- anteontem
A advogada e socióloga Carolina Ricardo, diretora-executiva do Instituto Sou da Paz, acredita que as câmeras corporais melhoram o trabalho dos policiais ao estabelecer uma relação de confiança entre a população e os agentes da força pública.
Para o Crusoé Entrevistas, ela afirmou que o Brasil já tem estudos científicos para avaliar as experiências com as câmeras nos estados de São Paulo e em Santa Catarina.
Entre os resultados estão redução da letalidade policial, diminuição no número de policiais mortos em serviço e aumento da notificação de casos de violência doméstica.
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Para o Crusoé Entrevistas, ela afirmou que o Brasil já tem estudos científicos para avaliar as experiências com as câmeras nos estados de São Paulo e em Santa Catarina.
Entre os resultados estão redução da letalidade policial, diminuição no número de policiais mortos em serviço e aumento da notificação de casos de violência doméstica.
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NotíciasTranscrição
00:00Olá, seja muito bem-vindo, eu sou o Duda Teixeira e esse é mais um Cruzoé Entrevistas.
00:13O assunto hoje são as câmeras corporais usadas por policiais e para falar sobre o assunto eu
00:20convidei a Carolina Ricardo, que é advogada, socióloga e diretora executiva do Instituto
00:27Sou da Páscoa. Carolina, tudo bem? Seja bem-vinda ao Cruzoé Entrevistas.
00:31Tudo jóia, Duda, obrigada pelo convite.
00:34Carolina, bom, vamos começar, queria saber quais são as evidências que a gente já tem aqui no Brasil
00:41sobre o uso dessas câmeras corporais.
00:45Muito bem, vamos lá. Quando a gente analisa as pesquisas mais cientificamente estruturadas,
00:51a gente tem evidências sobre o caso de Santa Catarina e sobre o caso de São Paulo.
00:55Sobre o caso de Santa Catarina, é muito interessante dizer que as evidências mostram que aumentou
01:01a confiança na polícia, melhorou a relação polícia e sociedade, porque o fato de estar sendo filmada
01:07a relação, uma abordagem, uma interação da polícia com uma pessoa, isso faz com que
01:13de ambos os lados haja melhoria de comportamento.
01:16também em Santa Catarina foi reportado diminuição do uso da força, porque da mesma forma, o fato de estar
01:23sendo filmado, enfim, os protocolos tendem a ser mais respeitados, melhora, como eu disse, a postura
01:30tanto de policiais quanto das pessoas que são abordadas pela polícia.
01:34Por um outro lado, é muito interessante em Santa Catarina também, pelos policiais mais jovens,
01:40houve melhoria de observância dos protocolos. Olha que interessante, a gente fala muito pouco disso
01:45quando fala de câmeras corporais, porque fala muito de letalidade policial,
01:49mas as câmeras, elas são uma ferramenta de compliance, quer dizer, de adequação às regras
01:54por parte das polícias, dos policiais.
01:57Então, melhorou a aplicação de protocolos para os policiais mais jovens,
02:00que entraram há menos tempo na polícia e estão mais abertos a aprimorar os seus procedimentos.
02:06E no caso de São Paulo, um grande resultado levantado na avaliação feita pela FGV
02:12foi a redução da letalidade policial, de fato, diminuiu o caso de mortos pela polícia.
02:17A gente sabe que em São Paulo não foram só as câmeras, foi um conjunto de medidas adotadas
02:21para reduzir a letalidade, mas a câmera tem um papel importante,
02:25além de ter diminuído o número de policiais mortos em serviço.
02:28Então, tem muita relação com a melhoria do uso da força.
02:32E um dado interessante, mais recente, da Polícia Rodoviária Federal,
02:37que adotou a partir de 2023, foi feita uma pesquisa para analisar a aceitação dos policiais.
02:43A gente sabe que tem resistência por parte da tropa,
02:46mas é interessante dizer que 74% dos policiais rodoviários federais
02:50que participaram da pesquisa disseram que entenderam como útil a câmera corporal.
02:54Então, enfim, acho que são algumas evidências iniciais ainda que mostram os resultados do uso de câmeras.
03:01E, por fim, é importante dizer, há um discurso sobre as câmeras,
03:05de que as câmeras impedem a atuação policial,
03:08mas, como eu disse, quando há um bom uso de força, um bom uso de protocolos,
03:11na verdade, algumas dessas evidências mostram que aumentou o registro de algumas ocorrências
03:16de crimes mais leves.
