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  • 07/05/2025
CEO e chairman da Galeria Holding conta o que precedeu sua trajetória na publicidade, como funciona sua cabeça na hora de estruturar e tomar decisões de negócio, além de comentar as polêmicas que marcam a jornada da agência Galeria

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Transcrição
00:00:00Movido pela insatisfação com o modelo de negócios do qual fazia parte a agência que ele comandava na época,
00:00:05meu convidado de hoje resolveu abrir uma agência independente que hoje é uma das maiores do país.
00:00:11O nome dela é Galeria.
00:00:13Também é o nome do grupo do qual fazem parte, além da agência, outras nove empresas.
00:00:19Eu sou Isabela Leste, editora do Meio Mensagem.
00:00:21Você está acompanhando a ideia, que é o podcast em que converso com personalidade
00:00:25sobre as ideias que movem seus negócios e suas trajetórias.
00:00:30E hoje eu tenho o prazer de receber aqui Eduardo Simon, que é CEO e Chairman da Galeria.
00:00:39Seja muito bem-vindo, Edu.
00:00:40Pois é. Obrigado pelo convite. Sempre legal estar junto com você.
00:00:44Vamos lá. Vamos voltar para o já longínco ano de 2021, quando você resolveu abrir a Galeria.
00:00:52Você acha que os grandes feitos, seja nos negócios, seja na vida, são movidos a partir da insatisfação?
00:01:02Gostaria que você falasse um pouco sobre essa insatisfação que você sentiu na época que te moveu a abrir a Galeria e também no geral.
00:01:10Eu acho que a palavra mais correta seria inquietude, uma vontade de mudar as coisas que eu não conseguiria mudar no lugar que eu estava.
00:01:21Então, a gente, recapitulando a história, eu estava há praticamente sete anos liderando a DPZ-IT.
00:01:27Eu vinha de uma fusão também, eu tinha vendido junto com meus sócios a Taterca para o grupo Publicis e a gente fundiu a DPZ com a Taterca e criou a DPZ-IT.
00:01:38E, nesses sete anos, a gente construiu uma história de muito sucesso sobre qualquer ponto de vista.
00:01:43indicadores de qualidade, agência do ano, super reconhecida pela sua capacidade criativa.
00:01:51Eu me lembro que, quando a gente assumiu esse projeto, a agência tinha muito pouca compra de mídia digital,
00:01:57ela estava muito pouco preparada para a transformação que tinha pela frente.
00:02:00Ao final, a gente era a segunda ou a maior compradora de mídia no Google, como exemplo.
00:02:06A gente ganhou os principais prêmios, conquistou contas incríveis, fez um trabalho muito relevante.
00:02:12E era 52% do resultado da Publicis no Brasil.
00:02:16Então, era a maior agência do ponto de vista de rentabilidade.
00:02:20E a gente vivia um processo com eles de discussão permanente sobre o modelo de negócio,
00:02:26sobre como a gente queria transformar o negócio, investir em empresas de tecnologia, ampliar a oferta.
00:02:32E, obviamente, que como uma multinacional, a Publicis tinha o jeito dela de olhar, as prioridades dela.
00:02:37Estavam fazendo a sua transformação internacional.
00:02:39Eu compreendo que isso drena esforços, drena a tensão.
00:02:43Isso começou a gerar fricção.
00:02:46E eu tenho na minha carreira...
00:02:48Eu nunca fui executivo de lugar nenhum.
00:02:50Eu sempre fui empreendedor desde a faculdade.
00:02:52Então, eu acho que eu trilhei um caminho alternativo sempre,
00:02:54de querer fazer as coisas do jeito que eu acredito.
00:02:57Tenho, confesso que, pouca paciência para as índiosicrasias de grandes corporações.
00:03:01Então, essa inquietude, ela encontrou eco nos nossos clientes e nos meus sócios, no Rafa Orenha e no Paulo Ira.
00:03:10E a gente...
00:03:11O projeto nasceu no Carnaval de 2020, junto com a pandemia.
00:03:15Acho que foram duas coisas que mudaram muito a minha vida.
00:03:18A gente estava...
00:03:20Eu e o Rafa viajamos e a gente estava na viagem, super inquietos com um monte de coisa que a gente estava tendo dificuldade,
00:03:27preocupado com o futuro da indústria.
00:03:29Eu tinha uma inquietação muito grande porque eu olhava o ranking das maiores agências,
00:03:33das 10, 20 maiores agências, e tinha uma, duas brasileiras.
00:03:35E eu achava isso errado, porque não precisa ser todas brasileiras e nem todas multinacionais.
00:03:42Tem que ter espaço para modelos de negócio diferente.
00:03:44O Brasil é uma potência em publicidade, em propaganda.
00:03:47Então, não fazia muito sentido isso para mim.
00:03:50E a gente, naquele momento, falou...
00:03:52Bom, vamos na contramão, vamos tentar um modelo diferente.
00:03:56E eu acho que sim.
00:03:58Quando eu olho para trás, eu vejo tudo o que a gente fez nesse tempo curto de vida,
00:04:03porque são três anos, a gente ainda seria uma startup num ritmo normal,
00:04:08mas a gente chegou muito rápido entre as maiores do Brasil,
00:04:12com reputação muito boa junto aos clientes.
00:04:15Quando eu olho, a gente foi endereçando várias inquietudes ou várias insatisfações
00:04:19que a gente tinha na indústria, no negócio, no negócio que a gente liderava,
00:04:23nas conversas que a gente tinha com os clientes.
00:04:25Então, a gente foi tentando endereçar cada uma delas,
00:04:27e isso deu origem a criar outras empresas, a mexer no modelo de sociedade,
00:04:31a reconhecer as pessoas de uma outra forma, enfim.
00:04:36E você, hoje, comanda também o grupo, a Holding, da qual eu falei no começo da conversa,
00:04:42que é a Galeria Holding.
00:04:43Fala um pouco sobre como é que foi a construção, a ampliação dos negócios.
00:04:50Porque, no começo, vocês abriram a galeria, ficou bastante tempo ali só com a operação,
00:04:55daí depois veio a operação de OH.
00:04:58Isso.
00:04:59Isso já estava lá desde o começo, essa visão de ampliar e de montar um grupo?
00:05:04Claro.
00:05:05Eu sou bastante metódico, acho que até demais para o nosso mercado.
00:05:09Eu gosto de desenhar os próximos passos, eu fico pensando como é que eu vou...
00:05:15Eu jogo um xadrez na minha cabeça de como é que eu vou fazer cada movimento.
00:05:19E a gente tinha feito um diagnóstico, especialmente olhando para os nossos clientes ali naquele momento,
00:05:25de que a gente estava vivendo, e isso agora é absoluta verdade,
00:05:29uma convergência entre tecnologia e comunicação.
00:05:33Hoje em dia, não adianta a gente fazer nenhum esforço de comunicação,
00:05:36porque ele vai se perder em algum momento, em algum tipo de barreira tecnológica
00:05:40que o teu cliente tenha, ou que a campanha vai enfrentar,
00:05:42ou que a distribuição do cliente tenha, qualquer que seja ela.
00:05:45E a gente viveu isso muito com clientes como Itaú, McDonald's, Natura, Vivo,
00:05:53e a gente entendia que ali tinha uma grande oportunidade.
00:05:56Então, a gente nasceu muito com a ideia de ter uma agência com um papel generalista
00:06:01de captação de clientes, de construção de comunicação,
00:06:04e criar negócios em torno que ajudassem a gente a ampliar essa oferta.
00:06:08Neste desenho que a gente fez, isso ia vir ao longo do tempo,
00:06:11assim que a gente consolidasse o negócio da galeria.
00:06:14A verdade é que a gente, em um ano e meio, fez aquilo que eu achava que a gente ia fazer em 4, 5 anos.
00:06:19A gente chegou a um nível de compra de mídia bastante alto,
00:06:23com dois anos de vida a gente estava comprando um bi e meio de mídia,
00:06:26hoje é um bi e 800, 900.
00:06:30A gente amadureceu bastante as ferramentas que a gente tinha dentro de casa,
00:06:33a cultura de dados, e aí a gente entendeu que estava pronto para começar outros negócios.
00:06:38Então, primeiro foi a vitrine, que é um negócio de Hour of Home.
00:06:40Ele nasceu, para falar a verdade, acho que a gente não tinha nem um ano de vida como um hub interno da galeria.
00:06:46Hoje a galeria é a maior compradora de mídia, Hour of Home, do Brasil.
00:06:51Acho que a gente tem mais que o dobro do segundo colocado.
00:06:54Mas mais importante que isso, a gente começou a desenvolver plataformas de tecnologia
00:06:57para atender esse mercado, a criar de um jeito diferente.
00:07:01Então, a gente foi a primeira agência a debruçar sobre a legislação da Cidade Limpa,
00:07:06que é a mais restitutiva do Brasil,
00:07:08para entender onde a gente poderia se encaixar com projetos especiais.
00:07:12E aí isso acabou transformando o segmento inteiro,
00:07:14porque hoje todo mundo usa esse espaço que a gente conquistou.
00:07:18Mas, se você for buscar historicamente, falar com os veículos,
00:07:21todos os primeiros projetos foram nossos.
00:07:23A gente começou a mexer com os relógios, com os pontos de ônibus.
00:07:27Delas surgiu uma empresa focada em inteligência de geolocalização,
00:07:32que se chama Fluxo.
00:07:34E aí começou.
00:07:35A gente montou um negócio de UX, um negócio de dados e inteligência artificial,
00:07:39uma produtora que a gente entende que existia uma deficiência
00:07:43de olhar para produções, para social especialmente.
00:07:46Então, hoje a gente faz produção na agência como no modelo americano.
00:07:50Eu compro o filme das produtoras, pego o material bruto,
00:07:54monto e finalizo dentro de casa.
00:07:55Isso dá para a gente uma agilidade e permite a gente desdobrar a campanha
00:07:59em outros tantos formatos.
00:08:03Isso gera uma diferenciação bacana.
00:08:06E o último negócio que a gente abriu, foram dois esse ano,
00:08:10que é a Milá, que é uma segunda unidade criativa,
00:08:13olhando para um outro tipo de relação com os clientes.
00:08:16Modelo ágil, baseado em uma inteligência artificial que a gente criou,
00:08:19o modelo operacional Gaudi, que é para ajudar a agência a operar os clientes
00:08:23usando inteligência artificial, para isso a gente pode ter um modelo de atuação
00:08:27mais ágil, um time bastante sênior.
00:08:30E a gente, que agora a gente acabou de lançar,
00:08:33que é uma empresa focada em social e influencers.
00:08:36A gente tem caching próprio e também trabalha com caching de outros cachings
00:08:40que não estão no nosso portfólio, mas que desenha estratégias de influência
00:08:45para os clientes.
00:08:47E é uma pergunta que eu já te fiz.
00:08:50Quando você completou um ano à frente da galeria,
00:08:53para o jornal do Meio Mensagem, agora eu volto a te fazer essa pergunta,
00:08:57mas com adendo.
00:08:58Quando você abriu a galeria, você levou as principais contas da DPZIT na época.
00:09:03Isso gerou bastante controvérsia, bastante bafafá, para falar português informal aqui.
00:09:10E daí, depois, meses atrás, vocês pegaram mais uma fatia da Vivo
00:09:14que estava na VML há muitos anos e levou os dois principais nomes
00:09:19que atendiam a conta da Vivo na VML.
00:09:23E isso também gerou várias controvérsias a respeito de ética,
00:09:28a respeito do modo com que isso foi feito.
00:09:31Como é que você porta diante dessa situação?
00:09:34O que você pode falar sobre isso?
