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Correspondente de guerras, o jornalista fala sobre suas experiências no front.

Assista à conversa completa: https://youtu.be/8EVS62Ur4fE

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Notícias
Transcrição
00:00Lourival, a hora que você está num lugar de conflito, numa guerra,
00:04você conta com informações das pessoas que estão em São Paulo, por exemplo,
00:10fora de lá para tomar uma decisão?
00:13Sim, para tomar a decisão, em geral, não.
00:19Inclusive, tem uma situação de Benghazi,
00:23quando o comboio do Kadhafi estava se aproximando de Benghazi
00:32para destruir Benghazi.
00:35E a instrução foi sair de Benghazi.
00:38E eu me recusei a sair.
00:44E o pensador do jornal aqui falou, sai daí.
00:47Você conseguiu contra-argumentar, tipo, não posso sair porque...
00:50Não, eu parei de responder os e-mails.
00:53E eu considero, eu já tinha sido editor-chefe do jornal naquele momento,
00:57eu considero que essa é uma decisão do repórter.
01:05E ele tem também que arcar com aquelas consequências.
01:09E aquele foi um momento de muito conflito para muitos repórteres.
01:14Também Bagdá, os repórteres que saíram de Bagdá em 2003,
01:18ficaram muito magoados, muito mal, se sentiram muito mal.
01:24Embora até um colega morreu, né?
01:27Mas outros colegas, muitos colegas morreram em Benghazi também.
01:33Porque antes da chegada do comboio,
01:36as células adormecidas, cadafistas, despertaram.
01:40E começaram a matar jornalistas, né?
01:44Mataram um jornalista líbio, que filmava tudo e tal.
01:49Estava filmando e a câmera dele mostra ele sendo morto.
01:54E civis também, para criar o caos na cidade, a insegurança, né?
01:58E naquele momento o Conselho de Segurança da ONU
02:02estava votando a intervenção da OTAN.
02:06E acabou aprovando a intervenção da OTAN,
02:10que bombardeou aquele comboio.
02:12E depois do bombardeio, eu fui percorrer o comboio.
02:16Eram 25 quilômetros, 40 caminhões transportando foguetes Grad,
02:24esses foguetes russos que estão sendo usados na Ucrânia.
02:26E aí eu fui para o hospital, né?
02:31E encontrei um menininho de 5 anos, chamado Mustafa,
02:35que tinha levado um tiro de fuzil,
02:39tinha um curativo enorme no peito, assim.
02:42E estava sentindo dor, levantando o bracinho.
02:45O pai dele já tinha sido enterrado
02:47e a mãe estava com o cérebro totalmente exposto,
02:52vegetando, assim, só simbolicamente colocada do lado dele.
02:55E a história é que eles estavam saindo de casa,
03:00fugindo da cidade,
03:03e aí os cadafistas passaram,
03:05viram a cena do casal jovem e a criança no carro,
03:08deram uma charré, abriram fogo e o seguiram.
03:13E o meu país, o Brasil, tinha se abstido
03:17na votação do Conselho de Segurança.
03:19E aí, à noite, naquela noite,
03:23eu pensei assim,
03:26poxa, eu estou aqui, sou o único brasileiro que está aqui, né?
03:31Correndo risco de nunca mais ver meus filhos
03:34e o meu país se absteve,
03:37como se fosse indiferente ao país, né?
03:41Se deve bombardear ou não com boi,
03:44que vai destruir uma cidade e um milhão de habitantes.
03:46E se a OTAN tiver, se o Conselho de Segurança tivesse discutido menos
03:50e votado mais rápido,
03:53o Mustafa ainda teria uma família,
03:56ele não sabe, mas ele não tem mais.
04:00Então, esses sentimentos, esses conteúdos,
04:02durante a noite, crescem muito, né?
04:05E aí eu pensei,
04:06por que eu estou aqui,
04:07meu trabalho não tem nenhum sentido,
04:10porque eu escrevo no Estadão,
04:12não sei se a Dilma Rousseff lê minhas matérias,
04:14se não lê, o fato é que para ela,
04:17isso aqui é totalmente indiferente,
04:19não tem menor importância, né?
04:21E eu, portanto, não tenho menor...
04:23O meu trabalho não tem importância,
04:25mas era durante a noite.
04:26No dia seguinte, eu acordei, tomei banho
04:28e fui fazer o meu trabalho,
04:30porque a gente não pode ser motivado
04:32pelo resultado do trabalho,
