O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou o perdão presidencial ao seu filho, Hunter Biden, após sua condenação em dois casos federais em 2024.
A decisão abrange crimes cometidos entre janeiro de 2014 e dezembro de 2024 e ocorre semanas antes de Biden deixar o cargo, que será ocupado por Donald Trump.
No Papo Antagonista desta segunda-feira, 2, Felipe Moura Brasil e Duda Teixeira citaram casos envolvendo Jair Bolsonaro/Flávio e Lula durante a análise da decisão de Biden.
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00:00Vamos falar de Joe Biden? O que aconteceu lá nos Estados Unidos? Algo que a gente está muito acostumado a ver no Brasil. Claro que de uma maneira diferente, com métodos diferentes, mas não é estranho para a gente.
00:12O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou perdão presidencial ao seu filho, Hunter Biden, após a sua condenação em dois casos federais em 2024. A decisão abrange crimes cometidos entre janeiro de 2014 e dezembro de 2024 e ocorre semanas antes de Biden deixar o cargo que será ocupado por Donald Trump.
00:31Ele defendeu a medida, o Biden defendeu, alegando que seu filho foi tratado de forma diferente por razões políticas. Hunter Biden, de 54 anos, enfrentou dois julgamentos em 2024. Em junho, foi condenado por falsificar informações ao comprar uma arma enquanto lidava com dependência de drogas.
00:48Em setembro, admitiu a culpa em um caso de sonegação fiscal, mas um acordo de delação foi desfeito após disputas legais. O indulto presidencial anulou sentenças e acusações pendentes, incluindo sua condenação por três crimes relacionados à compra de armas.
01:04A decisão contraria declarações anteriores de Biden. Durante o verão, por exemplo, ele havia garantido que não interferiria nos processos judiciais envolvendo Hunter.
01:13Aliás, a porta-voz da Casa Branca também disse que ele não faria isso e fez. Eu conheço um ex-presidente que falou que não ia passar a mão na cabeça de filho e, no entanto, passou o governo inteiro buscando mecanismos para a blindagem do filho.
01:30Justamente porque não tinha um mecanismo direto de perdão total e absoluto, vamos melar tudo. Ele precisava de vários mecanismos diretos e indiretos.
01:41Direto tinha, sobre alguns pontos, eu já vou lembrar, e outros indiretos. Mas primeiro, Duda Teixeira, faz aí a sua análise do que aconteceu nos Estados Unidos.
01:49Bom, mais um caso de filhotismo. O Biden realmente tinha prometido que ele não ia fazer isso. O Partido Democrata tem esse discurso de que o Departamento de Justiça não pode ser instrumentalizado,
02:05ele tem que ser independente. Mas o que ele acabou de fazer foi usar o Departamento de Justiça para beneficiar o próprio filho.
02:14O Partido Democrata também reclamava dos indutos que o Trump fez no primeiro mandato dele. O Trump perdoou um monte de gente.
02:23O Steve Bannon, que era o propagandista, conselheiro dele, o Michael Flynn, vários outros também. O Partido Democrata sempre criticava isso e é que agora acaba que o Joe Biden faz isso claramente.
02:36E ele usa os argumentos muito parecidos com os argumentos que o Trump usava.
02:42O Trump sempre falou de perseguição da justiça. A justiça está me perseguindo por questões políticas, não querem que eu seja candidato novamente.
02:50E o Biden vai lá e acabou de fazer isso. Ele fala, olha, o meu filho só foi condenado porque teve uma pressão dos republicanos no Congresso.
03:01Se não fosse isso, isso não teria acontecido.
03:04Então, exatamente, mostrou que não tem essa sinalização de virtude mais.
03:09O presidente Joe Biden, que é do Partido Democrata, faz as mesmas coisas que o Trump.
03:14É como os parlamentares dizem aqui nos bastidores da República do Escambo.
03:19Quando é contra adversário, é decisão técnica.
03:22Quando é contra aliado ou contra si próprio, é perseguição política.
03:28Então, o Biden, numa só decisão, acabou com a narrativa de quatro anos ou até mais dos membros do Partido Democrata
03:37em relação ao Donald Trump.
03:39O Donald Trump, ele fala esse tempo todo de que é alvo de uma perseguição judicial, que é o Deep State,
03:47que é a expressão que eles usam lá, o Estado Profundo, quer dizer, a máquina pública aparelhada, instrumentalizada pelo Partido Democrata
03:56para perseguir rivais, que todos os processos dele têm o dedo da esquerda americana, que não quer a volta dele ao poder, etc.
04:04Quer dizer, mudam o endereço, mudam as figuras.
04:07Mas eles, esses políticos dessa fase contemporânea e polarizada, eventualmente populista,
04:16eles têm agido conforme os seus interesses particulares.
04:20Vamos lembrar aqui o que Jair Bolsonaro fez para conquistar a blindagem de Flávio Bolsonaro.
04:27Vamos lembrar aqui alguns itens.
04:29Em primeiro lugar, quando ele sentiu que o então ministro da Justiça e Segurança Pública do governo dele
04:33não estava topando se aliar nessa frente ampla pela impunidade, que era o Sérgio Moro,
04:39ele foi lá e tirou do fundo do Ministério Público, fora da lista tríplice, que nunca ia alcançar,
04:45por reconhecimento dos pares, o Augusto Aros, que era alguém que participava de eventos com os petistas,
04:53o que foi criticado como PGR petista, escolhido pelo Jair Bolsonaro para a blindagem da família.
04:59E ele, no cargo, efetivamente, agiu dessa maneira em diversos casos para aliviar a barra da família Bolsonaro.