00:09:36Claro, vamos lá.
00:09:36Primeiro, acho que é importante...
00:09:37Adoro bafafá, né?
00:09:38Eu queria saber a origem dessa palavra, que é maravilhosa.
00:09:41Mas, primeiro, é importante entender que a gente tem relações muito longas
00:09:45com os nossos clientes.
00:09:46Então, o McDonald's está comigo desde a década de 90.
00:09:49A Itaú estava com a DPZ e com o Rafa Urenho,
00:09:52num relacionamento bastante profundo há muito tempo.
00:09:55Vivo também, é um relacionamento super antigo com o DPZ,
00:09:58com a gente já na DPZIT.
00:10:00Então, essas relações são bastante sólidas.
00:10:03Mas, mesmo assim, eu sempre trabalhei com a crença,
00:10:06Natura também, desde 2007 com a gente,
00:10:09eu sempre trabalhei muito com a crença de que o cliente está com a gente,
00:10:13ele não é nosso, ele não é das agências.
00:10:15O cliente está com as agências.
00:10:17E, para ele continuar, todo ano a gente tem que renovar
00:10:20o nosso compromisso com ele, no sentido de manter as equipes,
00:10:24de manter a qualidade, enfim.
00:10:25No processo da DPZ, são duas histórias bastante diferentes,
00:10:31as duas que você citou,
00:10:33o processo todo não foi exatamente o que as pessoas compreenderam.
00:10:38A primeira negociação que a gente fez com eles foi de compra da participação controladora da DPZ.
00:10:44Eles aceitaram isso, o meu contrato estava vencendo,
00:10:49eu ia embora e disse, olha, a única coisa que me faria ficar é se eu pudesse comprar o controle da DPZ
00:10:53e me gerasse com isso a oportunidade de fazer as coisas do jeito que os meus clientes querem,
00:10:58do jeito que a gente acredita.
00:10:59Oito meses de negociação depois, no meio da pandemia, com tudo aquilo acontecendo,
00:11:03eles recuaram e decidiram não fazer.
00:11:06A gente passou mais alguns meses negociando uma sociedade,
00:11:09uma negociação bastante difícil,
00:11:11e, ao final, a gente lançou a agência com eles como sócios,
00:11:14eles tinham 10% da sociedade,
00:11:17e a gente comprou de volta depois de um ano,
00:11:18que era o acordo, depois de um ano eu poderia comprar de volta
00:11:21ou eles aumentarem a participação.
00:11:23E a gente achou que não havia contribuição para o negócio naquele momento,
00:11:26e a gente desfez a sociedade.
00:11:28Então, foi bastante negociada isso,
00:11:31e os clientes optaram,
00:11:35e a gente foi junto com a publicista conversar com os clientes,
00:11:38para qual negócio eles queriam participar.
00:11:40E a gente fez isso de uma forma contratual,
00:11:43tudo bastante claro.
00:11:46No caso da Vivo,
00:11:47eu acho que a história ganhou uma dimensão que ela não tinha,
00:11:52porque virou um monte de rumor,
00:11:53e aí eu entendo que o mercado, obviamente,
00:11:55se alimente, às vezes, também de polêmicas.
00:11:58A Vivo saiu da VML,
00:12:01ela tinha três agências,
00:12:02ela diminuiu o número de agências para duas agências.
00:12:05E eu fui procurado por dois executivos que estavam lá,
00:12:08querendo montar um negócio novo.
00:12:09Daí o mercado passou a achar que eles iam trabalhar para a Vivo,
00:12:13hoje eles não trabalham para a Vivo,
00:12:14a gente tem um outro negócio com eles,
00:12:15com outros clientes, vai muito bem.
00:12:17E a Vivo não veio para a galeria,
00:12:20a Vivo já estava na galeria,
00:12:21e ela diminuiu o número de agências,
00:12:23porque ela entendeu que estava atuando com quatro agências,
00:12:25uma digital, mais três offline,
00:12:27não fazia sentido.
00:12:29Um movimento que, aliás, é bastante comum no mercado,
00:12:31diminuir o número de agências.
00:12:33Então, você vai lembrar, na época,
00:12:36que eu me manifestei muito pouco em respeito à Vivo,
00:12:39deixei combinado com eles que esse assunto morresse.
00:12:42Um dia você mesmo me fez uma pergunta,
00:12:44em uma outra entrevista para o Meio Mensagem,
00:12:47em que eu falei, não, é verdade,
00:12:48a gente contratou os executivos,
00:12:50mas, na verdade, a gente trouxe os executivos como sócio
00:12:53para um outro negócio.
00:12:54E daí gerou-se muita especulação,
00:12:56talvez alimentado por pessoas envolvidas,
00:12:58talvez alimentado por quem estava perdendo a conta.
00:13:01Eu, sinceramente, coloquei pouca energia nesse assunto,
00:13:05porque eu estava muito mais focado em proteger a relação com a Vivo
00:13:09e criar um negócio novo, que é a Milar,
00:13:11que a gente lançou meses depois,
00:13:14já com cinco marcas, com cinco clientes dentro.
00:13:17Então, eu acho que as discussões que envolvem ética
00:13:22elas precisam ser compreendidas,
00:13:24porque, senão, a gente ficar num nível de compreensão superficial
00:13:28é perigoso.
00:13:30É óbvio que, num mercado em que ainda está 90% na mão de multinacionais,
00:13:36alguém que faz um movimento contrário
00:13:37e que pensa diferente, que arrisca e que ganha contas na velocidade
00:13:42como a gente ganhou,
00:13:43sempre vai estar sendo, de alguma forma,
00:13:47apontado como alguém que, olha, ele usa recursos.
00:13:50A gente, eu, hoje, tenho 30 sócios no grupo.
00:13:54São 30 executivos no mercado que estavam dispostos
00:13:57a largar os seus empregos para virarem sócios de algum negócio.
00:14:01Eu acho que isso é muito bom para a indústria,
00:14:02porque cada um desses negócios gera 100, 150 empregos.
00:14:06Hoje, a gente é um grupo que já bate 600 pessoas.
00:14:10Eu olho para essa situação e olho para o passado,
00:14:14acho que a gente fez muito bem para a indústria,
00:14:16no sentido de inspirar outras pessoas a também abrirem seus negócios
00:14:19e inspirar uma conversa de que é possível fazer boa publicidade,
00:14:23gerar emprego, gerar valor para os seus clientes
00:14:25de modo independente, sem precisar estar numa hold.
00:14:28Eu olho as grandes holdings hoje,
00:14:31elas estão trilhando um caminho difícil,
00:14:34elas têm as suas dificuldades, as suas dinâmicas.
00:14:36Eu vejo muita fusão de negócios,
00:14:38destruição de marcas consolidadas,
00:14:41marcas que tinham uma história no Brasil e fora do Brasil,
00:14:44e a gente está fazendo um caminho contrário.
00:14:45Então, é natural que isso, de alguma forma, vai gerar estranhamento.
00:14:49Não somos só nós.
00:14:50Eu acho que a Suno está fazendo, a Arteplan está fazendo,
00:14:54a Soco foi vendida, mas estava fazendo,
00:14:56a Gut foi vendida, mas estava fazendo.
00:14:58Então, são todas as pessoas que, em algum momento,
00:15:01se rebelaram contra um modelo que era um modelo de venda.
00:15:04Todos os negócios foram vendidos e só tinha executivo,
00:15:07não tinha mais empreendedor no mercado.
00:15:10E quando você faz esses movimentos que causam insatisfação
00:15:13e que você fica tido quase como uma persona não grata
00:15:18por parte do mercado, como é que você lida com isso
00:15:20ou você toca para frente e nem pensa muito a respeito?
00:15:23Eu não sei se eu sou visto como persona não grata,
00:15:26que talvez não seja tão relevante esses movimentos que a gente fez,
00:15:30mas eu acho que eu estou preocupado em ter relações importantes
00:15:34com os anunciantes, com os clientes.
00:15:36Eu estou muito feliz com a geração.
00:15:39A gente já tem uma geração, uma segunda geração de sócios no grupo
00:15:43que estão ocupando um espaço relevante na indústria,
00:15:46em áreas como dados, como tecnologia, como na criação.
00:15:52Eu acho que eu estou mais olhando para isso
00:15:54e no impacto positivo que a gente pode fazer
00:15:57do que o que alguém que perdeu uma conta para mim
00:16:00ou alguém que está incomodado com a velocidade que as coisas aconteceram
00:16:04fica pensando.
00:16:05De novo, Isa, eu não vou me desear das polêmicas
00:16:09para fazer aquilo que eu acho certo,
00:16:11sempre baseado em ética,
00:16:14sempre baseado em uma relação transparente com os clientes.
00:16:16E, de novo, se os clientes estão com a gente há tanto tempo,
00:16:19e eu tenho multinacionais,
00:16:20eu tenho o Itaú, que é o maior banco do Brasil,
00:16:22o Vivo, que é uma multinacional,
00:16:23o McDonald's, que é uma multinacional,
00:16:25empresas nacionais importantes,
00:16:27como o Seara, como o Balduco,
00:16:29são clientes que entendem, auditam a gente,
00:16:32entendem que a gente tem um conjunto de soluções
00:16:35e tem governança e tem um trabalho importante
00:16:39de olhar para a forma como a gente trata as pessoas.
00:16:41A gente não tem, por exemplo, o PJ no nosso time.
00:16:44Todas as pessoas são registradas.
00:16:46Então, esse é o tipo de olhar
00:16:48que a gente está tentando dar para o negócio.
00:16:50E eu acho que isso é bom para a indústria.
00:16:52E antes da gente falar de outros temas,
00:16:54que não o mercado,
00:16:56ganhar escala com uma agência independente é difícil.
00:16:59está no horizonte vender a galeria Holden em algum momento?
00:17:04Não, eu vou dar uma resposta.
00:17:08Eu vou escolher bem as palavras para não soar errado.
00:17:12A gente ficou muito grande.
00:17:14E a gente colocou negócios de tecnologia no nosso ecossistema.
00:17:19Negócios de tecnologia, eles crescem muito rápido
00:17:21e eles são avaliados para venda
00:17:24e múltiplos diferentes dos múltiplos de comunicação.
00:17:26A gente criou um negócio que tem governança,
00:17:30que está super blindado,
00:17:31que está indo para uma fase agora de M&As,
00:17:33de comprar outras empresas,
00:17:35que a gente vinha até então abrindo.
00:17:36Agora a gente está olhando para negócios
00:17:37que a gente possa se associar, comprar, entrar como sócio.
00:17:43Eu não estou vendo, nesse momento,
00:17:45muita vantagem em uma associação com sócio estratégico,
00:17:50que a gente chama, que são os que atuam na nossa área,
00:17:53ou mesmo com fundo.
00:17:55Eventualmente, a gente pode, em um negócio,
00:17:58captar dinheiro para comprar.
00:18:00Isso aí é um caminho que...
00:18:01Mas essa história de vender 100%,
00:18:03eu não vejo muita lógica nesse momento.
00:18:06E não vejo por um motivo muito simples.
00:18:08Quando eu olho para o histórico,
00:18:10o negócio de serviço depende muito
00:18:12da presença de uma cultura forte.
00:18:15E eu teria que escolher alguém que respeite
00:18:18o asset que está comprando e diga
00:18:20que essa cultura eu quero manter.
00:18:22Eu, até agora, não vi isso acontecer nos grandes movimentos.
00:18:26Existem movimentos novos, como eu citei,
00:18:28da GUT, da Soco, que a gente ainda está estudando
00:18:31e entendendo o impacto.
