideia do galpão.
02:07A gente tem aqui um dos retratos mais icônicos do Warhol, que é feito da Debbie Harry,
02:13vocalista da banda Blonde.
02:16E é um retrato que traz uma série de leituras também que podem fazer com que a gente pense
02:21a dimensão biográfica, porque ele volta, após realizar esse retrato,
02:26para um momento em que ele vai fazer a apresentação de um computador pessoal
02:31e convida novamente a Debbie Harry para fazer uma espécie de retrato digital dessa artista.
02:39E aí, eu acho que abre camadas para a gente pensar não só a dimensão de grande retratista
02:44do século XX do Warhol, mas também como ele tateava dimensões de vanguarda, né?
02:49Ele tem contato com o que é um dos primórdios da arte digital
02:53e narra em seus diários o desafio de estar em contato com essa nova tecnologia, né?
03:04É uma exposição extremamente importante por trazer essa discussão sobre a pop arte
03:09nesse momento no Brasil e importante para o MAB,
03:13porque é uma exposição que traz também essas referências com a própria origem do museu,
03:18as próprias experiências que o museu desenvolve desde os seus inícios.
03:22Ao falar de reprodução, ao falar de seriação, ao falar de momentos de fama
03:27de 15 minutos ou 15 segundos, enfim, ela traz uma perspectiva
03:32para a gente poder discutir hoje o que seriam essas perspectivas do Andy Warhol.
03:37Aqui você vai ter uma noção completa de tudo o que ele fez.
03:41Você tem desde os trabalhos do começo de carreira dele,
03:44ele começou como um artista comissionado, né?
03:46Ele era designer, publicitário, ele era contratado para fazer tecidos para moda
03:51ou sapatos para revistas, ele desenhava tudo.
03:55E você consegue acompanhar tudo aqui desde esse início de carreira
03:58até a transição dele para as artes visuais,
04:01quando ele começou trazendo o pop, as primeiras pinturas, as latas de sopa,
04:04as esculturas de coisas do dia a dia,
04:07até a iconografia dele, os grandes mitos, as celebridades que ele fazia,
04:10os elves, as marilines, etc.
04:13Você acompanha tudo.
04:14Inclusive, nós temos aqui uma coisa muito rara,
04:16que são os tecidos que ele fez no começo de carreira,
04:19com cores extremamente vivas, porque nunca foram expostas,
04:22estavam guardadas em um lugar totalmente protegido.
04:24E o museu liberou para que a gente trouxesse para o Brasil
04:27para mostrar em primeira mão isso.
04:28E, possivelmente, não vão ser mais mostrados para não perder essa cor.
04:32A gente está diante de uma obra de 1986, intitulada A Última Ceia,
04:42e é uma das séries que o Warhol realiza no momento que antecede a sua morte,
04:48e revisitar uma obra que era icônica do Leonardo da Vinci,
04:52tentando experimentar e incorporar elementos dessa obra e atualizá-los.
04:56E esse é um dos estudos mais representativos,
05:01que muito pouco viajou do Museu Warhol para outras cidades.
05:04Então, a gente tentou focar nesse ineditismo para trazer na exposição,
05:09mas é uma obra que tem uma dimensão não só em questão da grande escala da tela,
05:16mas traz elementos que fazem uma referência à epidemia da AIDS naquele momento,
05:22colocado na tela como The Big C, o grande câncer, o câncer gay.
05:28E ela traz não só elementos que falam um pouco da dimensão da religiosidade,
05:33mas também traz elementos da cultura popular e publicitar.
05:37Então, para a gente também era importante pontuar na exposição
05:41essa dimensão da liberdade do gesto do artista,
05:44e uma obra que marcou um momento também histórico da sua trajetória.
05:53Todo o trabalho em torno de Andy Warhol necessitou de muito cuidado específico
05:57e de uma logística complexa.
06:00Foram três aviões, de três companhias aéreas diferentes,
06:03embarcando em três cidades diferentes,
06:06para poder aterrissar no Brasil com esse acervo.
06:08Porque cada obra, cada item, cada material tem um acondicionamento específico
06:14que preserva a sua qualidade, as suas características
06:16e, obviamente, mantém intacto esse patrimônio da humanidade.
06:21E o cuidado aqui é todo para que a primeira pessoa e a última pessoa a visitarem
06:26tenham exatamente a mesma experiência.
06:28Experiência essa que só seria possível de outra maneira,
06:31pegando dois aviões e indo até Pittsburgh, nos Estados Unidos.
06:34Essa obra, Oxidation, é uma obra super rara do Warhol,
06:44é uma das poucas culturas abstratas que ele fez,
06:47e é onde ele utiliza uma tinta de cobre sobre a superfície de linho
06:50e urina para fazer a obra.
06:53Então, esse é um quadro que ele é mutável, ele nunca fica 100% igual.
06:59E tem que ter um controle todo especial, porque ele era mais azul,
07:02agora ele está um pouco mais verdeado, a moldura dele é blindada para que não passe oxigênio
07:06e ele tem um esquema interno de amenização da temperatura.
07:11Porque qualquer variação de temperatura ele pode mudar de forma, de cor.
07:14Inclusive, tivemos que colocar aqui um ar-condicionado por trás dessa parede
07:18para tentar manter a temperatura ainda, mas com menos variação.
07:22E é uma obra dificílima de viajar e que, com muito cuidado,
07:26vem uma caixa específica.
07:28Vai ser então uma das últimas vezes que essa obra vai ser exposta
07:31e que é uma rara oportunidade das pessoas conhecerem essa parte do trabalho do Warhol.
07:36Ele era um cara que, fora da curva, ele também fez trabalho com drags,
07:48com pessoas, moradores de rua, com tudo.
07:50Então, assim, era um artista muito atual, muito acolhedor.
07:52Ele trouxe artistas de rua que eram marginais para pintar vagões de metrô,
07:57levou para a galeria de arte, levou para museus.
07:59Hoje a gente tem Basquiat, Kate Herring e vários outros, né?
08:02E a gente sempre achou que o Warhol se encaixava muito nos nossos conceitos
08:06e que seria importante fazer.
08:09E ele não sai de moda nunca, né?
08:11Muitas das obras tratam de uma questão de uma hiperexposição
08:15dessas figuras que se tornaram celebridades,
08:18da gente acompanhar a vida dessas figuras e do seu dia a dia,
08:21se tornar parte disso.
08:23Mas também eu acho bastante pertinente pensar ainda
08:26como muitas das técnicas e a forma como são representadas essas figuras
08:31ainda traz elementos do dia a dia
08:33e de dimensões de retratação muito contemporânea.
08:36Como ele criava e recriava esses personagens
08:40a partir de uma ideia de como é possível construir uma celebridade,
08:44não só daqueles que estão sendo veiculados na grande mídia,
08:49mas também pessoas que têm uma dimensão de anonimato, né?
08:52Como que ele constrói esses personagens.
08:54Legenda Adriana Zanotto
09:01Legenda Adriana Zanotto