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  • 26/06/2025
A socióloga Betina Barros, pesquisadora do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, comenta as causas e as possíveis soluções para os ataques em instituições de ensino no Brasil
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Notícias
Transcrição
00:00Olá, aqui é o Duda Teixeira. Seja bem-vindo mais uma vez. Aqui vamos começar com mais um
00:15Cruzoé Entrevistas, falando de um tema que foi muito falado na semana passada, que foi a morte
00:24de uma professora de 71 anos numa escola em São Paulo, por um adolescente de 13 anos. Para falar
00:31sobre esse assunto, a gente chamou aqui a Betina Barros, a Betina que é socióloga e pesquisadora
00:38do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Betina, seja muito bem-vinda ao programa.
00:44Obrigada, bem-vindo. Boa tarde a todos.
00:46Betina, você tem estudado bastante esse assunto da violência na escola, né? Você podia começar
00:54só se apresentando um pouco, explicar um pouco qual que é a sua área de pesquisa?
00:59Sim. Então, Duda, eu sou Betina, sou pesquisadora no Fórum Brasileiro de Segurança Pública. O
01:06fórum é uma entidade que atua sobre o tema da violência e da segurança pública nos seus mais
01:10diversos aspectos, sendo então a violência contra a criança e adolescente um desses temas,
01:15dentro do fórum, então, essa é uma vertente, um eixo de pesquisas que eu atuo, e aí tanto
01:21no que diz respeito à violência cometida contra crianças, né? No âmbito familiar, doméstico
01:26ou de modo geral, e tanto violências cometidas por adolescentes, normalmente, né? Crianças e
01:32adolescentes. Então, a minha área de pesquisa, de modo geral, é essa, e aí a gente vai conversar
01:37um pouco, então, sobre esse triste episódio dessa última semana.
01:40Bom, Betina, vou começar essa nossa conversa falando das soluções possíveis. Nós aqui
01:51na Cruzoé e no Antagonista, nós conversamos com alguns especialistas e algumas coisas que
01:57apareceram, eu queria saber sua opinião. Teve um deles que diz que uma das soluções para evitar
02:04esse tipo de ataque numa escola seria colocar detectores de metais para evitar que os estudantes
02:13entrem na sala de aula ou na escola com faca ou com alguma arma de fogo. Você acha que isso poderia
02:19ser uma solução?
02:21Então, vamos tentar imaginar como isso funcionaria, né? Se a gente tivesse, então, ou um policial ou um
02:28detector de metal que, de alguma forma, buscasse prevenir esses tipos de ataque. A gente tem uma,
02:34são inúmeras escolas, apenas na cidade de São Paulo, a gente poderia imaginar o estado de São Paulo
02:39ou mesmo o país, né? Como viabilizar isso? Acho que essa já é uma primeira questão.
02:43A segunda é que, mesmo em espaços de grande população, então, shows, estádios de futebol, esse tipo de medida
02:51não é uma medida que a gente consegue viabilizar na prática, né? Pelo número limitado de servidores
02:57ou mesmo porque se torna realmente um tipo de ação muito difícil de viabilizar na prática,
03:04uma logística que não funciona, né? Então, acho que esse é um primeiro ponto, assim.
03:08E, de modo geral, a gente também pode pensar que o ambiente escolar, ele tem que ser um ambiente
03:14acolhedor em que as pessoas, principalmente as crianças e adolescentes, se sintam parte daquele espaço
03:19e não que a primeira imagem que ela tem é uma medida que lembra um possível ataque
03:26ou que ela pensa que ela vai ser revistada, então, um policial ou um detector de metal
03:31traz essa imagem já de cara para uma criança e um adolescente que, muitas vezes,
03:36já nem tem muita vontade de estar naquele espaço por todos os problemas históricos de educação
03:41que a gente tem no país. Então, eu acho que, assim, seria algo com pouquíssima chance
03:46de ter uma efetividade na prática e com um custo colateral, né?
03:52E mesmo um custo para essas crianças e adolescentes que estão tentando só estudar na paz
03:57e querendo, de alguma forma, melhorar a sua condição de vida muito grande.
04:01Então, eu acho que, por essas razões, a gente poderia tentar pensar outras medidas, né?
04:06E aí, quais são essas outras medidas? Porque, de fato, a situação é grave,
04:11e eu acho que também não dá para a gente dizer que nada precisa ser feito, né?
04:15E aí, mesmo em relação ao estado de São Paulo, a gente sabe que a Secretaria de Educação
04:21já tinha implantado, desde 2019, né? Com os ataques de Suzano,
04:26os tristes ataques de 2019, que deixaram também mortos na cidade de Suzano,
04:32um programa que se chama Programa Conviva e que existia justamente essa ideia
04:36de você ter dentro da escola, a partir da atuação dos professores,
04:40uma série de protocolos, né? Então, na verdade, desde o início de uma situação
04:45que chama a atenção do professor, em que esse aluno, por alguma razão,
04:48ele demonstra algum tipo de ação violenta, ele se manifesta de alguma forma
04:53que causa estranheza, ou nas redes sociais ele fala alguma coisa
04:56que dá a entender algum tipo de ação violenta,
04:59isso já, de alguma forma, então, é passado por uma série de protocolos
05:03e procedimentos, até chegar numa situação mais grave de atuação policial,
05:08eventualmente até de busca e apreensão, caso se demonstre que a CIA
05:12adolescente tem algum tipo de arma de fogo, né? Ou enfim, ou que está planejando
05:16algum ataque. Isso, de alguma forma, vinha funcionando no estado, né?