00:18:33Mas, na história,
00:18:35o que eu vi foi em agências fortes,
00:18:39que perderam personalidade,
00:18:41com exceção da UMAP, da África,
00:18:43que eu acho que mantiveram uma cultura muito forte,
00:18:45e não por acaso são agências que performam muito bem,
00:18:50mas quase que todas as outras na sua totalidade
00:18:53foram perdendo um pouco a característica
00:18:55e ficaram todas elas muito iguais,
00:18:57a ponto de os grupos começarem a fundir
00:19:00ou criar conceitos de power of one,
00:19:02que é colocar todas elas sobre uma mesma administração.
00:19:05E aí eu acho que a gente começa a comoditizar
00:19:10o serviço que a gente está prestando.
00:19:13E eu acho que, por mais que tecnologia,
00:19:15dados e inteligência artificial
00:19:16acelerem as transações que a gente faz com os nossos clientes,
00:19:20no final do dia tem um pedaço da história
00:19:23que tem muito a ver com o jeito que a gente pensa,
00:19:26com o jeito que a gente se apresenta,
00:19:28com o jeito que a gente trabalha,
00:19:29com as pessoas que estão lá.
00:19:30Eu tentei criar um lugar junto com meus sócios na galeria
00:19:33que, quando a porta do elevador abre,
00:19:36você entende.
00:19:37Você entende o craft, a nossa preocupação com detalhes,
00:19:40se a gente é caro, se a gente é barato,
00:19:42se a gente é...
00:19:43Tudo isso são valores que a gente tenta transmitir nos negócios.
00:19:47Eu não quero que vire um genérico,
00:19:49que a galeria vire um genérico.
00:19:52E falando um pouco da sua trajetória, Edu,
00:19:54porque tem alguns CEOs, alguns executivos de empresas
00:19:57que ficam o tempo todo falando sobre si,
00:20:01você é um pouco mais discreto.
00:20:03Fala um pouco sobre de onde você veio,
00:20:06como você cresceu,
00:20:07como você chegou até a publicidade.
00:20:09Claro.
00:20:10Eu sou um pouco mais...
00:20:12Eu sou do trabalho, menos do LinkedIn,
00:20:14mas não tenho nada contra.
00:20:16Eu acho que é uma ferramenta importante.
00:20:17Inclusive, a gente ajuda alguns dos nossos clientes
00:20:19a construir um pouco da imagem corporativa das empresas
00:20:22através da presença pública do CEO.
00:20:25A gente criou a galeria com um nome que tem a ver com coletivo.
00:20:31Então, eu quis que aparecesse um conjunto de pessoas.
00:20:36Quando a gente tinha um ano, a gente ganhou o Caboré.
00:20:38E, na hora de subir, eu peguei o Pedro Cruz,
00:20:40que era meu sócio na época,
00:20:41e falei, você que vai falar.
00:20:42Ele travou.
00:20:43Eu falei, não, não, eu não quero eu falar,
00:20:45porque esse não é o projeto do Edu Simão,
00:20:46do Rafa Urenha, do Paulo Willian,
00:20:48é um projeto de vários sócios.
00:20:50Bom, eu comecei a trabalhar com publicidade
00:20:52antes de entrar na faculdade.
00:20:53Eu saí de casa muito cedo, com 16 anos.
00:20:56E eu achava que eu ia ser arquiteto ou publicitário.
00:21:01E acabei prestando as duas faculdades
00:21:03e entrei na publicidade.
00:21:05Por que você saiu de casa com 16 anos?
00:21:07Porque minha família foi embora para o interior de São Paulo
00:21:10e eu estava terminando, 16 para 17 anos,
00:21:13terminando o colegial.
00:21:14E eu não queria ir embora.
00:21:15Então, eu tive que sair de casa.
00:21:17Meu pai não gostou nem um pouco disso.
00:21:19Falou, então, você vai ter que se virar sozinho,
00:21:21pagar suas faculdades sozinho.
00:21:22E, ok.
00:21:23Então, isso me empurrou para o mercado de trabalho muito cedo.
00:21:25Mas sua família é de São Paulo.
00:21:27Minha família é de São Paulo.
00:21:28Me empurrou muito cedo para o mercado de trabalho
00:21:30e me ajudou também, acho que, a amadurecer muito rápido.
00:21:35Eu fiz faculdade de publicidade,
00:21:37depois eu fiz administração de empresa.
00:21:40Então, isso já me deu um perfil um pouco mais de gestor,
00:21:42assim, de negócio.
00:21:44Me dá uma facilidade de lidar com o número,
00:21:46de entender o negócio dos clientes.
00:21:47E, quando eu estava na faculdade de publicidade e propaganda,
00:21:52um professor meu falou,
00:21:53não, olha, eu conheço uma pessoa que vai adorar você,
00:21:56você tem que falar com ela e trabalhar com ela.
00:21:59Era a Ana da Demi-9, a Ana Serra.
00:22:03E eu fui conversar com ela e, realmente, a gente se deu super bem.
00:22:07Aliás, a gente é amigo hoje e ela adora essa história,
00:22:09quando eu conto, porque foi muito engraçado.
00:22:10E ela falou, olha, adorei você,
00:22:13eu tenho aqui um programa de estágio,
00:22:15eu queria que você viesse trabalhar com a gente na Demi-9.
00:22:18E era a agência do ano, de Cannes,
00:22:20eu estou falando isso de, sei lá, 90 e alguma coisa,
00:22:25no começo da faculdade, 94, talvez.
00:22:28E o programa de estágio era não remunerado naquela época,
00:22:32tinha uma ajuda de custo.
00:22:34E eu não podia, eu tinha que pagar a faculdade.
00:22:36Então, naquele momento, eu percebi que eu nunca ia entrar
00:22:38no mercado de trabalho pelo caminho normal.
00:22:40E isso foi muito marcante para mim,
00:22:43porque, a partir dali, eu montei uma empresa,
00:22:47uma agência que fazia tudo aquilo
00:22:49que as agências de publicidade não queriam fazer na época.
00:22:52As agências não queriam fazer muita coisa na época,
00:22:54porque faziam campanha só.
00:22:56Então, eu fazia material de ponto de venda,
00:22:58campanha de endomarketing, promoções.
00:23:01E meu segundo cliente foi o McDonald's.
00:23:04Meu segundo cliente, que está comigo até hoje.
00:23:06Então, você vê como a história da gente,
00:23:07ela vai sendo moldada, às vezes, por tropeços
00:23:09e desvio do caminho tradicional.
00:23:12Eu me lembro que eu saí do prédio da DM9,
00:23:15que ficava na Vila Olímpia,
00:23:17e peguei um táxi arrasado,
00:23:20porque eu falei, acho que nunca vou trabalhar em publicidade,
00:23:22eu devia ter feito arquitetura.
00:23:24E, no final, acabou me empurrando para ser empreendedor.
00:23:27Essa agência foi comprada pela Taterca,
00:23:29eu virei sócio da Taterca, alguns poucos anos depois,
00:23:33e lá fiquei minha carreira inteira,
00:23:36e construí uma história sempre como dono, como sócio,
00:23:41podendo fazer as coisas do jeito que eu acreditava,
00:23:44do jeito que eu...
00:23:45Sempre cercado de pessoas muito brilhantes,
00:23:47porque o dono de Taterca, que era meu sócio,
00:23:49foi meu professor na publicidade,
00:23:51um cara também rebelde,
00:23:53que pensa as coisas de uma maneira diferente.
00:23:54Depois tive a oportunidade de fazer a fusão com a DPZ,
00:23:57trabalhar com o Roberto do Alibio por perto.
00:24:00Foi muito bacana essa construção.
00:24:02Então, a minha história sempre foi construída
00:24:06num caminho alternativo.
00:24:07Eu nunca tive uma carreira como executivo,
00:24:10onde eu fui subindo,
00:24:11eu sempre fui muito exposto a gerir o negócio,
00:24:14a entender as dificuldades financeiras,
00:24:16e é onde eu fico mais confortável.
00:24:18Quando eu me vi como parte de um grupo internacional,
00:24:21eu me perdia muito no jeito de tomar decisão,
00:24:25na demora, às vezes eu precisava fazer alguma coisa,
00:24:27eu tinha que pedir, demorava, e era a coisa certa,
00:24:29mas eu não podia fazer, porque senão outra agência ia achar ruim.
00:24:32E eu sempre achava isso tudo muito sofrido.
00:24:36E hoje eu me sinto muito em casa,
00:24:38quando eu tenho que tomar decisão,
00:24:39conversando com o cliente, a gente toma,
00:24:40e o que eu falar vale mais do que qualquer contrato.
00:24:43E é onde eu gostaria de estar e é onde eu estou.
00:24:48Por que você decidiu no fim?
00:24:50Você lembra disso, desse momento?
00:24:51Que você decidiu por publicidade e não por arquitetura?
00:24:54Olha, eu sempre fui um bom negociador.
00:25:00Sempre, desde a escola, quando tinha alguma confusão,
00:25:02eu que ia, eu que ia falar com os professores.
00:25:05Então, eu achava que trabalhar com comunicação
00:25:06fazia muito sentido.
00:25:08E eu via publicidade, via as coisas na década de 90,
00:25:11no começo dos anos 90,
00:25:12a gente estava vivendo os anos incríveis
00:25:15da publicidade brasileira ali.
00:25:17Eu ficava muito encantado com aquilo.
00:25:21Por outro lado, eu sempre gostei de arquitetura.
00:25:24Hoje eu tenho uma coleção de livros de arquitetura,
00:25:27sei lá, mais de 300 livros,
00:25:28porque eu sou um arquiteto frustrado,
00:25:30realizo o meu sonho de arquitetura
00:25:32quando eu tenho que fazer um escritório novo,
00:25:34uma casa nova.
00:25:35Mas ali, quando eu tinha 16, 17 anos,
00:25:38eu arrumei um emprego numa agência de propaganda
00:25:40onde eu fazia de tudo.
00:25:42Você acaba, garoto ainda,
00:25:44então, tudo que você imaginar,
00:25:45comprar material, ir a um cliente entregar alguma coisa.
00:25:49E era bem a transição do estúdio
00:25:52com o diretor de arte,
00:25:54o Pestap Man,
00:25:55para os primeiros computadores.
00:25:56A agência tinha um computador no Macintosh,
00:25:58grande e tal.
00:25:59E eu me acantei com aquele Macintosh.
00:26:01Nunca tinha visto aquilo.
00:26:02E eu falei, não, eu quero trabalhar com isso.
00:26:04Esse mundo de possibilidades
00:26:06por trás de um computador,
00:26:07de você transformar uma ideia.
00:26:10E quando eu montei a minha primeira agência,
00:26:12dois anos depois,
00:26:14um negócio pequenininho,
00:26:16você faz tudo.
00:26:16Então, era criativo,
00:26:17era atendimento,
00:26:19era planejador.
00:26:20A gente acabou fazendo de tudo,
00:26:22porque o negócio é pequeno.
00:26:23E isso acabou me dando um prazer
00:26:25de execução muito grande,
00:26:28porque você põe a mão na massa,
00:26:30você realiza.
00:26:30Um negócio que me toca até hoje
00:26:32na nossa profissão é
00:26:34a gente entra no final de um processo.
00:26:36Às vezes o cliente vai criar um produto
00:26:37e ele vai lançar daqui três anos,
00:26:39dois anos,
00:26:39e a gente entra no ciclo final do processo
00:26:41onde a gente dá vida para aquele projeto.
00:26:43A gente vai...
00:26:44A primeira fotografia,
00:26:45o design da embalagem,
00:26:47a ideia de como ele vai ser lançado,
00:26:49os resultados que a gente vai colher.
