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O esforço de Lourival Sant’Anna para ouvir os “vilões” de uma guerra
O Antagonista
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Correspondente de guerras, o jornalista fala sobre suas experiências no front.
Assista à conversa completa: https://youtu.be/8EVS62Ur4fE
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00:00
Uma das minhas grandes obsessões nas minhas coberturas foi ouvir os chamados vilões.
00:06
Então, acabei ouvindo a Al-Qaeda, o Talebã, o Hamas, o Hezbollah, os cadafistas, os a favor do Bashar al-Assad.
00:14
Algo que eu, depois de conviver muito com os rebeldes, com o heroísmo, com o desprendimento, o desejo de liberdade,
00:22
eu falo, não, agora eu preciso ouvir os outros também.
00:27
Por que alguém gosta do Gaddafi? Por que alguém gosta do Bashar al-Assad?
00:31
E, na verdade, eu me arrisquei muito para ouvir quem gostava do Gaddafi, por exemplo,
00:35
porque o Gaddafi tinha caído e eu fui atrás de pessoas que estavam escondidas em Trípoli.
00:39
E tive que pagar caro também, mas para mim era muito importante tentar entender.
00:44
E eu entendi essas pessoas também, assim como entendi os terroristas.
00:48
Agora, por que o medo é maior durante a noite?
00:52
Porque à noite eu não estava cobrindo, eu estava só deitado na cama.
00:55
E aí eu fico em contato com o meu mundo interno, meu mundo subjetivo.
01:04
Eu não imaginava porque também à noite você tem menos informação.
01:08
Você escuta uma bomba?
01:09
Exato.
01:10
Embora as bombas, quando elas caem, quer dizer, quando você está sob bombardeio,
01:16
seja de dia ou de noite, você não sabe.
01:19
É muito imprevisível.
01:20
E, aliás, a imprevisibilidade é outra coisa com a qual eu tive que aprender a lidar.
01:26
E descobri que eu não tenho controle sobre as coisas.
01:30
E que eu planejo, eu organizo para não sair apagando um monte de incêndios evitáveis.
01:40
Mas para ter o meu extintor de incêndios cheio, porque vai haver incêndios imprevisíveis.
01:48
O seu livro que você fala, tem que planejar o planejável o máximo possível.
01:53
Mas o imprevisto vai acontecer.
01:55
Planejar sem a fantasia do controle.
01:59
Porque a fantasia do controle, o incentivo para ter essa fantasia é o medo.
02:04
Porque o imprevisível nos aflige.
02:07
E eu digo que a nossa sociedade é uma sociedade adoecida pelo medo, pela ansiedade.
02:12
E aí a nossa resposta é a fantasia do controle.
02:14
Eu vou planejar, organizar tudo.
02:17
E aí eu terei controle sobre os resultados.
02:20
É, eu vou garantir um resultado X.
02:22
É, e a vida sempre nos desmente, nos frustra.
02:25
Só que aí a gente fala, ah, não, é porque faltou organizar aquilo ali.
02:31
Foi culpa minha, eu não planejei tal coisa.
02:33
Aí você dobra a aposta.
02:36
E ao adobrar a fantasia do controle, o investimento nisso, também dobra a ansiedade.
02:42
Então é algo que se retroalimenta.
02:45
Eu estava em 2014 no Iraque, cobrindo o avanço do Estado Islâmico.
02:50
E os curdos, os peiximegras, né, que estavam fazendo ali aquele primeiro contenção.
02:59
E eu estava dois quilômetros, eu estava no fronte a dois quilômetros do Estado Islâmico.
03:06
que tinha acabado de decapitar um amigo meu, né.
03:14
Nossa.
03:15
E eu tive que assistir o vídeo e aquilo.
03:19
E aí eu estava muito triste, muito mal, assim.
03:21
Eu pertenço a um grupo de correspondentes de guerra e o meu jornal, na época o Estadão,
03:26
publicou a foto dele ajoelhado, né.
03:31
E aí eu fui criticado, né, por esses colegas que cobrem guerra, mas que não estavam lá onde eu estava, né.
03:41
E aí eu entrei em discussão com eles e tal, e estava num momento bem ruim.
03:46
Aí uma noite a gente estava voltando, eu estava com o Khalid Alansar,
03:50
que é um repórter iraquiano muito bom, que a gente já se conhecia de outras coberturas.
03:57
E a gente estava voltando com o nosso motorista, era curdo, e era parente de um guerrilheiro curdo.
04:05
Então ele ficava muito tempo no telefone porque o fronte era muito móvel.
04:11
E a gente estava voltando, a gente estava baseado em Erdo, a capital do Kurdistão iraquiano.
04:16
E de repente a gente viu uma placa assim, Mossul, né, que era em frente.
04:22
Mossul era a cidade que os rebeldes, que o Estado Islâmico estava ocupando,
04:27
a principal cidade ocupada por eles.
04:29
A gente tinha errado o caminho.
04:31
E se aquela placa não estivesse lá, a gente iria cair bem no meio do Estado Islâmico.
04:37
E a placa já estava cheia de furos, de balas e tal.
04:40
Qualquer bomba ou vento forte ou tempestade de areia teria derrubado aquela placa,
04:46
né, e aí o motorista deu um cavalo de pau, assim, e correu na direção contrária.
04:53
E o Khalid falou, a gente não quer jantar com o Estado Islâmico.
04:59
Aí eu falei, até porque nós seremos o jantar.
05:02
E aí a gente riu, né, assim.
05:04
Mas você vê, eu tinha o melhor motorista, o melhor companheiro, o melhor parceiro,
05:09
o colega, né, de trabalho, que estava baseado em Erbil, inclusive,
05:14
conhecíamos a região, eles conheciam a região.
05:17
Mas eu fiz toda a minha parte.
05:19
No entanto, foi uma placa que estava lá por acaso, que nos salvou.
05:23
E assim é a vida, né, você aceitar, descansar nessa incerteza
05:30
e até rir da sua própria fragilidade, da sua própria vulnerabilidade,
05:36
isso dá muita coragem e muita tranquilidade, né.
05:41
Você fala, não, eu faço só a minha parte.
05:43
O resultado é consequência de milhões de interações, de coisas e de pessoas,
05:51
de clima e de tudo.
05:53
É absolutamente imprevisível.
05:56
Não é responsabilidade minha.
05:57
E que bom, né, que bom que eu não sou Deus.
06:00
Deve ser terrível ser Deus, né, é uma responsabilidade brutal, né.
06:06
E que bom, né, que bom, né, que bom, né.
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