A artista visual usa a fotografia como principal linguagem para naturalizar a presença dos corpos travestis no mundo.
Categoria
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CriatividadeTranscrição
00:00Música
00:00Hoje a gente está aqui no Museu Afro Emanuel Araújo,
00:22aqui na parte onde está acontecendo a exposição da minha série Proteção,
00:27que é uma série inédita, onde eu busco esse encontro com a minha mãe.
00:34A gente sabe que aqui no Brasil é um país que carrega dados alarmantes contra pessoas trans,
00:40então eu me senti muito atravessada por diversas violências que eu passei,
00:47que pessoas à minha volta passaram.
00:50O que me veio no meu coração foi poder criar um espaço e criar uma imagem
00:56em que eu pudesse me fixar, uma imagem que pudesse me proteger.
01:01Então acredito que esse trabalho, ele começa com a minha mãe,
01:06com esse vínculo sanguíneo, mas em outros momentos ele vai perpassar por outras,
01:11porque dentro da nossa comunidade trans,
01:16a gente criou essa tecnologia afetiva que é poder construir outras famílias
01:23e a gente acaba se encontrando com essas mães,
01:28às vezes em terreiro, às vezes na rua ou em espaços coletivos.
01:34Então esse trabalho é tanto sobre as mães quanto sobre as filhas também,
01:39filhos e filhas trans que vivem no Brasil.
01:43Olá, meu nome é Rafaela Kennedy, eu tenho 30 anos,
01:54sou uma artista visual amazonense e também sou atual vice-presidenta do Ateliê Transmoras
01:59e eu estou na mira do Arte 1 em Movimento.
02:03Sou amazonense, sou nascida e criada em Manaus, 18 anos criada em Manaus.
02:14Com 18 anos eu vim para São Paulo, acredito que em busca da autonomia da minha vida,
02:21do meu corpo, do meu gênero e também um pouco apaixonada e em busca da fotografia.
02:28Acho que a fotografia, ela me moveu a desejar outros lugares,
02:35desejar sair do meu território e fazer essa migração.
02:39Então, quando eu iniciei esse processo com a fotografia,
02:44eu sempre busquei naturalizar a presença de pessoas trans no mundo.
02:48Acredito que a fotografia, ela foi um dos pontos principais, assim,
02:54para eu querer buscar outras coisas e acabei encontrando muita coisa.
03:05Em 2022, o meu trabalho foi parar no México, numa feira de arte na cidade do México.
03:11E que a partir dessa ida do meu trabalho até lá, eu recebi um prêmio,
03:18que era da Feira Zona Maco.
03:20Teve uma exposição em Londres, que eu e Labo fomos convidadas
03:26para fazer uma estreia de uma série inédita também, lá em Londres, em 2023.
03:33Foi também um marco, assim, dentro da nossa trajetória.
03:35Eu acredito que esse aqui também é muito importante ocupar um espaço como o Museu Afro
03:41e também sendo a primeira travesti a ocupar esse lugar, né?
03:45Estar de frente para esse jardim, de frente com essas árvores,
03:52é algo que também dialoga com o meu trabalho,
03:55porque nada melhor que olhar para a natureza para perceber
03:58como nós fazemos parte de uma diversidade.
04:01e o corpo trans, travesti, transmasculino, não-binário, também faz parte desse processo.
04:08Então, acho que estar do lado de fora do museu,
04:13de frente para esse espaço, é algo que se conecta diretamente com o que eu quero falar.
04:19E eu acho que dá um outro ar, né?
04:21Eu acho que sai dessa esfera que muitas das vezes é higienizada
04:27pelo mercado de arte, né?
04:30Normalmente a parede branca.
04:33Enfim, então acho que estar aqui do lado de fora é algo que me contempla muito, assim.
04:42Esse ano eu recebi a indicação do Prêmio Pipa 2025.
04:46Foi algo, para mim, extremamente emocionante, assim,
04:51porque, mais uma vez, é compreender que o meu trabalho está sendo reconhecido
04:57em território nacional.
04:59Independente do que vai acontecer a partir desse prêmio,
05:02eu acredito que a indicação em si, ela já é um gesto grandioso.
05:07Eu acho que a indicação em si, ela já é um gesto grandioso.