00:26:51Esse ciclo mais curto de realização mesmo
00:26:54dá um prazer para quem está tocando.
00:26:57Isso é muito grande.
00:26:58E eu acho que isso que me empurrou
00:27:00para o lado da publicidade.
00:27:01Quando eu tive esse primeiro contato
00:27:02ainda em uma agência
00:27:04que era praticamente um estúdio
00:27:06de dez pessoas,
00:27:07eu me encantei.
00:27:08Falei, é aqui que eu quero ficar.
00:27:10E você fez publicidade
00:27:12e depois a administração?
00:27:14Foi ao mesmo tempo?
00:27:15Fiz depois.
00:27:15Logo depois.
00:27:17Foi muito importante para mim
00:27:18porque aí sim,
00:27:21isso é uma crítica que eu sempre fiz à indústria,
00:27:22eu acho que poucas agências
00:27:24são tocadas como um negócio.
00:27:27Eu acho que a gente está numa profissão
00:27:29onde tudo que a gente faz,
00:27:30as pessoas comentam, conversam,
00:27:32às vezes a gente faz uma campanha
00:27:33do Hamilton para o Itaú,
00:27:35ou transformam o McDonald's em Mac,
00:27:37ou faz uma campanha incrível para a Natura,
00:27:40para a Vivo,
00:27:41e as pessoas falam com você no elevador.
00:27:43Nossa, você que fez essa campanha.
00:27:45E é muito fácil a gente deixar o negócio
00:27:47ser conduzido pelo ego,
00:27:49tomar decisões pelo ego.
00:27:52E eu acho que isso é um negócio,
00:27:53que quanto melhor for administrado,
00:27:55mais saudável ele vai ficar,
00:27:56melhor você vai poder contratar,
00:27:57melhor você vai poder cuidar das pessoas,
00:27:59dos clientes.
00:28:00Então, eu sempre olhei muito,
00:28:02sou uma pessoa que começa qualquer discussão de negócio
00:28:04por um P&L,
00:28:05eu quero saber se o negócio vai dar resultado,
00:28:07se ele é viável,
00:28:09como é que a gente vai achar uma proposta de valor.
00:28:14Eu tenho um pensamento cartesiano
00:28:15muito pela faculdade.
00:28:16E eu fiz ela já depois de formado,
00:28:19depois de alguns anos de formado.
00:28:21E foi engraçado,
00:28:22porque eu convivia com jovens,
00:28:23com uma garotada,
00:28:24e eu via a diferença de formação de exatas e de humanas.
00:28:29Então, isso também foi muito marcante para mim.
00:28:33Eu falei, putz,
00:28:34eu acho que esse encontro
00:28:35é uma coisa que falta um pouco na publicidade.
00:28:38E não por acaso,
00:28:39nisso eu acho que as multinacionais fazem muito bem,
00:28:42elas têm um olhar muito financeiro para o negócio.
00:28:45Então, a gente tentou, na galeria,
00:28:47nesse meu último momento agora,
00:28:49justamente trazer uma disciplina financeira para o negócio.
00:28:52A gente é bem disciplinado financeiramente
00:28:53nas negociações, nas propostas,
00:28:56e dar um tratamento para a criatividade
00:28:58que não é pelo ego,
00:29:00sim pela eficiência que ela gera para os clientes,
00:29:02ou como isso constrói resultado.
00:29:04Eu estava essa semana na convenção do McDonald's,
00:29:09vendo os resultados de marca.
00:29:11Quando você olha lá o valor que você está criando
00:29:13para uma marca,
00:29:14que hoje tem mais do que o dobro da preferência da segunda marca,
00:29:17que tem três vezes a participação do mercado,
00:29:20e que em algum momento já teve ali
00:29:22uma situação bem diferente,
00:29:23você vê a potência do que a gente faz,
00:29:26e você tem um pensamento lógico por trás disso,
00:29:29fica mais fácil da gente, inclusive,
00:29:30precificar o trabalho,
00:29:31da gente acertar na equipe que a gente vai colocar para os clientes.
00:29:35Quando você tem essa atribuição clara
00:29:36do que você faz, o resultado que você gera.
00:29:39Então, esse tratamento a gente tenta dar para o negócio,
00:29:41eu acho que isso é algo que a publicidade sempre deveria fazer, sabe?
00:29:46Se colocar como uma proposta de valor clara,
00:29:49cobrar direitos, ser bastante transparente na relação com os clientes.
00:29:53A gente é muito, sempre trabalha com planilha aberta.
00:29:56Esse tratamento de negócio, de governança,
00:29:58é um negócio que a gente acredita muito na galeria.
00:30:01Mas você acha que esse problema na administração de agências
00:30:05é mais no mercado brasileiro ou em geral?
00:30:09Não, eu acho que é uma característica da indústria, de modo geral.
00:30:15Eu me lembro, eu vivi muito essa transição das agências de dono
00:30:18para as agências compradas pelo multinacional.
00:30:21E eu achei tudo muito emocional.
00:30:22Os grupos compravam um monte de agências
00:30:26e depois não sabiam o que fazer com elas.
00:30:27E aí funde, fecha.
00:30:30Isso é um sinal, para mim, de decisões que são tomadas
00:30:33de forma, às vezes, emocional ou por concorrência, enfim.
00:30:39Então, eu acho que é uma característica da indústria.
00:30:41Quando eu olho o valor das ações dos negócios de publicidade,
00:30:44tirando um ou dois grupos,
00:30:46eles estão todos sofrendo um pouco pela forma como eles são administrados.
00:30:48e eu acho que isso é uma característica em comum
00:30:55do mercado brasileiro com os mercados lá fora.
00:30:58E crescendo, quando você começou a estudar,
00:31:01você se inspirava em quem?
00:31:04No mundo dos negócios ou em geral?
00:31:07Alguém na publicidade, alguém na arquitetura?
00:31:11Se você via essa certa deficiência
00:31:14no modo como os negócios eram geridos,
00:31:16quem foi o seu norte?
00:31:18Olha, eu, na publicidade, muita gente me inspirou.
00:31:23Muita gente com quem eu depois tive contato.
00:31:29O Afonso Serra, pelo jeito que ele lidava com os clientes,
00:31:32eu fui ter contato no final da vida dele,
00:31:34eu achava ele encantador no jeito de lidar com os clientes,
00:31:37entender as dinâmicas do que os clientes precisavam.
00:31:39O Zé Madeira e o Marcelo, pela combinação de lado direito, lado esquerdo do cérebro,
00:31:47um cara mais racional, super cara de negócios,
00:31:50e um cara mais criativo,
00:31:52mas, ao mesmo tempo,
00:31:53que sabia impor o seu valor para a indústria
00:31:55e não deixava os clientes.
00:31:56E eu fui aprendendo a olhar,
00:31:59eu sou muito observador,
00:32:00você falou que eu sou mais low profile,
00:32:03mas talvez porque eu gosto mais de observar
00:32:04do que ficar escrevendo sobre o meu negócio,
00:32:07sobre mim, no LinkedIn.
00:32:08E eu sempre fico tentando ler essas entrelinhas,
00:32:11esses movimentos e aprender.
00:32:13Então, essa geração, especialmente,
00:32:15que, vamos dizer assim,
00:32:16a segunda geração de empreendedores,
00:32:19eu sempre admirei muito.
00:32:20O Nizam pelo ímpeto dele,
00:32:22pela coragem dele.
00:32:24E aí eu fui tirando características para me inspirar.
00:32:27Eu acho que a gente,
00:32:27quando vai formando a nossa personalidade profissional,
00:32:31ela vem muito de observação.
00:32:33Então, olhava o jeito do Nizam de fazer negócio,
00:32:36o jeito do meu sócio,
00:32:37de ser sério com qualidade,
00:32:40não abrir mão de qualidade,
00:32:41o jeito do Marcelo e do Zé
00:32:43de tocar em um negócio bem administrado,
00:32:47bem criativo.
00:32:49Por exemplo, o Fabinho,
00:32:51que era uma coisa que eu observava nele,
00:32:52o Fábio da FNASC,
00:32:54que, mesmo já sendo o cara do mercado,
00:32:58ele não deixava de participar
00:32:59de uma reunião de pré-produção,
00:33:01porque ele entendia que estava ali
00:33:02o segredo do negócio dele.
00:33:04Esse jeito, esses toques que cada um dava,
00:33:07eu fui tentando pegar e transformar
00:33:08a minha personalidade em uma soma disso tudo,
00:33:11aprender sempre com essas pessoas.
00:33:13eu tiro lição de como gerir negócio
00:33:16dos lugares mais improváveis,
00:33:18às vezes de livros, às vezes de filmes,
00:33:20às vezes de séries.
00:33:22Às vezes, eu vou assistir Poderoso Chefão
00:33:27pelo jeito que ele lida com negociação,
00:33:30eu paro e assisto uma cena
00:33:31que ele está negociando duas, três vezes,
00:33:33eu falo, nossa, Mad Men,
00:33:35eu assisti tantas vezes pelo jeito
00:33:37como eles acompanharam a transformação da sociedade.
00:33:39Para mim, aquela série tem pouco a ver
00:33:41com propaganda e muito mais a ver
00:33:42com a transformação da sociedade americana
00:33:45ao longo do tempo,
00:33:45como isso foi moldando a presença das mulheres
00:33:47nos escritórios,
00:33:49a revolução da tecnologia.
00:33:54Belíssima série.
00:33:55Belíssima série.
00:33:56Quem não assistiu,
00:33:57quem é estudante,
00:33:58tem que...
00:33:59Vale um MBA ali de publicidade.
00:34:02Inclusive, quem não se identifica
00:34:05com o universo da publicidade,
00:34:06porque é muito mais que isso,
00:34:07como você falou.
00:34:07É, muito mais que isso.
00:34:08Apesar de que quem trabalha com publicidade
00:34:10se encanta com o jeito como eles vendem ideia,
00:34:12eu me lembro que justamente ali
00:34:14a gente estava formatando a ideia de uma agência
00:34:16e tinha um momento ali
00:34:18que eles também estavam saindo de uma sociedade
00:34:19com um grupo internacional
00:34:20para montar a agência deles
00:34:22e tudo aquilo pareceu refletido na minha vida
00:34:26depois quando a gente fez
00:34:27as mesmas sensações, o mesmo medo.
00:34:30Eu me lembro quando a gente estava criando
00:34:33a galeria,
00:34:35a gente viveu esse período de incubação
00:34:39na pandemia.
00:34:41E eu pegava o carro, às vezes,
00:34:43para encontrar com o Rafa, o William,
00:34:44para a gente fazer uma reunião,
00:34:45discutir os próximos passos,
00:34:47e eu passava por aquele monte de lojas fechadas,
00:34:49empresas fechadas,
00:34:51e eu falava que, quando tudo isso aqui abrir,
00:34:53eles vão precisar de comunicação
00:34:55para voltar aos negócios,
00:34:56e a gente vai estar criando um negócio novo.
00:34:58Então, às vezes,
00:35:01a gente vai buscar inspiração nisso.
00:35:02Aquele momento todo
00:35:03que a gente viveu, aquela loucura.
00:35:05Acho que quem viveu esse momento
00:35:06aprendeu muito.
00:35:07No março, agosto de 2020,
00:35:11eu era presidente de uma agência
00:35:12que tinha os maiores anunciantes do Brasil.
00:35:14Era a terceira maior agência do Brasil
00:35:15de compra de mídia.
00:35:17Quando o meu telefone tocava,
00:35:18eu era algum cliente querendo cancelar,
00:35:20negocia com um parceiro de mídia,
00:35:22com a Globo, com o Google,
00:35:23para cancelar tudo.