05:08E, claro, atuou pela extinção da Lava Jato, em cima da qual o Bolsonaro se gabou quando falou
05:16eu acabei com a Lava Jato, não tem corrupção no meu governo, quer dizer, vai entregar o governo para o Lula
05:21sem força-tarefa, anticorrupção, que coisa fabulosa, inteligente, estou sendo irônico, obviamente.
05:27Então, escolheu o PGR petista, colocou o nosso Cássio do Centrão no Supremo Tribunal Federal,
05:32nosso Cássio era, como se referia a ele, o Ciro Nogueira, velho, cacique do Centrão,
05:38que foi alvo da Lava Jato, inquérito do quadrilhão do PP, que acabou arquivado na segunda turma, entre outros,
05:44inclusive com o voto do Cássio Nunes Marques, claro, o padrinho votou para aliviar a barra.
05:48O afiliado votou para aliviar a barra do padrinho.
05:51O Cássio Nunes Marques votou junto com o Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski
05:56para blindar o Flávio Bolsonaro na segunda turma com o foro privilegiado retroativo.
06:00O Bolsonaro também manteve, sempre cotado a ocupar uma vaga no STF,
06:05o João Otávio de Noronha, que era ministro do STJ,
06:08que acabou anulando as quebras de sigilo que mostraram a sujeira do gabinete do Flávio
06:14na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro,
06:17comprometendo ainda mais o senador e ex-deputado estadual.
06:21O Bolsonaro enfraqueceu a legislação penal,
06:27ele enfraqueceu a lei de improbidade administrativa,
06:30isso foi um outro caso, não diretamente envolvendo o Flávio,
06:33mas até para aliviar a si próprio, no caso da Valdo Açaí,
06:35funcionário fantasma que ele mantém por 15 anos.
06:37Mas teve um episódio, dentre outros tantos, de aliança, por exemplo.
06:43Aliás, antes de citar esse episódio, que pouca gente se dá conta hoje,
06:47tem que lembrar da aliança dele com o Dias Toffoli,
06:50ele poupou o Toffoli da CPI da Lava Toga, sabotando a medida,
06:53a família Bolsonaro toda atuou para sabotar, para retirar a assinatura.
06:57Não conseguiram retirar dos três senadores do PSL,
06:59mas conseguiram do vice-líder do governo Bolsonaro,
07:01Eumano Ferre, do Centrão, que depois levou lá no Toma Lá da Cá,
07:05verba por reduta eleitoral dele.
07:08Ele acabou dando abraço lá no Toffoli,
07:11enquanto o Toffoli paralisava investigações no STF sobre o Flávio,
07:14e ainda investigações que poderiam atingir ele próprio,
07:16pelo menos a sua esposa, a esposa do Gilmar, lá na Receita Federal,
07:20como eu expliquei outro dia.
07:21Ele afagou o Gilmar, nomeou o advogado do Gilmar
07:25para a Corte Internacional dos Direitos Humanos.
07:28Quer dizer, se você quer reclamar de decisões do STF lá fora,
07:31você vai para a corte onde tem o advogado próprio Gilmar.
07:34E por causa de quem? Por causa do Bolsonaro,
07:36que indicou lá o Rodrigo Mudrovich para CIDH,
07:43como se simplifica essa corte.
07:47Indicou primo do Gilmar, indicou marido do assessor do Gilmar,
07:50vários aliados aí, sempre afagando o ministro,
07:53inclusive não só em cafezinhos privados,
07:55mas também em discursos públicos.
07:57Mas o elemento que eu quero chamar mais atenção,
08:00que muita gente não sabe,
08:02é que o Bolsonaro sancionou o novo Estatuto da Advocacia.
08:07E esse Estatuto previa que o advogado poderia fechar contratos
08:12de modo verbal, sem a necessidade de documentar.
08:16E sabe para que isso serviu?
08:19Para que o Flávio Bolsonaro pudesse justificar a origem financeira
08:22da sua mansão de 6 milhões de reais.
08:27Então foi o papai dele que foi lá sancionar um projeto
08:31que previa isso,
08:33para que o filho pudesse justificar
08:35que tinha todo aquele valor,
08:38porque foram contratos advocatícios,
08:41que ele tem formação em direito,
08:42então há vários trabalhos aí como advogado, etc.
08:46E o Flávio alegou,
08:47na maior cara de pau,
08:49porque o papai sancionou
08:50aquela medida que autorizava.
08:52O Flávio Bolsonaro, para vocês terem uma ideia,
08:55em 2018, ele declarou à Justiça Eleitoral
08:581 milhão e 740 mil reais.
09:011 milhão e 740 mil reais em 2018.
09:04Ali, dois aninhos depois,
09:06porque ele comprou essa mansão no comecinho de 2021,
09:09ele já tinha 6 milhões,
09:11com um salário de 33 mil.
09:13Se você somar aí,
09:14vai dar cerca de 400 mil por ano e tal.
09:17Como é que chega a esses 6 milhões?
09:19Então havia toda uma suspeita,
09:21toda uma crítica,
09:22toda uma investigação, inclusive,
09:25porque ele tinha vendido um imóvel do Rio de Janeiro,
09:27que tinha sido apontado,
09:28em reportagens sobre as investigações do MP do Rio,
09:32como local de lavagem de dinheiro
09:33do esquema de peculato no gabinete.
09:36E aí, com o dinheiro da venda desse imóvel,
09:37comprou a mansão.
09:39Então esses elementos apareceram
09:40nas reportagens da época,
09:42geraram suspeitos,
09:42geraram críticas, etc.
09:44O papai foi lá e resolveu tudo.
09:47Então, blindagem de filho
09:49é um ponto aí que une Biden e Bolsonaro.
09:52E tem gente do ADC que fica brigando em casa,
