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A proposta do presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, de reparar os crimes da escravidão e da era colonial provocou uma forte reação do partido Chega, da direita populista.
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Transcrição
00:00O nosso próximo assunto, que foi uma fala em Portugal
00:03sobre reparação histórica do governo português
00:06em relação aos anos de escravidão,
00:11enfim, dizendo que haveria uma dívida,
00:14ainda não se sabe o valor exato,
00:17a favor de países cuja população foi escravizada por eles
00:22nos séculos anteriores,
00:24e que já gerou uma reação bastante contundente
00:27da oposição em Portugal,
00:29justamente quando estamos celebrando
00:3250 anos da Revolução dos Cravos.
00:35Tem dois assuntos aqui.
00:36Primeiro, são 50 anos da Revolução dos Cravos,
00:39o que foi a Revolução dos Cravos,
00:41e depois vamos falar sobre essa questão das indenizações.
00:44Vamos lá.
00:46Hoje, 25 de abril de 2024,
00:48se marca, de fato, 50 anos da chamada Revolução dos Cravos,
00:52que foi a Revolução Militar,
00:55que derrubou o então ditador português, o Francisco Salazar,
00:59que era um ditador desde o final dos anos 30,
01:02ele inicia os anos 40, ele perdura no poder até os anos 70.
01:07É uma revolução muito querida ainda dentro da psique portuguesa,
01:14porque marca o retorno da democracia,
01:17e ela tem todos os componentes simbólicos.
01:21Ela é chamada de a Revolução dos Cravos,
01:23porque um dono de uma lavanderia comprou cravos de presente
01:30para enfeitar a loja,
01:34e aí uma das atendentes da loja saiu de noite,
01:38e ao encontrar as tropas,
01:40resolveu colocar os cravos dentro das espingardas.
01:43Esse acabou virando meio que o símbolo da Revolução.
01:47Outro símbolo da Revolução é uma canção
01:50chamada Grândola Vila Morena,
01:53que ela foi meio que o estopim da Revolução.
01:56Havia um código secreto entre os militares
01:58que a meia-noite 20, na Rádio Renascença,
02:02iria tocar uma música,
02:03e se essa música tocasse,
02:05as tropas poderiam sair dos quartéis
02:07e iniciar essa revolução.
02:08E a música se chama Grândola Vila Morena,
02:12do cantor José Afonso,
02:14que fala sobre a liberdade,
02:16sobre a vila que se governa.
02:17Então, além de tudo,
02:19é uma revolução muito charmosa,
02:21em termos simbólicos.
02:24Tudo isso que iria acontecer hoje
02:27é o Lula decidiu não ir,
02:31até porque, enfim,
02:32na última vez que ele foi,
02:34era o aniversário de 49 anos no ano passado.
02:37Enfim, houve aí uma série de manifestações
02:40contra ele,
02:41capitaneadas pelo Chega,
02:42que é o partido de direita,
02:44um dos partidos de direita
02:46dentro da Assembleia Portuguesa.
02:48E ele não acabou vetando a sua ida.
02:52Quem foi?
02:52Foi o Mauro Vieira,
02:54que é o chanceler dele.
02:55Mas tudo isso acabou meio ofuscado aí,
02:58por conta de uma fala do presidente de Portugal ontem.
03:02É importante.
03:03Temos aí, né?
03:04Temos.
03:05Temos a fala.
03:05Matheus?
03:05Acho que a fala ainda não,
03:07mas temos a repercussão dela.
03:10Acho que é importante a gente falar primeiro da fala.
03:13Então fala da fala,
03:14depois a gente põe o vídeo, Matheus.
03:15que é o presidente de Portugal,
03:19que é o Marcelo Rebelo de Souza.
03:21Ele não é o chefe de governo,
03:24não é ele quem manda no país,
03:25mas ele é o chefe de Estado.
03:27Mais ou menos como a Rainha Elizabeth,
03:29assim, foi,
03:30ou o Príncipe Charles.
03:32E ele falou ontem
03:34a uma série de correspondentes estrangeiros em Portugal,
03:37por causa da Revolução dos Escravos,
03:38que ele é a favor das chamadas reparações históricas
03:44que Portugal teria de pagar
03:48por ter causado séculos e séculos de escravidão.
03:51Então, assim, é um tema extremamente complexo.
03:55A gente pode até discutir isso depois da fala,
03:58mas, assim, é importante dizer que Portugal não recebeu bem esse tema
04:02e ele foi acusado, inclusive, de traição à pátria nesse momento
04:06muito grave,
04:07porque é justamente o que fala o vídeo.
04:08E se o Matheus quiser soltar,
04:13eu acho que agora cabe.
04:14Vamos lá.
04:16Lamento muito dizê-lo,
04:17Sr. Presidente da República,
04:19o Sr. Presidente traiu os portugueses.
04:22Quando diz que temos que ser culpados
04:25e responsabilizados pela nossa história,
04:28que temos que indemnizar outros países
04:30pela história que temos connosco,
04:33e com todo o respeito aos que aqui estão hoje,
04:35de outros países,
04:36Sr. Presidente,
04:37que o senhor foi eleito pelos portugueses,
04:39não foi eleito pelos guineenses, pelos brasileiros, pelos timorenses.
