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O promotor do Ministério Público de São Paulo afirma que a organização criminosa passou a sofrer com rachas internos após a transferência de Marcola e de seus principais integrantes para presídios federais.

Isso dificultou o envio de ordens para os membros e gerou disputas pelo poder.

Em conversa para o Crusoé Entrevistas, Gakiya também comenta a operação Fim de Linha, que ele comandou, e a perseguição do PCC ao senador Sergio Moro.

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Transcrição
00:00Olá, seja muito bem-vindo. Eu sou o Duda Teixeira e esse é mais um Cruzoé Entrevistas. O assunto
00:13hoje é o primeiro comando da capital, o PCC, e para falar sobre isso a gente convidou o
00:19promotor Lincoln Gakia, do Ministério Público de São Paulo. Lincoln já está aqui com a gente,
00:25seja bem-vindo. Boa tarde, um prazer falar com vocês. Bom, Lincoln, você coordenou essa operação
00:32fim de linha, que mostrou várias pessoas infiltradas do PCC em duas empresas de ônibus
00:39na capital paulista. Lincoln, depois de toda a operação, o Guilherme Boulos acusou a Prefeitura
00:50do Ricardo Nunes, de pagar, acho que eram 800 milhões para essas duas empresas. E aí depois
00:56teve alguém da Prefeitura falando que um dos empresários teria feito uma doação para um
01:05membro da campanha do Guilherme Boulos. O que a gente sabe da relação entre o PCC, essas
01:12empresas de ônibus e os políticos? Bom, na verdade, a operação fim de linha, que eu coordenei em São Paulo
01:22terça-feira, ela tinha como objetivo afastar a diretoria de duas empresas de ônibus que
01:30praticamente foram tomadas por integrantes do PCC. Eles estavam aí no conselho diretivo dessas duas
01:37empresas, estavam extorquindo, estavam expulsando, distribuindo dividendos de
01:44maneira irregular para si e para outros membros dessa organização, em prejuízo dos demais
01:53cooperados ou sócios. Nós aprendemos muitos documentos, enfim, a operação, ela foi muito
02:03importante no sentido de afastar a diretoria das empresas, né, de indivíduos que são envolvidos
02:09com crime organizado, com o PCC. Também através da medida, nós conseguimos uma ordem judicial
02:16para que o prefeito fosse obrigado a intervir nessas empresas, não era admissível que a prefeitura
02:26continuasse apagando, né, para esses indivíduos que eram ligados ao PCC, mas a gente não tem
02:32concretamente nessas duas investigações ligação a nenhum político, né. O fato é que após o recebimento
02:42da denúncia, possivelmente a gente vai instaurar uma outra investigação tendente a verificar, por exemplo,
02:50se houve alguma omissão do poder público, e eu não estou dizendo do poder público atual, a prefeitura
02:56municipal, já que essas empresas começaram a participar de licitação há décadas, mas especificamente
03:04com a injeção de dinheiro do crime organizado, com muita percepção, em 2015, né, quando injetaram
03:1225 milhões numa empresa, 50 milhões em outra, para poder participar de licitação pública. Então,
03:20nós vamos avaliar em outra investigação se houve condição de servidores públicos, de políticos,
03:27se houve formação de cartel, né, tudo isso vai ser verificado numa próxima etapa da investigação.
03:34É, Lincoln, essa operação foi enorme, é, e foi muito bem sucedida, porque, né, não teve nenhuma troca
03:41de tiros, né, nenhuma violência, e foi um esquema enorme que foi desmontado. Tem o risco do PCC revidar?
03:53Não, eu não acredito que o PCC vai revidar, claro. Esses diretores que foram afastados podem
04:00tomar algum tipo de atitude, mas a polícia militar já montou uma operação para garantir a presença do ônibus
04:07nas ruas. Aliás, a preocupação do Ministério Público foi não interromper o serviço público, não prejudicar
04:15a população. Por isso que a gente optou, aliás, por essa medida inédita, que foi o pedido de decreto de intervenção
04:24do Poder Público Municipal, né, o Poder Público foi compelido judicialmente a intervir nessas empresas,
04:30e assumir a gestão até que se decida depois, né, se vai fazer uma nova licitação, se vai construir uma nova
04:38diretoria, enfim. O que não pode é continuar o estado de coisas como está. Essas duas empresas receberam do
04:44Poder Público, no ano passado, mais de 800 milhões de reais, as duas juntas. São responsáveis pelo transporte
04:51mensal de mais de 15 milhões de passageiros.
04:53Licon, esse tipo de infiltração do crime organizado em empresas de ônibus, isso acontece no Brasil inteiro?
05:04Olha, eu não sei se acontece, já recebi ligação de outros colegas do Ministério Público, suspeitas,
05:11né, não digo de participação do PCC, mas de infiltração de organizações criminosas nesse