03:18É o caso, por exemplo, de Santa Catarina e de São Paulo,
03:21em que a gente viu um aumento de casos de violência doméstica reportado.
03:24Então, acho que são algumas evidências iniciais que mostram
03:27como a câmera ajuda a profissionalizar a atuação policial.
03:34Carolina, de tudo que você falou, aparecendo algumas dúvidas aqui.
03:37Por que reduz o número de policiais mortos em serviços?
03:43Porque quando, enfim, em geral, é claro que não dá para fazer uma análise 100% cravada,
03:48mas, em geral, quando há mortes de policiais, você tem uma interação de confronto,
03:53em serviço, e é um confronto que, via de regra, entende-se que parte da pessoa abordada,
04:02do suspeito, mas, eventualmente, há casos de mau uso de força.
04:06Um caso muito triste, como foi o caso do soldado Cosmo, aqui em São Paulo,
04:10que foi morto na Baixada Santista no começo de 2024,
04:13as análises mostram, por exemplo, que ele estava fazendo um procedimento errado,
04:17ele estava fazendo uma incursão sem o apoio necessário de retaguarda.
04:21Essa exposição dele acaba, enfim, acabou resultando na morte.
04:25É claro, ele estava usando as câmeras, a gente conseguiu apurar depois,
04:29mas esse é um exemplo de mau uso de procedimento.
04:32Então, o que as evidências mostram é que as polícias tendem a usar melhor
04:35o procedimento de uso de força, evitar usos de forças mais altas, como força letal,
04:41e isso contribui para que haja menos mortes em serviço quando eles estão atendendo a ocorrência.
04:47É claro que isso, enfim, a gente olhou em São Paulo por um período delimitado,
04:52não tenho esses dados sobre Santa Catarina, por exemplo,
04:55mas como houve um aumento, uma adesão às regras e aos protocolos,
04:59a gente pode afirmar que em São Paulo melhorou o uso da força
05:03e, portanto, isso tende a diminuir também a morte de policiais do serviço.
05:07Tá, Carolina, você tem enfatizado muito a questão dos protocolos, né?
05:12Porque eu acho que o policial, quando ele entra numa situação,
05:15tem ali como ele deve se comportar, né?
05:18Então, se ele aborda, por exemplo, um pedestre,
05:21imagino aqui, tá? Ele se apresenta, pede documento, não é isso?
05:27É uma série do que ele pode fazer,
05:30e aí se a situação vai evoluindo de uma maneira...
05:33Então, assim, é muito bem regrado o que o policial pode fazer, não é isso?
05:38Exatamente, né?
05:39Em geral, as polícias brasileiras,
05:42eu conheço mais profundamente a polícia de São Paulo,
05:44mas sei que a polícia de Santa Catarina também é muito profissional.
05:47O que significa dizer que uma polícia é profissional?
05:49Que ela segue, entre outras coisas, que ela segue protocolos.
05:53Protocolos são orientações, como você disse,
05:56do passo a passo que deve seguir.
05:57Então, no caso de abordagem a veículo, é um passo a passo.
06:01No caso de abordagem a pedestre, é outro passo a passo.
06:03No caso de atuação, por exemplo, num jogo de futebol, é outro passo a passo.
06:08Os protocolos, eles não determinam a decisão do policial,
06:11porque às vezes ele tem o protocolo,
06:12mas ele percebe que é uma situação que tem maior risco,
06:15ele precisa tomar uma decisão ali.
06:17Mas o protocolo, ele é muito bem pensado,
06:19ele é construído a partir da experiência da tropa,
06:22para que esse passo a passo seja o melhor possível para o policial
06:25e para a interação dele com a sociedade.
06:27Então, os protocolos são muito importantes nesse sentido.
06:31Então, por exemplo, o protocolo de abordagem aqui de São Paulo
06:33prevê que o policial precisa verbalizar com força
06:36para que o indivíduo pare,
06:38para mandar que o indivíduo entrelace os dedos atrás da cabeça,
06:41faça a revista pessoal para ver se não tem arma nem drogas.
06:44Depois disso, ele pode diminuir a força usada,
06:47ele pode, vamos dizer assim, relaxar.
06:49Então, o protocolo, ele orienta esse passo a passo.
06:52O que é muito bom para o policial,
06:54que muitas vezes está sozinho, não tem um apoio.
06:57O protocolo é esse apoio e isso melhora o seu trabalho,
07:01protege o policial, protege as pessoas,
07:03embora o policial tenha que tomar decisão.
07:05Às vezes, ele precisa fugir do protocolo
07:07porque é uma situação que não estava desenhada ali.