00:35:24Porque eu preciso de dinheiro,
00:35:25eu preciso de caixa.
00:35:26E viver aquilo foi um MBA de negociação,
00:35:30de gestão de pessoas,
00:35:32manter o time unido.
00:35:34E a gente fez isso gerindo um negócio novo.
00:35:36Então, impactou muito.
00:35:37Tanto que, sei lá,
00:35:38eu olho para a DPC,
00:35:39para a Galeria hoje,
00:35:41eu vejo várias coisas
00:35:42que eu aprendi naquele momento na DPC,
00:35:43várias coisas que eu aprendi.
00:35:45O programa de estágio da Galeria hoje,
00:35:47ele é remunerado,
00:35:48tem todos os benefícios,
00:35:49tem plano de participação no resultado.
00:35:51Porque lá,
00:35:52quando eu fui no programa de estágio,
00:35:54lá no começo da minha carreira,
00:35:55e eu não pude aceitar,
00:35:57eu olho para mim hoje e falo,
00:35:58nossa,
00:35:59perdi eu,
00:36:00mas perdeu a agência,
00:36:01porque ela perdeu a chance
00:36:02de trabalhar comigo também.
00:36:04E eu acho que,
00:36:05eu não quero perder talentos.
00:36:06Então,
00:36:06deixa eu remunerar,
00:36:07dar condições para as pessoas
00:36:08começarem comigo,
00:36:09os melhores talentos começarem comigo.
00:36:12E empreender,
00:36:13tomar uma série de decisões,
00:36:16e imagino que você tenha tido algumas ideias equivocadas nesse começo.
00:36:21Qual que você pontuaria que foi a pior ideia que você já teve em termos de negócios?
00:36:27Olha,
00:36:28eu acho que,
00:36:31eu me lembro,
00:36:32a gente estava fazendo algumas reuniões com alguns futuros sócios da agência,
00:36:38gente que não estava com a gente,
00:36:39gente que estava com a gente,
00:36:40o Pedro Cruz,
00:36:41que a gente tinha saído do mercado,
00:36:43eu trouxe de volta,
00:36:44e eu botei todos eles em uma sala um dia,
00:36:47e a gente começou a reunião,
00:36:50e eles começaram a fazer um monte de perguntas para mim,
00:36:51como é que vai ser isso,
00:36:52como é que vai ser aquilo,
00:36:53como é que a gente vai fazer tal coisa?
00:36:55E eu esperei um pouco,
00:36:57porque eu vi que estava todo mundo emocionado,
00:36:59preocupado,
00:37:00e eu não tinha resposta para as coisas.
00:37:02Eu falei para eles,
00:37:02olha,
00:37:02empreender é pular de um avião
00:37:05e ir construindo o paraquedas
00:37:07enquanto você está em queda livre.
00:37:09Eu não tenho resposta para tudo.
00:37:10Eu acho que uma das coisas que a gente poderia ter feito diferente naquele momento
00:37:18é ter enxergado melhor o impacto da inteligência artificial,
00:37:23que aconteceria dois anos depois.
00:37:25Eu teria feito algumas decisões de investimento,
00:37:28talvez um pouco diferente,
00:37:30talvez eu tivesse gastado um pouco mais de energia fora do Brasil
00:37:33para trazer isso já no coração do negócio,
00:37:36mas corrigir depois foi caro,
00:37:39foi dolorido.
00:37:40Então, hoje, qualquer coisa que a gente faça na agência,
00:37:44seja um processo financeiro,
00:37:46seja um processo de mídia,
00:37:47seja um processo de criação,
00:37:49seja uma produção de uma foto,
00:37:50ele tem inteligência artificial envolvida.
00:37:53Só que a gente foi ter que desenvolver correndo algumas ferramentas
00:37:57e comprar outras prontas,
00:37:58já caras.
00:37:59Se eu estivesse lá atrás,
00:38:01porque, veja,
00:38:01eu estava criando um negócio novo
00:38:03no nascimento de uma revolução,
00:38:06que é a revolução da inteligência artificial.
00:38:08Algumas indústrias vão ser muito impactadas.
00:38:11Eu não sei dizer qual vai ser mais ou menos.
00:38:12Eu sei que a nossa,
00:38:14o impacto é avassalador.
00:38:17Menos sobre a ótica de tirar emprego das pessoas,
00:38:21não é isso,
00:38:22mas muito na forma de trabalhar.
00:38:24Um criativo, daqui a dois anos,
00:38:26vai trabalhar de um jeito totalmente diferente
00:38:28que ele trabalha hoje,
00:38:29que já é totalmente diferente
00:38:30do jeito que ele trabalhava há dois anos atrás.
00:38:33Hoje, com a mais simples da ferramenta,
00:38:36o Plaude,
00:38:37que está aqui grudado no meu celular,
00:38:40a gente consegue ter um nível de profundidade
00:38:42pós-reunião
00:38:43que é impossível de ter
00:38:45sem o uso dessa ferramenta.
00:38:48Ela me organiza o pensamento,
00:38:50faz um mapa mental,
00:38:5130 segundos depois de terminar a reunião.
00:38:54Então, isso impacta muito o processo
00:38:55na forma como a gente toca o negócio.
00:38:59Então, eu hoje,
00:39:01eu queria ter tido essa visão
00:39:04que eu não tive,
00:39:05demorei para ter, normal.
00:39:06Fui ter clareza no FXSW,
00:39:10para falar a verdade,
00:39:11de dois ou três anos atrás.
00:39:13Quando eu falei,
00:39:13cara, isso aqui é realmente,
00:39:16se acontecer metade do que as pessoas estão discutindo,
00:39:18isso aqui vai mudar a nossa indústria.
00:39:20E aí corrigir foi doloroso,
00:39:22porque você tinha gente com o perfil não adequado,
00:39:25tinha apostas que a gente tinha feito em negócios,
00:39:27decisões que a gente talvez não tivesse feito.
00:39:31Eu acho que a gente,
00:39:33o negócio de mídia
00:39:34é um negócio que vai ser profundamente impactado.
00:39:37Hoje a gente tem ferramenta de MMM,
00:39:41que é Marketing Mixed Modeling,
00:39:43que modela o resultado que a gente vai ter
00:39:45com uma campanha inteirinho baseada
00:39:47em inteligência artificial,
00:39:48construído por nós,
00:39:51que ajuda na tomada de decisão dos clientes
00:39:54de quanto investir.
00:39:56Isso permite a gente, inclusive,
00:39:57às vezes brigar por mais investimento,
00:39:58mas mais importante que isso,
00:39:59torna o processo muito mais assertivo,
00:40:01mais rápido,
00:40:02com menos trabalho repetitivo humano.
00:40:05Então, talvez eu tivesse feito
00:40:06uma agência diferente naquele momento.
00:40:09Você se descreveu como uma pessoa
00:40:12excessivamente metódica.
00:40:14Você sempre foi assim?
00:40:15E por que é importante essa característica
00:40:17no seu dia a dia?
00:40:18Eu sempre fui muito inquieto e metódico.
00:40:22Talvez seja a combinação mais chata
00:40:24que tem em duas pessoas.
00:40:25Porque o metódico que não quer mudar nada
00:40:28é uma pessoa.
00:40:29O metódico que quer o tempo todo mudar tudo
00:40:31é outra pessoa.
00:40:33Eu sou essa pessoa.
00:40:35E eu não me lembro de ser uma pessoa diferente.
00:40:38Em algum momento da minha vida
00:40:39eu achava que eu tinha toque,
00:40:40porque eu ficava checando as coisas
00:40:43que eu tinha feito garoto ainda.
00:40:44na faculdade, isso assim.
00:40:47Então, eu não sei de onde vem essa característica.
00:40:51Eu sou uma pessoa hiperativa,
00:40:52eu acordo às cinco horas da manhã,
00:40:53não acho isso bonito,
00:40:54não recomendo para ninguém,
00:40:56mas é o que eu faço.
00:40:59E hoje eu acho que está mais fácil
00:41:01por causa de algumas ferramentas
00:41:03que a gente tem,
00:41:03como o próprio Pláudio,
00:41:04que eu te falei,
00:41:05mas eu sempre achei que informação
00:41:09liberta a gente.
00:41:10e você processar a informação
00:41:12de um jeito organizado
00:41:13é um jeito de você ter mais poder.
00:41:15Mais poder no sentido de melhor negociação,
00:41:18de ter ideias melhores,
00:41:19de trabalhar melhor com as áreas do teu negócio.
00:41:22Então, eu sempre fui muito chato
00:41:24com esse tipo de coisa.
00:41:25Como é que eu tenho as pessoas certas
00:41:26no lugar certo?
00:41:29Quis, quando eu montei a galeria,
00:41:32quando eu montei a DPZ,
00:41:33quando eu montei a Taterca,
00:41:35ter sócios que fossem os melhores
00:41:36no que faziam.
00:41:37Então, óbvio que aqui eu tenho mais poder,
00:41:40porque é um negócio 100% independente,
00:41:42na DPZ não era,
00:41:43mas eu fui trazendo pessoas
00:41:46que eu entendia que essa pessoa
00:41:48é fora da curva.
00:41:49E eu fazia isso com metodologia,
00:41:51ficava olhando, conversando.
00:41:52Então, eu tenho um hábito, por exemplo,
00:41:54de almoçar quase que os cinco dias da semana
00:41:57com pessoas que não obrigatoriamente
00:41:59têm uma lógica muito próxima do meu negócio.
00:42:02Então, eu vou almoçar com alguém de veículo,
00:42:05com alguém de um negócio que não é exatamente
00:42:08de publicidade,
00:42:09mas que eu consigo tirar uma informação.
00:42:11Com isso, eu acho pessoas para trazer
00:42:12para a minha sociedade.
00:42:14Foi assim que o Paulo Ilha,
00:42:15eu descobri ele na África,
00:42:17ele era um terceiro nível na África de mídia,
00:42:20eu trouxe, virou meu sócio,
00:42:21hoje é talvez o melhor mídia do mercado,
00:42:23super reputado.
00:42:25Foi por observação,
00:42:26por conversar com as pessoas certas,
00:42:27a mesma coisa com a minha sócia
00:42:29no planejamento que é a Carol,
00:42:31com a Ana no atendimento,
00:42:32sempre com um jeito de olhar que é assim,
00:42:35ok, como é que eu vou descobrir
00:42:36quem é a melhor pessoa disponível de dados?
00:42:38Ah, vou conversando, vou cercando, vou cercando,
00:42:40chega uma hora que você chega num nome
00:42:41que quatro pessoas te indicam.
00:42:43Então, esse jeito de pensar organizadinho,
00:42:46eu acho que fez muita diferença na minha vida.
00:42:49Em casa não é a coisa mais fácil do mundo,
00:42:51eu sou casado, tenho três filhas mulheres.
00:42:54A mais velha é bastante parecida comigo,
00:42:56já está na publicidade,
00:42:58infelizmente optou pelo menos o caminho do pai,
00:43:00eu não queria, mas ela optou, está indo muito bem,
00:43:02estudou cinema.
00:43:04As pequenas sofrem um pouco com isso,
00:43:06porque eu quero que elas façam tudo
00:43:08de um jeito organizado,
00:43:09uma é bem organizadinha,
00:43:10a outra não é tanto,
00:43:11e a gente vai se adaptando.
00:43:13Mas tem momentos em que você dá uma despirocada,
00:43:16uma desorganizada?
00:43:17Não, tem que dar.