05:17âmbito de atividade. No caso do PCC, especificamente, a preocupação é muito grande, por quê?
05:22Porque eles estão infiltrados aí, praticamente, no Poder Público, prestando um serviço que é público,
05:31né, o transporte metropolitano urbano aqui da maior capital da América Latina. Então, isso,
05:37evidentemente, não pode ficar na mão de criminosos, né, e por isso que eu tenho classificado já o PCC
05:43como uma organização mafiosa. A operação foi muito exitosa, não é só porque não houve
05:49nenhum tiro disparado, mas a gente teve bloqueio de bens efetivamente bloqueados e ativos na ordem
05:56de mais de 800 milhões de reais. Não é que nós pedimos o bloqueio para ver o que tinha, não.
06:02Nós bloqueamos bens e ativos de mais de 800 milhões de reais dessas duas empresas.
06:09Lincoln, e o Marcola, ele continua, mesmo preso, ele continua conseguindo coordenar o PCC,
06:19ou isso é mais um mito?
06:21Não, o Marcola é o líder máximo do PCC, o PCC sofre hoje um racha histórico, né, que nunca aconteceu,
06:29desde a ascensão do Marcola, ele praticamente se voltou contra outros criminosos que o colocaram
06:36ali no poder, a verdade é essa, né, que sempre estiveram com ele no poder, eu falo do Roberto Toriano,
06:42do Abel Pacheco de Andrade, do próprio Andinho, né, do Daniel Canônico, e por que não dizer do GG,
06:49do Manco e do Paco, que foram assassinados a mando, né, de um indivíduo que é sócio do Marcola,
06:56do Fumin, e que foram, o Fumin foi perdoado pelo Marcola, então, mesmo isolado, eles têm acesso
07:05a advogado e têm acesso a familiar, portanto, ele tem sim, né, ainda o poder do PCC, embora o PCC
07:13estivesse aí atravessando um racha, mas ele consegue exercer essa liderança, assim, mesmo isolado,
07:19claro que não com a eficiência que tinha quando estava aqui na peritenciária 2 de Venceslau, por exemplo.
07:24Lincoln, e a gente tem um risco de uma mexicanização do Brasil com esses diferentes grupos,
07:31esse racha dentro do PCC, um grupo brigando com outro?
07:35Olha, eu ainda não enxergo dessa maneira, né, as instituições daqui ainda estão funcionando, né,
07:42adequadamente. O racha, por enquanto, ele vai enfraquecer, na minha opinião, a facção. Eu, quando fiz,
07:49e eu fui responsável pelo pedido de remoção do Marcola e de mais 21 lideranças do primeiro
07:54segundo escalão, eu já esperava duas coisas, dificultar e quebrar a cadeia de comando,
08:00isso aconteceu, de fato, né, há uma dificuldade em repassar as ordens e recebê-las, né, das ruas,
08:07as informações, e num segundo momento a gente sabia que haveria uma disputa interna pelo poder,
08:12e essa disputa geraria um racha. E o racha, ele tende a enfraquecer, não só o PCC, mas qualquer organização criminosa.
08:21Então, isso já era esperado pelo isolamento, o isolamento acabou provocando, adiantando esse racha,
08:29e o que eu garanto para você é que o PCC não será o mesmo.
08:31É, 22 anos 2000, né, quando, da ascensão do Marcola, ele está perdendo o apoio de criminosos que sempre estiveram com ele.
08:41Então, isso para o Estado é uma vitória. É sempre, a nossa estratégia é dividir para conquistar.
08:48Lincoln, uma última pergunta. Nesse julgamento, agora, que pode levar à cassação do mandato do Sérgio Moro,
08:55ele alegou que precisou ter gastos de segurança, e aí, esses gastos ele colocou ali na campanha dele, né.
09:05O Moro realmente precisa desses gastos de segurança? Como é que você vê isso?
09:13Olha, eu fui um dos responsáveis pelo início da investigação, né, do setor da restrita, do PCC,
09:20que acabamos descobrindo esse plano aí. Na minha opinião, era um plano para assassinar o senador Moro,
09:27e não para sequestrá-lo, né, até pelas características dos imóveis lá,
09:32o que havia lá era local para esconder armas e não cativeiro.
09:36E mesmo em agosto, né, o plano foi descoberto no final de 2021,
09:43o ano passado, em janeiro, eu mesmo avisei o senador Moro e a sua esposa,
09:49comuniquei à Polícia Federal oficialmente que instaurou o inquérito,
09:53ele precisou, a partir de então, de escolta, né, porque ele corria risco de vida,
09:59ele só não foi morto naquela época porque não houve uma sinalização positiva
10:02por parte da cúpula do PCC.
10:05Então, ele estava praticamente na mesma situação do que eu, né,
10:08jurado de morte, decretado para morrer.
10:11Agora, mesmo com a prisão dos indivíduos, né,
10:16que foram identificados por nós, pela Polícia Federal e presos,
10:19eu entendo que o risco permanece.
10:23Ótimo.
10:24Lincoln, muito obrigado pela participação aqui no Cruzão Entrevistas.
10:29Eu que agradeço.
10:30Uma boa tarde para todos vocês.
10:32Tchau, boa tarde.
10:33Eu sou o Duda Teixeira e até a próxima.
10:41Duda Teixeira e até a próxima.

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