05:20A gente teve episódios que foram interceptados em razão desse programa,
05:26e eu acho que é uma medida muito menos, com muito menos dano colateral
05:30para a comunidade escolar, e que tem muito mais chances de dar certo.
05:34Então, eu acho que a gente não precisa necessariamente ter uma ação
05:38repressiva, né? No sentido de ter um policial, de ter um detector de metais
05:45a todo momento, mas a gente pode ter ações que protegem essa comunidade escolar,
05:50que, de alguma forma, tentam interceptar esses casos, e acho que esse é um bom exemplo.
05:55A gente ainda pode falar de monitoramentos de modo geral, né?
05:58Seja por parte da polícia, quando há esses casos, então, que se identificam
06:03alunos com indícios de situações problemáticas, né?
06:06Que já estão manifestando algum tipo de violência, enfim.
06:11E por parte da própria escola, da comunidade escolar, muitas vezes existe
06:15essa parceria, então, por exemplo, no estado de São Paulo, onde havia já um
06:19policial militar alocado na própria Secretaria de Segurança, desculpa, de
06:24educação, que poderia já estar, então, monitorando esses casos.
06:28Então, esse tipo de parceria, ele funciona muito mais, e ele custa muito
06:31menos para o estado do que, necessariamente, essa ideia de colocar um policial
06:34a cada esquina, um policial em cada escola, que a gente sabe que a gente não tem
06:38nenhum efetivo para isso, e que é uma medida pouco eficaz, no fim das contas,
06:42acho que esse é o principal argumento, né?
06:45Eficácia, de fato, não me parece que seria muito alta.
06:48Então, acho que essas outras soluções podem ser bem mais inteligentes por parte
06:54do estado brasileiro.
06:56Joia, eu estou conversando com a Betina Barros, pesquisadora do Fórum Brasileiro
07:01de Segurança Pública, sobre a questão da violência nas escolas.
07:06Betina, uma outra solução possível que foi ventilada aí, na semana passada,
07:13era de redução da maioridade penal.
07:15E uma das coisas que se fala é que os jovens que vão para a Fundação Casa,
07:22eles acabam ficando pouco tempo.
07:24No caso desse garoto, acho que vai ficar três anos.
07:28E que aí ele volta depois desse tempo para a sociedade e pode causar, enfim,
07:34novas mortes, né?
07:35Você acha que uma redução da maioridade penal pode ser uma solução?
07:40Veja, a ideia da redução da maioridade penal, ela é sempre uma carta utilizada
07:46em situações como essa, assim, né?
07:47Algo que não é novo, que já vem sendo debatido e falado
07:50quando se trata de ações cometidas por adolescentes.
07:54Vamos imaginar que esse menino tem 13 anos, né?
07:56Então, ele tem a possibilidade de ficar até três anos internado
07:59numa instituição que não é uma prisão, né?
08:03A Fundação Casa, como você bem citou, mas que é uma instituição fechada
08:07com todas as medidas de segurança muito equivalentes ou, assim, muito próximas
08:12do que seria um presídio, claro que com uma qualidade de acompanhamento muito melhor,
08:18com possibilidade de acompanhamento psicológico, de assistência social, enfim.
08:21Esse menino, durante três anos, ele vai passar dos seus 13 aos seus 16.
08:26Quer dizer, é grande parte da sua adolescência dentro de uma instituição fechada
08:32em que ele vai ter pouco convívio social.
08:35Então, se num período de três anos você não consegue prestar, né?
08:40A ressocialização que o Estado tem o dever de prestar a um adolescente
08:44que comete ato infracional, o acompanhamento,
08:47ou todos os tipos de possíveis tratamentos que ele possa ter lá dentro,
08:51não me parece que com mais tempo isso seja possível, muito pelo contrário.
08:55Com mais tempo, você tem um adolescente enclausurado por mais tempo,
08:59mais sujeito às influências desse meio,
09:02mais sujeitos aos riscos mesmo de estar dentro de uma fundação,
09:09contato com organizações criminosas, às vezes isso é possível,
09:12com adolescentes mais violentos.
09:13Então, a questão do tempo, ela não é uma medida única e universal,
09:18ela precisa ser pensada caso a caso, né?
09:19E o sistema socioeducativo no Brasil, ele justamente,
09:23ele não coloca uma pena absoluta, né?
09:26Um tempo já pré-determinado, para que possa se fazer esse acompanhamento,
09:31caso a caso, e que se veja naquela situação,
09:33um adolescente já atingiu um grau de responsabilização,
09:36ele entende o que aconteceu, ele de alguma forma passou por um processo
09:41de arrependimento ou não, mas de alguma forma ele se responsabilizou por aquilo, né?
09:46Então, isso é muito mais importante do que necessariamente dizer que
09:50dois, três, quatro, cinco anos é uma medida eficaz, né?
09:54Então, eu acho que essa questão do tempo, ela não necessariamente,
09:57ela responde a esse anseio de justiça que muitas vezes eu entendo, né?
10:01Que por razão de situações como essa, a sociedade tem.
10:06Então, eu acho que a redução, ela não me parece uma solução,
10:09a gente não tem um sistema prisional eficaz, né?