07:09Então, o protocolo não é uma salvação da lavoura,
07:11mas ele orienta permanentemente a atuação policial.
07:14E as câmeras, nesse sentido,
07:15elas são uma ferramenta de compliance,
07:18ou seja, de poder monitorar o uso do protocolo,
07:21se ele está sendo usado,
07:23se precisa fazer modificação,
07:24porque às vezes muda a realidade social,
07:26o protocolo precisa mudar.
07:27Então, com as imagens na câmera,
07:29a polícia tem uma ferramenta,
07:31inclusive de análise e estudo,
07:33sobre a necessidade de melhorar e de adaptar
07:35um protocolo policial.
07:38Carolina, você comentou aqui
07:40do aumento do número de casos
07:43de notificação de violência doméstica.
07:45Que relação que isso tem com o uso da câmera corporal?
07:51Bem, os casos de violência doméstica,
07:53tradicionalmente, são entendidos,
07:55muitas vezes é isso,
07:56é uma briga de marido e mulher,
07:58a mulher chama, aciona a polícia.
08:00Em muitos casos, ali na hora,
08:02é feita uma mediação pelo policial
08:04e esse caso acaba nem sendo reportado.
08:07Então, a gente perde o dado.
08:08Ainda que ele seja apaziguado no momento,
08:11esse dado precisa ser reportado.
08:13A gente precisa ter o registro disso
08:15para isso vir a ser um BO,
08:17tanto para a gente entender estatisticamente
08:19o fenômeno da violência doméstica,
08:21quanto para a gente poder atuar naquele caso,
08:23se é um caso grave.
08:25Quando o caso de violência doméstica
08:27está sendo filmado,
08:28é mais difícil de não fazer o registro.
08:30O policial simplesmente mediar e não registrar.
08:33Então, o uso da câmera reforça esse registro,
08:36porque é um caso que foi filmado,
08:37é uma ocorrência,
08:38isso tem como ser fiscalizado depois,
08:40e pode ser cobrado se o registro não tiver sido feito.
08:43Então, veja, é de novo uma compliance,
08:46é a obrigação que o registro seja feito
08:48no caso de violência doméstica.
08:49Como há muitos casos em que não é feito,
08:51e aí não estou acusando o policial, não,
08:53às vezes é difícil,
08:53ele está com muita coisa no dia a dia,
08:55resolveu ali o conflito,
08:57não faz o registro.
08:58Então, a câmera ajuda para que, enfim,
09:01o protocolo, essa orientação
09:03de se fazer o registro
09:05aconteça com mais frequência.
09:07Então, isso ajuda a aumentar o número
09:08de casos registrados aí de violência doméstica.
09:12Carolina, e nesse caso,
09:14bom, a câmera acaba ajudando, então,
09:16a vítima da violência.
09:18Agora, quando um policial aborda
09:20uma pessoa que está cometendo um crime,
09:23a câmera também pode ajudar
09:24a coletar evidências
09:26para depois acabar acusando a pessoa?
09:30Olha, a câmera,
09:31ela coleta evidências em geral,
09:34ela coleta evidências daquilo que aconteceu,
09:36se é uma abordagem correta
09:39de uma pessoa que está cometendo crime
09:40e ela foi presa em flagrante,
09:43ela vai comprovar
09:44que aquela pessoa estava cometendo crime,
09:46que o policial agiu corretamente
09:48e que está tudo certo com aquela prisão.
09:50Se é uma prisão que não,
09:52por exemplo, às vezes há casos
09:53de ocorrência que foi, por exemplo,
09:57uma questão de porte e posse de drogas,
09:59por exemplo,
10:00enfim, uma quantidade muito pequena
10:02de drogas e foi uma ocorrência
10:04de tráfico,
10:05isso, olhando as imagens da câmera,
10:07isso pode ajudar a mostrar
10:08que não era tráfico,
10:09era porte, por exemplo.
10:11Em casos em que a pessoa
10:13não estava necessariamente
10:14cometendo um crime,
10:15mas acabou sendo acusada de crime,
10:17isso pode ajudar
10:18a comprovar que ela era inocente.
10:21Do mesmo jeito,
10:23um caso em que houve, por exemplo,
10:24uma abordagem policial
10:25e o policial liberou a pessoa,
10:27mas a pessoa acusou o policial
10:29de abuso de autoridade,
10:30a câmera pode mostrar
10:31que o policial não abusou
10:33de autoridade e agiu corretamente.