04:34mas só pelo desejo de fazer,
04:38não para mudar o mundo,
04:39mas só para tentar entender o mundo.
04:41E aí, nesse caso,
04:43ficar em Benghazi foi a decisão acertada.
04:46Provou-se a decisão acertada no fim, né?
04:48Sim.
04:49Embora a gente não...
04:51Embora...
04:51Depois de tudo isso, né?
04:54Eu não tenha conseguido
04:55mudar a opinião do governo
04:58do meu país,
05:00mas eu não tenho esse poder.
05:02Está acontecendo hoje coisa parecida com a Ucrânia,
05:04inclusive, né?
05:04Porque na grande maioria das votações
05:06na ONU,
05:08o Brasil está se abstendo.
05:09É.
05:10O Brasil também votou
05:11condenando a Rússia,
05:13mas principalmente agora
05:15o presidente Lula
05:16recusou um pedido da Alemanha
05:18de repatriar a munição
05:21dos tanques Leopard,
05:23que seriam exportados
05:24para a Ucrânia, né?
05:28E o presidente Lula
05:29fez a frase
05:30quando um não quer,
05:31dois não brigam, né?
05:33Então, quando uma menina
05:34não quer ser estuprada,
05:36ela não é estuprada.
05:37Quando uma criança
05:38sofre bullying na escola,
05:41se ela não quer sofrer bullying,
05:43ela não sofre.
05:44Ou seja, a culpa é da vítima.
05:45Sim, exatamente.
05:46E isso faz parte da nossa cultura.
05:48E eu acho que é
05:50um resquício da colonização
05:52e da escravidão.
05:54Porque na nossa...
05:56Ao longo de vários séculos,
05:57300 anos, né?
06:00Quem dominava a narrativa
06:02era o colonizador
06:03e o dono de escravos.
06:04Então, quando um escravo
06:07era morto,
06:08era mutilado,
06:09quando uma mulher
06:10era estuprada,
06:11qualquer coisa desse tipo,
06:13toda a narrativa,
06:14o juiz,
06:16o patrão,
06:17o governante,
06:19a polícia,
06:20todo mundo
06:20culpava a vítima.
06:24Foi ela que...
06:26Eu vi recentemente
06:27quando teve um massacre
06:28em Osasco,
06:29que a polícia se vingou
06:30da morte de um policial,
06:31abrindo fogo
06:33contra jovens
06:34que estavam
06:34na porta de casa
06:35às 10 da noite.
06:37E eu ouvi
06:37de uma pessoa
06:38que prestava serviço
06:40para mim,
06:40um pequeno empresário,
06:41um médio empresário,
06:43o que esses jovens
06:44estavam fazendo
06:45às 10 da noite
06:46na rua,
06:47na periferia,
06:48quando o filho dele
06:49podia sair e voltar
06:50às 3 da manhã,
06:51às 2.
06:51O filho dele
06:52pode se divertir,
06:53o filho do pobre
06:54só pode trabalhar,
06:56estudar e dormir
06:56e comer,
06:57não pode se divertir.
06:58Então a vítima
07:00no Brasil
07:01ela é culpada.
07:03E o presidente Lula
07:04disse à revista Time
07:06que o Zelens,
07:10que é um bom comediante,
07:12que gosta de televisão
07:13e que estava sendo feito,
07:16fazendo uma guerra
07:16para aparecer na televisão.
07:19E que tudo bem,
07:19mas a gente não pode
07:20fazer uma guerra
07:21para uma pessoa
07:21se divertir.
07:22Ele estava se divertindo.
07:24Isso chocou o mundo
07:25nessa entrevista.
07:26Mas é parte
07:27da cultura brasileira.
07:29Eu vejo muita gente
07:30dizendo isso,
07:31respondendo todos os dias
07:32às minhas análises,
07:34nas quais eu responsabilizo
07:35a Rússia
07:36por ter invadido a Ucrânia,
07:38que não, não, não.
07:38A responsabilidade
07:39é da Ucrânia
07:40e do Ocidente.
07:41A Ucrânia provocou.
07:42Provocou.
07:43Quando a OTAN
07:44nunca fez qualquer movimento
07:46no sentido
07:47de invadir a Rússia.
07:48E, aliás,
07:48nenhum país
07:49desde a Segunda Guerra Mundial.
07:51O último país
07:51que invadiu a Rússia
07:52foi a Alemanha nazista,
07:54com a qual
07:54a União Soviética,
07:55estalinista,
07:56tinha feito um pacto
07:57e ambos invadiram a Polônia,
08:00dividiram a Polônia,
08:02só que depois
08:02o Hitler traiu o Stalin.
08:05Foi totalmente surpreendido.
08:07Ele achava
08:07que estava tudo muito bem
08:08com ele e o Hitler
08:10dividindo a Polônia
08:11entre eles.
08:25e a Polônia o Messi.
08:27E a Polônia!
08:28E a Polônia!
08:29E o hyperfil inside T0

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