10:12A gente sabe que as cadeias estão super lotadas, diminuir a idade,
10:16então, significaria colocar uma população ainda maior dentro desses espaços.
10:21Então, eu acho que menos do que essas soluções que até dão algum tipo de conforto,
10:26a gente pode olhar porque a gente já tem.
10:28E o sistema socioeducativo no Brasil, ele é um sistema com falhas, evidentemente,
10:32nem tudo funciona como deveria, mas ele tem muito mais capacidade
10:36de fornecer algum tipo de resposta positiva do que o sistema prisional,
10:40que já vem falhando há décadas no Brasil e não há o que melhore a execução penal.
10:46Então, eu acho que, por alguma razão, até fortalecer esse sistema,
10:51dar mais condições dos trabalhadores atuarem lá dentro,
10:54pode ser até uma medida um pouco mais eficaz.
10:58Betina, você falou então do sistema socioeducativo,
11:03então, a gente fala aqui em São Paulo muito da Fundação Casa,
11:06que é a antiga FEBEM, e que foi remodelada no passado
11:11porque tinha muita crítica à FEBEM antes, tinha muita rebelião.
11:17Como é que estão esses lugares onde os menores que cometeram crimes
11:23ficam internados?
11:25Teve uma evolução desses lugares no Brasil?
11:29Ah, sem dúvida, né, a gente tinha uma situação que era as antigas FEBEMs
11:35de muita gravidade no país, que vinha ainda de um histórico de casos de tortura,
11:40enfim, e realmente se viu que não era mais possível continuar o sistema antigo, né,
11:46então, a partir da redemocratização e da instituição do Estatuto da Criança e do Adolescente,
11:52a gente tem essa mudança para as fundações, né,
11:55então, cada estado vai ter uma, em São Paulo é a Fundação Casa,
11:58mas os estados diferem os nomes, mas de modo geral a gente tem o mesmo sistema,
12:02que é o sistema socioeducativo, que tem essa ideia de pensar
12:06que para adolescentes, né, de 13 a 17 anos incompletos, né,
12:12antes de fazer 18 anos, possa se pensar, então, medidas,
12:17que são medidas que têm um cunho de responsabilização,
12:20então, de fato, esse adolescente vai ser privado da sua liberdade,
12:24ele vai perder direito à, né, liberdade de circulação, de convívio social e etc.,
12:30mas ele também, o sistema, né, e a medida, ela se pensa como uma ideia de
12:35ressocialização desse adolescente, ou seja, é uma ideia de que não basta jogar ele lá dentro,
12:40fechar a porta e esperar que em três anos ele saia de lá melhor.
12:45Então, para isso, o sistema conta com profissionais de psicologia, assistência social, educação,
12:52assistentes, né, pessoas que cuidam da segurança desses adolescentes,
12:55então, pessoas que estão treinadas para lidar com essas situações,
13:00e eu acho que, num panorama amplo, é óbvio que a gente tem uma situação muito melhor
13:04do que a gente tinha nas antigas febens.
13:07Como tudo e muito da política pública no Brasil não é perfeito,
13:11e a gente tem ainda muito avanço que precisa ser pensado, né,
13:15é óbvio que a gente tem ainda situações eventuais de violências que acontecem,
13:19rebeliões, não é um sistema perfeito, mas ele já avançou muito,
13:24então, eu acho que é menos querer mudar ou criar algo do zero,
13:28ou destruir o que já tem, né, essa ideia de terra arrasada,
13:31e mais conhecer o sistema, olhar, ver como ele funciona,
13:34e tentar melhorar a partir do que é possível.
13:36E aí, eu acho que, nesses debates de redução da maioridade penal,
13:41às vezes a gente quer, de alguma forma, mudar,
13:43ou simplesmente dizer, bom, isso aqui não funcionou, né,
13:46olha aí, aconteceu um ataque, mas é maior do que isso, né,
13:50muito mais estrutural, a gente tem fundações em todo o país,
13:53quais lugares que não estavam funcionando,
13:55aonde que a situação é problemática,
13:57então, acho que assim a gente consegue fazer uma política muito mais eficiente,
14:00e menos desesperada, no sentido de ter uma mudança
14:04que vai ser, supostamente, a solução de todos os problemas.
14:07Até porque, nesse caso, era um menino de 13 anos, né,
14:10então, assim, é uma situação de muita vulnerabilidade,
14:14a ponto de chegar uma criança, enfim, um adolescente,
14:17um pré-adolescente que está com essa ideia de, enfim,
14:22entrar para matar pessoas dentro do seu ambiente escolar,
14:26quer dizer, não é o sistema que vai resolver isso, né,
14:28é uma situação muito grave, de modo geral,
14:30a sociedade como um todo tem que se repensar,
14:32que tipo de criança e adolescente a gente está criando
14:34para se chegar num ataque como esse,
14:37que não é novidade, infelizmente,
14:38que cada vez menos é uma novidade, né,
14:40a gente tem visto ataques sucessivos no Brasil,
14:43então, acho que não dá para colocar tudo na culpa
14:45do sistema de punição, do sistema de justiça.
14:50Eu sou o Duda Teixeira,
14:51estou conversando aqui com a Betina Barros,
14:54que é pesquisadora do Fórum Brasileiro de Segurança Pública
14:58sobre a violência nas escolas.
15:02Betina, pensando nas causas agora desses ataques em escolas,
15:08bom, esse tipo de crime é muito mais comum nos Estados Unidos.
