A cinebiografia de Ney Matogrosso é dirigida por Esmir Filho e traz o ator Jesuíta Barbosa no papel do cantor.
Categoria
🦄
CriatividadeTranscrição
00:00Música
00:00Não quero filho viado aqui nessa casa!
00:15Não sou viado.
00:18Agora quando eu for, pai,
00:22aí o Brasil inteiro vai saber.
00:25Esse ser aqui tem a voz mais linda do coral.
00:27Você pode atuar e cantar, como nas óperas.
00:30Você tem quase 30 anos já, meu filho.
00:33Sem objetivo na vida.
00:35Eu queria fazer outra coisa.
00:36Queria, sei lá, colocar corpo.
00:38Não pode aparecer desse jeito com o rabo de cavalo e maquiado que nem mulher.
00:42Muracinho, me aponta na roupa uma mulher com a maquiagem igual a minha.
00:45Tive medo, de verdade, assim.
00:47Depois, eu acho que é o primeiro, a sensação nossa, assim.
00:51A gente tem medo, também, com o ser humano.
00:53A gente tem medo das coisas.
00:54Mas acho que a loucura da minha função enquanto profissional também
01:01é temer e, de alguma forma, atravessar esse medo ou esse desafio.
01:07E parece que, quão mais difícil é, mais interessante se faz, sabe?
01:12Então, eu acho que esse medo começou a se transformar em uma vontade grande
01:17em poder olhar para a vida desse artista
01:22e, de alguma forma, recriar isso, sabe?
01:27Passar pela possibilidade de encontrá-lo e ter ele,
01:32ter esse acesso pessoal, íntimo com o Ney.
01:36E, para mim, isso começou a acontecer na minha cabeça
01:39e me deixou com muito prazer, assim.
01:43E fez-se de prazer.
01:44Andrógeno. O dicionário diz Andrógeno.
01:47Estou experimentando. Eu sou um bicho.
01:49São as suas roupas, a sua maquiagem, os seus trejeitos
01:57que estão dizendo que somos um grupo de homossexuais.
02:00Digam que vocês não são.
02:01Um convite que eu recebi da Paris Filmes, Paris Entretenimento,
02:04foi em 2021.
02:05Ainda estava rolando a pandemia, né?
02:08Então, eu estava isolado na minha casa.
02:11Mas aí já começou a surgir coisas de Ney, assim, né?
02:13Eu comecei... Eu mergulhei na discografia dele.
02:16Foi a primeira coisa que eu fiz.
02:17Eu lembro que eu queria escutar todos os discos
02:20em ordem cronológica
02:21para entender a vida dele a partir da música,
02:23do que ele cantava.
02:24Como ele sempre foi um artista de palco,
02:26isso me interessava muito.
02:28E aí entrei, assim, em vídeos, em entrevistas.
02:32Mandei uma mensagem para ele,
02:33mas ainda não falei...
02:35Calma, a gente já vai se encontrar.
02:37Eu preciso primeiro pensar e elaborar.
02:40Mas a minha casa era assim, com linha do tempo.
02:42Aproveitei e vi um isolamento, assim,
02:44bem em Mato Grosso.
02:46Foi uma imersão, assim.
02:47E foi quando eu comecei, foi um ano desenvolvei no roteiro.
02:51E nesse meio tempo foi...
02:53Teve uma vez que eu fui mostrar para ele o roteiro, né?
02:57Que era a primeira versão do roteiro.
03:00Ele já tinha acompanhado algumas coisas.
03:02Antes de mostrar a versão, eu contava...
03:03Eu contei para ele como eu via a história,
03:05como eu sentia que poderia ser um recorte,
03:08que a vida inteira não cabe num filme, né?
03:10E ele foi entrando aos poucos.
03:13Ele foi embarcando nesse lugar, assim.
03:15Eu acho que quando ele leu a primeira vez o roteiro,
03:17ele disse, ó...
03:18Eu não estava com dúvida se eu ia me aproximar ou não do processo,
03:23mas eu acho que eu quero ficar perto.
03:24Falei, então vem comigo.
03:26Vamos junto.
03:26E foi assim até o fim.
03:28Sempre nesse lugar de colaboração criativa,
03:30de generosidade para poder conversar sobre todas as cenas,
03:34muito aconchegante e, ao mesmo tempo, colaborativo.
03:36Não era sobre crivo, entendeu?
03:39Do tipo, ele não é que ele aprovava.
03:41Pelo contrário, assim, a gente experimentava coisas juntos.
03:45Eu propunho, ele dizia.
03:46Então, foi muito legal o processo.