04:42Foi eleito por nós.
04:43Foi eleito por nós.
04:44Foi eleito pelos portugueses.
04:46É eles que têm que respeitar antes de tudo.
04:53É os portugueses que temos que respeitar antes de tudo.
04:55pagar, pagar, pagar, pagar, pagar, pagar o quê?
05:02Pagar a quem?
05:03Pagar a quem?
05:05Se nós levarmos mundos ao mundo inteiro?
05:07Se hoje nos quatro cantos de Portugal há alma portuguesa?
05:11Se hoje em todo o mundo se elogia aquilo que é a pátria e o mundo da língua portuguesa?
05:16Sr. Presidente, eu não quero prender ninguém, nem responsabilizar.
05:20Eu tenho orgulho na nossa história.
05:22Eu amo a história deste país.
05:25E o Sr. Presidente também devia amar a história deste país.
05:29Viva Portugal!
05:31Viva Portugal!
05:32Realmente contundente.
05:47E isso porque ele estava, como ele mesmo disse, com uma plateia composta por vários
05:50chefes de estados, muito provavelmente desses países, inclusive, que ele citou como a quem
05:56Portugal não deve nada, né?
05:57Exato.
05:58Esse foi o líder do Chego, André Ventura, não à toa.
06:01Se vocês repararam ali, ele é apenas parte do parlamento bate palmas, que é justamente
06:08onde se senta a bancada do Chego, mas foi o que ele falou, assim, acho que mais o que
06:14ele falou que é pagar ele a quem, é pagar ele como, né?
06:18De fato, Portugal não pode esconder os livros de história, não pode esconder que 40% do
06:25tráfego negreiro que veio para todo o continente americano veio exclusivamente ao Brasil,
06:30Brasil, que causou mortes indizíveis e não se sabe ao certo quantas mortes ou quantas
06:37pessoas vieram via tráfego negreiro ao Brasil e quantas pessoas foram tiradas de seus lares
06:43de, enfim, diversos lugares como Moçambique, Angola, Aguiné, que é um caso citado por ele, que é uma das
06:51independências mais recentes de Portugal, e chegando a pontos como, por exemplo, o Timor-Leste, que está quase lá do
06:58lado da Austrália, Macau, que é uma colônia, era uma colônia portuguesa encravada na China até mais ou menos
07:051999. Mas assim, como que isso se daria? É uma questão que hoje os americanos se fazem em relação à comunidade
07:16negra. Ai, é necessário reparações? Como? Assim, isso começa a gerar, primeiro, Portugal é um país menor do que, por
07:26exemplo, o Brasil. Como é que você vai reparar o tamanho do Brasil, ou fazer uma reparação proporcional ao
07:35tamanho do Brasil? Segundo, ainda alguns países que fazem parte dessa comunidade lusófona, que são antigas
07:43comunidades portuguesas, hoje são ditaduras, como, por exemplo, é o caso de Angola, que era comandado por um
07:48ditadura até 2018, o João Manuel dos Santos. Você vai dar dinheiro, se você der dinheiro na mão do
07:56país, como, sei lá, você vai estar dando dinheiro na mão de uma ditadura, como que isso se dá? É um assunto
08:01extremamente complexo e que, no fundo, não resolve a história, ou não consegue resolver totalmente. Não desfaz.
08:08Não desfaz. Assim, um pedido de desculpas formal, ele é muito simbólico, mas, assim, até onde se sabe, é a única
08:17coisa que os outros países estão tentando fazer. E aí a gente pensa, inclusive, em outros casos. Como é que a
08:24França resolve, por exemplo, a questão do Haiti? Como que a Inglaterra resolve a questão da Índia? Foram colônias que
08:32foram exploradas, até o Tutano, por essas metrópoles, né? Então, assim, não é difícil, e, além do mais, Portugal é um país
08:41muito ocioso da sua própria história. Então, assim, não é difícil entender que os portugueses, eles tenham, não tenham
08:51recebido tão bem a fala do presidente, que foi essa pessoa que apareceu aí rindo ao final, porque não tinha muito o que fazer
08:58ali, mas, assim, é um assunto extremamente complexo, que ainda não se tem uma resposta cabível, ou é um caminho
09:06claro. Então, assim, é muito... Não é de surpreender que Portugal não tenha digerido bem esse bacalhau.
09:13É, enfim, realmente é um tema sempre muito espinhoso, porque é um tema verdadeiro, né? Aconteceu o que aconteceu, não tem como
09:23fingir que não aconteceu. Milhões de vidas foram afetadas e, ao longo dos séculos, indiretamente, gerações
09:32que vieram a reboque, um continente inteiro pagou o preço por isso também, no caso do continente
09:37africano e também as colônias que receberam esse fluxo de pessoas. E é tudo muito triste e é o que você
09:46falou, não existe uma resposta clara. Mas a pergunta sempre tem que ser feita, até que se chegue
09:51alguma solução que seja mais consensual, que se aproxime mais de uma efetividade em relação a quem
09:59foi afetado, se é que isso um dia será possível.
10:16Obrigado.
10:17Obrigado.
10:18Obrigado.
10:19Obrigado.

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