15:13Isso começou a acontecer no Brasil muito por imitação
15:17do que acontecia lá fora,
15:19ou são causas que estão aqui mesmo no Brasil?
15:22É, de fato, a gente tinha esse exemplo dos Estados Unidos
15:28quando a gente falava de violência nas escolas,
15:30sempre era o lugar de referência, né,
15:32ainda é um espaço onde essas coisas acontecem
15:34com muito mais frequência, né,
15:35então, de fato, não dá para comparar, assim,
15:39eu acho que o que acontece no Brasil,
15:41óbvio que existem inspirações,
15:43e a gente está falando de uma cultura global, né,
15:45então, não tem como a gente separar as coisas.
15:48Por outro lado, olhando para a situação do Brasil,
15:50tem especificidades que eu acho que a gente pode levantar, né,
15:53a primeira delas é que esses ataques,
15:56eles têm sido muito mais recorrentes
15:58num tempo muito recente, né,
16:00então, um levantamento realizado pelos pesquisadores da Unicamp
16:04contabilizaram em torno de 22 ataques
16:07desde 2002 em escolas, né, com vítimas fatais.
16:11Desses ataques,
16:14metade deles aconteceu no último ano, né,
16:16então, 2022 foi, de fato, um divisor de águas,
16:19e aí é importante pensar o que está acontecendo no país
16:22para que esses adolescentes,
16:24em alguma medida,
16:26influenciando uns aos outros, né,
16:28não é um ataque isolado,
16:30no sentido de que eles se inspiram nas atuações anteriores,
16:34cada vez que um ataque acontece,
16:35isso gera e mobiliza
16:37adolescentes que estão nesses grupos
16:39para que novos ataques aconteçam,
16:41então, a gente teve, né,
16:42na sequência da situação de São Paulo,
16:45também no Rio de Janeiro,
16:46enfim, é uma tentativa,
16:48então, isso não é à toa, né,
16:50gira um ciclo de violência,
16:52mas no Brasil, a gente tem especificidades,
16:55acho que a gente pode falar da pandemia, né,
16:58diferente de outros países,
16:59a gente ficou com os estudantes
17:02afastados das escolas
17:04por um tempo muito extenso,
17:06então, apenas em 2022,
17:09meados de 2021,
17:10mas a gente teve outros,
17:12retorno,
17:13que, de fato,
17:13os alunos voltaram para o presencial,
17:15então, foi quase dois anos de isolamento,
17:18adolescentes nas suas casas,
17:20muitas vezes sem acesso devido ao ambiente escolar,
17:24mesmo na modalidade online,
17:26então, sem poder conviver,
17:27sem poder trocar com seus colegas,
17:29com seus professores,
17:30em muitos casos,
17:31em situações de violência dentro de casa,
17:33maus tratos, violência doméstica,
17:35que é algo muito comum
17:37e pouco falado, né, no país,
17:38então, de alguma forma,
17:40a panela de pressão foi esquentando
17:44e, quando eles retornam, em 2022,
17:46a gente tem esse boom de ataques, né,
17:48então, eu acho que a gente tinha uma ansiedade
17:50e questões de ordem psicológica, né,
17:54enfim, psicossocial,
17:55que foram, de alguma forma, escalonando,
17:58e aí, em 2022, eles retornam
18:00e aí, infelizmente,
18:02começam a pipocar esses ataques
18:04em vários estados,
18:05agora, infelizmente, em São Paulo,
18:08na última semana.
18:09Então, eu acho que tem esse cenário
18:10da pandemia muito, muito problemático,
18:12a gente tem índices de suicídio,
18:13ansiedade aumentando entre jovens,
18:16de modo global,
18:17a gente pode falar do acesso às redes sociais,
18:20acho que isso acontece no Brasil,
18:21mas não é uma particularidade
18:23do nosso país,
18:24então, o acesso, às vezes,
18:25irrestrito às plataformas
18:27e às redes de compartilhamento, né,
18:31enfim, de vídeos, mensagens, fotos, etc.,
18:33muitas vezes, sem a supervisão dos pais,
18:35sem acompanhamento dos pais,
18:37e aí, a gente tem um submundo ali,
18:39é muito difícil você controlar
18:40o que está acontecendo.