10:34Então, ela é uma evidência,
10:36ponto,
10:37para mostrar o que aconteceu
10:38na situação.
10:39Se o policial agiu corretamente,
10:40ela vai mostrar
10:41que o policial agiu corretamente.
10:43Se o cidadão estava correto
10:44e houve algum tipo de desvio
10:46por parte do policial,
10:47a câmera vai mostrar isso também.
10:50Tá.
10:51Carolina, há alguns dias
10:52o Ministério da Justiça
10:54e Segurança Pública
10:55divulgou diretrizes
10:57sobre o uso de câmeras corporais
11:00e aí eu entendi
11:02que os governos estaduais
11:03podem ou não seguir
11:04as diretrizes.
11:06Você achou positivo
11:08essa divulgação das diretrizes?
11:10No Brasil,
11:12a segurança,
11:13os estados brasileiros,
11:14o governo estadual
11:15tem autonomia
11:16para fazer a gestão da segurança
11:18e para definir
11:19protocolos e atuação
11:21das suas próprias polícias.
11:23Então,
11:23a definição final
11:25de, por exemplo,
11:25como vai se dar a implantação
11:27do programa de câmeras corporais
11:29é do Estado.
11:30Mas como o governo federal
11:31tem um papel
11:32na segurança pública
11:33que a gente fala
11:34indutor de políticas públicas,
11:36ele pode orientar prioridades,
11:38ele pode repassar recursos
11:40para os estados
11:40e sugerir que os estados
11:42adotem determinadas políticas,
11:44ter uma diretriz nacional
11:45é muito positiva.
11:46Porque a gente começou
11:47a ter essa explosão
11:48de câmeras,
11:49muitas vezes,
11:51a gente sabe,
11:51não é simples
11:52adotar um programa
11:53de câmeras corporais,
11:54tem muitos procedimentos
11:55que precisam ser seguidas,
11:56muita formação,
11:58muito treinamento
11:59e muitos estados
12:00não têm estrutura
12:01para implantar
12:02da melhor forma possível.
12:04Estados mais ricos
12:04talvez tenham,
12:05estados mais pobres
12:06talvez não.
12:06Então,
12:07ter uma diretriz
12:08que padronize
12:08algumas regras,
12:10por exemplo,
12:10os objetivos
12:11do programa de câmera,
12:12a diretriz traz isso,
12:14os princípios,
12:16regras para armazenamento
12:17das imagens,
12:18tudo isso ajuda
12:19um estado.
12:20Como não é uma norma
12:21que obriga os estados,
12:23porque ele não tem
12:23como fazer isso
12:24no nosso modelo federativo,
12:25o governo federal
12:26não pode baixar
12:26uma norma
12:27que obrigue os estados
12:28a fazer nada
12:29no campo da segurança pública.
12:30Ele pode orientar.
12:32Me parece muito,
12:32muito importante
12:33porque a gente pode ter
12:35uma implantação
12:36mais padronizada
12:37entre os estados,
12:38isso vai ajudar
12:38os estados
12:39que não têm estrutura
12:40para fazer a implantação
12:42do seu programa de câmera
12:43sem determinar,
12:44sem obrigar.
12:45Não é que o governo federal
12:47está se metendo
12:47no âmbito estadual,
12:49ele está sugerindo
12:50e recomendando.
12:51Então, me parece
12:52muito importante
12:53porque eu analisei
12:54a diretriz,
12:55acho que é uma diretriz
12:55muito completa,
12:57que traz informações
12:58muito relevantes
12:59para um estado
13:00que queira adotar
13:01câmeras corporais
13:02nas polícias.
13:03Carolina,
13:04acho que o principal
13:05debate que teve
13:06nos últimos dias
13:08é que a governadora
13:10aqui do estado
13:11de São Paulo,
13:11Tarcísio de Freitas,
13:13estava fazendo um edital
13:14para comprar
13:15novas câmeras
13:16e a Alice dizia
13:17que o policial
13:18poderia acionar
13:19a câmera,
13:20não seria uma gravação
13:21ininterrupta.
13:23Depois parece que até
13:25saem essas diretrizes
13:26e aí não era muito bem
13:29isso que ele estava
13:29pretendendo,
13:30enfim,
13:30não sei como a coisa ficou,
13:31mas essa questão
13:33do policial
13:34começar a gravar
13:36e não ser ininterrupto,
13:38isso afeta
13:39a eficiência
13:40das câmeras?
