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O diplomata e professor Paulo Roberto de Almeida, colunista da revista Crusoé, é o convidado do podcast Latitude desta semana.

O ministro de Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, afirmou em um discurso que o G20 deveria se envolver mais na solução dos conflitos na Ucrânia e na Faixa de Gaza. O G20, contudo, não serve para isso.

De acordo com o diplomata e professor Paulo Roberto de Almeida, colunista da revista Crusoé, isso não é função do G20. "Vamos lembrar claramente o que é o G20. Depois de crises econômicas e financeiras em países emergentes no final dos anos 1990, formou-se um órgão vinculado ao Fundo Monetário Internacional e ao Banco Mundial, o Fórum Global para a Estabilidade.

Era um fórum formado apenas por ministros de economia, finanças e comércio exterior, além de presidentes de bancos centrais", disse Almeida em entrevista para o podcast Latitude.

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Transcrição
00:00E agora, sobre outro dos desafios que nós vemos agora, é a questão do G20, né?
00:04O Brasil é anfitrião do G20 neste ano, teve a reunião dos ministros das relações exteriores
00:10nessa semana no Rio de Janeiro, é a penúltima semana de fevereiro, né?
00:16E vamos ter também a reunião dos chaves de Estado lá para novembro, como costuma ser.
00:21Como o senhor analisa o Brasil como anfitrião do G20 com a diplomacia do governo Lula?
00:28Nesse caso aí, pode estar havendo também alguma confusão mental,
00:32seja entre a diplomacia presidencial do Lula, seja na diplomacia do Itamaraty,
00:36porque o chanceler acabou falando, ontem foi desmentido por alguns membros do G20,
00:40em que o G20 deveria se envolver mais na solução do conflito da Ucrânia ou da faixa de Gaza, não é?
00:49Isso não é função do G20. Vamos lembrar claramente o que é o G20.
00:54Você teve uma crise econômico-financeira de países emergentes, países em desenvolvimento,
00:58no final dos anos 90, 97, na Tailândia, na Malásia, na Coreia do Sul, que existiu a Rússia e o Brasil.
01:06A partir dessa crise de países em desenvolvimento, você teve a formação de um órgão vinculado ao Fundo Monetário,
01:14ao Banco Mundial, às organizações de Bretton Woods, que se chamava Financial Stability Forum,
01:19Fórum Global para a Estabilidade. E era um fórum formado apenas por ministros de Economia,
01:27ministros das Finanças, ministros do Comércio Exterior e presidentes de bancos centrais,
01:31ou seja, um órgão ministerial das instituições de Bretton Woods para cuidar dos efeitos,
01:36dos impactos, das repercussões da crise de 1997, 98, 2001, dos países emergentes.
01:44E o Fórum de Estabilidade se reuniu algumas vezes, o Banco de Basileia, Banco Internacional de Compensações,
01:51emitiu algumas regras prudenciais para o tratamento bancário, não é?
01:55Porque você teve uma super exposição em endividamento, em problemas de balanço de pagamentos,
02:03problemas cambiais, monetários, etc. Então, o Fórum de Estabilidade foi criado nesse contexto
02:08para tratar de problemas da economia global dos grandes equipos.
02:12Depois passou essa fase, o mundo voltou a crescer e se esqueceu um pouco,
02:17nem sei se o Fórum voltou a se reunir nos anos 2000.
02:20O fato é que você depois teve uma crise imobiliária nos Estados Unidos,
02:24já evidenciada desde 2005, se tornou patente em 2007, não é?
02:28Bolha imobiliária que estourou, atingiu o setor bancário e atingiu o setor de seguros, não é?
02:34Em 2008, 2009, você teve uma crise de países em desenvolvimento, mas com repercussões mundiais, não é?
02:39A China não foi atingida pela crise, mas as exportações da China, em 2009, caíram 30%,
02:45por causa da crise na Europa e nos Estados Unidos.
02:48Então, a partir daí, o Bush Filho convoca o Fórum, não mais ao nível ministerial,
02:54mas ao nível presidencial, ao nível de chefes de Estado e de governo, não é?
02:59Em 2009, você tem a primeira reunião do chamado G20, não é?
03:0319 grandes economias, mais a União Europeia.
03:07Então, o G20 continua sendo um órgão para tratar de problemas econômicos e financeiros,
03:13por causa da crise de países desenvolvidos dessa vez, não é?
03:17E aí passa a se reunir de forma anual, digamos.
03:22Por quê?
03:22Porque antigamente você tinha um G7, que surgiu lá nos anos 60, nos anos 70, com a crise
03:29do dólar, que representava as grandes economias do planeta e que dominavam talvez 60, 70% do
03:35PIB global e 80% do comércio internacional, não é?
03:40Com os seus vários aliados na Europa Ocidental e em outros lugares, etc.
03:44Então, esse G7 era o grande negociador das plataformas econômico-financeiras que afetavam
03:51todo mundo, não é?
03:52E o socialismo depois acabou, nos anos 90, mas aí o G7 já não tinha tanta influência
03:58assim.
03:58Hoje, o G7 representa menos da metade da economia global e muito menos ainda do comércio internacional.
04:05Então, você teve a emergência de outras grandes potências no sul global, não é?
04:09A Índia, a China, o próprio Brasil.
04:13Então, a partir do momento em que o Bush, filho, convocou o G20, não é?
04:18Você teve uma presença, portanto, de grandes economias representativas do equilíbrio global.
04:25Mas ele continua sendo um foro econômico-financeiro, o que não impede que o G7, por exemplo, se reúne
04:31também anualmente, trate de questões políticas, como tratou em Hiroshima.
04:35Em Hiroshima, o Lula esperava ser a grande vedete da reunião do G7 e o Zelensky apareceu e
04:43capturou, digamos, todas as atenções da imprensa e dos próprios participantes, não é?
04:49Então, tem uma certa confusão entre instâncias políticas, não é?
04:53O G7 era uma instância econômica, mas que também se tornou política, resolveu problemas
04:57de endividamento em várias instâncias.
04:59E você tem o G20, que é econômico-financeiro, mas que, como a ONU está paralisada, não é?
05:06Inclusive, por veto russo e sempre houve veto por variados motivos, o G20 é chamado a se
05:12pronunciar também sobre direitos humanos, sobre meio ambiente.
05:16E, veja, a agenda tanto do G7 quanto do G20 atualmente, elas se confundem, porque ao lado
05:22das questões de estabilidade econômica e financeira internacional, você tem meio ambiente,
05:28que se tornou algo absolutamente relevante, desde a conferência Rio 92, não é?
05:33Diferentes protocolos, acordos sobre aquecimento global, não é?
05:37E depois a parte de direitos humanos, que também evidencia o crescente envolvimento de ONGs,
05:44de organizações da sociedade civil, com os assuntos internacionais.
05:47As ONGs estão na ONU hoje, estão nos conselhos da ONU com muito maior presença do que até
05:53os anos 60 ou 70. Então, esse componente de meio ambiente, direitos humanos, questões
05:59sociais, não é? E economia está presente. E o G20 trata um pouco disso. E o Brasil não
06:06pode escapar dessa agenda.

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