18:42Grupos, às vezes, extremistas,
18:43que começam a captar esses adolescentes
18:45para esses tipos de mensagens
18:47que vão para uma linha de maior violência,
18:50então, de fato,
18:52é uma, né, assim,
18:54uma medida em cima da outra,
18:55você tem ansiedade já normal
18:57dessa fase,
18:58dificuldades, muitas vezes,
18:59de relacionamento, né,
19:02com seus pares,
19:03a gente sabe que o problema do bullying
19:05é um problema importante no mundo
19:07e no Brasil,
19:09é, também, significativo,
19:11então, com médias, às vezes,
19:12superiores àquelas que a gente encontra
19:13nas médias mundiais,
19:16então, e aí, uma escola,
19:18muitas vezes,
19:18principalmente no setor público,
19:20fragilizada,
19:21que não tem as condições
19:23do acompanhamento necessário,
19:25não tem um profissional pronto
19:27para atender esse adolescente
19:28a todo momento,
19:29não necessariamente consegue
19:30olhar individualmente
19:32para cada sujeito
19:33e ver o que está acontecendo
19:35naquela situação,
19:36entender o contexto familiar,
19:38é realmente um trabalho de herói
19:39você fazer isso
19:40quando você tem uma turma,
19:41às vezes,
19:42superlotada, né,
19:43enfim, maior do que o adequado,
19:46você tem todas as questões
19:47burocráticas e administrativas
19:49de uma escola,
19:50ainda ter que fazer
19:51esse acompanhamento
19:51é, de fato,
19:52uma coisa que se espera
19:53muito de um professor, né,
19:54então, investir em profissionais
19:57para esse tipo de acompanhamento,
19:59eu acho que pode ser um caminho,
20:00fortalecer esses profissionais,
20:02melhorar a sua formação, né,
20:04sobre o que é o bullying,
20:06sobre o que são
20:07esses grupos extremistas,
20:09o que são esses ataques,
20:10eu acho que tem um caminho
20:11aí de aprendizado do país
20:12e eu acho que a gente pode
20:13também se espelhar
20:14no que esses países
20:16que já têm um histórico
20:17de violência,
20:18como os Estados Unidos,
20:19já fizeram,
20:19e acho que a gente pode começar
20:20pela própria ideia da mídia, né,
20:22a gente sabe que
20:23compartilhar esses tipos de vídeo,
20:25né, usar essa imagem
20:27do garoto desse
20:30ou de qual seja
20:31como forma de atrair
20:34para a notícia,
20:35pode ser, de fato,
20:36um erro,
20:37porque a gente está falando
20:38de adolescentes que fazem isso
20:40muitas vezes com a intenção
20:41de virarem,
20:42serem conhecidos,
20:43de virarem mártires,
20:44de virarem referências
20:46nesse submundo,
20:47desses grupos.
20:48Então, quanto mais você dá voz
20:49a esse tipo de situação,
20:51mais você promove isso
20:52e mais você dá,
20:53de alguma forma,
20:54aquilo que o adolescente
20:56cometeu o ataque gostaria.
20:58Então, eu acho que
20:59é um aprendizado social
21:00também de como lidar
21:01com essas situações, né,
21:02acho que os Estados Unidos
21:03já vêm fazendo isso,
21:05casos de terrorismo,
21:06o mundo afora também
21:07já entenderam que
21:08compartilhamento de imagens
21:09não é benéfico,
21:11não previne, né,
21:12na verdade,
21:12muito pelo contrário,
21:14e eu acho que como país
21:14a gente tem que caminhar
21:16um pouco nessa direção.
21:19Interessante isso que você falou,
21:20Betina,
21:20porque nós aqui na Cruz Oé
21:23compartilhamos o vídeo, né,
21:25ainda que um pouco borrado,
21:28e isso me incomodou,
21:30a gente teve aqui
21:30uma discussão
21:32sobre publicar
21:34as cenas
21:35de dentro da escola.
21:37Acho que, pelo menos,
21:38uma coisa positiva
21:39que teve dessa vez
21:41é que o nome
21:42do aluno,
21:43a identidade,
21:44não foi divulgado, né,
21:46é melhor, acho que,
21:48nesse caso,
21:48realmente deixar como anônimo
21:50para que outros entendam
21:51que se fizer
21:53uma besteira desse tipo
21:54não vão ganhar fama, né?
21:57Isso, exato.
21:58Eu acho que é um aprendizado, né,
21:59da imprensa,
22:00da gente como sociedade,
22:01de como lidar com essas situações.
22:03Opa, deixa só eu interromper
22:06um pouquinho essa conversa
22:07para falar que,
22:09depois que essa conversa
22:10foi gravada,
22:12então, na quarta-feira,
22:14dia 5 de abril,
22:16tanto o antagonista
22:17quanto a Cruz Oé
22:18decidiram não mais
22:20compartilhar
22:21cenas de ataques
22:23em escolas
22:24e também
22:25nenhum dos dois veículos
22:26vai divulgar
22:27nem o nome,
22:29nem a foto
22:29desses criminosos.
22:31É isso,
22:32voltamos para a conversa.
22:34Mas acho que sim,
22:35acho que as imagens
22:37é uma questão,
22:37o nome é também
22:39uma questão de preservação
22:40da identidade
22:40desse adolescente, né?
22:42Ele, de alguma forma,
22:43vai retornar para a sociedade.
22:44A gente, querendo ou não,
22:45ele não vai ser banido
22:47socialmente,
22:48se a gente não tem
22:48pena de morte no país,
22:49a gente vai ressocializar
22:50esse adolescente,
22:51ele retorna.
22:52Se ele tem um nome marcado,
22:53isso impossibilita
22:53qualquer tipo de ressocialização
22:56ou dificulta muito.
22:57E sem contar que,
22:58acho que,
22:58traz esse, digamos,
23:02esse ganho,
23:03que muitas vezes
23:03é o que eles buscam
23:05com essa ideia
23:06muito deturpada
23:07de tentar se fazer presente
23:09no meio social, né?
23:11Muitas vezes,
23:11são meninos
23:12que não têm,
23:14não são bem aceitos,
23:15não têm um grupo,
23:17acabam sendo,
23:18por alguma forma,
23:18escanteados
23:19no ambiente escolar,
23:21encontram nesses fóruns
23:23de internet
23:23um espaço
23:24de compartilhamento,
23:25uma sociabilidade
23:26onde eles conseguem trocar
23:28e acabam usando
23:29esse tema da violência
23:30como mote para isso.
