Brasil só supera Suíça na cabeça de Gilmar

O Antagonista

Gilmar Mendes voltou a atacar acordos de leniência da Lava Jato. Durante sessão da Segunda Turma do Supremo nesta terça, 27, o ministro afirmou que "não somos uma Suíça qualquer".  Felipe Moura Brasil e Carlos Graieb comentam:  Acompanhe O Antagonista no canal do WhatsApp.  Boletins diários, conteúdos exclusivos em vídeo... e muito mais.  Link do canal:   https://whatsapp.com/channel/0029Va2SurQHLHQbI5yJN344  Apoie o jornalismo independente, torne-se um assinante do combo O Antagonista | Crusoé e fique por dentro dos principais acontecimentos da política e economia nacional:   https://hubs.li/Q02b4j8C0  Não fique desatualizado, receba as principais notícias do dia em primeira mão se inscreva na nossa newsletter diária:  https://bit.ly/newsletter-oa  Ouça O Antagonista | Crusoé quando quiser nos principais aplicativos de podcast.  Leia mais em www.oantagonista.com.br  |  www.crusoe.com.br

Transcript

00:00O Gilmar Mendes voltou a atacar os acordos de leniência da Lava Jato.

00:03Durante sessão da segunda turma do STF, nessa terça, 27 de fevereiro,

00:07o ministro afirmou que não somos uma suíça qualquer.

00:11Não somos uma suíça qualquer.

00:13Olha que ponto chegou o Gilmar Mendes.

00:15Essa frase, eu acredito que nem existe contexto possível para ela.

00:19Mas vamos aqui ser generosos e mostrar a fonte primária,

00:22o trecho do vídeo desse julgamento,

00:25na segunda turma com o Gilmar Mendes falando.

00:27Pode soltar.

00:28É preciso entender esse movimento.

00:34É preciso fazer o devido aprofundamento.

00:39Nós todos temos uma responsabilidade histórica.

00:41É preciso que nós sejamos dignos desse desafio.

00:51Acho fundamental que esses fatos sejam contados

00:55para as nossas gerações e gerações futuras,

00:59dizendo, nós não transigimos.

01:02Nós não permitimos que isso acontecesse.

01:07Nós não somos uma suíça qualquer.

01:09Porque, de alguma forma, o acaso nos deu uma chance enorme.

01:14O ministro Lewandowski tinha pedido,

01:17eu me lembro de sua irritação aqui na turma,

01:22para que o Ministério Público esclarecesse,

01:25a Corregedoria do Ministério Público esclarecesse esses fatos,

01:28as irregularidades ocorridas em Curitiba,

01:32com esses fatos, em relação a esses fatos.

01:35E qual foi a resposta da Corregedoria?

01:38Que não houve qualquer irregularidade.

01:41E, muito provavelmente,

01:44a douta procuradora, a Corregedora,

01:46se louvou apenas em informes oficiais.

01:51Mas a vaza jato, a spoofing,

01:53deita luz sobre isso.

01:55E isso precisa ser corrigido,

01:57inclusive pelos órgãos de Corregedoria da Procuradoria.

02:00Porque os fatos são graves.

02:06E isto cria um contexto

02:10e ilumina todo o debate sobre

02:14os acordos de Leninense.

02:19Mas eu finalizo lembrando um fato

02:22que vem sendo esquecido.

02:25O que parece fundamental

02:27é que o Ministério Público

02:29não tem competência legal

02:31para fazer acordo de Leninense.

02:36Está aí.

02:37Esse é o Gilmar Mendes com todo o misancene.

02:40Parece que ele vai começar um culto.

02:42Tem toda aquela performance

02:43de que temos que mudar essa história.

02:45Eles querem reescrever a história.

02:47E ele fala isso abertamente para o futuro,

02:50para as futuras gerações.

02:51Só que ele não aceita decisões técnicas.

02:54Ele tenta inverter.

02:55Ele tenta transformar em técnicas

02:59as decisões dos ministros do Supremo Tribunal Federal

03:01que, insatisfeito com as conclusões da Corregedoria,

03:05por exemplo,

03:06vão lá dar canetada ignorando relatórios

03:09bastante específicos.

03:11Então, o Gilmar reconhece

03:12que houve um relatório da Corregedoria

03:14dizendo que não havia irregularidades

03:17nos acordos de Leninense,

03:19em toda a tramitação.

03:21tudo o que a gente já abordou aqui em detalhes,

03:23em outras ocasiões,

03:24a respeito desse episódio.

03:26O Ricardo Lewandowski,

03:27o Dias Toffoli ignoraram esse relatório.

03:29O Toffoli ignorou o relatório da Corregedoria

03:32em uma dessas decisões,

03:33nessa série de decisões favoráveis às empresas,

03:37esvaziando o conteúdo dos acordos de leniência.

03:41E o Gilmar solta essa frase grave,

03:43para você completar aí nos minutos que faltam,

03:46que a Rafaela já está online,

03:47é que o Brasil não é uma Suíça qualquer.

03:51Ele acha que o Brasil superou a Suíça,

03:54graças a ele.

03:57É, a Suíça é um lugar terrível, né?

04:00É uma vergonha para a civilização, a Suíça.

04:05Tem muito o que aprender com o Brasil.

04:10O que está acontecendo, Felipe?

04:12Uma parte da briga,

04:15a gente sabe muito bem exatamente qual é, né?