00:43:19Tem que dar,
00:43:20eu procuro na arte, na literatura, no cinema,
00:43:27eu gosto muito disso tudo,
00:43:30abrir um pouco a minha cabeça,
00:43:31para não ficar chata a vida,
00:43:33e não ficar só de organização.
00:43:35Então, consumo muito isso,
00:43:38faço muita viagem para isso,
00:43:39eu gosto de viajar longe para assistir um show,
00:43:41porque aí eu misturo o lugar que eu nunca fui
00:43:44com o show do LCD que eu quero assistir,
00:43:47no Canadá, sei lá.
00:43:49E aí eu faço esse tipo de viagem,
00:43:50porque é uma chance de você quebrar também
00:43:51a sua organização excessiva.
00:43:55Deixa eu ir para um lugar que eu não conheço,
00:43:56que eu nunca fui assistir um show,
00:43:58ou ir em um restaurante,
00:43:59fazer alguma coisa diferente, enfim.
00:44:01Tudo isso me ajuda um pouco a quebrar um pouco.
00:44:05E a inquietude ajuda também,
00:44:08porque quando eu estava lá,
00:44:09pensa bem,
00:44:10eu era sócio da DPZ,
00:44:13publicista,
00:44:14não queria que eu saísse de jeito nenhum,
00:44:16a agência estava no auge da sua reputação,
00:44:18a agência do ano no Caboré,
00:44:20tudo certo,
00:44:21não, não, para tudo,
00:44:22vamos fazer tudo de novo
00:44:23de um jeito totalmente diferente.
00:44:25Essa transição,
00:44:26ela não é organizada,
00:44:27ela é uma transição caótica.
00:44:29Pôr ela no trilho é que é a minha praia,
00:44:33que é o que eu gosto.
00:44:34Mas, assim,
00:44:34o começo é assim,
00:44:35a gente começou com 150 pessoas,
00:44:37com quatro contas enormes,
00:44:39não tinha escritório,
00:44:40eu aluguei o escritório,
00:44:41eu tinha que fazer reforma,
00:44:42não tinha computador,
00:44:43porque a gente estava no meio da pandemia,
00:44:44então, putz,
00:44:45os 150 computadores eu tive que alugar,
00:44:47enquanto eu esperava chegar aos computadores,
00:44:49criando o sistema,
00:44:50criando o jeito de trabalhar,
00:44:52aprendendo como lidar com a gestão financeira
00:44:56de um negócio absolutamente independente,
00:44:58tudo isso é muito novo,
00:44:59isso gera caos,
00:45:00gera bagunça.
00:45:02Então,
00:45:02eu acho que essa combinação,
00:45:05para o desespero da minha mulher
00:45:06e das minhas filhas,
00:45:07ela é difícil de lidar,
00:45:08mas, para mim,
00:45:09ela me ajuda,
00:45:09ela me acalma um pouquinho.
00:45:11Eu,
00:45:11quando vejo as coisas organizadas,
00:45:12eu fico mais...
00:45:14Acho que talvez por isso que eu gosto
00:45:15de arquitetura,
00:45:17que, para mim,
00:45:17a arquitetura
00:45:18é colocar a ordem e a arte no caos.
00:45:22Você vai em uma obra,
00:45:23é um caos,
00:45:24e, de repente,
00:45:25vira uma coisa...
00:45:26Eu gosto do brutalismo brasileiro,
00:45:27do modernismo brasileiro,
00:45:29tudo reto, lindo,
00:45:30organizado.
00:45:31Acho que é por isso que eu me apaixonei
00:45:33por arquitetura,
00:45:34e talvez tivesse sido uma produção
00:45:36que eu também tivesse tido sucesso.
00:45:38Já assistiu o Brutalista?
00:45:40Já assisti.
00:45:40Maravilhoso.
00:45:41Mas é um pouco...
00:45:42O Brutalista, por exemplo,
00:45:42é um filme que me pegou muito,
00:45:45muito porque ele enxergava coisa
00:45:47que ninguém estava enxergando.
00:45:48Eu acho que essa é uma capacidade,
00:45:50sem falsa modéstia,
00:45:51que eu desenvolvi.
00:45:52Eu consigo,
00:45:53por observação,
00:45:54por uma cabeça organizada
00:45:56e por não ter medo de rasgar tudo
00:45:58e começar de novo,
00:45:59enxergo as coisas de um ângulo
00:46:00que talvez pouca gente esteve enxergando.
00:46:02E o Brutalista é muito sobre isso.
00:46:03Era um cara maluco
00:46:04que tinha um jeito de olhar
00:46:06para as coisas.
00:46:08O filme me pegou
00:46:09naquela cena da biblioteca,
00:46:11aquela organização,
00:46:13aquele craft de fazer aquela biblioteca.
00:46:15Aquilo, para mim,
00:46:16é o que deveria ser a nossa profissão,
00:46:19como é que a gente dá ordem para o caos.
00:46:23E você falou sobre informação,
00:46:27ser poder,
00:46:28e que a inteligência artificial
00:46:29está liberando mais esse acesso
00:46:32à informação.
00:46:34No dia a dia,
00:46:35no seu dia a dia como profissional,
00:46:37a AI já tem desempenhado
00:46:40uma diferença
00:46:41para os negócios,
00:46:43para o seu modo de tomar decisão?
00:46:45Como é que se insere no seu dia a dia?
00:46:47Não,
00:46:47desde a coisa mais simples,
00:46:49qualquer coisa que você...
00:46:50Quando você aprende a lidar
00:46:51com o conceito do prompt,
00:46:53que é dar o máximo de informação possível,
00:46:55e ele tem a ver com
00:46:56pensamento lógico também,
00:46:58porque o melhor prompt
00:47:00é sempre um prompt
00:47:01escrito de uma forma lógica.
00:47:03Eu me lembro
00:47:03que quando eu fui fazer
00:47:04faculdade de administração,
00:47:06tinha uma prova de lógica,
00:47:08e foi onde eu descobri
00:47:09paixão por isso,
00:47:10aí passei a ler bastante
00:47:11sobre pensamento,
00:47:12raciocínio lógico.
00:47:15Quando você faz um prompt
00:47:16bem feito,
00:47:17ele te ajuda muito
00:47:18no seu dia a dia,
00:47:19no chat de PT,
00:47:20qualquer que seja a ferramenta
00:47:21que você está usando hoje,
00:47:22tem três ou quatro boas,
00:47:24eu ainda estou no chat de PT,
00:47:25porque eu me acostumei com ele.
00:47:28E eu fui dando,
00:47:29criando,
00:47:30não sei se você já fez isso,
00:47:32você vai ensinando ele
00:47:33sobre quem é você,
00:47:34sobre a galeria,
00:47:36sobre os seus clientes,
00:47:37eu peço um relatório,
00:47:39eu programei ele para me fazer
00:47:40um relatório diário
00:47:41sobre negócios e publicidade
00:47:42duas vezes ao dia,
00:47:44eu vou treinando ele,
00:47:46então ele é quase como
00:47:47um assistente pessoal
00:47:48muito presente na minha vida.
00:47:50Então eu uso ele muito
00:47:52dessa forma,
00:47:52com bastante cuidado,
00:47:57porque às vezes
00:47:57ele me dá
00:47:58umas informações erradas,
00:48:00aí você checa
00:48:01e você vai ajudando
00:48:02ele a ficar melhor.
00:48:04Eu uso muito o Plaud,
00:48:05que está aqui comigo,
00:48:06porque com isso
00:48:08eu consigo gravar as reuniões
00:48:09e já sair com um plano claro
00:48:10do que tem que fazer,
00:48:11das conversas mais informais
00:48:13que têm alguma relevância
00:48:14para o negócio,
00:48:16entrevista de pessoas,
00:48:17até uma reunião
00:48:18com um cliente,
00:48:18importante uma palestra.
00:48:20eu uso bastante
00:48:22IA generadora de imagem
00:48:25para as minhas apresentações,
00:48:26hoje eu tenho o hábito
00:48:28de fazer uma apresentação
00:48:29inteira só de imagens,
00:48:31porque eu acho que ilustração
00:48:32serve muito para ilustrar
00:48:33aquilo que a gente quer falar,
00:48:34especialmente quando eu faço palestra
00:48:35e gosto muito de surpreender
00:48:37as pessoas de que tudo aquilo
00:48:38é feito com IA,
00:48:39especialmente estudantes.
00:48:40Eu adoro fazer palestra
00:48:40em universidade
00:48:41e eu sempre faço desse jeito,
00:48:43só no final que eu conto
00:48:44que tudo que eles viram é IA,
00:48:46que é um jeito de estimulá-los
00:48:47a abrir a cabeça deles
00:48:48para isso.
00:48:50E o que eu acabo percebendo
00:48:52é que a inteligência artificial
00:48:54é e será melhor usada
00:48:56por quem tem repertório.
00:48:58E isso eu acho
00:48:59que é o grande negócio
00:49:01dessa tecnologia.
00:49:03Se você não sabe pedir,
00:49:04se você não tem referência,
00:49:06a gente tem um profissional
00:49:07na agência
00:49:08que vai fazer um pedido
00:49:10de uma foto,
00:49:10ele fala que lente
00:49:11que ele quer,
00:49:12que estilo de fotografia,
00:49:14baseado em que fotógrafo,
00:49:15que ângulo que ele quer.
00:49:16Se você não pedir nada disso,
00:49:18vai vir qualquer coisa.
00:49:20E por isso eu acho
00:49:22que ele está ajudando
00:49:23a gente a sofisticar
00:49:24um pouco as pessoas.
00:49:25Na origem da propaganda,
00:49:27se a gente pegasse o Washington,
00:49:30toda a geração de criativos
00:49:31da DPZ,
00:49:33eram pessoas
00:49:33que não eram publicitárias.
00:49:35Eles vinham
00:49:35de outras histórias antes,
00:49:37que tinha jornalista,
00:49:39tinha pintor,
00:49:40e usavam esses talentos
00:49:43e esse repertório
00:49:43para fazer a publicidade
00:49:44um negócio interessante.
00:49:46Conforme a publicidade
00:49:47foi se massificando,
00:49:49nós, como publicitários,
00:49:50passamos a beber
00:49:50da publicidade.
00:49:52Então, a referência
00:49:52é sempre a publicidade,
00:49:53nunca é o cinema,
00:49:54a música e tudo mais.
00:49:56E agora eu acho
00:49:56que a gente tem uma chance
00:49:57de ampliar o repertório
00:49:58para saber usar uma ferramenta,
00:50:00porque ela é uma ferramenta,
00:50:01ela não vai substituir
00:50:02o criativo.
00:50:04Ela sempre vai ter
00:50:05um pensamento
00:50:05baseado em referências
00:50:07que ela vai buscar.
00:50:10Então,
00:50:10eu tenho percebido
00:50:12que os melhores profissionais
00:50:13que lidam com inteligência artificial
00:50:14são aqueles que sabem
00:50:16melhor pedir.
00:50:17E, para pedir,
00:50:17eles têm que ter um repertório.
00:50:19Então, a gente tem conversado
00:50:20muito com o time
00:50:20sobre como é que a gente
00:50:22pode estimular vocês
00:50:23a assistirem mais cinema,
00:50:25a terem referências fotográficas,
00:50:26a pensarem
00:50:28de uma forma mais ampla
00:50:30para poderem usar melhor
00:50:31a ferramenta.
00:50:31Porque, senão,
00:50:32a gente vai esbarrar
00:50:32em uma ferramenta
00:50:33que tem muito poder
00:50:35de execução,
00:50:36mas que tem limitações,
00:50:37porque quem está operando
00:50:38não tem repertório para isso.
00:50:40E aí, a publicidade
00:50:42tem esse histórico
00:50:43de ficar muito
00:50:44autorreferenciada.