23:32E aí, você,
23:33em alguma medida,
23:34né,
23:35acha que,
23:36ao fazer esse ataque,
23:37né,
23:38eles seriam
23:39referenciados,
23:40seriam reconhecidos
23:42como sujeitos.
23:43Então,
23:43eu acho que
23:44não é por aí, né?
23:45E aí,
23:46a gente precisa,
23:47em alguma medida,
23:48entender o que causa,
23:49entender o que eles buscam
23:50para agir da melhor forma,
23:53né,
23:53como sociedade,
23:54como imprensa,
23:55enfim.
23:56Jóia.
23:57Bom,
23:57eu sou o Duda Teixeira,
23:58estou conversando aqui
23:59com a Betina Barros,
24:01pesquisadora do Fórum Brasileiro
24:02de Segurança Pública
24:04sobre a violência
24:05nas escolas.
24:06Betina,
24:07eu queria voltar
24:07à comparação
24:08com os Estados Unidos,
24:09porque nos casos
24:11de massacres
24:12em escola
24:13nos Estados Unidos,
24:15eu costumo,
24:17eu vejo que geralmente
24:18é um estudante,
24:20geralmente são homens,
24:22né,
24:22querendo fazer várias vítimas,
24:25né,
24:25e as vítimas geralmente
24:26são estudantes.
24:28Mas no caso
24:29que a gente teve
24:29em São Paulo,
24:31a vítima foi uma professora
24:33de 71 anos, né?
24:35Os professores aqui no Brasil,
24:37eles estão mais sujeitos
24:39a virar alvo
24:40desse tipo de violência?
24:43É,
24:44eu acho que,
24:45de modo geral,
24:45a gente tem esse mesmo cenário
24:47que é a ideia do aluno
24:48que retorna
24:49para o seu ambiente escolar
24:50e comete uma violência
24:52contra uma comunidade escolar
24:54que ele tem
24:55algum tipo de receio, né?
24:57Então,
24:57seja porque ele sofreu bullying
24:59dentro daquele espaço,
25:00seja porque ele cometeu
25:02algum tipo de violência
25:02e foi reprimido, né?
25:04Então,
25:04a gente não,
25:05raro tem casos
25:06de adolescentes
25:07que já haviam cometido
25:08violências verbais
25:10ou mesmo físicas
25:12que são reprimidos
25:13no ambiente escolar
25:13e aí se vingam, né?
25:15Tem a ideia
25:15de que retornando
25:16e cometendo uma violência
25:17ainda maior,
25:18eles estão se vingando
25:19daquele espaço.
25:20E eu acho que esse é,
25:22digamos,
25:22a narrativa geral.
25:24A gente tem
25:24grande, grande,
25:26acho que quase 100%
25:27das vezes homens
25:29cometendo esse tipo de ação,
25:30então tem também
25:31uma questão a ser discutida
25:32sobre a masculinidade
25:34e a forma como esses homens
25:35estão sendo vistos
25:36na sociedade,
25:37estão sendo acolhidos
25:38nos seus problemas,
25:39nas suas questões.
25:41Mas no caso do Brasil,
25:42especialmente nesse caso,
25:44o que a gente sabe até agora
25:46pelas informações colhidas
25:47é que foi justamente
25:48esse problema, né?
25:50Existia já uma situação
25:52de violência anterior
25:53do adolescente
25:54contra um menino.
25:55Esse menino,
25:56de alguma forma,
25:57foi protegido
25:58pela professora,
26:01ao que se sabe,
26:02porque tinha sofrido
26:03ataques racistas, né?
26:06Da pessoa que cometeu o ataque.
26:09E a professora, então,
26:10serviu como alguém
26:11que protegeu o menino.
26:12E por isso,
26:13ela teria sido, então,
26:14uma das principais vítimas.
26:16Então, eu acho que
26:16olhando caso a caso,
26:18é óbvio que a gente vai ter, né?
26:19Sempre,
26:19é difícil você generalizar
26:21e dizer que sempre acontece
26:22da mesma forma.
26:24Há casos, por exemplo,
26:25de ex-alunos
26:26que retornam ao seu ambiente escolar
26:27quando já não são mais
26:28alunos daquela escola.
26:30Então, é sempre muito difícil
26:31você conseguir cercar
26:33todas as possibilidades.
26:35Mas, nesse caso em específico,
26:37havia como cercar, né?
26:38Porque esse menino,
26:40ele já havia demonstrado
26:41no próprio,
26:42na sua rede social.
26:43Então, ele tinha falado
26:44no Twitter,
26:45não tinha um,
26:46não era,
26:47a gente não está falando
26:47de Deep Web,
26:49a gente está falando
26:49de redes sociais abertas.
26:51Ele já tinha sido
26:52utilizado de imagens
26:54de arma,
26:55em violência
26:55com outros adolescentes
26:57numa escola anterior
26:58em que ele estava.
26:59E há 30 dias,
27:00existia, então,
27:01um boletim de ocorrência
27:02sobre esse fato.
27:03E quem não agiu
27:04nessa situação, né?
27:05A gente não tem exatamente
27:07a informação
27:08do que aconteceu,
27:09mas o fato é que tinha
27:10um boletim de ocorrência,
27:11a Polícia Civil
27:11estava ciente
27:12do que aconteceu,
27:13a escola anterior
27:14do adolescente
27:15estava ciente
27:16e isso não chegou
27:19na comunicação
27:19ou não levou
27:22a uma prevenção,
27:23uma ação preventiva
27:24sobre esse adolescente
27:26nessa nova escola
27:27que ele estava
27:28há poucos dias.