13:42Olha,
13:43acho que vale a pena dizer,
13:44tem três possibilidades,
13:46como você mesmo mencionou,
13:47você mencionou duas,
13:48uma é a gravação
13:49ininterrupta,
13:50o policial tira
13:50a câmera da DOCA
13:52de onde ela está
13:52sendo carregada
13:53e ela liga
13:54e ela fica
13:55às 12 horas
13:56do turno ligada,
13:57que é o modelo
13:57vigente em São Paulo
13:59até agora.
14:00A outra opção
14:00é a gravação
14:01intencional,
14:03o policial sai
14:03com a câmera
14:04quando vai atender,
14:05tem lá definições
14:06de quando ele precisa
14:07ligar,
14:08no caso de uma ocorrência,
14:10de uma abordagem,
14:11tem lá os itens,
14:12ele liga e filma
14:13e depois ele desliga.
14:15E tem a ligação remota
14:18que é,
14:18bom,
14:19a gestão,
14:20o Copom,
14:20no caso aqui de São Paulo,
14:21o centro de operações
14:22está monitorando,
14:23recebeu uma chamada,
14:24o 90,
14:26mandou uma viatura
14:28e percebeu
14:29que aquela câmera
14:29não foi ligada,
14:30o Copom liga
14:31à distância
14:32a câmera do policial.
14:34Hoje são esses três modelos,
14:35a diretriz federal
14:36possibilita
14:37esses três modelos,
14:38embora reforce
14:39um pouquinho mais
14:40que tem que ser
14:40ininterrupta
14:41a ligação.
14:44Os modelos existentes
14:45do mundo,
14:45em geral,
14:46a gravação
14:47ela é intencional,
14:49são poucos os casos,
14:50São Paulo é o grande
14:51exemplo disso,
14:53e a gente entende
14:54que o modelo de São Paulo
14:55foi muito eficiente,
14:56pelo menos no sentido
14:58de criar esse compliance,
15:00esse ajuste
15:01às regras
15:01por parte dos policiais,
15:03porque...
15:03Você está falando
15:05o modelo de São Paulo
15:06ininterrupto, né?
15:07Ininterrupto,
15:08o modelo até agora,
15:09porque o novo ainda
15:10está em sede digital,
15:11a gente ainda não
15:12teve a mudança,
15:13vai ter só quando
15:14for contratado, né?
15:16Ela gera esse compliance,
15:18o policial sabe
15:19que está o tempo todo
15:20sendo gravado,
15:22ela faz com que o policial,
15:24portanto,
15:25ajuste o seu comportamento,
15:28ajuste o tempo todo,
15:30assim como as pessoas
15:30que se relacionam
15:32com o policial,
15:33seja numa abordagem,
15:34seja alguém que longe
15:35resolve dar um oi
15:36ou xingar o policial,
15:37tudo isso está sendo filmado,
15:38então isso gera
15:39essa melhora constante,
15:41por exemplo,
15:41da interação
15:42entre polícia
15:43e sociedade.
15:45E aqui no caso
15:45de São Paulo,
15:46a gente percebeu
15:48que tem um outro uso
15:49das imagens, né?
15:50As imagens são usadas
15:51para fazer formação,
15:53para revisão
15:53de protocolos, né?
15:55Então é um modelo
15:56que a gente entende
15:56muito eficiente.
15:58Quando a gente muda
15:59para gravação intencional,
16:00existem alguns estudos
16:01internacionais
16:02que mostram
16:02que o policial
16:03deixa de ligar
16:04muitas vezes a câmera,
16:06se eu não me engano,
16:06a cada três casos
16:07ele só liga em um,
16:09salvo engano, né?
16:10Essa estatística.
16:12E aí vai ser necessário
16:14que a polícia
16:15tenha um acompanhamento,
16:16o COPOM,
16:17o comandante de batalhão,
16:18o comandante de companhia,
16:20muito constante
16:21para fiscalizar também
16:22se o policial
16:23está ligando a câmera
16:24ou não, né?
16:24Então vai demandar
16:25um outro tipo
16:26de trabalho da polícia
16:27que me parece
16:28bastante elevado.
16:30Então a gente tem defendido
16:31que São Paulo
16:32mantenha essa gravação
16:33em interruta
16:34e caso, enfim,
16:35outros estados
16:36adotem um modelo
16:36que não seja
16:37de gravação em interruta,
16:38precisa pensar muito bem
16:39como vai se dar
16:40essa fiscalização
16:41para garantir
16:42que em todos os casos
16:43necessários
16:43a câmera seja ligada.