00:50:45Autorreferenciada.
00:50:46E, falando um pouco
00:50:48sobre você de novo,
00:50:49que eu acho que tem a ver
00:50:50com a sua característica
00:50:51de ser metódico,
00:50:52você é maratonista,
00:50:54isso requer uma dose
00:50:56de disciplina.
00:50:59Como que isso entrou
00:51:01na sua vida?
00:51:02Olha, Isa,
00:51:03entrou depois de velho,
00:51:04um pouco antes da pandemia,
00:51:05e eu achei que valeria
00:51:07a pena começar a correr.
00:51:09E aí,
00:51:11corre cinco,
00:51:12corre dez.
00:51:14Eu botei uma meta
00:51:15para mim
00:51:15de fazer uma maratona
00:51:17com um ano de corredor.
00:51:19E aí, eu fui treinar
00:51:20para fazer a maratona,
00:51:21e você descobre
00:51:22que a maratona
00:51:23não é sobre 32 quilômetros
00:51:24que você vai correr
00:51:25no dia da prova.
00:51:27É sobre os,
00:51:29sei lá,
00:51:30500 quilômetros
00:51:30que você corre
00:51:31ao longo do ano
00:51:31que você faz a preparação.
00:51:32E aí, alimentação,
00:51:34preparação,
00:51:35o horário do treino.
00:51:37Tem todo...
00:51:37Para quem gosta
00:51:38de método,
00:51:40é o esporte mais legal,
00:51:41porque você tem que ter método,
00:51:42senão você se perde completamente.
00:51:44Tem planilha,
00:51:44tem o dia que você faz isso,
00:51:45o dia que você faz aquilo,
00:51:46o dia que você recupera,
00:51:48a massagem que você tem que fazer.
00:51:50Tudo isso
00:51:50é muito encantador.
00:51:52hoje eu estou com 50 anos,
00:51:55então eu diminui um pouco o ritmo,
00:51:57eu quero fazer mais duas maratonas,
00:51:59mas eu hoje estou muito mais encantado
00:52:02pela viagem que vem junto com a maratona.
00:52:05Então, sei lá,
00:52:06quero fazer a minha próxima maratona,
00:52:08quero fazer em Berlim.
00:52:10É incrível,
00:52:11você vai para Berlim,
00:52:12vive aquilo lá,
00:52:13então não é uma desculpa
00:52:14para colocar junto uma viagem,
00:52:16conhecer o país,
00:52:17conhecer a culinária,
00:52:18mas sofre,
00:52:20a gente sofre,
00:52:20é um processo dolorido,
00:52:24porque chega no final do treinamento,
00:52:25você está correndo 28 km,
00:52:2730 km,
00:52:28você acorda às 5 da manhã,
00:52:30às 9 da sua família,
00:52:31está tomando café,
00:52:32e da manhã você está chegando quebrado
00:52:33de 30 km de corrida.
00:52:36Mas eu, pessoalmente,
00:52:38acho o esporte algo fundamental
00:52:40para qualquer pessoa,
00:52:42especialmente um esporte individual,
00:52:45em que você tem que se forçar
00:52:46nos seus limites
00:52:47e encontrar espaço
00:52:49onde você acha que não tem,
00:52:50quando você já não aguenta mais,
00:52:53isso gera uma capacidade de resiliência
00:52:55que é fundamental na carreira,
00:52:58em especial para empreendedores,
00:53:00acho fundamental.
00:53:02Você falou da sua idade,
00:53:04mas o Drauzio Varela
00:53:05corria, acho que até recentemente.
00:53:09Sim, mas é porque
00:53:10eu tenho uma filha de 5,
00:53:13de 6 e uma filha de 8.
00:53:14além da mais velha,
00:53:17que já é adulta.
00:53:19Eu quero estar bem
00:53:20na adolescência delas.
00:53:23E a maratona,
00:53:24ela te traz lesão,
00:53:26ela te traz alguns probleminhas.
00:53:27Então, com o tempo,
00:53:28você vai diminuindo um pouco
00:53:30o ímpeto competitivo,
00:53:32quero baixar o tempo,
00:53:33a próxima eu quero fazer
00:53:34abaixo de tanto tempo.
00:53:36E você começa a falar,
00:53:38ok, vou fazer mais por diversão,
00:53:39vou fazer...
00:53:40Esse ano não dá
00:53:41porque eu tenho compromissos demais,
00:53:43vou fazer no ano que vem.
00:53:44Você tenta encaixar um pouco
00:53:46no teu estilo de vida normal isso.
00:53:48E a maratona é um longo período
00:53:51que você fica ali consigo
00:53:53e com seus pensamentos.
00:53:55Qual que foi...
00:53:56Tem algum caos,
00:53:57alguma história,
00:53:58algum momento
00:54:00que é muito marcante?
00:54:01Tem.
00:54:02O próprio nascimento da galeria,
00:54:03a gente...
00:54:04Eu, Rafa,
00:54:04a gente foi para o Uruguai,
00:54:08no Carnaval,
00:54:09e a gente...
00:54:09Eu estava treinando
00:54:10e eu saía para correr
00:54:12e aí eu tinha umas ideias,
00:54:13aí eu voltava,
00:54:14chamava ele,
00:54:15ele não corre,
00:54:15ele ia andar comigo.
00:54:17E um dia eu saí para correr de manhã
00:54:19e aí, no meio da corrida,
00:54:20eu falei,
00:54:21não, eu não aguento mais,
00:54:22eu preciso montar um negócio.
00:54:23Aí eu voltei para a casa
00:54:25que a gente tinha alugado
00:54:25e peguei o Rafa sozinho
00:54:28e falei, vamos andar.
00:54:29Aí eu levei ele para andar
00:54:30e a conversa foi, foi, foi, foi.
00:54:32Quando a gente viu,
00:54:33a gente tinha andado 12 quilômetros
00:54:34e eu já tinha corrido,
00:54:35sei lá, uns 10 de manhã
00:54:36e o Rafa estava morrendo
00:54:38porque é muito, muito longo.
00:54:41O caminho tinha que voltar,
00:54:4212 quilômetros.
00:54:43Eu falei,
00:54:43bom, Rafa,
00:54:44a gente tem mais 12 quilômetros
00:54:45para pensar no nome,
00:54:47pensar...
00:54:48Então, ela nasceu muito
00:54:50dessa situação
00:54:50que você está correta,
00:54:52assim,
00:54:52acho que você corre também, né?
00:54:54Corre.
00:54:54Correr é um momento de reflexão,
00:54:56porque não adianta,
00:54:57você põe música,
00:54:58às vezes ajuda,
00:54:58às vezes atrapalha,
00:55:00mesmo com a música,
00:55:00não sei você,
00:55:01às vezes eu põe um podcast,
00:55:02põe música,
00:55:03a hora que eu vejo,
00:55:03eu já perdi 30 minutos.
00:55:05Eu gosto de ouvir livro,
00:55:07audiolivro,
00:55:08quando eu estou correndo.
00:55:09Só que o seu pensamento
00:55:11vai tomando conta,
00:55:12parece que o som abaixa
00:55:13e sobe o ruído do pensamento.
00:55:16E aí é um bom exercício,
00:55:18porque eu acho que
00:55:20todo mundo tem medo das coisas, né?
00:55:23Então, óbvio que nesse processo,
00:55:25nessa jornada,
00:55:26quando eu olho
00:55:26para a minha folha de pagamento
00:55:28todo mês,
00:55:29tem 500 pessoas lá,
00:55:31500 famílias,
00:55:32dá medo, né?
00:55:33Dá medo de você perder um cliente,
00:55:34dá medo de você entrar
00:55:35em uma concorrência
00:55:36e não ser exatamente
00:55:38uma concorrência ética,
00:55:39dá medo do que
00:55:40as pessoas vão falar
00:55:41de você como líder,
00:55:42tudo dá medo.
00:55:43Só que quando você
00:55:44corre longos períodos,
00:55:46você começa a administrar melhor
00:55:48a tua relação com o teu ego,
00:55:50a tua relação com os teus
00:55:51pensamentos negativos,
00:55:52e você começa a colocar
00:55:54as coisas
00:55:54numa proporção diferente.
00:55:56Eu faço terapia hoje em dia
00:55:58e eu descobri que isso tem a ver
00:56:00inclusive com a liberação
00:56:01de endorfina que a gente tem.
00:56:03Então, isso tudo coloca você
00:56:04quimicamente
00:56:05numa situação diferente
00:56:06para pensar.
00:56:09E eu, hoje em dia,
00:56:10acho que eu controlo melhor
00:56:11meus pensamentos negativos
00:56:13e tudo mais,
00:56:13muito em função do esporte,
00:56:15da corrida,
00:56:16desse tempo sozinho,
00:56:17dessa necessidade
00:56:18de se controlar.
00:56:19Você corre,
00:56:19você sabe o que eu vou falar.
00:56:20A vontade de desistir,
00:56:21ela começa no terceiro quilômetro.
00:56:23Você tem mais 20
00:56:24para a frente, às vezes,
00:56:25num treino.
00:56:26da sede,
00:56:27da vontade no banheiro,
00:56:29dói tudo.
00:56:30E você vai colocando
00:56:31as coisas numa proporção
00:56:33onde o que vence
00:56:35é a tua força de vontade.
00:56:37E isso é muito bom,
00:56:37porque isso é autocontrole.
00:56:39Isso é autocontrole.
00:56:40Teve uma época
00:56:41que eu botei na cabeça
00:56:43que eu queria fazer
00:56:44a escalada do Everest.
00:56:46Óbvio que um filho,
00:56:47mulher,
00:56:48ninguém vai me deixar ir,
00:56:49mas eu ainda tenho vontade
00:56:50de ir no acampamento base.
00:56:52Aí eu passei,
00:56:52nesse período,
00:56:53a ler tudo que você imaginar
00:56:54sobre quem escalou o Everest.
00:56:56e incomum,
00:56:58e aí entra a minha cabeça
00:56:59metódica de observar as coisas,
00:57:02todos eles tinham
00:57:03uma capacidade de resiliência
00:57:05muito grande.
00:57:06E a maioria deles
00:57:07era ultramaratonista
00:57:09ou triatleta
00:57:10ou maratonista.
00:57:12São pessoas que lidam
00:57:13com a dor,
00:57:13com o sofrimento,
00:57:14com a vontade de desistir.
00:57:16Então,
00:57:16isso que acabou,
00:57:17de alguma forma,
00:57:17me empurrando para o esporte,
00:57:20muito com esse olhar assim,
00:57:20deixa eu ver até onde eu consigo,
00:57:22deixa eu...
00:57:23É difícil, dolorido,
00:57:26não é fácil,
00:57:26não é para todo mundo,
00:57:27no sentido de...
00:57:28Tem gente que sucumbe com a dor,
00:57:31tem gente que é mais sensível
00:57:33com dor,
00:57:34mas eu adoro essa história de,
00:57:38gente,
00:57:38eu não aguento mais.
00:57:39E você aguenta.
00:57:40Você aguenta mais um,
00:57:41aguenta mais dois.
00:57:43Treino,
00:57:43tem um treino,
00:57:44você sabe disso,
00:57:44tem um dia da semana
00:57:45você treina a velocidade.
00:57:47E dependendo do teu treinador,
00:57:49ele quer que você vá até passar mal,
00:57:52ele quer que...
00:57:52Porque você está aumentando
00:57:53o teu limiar de dor,
00:57:57de capacidade respiratória.
00:57:59É muito incrível aquilo,
00:58:01porque no dia você fala,
00:58:03eu nunca mais faço isso
00:58:03na minha vida de novo.
