A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, disse à Polícia Federal que as ações inapropriadas de Silvio Almeida, ex-ministro dos Direitos Humanos, começaram em 2022, durante o período de transição do governo, segundo o G1.
Ela foi ouvida nesta quarta-feira, no âmbito do inquérito que apura supostos atos de assédio moral e sexual do ex-ministro.
Durante o depoimento, a PF não perguntou a Anielle a quais integrantes do governo Lula ela havia relatado os episódios de assédio antes de o caso vir à tona.
Felipe Moura Brasil e Duda Teixeira comentam:
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00:00A ministra da Igualdade Racial, Aniele Franco, disse à Polícia Federal que as ações inapropriadas de Silvio Almeida, ex-ministro dos Direitos Humanos, começaram em 2022, durante o período de transição do governo Lula, segundo o G1.
00:14Ela foi ouvida nesta quarta-feira no âmbito do inquérito que apura supostos atos de assédio moral e sexual do ex-ministro.
00:20De acordo com Aniele, os atos foram escalando até chegar à importunação sexual. Ela afirmou ter sido importunada também durante viagens internacionais.
00:31Durante o depoimento, a PF não perguntou à Aniele a quais integrantes do governo Lula ela havia relatado os episódios de assédio antes de o caso vir à tona.
00:42Lembrando que o Silvio Almeida nega as acusações.
00:45Esse último ponto, Doutor Teixeira, eu considero muito importante, chamei a atenção mais cedo aqui da nossa redação, porque a PF é dirigida pelo Andrei Rodrigues,
00:55que foi colocado lá pelo então ministro da Justiça e Segurança Pública do governo Lula, Flávio Dino, que hoje está no STF, mas, portanto, é um diretor da corporação que foi indicado no atual governo,
01:06por membro do governo e, evidentemente, com o aval do presidente Lula.
01:10A gente vê a PF aí se mobilizando contra o bolsonarismo, a gente não vê mais petista, evidentemente, sendo alvo da Polícia Federal.
01:19E, em determinados momentos, é preciso questionar, é preciso vigiar a corporação, como a gente faz com todos os órgãos de fiscalização e controle, com os tribunais, com os governos, etc.
01:29Por que não perguntaram a Aniele Franco a quem ela contou em relação às autoridades públicas, já que ela é uma integrante de um governo, sobre o assédio, sobre a importunação?
01:43Porque, me parece que isso faz parte de uma investigação, é uma ministra de Estado, há notícias, inclusive, de que outros integrantes do governo já sabiam que havia o relato dela a respeito desses abusos.
02:00E aí, se esses integrantes não agiram, não fizeram nada, não apresentaram queixa, fica a dúvida sobre questões como prevaricação e tudo mais.
02:14Então, me parece que a investigação tem que chegar até aí, tem que, pelo menos, reunir esses elementos para esclarecer os fatos.
02:21Afinal, repito, há todos os indícios aí, de que a Aniele Franco já tinha contado para outras pessoas.
02:30Não é que ela segurou, segurou, segurou e só agora tornou público esse relato e foi aí que o Silvio Almeida foi demitido.
02:41Não, há indícios de que outras pessoas do governo já sabiam e não fizeram nada.
02:46Portanto, a exoneração do Silvio Almeida, que o Lula fez, mesmo que não tenha feito, do Juscelino Filho, que já está até indiciado pela PF,
02:57ela não acaba com a história em relação às responsabilidades do governo Lula.
03:04Elas ainda precisam ser apuradas e, se a PF não está fazendo isso, ela parece estar se omitindo.
03:10Felipe, isso começou, então, em 2022, então, mostra que são quase dois anos em que esse tipo de atitude do Silvio Almeida
03:19estava acontecendo e ninguém fez nada.
03:24E esse tipo de coisa acontece e prospera quando você tem um clima, geralmente é assim, né?
03:29Você tem ali um clima, um sistema que impede essas denúncias, desconsidera, ignora, os alarmes são dados, mas são completamente ignorados.
03:44Então, é preciso saber, realmente, se isso aconteceu nesse período todo.
03:47E 2022 era aquele momento que o Lula ainda não tinha assumido o governo, mas você tinha aquelas reuniões.
03:54O Lula convocou um monte de gente que ia lá, acho que era no Centro Cultural Banco do Brasil, em Brasília,
04:00para fazer aqueles programas de governo, produzir um documento gigante, cheio de páginas, que depois ninguém leu, né?
04:07E aí, hoje, a gente descobre que não só aquelas reuniões não tiveram nada de produtivo,
04:13como ainda aconteceu esse tipo de coisa, esse assédio que a Aniel está falando que aconteceu.
04:17E o Silvio Almeida deve ser o último a ser ouvido no inquérito instaurado pela Polícia Federal,
04:22notícia que acabou de sair, o roteiro da investigação prevê que o depoimento dele seja o último ato,
04:28a menos que apareça uma nova evidência durante o processo que justifique antecipar a sua oitiva.
04:34Então, ele certamente está se preparando para esse depoimento, como, em geral, fazem aqueles que são acusados.
04:41E os indícios realmente são fortes aí contra o ex-ministro dos Direitos Humanos do governo Lula.