16:45Então poderia continuar
16:47em São Paulo,
16:48o que eles alegam aqui
16:49é que a bateria acaba,
16:52né?
16:52Mas a gente sabe
16:53que acaba
16:54porque muitas vezes
16:55o policial aprende
16:56a burlar, né?
16:56Muitas vezes o policial
16:57liga e desliga
16:58e isso acaba usando
17:00mais a bateria, né?
17:01Num caso de São Paulo
17:02que prevê que vai ser intencional
17:04tem a previsão
17:04de colocar uma série
17:05de outras funcionalidades,
17:07leitura de placa,
17:08leitura de facial,
17:10isso também sobrecarrega
17:11a bateria, né?
17:12Então nada garante
17:13que a bateria de fato
17:14vai durar tanto
17:15agora com esse novo modelo, né?
17:17Então a nossa,
17:18como o modelo de São Paulo
17:19foi muito estudado,
17:20a gente defende
17:21que fosse mantido
17:22dessa forma
17:22e que se fosse
17:23para mudar
17:23para gravação intencional
17:24que houvesse estudos
17:26mais prévios,
17:27mais longos
17:28para que a gente pudesse
17:29entender melhor
17:30como garantir
17:32que em todos os casos
17:33ela seja acionada.
17:35Então é um pouco
17:36esse o debate
17:36que está acontecendo aqui.
17:38Entendi.
17:39Então, quer dizer,
17:39o modelo de São Paulo
17:40deu certo
17:41com a gravação ininterrupta,
17:43certo?
17:43E aí você deve tomar cuidado
17:45para mudar
17:46porque a gente mantém
17:47o time que está ganhando, né?
17:49Mas você falou
17:50que no resto do mundo
17:51prevalece o intencional
17:52em que ele começa a gravar,
17:54não é isso?
17:55Exatamente.
17:56E os Estados Unidos
17:57foi o primeiro país
17:58a usar esse sistema?
18:00Eu acho que foi
18:01em Inglaterra
18:03que começou
18:03com o sistema de câmeras,
18:05salvo engano,
18:06e depois Estados Unidos
18:07entrou a reboque
18:08usando o sistema
18:09de câmeras corporais.
18:12E nesses países
18:14eles avaliam também
18:15uma redução
18:15da letalidade policial
18:17ou é uma outra...
18:20É um outro critério
18:22que eles estão avaliando, né?
18:23Porque imagino que
18:24na Inglaterra
18:24não tem isso, né?
18:27Letalidade policial.
18:29Exatamente.
18:29Na verdade,
18:30tem o uso da força, né?
18:31O uso da força
18:32existe em todas as polícias
18:33porque a polícia
18:34só é polícia
18:35porque pode usar a força.
18:37Acho que é importante dizer
18:38o uso da força
18:38não é só atirar, né?
18:40O uso da força
18:41é mandar alguém parar
18:42para fazer uma abordagem,
18:44para fazer uma busca pessoal
18:45e isso é força.
18:46Se o policial te manda parar
18:48numa blitz,
18:49você para.
18:50Ele está usando a força, né?
18:51Então, o uso da força
18:52acontece permanentemente
18:54na atuação policial.
18:55Então, nesses países,
18:57mais do que o uso
18:57da força letal
18:58são esses níveis iniciais
19:00de força.
19:01Abordagem,
19:01abordagem a veículos,
19:03isso tudo, né?
19:04Então, há...
19:05Nesses países,
19:06sobretudo nos Estados Unidos,
19:07que eu acompanho
19:08um pouco mais os estudos,
19:09tem muito mais estudos
19:10e muitos deles,
19:12em relação ao uso da força,
19:13eles não são 100% conclusivos.
19:15Tem estudos que mostram
19:16que melhorou, sim,
19:17o uso da força.
19:18Tem estudos que mostram
19:19que não teve muito impacto,
19:20que continuou o mesmo padrão
19:22de uso da força.
19:23Existem casos,
19:25o que é unânime
19:25em todos eles,
19:26em todos os estudos,
19:27é que melhora
19:28a confiança
19:30da população na polícia,
19:31aumenta a legitimidade policial.
19:33Acho que esse é o grande...
19:34E isso é um ganho
19:35para a polícia,
19:36porque se a polícia
19:37tem um aumento
19:37de confiança,
19:39ela é mais bem tratada
19:40pelo público,
19:41ela recebe informações
19:42importantes,
19:43inclusive para investigar, né?
19:45Então,
19:45o resultado unânime
19:47internacionalmente,
19:48aumento da confiança
19:49e, portanto,
19:49da legitimidade,
19:50em relação aos registros
19:52de crimes,
19:53também varia.