03:52Preparar o piloto!
03:54Um, dois, três, quatro, cinco, seis!
03:56Um, dois, três, quatro!
03:57Um, dois, três, quatro!
03:59Um, dois, três, quatro!
04:00Para o piloto!
04:01Sete, oito!
04:06Do jesuíta, já estava na minha cabeça.
04:28Na verdade, é isso.
04:29Assim, se tivesse um artista que eu conhecia na época,
04:32assim, né, pensando no elenco,
04:34e que exprimia, assim,
04:37tudo que o Ney expressava,
04:40eu acho, assim, os dois modulam.
04:41Eu acho que vocês modulam um lugar, assim, de...
04:44Vocês exalam o mesmo perfume, sabe?
04:47Tanto o jesuíta quanto o Ney.
04:48Então, você sente a energia dos dois.
04:50Eu acho muito próximo.
04:51Então, nesse lugar, é de dentro para fora, sabe?
04:54Era muito sobre a alma dele, assim.
04:56Mas não...
04:57Mas, mesmo assim, a gente chama logo de cara, né?
04:59Foi algo que eu falei...
05:01Eu vou experimentar e mandar teste de elenco para o Brasil
05:04para ver se existe um Ney escondido aí.
05:07E é interessante quando vem aquele ditado, né?
05:10Que está bem debaixo do seu, né?
05:13Tipo, mesmo assim, olhando, conversando com o jesuíta,
05:17eu falei...
05:18Não, é...
05:19O papel é dele, nasceu para ele e tal.
05:22E é engraçado, Jesus, não sei se eu te contei,
05:24mas todo mundo que eu...
05:24Quando eu estava escrevendo,
05:27as pessoas...
05:27Eu falava, ah, estou fazendo a cinematografia do Ney Mato Grosso,
05:30estou escrevendo, das pessoas vizinhas.
05:31Vai ser o jesuíta?
05:33Ou seja, já estava no imaginário coletivo,
05:36que eu não tinha como...
05:38não considerar fortemente, assim.
05:43Como é que é o nome dele?
05:45Cazuzo.
05:46Eu não tenho vocação para sofrer por amor.
05:49Minha vida, meus mortos,
05:52meus caros tortos,
05:54A gente teve uma companhia, né, Esmir, assim,
05:58grande de pessoas,
06:00como o Cris Duarte,
06:02que foi uma peça fundamental
06:04para conseguir entender a corporalidade,
06:06a coisa da dança do Ney,
06:08a presença dele,
06:10física,
06:11mas também acompanhamento de voz, né?
06:14Com o Ian Toll,
06:16com a Lúcia Gaioto.
06:19Foram cinco frentes, né?
06:21Foi o corpo,
06:21foi a voz,
06:23que era tanto o canto
06:24quanto a...
06:25a...
06:27a prosódia,
06:28que era muito interessante
06:29entender o ritmo de fala do Ney.
06:31Aí teve, claro,
06:32nossa preparação de elenco,
06:34né,
06:35que todas as cenas...
06:36Teve nutrição também.
06:38Você chegou...
06:39para eu chegar na silhueta.
06:41Acho que foi várias coisas, né?
06:42Eu acho que foi importante, assim,
06:44para perceber,
06:46para entender essa figura do Ney,
06:47física,
06:48mas acho que não foi só isso, não, assim.
06:51Os encontros com o Ney
06:52que a gente teve na casa dele,
06:55fora dali,
06:57os encontros que o Ney
06:58contava as histórias
06:59que ele queria que aparecessem, sabe?
07:02Então,
07:03essa conversa com o Ney,
07:05esse contato foi muito importante
07:06para nós, sabe?
07:07Eu acho que
07:07os objetos da casa do Ney,
07:11a caminhada que a gente deu com ele,
07:13tudo foi muito importante.
07:14Aí eu lembro de uma cena muito boa,
07:16que a gente teve uma hora
07:17que a gente foi conversar
07:18eu e o Ney lá fora,
07:19quando estávamos os três,
07:20aí a gente foi olhar assim,
07:21daí você estava ali
07:22meio meditando na sala dele,
07:24assim, com as pedras,
07:25ou seja, ao redor.
07:27Aí eu olhando,
07:27olha, só ele está se preparando já.
07:29Aí o Ney falou para mim,
07:30eu gosto.
07:33Ele é uma máquina de fazer dinheiro
07:35com todo mundo
07:35querendo tirar um pedaço da gente?
07:37Precisa ficar rebolando de saia.
07:39Isso não é uma saia, Antônia.
07:40É uma calça de adalística.
07:42Está vendo?
07:42Não.