00:58:05Aí chega na quarta-feira,
00:58:06que é o dia que eu faço,
00:58:07na semana seguinte,
00:58:08você fala,
00:58:08vamos lá,
00:58:09que eu tenho que melhorar.
00:58:10Estou lá e tudo de novo.
00:58:11É,
00:58:11e você falou que começou a correr
00:58:14já depois de adulto,
00:58:16o Murakami,
00:58:17não sei se você chegou
00:58:18a ler esse livro, né?
00:58:19Não, não.
00:58:19Do Murakami,
00:58:20que ele fala,
00:58:21é um dos poucos livros
00:58:22que ele fala sobre si mesmo,
00:58:24que ele começou a correr
00:58:26depois, sei lá,
00:58:27com 40 anos de idade,
00:58:29corre maratona e etc.,
00:58:30e ele fala sobre como isso
00:58:32o tornou um escritor melhor.
00:58:34É que legal.
00:58:35É legal esse livro.
00:58:35É, então,
00:58:36mas, por exemplo,
00:58:36escrever é disciplina,
00:58:39entendeu?
00:58:39Porque você vai,
00:58:40depois de ter o dia inteiro,
00:58:42você tem que sentar,
00:58:44e aí vem os pensamentos,
00:58:45e aí alguma coisa atrapalha,
00:58:47toca uma campainha.
00:58:49Eu estou escrevendo um livro agora
00:58:50sobre o nascimento da galeria,
00:58:53tudo o que aconteceu,
00:58:54quero em algum momento
00:58:55publicar isso.
00:58:57E eu estou fazendo agora
00:58:59os rascunhos iniciais e tal.
00:59:02É difícil para caramba,
00:59:03acho mais fácil correr uma maratona,
00:59:05porque, porra,
00:59:05você tem que tomar disciplina,
00:59:07você se perde,
00:59:08aí você tem que voltar para trás,
00:59:09é difícil.
00:59:11E você diria que a sua melhor ideia
00:59:13foi ter criado a galeria?
00:59:16Olha,
00:59:16a minha melhor ideia
00:59:17foi ter
00:59:18aberto a minha primeira agência,
00:59:21porque ela acabou marcando
00:59:22tudo o que eu fiz depois,
00:59:24né?
00:59:24Eu acho que,
00:59:25inclusive,
00:59:26isso marcou a minha vida pessoal,
00:59:28porque, assim,
00:59:28quando você tem 21 anos,
00:59:30eu tinha 20 para 21 anos,
00:59:32e você tem que se virar sozinho,
00:59:34tem que criar um negócio,
00:59:35tem cliente,
00:59:36aí entra o McDonald's,
00:59:37o McDonald's entrou que nem um trovão
00:59:38na minha vida,
00:59:39ganhei a conta da filha,
00:59:40ganhei uma série de outros negócios
00:59:42importantes ali,
00:59:44eu amadureci muito,
00:59:45tanto que eu tinha muita dificuldade
00:59:47naquela época
00:59:47de manter as mesmas amizades,
00:59:49porque,
00:59:50quando eu me encontrava,
00:59:51parecia que eu era 10 vezes mais velho,
00:59:54assim,
00:59:54um monte de coisa acontecendo na minha vida,
00:59:56e aí eu fui pai muito cedo,
00:59:57fui pai com 24 para 25 anos,
00:59:59eu casei muito cedo,
01:00:01e tudo isso tem a ver com
01:00:02ter sido exposto
01:00:04a um nível de amadurecimento
01:00:06obrigatório muito cedo.
01:00:09Eu acho que se eu tivesse feito
01:00:09um programa de estágio,
01:00:11depois assistente,
01:00:12supervisor, gerente,
01:00:14eu sempre fui da área de negócios,
01:00:15eu nunca fui criativo exatamente,
01:00:19essa jornada teria sido diferente,
01:00:20com um ritmo diferente,
01:00:21eventualmente mais saudável para mim,
01:00:24mas eu acho que isso moldou muito,
01:00:28eu não teria aberto a galeria
01:00:29se eu não tivesse feito isso lá atrás,
01:00:30porque, assim,
01:00:31abrir a galeria foi um processo,
01:00:322020 foi o ano mais difícil da minha vida,
01:00:38assim,
01:00:38porque eu tive que abrir mão
01:00:39de um monte de coisa
01:00:40para tomar essa decisão,
01:00:42foi uma negociação complicadíssima,
01:00:44que tinha risco,
01:00:45eu tive que segurar muitas coisas,
01:00:47segurar meus sócios,
01:00:48que estavam com medo,
01:00:48segurar os clientes,
01:00:50segurar,
01:00:51e ao mesmo tempo a pandemia,
01:00:53e todo o desafio
01:00:54de estar liderando o negócio,
01:00:55enfim,
01:00:56eu olho para trás,
01:00:58eu acho que tudo deu
01:00:58razoavelmente certo,
01:01:00inclusive a agência que ficou,
01:01:01a DPZ está muito bem,
01:01:02a liderança que está lá
01:01:03é muito boa,
01:01:04o Diniz ficou lá
01:01:05com um tempo importante,
01:01:07com o Ben,
01:01:08o Benjamim é muito bem,
01:01:10eu acho que tudo deu certo
01:01:11para lá,
01:01:11tudo deu certo aqui,
01:01:13mas quando você está fazendo,
01:01:14pânico,
01:01:16e eu acho que eu só lidei
01:01:17bem com isso,
01:01:18assim,
01:01:18razoavelmente bem,
01:01:20sem enlouquecer completamente,
01:01:21porque desde os 20 anos
01:01:22eu estava empreendendo,
01:01:24acabava o dinheiro,
01:01:25tinha que pedir dinheiro no banco,
01:01:26essa história de que
01:01:26quem empreende acontece,
01:01:28né?
01:01:29Chegando a reta final
01:01:30da nossa conversa,
01:01:31Edu,
01:01:32o que mais tem te inspirado
01:01:33nos últimos tempos?
01:01:34Alguma coisa que você consumiu,
01:01:37alguma coisa que você viu,
01:01:38seja na publicidade
01:01:39ou fora dela,
01:01:40que você achou inspirador?
01:01:42Olha,
01:01:43eu estou no momento,
01:01:44eu estou fazendo um exercício difícil
01:01:45de não me deixar consumir muito
01:01:48pela dopamina das redes sociais,
01:01:51assim,
01:01:51eu estou fazendo o exercício
01:01:52de desligar o celular e ler.
01:01:53Como se ou você consegue
01:01:56desligar o celular
01:01:57em algum momento do dia?
01:01:58À noite,
01:01:58assim,
01:01:59quer dizer,
01:02:00à noite,
01:02:00eu sou uma pessoa que vai para a cama
01:02:01nove horas da noite,
01:02:02porque eu acordo muito cedo,
01:02:03eu gosto,
01:02:04assim,
01:02:04né?
01:02:05E eu faço sauna quase todo dia,
01:02:08então,
01:02:08na sauna também,
01:02:09não dá para entrar com o celular,
01:02:10então,
01:02:10eu tenho lá 20,
01:02:1130 minutos que eu leio
01:02:1250 páginas,
01:02:13leio,
01:02:14sei lá,
01:02:14quantas páginas dá,
01:02:15mas eu estou me forçando a ler.
01:02:17E eu tenho lido coisas
01:02:18pouco usuais,
01:02:20assim,
01:02:20eu acabei de ler o pêndulo de Foucault,
01:02:21do Humberto Eco,
01:02:23que é complicadíssimo,
01:02:26eu acho que eu nunca li um livro
01:02:27que eu voltasse tanto
01:02:28e que me inspirou,
01:02:30porque esse micro detalhes,
01:02:32eu acho que tem a ver
01:02:33um pouco com as teorias
01:02:35da conspiração
01:02:36que a gente vive hoje,
01:02:38o mundo,
01:02:38todo mundo tem uma teoria
01:02:39da conspiração,
01:02:40então,
01:02:40acho encantador.
01:02:42Agora eu estou lendo
01:02:42Saramago,
01:02:43As Intermitências da Morte,
01:02:45encantador,
01:02:47porque tem uma fantasia,
01:02:48como a morte
01:02:51molda a sociedade
01:02:52que a gente vive.
01:02:54É uma situação
01:02:55em que as pessoas
01:02:56não morrem mais
01:02:57e qual o impacto disso
01:02:57na igreja,
01:02:58no Estado,
01:02:59na sociedade e tal.
01:03:00Então,
01:03:01isso tudo
01:03:02é muito interessante,
01:03:03eu acho que é,
01:03:04eu te confesso
01:03:05que hoje eu consumo
01:03:06menos publicidade
01:03:07para me inspirar.
01:03:09Assim,
01:03:09é óbvio que
01:03:09eu tenho que ver
01:03:10tudo o que está acontecendo
01:03:11nos prêmios,
01:03:12ler o meio mensagem
01:03:13assim que sai,
01:03:14chega em casa
01:03:14no sábado,
01:03:16mas a inspiração
01:03:18eu tento buscar
01:03:18de outras coisas,
01:03:19em série,
01:03:21em livro,
01:03:23enfim,
01:03:24acho que tudo isso
01:03:25ajuda a gente
01:03:25a melhorar o repertório
01:03:28que a gente vai precisar
01:03:29tanto aqui
01:03:30na Inteligência Artificial.
01:03:31E só uma última pergunta,
01:03:33qual que é a sua definição
01:03:34de uma boa ideia?
01:03:36Acho que uma boa ideia
01:03:37é aquela que a gente tem
01:03:38e muda o jeito
01:03:39de olhar para um problema,
01:03:41um problema,
01:03:42uma situação,
01:03:43então,
01:03:44assim,
01:03:45geralmente,
01:03:46eu me convenço
01:03:47que eu tive uma ideia
01:03:48quando eu estou
01:03:49na situação
01:03:49em que eu falo
01:03:50gente,
01:03:50isso não tem solução
01:03:52e aí,
01:03:52opa,
01:03:53apareceu uma solução aqui.
01:03:55Que nunca é mágico
01:03:56esse processo,
01:03:57é um processo
01:03:58que tem por trás
01:03:59bastante esforço.
01:04:02Então,
01:04:02para mim,
01:04:02uma boa ideia,
01:04:03que é o nome aqui
01:04:04do teu podcast,
01:04:07ele nasce
01:04:07dessa necessidade
01:04:08de você olhar
01:04:09para as coisas
01:04:10por um ângulo
01:04:10que ninguém olhou,
01:04:12criar algo
01:04:13que ninguém criou,
01:04:14solucionar um problema
01:04:15de um jeito
01:04:16que ninguém solucionou.
01:04:17Porque depois
01:04:18não é uma ideia,
01:04:19depois é a reprodução
01:04:20de uma ideia,
01:04:21você está reproduzindo
01:04:22a ideia que alguém teve.
01:04:23Mas,
01:04:24quando a gente tem
01:04:24pela primeira vez
01:04:25um olhar
01:04:26de fazer as coisas
01:04:26diferentes,
01:04:27tomar o risco
01:04:28e aquilo
01:04:29é uma boa ideia.
01:04:31Para cada ideia
01:04:32que dá certo,
01:04:33tem outras 99
01:04:34que dão erradas.
01:04:36Então,
01:04:38se deu certo,
01:04:38é porque é uma boa ideia.
01:04:40Edu,
01:04:41obrigada pela conversa.
01:04:42Sempre legal.
01:04:43Até uma próxima.
01:04:44Até uma próxima.
01:04:44Obrigado.
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01:04:54do Content Club
01:04:55em São Paulo.
01:04:56Até a próxima.

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