04:18Essa tentativa de demolição final da Lava Jato,

04:22de qualquer resquício que ainda tenha de pé da Lava Jato.

04:26Tem uma discussão de fundo

04:27que o Gilmar Mendes acabou mencionando

04:31no último instante da fala dele,

04:33que é a competência do Ministério Público

04:36para realizar acordos de leniência.

04:39Ele dá por certo que o Ministério Público

04:43não tenha essa competência,

04:44que o Ministério Público usurpou essa competência legal.

04:48Isso é uma discussão cabeludíssima

04:49no direito brasileiro atualmente.

04:53Eu comecei a me interessar pelo assunto,

04:56estou tentando entender,

04:57mas existe uma leniência

04:59que é administrativa,

05:02e existe uma leniência que é judicial,

05:04e existem lugares em que sequer poderia haver leniência

05:09se o Ministério Público não atuasse.

05:12Tem cidades pequenas que não têm

05:14controladoria geral,

05:19ou advocacia geral,

05:20ou qualquer coisa parecida,

05:22tem que ser o Ministério Público a atuar.

05:24Se não tiver Ministério Público fazendo leniência

05:27com empresas de cidades do interior,

05:29por exemplo,

05:30jamais haverá leniência no Brasil.

05:31O Instituto ficará restrito

05:36às grandes,

05:38às gigantes como a JIF e a Odebrecht,

05:40que conseguem se livrar das leniências

05:42depois de algum tempo.

05:44Então, é uma discussão complicada.

05:48Agora, o Gilmar Mendes,

05:50com essa voz que quase me...

05:51Nossa, quase me deu arrepio

05:53a voz mansa que ele usou.

05:56Os pelinhos da minha nuca

05:58começaram a ficar de pé.

05:59Com essa voz mansa,

06:03o Gilmar Mendes não dá ponto sem nó.

06:07Ele está querendo botar um bode na sala.

06:12Ele está querendo

06:13acenar com uma deslegitimação

06:19definitiva do Ministério Público

06:21para qualquer acordo de leniência,

06:24possivelmente como um mecanismo

06:26de negociação.

06:29E parece que já começou a dar certo, Felipe.

06:33Porque quem foi que concordou

06:35com essa repactuação

06:38assinada,

06:40convocada aí pelo

06:42ministro André Mendoza?

06:45Gonê.

06:46Paulo Gonê,

06:48novo procurador-geral da República,

06:52o representante legal

06:54do Ministério Público Federal.

06:57Ele topou

06:58fazer essa revisão.

07:00Ou seja,

07:02implícito neste topar

07:04do Gonê,

07:06está o reconhecimento

07:07de que é preciso

07:09rever esse negócio todo.

07:12talvez o Ministério Público

07:14não tenha agido

07:16da maneira correta,

07:18talvez tenha agido

07:19fora da sua competência.

07:21Vamos rediscutir

07:22essa história toda.

07:24Está tendo

07:25um rearranjo

07:26institucional

07:27nos bastidores.

07:29Isso aí a gente

07:30não está vendo.

07:32Mas essa fala

07:32do Gilmar Mendes

07:33certamente

07:35é parte

07:36da

07:37torcida de braço.

07:40Isso, da pressão.

07:41eles gostam de falar

07:43que a Lava Jato

07:44torceu o braço

07:44das empresas.

07:46Pois bem,

07:46o Supremo Tribunal Federal

07:48está torcendo

07:50o braço

07:50do Ministério Público

07:52para que ele

07:52acate

07:53a revisão

07:54das leniências

07:55e fique pianinho.

07:56E o Gonê,

07:57que já se mostrou

07:58um...

08:00Peraí,

08:01eu vou falar

08:01o que eu estou pensando.

08:04Não é?

08:05Topou,

08:05entrou nesta.

08:06Já faz parte

08:08da turma

08:09o Gonê.

08:10Ele já entrou

08:11com esta missão

08:13entre outras,

08:14acolhantar

08:15os acordos

08:16de leniência.

08:18Uma das primeiras

08:18coisas que ele fez

08:19é essa,

08:20assinar lá

08:21o negócio,

08:21tá bom,

08:22vamos revisar tudo.

08:23O Ministério Público

08:24Federal

08:24dá o seu ok

08:25para essa revisão.

08:26Ele não brigou.

08:28Ele não brigou

08:30pelo que o órgão

08:31que ele representa

08:32fez no passado.

08:34Ele não tentou

08:35defender

08:35as prerrogativas

08:37do Ministério Público

08:37para fazer, sim,

08:39acordos de leniência.

08:40o que é uma posição

08:41jurídica

08:43e

08:44doutrinária

08:47absolutamente

08:47defensável.

08:49Ele não brigou

08:50por isso.

08:51Ele cedeu.

08:52Ele foi colocado

08:53lá pelo Lula

08:55depois de uma

08:56campanha

08:56para ele

08:58feita pelo Gilmar Mendes,

08:59por esse mesmo,

09:00cuja fala

09:01a gente está comentando.

09:02Então,

09:02obviamente,

09:03a gente tinha toda

09:03a desconfiança

09:04e ele,

09:05em boa parte,

09:06em boa medida,

09:07está mostrando

09:09que mereceu

09:09toda essa desconfiança

09:10e a gente vai continuar

09:11vigiando.

09:12do Sul.

09:13O que é um

09:14do Sul?

09:15O que é um

09:16Legenda por Sônia Ruberti

Categoria

Transcrição

Recomendado