19:53Tem lugar que não aumentou,
19:55também não diminuiu,
19:56e tem lugares que aumentou
19:57o registro de crimes,
19:58como a gente viu aqui no Brasil
19:59nos casos de violência doméstica.
20:01Então,
20:01não dá para cravar,
20:03a Câmara resolveu
20:04todos os problemas
20:04em todos os países,
20:06as análises são variadas,
20:07o que dá para dizer.
20:08Melhora a confiança
20:09da polícia,
20:10em geral,
20:11melhora o uso da força,
20:12ou pelo menos não piora,
20:14e, em geral,
20:15aumenta os registros
20:16de ocorrência,
20:17não piora,
20:18em alguns casos,
20:19mantém estável.
20:20Acho que é um pouco
20:21esse o balanço
20:22dos resultados
20:22que a gente conhece
20:24internacionalmente.
20:26Carolina,
20:26agora,
20:27você trouxe o dado
20:28de 74%
20:29dos policiais rodoviários
20:31federais
20:31que aprovam
20:32o uso das câmeras.
20:35Agora,
20:36aqui em São Paulo,
20:37o governador
20:37Tassil de Freitas
20:38falou que ele prefere
20:39uma população,
20:41que ele quer
20:41uma população segura
20:42a um policial
20:45vigiado.
20:46Esse uso das câmeras
20:48tem sido muito politizado?
20:49Olha,
20:51Duda,
20:51eu queria só esclarecer,
20:53essa pesquisa
20:53sobre a PRF,
20:55ela é muito interessante
20:55porque ela mostra
20:56essa aprovação,
20:57por isso eu quis trazer
20:58esse dado,
20:59porque não é trivial,
21:00muitos policiais
21:00não aprovam,
21:02resistem ao uso
21:03das câmeras,
21:04em parte,
21:05porque, sim,
21:05eu acho que o debate
21:06sobre as câmeras
21:07foi politizado
21:08no Brasil,
21:09e, principalmente,
21:10pela forma como
21:11se pautou o debate
21:13público sobre o uso
21:14de câmeras.
21:14Quando a gente fala,
21:15inclusive,
21:16a imprensa,
21:16os especialistas,
21:17eu mesma já usei
21:19essa abordagem
21:19de que câmeras
21:20é implantadas
21:21para reduzir letalidade,
21:23ou seja,
21:23para controlar
21:24a atuação policial.
21:25Essa mensagem
21:26é uma mensagem
21:26muito ruim,
21:27porque coloca
21:28essa oposição
21:29que o governador
21:30Tarcísio faz,
21:31com a qual eu não concordo,
21:32que é estamos vigiando
21:33o policial
21:33e deixando o bandido solto.
21:35Eu me lembro
21:35de dizeres assim,
21:37a gente precisa colocar
21:37tornozeleira nos bandidos
21:39e não câmera nos policiais,
21:40como se isso fossem
21:41coisas contraditórias.
21:42Elas não são,
21:43elas são complementares,
21:44porque a câmera no policial
21:46não serve para controlar
21:47o policial a ponto,
21:48ela serve para profissionalizar
21:50o trabalho da polícia.
21:52E quando ela é bem implantada
21:53e bem usada,
21:53inclusive,
21:54ela melhora o trabalho policial
21:56por tudo aquilo
21:57que a gente falou,
21:58porque a polícia,
21:59os gestores,
22:00os comandos,
22:01têm outra visão
22:02da atividade policial.
22:03Eu me lembro,
22:04eu estava aqui
22:04nas eleições do Copom,
22:06acompanhando a eleição,
22:07o ano 2022,
22:08e os policiais
22:09foram vitimados,
22:10eles sofreram tiros.
22:12E dava para ver
22:13exatamente a situação
22:15ali dos policiais
22:16para que o Copom
22:18definisse
22:18que tipo de socorro
22:20ia mandar,
22:20se ia mandar
22:21um helicóptero águia
22:23ou se ia mandar
22:23um socorro
22:24por terra.
22:27Veja como é importante,
22:28isso pode salvar
22:29a vida daquele policial
22:30que sofreu um disparo
22:31de arma de fogo
22:32por causa dessa consciência
22:33situacional
22:34que a câmera traz.
22:35tem uma revisão
22:38periódica
22:39de alguns vídeos
22:40aleatórios
22:41para saber
22:41se o policial
22:41está mandando bem,
22:43está respeitando
22:43as normas,
22:44isso gera elogios
22:45para o policial,
22:46isso pode gerar
22:47um retrenamento
22:47para o policial.