04:47Nunca é demais a gente reiterar aquela comparação que eu fiz no dia que esse caso estourou.
04:54O Juscelino Filho é o ministro das Comunicações do governo Lula.
04:58Ele é indiciado pela Polícia Federal no caso lá de abuso das emendas parlamentares,
05:07de uso desse dinheiro, questões criminais.
05:12Não vou aqui lembrar todos os detalhes porque a gente já fez essa análise nesse programa.
05:15Está indiciado pela PRF.
05:18O Silvio Almeida, ele, depois de ser exonerado, começou a ser investigado pela Polícia Federal.
05:25Mas o Lula já saiu exonerando. Por quê?
05:28Porque, na sociedade brasileira, a intolerância, a própria suspeita de que alguém...
05:37A intolerância em relação à importunação sexual, ela é muito maior, mesmo quando é só uma suspeita,
05:45do que a intolerância em relação à corrupção.
05:47E esse é um dado que a gente precisa registrar.
05:49O Lula entende que ele vai perder popularidade se mantiver alguém que é acusado por mulheres de importunação sexual.
05:57Mas ele entende que ele não vai perder muito se ele mantiver um ministro das Comunicações,
06:02que é acusado de esquema criminoso, envolvendo desvio de dinheiro público.
06:08Então, a sociedade também precisa refletir.
06:10É claro que a nossa revolta diante de abusadores sexuais, assediadores, importunadores, é imensa.
06:19A questão não é essa.
06:21A questão é por que não há tanta indignação em relação à corrupção,
06:26que ela esteja tão naturalizada, a ponto de um presidente da República incorrer nesse duplo padrão,
06:33nessa incoerência, em vez de tratar todos aqueles que são acusados da mesma maneira.
06:40E ele incorre sem que haja muito questionamento, muita contestação.
06:43Até porque está aí regando uma série de emissoras aliadas com verbas de publicidade.
06:49Muita gente fica pianinho em relação a esse governo.
06:51Aqui a gente aponta tudo.
06:52Seja nesse governo, seja em outro, seja qual for a corrente ideológica.
06:57Aqui é fonte de informação baseada em fatos objetivos e análise em argumentos técnicos.
07:03A gente vai sempre fazer isso.
07:05Quem quiser contribuir com o nosso trabalho, basta assinar aí a Cruzoé
07:08e a gente está trazendo uma série de benefícios também para esses assinantes
07:13que vão virar membros aqui do clube, o Antagonista, com direito ao programa Hora Extra,
07:17às quintas-feiras, de 15 em 15 dias, com diálogo com a gente, com perguntas que são respondidas
07:23ao vivo no YouTube, com, daqui a pouco, cursos aqui com os nossos colunistas.
07:30Então, a gente agradece a todos aqueles que apoiam o jornalismo independente.
07:33Quer concluir, Doutor?
07:35Achei muito interessante essa comparação que você fez entre a intolerância em relação à corrupção
07:40e a intolerância em relação à importunação sexual.
07:44Eu acho que, entre a sociedade brasileira, há uma grande intolerância à corrupção.
07:51O Bolsonaro foi eleito muito por causa dessa intolerância com a corrupção.
07:58Nossos leitores aqui, as pessoas que nos assistem no portal do Antagonista,
08:03que leem a revista Cruzoé, não tem nenhuma intolerância à corrupção.
08:06Então, a gente vê isso ali nos comentários claramente.
08:10Não tem intolerância.
08:13Eles não têm intolerância.
08:14Eles são intolerantes com a corrupção.
08:17Agora, aí você vê, quando a gente olha o governo federal ou o STF,
08:24aí eu concordo com você.
08:26Quer dizer, o governo petista já mostrou que é muito tolerante com a corrupção.
08:33O ministro Dias Toffoli, no STF, toda semana sai uma notícia nova dele perdoando ali as empreiteiras,
08:42os delatores, anulando multas, até mesmo de delatores que confessaram atos de corrupção.
08:49Então, eu acho que a gente só tem que separar a sociedade brasileira,
08:53que, entendo eu, é intolerante com a corrupção,
08:57e o nosso governo atual ou a Suprema Corte.
09:00Acontece que você tem, de fato, vários segmentos na sociedade brasileira que são intolerantes em relação à corrupção.
09:08Obviamente, a gente fala muito mais para esse público, é o público que acompanha o nosso trabalho.
09:13Agora, tanto no campo da esquerda quanto no campo da direita,
09:17havia uma intolerância à corrupção em determinados segmentos que era da boca para fora.
09:22Porque quando as suas lideranças foram acusadas no campo da esquerda de corrupção e lavagem de dinheiro,
09:28no campo da direita de peculato, organização criminosa, as rachadinhas da vida, etc.,
09:35aí houve uma relativização e as pessoas passaram a não achar tão grave assim,
09:40porque, afinal, defendiam que o seu campo tivesse poder para tirar o poder do outro lado,
09:45que consideram muito pior.
09:46Nessa hora, todo mundo relativiza tudo, todo mundo desse pessoal mais engajado.
09:52Mas é claro que existe uma base na sociedade que não tolera a corrupção,
09:56e a gente quer justamente que essa base cresça.