27:29Então,
27:30essa falha
27:31de comunicação,
27:32essa dificuldade
27:33de,
27:34de alguma forma,
27:34acreditar
27:35que esses casos
27:36estão acontecendo.
27:37Porque eu acho
27:37que existe
27:38uma certa ideia
27:39quando se trata
27:40de violência cometida
27:41contra criança
27:42ou contra adolescente
27:44que é uma violência menor
27:45ou que não necessariamente
27:46isso precisa ser levado
27:47a sério, né?
27:48Eu acho que
27:49esse é um primeiro
27:50consenso
27:51que a gente precisa ter
27:52para, de alguma forma,
27:53combater
27:54essas situações
27:55no Brasil.
27:56A violência contra criança
27:57cometida
27:58por criança e adolescente
28:00ou, né,
28:02cuja a violência
28:03recai sobre criança e adolescente,
28:05ela tem que ser
28:05levada muito a sério.
28:07O ambiente familiar
28:08às vezes,
28:09muitas vezes,
28:10é tido como um ambiente
28:11em que não se pode tocar.
28:12Ou seja,
28:13a educação da criança
28:14pode ser feita
28:15pelo pai,
28:15pela mãe,
28:16da forma como eles entendem.
28:17Mas essa educação,
28:18ela não pode ser violenta,
28:20né?
28:20Isso já está
28:21no Instituto da Criança e Adolescente,
28:22já está legislado
28:24e, muitas vezes,
28:25isso é um assunto,
28:27digamos,
28:27menor dentro
28:28de uma série de violências
28:29que a gente precisa
28:30como país
28:32observar
28:33e prevenir.
28:34Então, eu acho
28:34que esse é um primeiro consenso.
28:36Não dá para não levar a sério.
28:37Não dá para achar
28:38que é só uma ameaça,
28:39que é só uma brincadeira
28:40de criança,
28:41de adolescente.
28:42Isso tem gerado
28:43efeitos concretos
28:44e, nesse caso,
28:44gerou o falecimento
28:45de uma senhora
28:46e a gente já tem
28:47vítimas em ataques
28:50como esse
28:50pelo país todo.
28:52Então,
28:53a polícia,
28:55a escola,
28:56todo o setor
28:56que trata
28:58desses adolescentes,
28:59que cuida deles
29:00de modo geral,
29:01precisa, sim,
29:02entender
29:03que essas questões
29:03são urgentes
29:04e são prioritárias.
29:05é melhor pecar
29:07pelo excesso
29:07no sentido
29:08de que, bom,
29:08se está acontecendo
29:10algum tipo
29:10de situação
29:11em que o adolescente
29:12emitiu alguma violência,
29:14colocou alguma coisa
29:15na rede social,
29:17vamos olhar
29:18para isso com calma,
29:19vamos, de alguma forma,
29:20prestar atenção,
29:21ver o que aconteceu.
29:22Se não é nada,
29:23se isso foi,
29:25conseguiu ser mitigado
29:26por parte da professora,
29:27por parte da escola,
29:28melhor.
29:29Mas, na dúvida,
29:30não dá para a gente
29:31deixar isso chegar
29:32numa situação
29:33como o Xangô agora.
29:34E eu acho
29:35que a atuação
29:36da polícia
29:36tem que ser
29:36muito estratégica
29:37nesse sentido.
29:39Evidentemente,
29:39como eu falei,
29:40não dá para colocar
29:40um policial
29:40em cada escola,
29:41isso não vai resolver
29:42o problema,
29:43mas também a polícia
29:44precisa agir
29:46quando ela é demandada,
29:47e nesse caso
29:47ela foi demandada,
29:48existiu um boletim
29:49de ocorrência.
29:50Então,
29:51evidente que a gente
29:52sabe das carências,
29:53a gente sabe das dificuldades
29:54de dar conta de tudo,
29:55mas eu acho que
29:56existem prioridades,
29:58e a violência
29:58contra a criança
29:59tem que estar lá
30:00no topo,
30:01assim como
30:01violência contra a
30:02mulher hoje em dia
30:03é uma prioridade,
30:04a violência contra a criança
30:05também tem que estar
30:07nesse rol de,
30:08digamos,
30:09ações prioritárias
30:09por parte da polícia
30:10e da segurança pública
30:11como um todo.
30:14Bettina,
30:14imagino,
30:15como você falou um pouco,
30:17esses adolescentes
30:18acabam refletindo muito
30:20dessa violência
30:21que acontece
30:22em outros lugares
30:23da sociedade,
30:25inclusive dentro
30:27de casa,
30:28na família,
30:30e você comentou aí
30:31do que aconteceu
30:32durante a pandemia.
30:34Bettina,
30:34você tem algum
30:35recado,
30:36alguma mensagem
30:37para os pais
30:39que ficam
30:40muito assustados
30:41quando acontecem
30:43esse tipo de coisa,
30:44de ataque
30:45nas escolas?
30:46Porque tem uma coisa
30:47que às vezes
30:48você pode até
30:48colocar todos os protocolos
30:50em ação
30:52para lidar
30:53com esse tipo
30:54de questão,
30:54mas a gente
30:55nunca sabe
30:56em que momento
30:57que um adolescente
30:59de repente
30:59vai estourar
31:00e cometer
31:01um crime atroz
31:02como esse
31:03que aconteceu
31:03em São Paulo.