22:48Então, veja,
22:49tem uma série
22:50de medidas
22:50que vêm antes
22:51de redução
22:51de letalidade,
22:52e a gente não fala
22:54disso no debate público.
22:55Então,
22:56quando a câmera
22:56vira sinônimo
22:57de controle de polícia,
22:59ela vai ser politizada,
23:00vai ficar essa oposição
23:01aí,
23:02polícia e sociedade,
23:03que dá margem
23:03para essa fala
23:04do governador
23:05com a qual
23:05eu não concordo.
23:06A gente tem que
23:07prender bandido
23:09e a gente tem que
23:10colocar a câmera
23:10nos policiais,
23:11inclusive para ajudar
23:12os policiais
23:13a aprenderem melhor,
23:14fazerem provas
23:15mais robustas
23:16e esses,
23:16por exemplo,
23:17as pessoas que vão
23:19para a audiência
23:19de custódia
23:19não sejam soltas
23:20porque mostram
23:21que o policial
23:21agiu corretamente.
23:23Então,
23:23acho que essa politização
23:24é muito ruim,
23:25fica uma coisa
23:26de direita
23:26contra a câmera,
23:28esquerda é a favor
23:28da câmera,
23:29não é nada disso,
23:30a gente é a favor
23:31de uma polícia,
23:31a câmera é para uma polícia
23:33profissional,
23:33eficiente,
23:34que entregue bons resultados
23:36de redução de crime
23:37para a sociedade.
23:38Eu acho que esse
23:38tem que ser o debate
23:39feito e não essa ideia
23:41de que é policial
23:42versus bandido,
23:43eu acho que isso é muito ruim
23:44e acho que nosso governador
23:45erra ao fazer
23:46essa afirmação
23:47que você mencionou.
23:49Estou pensando
23:50num título
23:51aqui para o programa,
23:52então,
23:52a câmera corporal
23:53melhora a polícia,
23:55certo?
23:55Exatamente,
23:57eu gostaria,
23:57acho que sim,
23:58ou a câmera corporal
23:59ajuda a profissionalizar
24:00a polícia também,
24:01essa é a minha,
24:02enfim,
24:03modesta opinião
24:03sobre esse tema.
24:05Carolina,
24:06e além da polícia,
24:07você falou
24:08policiais rodoviários,
24:10bombeiro também,
24:12tem outras profissões
24:14que também estão usando?
24:16A gente começou,
24:17na verdade,
24:18a gente tem,
24:18em geral,
24:18as polícias militares,
24:20em alguns estados
24:21o corpo de bombeiro
24:22é militar,
24:23mas até onde eu sei
24:24o corpo de bombeiro
24:25não está usando,
24:26as polícias federais
24:27começaram a implantação,
24:29porque a polícia
24:29rodoviária federal
24:30está sob gestão
24:31do Ministério da Justiça,
24:32então,
24:33já começou a implantação
24:34na Polícia Rodoviária Federal,
24:35se eu não me engano,
24:36na Força Nacional
24:37de Segurança Pública,
24:38e que é federal também,
24:40e eu sei que tem
24:40algumas guardas municipais,
24:42agora não me lembro
24:42de cabeça quais municípios
24:44que também começaram a usar,
24:46ou seja,
24:46basta ser,
24:47ah,
24:47se eu não me engano,
24:48há alguma
24:49implantação também
24:50em policiais penais,
24:51que são aqueles
24:52que estão dentro
24:52dos estabelecimentos prisionais,
24:54ou seja,
24:55basta ser força de segurança
24:57que é possível usar a câmera.
24:59Ótimo.
25:01Carolina,
25:01super obrigado
25:02pela entrevista,
25:04esclareceu muitos pontos aqui,
25:06muito,
25:07valeu super aqui
25:08pelo seu tempo,
25:08viu,
25:09obrigado.
25:09Eu que agradeço,
25:11obrigada pelo convite,
25:12espero ter contribuído
25:13aí para essa discussão.
25:14Joia,
25:15tchau.
25:16Bom,
25:16eu conversei com a Carolina Ricardo,
25:18advogada,
25:19socióloga
25:20e diretora executiva
25:22do Instituto Soldapaz,
25:24eu sou o Duda Teixeira
25:25e esse foi mais um
25:26Cruzoé Entrevistas.
25:28Tchau,
25:29até a próxima.
25:29Transcrição e Legendas por Quintena Coelho
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