31:04Você tem alguma
31:05mensagem para dar
31:06para esses pais?
31:08Olha,
31:08eu acho que
31:09a gente pode falar
31:10de modo geral,
31:11principalmente
31:12quando a gente
31:12fala de meninos,
31:13existe uma ideia
31:14muito difundida
31:16que às vezes
31:18sofrer,
31:19ter questões
31:21de relacionamento
31:23dentro da escola,
31:24estar triste
31:25porque não é aceito,
31:27são questões menores
31:29e que esse menino
31:29não pode ter
31:30esse momento
31:31de tristeza,
31:32esse momento
31:32de depressão
31:33e que isso
31:33precisa ser,
31:34ele precisa superar
31:35isso sozinho
31:36porque se espera
31:37que o homem
31:38tenha uma ação
31:39mais proativa
31:40nesse sentido
31:41que não peça ajuda
31:42e que não demonstre
31:43fragilidade
31:43e aí quando
31:44essa criança,
31:46esse adolescente
31:46normalmente do sexo masculino
31:48demonstra fragilidade
31:49muitas vezes
31:50ele não é compreendido,
31:51ele não é escutado,
31:52então eu acho
31:52que o recado maior
31:53não é uma bobagem,
31:57muitas vezes
31:58esses adolescentes
31:58estão passando
31:59por situações difíceis,
32:01estão precisando
32:01de acolhimento
32:02e aí eu acho
32:03que pode ser
32:06que não seja
32:06uma coisa muito grave,
32:07mas procure a escola,
32:08tente entender
32:09o que está acontecendo,
32:10qual é o ambiente
32:11que esse adolescente
32:12está inserido,
32:13eu acho que
32:13em alguma medida
32:15entender qual é
32:16o ambiente online
32:17em que ele está inserido
32:18também pode ser importante,
32:20quais são essas influências
32:21nesse mundo
32:23que é a internet,
32:24que a gente muitas vezes
32:24não tem como saber
32:25como ele está,
32:27com quem ele está interagindo,
32:29tente se aproximar,
32:30eu acho,
32:31porque simplesmente
32:32dizer que
32:33é algo passageiro,
32:35é crise da adolescência,
32:37todo adolescente
32:38foi assim,
32:39claro,
32:40a gente sabe
32:40que não é uma fase fácil,
32:42nem sempre os pais
32:42vão dar conta
32:43de conseguir resolver
32:45todos os problemas
32:45numa fase difícil
32:47como é a adolescência,
32:50mas eu acho que
32:50o quanto mais próximo
32:51esses pais estão
32:52tentando buscar,
32:54entender o que está acontecendo,
32:56acolher,
32:56buscar alternativas,
32:58o acompanhamento psicológico
32:59quando for o caso,
33:00é um acompanhamento
33:01mais próximo na escola,
33:02acho que mais chance tem
33:04desse adolescente
33:05se sentir
33:05num espaço
33:07acolhedor o suficiente
33:08para falar
33:08o que está acontecendo,
33:09para abrir,
33:11para,
33:11em alguma medida,
33:13compartilhar
33:13com aquelas pessoas
33:14que são responsáveis
33:15por ele
33:16o que está acontecendo
33:17no ambiente escolar,
33:19então eu acho que
33:20é menos julgar
33:22ou dizer que é uma bobagem
33:24ou que vai passar
33:25e mais
33:25dar devida importância
33:27se aproximar,
33:28buscar os meios necessários
33:30quando os pais
33:31não têm as condições
33:32de estar presente,
33:33enfim,
33:33a gente sabe que muitas vezes
33:34também é difícil
33:36para que
33:36no ritmo de trabalho
33:39atualmente demandado
33:40que esses pais
33:41estejam presentes
33:42em todo momento,
33:42principalmente mães,
33:44que muitas vezes
33:45são elas que estão ali
33:46do lado
33:47daquele menino,
33:48então,
33:49mas buscar o que for possível
33:50para que a gente evite
33:52esses ataques
33:53e que de alguma maneira
33:54também crianças
33:55que estão sofrendo
33:56algum tipo de bullying,
33:58racismo,
33:59misoginia
33:59dentro das escolas
34:00também possam falar
34:01e também possam dizer,
34:02olha,
34:03isso aqui está insustentável,
34:05vamos procurar ajuda,
34:06né,
34:06acho que o caminho
34:07é um pouco por aí.
34:10Ótimo.
34:10Bom,
34:11eu conversei com
34:12Betina Barros,
34:13socióloga e pesquisadora
34:14do Fórum Brasileiro
34:15de Segurança Pública.
34:17Betina,
34:18superobrigado
34:18pelos seus esclarecimentos.
34:21Imagina que eu agradeço
34:23tudo e ficamos à disposição
34:24para outros momentos,
34:26outras conversas.
34:27Ótimo.
34:28Bom,
34:29essa foi mais uma sessão
34:30de entrevistas
34:31da Cruzoé.
34:32Se você gostou,
34:33eu peço que compartilhe,
34:36que curta aí o sininho,
34:37comente,
34:38nós sempre lemos
34:39nos comentários.
34:40Muito obrigado,
34:42até a próxima.
34:43Tchau.
34:43Tchau.

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